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Sobre o balcão, a caderneta entre Claudiomiro, proprietário de um mercadinho no bairro Petrópolis na Capital, e a dona de casa Dorcelina sela laço tradicional de consumo entre vendedor e cliente

      SEBASTIÃO RIBEIRO                               pequenos contra os supermercados. Ainda         co e digo que não tenho. Se a pessoa já está     funda amizade com fiado. Não peça.” De-
                                                      que, nos últimos anos, a formalização tenha     morando aqui, vem todo dia e um dia pe-          sobedecendo ao próprio aviso, ele mantém



      A
                 cliente entra apressada e esba-      reduzido a sua abrangência, segundo o pre-      de para levar fiado, tudo bem. Mesmo as-         atrás de um balcão o fichário com cerca de
                 forida no armazém da esquina,        sidente do conselho do Programa de Admi-        sim, já levei muito calote. Quem não levou?      50 cadernetas. Sem contar dezenas de vales
                 e o dono, um gringo como todos       nistração de Varejo, Claudio Felisoni.          – questiona Paulinho.                            – compras penduradas para pagamento
                 os outros concorrentes da região,       – As pessoas compram em caderneta por                                                         nos próximos dias, registradas em fichi-
      saúda.                                          falta de opção. Antigamente, esses estabele-      Venda por caderninho é operação                nhas de 10cm x 2cm presas por um pren-
         – Fala, Patrícia!                            cimentos (que operavam com caderninhos)           de alto risco, diz especialista                dedor de roupas. Nem mesmo a máquina
         – Me vê um pastel! Ah, e um cigarro.         estavam espalhados em todos os bairros.                                                          de cartão de crédito reduziu o fiado.
         O pastel de guisado com ovo em uma           Hoje, isso é mais comum em zonas de me-            Sem preencher os pré-requisitos exigidos        – Quando comecei a aceitar cartão, muita
      mão e a carteira de cigarro na outra, a ad-     nor renda – diz.                                pelo sistema financeiro formal – como ren-       gente começou a querer abrir conta, para pa-
      vogada Patrícia Bagatini deixa o minimer-          O que não quer dizer que o fiado inexista    da mínima, comprovante de estabilidade no        gar depois tudo junto, em vez de ter de ficar
      cado chispando, sem mexer na carteira ou        para populações com maior poder aquisiti-       emprego, limite de endividamento do bene-        passando cartão a cada comprinha – conta
      ao menos perguntar quanto deve. Com a           vo. Como o próprio armazém de Paulinho          ficiário etc –, o crédito de caderninho é de     Claudiomiro, a duas quadras de Paulinho.
      cliente já na rua, o proprietário Paulinho      comprova, localizado em Petrópolis, um          alto risco, analisa o vice-presidente da Asso-     A dona de casa Dorcelina Machado man-
      Guaragni retira a caneta da orelha e regis-     bairro de classe média alta da Capital. Atrás   ciação Nacional dos Executivos de Finanças       tém uma conta no armazém de Claudiomiro
      tra a conta. Anota tudo no surrado caderni-     do balcão, de bermuda, chinelos e um guar-      (Anefac), Miguel Oliveira.                       há mais de 20 anos, desde antes de o atual
      nho que traz na capa, além de uma etiqueta      da-pó branco, o dono do estabelecimento            – É uma operação de risco, até porque se      dono assumir. E não abre mão de poder pen-
      com o nome da consumidora, a inscrição:         tem convicção de que reduziria sua clien-       o cliente não pagar, não tem o que se fazer–     durar as compras. Embora semanalmente vá
      "Caderneta de Armazém. Deve/Haver".             tela se abolisse a caderneta. Ele possui 10     afirma, acrescentando que especialmente          ao supermercado.
         – Nem sei quanto foi (o pastel). Só digo o   cadernos do tipo no minimercado e outros        nas cidades interioranas a caderneta ainda é       – Todo dia praticamente eu passo aqui
      que quero, ele anota e depois me apresenta      10 que ficam com os próprios clientes, res-     comum até mesmo em lojas estruturadas.           para pegar uma coisinha, conversar. Quando
      a conta. Nem discuto. Na última vez paguei      ponsáveis por levá-los a cada compra. Os           Não é à toa que Claudiomiro Bas-              não venho, o Claudio (Claudiomiro) chega a
      R$ 256 – conta Patrícia, vizinha do merca-      beneficiários desse crédito, assim como os      so, dono de outro minimercado destes             estranhar – conta.
      do, enquanto termina o lanche na calçada.       que fazem dívidas mais curtas assinando         que vendem de refrigerante a creoulina             A última conta mensal dela no mercadi-
         Em tempos de grandes redes varejistas e      vales, formam um grupo seleto.                  Pearson, de pão a lâminas de barbear Wi-         nho? R$ 430.
      popularização do cartão de crédito, o insti-       – Se chega alguém aqui hoje pedindo          lkinson Sword, mantém um cartaz pendu-
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O fiado sobrevive: como o crédito por caderneta mantém clientes nos minimercados

