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37Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: AS NOVAS
TECNOLOGIAS E A CONSTRUÇÃO DAS CIDADES
CONTEMPORÂNEAS
Fábio Fernandes VILLELA1
RESUMO : Este artigo trata das grandes mudanças ocorridas no
Mundo do Trabalho, especialmente aquelas relacionadas à transi-
ção do Padrão Fordista de Acumulação para o padrão que alguns
pesquisadores denominaram de “Acumulação Flexível”, “Neo-For-
dismo”, “Pós-Fordismo”, “Pós-Taylorismo”, “Especialização Fle-
xível”, Modelo Japonês ou Toyotista. Busca-se esclarecer e tor-
nar mais compreensiva a complexa realidade da Reestruturação
Produtiva num setor que tem sido pouco privilegiado pelos traba-
lhos com perspectiva sociológica contemporâneos: a Indústria da
Construção Civil, Sub-setor de Edificações (ICCSE) no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE : Indústria da Construção Civil. Reestrutura-
ção Produtiva. Novas Tecnologias.
As últimas décadas do século XX foram marcadas por insti-
gantes debates no que diz respeito às grandes mudanças ocorri-
das no Mundo do Trabalho. Muitos pesquisadores, nas universi-
dades, nos institutos de pesquisa, nos sindicatos, e os próprios
trabalhadores passaram a analisar os processos produtivos e as
transformações no Mundo do Trabalho, especialmente a transi-
ção do Padrão Fordista de Acumulação ao que, durante a década
de 1990, convencionou-se chamar de “Pós-Fordismo”, “Fordismo
Periférico”, “Pós-Taylorismo”, “Neo-Fordismo”, “Especialização
Flexível”, “Mundialização do Capital”, “Modelo Japonês ou Toyo-
1
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Programa
de Pós-Graduação em Sociologia. Campinas – SP – Brasil. 13081-970 - fabio_villela@hotmail.com
38 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
tista”, etc. Esses estudos passaram a se preocupar com o proces-
so de mudanças organizacionais e com as novas determinações
do processo de acumulação de capital, no âmbito da sociedade
contemporânea. Dentro dessa perspectiva, um vasto universo de
autores estabeleceu um conjunto de marcos teóricos que defini-
ram as bases para o estudo do que se convencionou chamar de
“Reestruturação Produtiva”2
. A partir desse campo de pesquisas,
recolocamos (VILLELA, 2007) algumas questões acerca da “Rees-
truturação Produtiva” na Indústria da Construção Civil, Subsetor
de Edificações (ICCSE), no Brasil, com suas Novas Tecnologias e
seus Modos de Socialização.
O objetivo de nossa pesquisa foi descobrir os elementos que
compõem a Reestruturação Produtiva, especialmente, aqueles
que foram colocados em prática na ICCSE, para responder à per-
gunta: quais são as perspectivas que se abrem para os traba-
lhadores e para o sindicalismo frente a esses novos Modos de
Socialização pelo trabalho? Para isso situamos o debate, a partir
de uma caracterização da “Reestruturação Produtiva” implanta-
da nas indústrias, e a partir daí, apresentamos o que vem a ser
o “modelo” introduzido na ICCSE. Portanto, a partir de algumas
abordagens teóricas recentes e de uma pesquisa empírica rea-
lizada no âmbito de uma grande empresa da ICCSE, buscou-se
descrever os principais “Modos de Socialização” da Reestrutura-
ção Produtiva ligados ao ICCSE.
Reestruturação produtiva e modos de socialização pelo
trabalho
Contemporaneamente, há uma contraposição entre duas
perspectivas que se articulam em torno da análise sobre a cen-
tralidade da teoria do valor-trabalho de Marx, as quais têm des-
dobramento com relação aos Modos de Socialização. A primeira
defende que a “ontologia do ser social” constitui-se em torno do
trabalho e é, portanto, o principal Modo de Socialização dos su-
jeitos, tornando-se indispensável para o pleno desenvolvimento
do ser humano. Essa tese é defendida por Antunes (1995, 1999,
2006), entre outros.
2
Veja-se como exemplo deste tipo de abordagem os resultados da pesquisa coletiva intitulada “Para onde
vai o mundo do trabalho? As formas diferenciadas da Reestruturação Produtiva no Brasil” (ANTUNES,
2006).
39Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
O outro ponto de vista, defendido especialmente por Gorz
(2003, 2004, 2005, 1982), a partir de 1980, em seu livro Adeus ao
Proletariado, anunciava o esgotamento do potencial revolucio-
nário do operariado, salientando que novas dinâmicas estavam
sendo postas em circulação por uma espécie de “não-classe de
neoproletários”, onde o trabalho não era mais o fundamento dos
Modos de Socialização. Segundo esta perspectiva, o trabalho não
ocupa mais um lugar central nas sociedades industrializadas en-
quanto valor e peça central dos processos de socialização. Esta
posição é defendida, do ponto de vista histórico e filosófico, por
autores tais como, Arendt (2001), Méda (1999) e novamente Gorz
(2003, 2004, 2005), entre outros. Numa posição parecida, uma
série de autores vem desenvolvendo uma crítica à validade da
aplicação da teoria do valor-trabalho de Marx, a partir do terre-
no preparado por Habermas (1975). De nossa parte, sustentamos
uma perspectiva diametralmente oposta a esse segundo ponto
de vista (VILLELA, 2007).
Recolocando a questão da Reestruturação Produtiva, cabe
perguntar-se: quais as implicações das Novas Tecnologias e seus
Modos de Socialização sob o ponto de vista do “trabalho estra-
nhado”? Quais as conseqüências para os trabalhadores dessas
mudanças? Quais os elementos que compõem tal modelo? Se
alguns elementos dos Modos de Socialização da Reestruturação
Produtiva estão sendo colocados em prática, nas empresas bra-
sileiras, o que vem a ser realmente esse “Modo de Socialização”
contemporâneo? Diante desse quadro, procuraremos apresentar
alguns resultados de pesquisa acerca do que vem a ser a Reestru-
turação Produtiva na ICCSE. Para isso, começamos traçando um
esboço sobre o tema tomando como ponto de partida a caracte-
rização dos Modos de Socialização da Reestruturação Produtiva
feita por Lhuiller. Segundo essa autora:
Para impor esta ideologia e este tipo de relação social, as direções
das empresas lançaram-se a uma verdadeira batalha de identidade,
com objetivo de racionalizar e formatar a subjetividade dos assa-
lariados, erradicando qualquer veleidade de independência. Nos
anos 80 e 90 surgiu um impressionante dispositivo participativo:
círculos de qualidade, múltiplos grupos ad hoc, grupos de expres-
são, ações pela qualidade e seminários em torno da definição de
identidade da empresa, de sua cultura e de suas missões. Um dos
objetivos era instaurar intercâmbios entre a hierarquia e grupos de
assalariados, para que estes últimos interiorizassem as ‘pressões’
40 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
da empresa e seus interesses. Isto é acompanhado de um recurso
sistemático à comunicação empresarial - com inserção na imprensa
- e às formações sob medida, para gravar nos espíritos os ‘valores
da empresa’ e impor o consentimento. Sem esquecer as sanções:
demissões individuais precedidas de pressão e ‘colocação no qua-
dro’ para dar o exemplo, causar medo e provocar enquadramento.
(LHUILLER, 2003, p.25).
