1) O documento descreve a história da ocupação do espaço geográfico do Paraná, desde a mineração no século XVII até a expansão da pecuária e agricultura nos séculos posteriores.
2) Inicialmente, a mineração do ouro no litoral e primeiro planalto levou ao surgimento das primeiras vilas paranaenses como Paranaguá e Curitiba. No século XVIII, a economia passou a ser baseada na pecuária e na erva-mate, expandindo o povoamento para os Campos Gerais.
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2. Perguntas de um Operário Letrado Quem...
Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou as Índias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?
Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias
Quantas perguntas
Bertolt Brecht
3. • Observe o mapa do Paraná atual. Será que ele
sempre foi assim, com esse “contorno”?
A “OCUPAÇÃO” DO ESPAÇO PARANAENSE
Para responder a essa pergunta precisamos voltar no tempo e
observar como os homens foram “tecendo” a história do Paraná.
3
14. •1854, referendam a existência de áreas
incipientemente ocupadas pela nação. O referido censo
destacava a presença de 62.358, habitantes em
território provincial.
17. •A designação de Paraná Tradicional remete-se ao
período de conquista e ocupação do território
indígena pelos luso-brasileiros, desde o século XVII
até o XIX, compreendendo a porção do litoral,
primeiro planalto, Campos Gerais, Campos de
Guarapuava e Palmas. Inicialmente, através da
preação de índios e da mineração, possibilitou-se a
criação das primeiras vilas portuguesas, no litoral e
no primeiro planalto, como a de Paranaguá, Antonina
e Curitiba.
PARANÁ TRADICIONAL
18. •Por mais efêmera que se apresentou esta
dinâmica ocupacional, uma segunda fase se
consolidou, a partir do século XVIII, a
economia pecuária e ervateira. Por meio do
tropeirismo efetivou-se o surgimento de vilas,
como Castro, Ponta Grossa, Lapa, Jaguariaíva
com uma sociedade “latifundiária, campeira e
escravocrata”. Por fim, a partir do século XIX o
contingente de imigrantes, principalmente
europeus, também contribuíram para a
formação desta “área histórico-cultural”.
19. •O processo migratório envolvendo a descoberta
de minas de ouro concorreu para o surgimento de
diversos caminhos, primeiras formas de ligação
entre esparsos núcleos populacionais do litoral e
primeiro planalto paranaense. A ocupação da área
litorânea teve, por sua vez, grande impulso a
partir da instituição de São José dos Pinhas,
localidade fundada no ano de 1690, seguido pelo
evento de oficialização da já existente Vila de
Curitiba em 1693.
20. •Martins (1994) destaca que, em conformidade ao
processo de ocupação determinado pela política
mercantilista ultramarina do Estado Português, o
litoral norte do Estado do Paraná pertencia à
chamada Capitania de São Vicente. O litoral sul, por
sua vez, compreenderia as chamadas Terras de
Sant'Ana. Por sua vez, a ocupação do território
litorâneo em decorrência da descoberta de minerais
preciosos nos ribeirões que desaguavam na bacia do
Paraná, já demarcava as primeiras áreas que
posteriormente seriam definidas como território
paranaense. Ainda no século XVII, ter-se-iam,
indícios de mineradores explorando ouro nessa
região.
21. MINERAÇÃO
• Primeiro ciclo econômico;
• Séculos XVI e XVII;
• Litoral, Serra do Mar e 1º Planalto;
• Escravidão;
• Impostos: Quinto e captação;
• Caminhos: Graciosa, Itupava e Arraial;
• Consequências: povoamento do litoral,
surgimento de Paranaguá, colonização do
primeiro planalto, fundação de Curitiba,
caminhos.
22. Os Pioneiros Rafael Falco (Oran, 1885- São Paulo 1967).Óleo. Coleção Dulce Moura de Albuquerque.
Fonte:http://peregrinacultural.wordpress.com/2011/05/30/raphael-gaspar- falco-pintor-brasileiro. Acesso em 06 de set.
de 2012.
23. •O espaço geográfico ocupado pela população
existente na Província não preenchia senão um
terço aproximadamente do disponível existente no
Paraná. A esta área denomina-se o Paraná
Tradicional, que foi esboçado no século XVII, com a
mineração do ouro, estruturou-se no século XVIII,
sobre o latifúndio dos Campos Gerais, com base na
criação e no comércio do gado e, mais tarde, nas
atividades extrativas da erva-mate e da madeira.
Estes dois produtos extrativos vão formar
sensivelmente, uma nova economia, resultando
transformações na vida paranaense de um modo
geral.
24.
25. •A referida Carta, destaque nas páginas da obra de Macedo (1995, p. 100)
revela o triplo caráter da política da Coroa: Tendo o presente o quase total
abandono em que se acham os campos gerais de Curitiba e os de
Guarapuava, assim como todos os terrenos que deságuam no Paraná [...]
infestados pelos índios denominados bugres, que matam cruelmente todos
os fazendeiros e proprietários que nos mesmos países têm procurado
tomar sesmarias e cultiva-las em benefício do Estado; de tal maneira que
[...] maior parte das fazendas [...] se vão despovoando. Sou servido por
estes e outros justos motivos que fazem suspender os efeitos de
humanidade que com eles tinha mandado praticar, ordenar-vos. Em
primeiro lugar, desde o primeiro momento em que recebais esta minha
Carta Régia, deixe de considerar principada a guerra contra esses bárbaros
índios, [...] Em segundo lugar [...] a porção que fordes libertando não só as
estadas de Curitiba, mas dos Campos de Guarapuava, possais ali dar
sesmarias, [...] Em terceiro lugar ordeno-vos que assistais com o
competente ordenado a João Floriano da Silva a quem encarrego o exame
dos mesmos terrenos, e assim a ele, como a seu irmão, [...] darei as
sesmarias que puderem cultivar, [...].
26. •Os aspectos acima referendados sintetizam a determinação com que o
governo central tratou a ocupação da região criando condições necessárias
para a propalada conquista dos referidos sertões meridionais do Brasil, e
revelam o olhar do Estado diante das populações indígenas. Nesse
discurso, expressões, tais como bugres ou bárbaros sintetizam a imagem
que a sociedade possui em relação às populações indígenas, ou seja, uma
organização social, cujas práticas de resistência em relação à presença do
Homem branco foram interpretadas como desumanas. Atitudes que
concorreram para que o Imperador, no uso de suas atribuições legais,
destituísse o grupo de humanidade. Fica claro que o critério utilizado pelo
monarca para destituir o estatuto de humanidade, delegado aos índios
desde a controvérsia, pública entre Las Casas e Sepúlveda em meados do
século XVI, foram as consecutivas mortes ocorridas em função das guerras
que o grupo indígena travou com os colonizadores pela histórica posse de
suas terras. Assim no decorrer dos séculos XVIII e XIX conforme a
linguagem da época, o território paranaense padecia em função da escassa
presença de populações brancas e civilizadas.
