Reportagem sobre o empresário orlando Roos,dono de sementeira gaúcha. De Sebastião Ribeiro.

1. PERFIL
O imperador da semente
Orlando Roos fundou em 1963 cerealista que tem oito unidades na região do Planalto
GENARO JONER
DA INFÂNCIA NA ROÇA, Roos mantém o jeito simples e o apego ao campo, mesmo depois de ter transformado a empresa que começou pequena na maior sementeira do Rio Grande do Sul
Não-Me-Toque Apesar do cancelamento da venda de 100 Das sementes vendidas pela E. Orlando Roos,
SEBASTIÃO RIBEIRO mil sacos de semente de soja por conta da crise cerca de um quarto é produzido na fazenda do As empresas
no final do ano passado, a empresa comercia- dono, a Agropecuária Erni Orlando Roos, em
O
rlando Roos passou pelas lizou 28,8 mil toneladas de grãos para plantio Santa Bárbara do Sul e Chapada, uma das 64 CEREALISTA E. ORLANDO ROOS
grandes universidades do em 2008. fornecedoras associadas da sementeira. Com Capacidade de armazenamento: 330 mil
mundo: Harvard, Oxford, O império E. Orlando Roos foi construído 4 mil hectares plantados com milho e soja no toneladas de grãos
Cambridge, Coimbra. A pas- aos poucos. Fundada em 1963 por cinco só- verão (no inverno, são 1,5 mil de trigo), a pro- Funcionários: 250
seio, em viagens de turismo. cios (atualmente, Roos tem 90% do capital e priedade é a “menina dos olhos” de Roos, como Unidades: oito, em Não-Me-Toque, Carazinho,
Como estudante, só cursou o Arzeno Krüger, o restante) como um pequeno ele mesmo diz. O agropecuarista levou a equipe Santa Bárbara, Pontão e Santo Antônio do Planalto
primeiro grau na escolinha evangélica do segun- armazém, hoje conta com oito unidades, nos de Zero Hora para conhecê-la. De helicóptero.
do distrito de Carazinho – hoje Não-Me-Toque. municípios de Não-Me-Toque, Carazinho, San- AGROPECUÁRIA ERNI ORLANDO ROOS
Foi o que bastou para transformar os 12 hec- ta Bárbara, Pontão e Santo Antônio do Planalto. Produção em 2008: cerca de 30 mil tone-
FAZENDA É A PAIXÃO
tares de terra que tinha ao casar com a mulher O grande salto da empresa se deu no início ladas de soja, milho e trigo
Warna, aos 26 anos, em 1957, na maior semen- da década de 70, quando o café entrou em crise DO EMPRESÁRIO RURAL Funcionários: 30
teira do Estado e uma das maiores do Brasil, a e os cafeicultores do norte do Paraná invadiram Localização: 5 mil hectares em Santa
E. Orlando Roos, também reconhecida como o Rio Grande do Sul em busca de sementes de Nos 15 minutos de voo, as lavouras se ofere- Bárbara do Sul e Chapada
cerealista. Dos tempos de aluno, ele não esque- soja. Hoje, 75% das cultivares vendidas pela cem ao olhar do passageiro como um tapete de
ce o caminho de quatro quilômetros de estrada sementeira gaúcha são para agricultores para- retalhos verdes de todos os matizes. Chamam
de terra entre a propriedade do pai e o colégio. naenses, paulistas, sul-mato-grossenses, mato- a atenção os círculos de até 690 metros sobre a na habilidade para retirar uma espiga do pé e
– Não tinha nem chinelo para ir à escola. Ia grossenses, mineiros e brasiguaios (brasileiros lavoura: não são obras de ETs, mas das rodas debulhá-la. Assim como os dois filhos, Airton
descalço. Às vezes a geada era alta, e eu tinha de que vivem no Paraguai). dos pivôs que irrigam 2 mil hectares. e Marina, atuam na empresa, Roos trabalhou
correr para não queimar os pés no gelo – lembra As receitas para dar certo, Roos não se inco- – Eu já sobrevoei muitos campos nos Esta- com os pais na lavoura desde os sete anos,
Roos, com a voz arrastada, mais envelhecida do moda em revelar: evitar ao máximo ir a banco, dos Unidos e na Europa. Não tem nada mais quando puxava o cavalo, enquanto o pai di-
que o corpanzil de 77 anos que ainda aguenta “ter os pés no chão”, ter sempre uma safra de lindo do que isto aqui! – empolga-se. recionava o arado e a irmã enterrava as mu-
firme subir e descer da caçamba do utilitário ou reserva, reinvestir tudo o que ganha e aprovei- Já no chão, ao volante da caminhonete, das de mandioca. A simplicidade de quem se
equilibrar-se sobre os sacos de semente. tar as crises para crescer. Não é à toa que em Roos serpenteia pelas estradas de terra ver- criou na roça transparece nos gestos afáveis
No último dia 29, Roos recebeu Zero Hora na 2009 a empresa fará o maior investimento da melha. Orgulha-se dos “60 anos de direção”. do imperador da semente. Mas pergunte a
sede da empresa. Chega de caminhonete em história: R$ 40 milhões. Na fazenda, o produtor exalta cada detalhe: Roos se ele gostaria de voltar no tempo.
um dos armazéns. Lá dentro, um silêncio de – Nos anos 80, eu precisava de dois cami- a primeira safra de milho transgênico – “que – Se Deus chegasse aqui agora e dissesse
ecoar, entrecortado pelo crepitar do telhado de nhões. Olhei os preços, e vi que gastaria 10 mil beleza!, não tem uma picadinha de inseto” –, “vou te dar 15 anos de novo”, eu diria “mui-
zinco dilatado pelo sol. O cheiro é doce, de cere- sacos de soja, que é a moeda para nós aqui. as bombas que puxam a água para irrigação to obrigado”. Eu prefiro ficar com os meus 77.
al, mas não há um grão sequer no chão – nor- Não comprei. No outro ano, deu seca nos Es- – “aqui tem 2.800 KVA de potência” –, a uni- Sofri muito na vida. Principalmente porque
mas da casa. Organizados em pilhas de mais de tados Unidos, o preço da soja foi lá em cima, e formidade da soja – “parece agricultura de tive pouco estudo, tive de aprender tudo sozi-
4 metros de altura, os sacos, sobras não vendi- deu para comprar os mesmos caminhões por 5 precisão, mas a precisão é o olho do patrão”. nho – responde, seguro.
das, ocupam um pequeno espaço do armazém mil sacos de soja. Nunca compro uma máquina As marcas da agricultura estão no rosto
com capacidade para 350 mil unidades. no auge – ensina. grande de alemão, vermelho de pegar sol, e ± sebastiao.ribeiro@zerohora.com.br
ZERO HORA > DOMINGO | 8 | FEVEREIRO | 2009 DINHEIRO 3