Nesse sentido, os Modos de Socialização podem ser enten-
didos como a preparação dos indivíduos em uma empresa para
o uso dos meios técnicos disponíveis na sociedade, como por
exemplo, as novas tecnologias, os programas de computadores,
os programas de gestão da empresa, a qualificação profissional,
etc. O que diferencia um modo de socialização de outro em dife-
rentes momentos históricos são as finalidades, as formas e as ins-
tituições sociais envolvidas nessa preparação, que a sociologia
chama “processo de socialização”.
Neste início do século XXI, observamos novos Modos de So-
cialização e mediações inéditas, decorrentes de artefatos técni-
cos extremamente sofisticados, como por exemplo, o processo de
automação microeletrônica e o advento das inovações tecnoló-
gicas e organizacionais, que subvertem radicalmente as formas
e as instituições de socialização estabelecidas: os trabalhadores
têm que “aprender a aprender”, lidando com máquinas “inteli-
gentes” e “interativas”, com conteúdos, formas e normas que al-
gumas instituições escolares não privilegiam.
Como exemplo geral de Modo de Socialização, podemos citar
o caso da IBM que se estrutura a partir da liderança dos executi-
vos pertencentes à alta direção (VASCONCELOS, 1993). Os valo-
res e significados que compõem a “Nova IBM” são difundidos, em
um processo de “sense making”, ou de difusão de significados a
serem compartilhados por toda a empresa e que deverão nortear
os rumos, possibilitando a coordenação de atividades conjuntas.
Essa socialização é feita na IBM Brasil através de cursos e trei-
namentos especiais, nos quais os empregados são sensibilizados
para os valores que compõem o “Market Driven Quality” e onde
aprendem técnicas de melhoria contínua de processos a partir da
constituição de grupos para análise de seu trabalho, objetivando
a diminuição das causas da não-qualidade. Nesses cursos e no
desenvolvimento dessa análise, processa-se a internalização da
“cultura de qualidade”. Através de publicações internas, da cria-
ção de prêmios e símbolos de qualidade, das comunicações ver-
41Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
bais e não verbais dos principais executivos, verifica-se o esforço
concentrado para a difusão dessa cultura.
Seguindo esta lógica de raciocínio, Linhart (2006, p.4) mostra
que essa socialização pelo trabalho torna-se uma “[...] socializa-
ção à submissão, ao conformismo e a renúncia a qualquer pensa-
mento pessoal”. Para a autora, as possibilidades de experiência
coletiva através da ação e os projetos comuns alternativos dimi-
nuem; só restam os termos crus do contrato de trabalho (que são
contratos jurídicos de subordinação, onde o tempo do assalariado
pertence ao empregador, que “o comprou e pode usá-lo da manei-
ra mais rentável segundo seu ponto de vista”). A experiência da
socialização pelo trabalho torna-se a aceitação e a disposição do
tempo e de si em proveito de uma lógica do capital que assumi-
mos sem reflexão, isto é, de forma estranhada3
. Segundo Linhart
(2006, p.4):
Lugar insubstituível de socialização e de experiência da coopera-
ção entre indivíduos, o trabalho tende a se tornar um espaço de
enfrentamentos e desconfiança. O assalariado virtuoso do gerencia-
mento moderno – aquele que busca a excelência através do uso de
si mesmo, da forma mais rentável do ponto de vista da empresa, e
em prejuízo de seus colegas, de seus clientes e da sua vida privada
– está longe de ser um cidadão virtuoso.
Reestruturação produtiva e indústria da construção civil
Diante desse quadro, em nossa tese de doutorado, procurou-
se demonstrar que a ICCSE carregava o estigma de ser um dos
setores mais atrasados da economia, principalmente no que se
referia à construção de edifícios. Não obstante tal avaliação, nota-
se que, durante a década de 1990, diversas empresas do ramo ini-
ciaram mudanças, visando atender as necessidades dos clientes
e/ou despertando para as novas necessidades da Reestruturação
Produtiva. Alguns exemplos dessas mudanças na estrutura da
ICCSE podem ser observados: 1) Produção Enxuta (“Lean Produc-
tion”) – Construção Enxuta (“Lean Construction”); 2) Programas
de Qualidade Total; 3) Racionalização dos Processos de Trabalho
em Escritório; 4) Logística e Racionalização do Canteiro de Obras;
5) Horizontalização das Empresas; 6) Organizações em Constante
3
Seguindo as considerações feitas por Antunes (1999).
42 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
Aprendizagem (“Learning Organizations”); 7) Gestão Participa-
tiva; 8) Políticas de Engajamento e Fixação dos Trabalhadores à
Empresa; 9) Terceirizações (“Outsourcing”); e 10) Novas Estraté-
gias Organizacionais (VILLELA, 2007).
Essa série de Novas Tecnologias e Modos de Socialização,
advindos no bojo da Reestruturação Produtiva e utilizados com
maior ou menor intensidade na ICSSE, vem sendo denominada
genericamente pelas empresas brasileiras de “Fast Construction”
– “Construção Rápida”. Para as grandes corporações da ICCSE
que utilizam a “Fast Construction”, algumas palavras-chaves ca-
racterizam este processo de trabalho: “industrialização”, “maior
visibilidade”, “racionalização produtiva”, “flexibilidade”, “traba-
lho sob pressão”, “customização” (“feito sob medida”), “robustez
e estanqueidade”, etc. Todo esse processo com vistas a entregar
as obras no menor prazo possível, ao melhor preço e da forma
mais “customizada” para os clientes, é um “chavão que abre por-
ta grande”4
. Quando se utiliza a expressão “Fast” Construction,
logo se pensa em indústria da alimentação do tipo “Fast” Food. O
paralelo é plausível, trata-se de um processo de “macdonaldiza-
ção” da construção5
. Nesta “construção rápida” os recordes são
impressionantes: obras com menos de 40 dias, seleção de tecno-
logia construtiva que mescla componentes avançados e tradicio-
nais, tais como, “Steel Deck”, “Tilt-up”, “Built to Suit”, gestão de
projetos do tipo “Fast Track”, “Turn-Key”, etc.
Muitos componentes da tecnologia da construção são premis-
sas da Fast Construction, considerada como modalidade de negó-
cios e conceito construtivo pelos especialistas. Alguns exemplos
que “agilizam” a Fast Construction são: 1) o “Steel Deck”, laje
composta por aço galvanizado e que serve de forma para uma ca-
mada de concreto; 2) o Tilt-Up, que são paredes de concreto mol-
dadas na horizontal, perto do local em que serão utilizadas e que
4
“Customização” é uma “tendência mundial” não só na construção civil. Somente a título de curiosidade,
hoje nos meios “cult” está cada vez mais em “moda” esse termo que expressa a “paixão”, cada vez mais
forte, por objetos únicos, exclusivos, com um toque pessoal. Customizar significa deixar determinado
objeto com uma “cara nova e pessoal”. Em larga medida, esse “movimento” se explica pela nova postura
dos consumidores, ávidos por produtos que possam traduzir seu “estilo” e “modo de encarar o mundo”,
numa tentativa de “personalização” e de afirmação de “identidade”. Trata-se de uma tendência contrária à
sociedade de massas, surgida no bojo do Taylor-Fordismo.
5
A expressão “macdonaldização” foi cunhada pelo sociólogo americano George Ritzer como um
desenvolvimento da teoria sociológica clássica de Weber (1864-1920) sobre a racionalização da sociedade
e da cultura moderna. Weber utiliza a famosa expressão “gaiola de ferro” para descrever o estranhamento
provocado pela vida burocratizada, Ritzer argumenta que o restaurante “McDonald’s” tornou-se a mais
exemplar forma de razão instrumental na sociedade contemporânea com suas conseqüências nefastas para
a vida das pessoas.
43Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
após a cura, são içadas e colocadas na fundação; 3) o Turn-key
(“vire a chave”, “chave na mão”, “preço fechado”, “custo global”,
“porteira fechada”), que é um contrato que atribui à construtora
a responsabilidade integral pela obra, desde o projeto, o forneci-
mento de materiais e equipamentos, a execução e até, em alguns
casos, a operação e manutenção do empreendimento.
É possível destacar também outras metodologias de traba-
lho da “Fast Construction”, tais como, considerar cada empreen-
dimento como “único”, com montagem de processos e fluxos de
trabalho de forma conjunta para cada tipo de empreendimento.
Para atingir tais objetivos, utiliza-se um software denominado
BIM (Building Information Modeling), Smartphones e PDAs (Per-
sonal Digital Assistant) dentro dos canteiros de obra para comu-
nicação instantânea com os escritórios. Sobre a temática da ges-
tão de custos, suprimentos e logísticas em obras rápidas, cabe
citar a utilização de softwares de gestão que permitem a integra-
ção da área técnica da construção civil com a área administrativa
e financeira, permitindo controle de informações, como prazos e
situação da obra, bem como a utilização de imagens tridimensio-
nais para o acompanhamento da obra. Com relação à “tecnolo-
gia da construção”, temos como exemplo, a utilização do “Steel
Frame” em construções residenciais, que são estruturas de aço
galvanizado com peças unidas por parafusos e pinos especiais
que agem funcionalmente como vigas e pilares, etc.
O regime de “Turn-Key” foi o conceito-chave do noticiário so-
bre a maior tragédia da história do Metrô, ocorrida em janeiro de
2007, na construção da linha 4 do Metrô de São Paulo. Sob esse
regime foi feito o contrato para construção da linha 4 do Metrô
de São Paulo pelo Consórcio Via Amarela. O Consórcio fez uma
detonação na obra dessa linha em Pinheiros, na manhã de sexta-
feira, mesmo após ser constatado um rebaixamento do terreno
na véspera. Algumas horas mais tarde ocorreram desabamentos
que, além de deixar 230 desabrigados, vitimaram sete pessoas
que passavam no local: uma aposentada, um bacharel em direito,
dois motoristas, um cobrador, um funcionário público e um office-
boy. A despeito da dimensão trágica do episódio, o coordenador
da carteira de projetos para o Brasil do Banco Mundial, Alexandre
Abranches, defendeu o modelo “Turn-Key” utilizado na licitação
das obras da linha Amarela do Metrô de São Paulo, vencido pelas
empreiteiras que compunham o consórcio Via Amarela (BACOC-
CINA, 2007).
44 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
O diretor técnico da ABCIC (Associação Brasileira da Cons-
trução Industrializada de Concreto), Paulo Eduardo Fonseca de
Campos, considera que para os empreendedores hoteleiros, as
empresas que precisam de centros de distribuição, as indústrias,
os hipermercados, os edifícios de escritório, e o próprio Estado,
qualquer obra feita fora do prazo é sinônimo de “prejuízo”. Nes-
ses casos, mais do que nunca, “tempo é dinheiro”. Campos chega
a afirmar que, “[...] para esse tipo de investidor, o tempo de obra
é contabilizado como prejuízo. Por isso, interessa a eles tudo que
possa significar uma diminuição efetiva nos prazos de constru-
ção.” Ainda segundo informações de Campos, do ponto de vista
macroeconômico, o que impulsionou o uso intensivo dos sistemas
industrializados no Brasil foi a internacionalização da economia
(MEDEIROS, 2003, p.40). Nos últimos anos, com a chegada de
empreendedores estrangeiros, habituados à utilização dos pré-
fabricados e das obras rápidas, a demanda cresceu expressiva-
mente. Isso ocorreu notadamente nos ramos hoteleiro, de shop-
pings centers e de hipermercados. Sintetizando, o que o diretor
técnico da ABCIC revela com suas colocações é a mudança do
antigo modelo de produção da ICCSE para o da Reestruturação
Produtiva (MEDEIROS, 2003, p.40).
Ou seja, cada vez mais, as grandes “corporações” da ICCSE
desempenham papel fundamental na organização do espaço con-
temporâneo. Por detrás da lógica das grandes “corporações” da
ICCSE, está a construção das cidades contemporâneas. Segundo
Corrêa (1997), essas corporações são consumidoras de uma gama
variada de matérias-primas, e interferem no processo produtivo
das cidades, das áreas agro-pastoris, das mineradoras, etc. Con-
sumidoras e produtoras de uma gama também variada de produ-
tos intermediários e finais, as corporações estabelecem ligações
internas entre si e com outras empresas dos setores industrial,
comercial e de serviços. Segundo o autor, ao empregarem um nú-
mero elevado de pessoas, interferem no mercado de trabalho e na
esfera do consumo pessoal, gerando o aparecimento de novas ati-
vidades e novos empregos. Os impactos resultantes da ação das
grandes corporações sobre a organização e as formas espaciais
preexistentes são múltiplos, afetando também às dimensões eco-
nômica, social, política e cultural.
A relação entre a Reestruturação Produtiva e seu desdobra-
mento espacial, a “Reestruturação Urbana”, ficou mais eviden-
te aos olhos dos pesquisadores durante a década de 1990. Com
45Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
o advento da Reestruturação Produtiva, o espaço urbano sofreu
grandes mudanças; surgiram, por exemplo, os complexos de alta
tecnologia denominados “tecnopólos” ou “novos distritos indus-
triais”. Os estudos sobre a Reestruturação Urbana ficaram mar-
cados por essa temática. Tais “estruturas econômicas regionais”,
segundo Valladares e Preteceille (1990, p.12), são caracterizadas
por intensas interações que vêm ocorrendo entre redes de empre-
sas, produção e pesquisa, indústria e universidade, localização e
acesso aos meios de comunicação física ou de informação, tendo
ainda um impacto quanto às altas qualificações e qualidade dos
espaços de trabalho e dos modos de vida. Segundo os autores,
constata-se que, frente à segmentação e relocalização do proces-
so industrial fordista, verificou-se uma re-habilitação econômica
das cidades enquanto locus de interações complexas. Os auto-
res ressaltam que tal revalorização se limita a certos espaços, a
certas atividades e a certas categorias sociais, e que outros pro-
cessos de transformação estão em curso nas cidades: reforço da
centralidade, crescente fracionamento sócio-espacial e segrega-
ção urbana, elitização de bairros (gentrification) e expansão da
pobreza urbana, aumento da violência e da delinqüência, aumen-
to das atividades informais e expansão do trabalho desqualifica-
do, esgotamento de regiões inteiras e crescimento de outras, por
exemplo, através dos condomínios fechados, das “edge-city”, dos
loteamentos “irregulares”, etc.
Temos como exemplo típico-ideal dos “tecnopólos” ou “no-
vos distritos industriais” o Silicon Valley, na Califórnia. Conforme
aponta Lima (1994), as primeiras experiências nasceram fora do
planejamento específico do Estado ou das corporações, respon-
dendo a necessidades militares dos Estados Unidos. Dessa for-
ma, foram criados centros de pesquisa na Califórnia, respalda-
dos por elevadas verbas do departamento de Estado, oferecendo
condições para a implementação de empresas de alta tecnologia
na área da microeletrônica. Hoje milhares de companhias de alta
tecnologia possuem escritórios dentro ou próximos ao Silicon Val-
ley. Segundo o levantamento da revista Fortune 1000, com a lista
das 1000 maiores companhias americanas, estão presentes nessa
região as seguintes empresas: Oracle, Adobe Systems, Advanced
Micro Devices (AMD), Apple Inc., Ebay, Google, Hewlett Packard,
Intel, Intuit, Seagate Technology, Yahoo, etc.
