Este documento resume uma pesquisa sobre a inserção de recém-doutores na carreira docente em universidades brasileiras. Apresenta dados de três professores de áreas diferentes que relataram suas trajetórias acadêmicas, o processo de concurso público e os desafios do primeiro ano como docentes, como dificuldades de acesso a informações e desenvolvimento do trabalho. Os resultados preliminares apontam tensões encontradas no início da carreira.
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE
1. V CONGRESO INTERNACIONALSOBRE EL PROFESORADO PRINCIPIANTEY LAINDUCCIÓN
A LA DOCENCIA
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Problemas de profesores principiantes
INFORMES DE EXPERIENCIAS FORMATIVAS SOBRE INDUCCIÓN
A INSERÇÃO DE RECÉM-DOUTORES NA DOCÊNCIA UNIVERSITÁRIA:
CONTRIBUIÇÕES PARA O DEBATE
Torisu, Edmilson Minoru
etorisu@gmail.com
Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, Brasil
Starling, Cláudia Bosco
claudiastarling@hotmail.com
Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG, Brasil
Resumo
Este trabalho faz parte de uma pesquisa de caráter longitudinal em desenvolvimento, que
tem como objetivo investigar o processo de inserção de recém-doutores na carreira
docente em universidades federais brasileiras. A investigação, de natureza qualitativa,
utiliza como principal fonte de dados um roteiro semi-estruturado para obtenção de
narrativas escritas dos docentes sobre seu processo de inserção.Os participantes da
pesquisa são egressos de um programa de pós-graduação de uma universidade federal
da região sudeste do Brasil e que, atualmente, atuam como professores novatos em
cursos de licenciatura. Apresentaremos dados relativos atrês desses professores que
atuam em áreas distintas do saber: Pedagogia, Química e Matemática em diferentes
universidades federais brasileiras.Foram analisadas as trajetórias acadêmicas e
profissionais por eles vivenciadas, o processo de realização e aprovação em concurso
público, até o primeiro ano de atuação na docência. Os resultados preliminares apontam
algumas tensões encontradas pelos docentes no início da carreira no que diz respeito ao
acesso às informações administrativas e pedagógicas, o desenvolvimento do trabalho em
sala de aula e a constituições de grupos de pesquisa.
Palavras-chave: docência universitária; inserção na carreira; trajetóriadocente.
Introdução
Neste texto, apresentamos o recorte de um estudo mais amplo, de caráter longitudinal,
que está sendo desenvolvido por professores de diferentes universidades públicas do
Brasil. Neste texto discutimos aspectos do processo de inserção na carreira docente do
ensino superior de trêsprofessores que foram aprovados em concursos públicos federais,
entre os anos de 2014 e 2015. A característica comum dos participantes é o fato de
serem egressos do mesmo programa de doutorado de uma universdade pública federal,
no sudeste do Brasil.
Nos últimos anos várias publicações como Stivanin et al (2012), Arantes & Gebran
(2013), Cunha & Zanchet (2010), Cunha et al (2015), Garcia (2010) e Nóvoa (1992),
sinalizam para a importância dos primeiros anos na carreira e quais as implicações desse
período na formação e construção da identidade docente, considerando que ela é
construída “principalmente na cultura institucional que inclui o campo científico onde o
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docente está inserido e, principalmente, pelos pares e pelos rituais acadêmicos
consagrados e instituídos” (Cunha & Zanchet, 2010, p. 195).
Garcia (2010) ao discutir sobre a construção da identidade e profissão docente
argumenta que ela não é um aspecto ligado automaticamente ao diploma, mas que é
construída de forma contínua levando também em consideração que todo professor foi
por muito tempo, estudante.
Nessa perspectiva, investigamos as inquietações e desafios encontrados pelos docentes
no processo de inserção na carreira universitária, a partir da análise das trajetórias
acadêmicas e profissionais por eles vivenciadas, o processo de realização e aprovação
em concurso público, até o primeiro ano de atuação na docência.
A intenção é que a análise dos dados possa contribuir para o debate acadêmico em torno
das experiências do profesor em início de carreira e a construção de sua identidade,
processos que estão perfeitamente imbricados.