  • 1. | 4 | Reportagem Especial > ZERO HORA > SÁBADO | 21 | MARÇO | 2009 O fiado sobrevive Tudo na Minimercados atraem clientes com um apelo antigo, mas irresistível nestes tempos: adiar o confiança pagamento só com boa-fé FOTOS TADEU VILANI Sobre o balcão, a caderneta entre Claudiomiro, proprietário de um mercadinho no bairro Petrópolis na Capital, e a dona de casa Dorcelina sela laço tradicional de consumo entre vendedor e cliente SEBASTIÃO RIBEIRO pequenos contra os supermercados. Ainda co e digo que não tenho. Se a pessoa já está funda amizade com fiado. Não peça.” De- que, nos últimos anos, a formalização tenha morando aqui, vem todo dia e um dia pe- sobedecendo ao próprio aviso, ele mantém A cliente entra apressada e esba- reduzido a sua abrangência, segundo o pre- de para levar fiado, tudo bem. Mesmo as- atrás de um balcão o fichário com cerca de forida no armazém da esquina, sidente do conselho do Programa de Admi- sim, já levei muito calote. Quem não levou? 50 cadernetas. Sem contar dezenas de vales e o dono, um gringo como todos nistração de Varejo, Claudio Felisoni. – questiona Paulinho. – compras penduradas para pagamento os outros concorrentes da região, – As pessoas compram em caderneta por nos próximos dias, registradas em fichi- saúda. falta de opção. Antigamente, esses estabele- Venda por caderninho é operação nhas de 10cm x 2cm presas por um pren- – Fala, Patrícia! cimentos (que operavam com caderninhos) de alto risco, diz especialista dedor de roupas. Nem mesmo a máquina – Me vê um pastel! Ah, e um cigarro. estavam espalhados em todos os bairros. de cartão de crédito reduziu o fiado. O pastel de guisado com ovo em uma Hoje, isso é mais comum em zonas de me- Sem preencher os pré-requisitos exigidos – Quando comecei a aceitar cartão, muita mão e a carteira de cigarro na outra, a ad- nor renda – diz. pelo sistema financeiro formal – como ren- gente começou a querer abrir conta, para pa- vogada Patrícia Bagatini deixa o minimer- O que não quer dizer que o fiado inexista da mínima, comprovante de estabilidade no gar depois tudo junto, em vez de ter de ficar cado chispando, sem mexer na carteira ou para populações com maior poder aquisiti- emprego, limite de endividamento do bene- passando cartão a cada comprinha – conta ao menos perguntar quanto deve. Com a vo. Como o próprio armazém de Paulinho ficiário etc –, o crédito de caderninho é de Claudiomiro, a duas quadras de Paulinho. cliente já na rua, o proprietário Paulinho comprova, localizado em Petrópolis, um alto risco, analisa o vice-presidente da Asso- A dona de casa Dorcelina Machado man- Guaragni retira a caneta da orelha e regis- bairro de classe média alta da Capital. Atrás ciação Nacional dos Executivos de Finanças tém uma conta no armazém de Claudiomiro tra a conta. Anota tudo no surrado caderni- do balcão, de bermuda, chinelos e um guar- (Anefac), Miguel Oliveira. há mais de 20 anos, desde antes de o atual nho que traz na capa, além de uma etiqueta da-pó branco, o dono do estabelecimento – É uma operação de risco, até porque se dono assumir. E não abre mão de poder pen- com o nome da consumidora, a inscrição: tem convicção de que reduziria sua clien- o cliente não pagar, não tem o que se fazer– durar as compras. Embora semanalmente vá "Caderneta de Armazém. Deve/Haver". tela se abolisse a caderneta. Ele possui 10 afirma, acrescentando que especialmente ao supermercado. – Nem sei quanto foi (o pastel). Só digo o cadernos do tipo no minimercado e outros nas cidades interioranas a caderneta ainda é – Todo dia praticamente eu passo aqui que quero, ele anota e depois me apresenta 10 que ficam com os próprios clientes, res- comum até mesmo em lojas estruturadas. para pegar uma coisinha, conversar. Quando a conta. Nem discuto. Na última vez paguei ponsáveis por levá-los a cada compra. Os Não é à toa que Claudiomiro Bas- não venho, o Claudio (Claudiomiro) chega a R$ 256 – conta Patrícia, vizinha do merca- beneficiários desse crédito, assim como os so, dono de outro minimercado destes estranhar – conta. do, enquanto termina o lanche na calçada. que fazem dívidas mais curtas assinando que vendem de refrigerante a creoulina A última conta mensal dela no mercadi- Em tempos de grandes redes varejistas e vales, formam um grupo seleto. Pearson, de pão a lâminas de barbear Wi- nho? R$ 430. popularização do cartão de crédito, o insti- – Se chega alguém aqui hoje pedindo lkinson Sword, mantém um cartaz pendu- tuto do “pendura” sobrevive como arma dos para abrir uma caderneta, me faço de lou- rado nas prateleiras com o aviso: “Não con- ± sebastiao.ribeiro@zerohora.com.br