SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
Saberes docentes e formação profissional - Maurice TARDIF,
Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
O autor da obra é professor universitário no Canadá e suas pesquisas abrangem
vários países, inclusive o Brasil, onde já realizou palestras e encontros com
professores. É conhecedor da obra de Paulo Freire, enaltecendo-a no que tange à
valorização do papel do professor como agente de mudanças, como intelectual
engajado.
As bases teóricas de Tardif são várias, vão desde os filósofos gregos aos
contemporâneos, buscando neles reflexões sobre a racionalidade. Recorre a
sociólogos, como Weber e a questão da interação social como aprendizagem; a
pesquisadores como Bourdieu, refletindo sobre os conteúdos curriculares e sua
dependência com a história de uma sociedade e o educador americano Schön, que
desenvolveu seu arcabouço teórico na formação do professor reflexivo.
O livro de Tardif é composto de oito ensaios subdivididos em duas partes: o saber
dos professores em seu trabalho e o saber dos professores em sua formação. Os
ensaios, frutos de pesquisa de doze anos, muito dos quais publicados
anteriormente, buscam entender que saberes alicerçam o trabalho e a formação
dos professores das escolas do Ensino Fundamental e Médio.
A metodologia usada por Tardif é a pesquisa empírica realizada junto aos
professores e às questões teóricas sobre a natureza dos saberes que são
mobilizados e utilizados por estes em seu trabalho diário. Ele se baseia em
pesquisas realizadas por outros autores como Dubar, refletindo sobre o trabalho,
que não é exclusivamente transformar um objeto ou situação numa outra coisa,
mas, é também transformar a si mesmo no e pelo trabalho, idéia que endossa a
importância da aprendizagem através das experiências do professor. Baseiase
também em Gauthier sobre a importância da incorporação das experiências dos
professores nos programas de formação.
Tardif defende que o saber não se reduz, exclusiva ou principalmente, a processos
mentais, cujo suporte é a atividade cognitiva dos indivíduos, mas é também um
saber social que se manifesta nas relações complexas entre professores e alunos.
Há que “situar o saber do professor na interface entre o individual e o social, entre
o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo”
(TARDIF, 2002, p.16).
Uma das inovações do trabalho e das pesquisas de Tardif é compreender o saber
do professor como saberes que têm como objeto de trabalho seres humanos e
advém de várias instâncias: da família, da escola que o formou, da cultura pessoal,
da universidade, provêm dos pares, dos cursos da formação continuada; é plural,
heterogêneo, é temporal pois se constrói durante a vida e o decurso da carreira,
portanto, é personalizado, situado. Essa concepção da amplitude de saberes que
forma o saber do professor é fundamental para entender a atuação de cada um no
processo de trabalho coletivo desenvolvido pela escola. Cada professor insere sua
individualidade na construção do projeto pedagógico, o que traz a diversidade de
olhares contribuindo para a ampliação das possibilidades e construção de outros
novos saberes.
Refletindo sobre o processo de formação de professores, Tardif argumenta que se
deve levar em conta o conhecimento do trabalho dos professores, seus saberes
cotidianos. Tal postura desconstrói a idéia tradicional de que os professores são
apenas transmissores de saberes produzidos por outros grupos. O autor convoca
os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a comunidade científica a
unir pesquisa e ensino. Sua proposta é que a pesquisa universitária pare de ver os
professores de profissão como objetos de pesquisa e que passem a ser
considerados como sujeitos do conhecimento, como colaboradores, como copesquisadores.
Uma postura importante para as pesquisas a serem desenvolvidas
pelas Universidades do Brasil, que possa valorizar os professores de profissão ao
mesmo tempo que promova sua formação continuada, buscando a construção de
conhecimentos e valorização de sua prática educativa; promova um repensar de
caminhos engajados na realidade, conseqüentemente, um repensar da própria
formação acadêmica.
As escolas tornam-se,assim, lugares de formação, de inovação, de experiência e
de desenvolvimento profissional, mas também, lugares de pesquisa e de reflexão
crítica.
Para Tardif, o saber docente é um saber plural, oriundo da formação profissional (o
conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores); de
saberes disciplinares (saberes que correspondem ao diverso campo do
conhecimento e emergem da tradição cultural); curriculares (programas escolares) e
experienciais (do trabalho cotidiano). O que exige do professor capacidade de
dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condição para sua prática.
A expressão utilizada por Tardif, „mobilização de saberes‟, transmite uma idéia de
movimento, de construção, de constante renovação, de valorização de todos os
saberes e não somente do cognitivo; revela a intenção da visão da totalidade do ser
professor.
Outro posicionamento importante de Tardif é de ser contra a idéia tradicional da
relação teoria e prática: o saber está somente do lado da teoria, ao passo que a
prática ou é desprovida de saber ou portadora de um falso saber baseado, por
exemplo, em crenças, ideologias, idéias preconcebidas. O autor é contra a idéia que
o saber é produzido fora da prática e, portanto, sua relação com a prática só pode
ser uma relação de aplicação. Afirma que hoje, sabemos que aquilo que chamamos
de “teoria”, de “saber” ou de “conhecimentos” só existe em um sistema de práticas e
de atores que as produzem e as assumem. Isso representa a afirmação da idéia de
que pelo trabalho o homem modifica a si mesmo, as suas relações e busca
transformação de sua própria situação e a do coletivo a que pertence.
Uma ressalva está no ensaio três, em que Tardif afirma que uma boa maneira de
compreender a natureza do trabalho dos professores é compará-lo
com o trabalho industrial e, ao fazê-lo, apresenta quadros comparativos que setorizam a
explanação e não permite uma visão de totalidade, colocando o trabalho como
técnica, como atividade instrumental, apresentando uma visão conteudística da
formação, sem direção no trabalho docente e com tarefas de acordo com o
surgimento de necessidade. A indústria avalia como medida e não se compara com
o processo educativo.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Formação história
Formação históriaFormação história
Formação históriaMagda Marques
 