27. •A escravidão negra no Paraná se fez presente desde o século XVII nos
tempos dos arraiais das primeiras vilas paranaenses como Paranaguá e
Curitiba.
•Contudo, na medida em que esta economia se desmantelava, os negros
eram introduzidos nas atividades agropastoris do primeiro e segundo
planalto.
•Assim, o que se deve ressaltar é que no Paraná a escravidão negra não
ocorreu de forma intensiva como em outros pontos do Brasil.
•Ao mesmo tempo não se deve minimizar a participação paranaense no
comércio negreiro, especialmente a do porto de Paranaguá, que serviu
como um dos principais embarcadouros do país no contrabando de
escravos no período em que ocorreu a proibição do seu tráfico (1850).
•BUGRES E BUGREIROS.
ESCRAVIDÃO
28. •O espaço geográfico ocupado pela população
existente na Província não preenchia senão um
terço aproximadamente do disponível existente no
Paraná. A esta área denomina-se o Paraná
Tradicional, que foi esboçado no século XVII, com a
mineração do ouro, estruturou-se no século XVIII,
sobre o latifúndio dos Campos Gerais, com base na
criação e no comércio do gado e, mais tarde, nas
atividades extrativas da erva-mate e da madeira.
Estes dois produtos extrativos vão formar
sensivelmente, uma nova economia, resultando
transformações na vida paranaense de um modo
geral.
29. •Czesz (1997, p. 23): Várias povoações surgiram
em função da economia do gado nas expansões
através dos rios Iguaçu e Tibagi. Resultante dos
caminhos do Peabiru, de Cubatão, do Itapuava e
principalmente do Viamão. Ligando os centros
criadores - localizados no Rio Grande do Sul - ao
principal mercado pecuário da época - Sorocaba –
esse [último] caminho atravessou o Paraná,
criando condições para o aparecimento de várias
povoações como [...] Ponta Grossa, Lapa,
Palmeira, Campo Largo, Lages.
30.
31.
32. • Roubos de gado, de carga e o assalto a viajantes
– e foram se atualizando: ônibus, jipes,
caminhões, carros...
• Bandido social e o bandido inimigo (pistoleiro,
jagunço);
• Métodos de violência – impedir pedidos de
justiça, desincentivar a chegada de novos
posseiros, dificultar a coleta de provas;
• Limpeza das terras;
• Cafeicultores: fertilidade do solo, mão-de-obra e
baixa exig6encia de capitais;
33. •“O Norte do Paraná é só fama: quando não é
poeira é lama”;
•Madeira;
•Região habitada principalmente por Caingang e os
Guarani;
•Colônia Militar do Jataí: proteger as terras e cobrar
impostos;
•1930 – a partir desta data compradores são
atraídos pela intensa propaganda promovida pela
CTNP;
•1944 – a CTNP passa para os brasileiros. Em 1951
torna-se a Companhia Melhoramentos Norte do
Paraná;
34. Historiografia dos conflitos
•Memória Épica – é como se a companhia tivesse feito
a reforma agrária;
•Memória determinista – cultivo de café;
•Historiografia dos conflitos – contradições existentes
nos processos históricos:
-Papel dos indígenas, posseiros e caboclos?
-Construção da ideia do vazio demográfico?
- Mito do vazio demográfico e Mito das Companhias
colonizadoras: obra pioneira da Companhia, missão de
transformar o terceiro planalto em espaço útil, papel
de destaque aos pioneiros, ideal de reforma agrária.
35. • Através desta suposta homogeneidade a condição de
pioneiro tenta esconder a exploração acontecida
através do trabalho e ainda “disseminar a noção de
que todos podem enriquecer desde que se esforcem,
que façam sacrifícios e trabalhem muito, pois todos
os que aqui enriqueceram e ‘venceram’ é porque
assim o fizeram.
• # entre reforma agrária (redistribuição de terras) e
colonização (ocupação de terras devolutas).
• Atuava assim de acordo com os interesses do Estado
Novo – afastar a subversão dos que não possuíam
terras...
• Relações sociais...
39. •Cabe ressaltar que as fronteiras entre as
possessões portuguesa e espanhola na América
Platina foram demarcadas pelos Tratados de Madri
em 1750 e, respectivamente, Santo Idelfonso no
ano de 1777. O Tratado de 1777 estabelecia que a
fronteira internacional corresse pelos rios
denominados Peperi-Guaçu e Santo Antônio.
Entretanto, as comissões demarcadoras criadas
por Portugal e Espanha não definiram com
exatidão, quais os rios que recebiam tais
denominações, muito embora, contassem de
mapeamentos já estabelecidos.
40. •Após a resolução da problemática territorial com
a Argentina, outro evento coloca em relevo a
demarcação do território paranaense. Referimo-
nos a disputa interna entre os Estados do Paraná e
de Santa Catarina pela definição entre suas
fronteiras, embate esse que se estendeu ao longo
de dezesseis anos. Conhecida como região do
Contestado, a área em litígio inclui atualmente
localidades tais como Palmas, Campo Erê, União da
Vitória e Porto União.
41. SUDOESTE
• Afora os índios, o maior problema inicial dos
pioneiros de Palmas, foi a obtenção de sal,
produto básico para a sobrevivência do gado, que
vinha de Guarapuava e era muito caro.
• Papel importante dos indígenas na abertura de
estradas na região.
42. • Com o término da Guerra do Paraguai,
reapareceu a questão de fronteiras entre Brasil e
Argentina.
• Tratado de Montevideo (1890) o qual foi
rejeitado pelo Congresso
• Argumentos utilizados por Rio Branco que mais
influenciaram: uti possidetis (1890 – 5.793
habitantes, dos quais 5.763 eram brasileiros e
30 estrangeiros; localização dos rios, fixação dos
brasileiros em caráter permanente enquanto
dos argentinos era circunstancial.
• Seria um blefe diplomático da Argentina?
