1. O documento discute como as empresas de serviços estão lidando com as transformações no mundo do trabalho no século XXI, especialmente no que se refere à educação corporativa e qualificação dos trabalhadores.
2. As mudanças no tempo e espaço decorrentes da globalização trouxeram novas formas organizacionais e tecnologias que aceleraram o tempo de produção e encurtaram distâncias, impactando a subjetividade dos trabalhadores.
3. A educação corporativa e a qualificação constante dos funcionários passaram a ser centrais para as empresas
Os impactos da educação corporativa no setor de serviços
1. OS PROCESSOS DE EDUCAÇÃO CORPORATIVA
NO SETOR DE SERVIÇOS.
- Impactos e Cuidados no Século XXI.
Por Angelo Peres.∗
Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de
incertezas que ele é capaz de suportar.
Kant
.
1
Resumo .
A partir do fim do século XX, os programas de educação corporativa tem sido uma
alternativa importante para as empresas que buscam melhorar suas performances, diante da
concorrência que agora é global. Ou seja, a partir da mundialização do capital e do fenômeno da
reestruturação produtiva, que alteram os processos de produção, e o padrão tecnológico,
gerando mutações no universo do trabalho, as empresas se viram, em meio, a um sem-número
de transformações. Estas mudanças provocaram um novo paradigma, voltado para a educação
corporativa, que ganha força e importância.
Nesta perspectiva, e sem esquecer dos impactos dessas modificações na classe
trabalhadora, e em sua subjetividade, este artigo deseja refletir sobre como as empresas, do
setor de serviços, estão lidando com esta “nova” realidade.
Ainda, grosso modo, este artigo que refletir a partir das ponderações de Sorj, esta
“proximidade” que o cliente tem de certos trabalhadores, e o que isto implica na capacitação e no
perfil “perfeitamente” voltado para o encantamento do cliente-consumidor.
Palavras-chaves:
Recursos Humanos; Setor de Serviços; e Educação Corporativa.
Abstract:
As from the end of the twentieth century, corporate education programs have been an
important alternative for companies seeking to improve their performances, to face the
competition that nowadays is global. Otherwise, as from the globalization of capital and the
phenomenon of productive restructuring affecting production processes, and technology
standards generating changes in work environment, the companies were caught in the middle of
uncountable transformations. These changes led to a new paradigm, focused on corporate
education, which gained strength and importance.
Mestre em Economia; Pós-graduado em Recursos Humanos, Marketing e Gestão Estratégica.
∗
Docente da Universidade Candido Mendes (UCAM) e do Centro Universitário Celso Lisboa (UCL). E-
mail: ppconsul@unisys.com.br.
Artigo elaborado para fins de Comunicação Acadêmica, na II Semana de Integração Acadêmica, do
1
Centro de Filosofia e Ciências Humanas - CFCH, da UFRJ, em 08.08.2008.
2. In this perspective, and not forgetting the impacts of these changes in the working class and
its subjectivity, this article wants to reflect about how businesses of the sector of services are
dealing with this quot;newquot; reality.
Still, broadly, this article wants to think over Sorj thoughts on this quot;proximityquot; that the
customer has to some workers, and what this means in training and in the profile quot;perfectlyquot;
focused on the enchantment of the client-consumer.
Keywords:
Human Resources; Division of Services; and Corporate Education.
2
3. 1. O Tempo e o Espaço vis a vis O Mundo Corporativo e as Novas Experiências
Capitalistas no Fim do Século XX e no Século XXI.
As organizações, a partir dos últimos 30 anos, do fim do século passado, têm
lidado com muitas e inusitadas transformações. Uma delas é a mudança na
experiência da dinâmica do tempo e do espaço, dentro do nexo capitalista, que vem
impactando o mundo dos homens e, mormente no mundo do trabalho. Ou seja, as
mudanças operadas nas políticas empresariais, no contexto da reestruturação
produtiva2, estão sendo as responsáveis por modificar o ritmo do tempo para uma
percepção mais acelerada, na vida das pessoas e das empresas; e, ao mesmo
tempo, está quebrando as barreiras espaciais, e, com isto, nos dando a impressão
de que o mundo está, a cada dia que passa, encolhendo mais (HARVEY, 2006)3.