A formação de complexos de alta tecnologia – os “tecnopólos”
– fez parte de uma tendência mundial no bojo da Reestruturação
46 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
Produtiva. Um exemplo que deve ser destacado é a associação
entre universidades e centros de pesquisa, sob o comando de em-
presários e pesquisadores. Segundo Lima (1994, p.288), o capital
sempre se redireciona para onde haja maiores possibilidades de
lucro seguro. As condições “[...] demonstram que os tecnopólos
têm esse ingrediente exigido pelo capital, tornando-os lugares
atrativos internacionalmente.” O tecnopólo, conforme explica Ta-
vares (1994, p.139), é um “[...] sítio de acolhimento de complexos
industriais que se fundam na associação de conhecimento cien-
tífico e tecnológico.” Por outro lado, os tecnopólos podem possuir
outras funções, como, por exemplo, promover a reindustrialização
de áreas decadentes, como a de Torino na Itália ou a de Boston
nos EUA, ou ainda, descentralizar os altos adensamentos demo-
gráficos como em Tsukuda no Japão, entre outras funções.
Segundo o DIACT (2007, p.1), órgão encarregado de aplicar e
de colocar em marcha as orientações da política nacional de orde-
namento do território na França, os tecnopólos “[...] são um meio
de equilibrar o território de numerosas regiões, entre cidades de
porte internacional, cidades médias e o interior.” Os anos 1980 fo-
ram marcados, na França, pela presença de complexos industriais
portuários, notadamente em Dunkerque e Fos (Tavares, 1994). Se-
gundo informações levantadas pelo autor citado, até o início da
década de 1990, existiam cinqüenta tecnopólos em toda a França,
sendo o principal o de Sophia Antipolis, em Nice, em atividade
desde 1969. Sophia Antipolis foi inspirado no Silicon Valley norte-
americano. Em seu projeto existe a mesma preocupação de “[...]
criação de uma grande infra-estrutura que propiciasse um bom
retorno em relação aos investimentos aplicados”. Nesse caso, po-
rém, em princípio, a iniciativa foi privada e só mais tarde o Estado
assumiu a parceria do empreendimento. Em 1970, nascia o “Par-
que Internacional de Atividades” de Valbonne-Sophia Antipolis.
Até a década de 1990, 14.267 empregos estavam ligados a Sophia
Antipolis, nas áreas de eletrônica-informática, telecomunicações-
telemática, ciência da saúde, química, etc.
Outros exemplos de “tecnopólos”, ou de “novos distritos in-
dustriais”, são as regiões da “Terceira Itália” e do M4 Corridor
(Corredor M4), na Inglaterra, onde aparecem numerosos empre-
endimentos, particularmente em Berkshine, Swindon e no Tha-
mes Valley, descritos como o “Silicon Valley” inglês. O tecnopólo
da denominada “Terceira Itália” se constituiu no norte da Itália,
na Emilia Romagna, Umbria, Toscana e Marche, envolvendo ba-
47Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
sicamente pequenas e médias empresas, pequenos distritos in-
dustriais, e se desenvolveu a partir da produção capitalista ca-
racterizada pelo trabalho artesanal, com tecnologia de ponta, e
mercados e preferências de consumo mundiais diversificados.
Essas regiões, também denominadas de “Cinturão Vermelho”
porque suas administrações têm sido dominadas pela esquerda
italiana desde o período pós-guerra, foram estudadas especial-
mente por Murray (1983, 1987). Ao pesquisar esse tema, Piore e
Sabel (1984) fundamentaram seus argumentos a partir das ex-
periências da “indústria de fundo-de-quintal de alta tecnologia”
(high technology cottage industry) inerente ao que denomina-
ram “Especialização Flexível”. No Brasil, pode-se citar a cidade
paulista de São José dos Campos, localizada no Vale do Paraíba,
como um importante “tecnopólo”, ou “novo distrito industrial”,
de material bélico, metalúrgico e sede do maior complexo aeroes-
pacial da América Latina. Em São José dos Campos, estão insta-
ladas importantes multinacionais, a Petrobrás, a sede da Embra-
er, entre outras, além disso, possui importantes centros de ensino
e pesquisas tais como: CTA, o ICEA, o INPE, o IEAV, o IAE, o
ITA, UNIFESP, FATEC e a UNESP. Trata-se de nosso exemplo mais
“próximo” aos “tecnopólos” já citados.
Conforme se procurou apresentar neste artigo, nossa pesqui-
sa contribuiu para identificar a outra tendência da Reestruturação
Urbana, para além dos estudos sobre os “tecnopólos”. Em nossa
tese (VILLELA, 2007), mostra-se que a expressão das grandes
corporações da indústria da construção civil é a “Fast Construc-
tion”, fenômeno típico da Reestruturação Produtiva que possibi-
lita uma nova e inédita compreensão da Reestruturação Urbana,
com fortes impactos ambientais sobre a organização das cidades
contemporâneas. Tomamos, como exemplo, a construção da linha
“Amarela” do metrô de São Paulo, projeto paradigmático que ex-
pressa o contexto vivenciado a partir dos anos 1990, e que Antu-
nes (2005, p.3) qualifica como “de desertificação social e política
neoliberal”. Sintetizando, como resultado dessa grande mudança
estrutural, o setor entrou na “era da competitividade” através da
introdução nas grandes corporações da ICCSE da Reestruturação
Produtiva e tendo como dimensão central a utilização intensiva
da “Fast Construction”. Tudo indica que a desertificação social e
política tende a continuar!
48 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008
VILLELA. F.F. Housing market and productive reorganization:
new technology and the building of contemporary cities. Pers-
pectivas, São Paulo, v.34, p. 37 - 51, July/Dec. 2008.
ABSTRACT: This article deals with changes that happened at la-
bor field, especially those related to transition from Fordism Ac-
cumulation pattern to Flexible Accumulation, Neo-Fordism, Post-
Fordism, Post-Taylorism, Flexible Specialization, Japanese Model or
Toyotism. It aims at giving light to the complex reality of Produc-
tive Reorganization in a sector that has been little privileged for
the recent sociological perspectives works: the Civil Construction
Industry (ICCSE, in Portuguese) in Brazil.
KEYWORDS : Civil Construction Industry. Productive Reorganiza-
tion. New Technologies.
Referências
ANTUNES, R. (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São
Paulo: Boitempo, 2006.