43. • Grilagens de terras...
• Tropeirismo
• “Mas, apesar das dificuldades, a população de
Palmas em 1868, atingia 2.050 habitantes,
incluindo-se os índios mansos.
• Início do século XX – a população do Sudoeste
atingia 3.000 habitantes, ou seja, um imenso
vazio demográfico.
• Preconceito com a agricultura, torna a vida mais
cara. Aguardava-se até três anos por madeira
para construir a casa (falta de serrarias)
44. • 1920 – Palmas conta com 10.270 pessoas
• Crescimento populacional da região: peões e
agregados a procura de espaços e terras para
sobreviver, fugitivos da justiça do Paraná, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul e Corrientes,
posseiros refugiados da região do Contestado,
argentinos e paraguaios a procura de erva mate,
crescimento vegetativo.
• Colônia Bom Retiro – 1918 , desestabilizada em
1925 pela presença de revolucionários – confisco
de animais e mercadorias, homens e moças se
escondiam
45. • Brasil Railway Co. – titulação de territórios
devolutos – 1918-1920, entre eles a Gleba
Missões com 425.731 hectares
• De 1822 até 1850 a única maneira de se
apropriar da terra era a posse. Ocupação pura e
simples de um pedaço de terra com moradia e
cultura, sem atender a preceitos jurídicos legais.
• Qual o papel dos posseiros? Frente da frente
• Pequenas propriedades...
• Valor da terra?
• Palavra como documento?
46. • Safras, safristas, baguás, vara
• Os caboclos e os de origem
• Colonizadoras: CITLA, COMERCIAL e APUCARANA
• ESTADO DAS MISSÕES
• TERRITÓRIO FEDERAL DO IGUAÇU
• BRAVIACO – Companhia Brasileira de Viação e
Comércio; CANGO – Colônia Nacional General
Osório; PINHO E TERRAS – GLEBA MISSÕES
• FAIXA DE FRONTEIRA
• O “GRILO” MISSÕES:
• LEVANTE DOS POSSEIROS
48. ETAPAS DE COLONIZAÇÃO
A primeira, e mais antiga, decorre da ocupação pelos índios
que se espalhavam também por todo o território do continente
sul-americano. A presença desses grupos indígenas, como
Xetá, Kaigang e Guarani, foi notada no processo mais recente
da colonização, fazendo com que essa população fosse mais
uma vez reprimida. 8.000 anos no Oeste
• A segunda corresponde à atuação e presença dos padres
jesuítas espanhóis que desenvolveram várias reduções
(missões) pelo território. Esses aldeamentos indígenas, apesar
de destruídos na primeira metade do século XVII pelos
bandeirantes paulistas, conservaram forte a presença
espanhola na região.
49. • A terceira etapa data do período entre 1881 e
1930, que corresponde à introdução do
sistema das Obrages, entre Foz do Iguaçu e
Guaíra, cujo objetivo principal era a exploração
extrativista da erva-mate e da madeira.
• A quarta fase ou a etapa recente aconteceu
principalmente pela atuação das empresas
colonizadoras que efetivaram a colonização
moderna do Oeste paranaense.
50.
51. O fim das reduções
Por volta de 1600 a produção
agrícola da colônia que pertencia a
Portugal no Brasil, necessitava de
mão de obra. Nesse sentido,
buscou-se o trabalho escravo
indígena através dos bandeirantes,
que se deslocavam de São Paulo
até as Reduções.
Em torno de quarenta mil
indígenas viviam distribuídos em
quatorze reduções no Paraná.
Por volta de 1629 as reduções
foram destruídas, cerca de vinte e
oito mil indígenas foram
escravizados ou mortos, os demais
fugiram para o interior da mata.
Essa região era ocupada por
espanhóis. O Tratado de Madrid,
em 1750, pôs um fim à pretensão
espanhola de dominar o Oeste do
atual Paraná.
51
52. •Nesse sentido, amplas discussões em torno da
demarcação de áreas situadas a extremo-oeste e
sudoeste da Província paranaense também estiveram em
pauta no período. Reconhecida como “Vale do Iguaçu”,
essa região, tradicionalmente território Guarani foi
reconhecida como Território do Guayrá. Tal
denominação segundo apontado por Mota (1987),
decorre da edificação de reduções Jesuíticas durante os
séculos XVI e XVII. A posse desse espaço era reivindicada
contra Argentina e Santa Catarina representando,
aspirações de segmentos políticos constituídos no
Paraná, grupos esses que refletiam aspirações de
camadas dirigentes e econômicas.
53.
54. • Em 1895 a Matte
Laranjeira chegou a
explorar uma área
de 5 milhões de
hectares, o que
equivale a 50 mil
km2
– igual a um
quarto da área do
Paraná. Confira por
onde se estendiam
seus
empreendimentos.
60. •A região oeste e sudoeste somente se constituiu em área
de colonização aproximadamente na década de 1920, ao
receber o fluxo migratório de gaúchos e catarinenses que
proporcionaram o estabelecimento da pequena
propriedade, da suinocultura e da produção de cereais e
oleaginosas.
•Contudo, ao se retroceder a séculos anteriores, verifica-se
que este território fez parte da Província do Guairá, no
período de posse espanhola entre os séculos XVI e XVII e
onde fundaram-se as Missões Jesuíticas das quais
abrigaram milhares de indígenas, sobretudo os Guarani.
•Posteriormente, as vastas florestas existentes na região do
vale do rio Iguaçu e do rio Paraná tornaram-se área de
exploração predatória de ervais e madeiras,
principalmente de interesses estrangeiros que através das
obrages implantaram um sistema de trabalho subumano,
onde imperava a brutalidade e o estado de miséria de
brasileiros e paraguaios.
64. O trabalho em meio a mata nas regiões
Sudoeste/Oeste do Paraná
O trabalho era muito pesado,
as crianças trabalhavam com seus
pais, havia poucas escolas e eram
distantes, impossibilitando os
estudos. Homens, mulheres e
crianças viviam em perigo, pois havia
muitos animais ferozes, além das
cobras cascavéis, mosquitos, onças,
entre outros...
Se as pessoas ficassem
doentes, não havia médicos, eram
feitos chás com ervas conhecidas por
eles, que nem sempre resolvia.
O trabalho de derrubar a mata,
preparar o terreno semear os grãos e
esperar que a terra produzisse era
bastante árduo.
(FOTO 1905).