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalho
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalhoEJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalho
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalhoprofamiriamnavarro
 
Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento Adriana Pereira
 
1. zabala. prática educativa prof. iara
1. zabala. prática educativa prof. iara1. zabala. prática educativa prof. iara
1. zabala. prática educativa prof. iaraClaudia Andrade
 
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexões
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexõesEJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexões
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexõesprofamiriamnavarro
 
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdfEDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf4444444444ada
 
Saberes docentes e formação profissional
Saberes docentes e formação profissionalSaberes docentes e formação profissional
Saberes docentes e formação profissionalCeli Jandy Moraes Gomes
 
Espaços não formais de Ensino - parte I
Espaços não formais de Ensino - parte IEspaços não formais de Ensino - parte I
Espaços não formais de Ensino - parte IOld Red Editions
 
Pedagogia paulo freire.
Pedagogia paulo freire.Pedagogia paulo freire.
Pedagogia paulo freire.Soares Junior
 
Saberes Docentes final
Saberes Docentes finalSaberes Docentes final
Saberes Docentes finalmefurb
 
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumond
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumondApostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumond
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumondSimoneHelenDrumond
 
Aula 01 fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)
Aula 01   fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)Aula 01   fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)
Aula 01 fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)eadseedpr
 
Educação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultosEducação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultosLinda-maria12
 
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕES
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕESAVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕES
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕESValdeci Correia
 

Mais procurados (20)

Formação história
Formação históriaFormação história
Formação história
 
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalho
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalhoEJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalho
EJA AULA 8: O educador da EJA: formação e campo de trabalho
 
Escola, cultura e sociedade
Escola, cultura e sociedadeEscola, cultura e sociedade
Escola, cultura e sociedade
 
Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento Alfabetização e Letramento
Alfabetização e Letramento
 
1. zabala. prática educativa prof. iara
1. zabala. prática educativa prof. iara1. zabala. prática educativa prof. iara
1. zabala. prática educativa prof. iara
 
BNCC na prática
BNCC na práticaBNCC na prática
BNCC na prática
 
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexões
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexõesEJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexões
EJA AULA 1: Educação de Adultos: algumas reflexões
 
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdfEDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf
EDUCAÇÃO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES APOSTILA 1.pdf
 
Saberes docentes e formação profissional
Saberes docentes e formação profissionalSaberes docentes e formação profissional
Saberes docentes e formação profissional
 
Espaços não formais de Ensino - parte I
Espaços não formais de Ensino - parte IEspaços não formais de Ensino - parte I
Espaços não formais de Ensino - parte I
 
Pedagogia paulo freire.
Pedagogia paulo freire.Pedagogia paulo freire.
Pedagogia paulo freire.
 