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  • 1. 37Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: AS NOVAS TECNOLOGIAS E A CONSTRUÇÃO DAS CIDADES CONTEMPORÂNEAS Fábio Fernandes VILLELA1 RESUMO : Este artigo trata das grandes mudanças ocorridas no Mundo do Trabalho, especialmente aquelas relacionadas à transi- ção do Padrão Fordista de Acumulação para o padrão que alguns pesquisadores denominaram de “Acumulação Flexível”, “Neo-For- dismo”, “Pós-Fordismo”, “Pós-Taylorismo”, “Especialização Fle- xível”, Modelo Japonês ou Toyotista. Busca-se esclarecer e tor- nar mais compreensiva a complexa realidade da Reestruturação Produtiva num setor que tem sido pouco privilegiado pelos traba- lhos com perspectiva sociológica contemporâneos: a Indústria da Construção Civil, Sub-setor de Edificações (ICCSE) no Brasil. PALAVRAS-CHAVE : Indústria da Construção Civil. Reestrutura- ção Produtiva. Novas Tecnologias. As últimas décadas do século XX foram marcadas por insti- gantes debates no que diz respeito às grandes mudanças ocorri- das no Mundo do Trabalho. Muitos pesquisadores, nas universi- dades, nos institutos de pesquisa, nos sindicatos, e os próprios trabalhadores passaram a analisar os processos produtivos e as transformações no Mundo do Trabalho, especialmente a transi- ção do Padrão Fordista de Acumulação ao que, durante a década de 1990, convencionou-se chamar de “Pós-Fordismo”, “Fordismo Periférico”, “Pós-Taylorismo”, “Neo-Fordismo”, “Especialização Flexível”, “Mundialização do Capital”, “Modelo Japonês ou Toyo- 1 UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Campinas – SP – Brasil. 13081-970 - fabio_villela@hotmail.com
  • 2. 38 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 tista”, etc. Esses estudos passaram a se preocupar com o proces- so de mudanças organizacionais e com as novas determinações do processo de acumulação de capital, no âmbito da sociedade contemporânea. Dentro dessa perspectiva, um vasto universo de autores estabeleceu um conjunto de marcos teóricos que defini- ram as bases para o estudo do que se convencionou chamar de “Reestruturação Produtiva”2 . A partir desse campo de pesquisas, recolocamos (VILLELA, 2007) algumas questões acerca da “Rees- truturação Produtiva” na Indústria da Construção Civil, Subsetor de Edificações (ICCSE), no Brasil, com suas Novas Tecnologias e seus Modos de Socialização. O objetivo de nossa pesquisa foi descobrir os elementos que compõem a Reestruturação Produtiva, especialmente, aqueles que foram colocados em prática na ICCSE, para responder à per- gunta: quais são as perspectivas que se abrem para os traba- lhadores e para o sindicalismo frente a esses novos Modos de Socialização pelo trabalho? Para isso situamos o debate, a partir de uma caracterização da “Reestruturação Produtiva” implanta- da nas indústrias, e a partir daí, apresentamos o que vem a ser o “modelo” introduzido na ICCSE. Portanto, a partir de algumas abordagens teóricas recentes e de uma pesquisa empírica rea- lizada no âmbito de uma grande empresa da ICCSE, buscou-se descrever os principais “Modos de Socialização” da Reestrutura- ção Produtiva ligados ao ICCSE. Reestruturação produtiva e modos de socialização pelo trabalho Contemporaneamente, há uma contraposição entre duas perspectivas que se articulam em torno da análise sobre a cen- tralidade da teoria do valor-trabalho de Marx, as quais têm des- dobramento com relação aos Modos de Socialização. A primeira defende que a “ontologia do ser social” constitui-se em torno do trabalho e é, portanto, o principal Modo de Socialização dos su- jeitos, tornando-se indispensável para o pleno desenvolvimento do ser humano. Essa tese é defendida por Antunes (1995, 1999, 2006), entre outros. 2 Veja-se como exemplo deste tipo de abordagem os resultados da pesquisa coletiva intitulada “Para onde vai o mundo do trabalho? As formas diferenciadas da Reestruturação Produtiva no Brasil” (ANTUNES, 2006).
  • 3. 39Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 O outro ponto de vista, defendido especialmente por Gorz (2003, 2004, 2005, 1982), a partir de 1980, em seu livro Adeus ao Proletariado, anunciava o esgotamento do potencial revolucio- nário do operariado, salientando que novas dinâmicas estavam sendo postas em circulação por uma espécie de “não-classe de neoproletários”, onde o trabalho não era mais o fundamento dos Modos de Socialização. Segundo esta perspectiva, o trabalho não ocupa mais um lugar central nas sociedades industrializadas en- quanto valor e peça central dos processos de socialização. Esta posição é defendida, do ponto de vista histórico e filosófico, por autores tais como, Arendt (2001), Méda (1999) e novamente Gorz (2003, 2004, 2005), entre outros. Numa posição parecida, uma série de autores vem desenvolvendo uma crítica à validade da aplicação da teoria do valor-trabalho de Marx, a partir do terre- no preparado por Habermas (1975). De nossa parte, sustentamos uma perspectiva diametralmente oposta a esse segundo ponto de vista (VILLELA, 2007). Recolocando a questão da Reestruturação Produtiva, cabe perguntar-se: quais as implicações das Novas Tecnologias e seus Modos de Socialização sob o ponto de vista do “trabalho estra- nhado”? Quais as conseqüências para os trabalhadores dessas mudanças? Quais os elementos que compõem tal modelo? Se alguns elementos dos Modos de Socialização da Reestruturação Produtiva estão sendo colocados em prática, nas empresas bra- sileiras, o que vem a ser realmente esse “Modo de Socialização” contemporâneo? Diante desse quadro, procuraremos apresentar alguns resultados de pesquisa acerca do que vem a ser a Reestru- turação Produtiva na ICCSE. Para isso, começamos traçando um esboço sobre o tema tomando como ponto de partida a caracte- rização dos Modos de Socialização da Reestruturação Produtiva feita por Lhuiller. Segundo essa autora: Para impor esta ideologia e este tipo de relação social, as direções das empresas lançaram-se a uma verdadeira batalha de identidade, com objetivo de racionalizar e formatar a subjetividade dos assa- lariados, erradicando qualquer veleidade de independência. Nos anos 80 e 90 surgiu um impressionante dispositivo participativo: círculos de qualidade, múltiplos grupos ad hoc, grupos de expres- são, ações pela qualidade e seminários em torno da definição de identidade da empresa, de sua cultura e de suas missões. Um dos objetivos era instaurar intercâmbios entre a hierarquia e grupos de assalariados, para que estes últimos interiorizassem as ‘pressões’
  • 4. 40 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 da empresa e seus interesses. Isto é acompanhado de um recurso sistemático à comunicação empresarial - com inserção na imprensa - e às formações sob medida, para gravar nos espíritos os ‘valores da empresa’ e impor o consentimento. Sem esquecer as sanções: demissões individuais precedidas de pressão e ‘colocação no qua- dro’ para dar o exemplo, causar medo e provocar enquadramento. (LHUILLER, 2003, p.25). Nesse sentido, os Modos de Socialização podem ser enten- didos como a preparação dos indivíduos em uma empresa para o uso dos meios técnicos disponíveis na sociedade, como por exemplo, as novas tecnologias, os programas de computadores, os programas de gestão da empresa, a qualificação profissional, etc. O que diferencia um modo de socialização de outro em dife- rentes momentos históricos são as finalidades, as formas e as ins- tituições sociais envolvidas nessa preparação, que a sociologia chama “processo de socialização”. Neste início do século XXI, observamos novos Modos de So- cialização e mediações inéditas, decorrentes de artefatos técni- cos extremamente sofisticados, como por exemplo, o processo de automação microeletrônica e o advento das inovações tecnoló- gicas e organizacionais, que subvertem radicalmente as formas e as instituições de socialização estabelecidas: os trabalhadores têm que “aprender a aprender”, lidando com máquinas “inteli- gentes” e “interativas”, com conteúdos, formas e normas que al- gumas instituições escolares não privilegiam. Como exemplo geral de Modo de Socialização, podemos citar o caso da IBM que se estrutura a partir da liderança dos executi- vos pertencentes à alta direção (VASCONCELOS, 1993). Os valo- res e significados que compõem a “Nova IBM” são difundidos, em um processo de “sense making”, ou de difusão de significados a serem compartilhados por toda a empresa e que deverão nortear os rumos, possibilitando a coordenação de atividades conjuntas. Essa socialização é feita na IBM Brasil através de cursos e trei- namentos especiais, nos quais os empregados são sensibilizados para os valores que compõem o “Market Driven Quality” e onde aprendem técnicas de melhoria contínua de processos a partir da constituição de grupos para análise de seu trabalho, objetivando a diminuição das causas da não-qualidade. Nesses cursos e no desenvolvimento dessa análise, processa-se a internalização da “cultura de qualidade”. Através de publicações internas, da cria- ção de prêmios e símbolos de qualidade, das comunicações ver-
