Este documento resume o enredo e personagens principais do romance Memorial do Convento de José Saramago. A história se passa em Portugal no século 18 e descreve a construção do Convento de Mafra, focando nos personagens populares Blimunda, Baltasar e o padre Bartolomeu Lourenço, que tenta construir uma máquina voadora. O documento também discute o tempo, espaço e estilo narrativo do romance, caracterizado por uma linguagem próxima da oralidade.
5. José Saramago nasceu na vila de Azinhaga, no conselho da Golegã, de uma família de pais e avós agricultores. A sua vida é passada em grande parte em Lisboa, para onde a família se muda em 1924 – era um menino de apenas dois anos de idade. Dificuldades econômicas impedem-no de entrar na universidade. Demonstra desde cedo interesse pelos estudos e pela cultura, sendo que esta curiosidade perante o Mundo o acompanhou até à morte. Formou-se numa escola técnica.
6. O seu primeiro emprego foi de serralheiro mecânico. Fascinado pelos livros, visitava, à noite, com grande freqüência, a Biblioteca Municipal Central — Palácio Galveias. Aos 25 anos, publica o primeiro romance Terra do Pecado (1947), no mesmo ano de nascimento da sua filha, Violente, fruto do primeiro casamento com Ilda Reis – com quem se casou em 1944 e com quem permaneceu até 1970.
7. Da experiência vivida nos jornais, restaram quatro crônicas: Deste Mundo e do Outro, 1971. A Bagagem do viajante, 1973. As Opiniões que o DL Teve, 1974 e Os Apontamentos, 1976. Mas não são as crônicas, nem os contos, nem o teatro os responsáveis por fazer de Saramago um dos autores portugueses de maior destaque - esta missão está reservada aos seus romances, gênero a que retorna em 1977.
9. Apesar de ter sido trazida da Áustria já há dois anos, especialmente para gerar o sucessor ao trono de D. João V, rei de Portugal, a rainha D. Maria Ana Josefa parece não conseguir engravidar. Sendo o rei um símbolo de virilidade, mas é ela considerada infértil e, conseqüentemente, a única culpada pelo fato de o rei ainda não ter tido herdeiros. Quando, ao cair da noite, o rei se prepara para ir ao quarto da rainha para mais uma tentativa, chega ao palácio D. Nuno da Cunha, bispo inquisidor, acompanhado de um velho frade franciscano, Antônio de S. José, que propõe uma solução para o problema do rei. Diz o frade que a rainha engravidaria assim que o rei prometesse construir um convento para os frades da ordem dos franciscanos na vila de Mafra. Feita a promessa, o casal real vai para o quarto. Depois de consumado o ato sexual, rei e rainha dormem e sonham cada um com seus próprios desejos, suas diferentes fantasias: ela sonha que tem um encontro amoroso com seu cunhado, o Infante.
10. Passado o "entrudo" , como de costume, durante a quaresma as ruas se encheram de gente que fazia cada um suas penitências. Segundo a tradição, a quaresma era a única época em que as mulheres podiam percorrer as igrejas sozinhas e assim gozar de uma rara liberdade que lhes permitia até mesmo de se encontrarem com seus amantes secretos. Porém, D. Maria Ana não podia gozar dessas liberdades pois, além de ser rainha, agora se encontrava grávida. Assim, tendo ido para a cama cedo, consolou se em sonhar outra vez com D.Francisco, seu cunhado. Passada a quaresma, todas as mulheres retornaram para a reclusão de suas casas.
11. Não somente por causa da gravidez de cinco meses, mas também por estar de luto pela morte de seu irmão, a rainha Maria Ana deixa de freqüentar o grande autodefé na praça do Rossio em Lisboa, evento muito popular, que já há dois anos não ocorria. Ali seriam castigados pela Inquisição diversos casos de heresia. Entre os condenados pelo Santo Ofício, um é focalizado com maior destaque. É Sebastiana Maria de Jesus, acusada de ser feiticeira e cristã nova . Sebastiana, durante alguns parágrafos, torna se a narradora da história. Sebastiana Maria de Jesus tem uma filha de 19 anos: Blimunda, jovem de poderes sobrenaturais, que assiste à procissão ao lado do padre Bartolomeu Lourenço. Perto dela está um homem, Baltasar Mateus, o Sete Sóis, a quem ela se dirige e cujo nome procura saber.