Estas mutações trouxeram, nesta perspectiva, rebatimentos particulares sobre
os elementos constitutivos da gestão dos recursos humanos (RH). E, novos
dispositivos organizacionais (como o toyotismo, por exemplo) que passaram a
agregar a subjetividade4 da classe trabalhadora como a constituidora de um novo
complexo de produção de mercadorias. Assim, estas categorias (tempo e espaço)
se transformaram em agentes políticos, econômicos, e geradores de poder de
classe; e, começaram a gerar uma aberta fase de compressão5; e, com isto,
2
A este respeito ver a produção de: Montaño, 1999; Antunes, 2005; entre outros.
3
Para Harvey (2006, p. 209), hoje, a eficiência das organizações está centrada em vencer as
barreiras dos movimentos espaciais. Ou seja, vencer as barreiras das trocas on-line, de mercadorias,
num sistema complexo de produção e de organização espacial. Para o autor, o tempo de produção,
de circulação da troca forma o conceito de tempo de giro do capital, de importância extrema neste
novo e complexo tempo. Ou seja, quanto mais rápido for o retorno (a recuperação) do capital posto
em circulação, tanto maior será o lucro.
4
Subjetividade, neste artigo, deve ser entendida como: um evento não imanente ao indivíduo, mas
vai se constituir a partir do intercruzamento dessas dimensões, de dentro e fora do indivíduo, não
existindo, portanto, a separação entre o plano individual e o coletivo, entre os registros de indivíduo e
sociedade. Nesse sentido, um pressuposto que se impõe e diz respeito à consideração de que a
subjetividade é socialmente produzida, operando numa formação social determinada, sob o crivo de
um determinado tempo histórico e no âmbito de um campo cultural (Silveira, 2002, p. 103).
5
Para o autor, as definições de organização espacial eficiente, e de tempo de giro socialmente
necessário são formas fundamentais que servem de medida à busca do lucro (HARVEY, 2006, p.
209).
3
4. trouxeram fortes impactos nos ambientes de trabalho, causando, significativos
desequilíbrios na subjetividade da classe trabalhadora6.
Estas transformações, no fim das contas, além de originar novas formas
organizacionais, acarretaram, em seu bojo, novas tecnologias produtivas; e estas,
grosso modo, propiciaram esta dita aceleração do tempo, e um significativo
encurtamento dos espaços (idem: 2006)7.
No que tange a classe trabalhadora - e os reflexos em sua subjetividade -,
especificamente, ocorreram: uma mudança no padrão da racionalidade; um grau
mais elevado de intensificação dos processos de trabalho; e uma aceleração na
demanda por novos processos de qualificação profissional, na medida em que, no
campo concorrencial, no discurso capitalista, o que importa é atender, e encantar, o
cliente-consumidor8.
2. O Tempo, o Espaço versus o Debate Sobre a Importância da Qualificação do
Trabalhador, no Século XXI.
A partir do exposto acima, e segundo Harvey (2006), as transformações
postas propiciaram mudanças abissais não só em nossas práticas culturais, mas,
também, no espaço político, econômico e social. Para ele, essas alterações, todas
elas, estão provocando um realinhamento nos hábitos de consumo, nas
configurações geográficas e geopolíticas, nos poderes e nas práticas do Estado, e
nos processos de trabalho. Estas mudanças estão, no fim das contas, alterando,
inclusive, o padrão da: educação, treinamento, persuasão e de mobilização.
Assim, o acesso ao conhecimento científico e técnico, em face ao mundo de
rápidas mudanças, no ciclo da inovação, e nos gostos e nas necessidades
6
Na compreensão dos autores do legado marxiano e da tradição marxista, estes choques são fruto
da ofensiva do capital, nos processos de produção, que, em resumo, desenvolveram alterações nos
métodos de trabalho e na precarização da classe trabalhadora, no desemprego, entre outros. Para
leitura substantiva: Harvey, 2006; Antunes, 2005 e 2006; Alves, 2005; Cesar, 1996; Tauile, 2001;
entre outros.
