Prática de interpretação de imagens de satélite no QGIS
Memorial do Convento
1. 1
Elisabete Tavares 3ºASC 2010/2011
Memorial do Convento de José
Saramago
2. 2
E
Memorial do l
Convento i
Conteúdos essenciais: s
a
b
-Categorias do texto narrativo e
-Estrutura t
-Dimensão simbólica/histórica e
-Visão crítica
-Linguagem e estilo T
a
v
a
r
e
s
8. 8
E
Planos narrativos l
i
s
a
Construção do Convento de Mafra - tema fulcral do Romance
b
e
São três os momentos fundamentais quando falamos neste Convento: a
t
escolha do local, o lançamento da primeira pedra (Inauguração da
e
primeira pedra do convento, com procissão e bênção, a 17 de
Novembro de 1717); e a sagração da Basílica (22 de Outubro de 1730).
T
O romance inicia-se com a promessa do rei português em mandar edificar
a
um convento em Mafra se no prazo de um ano a rainha concebesse um
v
filho. Após o nascimento de uma filha em 1712, D. João V faz cumprir a
a
sua promessa.
r
e
s
9. 9
E
Planos Narrativos l
i
Construção da passarola (narrativa encaixada) s
O sonho do padre Bartolomeu Lourenço é concretizado quando a
b
a passarola, no fim de construída, voa. Esta narrativa surge-nos
e
intercalada com a narrativa principal. t
A máquina voadora é construída na quinta de S. Sebastião da e
Pedreira.
Os seus criadores, para além do Voador são Baltasar e T
Blimunda. Sete-Sóis é a força ao passo que Sete-Luas é a a
magia. Só todos estes componentes fizeram elevar a passarola. v
a
r
e
s
10. 10
O amor verdadeiro de Baltasar e Blimunda
(narrativa encaixada) E
• O encontro entre Baltasar e Blimunda dá-se no auto-de-fé onde a l
mãe da segunda é condenada ao degredo em Angola .Nessa noite, após i
receberem a bênção do padre Bartolomeu, o casal une-se espiritual e s
corporalmente. A intensidade e perfeição deste amor são admiráveis. a
Esta é uma relação de cumplicidade e entendimento totais. b
Depois de Baltasar desaparecer com a passarola, Blimunda, incessante e e
incansável procura o seu complemento durante nove anos. t
Acaba por encontrá-lo na fogueira de um auto-de-fé. e
T
a
v
a
r
e
s
12. 12
No Memorial do Convento o narrador:
E
sentencia: segue ou inventa provérbios; l
i
mistura a história e a ficção, o real e o fantástico; s
a
dialoga com o narratário e manipula as personagens; b
e
apaga-se face às personagens, dando voz aos seus pensamentos; t
e
domina a narrativa, mas também se auto limita face ao conhecimento
da história; T
a
profetiza, antevendo factos futuros; v
a
critica, problematizando a história r
e
descreve paisagens, situações, factos acontecidos e a acontecer. s
13. 13
E
l
i
s
• “É uma pedra só, por via destes e outros tolos Narrador (ver a
orgulhos é que se vai disseminando o ludíbrio página 257/258 do Manual)
b
geral, com as suas formas nacionais e e
particulares, como esta de afirmar nos t
compêndios e histórias, Deve-se a e
construção do convento de Mafra ao rei
D. João V, por um voto que fez se lhe Podemos falar de T
nascesse um filho, vão aqui seiscentos um narrador com a
homens que não fizeram nenhum filho à v
uma polifonia ou
a
rainha e eles é que pagam , que se lixam, pluralidade de vozes r
com perdão da anacrónica voz.” pag 351 que reinventa e
mundos e os s
multiplica.
16. E
TEMPO O tempo do discurso
l
i
As analepses (recuos no tempo) s
a
• As analepses b
explicam, geralmente, acontecimentos e
anteriores, contribuindo para a coesão t
da narrativa. e
T
• É de assinalar, anteriormente ao ano do início a
da acção (1711 ), a analepse que explica, em v
parte, a construção do convento como a
r
consequência do desejo expresso, em e
1624, pelos franciscanos, de possuírem um s
convento em Mafra.