  • 5. 41Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 bais e não verbais dos principais executivos, verifica-se o esforço concentrado para a difusão dessa cultura. Seguindo esta lógica de raciocínio, Linhart (2006, p.4) mostra que essa socialização pelo trabalho torna-se uma “[...] socializa- ção à submissão, ao conformismo e a renúncia a qualquer pensa- mento pessoal”. Para a autora, as possibilidades de experiência coletiva através da ação e os projetos comuns alternativos dimi- nuem; só restam os termos crus do contrato de trabalho (que são contratos jurídicos de subordinação, onde o tempo do assalariado pertence ao empregador, que “o comprou e pode usá-lo da manei- ra mais rentável segundo seu ponto de vista”). A experiência da socialização pelo trabalho torna-se a aceitação e a disposição do tempo e de si em proveito de uma lógica do capital que assumi- mos sem reflexão, isto é, de forma estranhada3 . Segundo Linhart (2006, p.4): Lugar insubstituível de socialização e de experiência da coopera- ção entre indivíduos, o trabalho tende a se tornar um espaço de enfrentamentos e desconfiança. O assalariado virtuoso do gerencia- mento moderno – aquele que busca a excelência através do uso de si mesmo, da forma mais rentável do ponto de vista da empresa, e em prejuízo de seus colegas, de seus clientes e da sua vida privada – está longe de ser um cidadão virtuoso. Reestruturação produtiva e indústria da construção civil Diante desse quadro, em nossa tese de doutorado, procurou- se demonstrar que a ICCSE carregava o estigma de ser um dos setores mais atrasados da economia, principalmente no que se referia à construção de edifícios. Não obstante tal avaliação, nota- se que, durante a década de 1990, diversas empresas do ramo ini- ciaram mudanças, visando atender as necessidades dos clientes e/ou despertando para as novas necessidades da Reestruturação Produtiva. Alguns exemplos dessas mudanças na estrutura da ICCSE podem ser observados: 1) Produção Enxuta (“Lean Produc- tion”) – Construção Enxuta (“Lean Construction”); 2) Programas de Qualidade Total; 3) Racionalização dos Processos de Trabalho em Escritório; 4) Logística e Racionalização do Canteiro de Obras; 5) Horizontalização das Empresas; 6) Organizações em Constante 3 Seguindo as considerações feitas por Antunes (1999).
  • 6. 42 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 Aprendizagem (“Learning Organizations”); 7) Gestão Participa- tiva; 8) Políticas de Engajamento e Fixação dos Trabalhadores à Empresa; 9) Terceirizações (“Outsourcing”); e 10) Novas Estraté- gias Organizacionais (VILLELA, 2007). Essa série de Novas Tecnologias e Modos de Socialização, advindos no bojo da Reestruturação Produtiva e utilizados com maior ou menor intensidade na ICSSE, vem sendo denominada genericamente pelas empresas brasileiras de “Fast Construction” – “Construção Rápida”. Para as grandes corporações da ICCSE que utilizam a “Fast Construction”, algumas palavras-chaves ca- racterizam este processo de trabalho: “industrialização”, “maior visibilidade”, “racionalização produtiva”, “flexibilidade”, “traba- lho sob pressão”, “customização” (“feito sob medida”), “robustez e estanqueidade”, etc. Todo esse processo com vistas a entregar as obras no menor prazo possível, ao melhor preço e da forma mais “customizada” para os clientes, é um “chavão que abre por- ta grande”4 . Quando se utiliza a expressão “Fast” Construction, logo se pensa em indústria da alimentação do tipo “Fast” Food. O paralelo é plausível, trata-se de um processo de “macdonaldiza- ção” da construção5 . Nesta “construção rápida” os recordes são impressionantes: obras com menos de 40 dias, seleção de tecno- logia construtiva que mescla componentes avançados e tradicio- nais, tais como, “Steel Deck”, “Tilt-up”, “Built to Suit”, gestão de projetos do tipo “Fast Track”, “Turn-Key”, etc. Muitos componentes da tecnologia da construção são premis- sas da Fast Construction, considerada como modalidade de negó- cios e conceito construtivo pelos especialistas. Alguns exemplos que “agilizam” a Fast Construction são: 1) o “Steel Deck”, laje composta por aço galvanizado e que serve de forma para uma ca- mada de concreto; 2) o Tilt-Up, que são paredes de concreto mol- dadas na horizontal, perto do local em que serão utilizadas e que 4 “Customização” é uma “tendência mundial” não só na construção civil. Somente a título de curiosidade, hoje nos meios “cult” está cada vez mais em “moda” esse termo que expressa a “paixão”, cada vez mais forte, por objetos únicos, exclusivos, com um toque pessoal. Customizar significa deixar determinado objeto com uma “cara nova e pessoal”. Em larga medida, esse “movimento” se explica pela nova postura dos consumidores, ávidos por produtos que possam traduzir seu “estilo” e “modo de encarar o mundo”, numa tentativa de “personalização” e de afirmação de “identidade”. Trata-se de uma tendência contrária à sociedade de massas, surgida no bojo do Taylor-Fordismo. 5 A expressão “macdonaldização” foi cunhada pelo sociólogo americano George Ritzer como um desenvolvimento da teoria sociológica clássica de Weber (1864-1920) sobre a racionalização da sociedade e da cultura moderna. Weber utiliza a famosa expressão “gaiola de ferro” para descrever o estranhamento provocado pela vida burocratizada, Ritzer argumenta que o restaurante “McDonald’s” tornou-se a mais exemplar forma de razão instrumental na sociedade contemporânea com suas conseqüências nefastas para a vida das pessoas.
  • 7. 43Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 após a cura, são içadas e colocadas na fundação; 3) o Turn-key (“vire a chave”, “chave na mão”, “preço fechado”, “custo global”, “porteira fechada”), que é um contrato que atribui à construtora a responsabilidade integral pela obra, desde o projeto, o forneci- mento de materiais e equipamentos, a execução e até, em alguns casos, a operação e manutenção do empreendimento. É possível destacar também outras metodologias de traba- lho da “Fast Construction”, tais como, considerar cada empreen- dimento como “único”, com montagem de processos e fluxos de trabalho de forma conjunta para cada tipo de empreendimento. Para atingir tais objetivos, utiliza-se um software denominado BIM (Building Information Modeling), Smartphones e PDAs (Per- sonal Digital Assistant) dentro dos canteiros de obra para comu- nicação instantânea com os escritórios. Sobre a temática da ges- tão de custos, suprimentos e logísticas em obras rápidas, cabe citar a utilização de softwares de gestão que permitem a integra- ção da área técnica da construção civil com a área administrativa e financeira, permitindo controle de informações, como prazos e situação da obra, bem como a utilização de imagens tridimensio- nais para o acompanhamento da obra. Com relação à “tecnolo- gia da construção”, temos como exemplo, a utilização do “Steel Frame” em construções residenciais, que são estruturas de aço galvanizado com peças unidas por parafusos e pinos especiais que agem funcionalmente como vigas e pilares, etc. O regime de “Turn-Key” foi o conceito-chave do noticiário so- bre a maior tragédia da história do Metrô, ocorrida em janeiro de 2007, na construção da linha 4 do Metrô de São Paulo. Sob esse regime foi feito o contrato para construção da linha 4 do Metrô de São Paulo pelo Consórcio Via Amarela. O Consórcio fez uma detonação na obra dessa linha em Pinheiros, na manhã de sexta- feira, mesmo após ser constatado um rebaixamento do terreno na véspera. Algumas horas mais tarde ocorreram desabamentos que, além de deixar 230 desabrigados, vitimaram sete pessoas que passavam no local: uma aposentada, um bacharel em direito, dois motoristas, um cobrador, um funcionário público e um office- boy. A despeito da dimensão trágica do episódio, o coordenador da carteira de projetos para o Brasil do Banco Mundial, Alexandre Abranches, defendeu o modelo “Turn-Key” utilizado na licitação das obras da linha Amarela do Metrô de São Paulo, vencido pelas empreiteiras que compunham o consórcio Via Amarela (BACOC- CINA, 2007).
