Durante a Idade Média, a Bíblia era vista como um livro cheio de mistérios que só poderiam ser entendidos de forma mística. A interpretação bíblica se baseava principalmente na tradição da Igreja e nos escritos dos Pais da Igreja, e o sentido quádruplo (literal, moral, alegórico e escatológico) era amplamente aceito. No entanto, alguns como Nicolau de Lyra começaram a defender uma abordagem mais focada no sentido literal.
3. • Durante a Idade Média, muitos, até mesmo do clero, viviam
em profunda ignorância quanto à Bíblia. E o que conheciam
era devido apenas à tradução da Vulgata e aos escritos dos
Pais da Igreja. A Bíblia era, geralmente, considerada como
um livro cheio de mistérios, os quais só poderiam ser
entendidos de uma forma mística. Nesse período, o sentido
quádruplo da Escritura (literal, moral, alegórico e
escatológico) era geralmente aceito, e o princípio de que a
interpretação da Bíblia tinha de se adaptar à tradição e à
doutrina da Igreja tornou-se estabelecido. Reproduzir os
ensinos dos Pais da Igreja e descobrir os ensinos da Igreja
na Bíblia eram considerados o ápice da sabedoria.
4. • A regra de São Benedito foi sabiamente aplicada nos
monastérios, e decretado que as Escrituras deveriam ser
lidas e, com elas, como explicação final, a exposição dos
Pais da Igreja.
• Hugo de São Vítor chegou a dizer: “Aprenda primeiro as
coisas em que você deve crer e, então vá à Bíblia para
encontrá-las lá”. Nos casos em que as interpretações
dos Pais da Igreja diferiam, como frequentemente
acontecia, o intérprete tinha o dever de escolher. Nem
um único princípio hermenêutico foi desenvolvido nessa
época, e a exegese estava de mãos e pés atados pela
tradição oral e pela autoridade da Igreja.
5. • Enquanto o sentido quádruplo da Escritura era
geralmente aceito nessa época (literal, moral, alegórico e
escatológico), pelo menos alguns começaram a ver a
incongruência de tal visão. Até mesmo Tomás de Aquino
parece tê-la sentido vagamente. É verdade que ele
constantemente alegorizava mas, também, pelo menos
em teoria, considerava o sentido literal como uma base
necessária para toda a exposição da Escritura. Foi,
porém, Nicolau de Lyra quem quebrou os grilhões dessa
era. Não abandonou de modo ostensivo a opinião
vigente, mesmo na aceitação do sentido quádruplo mas,
na realidade, admitiu só dois sentidos, o literal e o
místico, e até mesmo apoiava o último exclusivamente
no primeiro.
6. • Argumentou quanto à necessidade de se referir ao
original, lamentou sobre o fato de se permitir que “o
sentido místico sufocasse o literal”, e requereu que o
último só fosse usado na doutrina experimental. Sua
obra influenciou profundamente Lutero e,
consequentemente a Reforma.
7. • Acredita-se que o método de interpretação denominado
de “quadriga” tenha sido desenvolvido por João
Cassiano (séc. V). Cria-se que a Escritura tinha quatro
sentidos:
8. • Histórico ou literal – o sentido evidente e óbvio do texto.
• Alegórico ou cristológico – o sentido mais profundo,
geralmente apontando para Cristo.
• Tropológico ou moral - o sentido que determinava as
obrigações do cristão e a sua conduta.
• Anagógico ou escatológico – o sentido que apontava
para as coisas vindouras que o cristão deveria esperar.
• A perspectiva de que as Escrituras têm três ou quatro
níveis de sentidos, conforme expressa a quadriga,
dominou a interpretação bíblica no período da Idade
Média. Alguns, como Bonaventura, teólogo católico
franciscano do século 13, chegaram até a defender que
havia sete níveis de sentido em cada passagem.
9. • A falta de leitura da Bíblia produz todo tipo de misticismo
e erro. Esse foi o principal motivo pelo qual a
interpretação bíblica “sofreu” muito nessa era. Isto é, o
povo não tinha a Bíblia em mãos e consequentemente
não sabia interpretá-la. Até mesmo os estudiosos não
sabia como ler a Palavra de Deus, e consequentemente
não sabiam aplicá-la.
• As circunstâncias clamavam por um movimento que
pusesse a Bíblia nas mãos do povo e o ajudasse a
interpretá-la e vivê-la. E foi isso o que a Reforma
Protestante fez.