Dessa forma, adotamos como opção metodológica o uso da narrativa escrita para
obtenção das histórias dos percursos dos docentes, sujeitos desta pesqusia. A escolha
da narrativajustifica-seporque, ao se preparar para narrar os fatos na forma escrita, o
professor realiza meta-reflexão sobre o que se passou, fato que pode contribuir para a
sua formação e compreensão do lugar que ocupa enquanto docente e ao que Josso
(2004) denomina experiências formadoras.
Nas palavras de Cunha (1997):
quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que
reconstroi a trajetória percorrida, dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa
não é a verdade literal dos fatos mas, antes, é a representação que deles faz o
sujeito e, desa forma, pode ser transformadora da própria realidade. (p. 187)
O uso de narrativas em pesquisas qualitativas sobre a atividade docente será discutido
com mais detalhes à frente.
Essa pesquisa se estrutura em dois momentos que orientam as discussões e análises.
Inicialmente serão discutidas aspectos das trajetórias de trêsprofissionais egressos de
um programa de pós-graduação de uma universidade pública do sudeste brasileiro,
enfatizando aspectos do perfil e aprovação em concurso público para a docência do
ensino superior. Em seguida, serão enfatizados os desafios na atuação profissional em
relação aos encargos didáticos, às condições do trabalho, atividades realizadas e os
desafios da docência nos cursos de licenciatura, após o ingresso como docente da
universidade.
Ao realizar este trabalho, que reflete sobre a formação acadêmica vivenciada por esses
docentes na pós-graduação, nível de doutorado, em relação à docência universitária,
estamos indo ao encontro das ideias de Cunha et al. (2015), que considera importante
refletir sobre a dimensão da formação do professor do ensino superior, já que este
envolve a indissociabilidade entre pesquisa, ensino e extensão.
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Marco teórico
A docência no Ensino Superior é um tema que tem despertado interesse de vários grupos
de pesquisa. Os estudos de Masetto (2000), Pimenta e Anastasiou (2002), Gatti (2004),
Zabalza (2004), Veiga (2006), Cunha et al (2015), Nóvoa (1992), Isaia (2006), entre
outros, afirmam a importância da formação docente no espaço universitário.
Ao se pensar a docência no Ensino Superior é preciso considerar as mudanças sociais
pelas quais a universidade tem passado, como: “de um lugar reservado a poucos, tornou-
se um lugar para o maior número possível de pessoas” (Isaia, 2006, p. 64). Nesse
sentido, ganham relevância as investigações que objetivem discutir o papel da
universidade e a formação docente nos cursos de pós-graduação. Entretanto, de acordo
com Gatti (2004) há pouca valorização da formação para a docência nesses cursos, pois
eles geralmente enfatizam o conhecimento de áreas específicas, muitas vezes não
possibilitando o enfrentamento da articulação entre a docência e a pesquisa. Isso nos
parece incoerente, visto que a universidade está pautada em um tripé, no qual pesquisa,
ensino e extensão são indissociáveis.
Em relação à profissionalização da docência universitária, Veiga (2006) afirma que ela
“não pode estar dissociada do processo de formação e desenvolvimento profissional e
das condições objetivas de trabalho”. (p. 94). Além disso, deve-se questionar o sentido e
o significado da formação no espaço universitário, como sinalizado por Zabalza (2004).
Outros autores que também argumentam em favor da necessidade de pensar a formação
para a docência superior, como Pimenta e Anastasiou (2002), questionam que a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB/96) no art.66, que estabelece a formação como
preparação e não como processo formativo, sendo realizada prioritariamente em
programas de pós-graduação, o que sugere que a formação inicial e continuada seja
vista como necessidade pessoal ou como uma questão específica da instituição.
Pesquisas que tratam da inserção na carreira docente nos primeiros anos, sinalizam que
esse processo reflete as vivências do professor durante a sua trajetória acadêmica,
profissional e pessoal. Ao discutir sobre a iniciação à docência, Cunha et al (2015),
argumentam que muitas vezes “a preparação dos professores da educação superior
baseia-se fundamentalmente nos saber da pesquisa e desconsidera os saberes próprios
da docência” (p. 73).