  • 8. 44 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 O diretor técnico da ABCIC (Associação Brasileira da Cons- trução Industrializada de Concreto), Paulo Eduardo Fonseca de Campos, considera que para os empreendedores hoteleiros, as empresas que precisam de centros de distribuição, as indústrias, os hipermercados, os edifícios de escritório, e o próprio Estado, qualquer obra feita fora do prazo é sinônimo de “prejuízo”. Nes- ses casos, mais do que nunca, “tempo é dinheiro”. Campos chega a afirmar que, “[...] para esse tipo de investidor, o tempo de obra é contabilizado como prejuízo. Por isso, interessa a eles tudo que possa significar uma diminuição efetiva nos prazos de constru- ção.” Ainda segundo informações de Campos, do ponto de vista macroeconômico, o que impulsionou o uso intensivo dos sistemas industrializados no Brasil foi a internacionalização da economia (MEDEIROS, 2003, p.40). Nos últimos anos, com a chegada de empreendedores estrangeiros, habituados à utilização dos pré- fabricados e das obras rápidas, a demanda cresceu expressiva- mente. Isso ocorreu notadamente nos ramos hoteleiro, de shop- pings centers e de hipermercados. Sintetizando, o que o diretor técnico da ABCIC revela com suas colocações é a mudança do antigo modelo de produção da ICCSE para o da Reestruturação Produtiva (MEDEIROS, 2003, p.40). Ou seja, cada vez mais, as grandes “corporações” da ICCSE desempenham papel fundamental na organização do espaço con- temporâneo. Por detrás da lógica das grandes “corporações” da ICCSE, está a construção das cidades contemporâneas. Segundo Corrêa (1997), essas corporações são consumidoras de uma gama variada de matérias-primas, e interferem no processo produtivo das cidades, das áreas agro-pastoris, das mineradoras, etc. Con- sumidoras e produtoras de uma gama também variada de produ- tos intermediários e finais, as corporações estabelecem ligações internas entre si e com outras empresas dos setores industrial, comercial e de serviços. Segundo o autor, ao empregarem um nú- mero elevado de pessoas, interferem no mercado de trabalho e na esfera do consumo pessoal, gerando o aparecimento de novas ati- vidades e novos empregos. Os impactos resultantes da ação das grandes corporações sobre a organização e as formas espaciais preexistentes são múltiplos, afetando também às dimensões eco- nômica, social, política e cultural. A relação entre a Reestruturação Produtiva e seu desdobra- mento espacial, a “Reestruturação Urbana”, ficou mais eviden- te aos olhos dos pesquisadores durante a década de 1990. Com
  • 9. 45Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 o advento da Reestruturação Produtiva, o espaço urbano sofreu grandes mudanças; surgiram, por exemplo, os complexos de alta tecnologia denominados “tecnopólos” ou “novos distritos indus- triais”. Os estudos sobre a Reestruturação Urbana ficaram mar- cados por essa temática. Tais “estruturas econômicas regionais”, segundo Valladares e Preteceille (1990, p.12), são caracterizadas por intensas interações que vêm ocorrendo entre redes de empre- sas, produção e pesquisa, indústria e universidade, localização e acesso aos meios de comunicação física ou de informação, tendo ainda um impacto quanto às altas qualificações e qualidade dos espaços de trabalho e dos modos de vida. Segundo os autores, constata-se que, frente à segmentação e relocalização do proces- so industrial fordista, verificou-se uma re-habilitação econômica das cidades enquanto locus de interações complexas. Os auto- res ressaltam que tal revalorização se limita a certos espaços, a certas atividades e a certas categorias sociais, e que outros pro- cessos de transformação estão em curso nas cidades: reforço da centralidade, crescente fracionamento sócio-espacial e segrega- ção urbana, elitização de bairros (gentrification) e expansão da pobreza urbana, aumento da violência e da delinqüência, aumen- to das atividades informais e expansão do trabalho desqualifica- do, esgotamento de regiões inteiras e crescimento de outras, por exemplo, através dos condomínios fechados, das “edge-city”, dos loteamentos “irregulares”, etc. Temos como exemplo típico-ideal dos “tecnopólos” ou “no- vos distritos industriais” o Silicon Valley, na Califórnia. Conforme aponta Lima (1994), as primeiras experiências nasceram fora do planejamento específico do Estado ou das corporações, respon- dendo a necessidades militares dos Estados Unidos. Dessa for- ma, foram criados centros de pesquisa na Califórnia, respalda- dos por elevadas verbas do departamento de Estado, oferecendo condições para a implementação de empresas de alta tecnologia na área da microeletrônica. Hoje milhares de companhias de alta tecnologia possuem escritórios dentro ou próximos ao Silicon Val- ley. Segundo o levantamento da revista Fortune 1000, com a lista das 1000 maiores companhias americanas, estão presentes nessa região as seguintes empresas: Oracle, Adobe Systems, Advanced Micro Devices (AMD), Apple Inc., Ebay, Google, Hewlett Packard, Intel, Intuit, Seagate Technology, Yahoo, etc. A formação de complexos de alta tecnologia – os “tecnopólos” – fez parte de uma tendência mundial no bojo da Reestruturação
  • 10. 46 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 Produtiva. Um exemplo que deve ser destacado é a associação entre universidades e centros de pesquisa, sob o comando de em- presários e pesquisadores. Segundo Lima (1994, p.288), o capital sempre se redireciona para onde haja maiores possibilidades de lucro seguro. As condições “[...] demonstram que os tecnopólos têm esse ingrediente exigido pelo capital, tornando-os lugares atrativos internacionalmente.” O tecnopólo, conforme explica Ta- vares (1994, p.139), é um “[...] sítio de acolhimento de complexos industriais que se fundam na associação de conhecimento cien- tífico e tecnológico.” Por outro lado, os tecnopólos podem possuir outras funções, como, por exemplo, promover a reindustrialização de áreas decadentes, como a de Torino na Itália ou a de Boston nos EUA, ou ainda, descentralizar os altos adensamentos demo- gráficos como em Tsukuda no Japão, entre outras funções. Segundo o DIACT (2007, p.1), órgão encarregado de aplicar e de colocar em marcha as orientações da política nacional de orde- namento do território na França, os tecnopólos “[...] são um meio de equilibrar o território de numerosas regiões, entre cidades de porte internacional, cidades médias e o interior.” Os anos 1980 fo- ram marcados, na França, pela presença de complexos industriais portuários, notadamente em Dunkerque e Fos (Tavares, 1994). Se- gundo informações levantadas pelo autor citado, até o início da década de 1990, existiam cinqüenta tecnopólos em toda a França, sendo o principal o de Sophia Antipolis, em Nice, em atividade desde 1969. Sophia Antipolis foi inspirado no Silicon Valley norte- americano. Em seu projeto existe a mesma preocupação de “[...] criação de uma grande infra-estrutura que propiciasse um bom retorno em relação aos investimentos aplicados”. Nesse caso, po- rém, em princípio, a iniciativa foi privada e só mais tarde o Estado assumiu a parceria do empreendimento. Em 1970, nascia o “Par- que Internacional de Atividades” de Valbonne-Sophia Antipolis. Até a década de 1990, 14.267 empregos estavam ligados a Sophia Antipolis, nas áreas de eletrônica-informática, telecomunicações- telemática, ciência da saúde, química, etc. Outros exemplos de “tecnopólos”, ou de “novos distritos in- dustriais”, são as regiões da “Terceira Itália” e do M4 Corridor (Corredor M4), na Inglaterra, onde aparecem numerosos empre- endimentos, particularmente em Berkshine, Swindon e no Tha- mes Valley, descritos como o “Silicon Valley” inglês. O tecnopólo da denominada “Terceira Itália” se constituiu no norte da Itália, na Emilia Romagna, Umbria, Toscana e Marche, envolvendo ba-
