O documento discute aspectos do período barroco no Brasil colonial, como a Contrarreforma e suas implicações literárias, características como o fusionismo e a consciência da transitoriedade da vida, e estilos como o cultismo e o conceptismo. Também apresenta breve biografia do poeta Gregório de Matos e traz um soneto seu que exemplifica a poesia metafísica do período.
2. BARROCO
marcos literários
1601 1768
Prosopopéia,
Bento
Teixeira
Obras,
Cláudio
Manuel
da
Costa
poema
épico
q
narra
feitos
heroicos
de
Jorge
de
livro
de
sonetos
à
moda
camoniana
Albuquerque
Coelho,
3º.
donatário
da
Capitania
perfeição
formal
e
temáHca
neoclássica
de
Pernambuco;
segue
modelo
camoniano
bucolismo
+
fugere
urbem
+
aurea
mediocritas
3. DISCUTINDO O CONCEITO DE BARROCO
faces poéticas de Gregório de Matos
etimologia
pérola
irregular
e
defeituosa
processos
confusos
de
raciocínio
perda
da
clareza
e
da
elegância
clássicas
o senso comum
para
o
senso
comum,
o
Barroco
está
associado
ao
que
é
bizarro,
confuso
ou
obscuro
a reabilitação
o
estudioso
alemão
Wölflin
reabilitou
o
termo,
que
passou
a
designar
um
Hpo
de
arte
moderna
4. A CONTRARREFORMA
e suas implicações na literatura barroca
século XVI
MarHnho
Lutero
protesta
contra
desvios-‐desmandos
dos
que
REFORMA
PROTESTANTE
professavam
a
doutrina
católica.
[a
Reforma
espalha-‐se
por
Alemanha,
França,
Reino
Unido
e
Holanda]
Defende-‐se
a
unidade
da
fé
e
a
disciplina
eclesiásHca.
Desdobramentos:
Inquisição,
[volta
do]
Tribunal
do
Santo
CONCÍLIO
DE
TRENTO
[1545]
O^cio
e
Index
librorum
prohibitorum.
A
Companhia
de
Jesus
difunde
e
aplica
os
ideais
contrarreformistas.
Autos
de
fé:
rituais
de
punição
aos
hereges,
que
eram
CLIMA
DE
TERROR
RELIGIOSO
queimados
em
praça
pública.
A
ação
da
Inquisição
aHngiu
principalmente
Bahia
e
Pernambuco.
Autores
como
Galileu,
Descartes
e
Newton
são
abolidos
do
ensino.
temas na literatura
fragilidade e efemeridade da existência contrição e consciência do pecado
dolorosa percepção do tempo e da efemeridade advertência contínua sobre a brevidade da vida
permanente inutilidade das glórias mundanas consciência de que o homem é mortal e limitado
5. O HOMEM BARROCO
dividido entre duas concepções de mundo
TEOCENTRISMO
MEDIEVAL
ANTROPOCENTRISMO
RENASCENTISTA
Deus
é
o
centro
e
a
medida
de
todas
as
coisas
o
homem
é
a
medida
de
todas
as
coisas
geocentrismo
heliocentrismo
conhecimento
restrito
à
Igreja
produção
e
difusão
de
conhecimento
valorização
dos
santos
e
márHres
caráter
clássico
consciência
da
transitoriedade
da
vida
volta
aos
padrões
culturais
greco-‐romanos
busca
da
salvação
da
alma
celebração
do
prazer
de
viver:
Carpe
diem
consequências
espiritualização
da
matéria
mistura
do
real
e
do
sobrenatural
fixação
de
estados
contraditórios
grande
volume
de
angteses
e
paradoxos
6. ESTILOS BARROCOS
literatura colonial
cultismo ou gongorismo conceptismo ou quevedismo
influência: Luiz de Gôngora influência: Francisco de Quevedo
requinte da forma sutileza das idéias
vocabulário raro raciocínios engenhosos
alusões mitológicas associações inesperadas
reiteração de metáforas alegorias, paradoxos
jogos de palavras jogos de idéias
uso excessivo de figuras de linguagem percepção íntima dos objetos
Essas
duas
tendências
se
completam
e,
não
raro,
coexistem
num
mesmo
texto
literário.
Gregório
de
Matos
usa,
em
geral,
o
culHsmo
em
sua
obra
literária;
por
vezes,
entretanto,
é
percepgvel
a
presença
do
concepHsmo.
7. CARACTERÍSTICAS
barroco
fusionismo
tentativa de conciliar [fundir] concepções conflitantes de mundo
consequências
espiritualização
da
matéria
mistura
do
real
e
do
sobrenatural
fixação
de
estados
contraditórios
grandes
volumes
de
angteses
e
paradoxos
8. CARACTERÍSTICAS
barroco
carpe diem
consciência
da
transitoriedade
da
vida
desejo
de
aproveitar
a
vida
intensamente
consequências
desengano
ante
as
limitações
humanas
preferência
pelo
grotesco
e
pelo
desarmonioso
uso
de
símbolos
de
visão
pessimista
[caveira]
consciência
da
instabilidade
da
vida
consciência
de
que
a
morte
é
inevitável
9. LINHAS TEMÁTICO-ESTILÍSTICAS
faces poéticas de Gregório de Matos
religiosidade tensa;
fusionismo;
jogos de opostos;
cultismo e conceptismo;
desconcerto do mundo;
carpe diem;
poesia paradoxalmente ligada ao cotidiano e ao sublime.