Sendo assim, estudos como o que aqui apresentamos são importantes porque, ao
suscitarem a discussão em torno do tema, ajudam a expor o frágil panorama da formação
inicial docente brasileira e, mesmo que timidamente, reivindicar mudanças nesse
panorama.
Metodologia
Bogdan e Biklen (1994) consideram que, dentre as possiveis características de uma
pesquisa de cunho qualitativo, estão a recolha de dados por meio de palavras e imagens,
preocupação com possíveis descobertas durante o proceso e não com o resultado final e
preocupação do pesquisador com as perspectivas dos participantes, ou seja, as maneiras
como os sujeitos percebem e dão sentido às suas vidas.
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Na presente pesquisa, os dadosemergiram de textos escritos pelos participantes e que se
constituíram como nossa principal fonte. Tão importante quanto o papel dos participantes,
está o dos pesquisadores ao dar importância às impressões e reflexões dos professores
sobre suas carreiras, ou seja, como percebem um determinado contexto de suas vidas.
A narrativa escrita como metodologia pode posibilitar possibiltar acesso a dados
consistentes a respeito do percurso dos professores, já que elas remtem às suas
trajetórias. Os defensores da narrativa argumentam que ela pode contribuir para
transformações sociais. Tal argumento torna-se convincente quando pensamos as
histórias narradas não como compartimentos estanques e, nesse sentido, não se
encerram nelas mesmas. Elas são parte de um contexto social e ao serem objetos de
reflexãoantes da narrativa propriamente dita, podem provocar mudanças no narrador, na
maneira como ele pensa e na maneira como pretende agir em prol de mudanças que se
fizerem necessárias.
Nesse sentido:
A capacidade de narrar a si mesmo, além de envolver a capacidade de refletir
sobre a experiencia vivida, pode ajudar a entender e a organizar a realidade
social e, dessa forma, oferecer melhores condições para que os sujeitos possam
transformar a própria realidade. Wittizorecki et al (as cited in Silva et al., 2010)
Para a coleta de dados, para viabilizar o proceso narrativo e levando em consideração o
tempo disponível para aescrita das narrativas, utilizamos um roteiro semi-estruturado. Por
exemplo, sobre o ingresso em universidade pública, solicitamos aos participantes que
narrassem suas experiências durante os primeiros meses de atuação, podendo abordar
temas que mais lhes chamaram atenção. A forma como foi recebido nos primeiros meses
na universidade, a relação com os pares, a maneira como são feitas as comunicações
sobre as atividades adminstrativas e pedagógicas, a tutoria, o local, recursos e condições
de trabalho.
A escolha dos professores que atendiam ao perfil que desejávamos foi feita por e-mail.
Identificamos aqueles que haviam sido aprovados em concursos para a carreira docente
no prazo de um ano, após a defesa do doutorado.Os sujeitos foram convidados a
participar da pesquisa e narrar suas trajetórias.
Neste trabalho, apresentamos os resultados parciais das análises das narrativas de três
desses professores, que atuam em áreas distintas: Pedagogia, Química, e Matemática.
A partir dos dados coletados foram construídas categorias de análises, cruzando
informações e identificando regularidades e singularidades, como: trajetória acadêmica e
profissional; o ingresso na carreira: do concurso à posse; encargos didáticos e tarefas
realizadas durante o primeiro ano de docência e os desafios vivenciados pelos recém-
doutores na inserção na carreira docente em universidades federais.
Resultados
Neste trabalho iremos apresentar as análises referentes a três participantes da pesquisa
longitudinal em desenvolvimento, que atuam em diferentes universidades federais há
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menos de um ano e que concluíram o doutorado nos anos de 2014 a 2015 em uma
mesma universidade federal do sudeste brasileiro.
Os dados trazem discussões sobre o perfil dos docentesparticipantes, atuação
profissional atual, suas trajetórias acadêmica e profissional e os primeiros momentos de
entrada na universidade como docentes.