64
65. • Em 1930 a região de Catanduvas não parecia
Brasil:
• Domínio econômico era Argentino – levavam o mate
e a madeira e traziam os produtos consumidos na
região; (matéria-prima/território brasileiro, empresas
argentinas, mão-de-obra paraguaia.
• Os fiscais, quando haviam, dependiam dos
obrageros para morar e comprar;
• O mate brasileiro era beneficiado em Posadas e
vendido como se fosse argentino;
• Isso foi revelado pelos militares que combateram a
Coluna Prestes em 1924. O grupo que assumiu o
poder em 1930 cunhou o slogan “Marcha para o
Oeste”.
MARCHA PARA O OESTE
65
66. PERÍODO VARGAS - NACIONALISMO
Marcha para o oeste – Ocupar fronteiras, como por
exemplo oeste e sudoeste;
10.000 habitantes, somente 500 eram brasileiros;
O Paraná é acusado de descaso para com a região –
propõe-se a criação do território Federal do Iguaçu
para garantir a nacionalização;
Em 1943 é criado o Território Federal do Iguaçu;
Havia também outras intenções: abrir espaço para o
excedente populacional do RS;
Com a queda de Getúlio em 1945 as elites
paranaenses trataram de recuperar o território e sua
dissolução foi aprovada numa disposição transitória
da Constituição de 1946.
66
69. • 1 - Explique por que a atividade tropeira e ervateira enriqueceu os
fazendeiros e os donos dos engenhos de mate.
• 2 - Copie o quadro abaixo no seu caderno e complete com as
informações dos textos estudados.
ATIVIDADES
Atividade
econômica
Ouro no
Paraná
Tropeirismo no
Paraná
Erva-mate Madeira
Época
Região do
Paraná
Sujeitos
históricos
(Proprietários/
mão-de-obra)
Destino da
produção
Espaços e
objetos de
trabalho
69
70. Inúmeras famílias de posseiros viram-se
desalojadas da noite para o dia das
propriedades onde durante anos haviam
investido todos os seus esforços: grileiros
vinculados ao PSD passavam a condição de
titulares de vastas áreas, removendo seus
ocupantes à força ou obrigando-os a pagarem
mais uma vez pela terra. Jagunços a soldo de
grandes companhias ou de latifundiários
percorriam os sertões com metralhadoras
pesadas à caça de posseiros (REVISTA
OESTE, no. 21, Ano III, setembro/1987, p. 36-
37).
POSSEIROS
70
75. •Em 1902, instalou-se, na região Oeste, a Companhia de Madeiras Del Alto
Paraná, empresa inglesa com sede em Buenos Aires - Argentina, adquirindo do
governo do Estado a área de terras denominada Fazenda Britânia, com
aproximadamente 275 mil hectares. Atualmente esta área corresponde aos
municípios de Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Entre Rios do Oeste,
Toledo, Nova Santa Rosa e parte do município de Palotina.
•Com os mesmos objetivos das outras obrages já instaladas na região, a
Companhia de Madeiras Del Alto Paraná utilizou-se de mão-de-obra paraguaia
para a exploração de madeira e erva-mate na região Oeste do Paraná. Essa
situação de exploração depredatória persistiu até a década de 1920, quando
eventos como a passagem da "Coluna Prestes [em 1924] e também das Tropas
Federalistas (...) expuseram a situação do Oeste do Paraná à opinião pública"39,
constatando-se a dominação da região por parte de estrangeiros, e que até
então não havia sido tomada nenhuma ação efetiva buscando fomentar a
ocupação através de brasileiros. Após esta constatação, tornou-se imperativo
tomar medidas que coibissem a invasão de estrangeiros e concomitantemente
"nacionalizar" a região.
76. •nóis não tinha terra lá, daí nóis viemo prá cá, nóis,
os treis irmãos e as nossas treis mulheres, tudo
num caminhão com 10 crianças (...) Nóis era
agregado em terras de gente estranha, gente boa,
oito anos nóis trabalhamo lá na granja de arroz (...)
Nóis era em 10 irmãos e meu pai só tinha uma
colônia de terras e com moro, daí nóis tinha que sai
pelo mundo, somos filhos de Deus, e virar-se
sozinho (...) Então nóis saimo de lá porque nóis não
tinha terra, nóis era pobre (...) tinha que arrumá
prá nóis e prá colocá estas crianças. (F.H.)
77. •Os que residiam nas proximidades da cidade
usavam recursos considerados fáceis, baratos e
rápidos: a carroça de boi, o cavalo e, na maioria
das vezes, a bicicleta, pois estes eram os meios de
transporte acessíveis e mais apropriados devido às
péssimas condições em que as estradas se
encontravam. Para os que se fixavam no meio
rural, o único recurso disponível na maioria dos
casos era fazer longas caminhadas a pé, pelo
interior da mata.
78. •É o que pode ser verificado nas afirmações de
Moisés Lupion, então governador do Estado do
Paraná: Bons e maus elementos, atraídos os
primeiros pela fama da fertilidade das terras roxas
paranaenses e, os segundos pela facilidade dos
negócios, deixaram os rincões de origem em São
Paulo e Minas Gerais e vieram juntamente com
muitos aventureiros, apossar-se abruptamente das
melhores terras devolutas do Estado, assentando
benfeitorias provisórias; desordenadamente, a
mais das vezes, em terras já tituladas ou
comprometidas (ROCHA NETO).
79. Tal ocupação regional fundada em bases econômicas
em cima da exploração da mão-de-obra indígena teria
feito do Guairá um espaço de fricção Inter étnica
permeado por conflitos socioeconômicos. Conforme
destacado por Challenberger (1997, p. 20). Os colonos
foram progressivamente se abandonando, através do
regime da encomienda, das terras dos índios e dos
próprios índios, explorando-os no serviço pessoal. Por
outro lado os paulistas projetaram sobre o Guairá os
seus interesses econômicos em função da abundância
da mão-de-obra disponível, que começaram a recrutar
e vender para a agroindústria do litoral brasileiro. [...]
Por causa da resistência dos índios, os colonos e
paulistas foram obrigados a enfrentá-los para
salvaguardar os seus interesses econômicos.
80. Conforme a leitura acima, essa etapa caracterizava-
se pelo extrativismo. Processo esse que se teria
iniciado com a instalação da Companhia de
Madeiras Del Alto Paraná. Tratava-se de uma
empresa inglesa sediada na cidade de Buenos
Aires, a qual adquiriu a área de terras denominada
Fazenda Britânia que atualmente compreende
municípios tais como Marechal Cândido Rondon,
Toledo, Quatro Pontes, Nova Santa Rosa, bem
como área significativa do Município de Palotina.