7
O capitalismo tem se caracterizado por contínuos esforços de redução do tempo de giro, acelerando
assim os processos sociais, ao mesmo tempo em que diminui os horizontes temporais da tomada de
decisão. É neste contexto (complexo) que urge a ”adaptabilidade” e a “flexibilidade” dos trabalhadores
para o desenvolvimento do nexo capitalista (HARVEY, 2006, p. 210).
8
No entendimento do capitalismo, do século XXI e XX, não somos mais cidadãos, somos
consumidores, bem como não existem mais comunidades, e sim shopping-centers
4
5. renovadas, a cada estação, por parte dos clientes-consumidores, tem nos levado a
uma guerra pelo que se convencionou chamar de vantagem competitiva.
Deste modo, o próprio saber se torna (se transforma) mercadoria, a passa a
ser produzida, vendida e consumida, a quem pagar mais.
É por conta disto, um dos motivos, dessas mutações postas, que o capitalista
sai na busca de dominar o tempo e o espaço, através do conhecimento e de sua
consolidação nas máquinas e nos processos. Nessa perspectiva, já que o ambiente
torna-se incerto, efêmero e competitivo; a qualificação do trabalhador passa a ser
um dos temas centrais de interesse do empresariado, na medida em que há uma
mudança não só nos sistemas de produção e na compressão dos ciclos de inovação
tecnológica, mas, e principalmente, no padrão de consumo, e na geração dos
superlucros (HARVEY, 2006) 9.
O mundo do trabalho, nesta perspectiva, começa a exigir, dos trabalhadores,
um novo perfil de dedicação incondicional, e um irrestrito ajustamento aos sistemas
de valor e cultura, às empresas, que estes trabalhadores fazem parte. Melhor
explicando, as organizações desse nexo, até nos processos seletivos, buscam
candidatos com perfis perfeitamente ajustados a esta lógica.
Em suma, essas empresas, exigem dos trabalhadores que eles despojem-se
de sua identidade de classe, de seu lugar na sociedade e de seu “pertencimento” da
coletividade global. Em troca, o trabalhador ganha: uma identidade empresarial; uma
cultura que será o princípio organizador e distinguidor de seus pensamentos e atos;
bem como, participa de treinamentos específicos e aculturadores. Fora que, apropria
um vocabulário próprio da “casa”; e um estilo vestimentar distintivo e personalizado.
Na verdade, e no limite, essas organizações procuram incutir um novo
patriotismo, que é o patriotismo da empresa. Dessa forma, apresentam a esse
Num âmbito mais geral, estas alterações, todas elas, encetaram novas formas de sociabilidade,
9
indicando um reordenamento entre as relações sociais. Melhor explicando, por meio dessas
macrotransformações apontadas acima, passamos a viver num mundo de acentuada volatilidade,
instantaneidade, descartabilidade e efemeridade. Portanto, este impulso acelerador, voltado ao
consumo, de uma maneira geral, nos levou a novos sistemas de signos e de imagens, bem como a
um novo perfil social fragmentado, onde reside uma economia de fluxos de capital (de espaço global)
altamente unificada. Na contemporaneidade o capitalismo está se organizando através da dispersão,
da mobilidade geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de
trabalho e nos mercados de consumo, isto tudo acompanhado por pesadas doses de inovação
tecnológica, de produto e institucional (HARVEY, 2006, p. 150-151 e 258).
5
6. trabalhador uma “nova” forma de “pertencimento”. Nessa angulação, essas firmas
buscam, a qualquer preço, trabalhadores que se entreguem de corpo e alma; e, em
troca, como já dito em parágrafos anteriores, dá-lhes uma identidade, uma
personalidade, um trabalho e uma nova “relação social”.
E, no fim de tudo, essas empresas absorverão toda a energia desse
trabalhador. Ou seja, e segundo Jinkings (2006), não é somente na mobilização dos
corpos, ou do coração, que se baseiam as atuais estratégias gerencias, mormente
no campo dos RH: é, inclusive, na mobilização total do indivíduo. Ou seja, não é
somente sua energia física e afetiva que se quer cooptar, mas, também, sua
potência psíquica, que se procura, e que se quer incorporar aos meios de produção.