Não temos a pretensão de apresentar dados como resultados conclusivos, mas sim,
resultados parciais de uma pesquisa que encontra-se em desenvolvimento. Sabemos que
a amostra não é suficiente para fazermos afirmativas sobre as diferentes universidades e
nem propor generalizações, o que não é o nosso objetivo. Mas, os dados possibilitam
trazer reflexões prelimiares que tratam de aspectos analisados nas narrativas escritas
dos sujeitos pesquisados que possam contribuir para os estudos sobre inserção na
carreira docente universitária.
Em relação a identificação dos participantes, são três egressos que atuam como
docentes em diferentes universidades federais. De acordo com as narrativas sobre a
escolaridade da família, identifica-se que das três mães, duas são donas de casa, tendo
o ensino fundamental incompleto e uma é aposentada como auxiliar de enfermagem,
tendo o ensino médo incompleto. No caso dos pais, um não é identificado, outro tem o
superior e outro o Ensino Fundamental incompleto. Não podemos fazer nenhuma
afirmativa conclusiva, mas já podemos trazer para a discussão a ideia de que para muitos
desses professores, o ensino superior pode não ser uma realidade vivenciada pelospaís
e mães e muitas vezes, tem a mulher assumindo as tarefas dentro de casa. Nesse
sentido, podemos inferir sobre a importância e o valor dado ao acesso do ensino superior
pelos professores pesquisados, não somente como ex-estudantes, mas agora como
docentes, o que aparece explícito nas narrativas dos professores.
Em relação a trajetória escolar dos participantes verifica-se o não acesso a educação
infantil. O ensino fundamental e médio foram cursadosem escola pública ou particular
com bolsa e só um sujeito estudou em escola particular sem bolsa. Esses dados apontam
para uma perspectiva de pensar a relação entre a formação inicial em espaços públicos e
privados e o que se essas trajetórias podem impactar a percepção dos docentes sobre
essa relação.
Sobre a graduação observa-se a predominância da realização em instituições públicas
federais, sendo que um participante cursou dois cursos de graduação, sendo um em uma
instituição federal e outro em uma faculdade particular. Interessante apontar que a
licenciatura têm uma predominância de instituições particulares em detrimento das
públicas e que os três participantes da pesquisa têm origem em graduações em
instituições públicas federais e atuam em universidades públicas federais. Podemos
discutir se há uma relação entre as graduações cursadas em universidades públicas e
atuação como docente em universidades públicas, mediante concurso público. Os dados
ainda são insuficientes para apontar tal relação.
Outro ponto que merece ser mencionado é a tendência dos sujeitos continuarem a
trajetória acadêmica nas mesmas instituições, por exemplo, dois fizeram o mestrado na
mesma instiuição que cursaram a graduação e outro fez o mestrado na mesma instituição
que fez uma pós-gradução lato sensu.Já a relação entre mestrado e doutorado não
seguiu essa linha, apenas um sujeito cursou o doutorado na mesma instituição em que
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cursou o mestrado. Mas, há uma regularidade, todos são oriundos de graduação de
instituições públicas. Um participante cursou o mestrado profissional e dois o acadêmico,
sendo que todos terminaram o mestrado em instituições diferentes no mesmo ano, 2010
e ingressaram no doutorado no ano seguinte, em 2011. Há um participante que cursou
sete meses de pós-doutorado no programa de doutorado e dois fizeram parte do
doutorado no exterior, todos com bolsa.
Em relação a atuação profissional atualtodos os pesquisados têm dedicação exclusiva,
40h e enquadramento profissional como professor adjunto. Em sala cumprem uma carga
horária em torno de 10 a 12 aulas semanais. O que varia é a quantidade de disciplinas,
alguns com três turmas e três disciplinas diferentes, outros com três turmas, mas com
apenas uma disciplina. Os professores atuam em cursos de licenciatura na graduação e
um atua no mestrado profissional como orientador. Os professores assumem cargos
adminstrativos na universidade como representação em colegiado de curso, por exemplo.
Há indícios nas trajetórias que aqueles que assumem varias disciplinas encontram mais
dificuldades quanto a organização do tempo para o planejamento de aulas, intensificando
o trabalho docente no início da carreira universitária.