Saberes Docentes final
Saberes Docentes finalSaberes Docentes final
Saberes Docentes final
 
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumond
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumondApostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumond
Apostila paulo freire para crianças vol1 simone helen drumond
 
Palestra EJA
Palestra EJAPalestra EJA
Palestra EJA
 
Aula 01 fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)
Aula 01   fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)Aula 01   fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)
Aula 01 fundamentos históricos da educação - marcos zanon(1)
 
Sintese ideias o que é educação brandão
Sintese ideias o que é educação brandãoSintese ideias o que é educação brandão
Sintese ideias o que é educação brandão
 
O curriculo
O curriculoO curriculo
O curriculo
 
Educação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultosEducação de jovens e adultos
Educação de jovens e adultos
 
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕES
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕESAVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕES
AVALIAÇÃO ESCOLAR - SIMULADO COM 50 QUESTÕES
 
Formação docente
Formação docenteFormação docente
Formação docente
 

Semelhante a Tardif, maurice saberes docentes e formação profissioanal

O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIOR
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIORO TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIOR
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIORProfessorPrincipiante
 
Os professores diante do saber
Os professores diante do saberOs professores diante do saber
Os professores diante do saberCRIS TORRES
 
Paradigmas educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.
Paradigmas  educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.Paradigmas  educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.
Paradigmas educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.Maria Cecilia Silva
 
Texto 1 formação de professores e prática reflexiva
Texto 1   formação de professores e prática reflexivaTexto 1   formação de professores e prática reflexiva
Texto 1 formação de professores e prática reflexivaTelma Teles Silveira
 
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOSProfessorPrincipiante
 
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-2018020912308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209VICTORMOREIRA79
 
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-2018020912308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209Nelson Kratsch
 
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTE
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTEPROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTE
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTEProfessorPrincipiante
 
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freire
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freireA formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freire
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freireNertan Dias
 
Atv.ling. metafora (1)
Atv.ling. metafora (1)Atv.ling. metafora (1)
Atv.ling. metafora (1)UyaraPortugal
 
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRA
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRANARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRA
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRAProfessorPrincipiante
 
sintese Paulo Freire.pdf
sintese Paulo Freire.pdfsintese Paulo Freire.pdf
sintese Paulo Freire.pdfLaiseSouza6
 
Trabalho colaborativo
Trabalho colaborativoTrabalho colaborativo
Trabalho colaborativorverardi
 
aula_sabado_e_segunda_.pptx
aula_sabado_e_segunda_.pptxaula_sabado_e_segunda_.pptx
aula_sabado_e_segunda_.pptxDeboraCaroline16
 
Geraldi, c.m.g. cartografia do trabalho docente
Geraldi, c.m.g.   cartografia do trabalho docenteGeraldi, c.m.g.   cartografia do trabalho docente
Geraldi, c.m.g. cartografia do trabalho docentemarcaocampos
 

Semelhante a Tardif, maurice saberes docentes e formação profissioanal (20)

O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIOR
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIORO TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIOR
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS E ENGENHEIROS NO ENSINO SUPERIOR
 
Os professores diante do saber
Os professores diante do saberOs professores diante do saber
Os professores diante do saber
 
Paradigmas educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.
Paradigmas  educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.Paradigmas  educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.
Paradigmas educacionais e a identidade no trabalho concreto da sala de aula.
 