17. TEMPO O tempo do discurso E
As prolepses (acções futuras) l
A antecipação de alguns acontecimentos serve os seguintes i
objectivos: s
• . a crítica social - é o • . a visão globalizante de tempos a
caso das prolepses que distintos por parte do narrador (o b
dão a conhecer as tempo da história e, num tempo futuro, e
mortes do sobrinho de o do momento da escrita) - cabem aqui
Baltasar e do infante D. as referências aos cravos (outrora, t
Pedro, de modo a nas pontas das varas dos capelães; e
estabelecer o muito mais tarde, símbolos da revolução
contraste entre os
dois funerais, ou a do 25 de Abril), a associação entre os T
morte de Álvaro possíveis voos da passarola e o a
Diogo, que viria a cair facto de os homens terem ido à v
de uma parede, durante Lua, no século XX, a alusão ao tipo de a
a construção do diversões que se vivia no século XVII e r
convento, assim como a ao cinema, entre outras
informação sobre os e
bastardos que o rei s
iria gerar, filhos das
freiras que seduzia
19. E
Espaço físico Mafra l
i
s
a
b
• Mafra é o segundo macroespaço. Até à construção do convento, a e
vida de Mafra decorria na vila velha e no antigo castelo, t
próximo da igreja de Sto. André. e
• A Vela foi o local escolhido para a construção do convento, que deu T
lugar à vila nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a a
"Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil v
trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a quarenta mil. a
r
• Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, e
a serra do Barregudo, Monte Junto e Torres Vedras. s
20. E
O espaço social l
i
s
• O espaço social a
o espaço social é construído, na obra, através do relato de b
determinados momentos (ou episódios) e do e
t
percurso de personagens que tipificam um
e
determinado grupo social, caracterizando-o.
T
• Ao nível da construção do espaço social, destacam-se os a
seguintes momentos: v
PROCISSÃO DA QUARESMA a
AUTOS-DE-FÉ r
A TOURADA
e
PROCISSÃO DO CORPO DE DEUS
O TRABALHO NO CONVENTO s
21. E
Espaço psicológico l
i
s
• o espaço psicológico é constituído pelo conjunto a
b
de elementos que traduz a interioridade das e
personagens. Nesta obra, o espaço psicológico é t
constituído fundamentalmente através de dois e
processos: os sonhos das personagens,
T
que funcionam como forma de caracterização a
das mesmas ou que, num processo que lhes v
confere densidade humana, traduzem relações a
com as suas vivências, e os seus r
e
pensamentos. s
23. E
Personagens históricas l
i
s
D. JOÃO V a
b
e
• D. João V representa o poder real absolutista que t
condena uma nação a servir a sua religiosidade e
fanática e a sua vaidade.
T
a
• Cumpridor dos seus deveres de marido e de rei, D. João v
V assume apenas o papel gerativo de um filho e de a
um convento, numa dimensão procriadora, da qual a r
e
intimidade e o amor se encontram ausentes. s
24. E
D. JOÃO V l
i
s
• Amante dos prazeres humanos, a figura a
b
real é construída através do olhar crítico do e
narrador, de forma multifacetada: t
é o devoto fanático que submete um país inteiro ao e
cumprimento de uma promessa pessoal (a construção do
convento, de modo a garantir a sucessão) e que assiste aos T
autos de fé; a
v
é o marido que não evidencia qualquer sentimento a
amoroso pela rainha, apresentando nesta relação uma r
faceta quase animalesca, enfatizado pela utilização de e
vocábulos que remetem para esta ideia (como a forma verbal" s
emprenhou" e o adjectivo "cobridor");
25. D. JOÃO V E
l
i
s
é o megalómano que desvia as riquezas nacionais para a
manter uma corte dominado pelo luxo, pela corrupção e pelo b
excesso; e
t
e
é o rei vaidoso que se equipara o Deus nas suas relações com
as religiosas; é o curioso que se interessa pelas invenções do
T
padre Bartolomeu de Gusmão; a
v
é o homem que teme a morte e que antecipa a sua a
imortalidade, através da sagração do convento no dia do seu r
e
quadragésimo primeiro aniversário.
s
26. E
PERSONAGENS históricas l
i
s
D. MARIA ANA JOSEFA a
b
e
• D. Maria Ana é caracterizada como uma mulher: t
e
▫ passiva,
▫ insatisfeita, T
▫ que vive um casamento baseado na aparência, na a
sexualidade reprimida e num falso código ético, moral e
religioso. v
a
r
e
s
27. E
D. MARIA ANA JOSEFA l
i
s
a
• A transgressão onírica é a única expressão da rainha que b
sucumbe, posteriormente, ao sentimento de culpa. A pecaminosa e
atração incestuosa que sente por D. Francisco, seu cunhado, t
conduzem-na a uma busca constante de redenção através da e
oração e da confissão. - COMPLEXO DE CULPA.