Suas narrativas trazem reflexões sobre o início da trajetória docente, as condições de
trabalho nessa inserção, as turmas e atividades desenvolvidas e as implicações disso na
carreira posterior.
Os resultados também apontam que em relação às trajetórias acadêmica e profissional
os participantes da pesquisa possuem percursos diferenciados, mas todos com
expressiva experiência na docência da educação básica, seja como estudantes ou como
docentes.
A seguir o trecho da trajetória da pedagoga, participante 1:
Iniciei meu trabalho na Educação Básica quando eu tinha 15 anos, e entrei no curso de
magistério. Eu era ajudante de uma turma de Educação Infantil em uma escola
particular perto da minha casa. Desde aquela época, nunca mais deixei de trabalhar em
escola.
Seu relato evidencia a importância das primeiras experiências, mesmo que ainda de
maneira informal. Há que se discutir melhor sobre como estão os procesos de inserção
na carreira docente que geralmente são feitos de maneira informal nas escolas de
educação infantil e como pensar essess espaços como espaços formativos.
Outra narrativa da participante 1, sinaliza que essa inserção aconteceu em um ambiente
favorável ao aprendizado, o que contribuiu signficativamente para o aprendizado da
docência:
Atuei no início da minha vida profissional em uma escola com uma proposta
pedagógica muito atuliazada, voltada ao trabalho com projetos. Sinto que minha
formação como professora nessa escola se intensificou porque era uma escola
preocupada com a formação do professor, cursos e trabalhos alternativos. Na época
não usávamos livros didáticos e tudo era construído a partir de projetos de trabalho.
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Os participantes 2 (Matemática) e 3 (Química) citam que atuaram na EJA no início da
trajetória como professores, mas que hoje não atuam mais.
Um trecho do participante 2 evidencia essa questão:
Iniciei minha carreira docente em cursos de suplência que, hoje, seriam cursos da EJA.
Trabalhei por um ano e meio em uma escola do Estado (Minas Gerais) que oferecia
essa modalidade de ensino. Foi uma experiência muito interessante e enriquecedora,
sobretudo porque aprendi muito e fui bem acolhido pela direção e corpo discente. Em
seguida, já um pouco mais amadurecido no que se refere ao trânsito em sala de aula
mas ainda ansioso por novas experiências, e tendo saído dos cursos de suplência, fui
professor de Matemática (ensinos fundamental e médio) por três anos em uma
pequena escola privada.
Esses trechos de narrativas trazem implicações diretas também a respeito de pensar os
espaços da EJA como esapaços de formação, visto que muitas vezes os professores
dessas turmas são ainda estudantes ou professores recém formados e levantar a
discussão sobre os motivos de muitos não continuarem atuando nesse ensino ao longo
dos anos.
As narrativas apontam para a compreensão de aspectos envolvidos no início da atuação
como docente, como começou a ser professor, nestes casos investigados, estavam
diretamente ligada à inserção na Educação Básica, na EJA e na Educação Infantil.
Todos os pesquisados têm experiência no ensino superior como docentem sendo que um
atuou como tutor de curso de EAD em universidade pública e os outros dois como
docente em universidades particulares. Fica evidenciado que as instituição particulares
são muitas vezes o primeira experiência que o docente tem no ensino superior e que
depois ele procura as instiuições federais para trabalhar.
Outro relato da participante 3, traz a questão das condições precárias e de pouca
valorização da educação básica no Brasil, sendo inclusive motivo de optar pela atuação
no ensino superior, por ser considerado uma carreira mais atrativa:
O professor da educação básica no Brasil é pouco valorizado, tanto no financeiro
quanto no status da carreira. Na educação básica em um ano tive mais de 10 turmas
como mais de 30 estudantes. Não era possível me dedicar aos estudantes, ao ensino e
pesquisa.Eu gosto muito do trabalho com o ensino médio, mas pelas condições
precárias de trabalho e valorização decidi ir para o ensino superior.