Isto porque, no “novo” mundo do trabalho, e, como no nosso caso, no setor de
serviços, existem significativas particularidades, exigências e assimetrias. Porque a
produção de bens (e de serviços) aponta-nos, para uma nova realidade: que é a
produção focada em nichos de mercado e de consumo; novas formas de circulação
de bens (e de serviços); uma inédita forma de se gerir administrativamente e
comercialmente; e “novas expertises” postas, bem como “novas competências”
estão sendo exigidas aos trabalhadores, a partir de “novos sistemas de controle” que
estão sendo incorporados ao trabalho.
Fora que, há a prevalência da lógica financeira, da competitividade, já que a
questão da intensificação da “parceirização” e do “engajamento” do trabalhador ao
trabalho é uma conquista do capitalismo desde seus primórdios. Isto sem, contudo,
esquecermos a significativa preocupação com a redução dos custos.
3. Os Debates Sobre a Educação Corporativa, na Perspectiva de Sorj, no Setor
de Serviços, no Espaço da Produção de Bens Intangíveis: Uma Reflexão.
Assim, para coroar nossa reflexão, sobre este complexo tema, surge o objeto
deste artigo: a educação corporativa. Para tal, escolhemos refleti-lo a partir do setor
de serviços. Isto porque, trata-se de segmento com o maior crescimento e a maior
variação de “expertises” profissionais. Fora que, é o setor que veio a incorporar
amplos contingentes oriundos dos processos de reestruturação industrial, a partir
dos 30 últimos anos do século passado.
Por outro lado, e contribuindo na decisão por este setor específico.
Lembramos das: significativas mutações organizacionais; das alterações nos
modelos de gestão da força de trabalho; e da incorporação de novas tecnologias, de
6
7. base microeletrônica, principalmente, transformando-o e submetendo-o ainda mais à
racionalidade do capital.
Porém, devemos alertar, mais uma vez, que há autores que não se alinham a
esta compreensão. Eles entendem se tratar de um equívoco afirmar a existência
deste setor. Ou seja, para esses autores o que vivemos é uma nova lógica industrial
capitalista; ou, o que ocorre, é uma interpenetração entre as atividades industriais,
agrícolas e de serviços (MANDEL, 1982; NETTO, 2007; ANTUNES, 2006 e 2005;
entre outros).
Entretanto, e por outro lado, há autores que apontam para este setor como
um novo e distintivo produtor de novas práticas de trabalho, tais como: as interações
verbais; os contatos diretos entre consumidores e profissionais, principalmente.
Para este segundo grupo de autores, estes profissionais são, em alguma
parte, detentores de saberes especializados, ou de outro tipo de certificação pública
(ALMEIDA, 2004; SORJ, 2000).
Para Sorj (2000), por exemplo, ainda sobre a especificidade deste setor, o da
atividade de produção de bens intangíveis, argumenta que ocorrem novos
comportamentos relacionais e interativos junto ao cliente. Ou seja, há atividades
profissionais, neste sub-setor, onde há grande interação entre o produtor e o
comprador de um serviço, na medida em que existem formas específicas, e
particulares, na relação interpessoal entre o trabalhador e o cliente-consumidor.
Esta interação provoca, grosso modo, na compreensão da autora, certa
mudança no comportamento relacional e interativo entre o cliente e o trabalhador.
Fato que a Sociologia não observou até então. Esta alteração, no padrão
constitutivo, deste setor, para este grupo específico de profissionais, não foi
acompanhada por uma reestruturação na lógica funcional, nem tampouco, gerencial.
Dessa forma, surge um novo e complexo paradigma, que se estabelece, e que na
perspectiva taylorista-fordista não foi previsto. Este contato direto requer novos
currículos profissionais; e, por outro lado, novas qualificações para o gestor desse
trabalhador (idem, 2000) 10.
10
A autora lembra da discordância de Braverman (1974), quanto à sua reflexão. Para o autor, mesmo
no setor de serviços, as normas de rotinização, fragmentação e de desqualificação do trabalho, se
impõem. Porém, ela ressalta que concorda com o autor, que em muitas ocupações estas
características se apresentam (mormente nos níveis inferiores da hierarquia ocupacional), mas ela
justifica sua reflexão, para uma atividade específica: a de produção de bens intangíveis.