Texto 1 formação de professores e prática reflexiva
Texto 1   formação de professores e prática reflexivaTexto 1   formação de professores e prática reflexiva
Texto 1 formação de professores e prática reflexiva
 
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS
~PROFESSORES INCIANTES: TEORIAS, PRÁTICAS, DILEMAS E DESAFIOS
 
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-2018020912308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
 
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-2018020912308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
12308 texto do artigo-41406-1-10-20180209
 
Escola e sociedade
Escola e sociedadeEscola e sociedade
Escola e sociedade
 
20265 87941-1-pb
20265 87941-1-pb20265 87941-1-pb
20265 87941-1-pb
 
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTE
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTEPROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTE
PROFESSOR INICIANTE: O SER E ESTAR NA PROFISSÃO DOCENTE
 
20265 87941-1-pb
20265 87941-1-pb20265 87941-1-pb
20265 87941-1-pb
 
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freire
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freireA formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freire
A formação de professores para a diversidade na perspectiva de paulo freire
 
Atv.ling. metafora (1)
Atv.ling. metafora (1)Atv.ling. metafora (1)
Atv.ling. metafora (1)
 
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRA
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRANARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRA
NARRATIVAS DE PROFESSORES SOBRE O INÍCIO DE CARREIRA
 
OT Filosofia
OT FilosofiaOT Filosofia
OT Filosofia
 
sintese Paulo Freire.pdf
sintese Paulo Freire.pdfsintese Paulo Freire.pdf
sintese Paulo Freire.pdf
 
Trabalho colaborativo
Trabalho colaborativoTrabalho colaborativo
Trabalho colaborativo
 
aula_sabado_e_segunda_.pptx
aula_sabado_e_segunda_.pptxaula_sabado_e_segunda_.pptx
aula_sabado_e_segunda_.pptx
 
Geraldi, c.m.g. cartografia do trabalho docente
Geraldi, c.m.g.   cartografia do trabalho docenteGeraldi, c.m.g.   cartografia do trabalho docente
Geraldi, c.m.g. cartografia do trabalho docente
 
Atitude critica
Atitude criticaAtitude critica
Atitude critica
 

Mais de marcaocampos

Vigotsky, a formacao social da mente cap. 6, 7 e 8
Vigotsky, a formacao social da mente  cap. 6, 7 e 8Vigotsky, a formacao social da mente  cap. 6, 7 e 8
Vigotsky, a formacao social da mente cap. 6, 7 e 8marcaocampos
 
Sousa. sandra m. zakia avaliacao na organizacao do ensino
Sousa. sandra m. zakia   avaliacao na organizacao do ensino Sousa. sandra m. zakia   avaliacao na organizacao do ensino
Sousa. sandra m. zakia avaliacao na organizacao do ensino marcaocampos
 
Soares, magda linguagem e escola
Soares, magda   linguagem e escolaSoares, magda   linguagem e escola
Soares, magda linguagem e escolamarcaocampos
 
Sawaia, bader as artimanhas da exclusao
Sawaia, bader   as artimanhas da exclusaoSawaia, bader   as artimanhas da exclusao
Sawaia, bader as artimanhas da exclusaomarcaocampos
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadoresmarcaocampos
 
Sacristan, jose g., a educacao que temos
Sacristan, jose g., a educacao que temosSacristan, jose g., a educacao que temos
Sacristan, jose g., a educacao que temosmarcaocampos
 
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i as funções sociais da
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i   as funções sociais da Sacristan, josé e gomes, peres, a.i   as funções sociais da
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i as funções sociais da marcaocampos
 
Piaget, jean para onde vai a educação
Piaget, jean para onde vai a educaçãoPiaget, jean para onde vai a educação
Piaget, jean para onde vai a educaçãomarcaocampos
 
Perrenoud, phillipie ensinando competencias
Perrenoud, phillipie   ensinando competenciasPerrenoud, phillipie   ensinando competencias
Perrenoud, phillipie ensinando competenciasmarcaocampos
 
Perrenoud, phillipie dez competencias para ensinar
Perrenoud, phillipie   dez competencias para ensinarPerrenoud, phillipie   dez competencias para ensinar
Perrenoud, phillipie dez competencias para ensinarmarcaocampos
 