12. Depois de o padre sair, Blimunda convida Baltasar para que fique morando em sua casa, pelo menos até que ele tivesse que voltar a Mafra . No dia seguinte, ao acordar, Blimunda, sem abrir os olhos, come um pedaço de pão e promete a Baltasar que nunca o olharia "por dentro". Começa aqui a fiel e duradoura amizade entre os três personagens que se contrapõem aos personagens da família real, heróis da historiografia oficial. Inicia se também a relação amorosa entre Baltasar e Blimunda, que ocupará o centro da narrativa. Ao encontrar se com o padre Bartolomeu Lourenço, que estava procurando usar sua influência no palácio para conseguir dinheiro. Baltasar fica sabendo que o padre era conhecido.
13. como "o Voador", por ter criado uma máquina a qual todos ridicularizam, chamando de "a passarola". Baltasar aceita o convite do padre para ser seu ajudante no projeto de construir a tal "máquina de voar", mas enquanto não chega o dinheiro para o material necessário, fica trabalhando em um açougue. Enquanto isso, no palácio, para decepção do rei, a rainha dá à luz uma menina, Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara, que é batizada por sete bispos. Apesar de o frade Antônio de S. José já ter morrido quando do nascimento da criança, a promessa do rei de construir o convento seria mantida.
14. Enquanto no palácio nascia D. Pedro, segundo filho da família real, e o rei viajava a Mafra para escolher o lugar onde seria erguido o convento monumental, Baltasar e Blimunda mudam se para a abigodaria na quinta do duque de Aveiro, amigo do rei, em S. Sebastião da Pedreira. Além de proporcionar lhe o lugar de trabalho, o rei, que se interessara pelo projeto do padre como uma criança se interessa por um brinquedo novo, com sua amizade e influência protegia o padre das garras da Inquisição que, caso viesse a saber dos projetos do padre, teria motivos suficientes para acasalo de heresia. Na quinta do duque de Aveiro, Padre Bartolomeu, com a ajuda de Baltasar e Blimunda, prossegue na construção da passarola. Decide, então, partir à Holanda, onde dizem que os sábios conhecem os mistérios da alquimia e a natureza do éter ,
15. o único elemento que, segundo ele, estava faltando para que sua invenção fosse concluída. Baltasar e Blimunda, depois que o padre parte, decidem mudarse para Mafra , terra natal de Baltasar. Antes de partir, o casal decide assistir, ao invés de mais um autodefé que seria realizado na praça do Rossio, a uma outra festa popular, a tourada. Assim como os autos-efé , as touradas sempre terminavam com um forte cheiro de carne queimada, proveniente do churrasco realizado no final da festa. Ao chegar à casa da família em Mafra , acompanhado de Blimunda, Baltasar é recebido por sua mãe, Marta Maria, já que João Francisco, seu pai, estava trabalhando no campo. Baltasar fica sabendo que sua única irmã, Inês Antônia, estava casada com Álvaro "Pedreiro" Diogo
17. 1. Personagens Históricos D. João QuintoD. Ana Maria Josefa, princesa austríaca que se tornou rainha de Portugal, casada com D. João V. A história a descreve como beata, submissa e medrosa. Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, brasileiro, nascido em 1685, apelidado de "O Voador" por ter inventado a passarola (aeróstato); morto em 1724, dado como louco pela Inquisição. Giuseppe Domenico Scarlatti (Nápoles, 26 de outubro de 1685 — Madrid, 23 de julho de 1757) foi um compositor italiano
18. “Filho do também músico e compositor Alessandro Scarlatti, suas maiores contribuições para a música foram suas sonatas para teclado em um único movimento, em que empreendeu abordagens harmônicas bastante inovadoras, apesar de ter composto também obras para orquestra e voz. Embora tenha vivido no período que corresponde ao auge da música barroca européia, suas composições, mais leves e homofônicas, têm estilo mais próximo daquele do início do período clássico.”