81. Silva (1988, p. 52-53) expressou com propriedade
sensações de descoberta. Vamos a Santa Catarina,
vamos ao Paraná, vamos ao Oeste. Lá existe terra
sobrando. Lá existem matas ainda virgens à nossa
disposição. Lá existe tudo para recomeçar a vida.
Nós passamos lá. Nós a vimos! Parecia este o
recado da Coluna Prestes.
82. Segundo palavras da autora:
A história de Marechal Cândido Rondon está ligada
ao Projeto de colonização da Firma MARIPÁ. [...]
Willy Barth recebia os novos colonos, mostrava-
lhes as terras, acompanhava-os durante dia e noite,
cantava com eles para expulsar o cansaço, a tristeza
e a saudade. Foi administrador muito seguro e
como colonizador deu exemplo de colonização e
modelo de Reforma Agrária.
83. FOTOGRAFIA 7 - Acampamento no meio da floresta - Marechal
Cândido Rondon
Fonte: Saatkamp (1985)
84.
85. • FOTOGRAFIA 15 - Hospedagem temporária na mata - Palotina
• Fonte: Reginato (1979)
86. Jornal Oeste, periódico de circulação local durante as
primeiras décadas do processo de (re)ocupação do
território. [...] região nova onde população laboriosa,
dinâmica, devotada ao trabalho heroico ao
desbravamento da mata virgem, transformando-a em
uma das mais promissoras regiões agrícolas do Estado,
faz com que esta mesma região que até pouco figurava
nos nossos mapas ilustrados como zona selvagem,
assinalada por um índio empenachado e uma onça
pintada, cubra-se de cidades vilas, povoados e núcleos
agrícolas. Faz com que, em plena floresta surjam
indústrias que transformam as incalculáveis reservas de
essências florestais em fabulosas fontes de riqueza.
Reportagem comemorativa ao primeiro ano da instalação oficial do
Município de Toledo na data de 14 de dezembro de 1953.
87. Conforme consta no documento:
[...] as colonizadoras em geral, depois de adquiridas
suas terras, tratam de dividi-las em glebas ou lotes
grandes para em seguida vendê-las o mais
depressa possível, [...] Aplicando este sistema teria
a firma colonizadora, em pouco tempo, cumprida a
finalidade. Porém, sendo este um sistema é
contrário a um desenvolvimento social e aos
interesses econômicos de uma Nação; a PINHO E
TERRAS LTDA; achou por bem dividir as glebas que
posteriormente iriam colonizar, em lotes rurais de
mais ou menos 10 alqueires, também chamado
‘colônia.’
88. •Companhia Colonizadora Pinho e Terras - fim de
54, pouca chuva, e estão aparecendo mineiros e
paulistas [...] assim esta colonização que deveria
constar de moradores do Sul e católicos já está se
transformando em uma miscelânea de gente e
religiões. Aqui [...]. tudo nos começos. A igreja e
casa paroquial quase prontas [...] Começou a
invasão de Paulistas. Ainda bem que não são
mamelucos [...].
89. Brecht (1960, p. 3):
Sendo que a PINHO e TERRAS, LTDA; não se dedica
exclusivamente à compra e venda de terras, ela
tinha que assumir a obrigação, perante os
agricultores, de os mesmos não perderem tempo
em fazerem experiências, ao que diz respeito a
agricultura. [...] Outro fator importante era criar
nas sédes um ambiente que atraia os compradores,
como as instalações de hospitais, com médicos,
sempre que era possível; construção de escolas,
mesmo si a firma tivesse que sustentar o
professorado.
90. Percebe-se que o modelo de colonização centrado,
sobretudo, num ethos cultural determinado se articulava, a
valores identitários comuns, eliminando possíveis conflitos
internos a partir da preservação de seus códigos culturais.
Desses, educação, religiosidade e o sentido de comunidade,
tiveram grande atenção. Nos núcleos coloniais, construção
de escolas, igrejas e salões comunitários pelas empresas ou a
sua colaboração foram atitudes significativas para a
manutenção da homogeneidade do grupo. Acrescenta-se a
isso, a manutenção de vínculos com modelos fundiários já
conhecidos pelos migrantes. Assim, atributos tais como,
"Celeiro do Paraná” passam a definir o regional. Para as
empresas envolvidas, estabelecer a (re)ocupação significava
incorporar à nação um território reconhecido como vazio e
ali, estabelecer novas vivências. Para o governo do Paraná,
significava, sobretudo, receber um solo ocupado, produtivo,
mercantilizado, livre dos perigos representados pela
presença maciça de estrangeiros na região.
91. Garantir tal conquista pressupunha, porém
estabelecer os migrantes tão logo adquirissem as suas
terras. A derrubada da mata estimulada pelas
empresas realizava-se a partir de derrubadas da
vegetação A mão-de-obra de baixo custo de tal
trabalho, compunha-se de trabalhadores do norte do
país e paraguaios, antigos mensus trabalhadores das
unidades obrageras, referendadas no capítulo
anterior. O trabalho das serrarias era outro recurso
utilizado para a extração das matas nativas da região.
A madeira, por sua vez era comercializada a preços
irrisórios entre o proprietário das terras desmatadas e
donos de serrarias. Esses fatores proporcionavam não
só lucros ao segundos como também garantiam ao
projeto colonizador o sucesso almejado.