Perrenoud, phillipe pedagogia diferenciada- da inteção a a
Perrenoud, phillipe   pedagogia diferenciada- da inteção a aPerrenoud, phillipe   pedagogia diferenciada- da inteção a a
Perrenoud, phillipe pedagogia diferenciada- da inteção a amarcaocampos
 
Peb i hipóteses de escrita texto
Peb i hipóteses de  escrita  textoPeb i hipóteses de  escrita  texto
Peb i hipóteses de escrita textomarcaocampos
 
Peb i hipotese leitura texto
Peb i hipotese leitura   textoPeb i hipotese leitura   texto
Peb i hipotese leitura textomarcaocampos
 
PEB l analise de texto
PEB l analise de textoPEB l analise de texto
PEB l analise de textomarcaocampos
 
Oliveira, marta kholl vigostski - aprendizado e desenvolvi
Oliveira, marta kholl   vigostski - aprendizado e desenvolviOliveira, marta kholl   vigostski - aprendizado e desenvolvi
Oliveira, marta kholl vigostski - aprendizado e desenvolvimarcaocampos
 
Mantoan, maria tereza égler, integracao de pessoas com defi
Mantoan, maria tereza égler, integracao  de pessoas com defiMantoan, maria tereza égler, integracao  de pessoas com defi
Mantoan, maria tereza égler, integracao de pessoas com defimarcaocampos
 
Macedo, lino, como construir uma escola para todos
Macedo, lino, como construir uma escola para todosMacedo, lino, como construir uma escola para todos
Macedo, lino, como construir uma escola para todosmarcaocampos
 
Linhares, célia os professores e a reinvencao da escola
Linhares, célia   os professores e a reinvencao da escolaLinhares, célia   os professores e a reinvencao da escola
Linhares, célia os professores e a reinvencao da escolamarcaocampos
 
Lerner,delia ler e escrever na escola 3
Lerner,delia   ler e escrever na escola 3Lerner,delia   ler e escrever na escola 3
Lerner,delia ler e escrever na escola 3marcaocampos
 
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundo
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundoLajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundo
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundomarcaocampos
 

Mais de marcaocampos (20)

Vigotsky, a formacao social da mente cap. 6, 7 e 8
Vigotsky, a formacao social da mente  cap. 6, 7 e 8Vigotsky, a formacao social da mente  cap. 6, 7 e 8
Vigotsky, a formacao social da mente cap. 6, 7 e 8
 
Sousa. sandra m. zakia avaliacao na organizacao do ensino
Sousa. sandra m. zakia   avaliacao na organizacao do ensino Sousa. sandra m. zakia   avaliacao na organizacao do ensino
Sousa. sandra m. zakia avaliacao na organizacao do ensino
 
Soares, magda linguagem e escola
Soares, magda   linguagem e escolaSoares, magda   linguagem e escola
Soares, magda linguagem e escola
 
Sawaia, bader as artimanhas da exclusao
Sawaia, bader   as artimanhas da exclusaoSawaia, bader   as artimanhas da exclusao
Sawaia, bader as artimanhas da exclusao
 
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadoresSaul, ana maria   paulo freire e a formacao de educadores
Saul, ana maria paulo freire e a formacao de educadores
 
Sacristan, jose g., a educacao que temos
Sacristan, jose g., a educacao que temosSacristan, jose g., a educacao que temos
Sacristan, jose g., a educacao que temos
 
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i as funções sociais da
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i   as funções sociais da Sacristan, josé e gomes, peres, a.i   as funções sociais da
Sacristan, josé e gomes, peres, a.i as funções sociais da
 
Piaget, jean para onde vai a educação
Piaget, jean para onde vai a educaçãoPiaget, jean para onde vai a educação
Piaget, jean para onde vai a educação
 
Perrenoud, phillipie ensinando competencias
Perrenoud, phillipie   ensinando competenciasPerrenoud, phillipie   ensinando competencias
Perrenoud, phillipie ensinando competencias
 