Esse trecho traz reflexões sobre a relação entre a educação básica e superior brasileira,
as condições de trabalho, aspectos financeiros e valorização social. Entretanto, nas
narrativas dos professores iniciantes aparecem também desafíos relacionados ao ensino
superior, como falta de verba para pesquisa e apresentações de trabalhos, falta de
condições apropriadas do local de trabalho, etc. Ou seja, a educação devem ser pensada
nas especificidades dos seus níveis escolares, mas principalmente de maneira mais
global, pensando a educação em todas as suas instâncias.
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Os professores participantes da pesquisa reconhecem a importância da atuação na
educação básica como aspecto que favorece a docência no ensino superior, como
aponta o participante 2:
Tenho certeza que esses anos na educação básica foram fundamentais para meu
amadurecimento pessoal e profissional. Em particular, meu trabalho foi facilitado pelas
sólidas relações de amizade e respeito estabelecidas com colegas de profissão, direção
e alunos.
Ficou evidente que a inserção na carreira traz angústias mas, ao mesmo tempo, origina
novas perspectivas que envolvem o ensino, a pesquisa e a extensão. Ao narrarem suas
perspectivas futuras os professores, todos os professores pontuam o interesse em
desenvolver atividades na pós-graduação, vinculando esse trabalho a pesquisas e
orientações, como sinaliza um deles
O participante 2 sinaliza:
Pretendo construir uma carreira na orientação de pesquisas de mestrado. Isto já tem se
consolidado com o meu ingresso no programa de pós-gradução em Educação
Matemática, no papel de professor colaborador. Nesta nova função, já tenho meu
primeiro orientando e estou ministrando uma disciplina de 30h, dividida com outro
professor do programa. Quero, na medida do possível, trabalhar em prol da pesquisa e
da extensão, por entender que um papel importante da universidade é melhorar a
comunidade que se aloja em seu entorno.
Outro ponto comum aos participantes da pesquisa foi o interesse em desenvolver suas
pesquisas e projetos, como aponta a participante 1:
Pretendo elaborar um banco de atividades e questões e seleção de textos bons e
interessantes para o trabalho em sala de aula, comprar livros atuais da minha disciplina
e referentes às pesquisas que estou desenvolvendo. Também pretendo produzir artigos
em revistas qualificadas no campo educacional, gostaria de produzir livros ou capítulos
de livros, participar de muitos congressos nacionais e internacionais, gostaria de
orientar alunos em suas pesquisas, entrar para pós-graduação e fazer pós-doutorado
no exterior.
Em relação ao percurso e às vivências dos professores do concurso até os primeiros
meses de docência, a inserção como docente no ensino superior em universidades
federais é um processo gratificante, gerando status profissional, mas ao mesmo tempo é
um processo que gera ansiedade, principalmente durante as etapas do concurso até a
posse. Os professores que prestaram concursos em outras cidades ou estados,
diferentes da sua origem de formação na pós-graduação, também sinalizaram tensões
quanto à adaptação, locomoção e estabelecimento de moradia.
Sobre esse aspecto a pesquisadora 3 narrou que:
No último concurso obtive um maior sucesso – a aprovação. Mas, nesse último
concurso tinha mais experiência em relação a concursos públicos para carreira de
ensino superior. Um dos motivos para fazer o concurso foi a falta de valorização salarial
da educação básica no Brasil. Passei no concurso no ano de 2015, um ano que teve
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uma grande greve dos técnicos das universidades. Eu passei no concurso em junho e
no mesmo mês o resultado foi homologado. A posse demorou pelo motivo da greve,
mas quando a greve terminou fui nomeada. Iniciei os meus trabalhos em outubro do
mesmo ano. Minha Univesidade é um campus novo que possui apenas 2 anos de
criação, como fiz as provas do concurso em outro lugar não conheci nem a estrutura,
nem a cidade que iria morar.
Interessante registrar que os três participantes fizeram dois concursos anteriores, antes
de terminar o doutoradoe foram aprovados e clasificados no terceiro, logo após o
doutorado. Salientam a aprovação como sucesso alcançado nos concuros e reconhecem
a importância da vivencia em concursos anteriores para alcançar tal resultado
posteriormente, o que é evidenciado na escrita do participante 3:
O período que antecedeu os dois últimos concursos foi bastante tenso e acredito que o
é para todos que concluem o doutorado e desejam ingressar no magistério superior. Foi
necessário administrar o tempo para que nele coubessem estudos, trabalho e o resto.