7
8. Somos de opinião, porém, que a subsunção da subjetividade do trabalhador
pela lógica do capital é algo posto e indiscutível. Ou melhor, a ideologia, da captura
da subjetividade, dos trabalhadores, é uma das pré-condições do próprio
desenvolvimento da nova materialidade do capital. Isto não se discute nem está na
pauta. Até porque, com os novos aparatos da microeletrônica, na produção, passa-
se a exigir um novo envolvimento do trabalho vivo na produção capitalista, bem
como a subsunção11 real da subjetividade operária, através do seu “consentimento”
e do controle do trabalho12.
Porém, com a prevalência do aspecto emocional, apresentado por Sorj,
exigindo um novo perfil profissional, nos faz voltar a pensar sobre os treinamentos
corporativos ministrados pelas empresas deste setor. Ou seja, será que estes
treinamentos têm que buscar esta sintonia apregoada pela autora?
Em nosso entendimento, de forma genérica, há que se convocar os
pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas a fim de estudar o que nos aponta a
autora. Ou seja, no âmbito das corporações do setor de serviços, no espaço da
produção de bens intangíveis, alguns pontos devem passar por um novo crivo
conceitual, estrutural e por reformulações (se for o caso), e/ou ser objeto de novos
estudos. Isto porque, o que nos parece, os programas de formação profissional
corporativos, diante de todos os impactos apontados acima, ainda não mereceram,
por parte dos RH, uma reflexão específica e mais aprofundada.
Dito de outra forma, o que ainda encontramos, nas empresas, são ações de
treinamento de cunho genérico, que não levam em conta esta particularidade
apontada pela autora: os comportamentos relacionais e interativos, entre os clientes
e os trabalhadores.
Assim, algumas perguntas ficam no ar: como eu regulo um plano de formação
corporativa que atenda esta relação empregado/consumidor em um contexto de
11
Neste artigo o termo subsunção indicará e caracterizará a relação entre trabalho e capital. Ou seja,
“trata-se da geração de uma situação social, na qual a força de trabalho vem a ser, ela mesma,
incluída e como que transformada em capital: o trabalho constitui o capital. Constitui-o
negativamente, pois é nele integrado no ato da venda da força de trabalho, pelo qual o capital
adquire, com esta força, o uso dela; uso que constitui o próprio processo capitalista de produção”
(GALVAN, 1989, p. 90).
12
A este respeito ver a produção de: Coriat, 1994; Alves, 2005; Leite, 1994; Antunes, 2005; entre
outros.
8
9. interação e voltado ao “encantamento”? E, como eu planejo esta ação de educação
corporativa, já que, a cada cliente, há uma nova (e renovada) “experiência
emocional”? Ainda: Como a área de RH, no processo de formação do trabalhador,
do setor de serviços, voltado para a produção de bens intangíveis, vai estruturar esta
formação/capacitação, sem prejudicar a eficácia do serviço, a espontaneidade do
trabalhador, e tornar eficazes as reações dos empregados em situações tão
diversificadas?
4. Reflexões Conclusivas.
Pensamos ter deixado claro que os processos de Educação Corporativa (e os
de RH), no século XX e depois no XXI, é uma determinação da reestruturação
produtiva, a partir da mundialização do capital. Pensamos, também, ter deixado
claro que as mudanças no mercado de trabalho, que despotencializam - e
subsumem - a classe trabalhadora, não faz do trabalhador um sujeito livre, criativo e
“emponderado”, como crêem alguns autores de perfil pós-moderno.
Em nossa opinião, as modificações que afetaram/ e que estão afetando o
mundo do trabalho, no século XXI, ainda, têm como norte o capitalismo. Ou seja, a
relação capital versus trabalho ainda não foi superada.
Ao longo deste trabalho, tivemos a oportunidade de ratificar as significativas
mudanças no mundo do trabalho, mas tentamos, também, apontar para o nexo
central, que é o capitalismo impondo uma nova lógica industrial a partir da “nova”
coerência: as determinações neoliberais, que provocaram/ e que provocam até hoje
severos impactos na classe trabalhadora e em sua subjetividade, no mundo do
trabalho.
