2. Os físicos às vezes dizem medir o tempo. Servem-se
de fórmulas matemáticas nas quais o tempo
desempenha o papel de um quantum específico. Mas o
tempo não se deixa ver, tocar, ouvir, saborear nem
respirar como um odor. Há uma pergunta que continua à
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espera de resposta: como medir uma coisa que não se
pode perceber pelos sentidos? Uma "hora" é algo de
invisível. Os relógios não medem o tempo? Se eles
permitem medir alguma coisa, não é o tempo invisível,
mas algo perfeitamente passível de ser captado, como a
duração de um dia de trabalho ou de um eclipse lunar,
ou a velocidade de um corredor na prova dos cem
metros. Os relógios são processos físicos que a
sociedade padronizou, decompondo-os em sequências-
modelo de recorrência regular, como as horas ou os
2
minutos (ELIAS, 1998, p. 7).
3. Sabe-se que os relógios exercem na sociedade a
mesma função que os fenômenos naturais de meios de
orientação para homens inseridos numa sucessão de
processos sociais e físicos. Simultaneamente, servem-
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lhes, de múltiplas maneiras, para harmonizar os
comportamentos de uns para com os outros, assim
como para adaptá-los a fenômenos naturais, ou seja,
não elaborados pelo homem (ELIAS, 1998, p. 8).
Todo indivíduo, por maior que seja sua contribuição
criadora constrói a partir de um patrimônio de saber já
adquirido, o qual ele contribui para aumentar. E isso não
é direrente no que concerne ao conhecimento do tempo
(ELIAS, 1998, p. 10).
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4. Não são "o homem e a natureza",no sentido de dois
dados separados, que constituem a representação
cardinal exigida para compreendermos o tempo mas sim
"os homens no âmago da natureza (ELIAS, 1998, p. 12).
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Do mesmo modo, a sociedade e a natureza aparecem
frequentemente como mundos separados. Uma reflexão
sobre o tempo deve permitir corrigir essa imagem de um
universo dividido em setores hermeticamente fechados,
desde que reconheçamos a imbricação mútua e a
interdependência entre natureza, sociedade e indivíduo
(ELIAS, 1998, p. 17).
4
5. Quanto mais os enclaves humanos foram ganhando extensão
e autonomia relativa em favor de processos como a
urbanização, a comercialização e a mecanização, mais eles se
tornaram dependentes, para medir o tempo, de dispositivos
artificiais, e menos passaram a depender de escalas naturais
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de medição do tempo, como os movimentos da Lua, a
sucessão das estações ou o ritmo da maré alta e da maré
baixa. Em nossas sociedades altamente industrializadas e
urbanizadas, as relações entre a alternância das estações e as
divisões do calendário são cada vez mais indiretas e soltas;
com muita frequência como na relação entre os meses e as
lunações, elas chegaram até, mais ou menos, a desaparecer.
Em larga medida, os homens vivem dentro de um mundo de
símbolos que eles mesmos criaram. A relativa autonomia dos
enclaves sociais aumentou consideravelmente, sem nunca se
tornar absoluta (ELIAS, 1998, p. 36).
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6. NOSSAS REFLEXÕES ENVOLVEM O HOMEM,
O TEMPO, A HISTÓRIA, A VIDA...
O que nos move?
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O que significa dizer que o tempo é uma noção
básica para a aprendizagem histórica?
Qual a noção de tempo? Linear, cíclico, dialético...
O conhecimento que temos sobre o tempo são
resultantes de um longo processo histórico.
É fundamental trabalhar com os alunos numa
perspectiva de abstração, identificando,
questionando e ensinando-o a identificar seu
pensar e questionar-se porque pensa de
determinada forma e não de outra.
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7. TRABALHAR COM O TEMPO E COM A
HISTÓRIA ...
Não viver num presente contínuo. É preciso
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deslocar-se do presente.
Ter consciência histórica...
Perspectiva de temporalidade...