92. Chegamos [...] debaixo de tempestade. Uma surprêsa nos
esperava: o hotel ainda de madeira, [...] tinha cama de
verdade, chuveiro com água quente, [...] Estávamos pois em
plena civilização. Depois do jantar fomos todos ao clube, já
rodeados de gente. [...] são todos jovens, de vinte e poucos
anos, sadios, fortes, bem dispostos. Ë uma comunidade de
trabalho invejável. Projetos, sonhos, aventura, coragem,
desprendimento, esperança - eis o que revelou aqui o melhor
colono do Brasil - filho de alemães ou italianos para fazer
nascer vertiginosamente uma cidade moderna. Muito
embora o autor fizesse referências ao Município de Toledo,
localidade sede da Colonizadora Maripá, tal passagem pode
ser estendida, à área colonizada pela empresa Pinho e Terras
LTDA. Expressões "melhor colono", "nova raça" "civilização,"
compõem um discurso mais amplo, extensão de valores
como trabalho, coragem e progresso, fazem emergir
elementos distintivos do regional com conotações emotivas
93. Contudo, desqualificar os territórios de origem dos
migrantes de Santa Catarina e Rio Grande do Sul foi
outro expediente utilizado nas publicidades das
empresas, tal como o anunciado a seguir:
AGRICULTOR,!! [...] ponha fim aos teus sofrimentos de
trabalho no meio das pedras e montanhas, a onde tens
que carregar os gêneros de tua colheita uma Boa parte
nos ombros. [No oeste] não será assim. Porque, a
planície te permitirá de ir com a carroça em qualquer
ponto de tua colônia. É por isso que [...] está
progredindo a passos de gigante. Bem demonstra que,
a 4 anos era uma região inhospita aonde passeavam as
feras.
Cf. panfleto de propaganda de terras elaborado em 1952 pela Colonizadora Maripá,
amplamente distribuído nas localidades de Concórdia no estado de Santa Catarina e
Santa Maria, situada no estado do Rio Grande do sul, dentre outras localidades.
94. Em 25 de Julho de 1969, o periódico A voz do
Oeste (1969, p. 13) destaca: [Pioneiro] ao
preparares a terra [...] fixando civilizações,
derrubando a mata tantas vêzes hostil, invocas a
nossa presença. Estás colaborando com a terra
que te recebe. Estás contribuindo para o seu
engrandecimento, como irás contribuir sempre
com o seu trabalho certo para safras incertas.
95. No final da primeira década do século XX, o Legislativo
paranaense, permanece palco de denúncias, conforme
apontado no informe do Congresso Legislativo do
Paraná:
A vasta zona oeste e noroeste paranaense cuja flora
encerra preciosos elementos de riqueza ainda não
explorada, deve merecer nossa atenção no sentido de
valorizar nosso Estado [...] em direção ao Piqueri, há
grande massa de trabalhadores na extração da erva-
mate e madeira, alguns desses trabalhos são feitos
legalmente, mas outros não; está provado que alguns
indivíduos invadem legalmente os terrenos nacionais
[...] e estabelecem grandes empresas extrativas de erva
[...] com prejuízo manifesto para os cofres do Estado.
96. •Segundo constata Nogueira (1920, p. 115), na
ocasião da chegada ao seu destino: "[...] o
pharmaceutico é paraguayo; o médico é espanhol;
o chefe de contabilidade e o do deposito são
allemães. [...] a peonada é paraguaya ou
argentina".
97. Segundo constata Muricy (1896, p. 4):
[...] de Catanduvas em diante o caminho é
horroroso; o solo muito accidentado e o matto
apresenta-se em toda sua pujança, [...] Além disso,
tem-se de atravessar manchas de léguas de
extensão, só de taquerussús, por um verdadeiro
túnel cortado nas enormes touceiras. Caminha-se
horas inteiras; sem se ver uma nesga siquer de céo.
98. Segundo
Nogueira (1920, p. 6): [...] entre Guarapuava a Foz
do Iguaçu o percurso era feito em 72 horas de
automóvel. Esse meio de transporte, entretanto, é
no momento caríssimo, por causa do desgaste
material ocasionado pelas condições ainda
imperfeitas daquella via.
Até hoje a viagem, tem sido feita [...] por estrada
de ferro, via Uruguayana, de onde, transposto o
riu Uruguay, continúa, em paso de Los Libres, pela
estrada de ferro argentina até Posadas e dahi, pelo
alto Paraná, até a Foz do Iguassú.
99. destaca Nogueira (1920, p. 114 ): Em Guaíra: tudo
pertence à Matte Laranjeira. [...] As terras foram
adquiridas por compra de uma antiga concessão
feita pelo Estado do Paraná. [...] A pequena
estrada de ferro que transporta hervas [é] o único
meio de transporte para os famosos saltos das
sete quedas.
100. Wachowics (1987, p. 44) em uma propriedade:
[...] típica de regiões cobertas de matas
subtropicais em território argentino ou paraguaio.
O interesse fundamental de um obragero não era
a colonização em pequena ou média propriedade,
nem o povoamento de suas vastas terras.
Seu objetivo precípuo era a extração de erva-mate
nativa da região, bem como da madeira em toros,
abundante na mata subtropical.
101. Os sertões do Iguassú constituem uma zona
inteiramente diversa, uma espécie de Amazônia, ainda
não acabada para a habitação do Homem. O brasileiro
desconhece-a como si não fora um pedaço do Brasil. E,
na verdade é mais paraguaya e argentina, pois que
nem o nosso idioma, nem o nosso dinheiro, ahi
conseguiram chegar. Os poucos nacionaes que ai
aportam, embora de passagem, no desempenho de
um mandato oficia, submetem-se ao meio que lhes
deita o braço de ferro e os converte, pelo menos
aparentemente. Nessa longa faixa de sertões
intermináveis, sob um sól ardente e creado, habita em
certos pontos, uma onda humana, transitória, que
chega e parte, todos os dias, para de novo voltar e de
novo partir. (MARTINEZ, 1925, p. 8 )
102. FOTOGRAFIA 2 - Salto Iguassú
Fonte: Silveira Netto (1939)
Chegamos finalmente. [...] a ampla e tumultuosa
epopéia das águas. Minha expectativa é
ultrapassada impetuosamente. [...] ao colimarmos
os primeiros borbotões das águas. A campina e a
floresta sugerem-nos a visão pictual dos nossos
grandes paisagistas. Nem as sugestões da
poderosa imaginativa de Da vinci [...] seriam
capazes de dar a impressão nítida e suprema
daquele assombroso espetáculo de águas revoltas
rolando em perturbadora atoarda de cataclismos.
Nem a narração, nem a téla, nem a fotografia [...]
dão idéia siquer, da superestesia que nos empolga
ante aqquela febre de movimento e beleza.
Contudo no percurso de tal narrativa há destaque
a ásperas jornadas, distâncias, e abandono. Esses,
dentre outros atributos negativos delegados
aquele espaço, associados a adjetivos positivos,
conforme visto, tiveram importância na
construção do regional, tal como destacado por
Siveira Netto (1939, p 31): “deserto de habitações;
a mata e a solidão em meio de uma flóra
requintada em exuberância e coloridos; e uma
fauna variada e rica [...].”