Ainda, quisemos apontar, simplesmente, para uma possível alteração quanto
à - parcial - mudança no mundo do trabalho, no setor de serviços, no sub-setor de
produção de bens intangíveis, e o quanto esta pequena mudança pode acarretar em
muitas transformações no modelo atual de trabalho – e dos RH, mormente no
âmbito da educação corporativa – e que escapa completamente ao padrão
prevalente atual.
Para finalizar, este artigo não quer por conta dessa - possível - alteração no
desenho estrutural, deste grupo de trabalhadores, especificamente, dizer que o
trabalhador não está subsumido, explorado e constrangido. Pelo contrário, porém,
não se pode deixar de se mobilizar a esta reflexão posta pela autora. Até porque, é
9
10. de responsabilidade da área de RH: estudar as pessoas, falar de gente, de
mentalidade, de vitalidade, de ação e de proação. Ou, pelo menos, deveríamos.
Dessa forma, este artigo fica com este desafio: o de convocar todos os
pesquisadores das Ciências Sociais e Humanas, que estudam especificamente este
tema, e sugerir um olhar com mais atenção para o que nos aponta a professora Bila
Sorj. Até porque, ao que se percebe, no fim desta reflexão, é que nesse “novo”
mundo do trabalho, o trabalhador se vê praticamente obrigado a subscrever-se a
isso (ao capital). Ou seja, a classe trabalhadora está, neste momento, dando um
aval ao capitalista, no sentido que ele lhe tome o corpo, o sonho, e o espírito.
Melhor, o trabalhador está dando a este “senhor”, a possibilidade de ser
protagonista dele mesmo: um trabalhador subsumido, alienado e explorado, ao
limite.
10
11. REFERÊNCIAS:
ALMEIDA, Paulo Pereira. A Servicialização do Trabalho. Revista Sociologia,
Problema e Práticas. Sociologia, jan. 2004, n◦. 44, p. 83-107.
ALVES, Giovanni. O Novo (E Precário) Mundo do Trabalho. São Paulo:
Boitempo, 2005.
ANTUNES, Ricardo. Os Sentidos do Trabalho. São Paulo: Editora Boitempo,
2005.
____. A Era da Informatização e a Época da Informalização. In: Riqueza e
Miséria do Trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
BRAVERMAN, Harry. Trabalho e Capital Monopolista. 3ª. Edição. Rio de Janeiro:
Zahar, 1974.
CESAR, Mônica. A Reestruturação Industrial e as Políticas de RH: Um Estudo de
Caso no Setor Químico. Rio de Janeiro: Revista Em Pauta, da Faculdade de
Serviço Social da UERJ. n◦ 9, nov. 1996.
CORIAT, Benjamin. Pensar Pelo Avesso. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1994.
GALVAN, Cesare. Capital – Tecnologia & Questionamentos. João Pessoa:
Shorin, 1989.
HARVEY, David. Condição Pós-Moderna. 15ª Edição. São Paulo: Loyola, 2006.
JINKINGS, Nise. A Reestruturação do Trabalho nos Bancos. In: Riqueza e
Miséria do Trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006.
LEITE, Márcia de Paula. O Futuro do Trabalho: Novas tecnologias e
Subjetividade Operária. São Paulo: Página Aberta, 1994.
MANDEL, Ernest. O Capitalismo Tardio. São Paulo: Abril, 1982.
Globalização e Reestruturação Produtiva: Duas
MONTAÑO, Carlos.
Determinantes Para a Estratégia Neoliberal de Estado e Mercado. Rio de
Janeiro: Revista Praia Vermelha - UFRJ, v.1, n◦ 2, 1999.
SILVEIRA, Maria Lídia Souza da. Algumas Notas Sobre a Temática da
Subjetividade no Âmbito do Marxismo. Rio de Janeiro: Revista Outubro, n◦ 7,
2002.
SORJ, Bila. Sociologia e Trabalho: Mutações, Encontros e Desencontros. Revista
Brasileira de Ciências Sociais - RBCS. Vol.15, N◦ 43, jun/2000.
TAUILE, José Ricardo. Para (Re)Construir o Brasil Contemporâneo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2001.
11