  • 11. 47Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 sicamente pequenas e médias empresas, pequenos distritos in- dustriais, e se desenvolveu a partir da produção capitalista ca- racterizada pelo trabalho artesanal, com tecnologia de ponta, e mercados e preferências de consumo mundiais diversificados. Essas regiões, também denominadas de “Cinturão Vermelho” porque suas administrações têm sido dominadas pela esquerda italiana desde o período pós-guerra, foram estudadas especial- mente por Murray (1983, 1987). Ao pesquisar esse tema, Piore e Sabel (1984) fundamentaram seus argumentos a partir das ex- periências da “indústria de fundo-de-quintal de alta tecnologia” (high technology cottage industry) inerente ao que denomina- ram “Especialização Flexível”. No Brasil, pode-se citar a cidade paulista de São José dos Campos, localizada no Vale do Paraíba, como um importante “tecnopólo”, ou “novo distrito industrial”, de material bélico, metalúrgico e sede do maior complexo aeroes- pacial da América Latina. Em São José dos Campos, estão insta- ladas importantes multinacionais, a Petrobrás, a sede da Embra- er, entre outras, além disso, possui importantes centros de ensino e pesquisas tais como: CTA, o ICEA, o INPE, o IEAV, o IAE, o ITA, UNIFESP, FATEC e a UNESP. Trata-se de nosso exemplo mais “próximo” aos “tecnopólos” já citados. Conforme se procurou apresentar neste artigo, nossa pesqui- sa contribuiu para identificar a outra tendência da Reestruturação Urbana, para além dos estudos sobre os “tecnopólos”. Em nossa tese (VILLELA, 2007), mostra-se que a expressão das grandes corporações da indústria da construção civil é a “Fast Construc- tion”, fenômeno típico da Reestruturação Produtiva que possibi- lita uma nova e inédita compreensão da Reestruturação Urbana, com fortes impactos ambientais sobre a organização das cidades contemporâneas. Tomamos, como exemplo, a construção da linha “Amarela” do metrô de São Paulo, projeto paradigmático que ex- pressa o contexto vivenciado a partir dos anos 1990, e que Antu- nes (2005, p.3) qualifica como “de desertificação social e política neoliberal”. Sintetizando, como resultado dessa grande mudança estrutural, o setor entrou na “era da competitividade” através da introdução nas grandes corporações da ICCSE da Reestruturação Produtiva e tendo como dimensão central a utilização intensiva da “Fast Construction”. Tudo indica que a desertificação social e política tende a continuar!
  • 12. 48 Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 VILLELA. F.F. Housing market and productive reorganization: new technology and the building of contemporary cities. Pers- pectivas, São Paulo, v.34, p. 37 - 51, July/Dec. 2008. ABSTRACT: This article deals with changes that happened at la- bor field, especially those related to transition from Fordism Ac- cumulation pattern to Flexible Accumulation, Neo-Fordism, Post- Fordism, Post-Taylorism, Flexible Specialization, Japanese Model or Toyotism. It aims at giving light to the complex reality of Produc- tive Reorganization in a sector that has been little privileged for the recent sociological perspectives works: the Civil Construction Industry (ICCSE, in Portuguese) in Brazil. KEYWORDS : Civil Construction Industry. Productive Reorganiza- tion. New Technologies. Referências ANTUNES, R. (Org.). Riqueza e miséria do trabalho no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2006. _____. A desertificação neoliberal no Brasil: Collor, FHC e Lula. 2ª ed. Campinas: Autores Associados, 2005. _____. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a nega- ção do trabalho. São Paulo: Boitempo, 1999. (Mundo do trabalho). _____. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. Campinas: Ed.da UNICAMP, 1995. ARENDT, H. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. BACOCCINA, D. Banco Mundial defende modelo de licitação de obra do metrô. Folha de S. Paulo, São Paulo, 19 jan., 2007. Disponí- vel em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u60170. shtml>. Acesso em 26 jan. 2007. BETTELHEIM, C. Cálculo económico y formas de propiedad. Mé- xico: Siglo XXI, 1982.
  • 13. 49Perspectivas, São Paulo, v. 34, p. 37 - 51, jul./dez. 2008 CORRÊA, R. L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. DÉLÉGATION INTERMINISTÉRIELLE À L’AMÉNAGEMENT ET À LA COMPÉTITIVITÉ DES TERRITOIRES [DIACT]. Les pôles de compétitivité en France. DIACT Online, [S.l.], 2007. Disponível em: <http://www.competitivite.gouv.fr/spip.php?rubrique39>. Acesso em: 15 jan. 2007. GORZ, A. O imaterial: conhecimento, valor e capital. Tradução de Celso Azzan Júnior. São Paulo: Annablume, 2005. _____. Misérias do presente, riqueza do possível. Tradução de Ana Montoia. São Paulo: Annablume, 2004. _____. Metamorfoses do trabalho: busca do sentido: crítica do ra- zão econômica. Tradução de Ana Montoia. São Paulo: Annablume, 2003. _____. Adeus ao proletariado: para além do socialismo. Tradução de Ângela Ramalho Vianna e Sérgio Góes de Paula. Rio de Janei- ro: Forense Universitária, 1982. HABERMAS, J. Técnica e ciência enquanto ideologia. In: BENJA- MIN, W. et al. Textos escolhidos. Seleção de Zeljko Loparic e Otilia B. Fiori Arantes. São Paulo: Abril Cultural, 1975. p. 303-333. (Cole- ção Pensadores, 48). KORSCH, K. ¿Que es la socialización? un programa de socialismo práctico. Córdoba: Pasado y Presente, 1973. (Cuadernos de Pasa- do e Presente, 45). LIMA, L. C. Tecnopólo: a formação de uma nova territorialidade. In: SANTOS, M. et al. O novo mapa do mundo: fim de século e glo- balização. 2ª ed. São Paulo: Hucitec, 1994. p. 285-289. (Geografia: teoria e realidade, 20). LINHART, D. A caminho da desumanização. Le Monde Diplomati- que Brasil Online, São Paulo, mar. 2006. Disponível em: <http://di- plo.uol.com.br/2006-03,a1265.> Acesso em: 26 maio 2007. _____. La modernisation des entreprises. Paris: La Découverte, 1994. (Collection Repères, 152). LHUILLER, D. Les placardisés. Paris: Le Seuil, 2003.
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