• A rainha vive num ambiente repressivo, cujas proibições T
regem a sua existência e para a qual não há fuga possível, a não ser
através do sonho, onde pode explorar a sua sensualidade. a
• Consciente da virilidade e da infidelidade do marido (abundam os v
filhos bastardos), D. Maria Ana assume uma atitude de a
passividade e de infelicidade perante a vida. r
e
s
28. E
PERSONAGENS históricas l
i
s
FREI BARTOLOMEU LOURENÇO DE GUSMÃO a
b
e
• O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão t
representa as novas ideias que causavam e
estranheza na inculta sociedade portuguesa.
T
• Estrangeirado, Bartolomeu de Gusmão a
tornou-se um alvo apetecido do chacota da v
corte e da Inquisição, apesar da proteção a
real. r
e
• Homem curioso e grande orador sacro (a s
sua fama aproxima-o do padre António Vieira).
29. PERSONAGENS históricas E
l
i
BARTOLOMEU DE GUSMÃO s
a
• Bartolomeu de Gusmão evidenciou, ao longo da obra, uma b
profunda crise de fé, a que as leituras diversificadas e a e
postura "antidogmática" não serão alheios, numa busca t
incessante do saber. e
• A sua personagem risível - era conhecido por "Voador" - torna-o
elemento catalisador do voo do passarola, conjuntamente T
com Baltasar e Blimunda.
a
• A tríade corporiza o sonho e o empenho tornados
realidade, a par da desgraça, também ela, partilhada (loucura e v
morte, em Toledo, de Bartolomeu de Gusmão, morte de Baltasar a
Sete-Sóis no auto-de-fé e solidão de Blimunda). r
e
s
30. E
PERSONAGENS históricas l
i
s
DOMENICO SCARLATTI a
b
e
t
• Scarlatti representa a arte que, aliada ao e
sonho, permite a cura de Blimunda e
T
possibilita a conclusão e o voo da passarola. a
v
a
r
e
s
31. PERSONAGENS O POVO E
l
(ver capítulo 17,18, 19 e 21) i
s
a
b
• O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo e
trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a t
narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas e
por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa coletiva e anónima
que construiu, de facto, o convento. T
a
• A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a v
que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o
sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação a
do Convento de Mafra. r
e
s
32. E
PERSONAGENS O POVO
l
i
s
a
b
• A necessidade de individualizar personagens (João e
Pequeno; Joaquim da Rocha; Manuel Milho; João Anes; t
Julião Mau-Tempo … ) que representam a força motriz que e
erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a
verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora T
ficcionais, traduzem a essência de ser português: a
v
• GRANDES FEITOS, COM GRANDE ESFORÇO E a
CAPACIDADE DE SOFRIMENTO r
e
s
33. 33
O povo: alguns excertos E
l
“A obra é grande (…) multidão de homens que cobrem o terreiro, é um formigueiro i
de gente que acorre de todos os lados” (cap .17) s
a
“Por sobre a Ilha da Madeira, nas ruas e terreiros, dentro das tabernas e casas de
acomodação, ouve-se um murmúrio contínuo, como o do mar ao longe. Estariam b
vinte mil homens dizendo a oração da tarde (…)” (cap.18) e
t
“Subiram homens à plataforma com longas e fortíssimas alavancas, esforçadamente e
soergueram a pedra ainda instável, e outros homens introduziram-lhe debaixo os
calços(…) todo o mundo puxa com entusiasmo, homens e bois, pena é que não T
esteja D. João V no alto da subida, não há povo que puxe melhor do que este.” a
(cap19)
v
“É uma pedra só, por via destes e outros tolos orgulhos é que se vai disseminando o
ludíbrio geral, com as suas formas nacionais e particulares, como esta de afirmar nos a
compêndios e histórias, Deve-se a construção do convento de Mafra ao rei D. r
João V, por um voto que fez se lhe nascesse um filho, vão aqui seiscentos e
homens que não fizeram nenhum filho à rainha e eles é que pagam , que se s
lixam, com perdão da anacrónica voz.” cap19)
34. 34
E
As personagens l
i
O padre olhou um e outro, e s
declarou, tu és Sete-Sóis porque
Baltasar Sete-Sóis a
vês às claras, tu serás Sete-Luas
porque vês às escuras, e assim, b
Blimunda Sete-Luas Blimunda, que até aí só se e
chamava, como sua mãe, de Jesus, t
ficou sendo Sete-Luas, e bem e
baptizada estava, que o baptismo
foi de padre, não alcunha de T
qualquer um. Dormiram nessa a
noite os sóis e as luas abraçados,
v
enquanto as estrelas giravam
devagar no céu, Lua onde estás, a
Sol aonde vais. (cap. 9) r
e
s
37. O AMOR: DOIS MODOS DE JUNTAR O HOMEM E A
MULHER…
• (…) o primeiro é estarem ele e ela Outro modo é estarem ele e ela
longe um do outro, nem te sei
perto um do outro, nem te sei nem
nem te conheço, cada qual em
te conheço, num auto-de-fé, da sua corte, ele Lisboa, ela Viena,
banda de fora, claro está, a ver ele dezanove anos, ela vinte e
passar os penitentes, e de repente cinco, e casaram-nos por
volta-se a mulher para o homem e procuração uns tantos
pergunta, Que nome é o seu, não embaixadores(…) tanto lhes
foi inspiração divina, não fazia gostarem-se como não,
perguntou por sua vontade nasceram para casar assim e
própria, foi ordem mental que lhe não doutra maneira, mas ele vai
desforrar-se bem, não ela
veio da própria mãe(…)e se lhe
coitada, que é honesta mulher,
revelou ser este soldado maneta o incapaz de levantar os olhos
homem que haveria de ser da sua para outro homem, o que
filha (…) (cap.X) acontece nos sonhos não conta.