103. Pelo caminho encontramos turmas de paraguaios. Receamos
errar o caminho e por isso pedimos informações por toda
parte, informações que os são fornecidas, sempre em
hespanhole. Dentre os informantes, encontramos uma
mulher a cavallo, com um pequeno de oito annos. [...] ë um
tipo perfeito de cabocla brasileira, que nos responde em
hespanhol. Duvidamos de sua origem e inquirimo-lo: sorri
mostrando uma fileira de dentes alvos e nos diz com visível
satisfação. - Soy brasileña, senhor gracias a Diós; pero como
me crié entre paraguayos ( MARTINEZ 1925, p. 76 )
Influenciados pelos costumes e linguagem paraguaios, os
habitantes daquele cantinho do Brasil usam um dialeto
eivado de termos absolutamente desconhecidos da nossa
língua. Lá ninguém diz porco, porque êste adiposo
paquiderme é conhecido por ‘chancho’. [E complementa]
Dizem ‘provista’ referindo-se a gêneros alimentícios;
designam barraca por ‘carpa’; menino por ‘muchacho’, facão
por ‘machête’ e outros termos que não registrei.
(FIGUEIREDO, 1937, p. 80).
104. •Os desenhos territoriais paranaenses, assim
referendados, não foram, portanto, um
procedimento fortuito, ao contrário tiveram um
papel central na conceituação e na afirmação de
uma unidade para o território, ingrediente
necessário para a firmação de sua identidade
regional. No ano de 1945, essas terras já haviam se
transformado em estreitas faixas habitadas pelos
brasileiros. Nesse mesmo ano, a extremo-oeste do
território paranaense, eram enraizados esteios da
demarcação de negócios agro-imobiliários que se
propunham conquistar tal sertão do Guairá e
apagar suas cicatrizes.
105. O supracitado Relatório da Secretaria de Obras Públicas e
Colonização do ano de 1895 coloca em relevo preocupações
decorrentes de tal realidade embasado nos argumentos de
Carvalho (1895, p. 47): Na parte norte do Estado [...] já se
iniciou em grande escala o plantio de café que é o produto
agrícola dos mais ricos e remunerados [...] é sabido
igualmente que por falta de estrada entre o lugar de produção
e os nossos centros de consumo o café é transportado ou pelo
Estado do Mato Grosso, pelo rio Paranapanema ou pelo
vizinho Estado de São Paulo [...] resultando disto, prejuízo
considerável aos cofres do Estado não pode receber direitos
nas exportações sobe seus produtos. [...] Dá-se o mesmo na
extensa e riquíssima zona do oeste [...] entre os rios Iguaçu e
Sahy até rio o Paraná facílima via de navegação podem os
produtos naturais e agrícolas escoar-se em procura de
mercados platinos.
106. Cabe destacar que muito embora tais Governos
possuam em comum, projetos modernizadores
para o espaço regional paranaense, durante os
Governos de Moisés Lupion o Paraná foi palco de
inúmeros conflitos querem sejam entre posseiros
e grileiros ou entre brancos e populações
indígenas que foram expulsos de suas terras
tradicionais. O senso comum atribui a esse
governo o atributo de “grileiro”. Veja-se a esse
respeito o romance histórico Os dias do demônio
em que o personagem da trama é uma região
paranaense, palco de poucos conflitos no campo
em que os pobres vencem.
107. Menções de autoria do sertanista Coelho Junior
(1946, p. 169), enfatizam tal constatação. Já ali, o
vale baixo do Iguaçu, se confunde com o do Paraná,
e, desde o povoado de ótima situação topográfica -
Cascavel - notamos fronteira próxima, invadida e
desnacionalizada, pois até os brasileiros, raros na
região, linguajam o Castelhano, pela influência e
absorção dos argentinos e paraguaios. Começou
logo a aparecer dinheiro dos países vizinhos, cuja
influência, nos usos e costumes é preponderante. a
escala da moeda argentina ou paraguaia, a língua
guarani e espanhol.
108. COMPANHIAS COLONIZADORAS NO PARANÁTEXTOSA REVOLTA
DOS POSSEIROS NO SUDOESTE DO PARANÁ EM 1957.pdf
•Brasil Railway Company. (séc. XIX, Sudoeste 1918-20) – recebeu extensas
glebas em pagamento pela construção da ferrovia Sã oPaulo – Rio Grande
(Gleba Chopim) e do ramal Ponta Grossa – guarapuava (Gleba Missões).
•CANGO (Colônia Agrícola Nacional General Ozório): (1943) criada dentro da
Gleba Missões, a sua sede veio a se tornar o município de Fco Beltrão.
•CITLA (Clevelândia Industrial e Territorial Limitada) e Pinho e Terra. Em
1950, o governo da União vendeu à CITLA toda a gleba Missões e parte da
gleba Chopim. Poucos dias após vendia à Pinho e Terras (Céu Azul) 11.500
alqueires da própria gleba Missões. Vendia também 300.000 pinheiros
`Companhia de Madeiras do Alto Paraná.
108
109. • GETSOP (Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do
Paraná).
• OBRAGES.
• Companhia de Terras Norte do Paraná – adquiriu
inúmeras glebas.
• Companhia Melhoramentos Norte do Paraná (norte).
• Colonizadora Madeireira Rio Paraná S.A (MARIPÁ).
• Companhia Mate Laranjeiras (explora erva-mate e
madeira no Mato Grosso e depois no Paraná).
• Industrial Agrícola Bento Gonçalves Ltda (Medianeira)
• Colonizadora Gaúcha Ltda
• Colonizadora Matelândia Ltda
• Colonizadora criciúma Ltda
• A Companhia Brasileira de Imigração e Colonização
(COBRIMCO) - Anahy
(Explorar madeira e terras) 109
118. •Tanto militares como religiosos, indiferentemente,
exerciam atitudes de exploração. Os primeiros faziam-
na de modo mais brutal, sendo que os religiosos
auferiam posicionamentos mais sutis, mas nem por
isso diferentes. A cruz e a espada, nesse sentimento,
caminhavam passo a passo. (COLODEL, 1988, p. 30).
•Reduções –
Dessa maneira os indígenas diversificavam seus ramos
de atividade, sendo carpinteiros, tecelões, ferreiros,
pintores, estatutários, fundidores; tudo enfim era
provido na própria Redução. (COLODEL, 1988, p. 31).