Homem e o tempo/espaço – trasformações,
rupturas, continuidades, duração, estrutura...
Não trabalhamos/ensinamos a totalidade dos
acontecimentos passados – seleção.
É possível que o aluno aprenda/decore fatos
históricos (acontecimentos do passado), mas não
identifique a categoria tempo e não estabeleça 7
diálogo entre passado e presente.
8. DIÁLOGO PASSADO-PRESENTE...
Saber quem foi Pedro Álvares Cabral, Zumbi dos
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Palmares, o que aconteceu em 07 de setembro de
1822 ou o que comemoramos em 21 de abril não
nos exige deslocarmo-nos para o passado, pois
estes acontecimentos nos são apresentados no
presente.
O objetivo em sala não se limita a saber essas
informações, mas compreender, historicamente,
deslocando-se temporalmente, como e por que
isso aconteceu e como chegou até nós –
conhecimento histórico.
Não apenas identificar, mas compreender a relação
de causas e efeitos. 8
9. CONHECIMENTO HISTÓRICO...
Numa perspectiva materialista histórica e dialética
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o ponto de partida para o conhecimento da
realidade são as relações que os homens
estabelecem com a natureza e com outros homens
analisadas sobre as condições materiais de
existência.
Para compreendermos as contradições sociais no
presente precisamos deslocar-se temporalmente
– ao passado.
Ensino pautado na memorização da informação é
ineficaz na formação do pensamento histórico.
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10. PENSAR HISTORICAMENTE...
Compreender diferentes processos e sujeitos
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históricos.
Relações que se estabelecem entre grupos
humanos nos diferentes tempos e espaços.
Deslocar-se temporalmente.
Articular: o que ensinar e como ensinar – método e
metodologia.
Questões importantes: - por que algumas coisas
permanecem? Por que outras se transformam? Por
que algumas coisas se transformam mais
lentamente e outras mais rapidamente?
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11. TEMPORALIDADES...
Calendário – sistema de controle – objeto social,
construído historicamente. É muito mais que saber
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sobre dias, meses e anos. É compreender como o
homem foi elaborando este conhecimento – ciência.
Linha do tempo – está para o conhecimento
histórico assim como os algarismos e o alfabeto estão
para a matemática e a língua portuguesa,
respectivamente.
O que menos importa é o desenho da linha do tempo.
O foco é entender como podemos investigar o
passado. Ex: identificar fontes (memórias, fotos,
filmes, objetos, documentos), selecionar, interpretar,
comparar, estabelecer relações, como eleger as
mais importantes... 11
12. Dessa perspectiva materialista, podemos afirmar que
as concepções do tempo e do espaço são criadas
necessariamente através de práticas e processos
materiais que servem à reprodução da vida social. [...]
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A objetividade do tempo e do espaço advém, em
ambos os casos, de práticas materiais de reprodução
social; e, na medida em que estas podem variar
geográfica e historicamente, verifica-se que o tempo
social e o espaço social são construídos
diferencialmente. Em suma, cada modo distinto de
produção ou formação social incorpora um agregado
particular de práticas e conceitos do tempo e do
espaço. (HARVEY, 2009, p. 189).
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14. Trabalhar na perspectiva de desenvolver
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nas crianças o pensamento histórico é
possibilitar as mesmas se compreenderem
enquanto sujeitos sociais que podem e
devem lutar por uma vida melhor, por uma
sociedade mais justa.
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15. REFERÊNCIAS:
ELIAS, Norbert. Sobre o tempo. Editado por Michael
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Schrõter; tradução, Vera Ribeiro; revisão técnica,
Andréa Daher. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
1998.
HARVEY, D. A condição pós-moderna. 18a edição,
São Paulo: Edições Loyola, 2009.
OLIVEIRA, Sandra Regina Ferreira de. Os tempos
que a história tem.... In: História: ensino
fundamental. Brasília: Ministério da educação,
15
Secretaria da Educação Básica, 2010.