A Guerra do Contestado foi um conflito entre 1912-1916 na região disputada entre Paraná e Santa Catarina rica em erva-mate e madeira. Populações locais lideradas por José Maria de Santo Agostinho rebelaram-se contra a desapropriação de suas terras pela Brazil Railway Company. Após 4 anos de combates, um acordo em 1916 definiu os limites entre os estados, encerrando o conflito.
100 anos da guerra do contestado história do paraná e santa catarina profciciliato 2016
1. HISTÓRIA DO PARANÁ E
SANTA CATARINA
Prof. Dr. Ronaldo N Ciciliato
UNESP/UNIP 2016
2. A Guerra do Contestado foi um conflito
armado entre a população cabocla e os
representantes do poder estadual e federal
brasileiro travado entre outubro de 1912 a
agosto de 1916, numa região rica em
erva-mate e madeira disputada pelos
estados brasileiros do Paraná e de
Santa Catarina.
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5. Guerra do Contestado
Data
12 de outubro de 1912 - Agosto de 1916
Local
Região do contestado, sul do Brasil
Resultado
Acordo de limites entre os governos de Paraná
e Santa Catarina
6. Combatentes
Rebeldes
Brasil
Comandantes
José Maria de Santo Agostinho
Maria Rosa Adeodato
Carlos Frederico de Mesquita
Tertuliano Potyguara
Marechal Hermes da Fonseca
7. Forças
10.000 soldados do Exército Encantado de São
Sebastião
7.000 soldados do Exército Brasileiro e 1.000 civis
contratados
Baixas
5.000-8.000 entre mortos, feridos e
desaparecidos
800-1.000 entre mortos, feridos ou desertores
8. Originada nos problemas sociais, decorrentes
principalmente da falta de regularização da
posse de terras e da insatisfação da população
hipossuficiente, numa região em que a
presença do poder público era pífia, o embate
foi agravado ainda pelo fanatismo religioso,
expresso pelo messianismo e pela crença, por
parte dos caboclos revoltados, de que se
tratava de uma guerra santa.
9. A região fronteiriça entre os estados do Paraná e
Santa Catarina recebeu o nome de Contestado
devido ao fato de que os agricultores contestaram
a doação que o governo brasileiro fez aos
madeireiros e à
Southern Brazil Lumber & Colonization Company.
Como foi uma região de muitos conflitos, ficou
conhecida como Contestado, por ser uma região
de disputas de limites entre os dois estados
brasileiros.
10. Ação judicial de Santa Catarina contra o
Paraná em 1900, por limites
Decisões judiciais do STF pró-Santa Catarina
em 1904, 1909 e 1910
Revolta do ex-maragato Demétrio Ramos na
zona do Timbó, em 1905 e 1906
Construção da
Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, de
1908 a 1910
11. Criação dos municípios de Canoinhas,
Itaiópolis e Três Barras em Santa Catarina, e
de Timbó no Paraná.
Instalação da Southern Brazil Lumber &
Colonization em Calmon (1908) e em Três
Barras (1912)
12. Disputas eleitorais entre os coronéis da região
pelos domínios políticos nos municípios
Espírito guerreiro do caboclo pardo (
Revolução Farroupilha
e
Revolução Federalista)
17. A espera dos fiéis acabou em 1912, quando
apareceu publicamente a figura do terceiro
monge. Este era conhecido inicialmente como
um curandeiro de ervas, tendo se apresentado
com o nome de José Maria de Santo Agostinho,
ainda que, de acordo com um laudo da polícia
da Vila de Palmas, Estado do Paraná, ele fosse,
na verdade, um soldado desertor condenado
por estupro, de nome
Miguel Lucena de Boaventura.
18. José Maria passa a ser considerado
santo: um homem que veio à terra apenas
para curar e tratar os doentes e necessitados.
Metódico e organizado, estava muito longe do
perfil dos curandeiros vulgares. Sabia ler e
escrever e anotava em seus cadernos as
propriedades medicinais das plantas
encontradas na região.
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22. Após a conclusão das obras do trecho
catarinense da
Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, a
companhia Brazil Railway Company, que
recebeu do governo 15 km de cada lado da
ferrovia, iniciou a desapropriação de
6.696 km² de terras (equivalentes a 276.694
alqueires) ocupadas já há muito tempo por
posseiros que viviam na região entre o Paraná
e Santa Catarina.
23. O governo brasileiro, ao firmar o contrato com a
Brazil Railway Company, declarou a área como
devoluta, ou seja, como se ninguém ocupasse
aquelas terras. "A área total assim obtida deveria
ser escolhida e demarcada, sem levar em conta
sesmarias nem posses, dentro de uma zona de
trinta quilômetros, ou seja, quinze para cada
lado".. Isso, e até mesmo a própria outorga da
concessão feita à Brazil Railway Company,
contrariava a chamada Lei de Terras de 1850
24. Não obstante, o governo do Paraná
reconheceu os direitos da ferrovia; atuou na
questão, como advogado da Brazil Railway,
Affonso Camargo, então vice-presidente do
estado.
25. Esses camponeses que viram o direito às
terras que ocupavam ser usurpado, e os
trabalhadores que foram demitidos pela
companhia (1910), decidiram então ouvir a voz
do monge José Maria, sob o comando do qual
organizaram uma comunidade.