(cap .X)
38. O Amor verdadeiro/paixão O AMOR
Baltasar Blimunda O Amor de Conveniência
(28 anos de amor total )
Integração mútua perfeita; D. João V D. Ana Josefa
Partilha de um amor puro, sem
procriação, entregam-se um ao outro Casados pela igreja, com uma união
livremente, sem olhar a limites, lugares por contrato de onde está ausente o
ou a datas; amor;
Comunicação através do silêncio: amor Dormem em camas separadas;
intuitivo, natural, puro; Os encontros sexuais são uma
Entendimento através do olhar; obrigação e visam unicamente a
Prazer erótico, sem convenções obtenção de descendência
Fidelidade total Vivem separadamente, não partilham,
nem comunicam
Comunhão rodeada de símbolos: Ausência de prazer
-a partilha da colher (símbolo de Traições do rei
compromisso sagrado) O cobertor (símbolo do
- a bênção do padre Bartolomeu afastamento/separação)
- a aliança selada com sangue
38
39. 39
E
l
i
s
a
Deitaram-se. Blimunda era virgem.(…) Correu algum sangue sobre a b
esteira. Com a ponta dos dedos médio e indicador humedecidos e
nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de t
Baltasar, sobre o coração. Estavam ambos nus. (cap.VI) e
Dorme Baltasar no lado direito da enxerga, desde a primeira noite aí T
dorme, porque é desse lado o seu braço inteiro, e ao voltar-se para a
Blimunda pode, com ele, cingi-la contra si, correr-lhe o dedos desde a v
nuca até à cintura, mais abaixo ainda se os sentidos de um e de outro a
despertaram no calor do sono e na representação do sonho, ou já r
acordadíssimos iam quando se deitaram, que este casal ilegítimo por e
sua própria vontade, não sacramentado na igreja, cuida pouco de s
regras e respeitos, e se a ele apeteceu, a ela apetecerá, e se ela
quis, quererá ele. (cap.VIII)
40. 40
E
l
Então Blimunda caiu doente. (…)Baltasar não saía de junto dela, a i
não ser para preparar a comida ou para satisfazer necessidades s
expulsórias do corpo, não parecia bem fazê-lo ali.” (cap.XV) a
b
(…) dezasseis anos passaram. (…) Ali se deitaram, numa cama de e
folhagem, servindo as próprias roupas despidas de abrigo e enxerga. Em t
profunda escuridão se procuraram, sôfrego entrou nela, ela o recebeu e
ansiosa, depois a sofreguidão dela, a ânsia dele, enfim os corpos
encontrados, os movimentos, a voz que vem do ser profundo, aquele que T
não tem voz, o grito nascido, prolongado, interrompido, o soluço seco, a a
lágrima inesperada (…) Blimunda, Baltasar, pesa o corpo dele sobre o v
dela, e ambos pesam sobre a terra(…)era dia claro quando sentiu que a
despertava com o contacto instante de Baltasar. Antes de abrir os r
olhos, disse, Podes vir, já comi o pão, e então Baltasar entrou nela sem e
medo, porque ela não entraria nele, assim fora prometido. (cap.XX) s
41. 41
Mas nem a persistência do rei (…) que, salvo dificultação canónica ou
impedimento fisiológico, duas vezes por semana cumpre vigorosamente o seu
dever real e conjugal (…)
E
Mas el-rei já se anunciou, e vem de espírito aceso, estimulado pela conjugação l
mística do dever carnal e da promessa que fez a Deus por intermédio e bons i
ofícios de Frei António S. José. Entraram com ele dois camaristas que o aliviaram s
das roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha, de mulher para a
mulher, com ajuda doutra dama, condessa, mais uma camareira-mor não menos b
graduada que veio da Áustria, está o quarto uma assembleia, as majestades e
fazem mútuas vénias, nunca mais termina o cerimonial, enfim lá se retiram os
t
camaristas por uma porta, as damas por outra, e nas antecâmaras ficarão
esperando que termine a função (…) E é por causa deste cobertor, sufocante, até
e
no frio de fevereiro, que D. João V não passa toda a noite com a rainha, ao
princípio sim, por ainda superar a novidade ao incómodo, que não era pequeno T
sentir-se banhado em suores próprios e alheios, com uma rainha tapada por cima a
da cabeça, recozendo cheiros e secreções. (…) Vestem a rainha e o rei camisas v