Dedicava a maior parte do meu tempo aos estudos, de modo a contemplar a maior
parte dos conteúdos explicitados para a prova, no edital.
Os motivos para tentar o concurso relatados pelos participantes da pesquisa foram
diversos, desde o fato de serem mais próximos a onde moram, a ser universidade
reconhecida, ser onde sempre estudou até mesmo pelo fato de ser uma universidade
federal, independente de conhecer a região ou a própria universidade. Mas há uma
sintonia nas narrativas, pois os três demonstraram muito interesse em ser docente de
uma universidade federal.
Em relação aos desafios na atuação profissional docente durante os primeiros meses, no
que se refere aos encargos didáticos, atividades realizadas, formação e condições do
trabalho, os dados evidenciam que a organização do tempo para a realização das
atividades é um ponto importante. Os dados também mostram que a busca pelo apoio
em grupos já constituídos durante o doutorado tem implicações nessa inserção. Muitas
vezes, o professor recorre aos vínculos estabelecidos durante a sua formação acadêmica
e profissional para criar novos campos de trabalho.
O trecho a seguir relacionado ao participante 3, sinaliza este aspecto:
A universidade promove alguns encontros para novos ingressantes, tanto docentes
como pessoas do setor administrativo, nos quais temos esclarecidas muitas dúvidas a
respeito da universidade.
A participante 1 também traz elementos importantes em sua narrativa:
Tenho encontros com a minha tutora ela me informou sobre alguns procedimentos e
incentivou a pesquisa e produção acadêmica, ou dúvidas quanto a horário e
procedimentos na universidade, como ausência devido a participação em congressos,
por exemplo.Mas o que mais tem me incomodado é a questão do espaço, pois não há
gabinetes disponíveis para os novatos. Fica evidente a relação de poder entre o grupo
e entre os grupos de pesquisa. Um sentimento ruim, como se eu tivesse que ter alguém
que me chamasse para ficar na sala, por afinidade ou pelo setor. Eu fui chamada, já
estou instalada, mas tem amigos meus que ainda não, o que muito me incomoda.
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O participante 2 também aborda tal assunto:
Fui bem recebido, mas parece haver uma frieza pairando no ar, dentre docentes,
característica do espaço acadêmico universitário. Tive apoio inicial de dois colegas de
trabalho, os quais conhecia há algum tempo. Hoje ainda, se tenho dúvidas, é comum
que eu recorra a eles, mas isso não é oficial, como se fossem nomeados meus tutores.
Raramente tenho atividades conjuntas com outro professor. No próximo semestre
dividirei uma disciplina com outro professor e temos tentado planejar as aulas em
conjunto.
Há evidências que demonstram que durante o primeiro ano de atuação há um certo
investimento dos professores iniciantes em estabelecer parcerias, em buscar um trabalho
de caráter coletivo. Todos citaram a participação em grupos de pesquisa, a produção de
artigos entre os professores novatos, tendo também um forte indício de fazer parcerias
com antigos colegas da universidade da turma do doutorado.
Os dados apontam que os professores reconhecem que o curso de pós-graduação, nível
doutorado, trouxe contribuições para o aprendizado da docência universitária, quando
houve a oportunidade de atuar em sala de aula sob orientação de professores mais
experientes, muitas vezes possibilitada pela aquisição de bolsa de estudos. Por outro
lado, as disciplinas cursadas privilegiaram quase que exclusivamente o conteúdo da área
em estudo e pouco contribuíram para a docência.
A questão da produção acadêmica é bem visível no grupo de professores investigados.
Tanto por um interesse pessoal como pela própria dinâmica da instiuição, que vê a
pesquisa como um eixo importante da universidade, como exemplificado no trecho da
participante 1:
Tomei posse recentemente e escrevi junto com mais dois professores novatos de outra
disciplina, um artigo para ser apresentado em um congreso nacional. Um outro artigo,
também escrito em parceria com outros professores novatos, mas de outras
universidades para um congreso internacional foi aceito, mas por condições financeiras
não podemos ir apresentar.