26. Resultando infrutíferas quaisquer tentativas de
retomada das terras - que foram declaradas "
terras devolutas" pelo governo brasileiro no
contrato firmado com a ferrovia [3]
- cada vez
mais passou-se a contestar a legalidade da
desapropriação. Uniram-se ao grupo diversos
fazendeiros que, por conta da concessão,
estavam perdendo terras para o grupo de
Farquhar, bem como para os coronéis manda-
chuvas da região.
27. A união destas pessoas em torno de um ideal,
levou à organização do grupo armado, com
funções distribuídas entre si. O messianismo
adquiria corpo. A vida era comunitária, com
locais de culto e procissões, denominados
redutos. Tudo pertencia a todos.
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29. O "santo monge" José Maria rebelou-se, então,
contra a recém formada república brasileira e
decidiu dar status de governo independente à
comunidade que comandava. Para ele, a república
era a "lei do diabo". Nomeou "imperador do Brasil"
um fazendeiro analfabeto, nomeou a comunidade
de "Quadro Santo" e criou uma guarda de honra
constituída por 24 cavaleiros que intitulou de
"Doze Pares de França", numa alusão à cavalaria
de Carlos Magno na Idade Média.
30. Os camponeses uniram-se a este, fundando
alguns povoados, cada qual com seu santo.
Cada povoado seria como uma "monarquia
celeste", com ordem própria, à semelhança do
que Antônio Conselheiro fizera em Canudos.
31. O governo brasileiro, então comandado pelo
marechal Hermes da Fonseca, responsável
pela "Política das Salvações", caracterizada por
intervenções político-militares que em diversos
Estados do país pretendiam eliminar seus
adversários políticos, sentiu indícios de
insurreição neste movimento e decidiu reprimi-
lo, enviando tropas para "acalmar" os ânimos.
32. Antevendo o que estava por vir, José Maria
parte imediatamente para a localidade de Irani
com todo o seu carente séquito. A localidade
nesta época pertencia a Palmas, cidade que
estava na jurisdição do Paraná, e que tinha
com Santa Catarina questões jurídicas não
resolvidas por conta de divisas territoriais, e
acabou vendo nessa grande movimentação
uma estratégia de ocupação daquelas terras.
33. A guerra do Contestado inicia-se neste ponto:
em defesa de suas terras, várias tropas do
Regimento de Segurança do Paraná são
enviadas para o local, a fim de obrigar os
invasores a voltar para Santa Catarina.
Estamos em outubro de
1912.
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40. O grupo Farquhar já atuava em Cuba,
Guatemala, e El Salvador, nos setores de
transportes (bondes e ferrovias) e energia
elétrica. Seu primeiro investimento no Brasil
data de 1904, por incentivo do governo
republicano. Farquhar atuou em diversas
partes do território nacional.
41. Incorporou a Rio de Janeiro Light & Power
Company (RJ), foi responsável pela construção
e exploração do porto de Belém (PA) e pela
Estrada de Ferro Madeira – Mamoré (AM).
Participou ainda das seguintes ferrovias: E.F.
Paraná, E.F. Dona Teresa Cristina, E.F.
Mogiana, E.F. Mogiana, E.F. Paulista e E.F.
Sorocabana.
42. O investidor americano tinha o ambicioso projeto
de construir um sistema ferroviário unificado na
América do Sul. O primeiro passo foi a abertura da
Brazil Railway Company, em 1906, quando o
empresário adquiriu o trecho construído da
Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande.
Ganhava, assim, o direito sobre os 6.000.000 de
acres que margeavam a linha férrea. Farquhar
pretendia desenvolver a agricultura comercial,
tendo em vista abastecer São Paulo, e exportar a
madeira, pelo porto de Paranaguá.
43. A Companhia, que recebera a concessão
dessas terras através de Decreto do Governo
Central, tinha planos concretos para a
utilização da área ocupada por seus ex-
funcionários. Farquhar pretendia extrair a
madeira disponível e depois lotear a área para
a venda a imigrantes.
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45. O projeto de exploração do meio-oeste
catarinense concretiza-se com a criação da
Southern Brazil Lumber Company, subsidiária
da Brazil Railway, em 1909. A companhia iria
extrair os vastos recursos madeireiros da
região. São contruídas duas imensas serrarias,
iniciando-se assim a devastação de pinheirais
seculares.
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53. Área conflagrada: 20.000 km²
População da época envolvida na área de
conflito: aproximadamente 40.000 habitantes
Municípios do Paraná, na época: Rio Negro,
Itaiópolis, Três Barras, União da Vitória e
Palmas
Municípios de Santa Catarina, na época:
Lages, Curitibanos, Campos Novos, Canoinhas
e Porto União
54. 20 de outubro de 1916: Assinatura do Acordo
de Limites Paraná-Santa Catarina, no Rio de
Janeiro;
7 de novembro de 1916: Manifestações nos
municípios do Contestado-Paranaense contra o
acordo;
De maio a agosto de 1917: Sublevação popular
no Contestado-Paranaense, pró Estado das
Missões;
55. Início da Guerra: outubro de 1912
Tempo da Guerra: 46 meses (out/1912 a
ago/1916)
Auge da Guerra: Março-abril de 1915, em
Santa Maria, na Serra do Espigão
Final da Guerra: Agosto de 1916, com a
captura de Adeodato, o último líder do
Contestado
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57. 100 ANOS DA GUERRA
DO CONTESTADO
Prof. Dr. Ronaldo N Ciciliato
UNESP/UNIP
2016/PRIMAVERA