119. • De acordo com os relatos de Brito, esta segunda
expedição era composta, além dos dois militares acima
citados, de mais 34 soldados, 12 operarios civis, 3
mulheres casadas com soldados, 4 tropeiros
encarregados da tropa com 34 cargueiros, carregados
com víveres, material , bagagem etc. (COLODEL, 1988,
p. 44).
•1905 – 58 famílias
•Agindo sob as ordens dos capatazes, em praticamente
todas as obrages do Oeste paranaense, existiam
polícias particulares que faziam da violência
desenfreada sobre os peões o seu cartão de visitas.
(COLODEL, 1988, pp. 60-61).
120. •O maior deles era chamado de depósito Central Barthe e
era o que comercializava toda a atividade exploratória da
imensa obrage.
“pelos gramados desse logar habitado, caminham peões.
Grandes carroças, de rodas altas, chegam do interior da
mata. (...) Deposito Central é um ponto destinado para o
recebimento dos diversos ‘carijós’ dessa região. Além disso,
mantem a empresa larga criação de carneiros, gado vacum
e plantações de cereais para a manutenção dos
empregados. (...) diversos armazens existem para deposito
de herva cancheada; outros para beneficiamento do
produto, prompto para exportação. Ha, além disso, moradas
para os peões, armazens de comestíveis, grandes estabulos,
rancho para carroças”. (COLODEL, 1988, p. 67).
121. •Um outro elemento que pode ser destacado refere-se à impossibilidade
que os mensus encontravam para fugir das obrages. A vigilância exercida
sobre eles era severa e constante. Pouquíssimas eram as alternativas que
eles podiam contar para se esconder da fúria dos seus patrões. Podiam
embrenhar-se na selva, mas ali teriam que enfrentar enormes dificuldade:
falta de comida, os animais selvagens, as doenças crônicas da região, etc. a
outra rota de fuga possível era oferecida pelo rio Paraná. Acontece que
todas as embarcações que nele navegavam eram de propriedade dos
obrageros que tinham um cuidado todo especial em vigiá-las
minuciosamente. (COLODEL, 1988, p. 70).
•(...) quando chegava assim pra acertá a conta ... acertavam a conta e então
mostravam na parede ... tinha uma big duma soiteira e uma espada, então
aí ele dizia, o chefe que era o patrão: - gusta la rubia o la morena! [chicote
ou a espada]. E eles respondiam: - la vida, no más. E então mandavam ele
embora, e então não matavam, não surravam mas também era explorado e
mandavam embora. (COLODEL, 1988, p. 70).
122. •TRANSPORTE DE MADEIRA: JANGADAS (MAROMBA),
CARROÇÕES ESLAVOS, LANCHAS A VAPOR, BARCOS –
TAMBÉM CHAMADOS DE MATA-FOME.
•Conchavo e antecipo (peão e comissionista), barracón,
papel das mulheres e crianças. A obrage voltava-se para a
exploração total do trabalho. Resistência. Alimentação
(reviro – farinha branca, água e ovos quando tinha).
CONDIÇÕES DE VIDA E TRABALHO, DECADÊNCIA DAS
OBRAGES, COLUNA PRESTES, MARCHA PARA O OESTE.
•Quase não circulava dinheiro, pois os mensus não
possuíam nenhum. Então, tudo girava em torno das ordens
de pagamento que eram distribuídas pela companhia.
(COLODEL, 1988, pp. 72-79).
123. Conforme o levantamento de Figueiredo (1937, p. 104):
O Senhor CAFERATA (argentino) trabalha com 120 homens,
sendo 82 paraguaios, e 32 argentinos. O único brasileiro
existente neste recanto do nosso Brasil é um soldado de
polícia ali destacado, que aliás é casado com uma paraguaia e
seus filhos falam [...] o guarani [...] No mesmo texto, o militar
acrescenta:
Conversando com um funcionário federal que se achava em
Guaíra, soube de muitas informações. Disse-me êle que
aquele recanto seria um seio de Abraão, sai a população não
fosse heterogênea. Havia os paraguaios que possuíam
costumes quase antagônicos aos nossos; os argentinos que
usavam modos de viver diferentes dos brasileiros e dos
paraguaios e finalmente os sisudos ingleses que se isolavam
completamente dos restantes, quiçá julgando-os uma massa
rasa. A melodiosa língua portuguêsa ha muitos dias não era
ouvida. Ao passo que o guaraní e o castelhano feriam [...]
durante todos os instantes, como si em estranha terra
estivesse. (FIGUEIREDO, 1937, p. 148)
124. Uma dessas obrages em questão denominava-se Fazenda Britânia. Estruturada
em 1905 sob propriedade de empresários ingleses, essa área de terras fora no
ano de 1945 adquirida pela empresa Industrial Madeireira Colonizadora Rio
Paraná, - Maripá. Essa colonizadora foi constituída em 13 de abril de 1946 e,
conforme consta na Escritura Pública do Registro de Imóveis Títulos e
Documentos. Comarca de Toledo, PR, sua área estendia-se por 43 quilômetros ao
longo do rio Paraná, formando quase que um retângulo com aproximadamente
274. 846 hectares. Do interior de seus quadros administrativos, nascera a
empresa colonizadora Pinho e Terras Ltda.
145. Referências
• COLODEL, José Augusto. Obrages & Companhias Colonizadoras: Santa Helena na
história do oeste parananense até 1960. Santa Helena, Prefeitura Municipal, 1988.
• MEZZOMO, Frank Antonio. Religião, nomos e eu-topia: práxis do catolicismo no
oeste do Paraná. Cascavel, EDUNIOESTE, 2002.
• PIAIA, Vander. Terra, sangue e ambição – a gênese de Cascavel. Cascavel:
EDUNIOESTE, 2013.
• ROMPATO, Maurílio; GUILHERME, Cássio Augusto Samogin Almeida (Orgs.).
Histórias e memórias da ocupação das Regiões Paranaenses no século XX. 1 ed.
Maringá: Massoni, 2015.
•WACHOWICZ, Ruy Christovam. Paraná, Sudoeste: ocupação e colonização. 2 ed.,
Curitiba: Ed. Vicentina, 1987.
• ______. História do Paraná. Ponta Grossa: editora UEPG, 2010.
• ______. Norte Velho, Norte Pioneiro. Curitiba: ed. Vicentina, 1987.
• ______. Obrageros, mensus e colonos: história do oeste paranaense. 2 ed.
Curitiba: Ed. Vicentina, 1987.