Perrenoud, phillipie dez competencias para ensinar
Perrenoud, phillipie   dez competencias para ensinarPerrenoud, phillipie   dez competencias para ensinar
Perrenoud, phillipie dez competencias para ensinar
 
Perrenoud, phillipe pedagogia diferenciada- da inteção a a
Perrenoud, phillipe   pedagogia diferenciada- da inteção a aPerrenoud, phillipe   pedagogia diferenciada- da inteção a a
Perrenoud, phillipe pedagogia diferenciada- da inteção a a
 
Peb i hipóteses de escrita texto
Peb i hipóteses de  escrita  textoPeb i hipóteses de  escrita  texto
Peb i hipóteses de escrita texto
 
Peb i hipotese leitura texto
Peb i hipotese leitura   textoPeb i hipotese leitura   texto
Peb i hipotese leitura texto
 
PEB l analise de texto
PEB l analise de textoPEB l analise de texto
PEB l analise de texto
 
Oliveira, marta kholl vigostski - aprendizado e desenvolvi
Oliveira, marta kholl   vigostski - aprendizado e desenvolviOliveira, marta kholl   vigostski - aprendizado e desenvolvi
Oliveira, marta kholl vigostski - aprendizado e desenvolvi
 
Mantoan, maria tereza égler, integracao de pessoas com defi
Mantoan, maria tereza égler, integracao  de pessoas com defiMantoan, maria tereza égler, integracao  de pessoas com defi
Mantoan, maria tereza égler, integracao de pessoas com defi
 
Macedo, lino, como construir uma escola para todos
Macedo, lino, como construir uma escola para todosMacedo, lino, como construir uma escola para todos
Macedo, lino, como construir uma escola para todos
 
Linhares, célia os professores e a reinvencao da escola
Linhares, célia   os professores e a reinvencao da escolaLinhares, célia   os professores e a reinvencao da escola
Linhares, célia os professores e a reinvencao da escola
 
Lerner,delia ler e escrever na escola 3
Lerner,delia   ler e escrever na escola 3Lerner,delia   ler e escrever na escola 3
Lerner,delia ler e escrever na escola 3
 
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundo
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundoLajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundo
Lajolo, marisa do mundo da leitura para a leitura do mundo
 