compridas, que pelo chão arrastam, a do rei somente fímbria bordada, a da a
rainha bom meio palmo mais, para que nem a ponta do pé se veja, o dedo r
grande ou os outros, das impudicícias conhecidas talvez seja esta a mais
e
ousada. D. João V conduz D. Maria Ana ao leito (…)ajoelham-se e dizem as
orações (…) Já se deitaram (…) D. Maria Ana estende ao rei a mãozinha suada
s
(…)el-rei já cumpriu o seu dever. (cap. I)
42. E
Linguagem e estilo l
i
s
a
Uma das características mais notórias de José b
Saramago é a utilização peculiar da pontuação. e
t
• Principal marca: nas passagens do discurso e
direto: T
eliminação do travessão e dos dois pontos; a
a substituição do ponto de interrogação e de outros sinais de v
pontuação pela vírgula; a
marcação do início de cada fala apenas pela maiúscula. r
e
s
43. LER EM VOZ ALTA E REESCREVER, RESPEITANDO DISCURSO
DIRETO E INDIRETO
E
l
• "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr i
alguma lenha na fogueira que esmorecia, e uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que s
a
estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer, Por que foi que
b
perguntaste o meu nome, e Blimunda respondeu, Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o e
soubesse, Como sabes, se com ela não pudeste falar, Sei que sei, não sei como sei, não faças t
e
perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê, E agora, Se
não tens onde viver melhor, fica aqui, Hei-de ir para Mafra, tenho lá família, Mulher, Pais e uma irmã,
T
Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é a
v
preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não
a
tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não r
te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o e
s
fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo."
[pág. 56]
44. "Por uma hora ficaram os dois sentados, sem falar. Apenas uma vez Baltasar se levantou para pôr alguma lenha na fogueira que esmorecia, e
uma vez Blimunda espevitou o morrão da candeia que estava comendo a luz e então, sendo tanta a claridade, pôde Sete-Sóis dizer:
- Por que foi que perguntaste o meu nome? E Blimunda respondeu:
- - Porque minha mãe o quis saber e queria que eu o soubesse.
E
- -Como sabes, se com ela não pudeste falar? l
- -Sei que sei, não sei como sei, não faças perguntas a que não posso responder, faze como fizeste, vieste e não perguntaste porquê. i
- -E agora? s
- -Se não tens onde viver melhor, fica aqui. a
- - Hei de ir para Mafra, tenho lá família. b
- - Mulher? e
- -Pais e uma irmã,
t
- Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires,.
e
-
-
Por que queres tu que eu fique?
Porque é preciso.
Resolução
- Não é razão que me convença T
- Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar. a
- Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto! v
- Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei. a
- Olhaste-me por dentro. r
- Juro que nunca te olharei por dentro! e
- Juras que não o farás e já o fizeste,
s
- Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro.
- Se eu ficar, onde durmo?
- Comigo."
[pág. 56]
47. 47
E
l
i
s
a
b
e
o sol é a fonte de luz, calor, vida. Simboliza a divindade, o t
conhecimento. e
pelo facto de não ter luz própria e ser apenas reflexo do Sol e por T
atravessar fases, mudando de forma, a Lua simboliza a dependência e o a
princípio feminino, símbolo da passagem do tempo: da transformação, v
do crescimento e da renovação. Associa-se também ao sonho e ao a
r
inconsciente. e
s
48. A simbologia dos números
corresponde aos sete dias da semana, aos sete planetas, aos sete
graus da perfeição, às sete cores do arco-íris, aos sete dias da criação do
mundo, às sete virtudes cristãs, aos sete sacramentos. Aliado ao quatro
que simboliza a terra (4 pontos cardeais) e ao número três, que simboliza
o céu, o sete representa a totalidade do universo.