Entretanto, fica evidente certa decepção de não conseguir verba para publicações e
apresentações de trabalho, questão hoje que está tão presente nas condições do
professor docente universitário. Há uma tensão evidenciada, os professores sentem-se
cobrados pela instituição, tem intereses também pessoais e profissionais envolvidos mas
não encontram condições para realizar as pesquisas por falta de apoio financeiro.
Quanto às contribuições do doutorado para a docência no ensino superior, encontramos
trechos de todos os participantes, como a participante 3:
o curso de doutorado me proporcionou um enriquecimento teórico e metodológico para
a educação básica e o ensino superior. Eu tive experiência. Como eu fui bolsista tive
que cumprir por dois semestres estágio docência. Fiz estágio na disciplina Didática para
o Ensino de Química. Acompanhei dois professores. No doutorado acompanhei um
professor nos dois semestres de estágio docência.Também acompanhei uma
professora, mas o meu interesse era conhecer diferentes práticas/metodologias de
ensino para a educação superior.
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A participante 1 aponta que:
Como tive bolsa REUNI participei da docência durante 3 anos, ministrando aulas
sozinhas na sala e conjuntamente com o professor. A experiência de ser bolsista
REUNI diretamente ligada às atividades de sala de aula me favoreceu conhecer mais
de perto a Universidade e o trabalho de alguns professores. Entretanto nas aulas e
disciplinas cursadas não percebo esse vinculo, tanto é que após concluir o doutorado.
Já o participante 2 narra que:
Uma única vez, em substituição à minha orientadora fui bolsista CNPq. Não estou certo
de que meus estudos de doutoramento contribuíram para minha prática de sala de aula.
No entanto, é certo que, aliado ao que já havia aprendido durante o mestrado, o
doutorado me preparou de forma mais efetiva para a pesquisa. Nesse sentido, e em
uma análise mais micro, penso que tais aprendizagens (teorias, participações em
grupos de estudo, etc) oriundas do doutorado tenham contribuído para minha para
prática docente quando, em alguma medida, tentativa aliar as duas coisas: teoria e
prática.
Fica evidenciado que os participantes da pesquisa que durante o doutorado tiveram
bolsas e atuaram diretamente em sala junto aos professores ou assumindo aulas
sozinhos, reconhecem que o doutorado contribuiu significativamente na formação como
docente no ensino universitário. O que podemos refletir sobre a importância das bolsas
para os estudantes de doutorado para a sua inserção na docência universitária, desde
que atuem diretamente com professores em sala de aula e não apenas nas atividades de
pesquisa.
Algumas considerações finais
A inserção na carreira universitária é fruto de uma formação contínua e, muitas vezes, as
experiências vivenciadas durante a formação acadêmica trazem implicações na prática
pedagógica, em relação à participação em grupos de pesquisa e interesse em novas
investigações.
Torna-se fundamental que a universidade possa contribuir de maneira efetiva para o
estabelecimento de parcerias entre os professores novatos e entre eles e os mais
experientes, visando superar as tensões vivenciadas.
O processo de inserção na carreira de recém-doutores abarca elementos complexos e
que exigem do professor investimento em sua formação, posicionamento na tomada de
decisões diante de disputas presentes no espaço universitário e a busca de um trabalho
coletivo, como meio de lidar com os desafios encontrados, pois como afirmou um dos
professores ao discorrer sobre os seus primeiros meses de atuação após a aprovação
em concurso público “ser profesor universitário não é um mar de rosas, como pensamos”.
Acreditamos que a pesquisa colaborativa e baseada em narrativas escritas sobre a
trajetória dos participantes significada uma ótima oportunidade de troca de informações e
reflexões sobre as trajetórias acadêmica e profissional a partir da inserção em
universidades federais, a fim de refletir sobre a docência no ensino superior.
12. V CONGRESO INTERNACIONALSOBRE EL PROFESORADO PRINCIPIANTEY LAINDUCCIÓN
A LA DOCENCIA
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