Tardif, maurice saberes docentes e formação profissioanal

  • 1. Saberes docentes e formação profissional - Maurice TARDIF, Petrópolis, RJ: Vozes, 2002. O autor da obra é professor universitário no Canadá e suas pesquisas abrangem vários países, inclusive o Brasil, onde já realizou palestras e encontros com professores. É conhecedor da obra de Paulo Freire, enaltecendo-a no que tange à valorização do papel do professor como agente de mudanças, como intelectual engajado. As bases teóricas de Tardif são várias, vão desde os filósofos gregos aos contemporâneos, buscando neles reflexões sobre a racionalidade. Recorre a sociólogos, como Weber e a questão da interação social como aprendizagem; a pesquisadores como Bourdieu, refletindo sobre os conteúdos curriculares e sua dependência com a história de uma sociedade e o educador americano Schön, que desenvolveu seu arcabouço teórico na formação do professor reflexivo. O livro de Tardif é composto de oito ensaios subdivididos em duas partes: o saber dos professores em seu trabalho e o saber dos professores em sua formação. Os ensaios, frutos de pesquisa de doze anos, muito dos quais publicados anteriormente, buscam entender que saberes alicerçam o trabalho e a formação dos professores das escolas do Ensino Fundamental e Médio. A metodologia usada por Tardif é a pesquisa empírica realizada junto aos professores e às questões teóricas sobre a natureza dos saberes que são mobilizados e utilizados por estes em seu trabalho diário. Ele se baseia em pesquisas realizadas por outros autores como Dubar, refletindo sobre o trabalho, que não é exclusivamente transformar um objeto ou situação numa outra coisa, mas, é também transformar a si mesmo no e pelo trabalho, idéia que endossa a importância da aprendizagem através das experiências do professor. Baseiase também em Gauthier sobre a importância da incorporação das experiências dos professores nos programas de formação. Tardif defende que o saber não se reduz, exclusiva ou principalmente, a processos mentais, cujo suporte é a atividade cognitiva dos indivíduos, mas é também um saber social que se manifesta nas relações complexas entre professores e alunos. Há que “situar o saber do professor na interface entre o individual e o social, entre o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e individual como um todo” (TARDIF, 2002, p.16). Uma das inovações do trabalho e das pesquisas de Tardif é compreender o saber do professor como saberes que têm como objeto de trabalho seres humanos e advém de várias instâncias: da família, da escola que o formou, da cultura pessoal, da universidade, provêm dos pares, dos cursos da formação continuada; é plural, heterogêneo, é temporal pois se constrói durante a vida e o decurso da carreira, portanto, é personalizado, situado. Essa concepção da amplitude de saberes que forma o saber do professor é fundamental para entender a atuação de cada um no processo de trabalho coletivo desenvolvido pela escola. Cada professor insere sua individualidade na construção do projeto pedagógico, o que traz a diversidade de olhares contribuindo para a ampliação das possibilidades e construção de outros novos saberes. Refletindo sobre o processo de formação de professores, Tardif argumenta que se deve levar em conta o conhecimento do trabalho dos professores, seus saberes cotidianos. Tal postura desconstrói a idéia tradicional de que os professores são apenas transmissores de saberes produzidos por outros grupos. O autor convoca os educadores e os pesquisadores, o corpo docente e a comunidade científica a unir pesquisa e ensino. Sua proposta é que a pesquisa universitária pare de ver os professores de profissão como objetos de pesquisa e que passem a ser considerados como sujeitos do conhecimento, como colaboradores, como copesquisadores.
  • 2. Uma postura importante para as pesquisas a serem desenvolvidas pelas Universidades do Brasil, que possa valorizar os professores de profissão ao mesmo tempo que promova sua formação continuada, buscando a construção de conhecimentos e valorização de sua prática educativa; promova um repensar de caminhos engajados na realidade, conseqüentemente, um repensar da própria formação acadêmica. As escolas tornam-se,assim, lugares de formação, de inovação, de experiência e de desenvolvimento profissional, mas também, lugares de pesquisa e de reflexão crítica. Para Tardif, o saber docente é um saber plural, oriundo da formação profissional (o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores); de saberes disciplinares (saberes que correspondem ao diverso campo do conhecimento e emergem da tradição cultural); curriculares (programas escolares) e experienciais (do trabalho cotidiano). O que exige do professor capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condição para sua prática. A expressão utilizada por Tardif, „mobilização de saberes‟, transmite uma idéia de movimento, de construção, de constante renovação, de valorização de todos os saberes e não somente do cognitivo; revela a intenção da visão da totalidade do ser professor. Outro posicionamento importante de Tardif é de ser contra a idéia tradicional da relação teoria e prática: o saber está somente do lado da teoria, ao passo que a prática ou é desprovida de saber ou portadora de um falso saber baseado, por exemplo, em crenças, ideologias, idéias preconcebidas. O autor é contra a idéia que o saber é produzido fora da prática e, portanto, sua relação com a prática só pode ser uma relação de aplicação. Afirma que hoje, sabemos que aquilo que chamamos de “teoria”, de “saber” ou de “conhecimentos” só existe em um sistema de práticas e de atores que as produzem e as assumem. Isso representa a afirmação da idéia de que pelo trabalho o homem modifica a si mesmo, as suas relações e busca transformação de sua própria situação e a do coletivo a que pertence. Uma ressalva está no ensaio três, em que Tardif afirma que uma boa maneira de compreender a natureza do trabalho dos professores é compará-lo com o trabalho industrial e, ao fazê-lo, apresenta quadros comparativos que setorizam a explanação e não permite uma visão de totalidade, colocando o trabalho como técnica, como atividade instrumental, apresentando uma visão conteudística da formação, sem direção no trabalho docente e com tarefas de acordo com o surgimento de necessidade. A indústria avalia como medida e não se compara com o processo educativo.