19. 2. Personagens de ficção Blimunda de Jesus (Blimunda Sete-Luas) - é uma criatura diferente: enxerga as pessoas "por dentro" se estiver em jejum.Tem 19 anos, é forte, decidida, ama Baltazar assim que o vê, sabia que ele seria seu amor para sempre:
20. "Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador umedecidos nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de Baltazar, sobre o coração. Estavam ambos nus."Baltazar Mateus (Baltazar Sete-Sóis) - fora soldado e, na guerra, perdera a mão esquerda: Tem 26 anos, é forte e destemido. Também sabe que terá Blimunda para sempre.
21. Outras personagens "- João Elvas, Manuel Milho, José pequeno, Álvaro Diogo e Inês Antônia (cunhado e irmã de Baltazar), Marta Maria (mãe de Baltazar) e João Francisco (pai de Baltazar).
27. O tempo O tempo narrativo é do tipo cronológico e está inserido entre duas datas: "dezessete de novembro deste ano da graça de 1717" e , como indica o último capítulo, a data da morte do escritor e comediógrafo brasileiro Antônio José da Silva, o Judeu, autor das Guerra de Alecrim e Manjerona, em 1739.
28. .Ou seja, a história que vamos analisar tem duração temporal de 22 anosO volume percorre um período de aproximadamente 30 anos na História de Portugal à época da Inquisição. O cenário é rico, registrando não só o fato histórico, mas reconstituindo a vivência popular, numa viagem a diferentes povoados ao redor de Lisboa.
30. O foco narrativo do romance é do tipo cambiante/deslizante, isto é, mistura das falas;também chamado múltiplo, com predominância em 3 a . pessoa. A voz do narrador faz comentários satíricos com freqüência e entra em contradição com os dados históricos oferecidos anteriormente.
31. "Já se deitaram. Esta é a cama que veio da Holanda quando a rainha veio da Áustria, mandada fazer de propósito pelo rei, a cama, a quem custou setenta e cinco mil cruzados, que em Portugal não há artífices de tanto primor, e, se os houvesse, sem dúvida ganhariam menos.
32. A desprevenido olhar nem se sabe se é de madeira o magnífico móvel, coberto como está pela armação preciosa, tecida e bordada de florões e relevos de ouro, isto não falando do dossel que poderia servir para cobrir o papa. Quando a cama aqui foi posta e armada ainda não haviapercevejos nela, tão nova era, mas depois, com o uso, o calor dos corpos, as migrações no interior do palácio, ou da cidade para dentro, rica de matéria e adorno não se lhe pode aproximar um trapo a arder para queimar o enxame, não há mais remédio, ainda não o sendo, que pagar a Santo Aleixo cinqüenta réis por ano, a ver se livra a rainha e a nós todos da praga e da coceira."
33. “Esta é a cama que veio da Holanda(...)" "Este que por desafrontada aparência, sacudir da espada e desaparelhadas vestes, ainda que descalço, parece soldado, é Baltazar Mateus.
35. "Cada frase, ou discurso, ou o período, cria-se dentro de mim mais como uma fala do que como uma escrita. A possibilidade da espontaneidade, a possibilidade do discurso em linha recta, enfim, a direito, é muito maior do que se eu me colocasse na posição de quem escreve. No fundo, ao escrever estou colocado na posição de quem fala."
37. Em Memorial do Convento, a linguagem não é utilizada apenas como efeito ornamental, mas sim para comprometer o romance com a estética que o guia. Todas as características particulares da escrita de Saramago originam um discurso próximo da oralidade e espontâneo, estabelecendo-se como que uma relação entre o narrador e o leitor. Com a sua escrita, Saramago consegue criar um ritmo de escrita próximo da poesia, conseguindo conjugar diferentes figuras de estilo, utilizando aforismos, provérbios e ditados populares, originando uma nova forma de utilizar a pontuação, recorrendo a marcas características do discurso oral,construindo efeitos irônicos, sarcásticos e humorísticos e entrelaçando o seu discurso com outros discursos literários e jogos de conceitos típicos do Barroco. Como narrador de O Memorial do Convento, o próprio Saramago, explica sua opção pela recuperação da imaginação na escrita: "...fingindo, passam então as histórias a ser mais verdadeiras que os casos verdadeiros que elas contam...".