10. GREGÓRIO DE MATOS
aspectos biográficos
filho de proprietários rurais, sai do Brasil para estudar em Portugal na primeira metade do séc. XVII
na primeira metade do século XVII, o dinheiro está nas mãos dos produtores de cana-de-açúcar
na segunda metade do século XVII, o dinheiro está nas mãos dos comerciantes de cana-de-açúcar
ao voltar ao Brasil, tem sua posição econômica alterada, por isso faz oposição ao poder colonial
11. GREGÓRIO DE MATOS
aspectos estilísticos
a obra
POESIA LÍRICA POESIA METAFÍSICA POESIA SATÍRICA
molde
europeu
molde
europeu
caráter
brasileiro
caráter brasileiro
uso de termos indígenas, africanos e de baixo calão
crítica ao poder colonial estabelecido
boca do inferno
textos satíricos de cunho popular que circulam de boca em boca
atitude satírica ferina
13. PEQUEI, SENHOR, MAS...
Gregório de Matos
Pequei,
Senhor,
mas
não
porque
hei
pecado,
CARÁTER
CLÁSSICO
Da
vossa
piedade
me
despido,
Porque
quanto
mais
tenho
delinquido,
soneto
decassílabo
Vos
tenho
a
perdoar
mais
empenhado.
LIRISMO
METAFÍSICO
Se
basta
a
vos
irar
tanto
pecado,
consciência
do
pecado
A
abrandar-‐vos
sobeja
um
só
gemido,
Que
a
mesma
culpa
que
vos
há
ofendido,
intertextualidade
[Filho
pródigo]
Vos
tem
para
o
perdão
lisonjeado.
RELIGIOSIDADE
TENSA
Se
uma
ovelha
perdida,
e
já
cobrada
quanto
+
peca,
+
o
locutor
quer
ser
perdoado
Glória
tal,
e
prazer
tão
repenHno
Vos
deu,
como
afirmais
na
Sacra
História
afirma-‐se
que
Deus
se
compraz
no
pecado
Eu
sou,
Senhor,
a
ovelha
desgarrada
quanto
+
se
peca,
+
Deus
tem
que
perdoar
Cobrai-‐a,
e
não
queirais,
Pastor
Divino,
CONCEPTISMO
Perder
na
vossa
ovelha
a
vossa
glória.
14. CARREGADO DE MIM ANDO NO MUNDO
Gregório de Matos
Carregado
de
mim
ando
no
mundo,
CARÁTER
CLÁSSICO
E
o
grande
peso
embarga-‐me
as
passadas,
soneto
decassílabo
Que
como
ando
por
vias
desusadas,
Faço
o
peso
crescer,
e
vou-‐me
ao
fundo.
LIRISMO
METAFÍSICO
O
remédio
será
seguir
o
imundo
o
desconcerto
do
mundo
Caminho,
onde
dos
mais
vejo
as
pisadas,
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Que
as
bestas
andam
juntas
mais
ousadas,
Do
que
anda
só
o
engenho
mais
profundo.
temáHca
clássica
Não
é
fácil
viver
entre
os
insanos,
tom
elevado
Erra,
quem
presumir
que
sabe
tudo,
constatação
de
o
mundo
está
errado
Se
o
atalho
não
soube
dos
seus
danos.
buscar
a
verdade
é
inócuo
O
prudente
varão
há
de
ser
mudo,
Que
é
melhor
neste
mundo
o
mar
de
enganos
adesão
ao
erro:
postura
conservadora
Ser
louco
c’os
demais,
que
ser
sisudo.
CONCEPTISMO
15. NASCE O SOL, E NÃO DURA...
Gregório de Matos
Nasce
o
Sol,
e
não
dura
mais
que
um
dia,
CARÁTER
CLÁSSICO
Depois
da
Luz
se
segue
a
noite
escura,
Em
tristes
sombras
morre
a
formosura,
soneto
decassílabo
Em
congnuas
tristezas
a
alegria.
LIRISMO
METAFÍSICO
Porém,
se
acaba
o
Sol,
por
que
nascia?
constatação
de
que
tudo
é
transitório
Se
é
tão
formosa
a
Luz,
por
que
não
dura?
Como
a
beleza
assim
se
transfigura?
RECURSOS
ESTILÍSTICOS
Como
o
gosto
da
pena
assim
se
fia?
grande
volume
de
angteses
[estrofe
1]
Mas
no
Sol,
e
na
Luz
falte
a
firmeza,
jogos
de
interrogações
[estrofe
2]
Na
formosura
não
se
dê
constância,
E
na
alegria
sinta-‐se
tristeza.
grande
volume
de
metáforas
Começa
o
mundo
enfim
pela
ignorância,
paradoxo
[úlHmo
verso]
E
tem
qualquer
dos
bens
por
natureza
CULTISMO
E
CONCEPTISMO
A
firmeza
somente
na
inconstância.
16. O TODO SEM A PARTE NÃO É TODO...
Gregório de Matos
O
todo
sem
a
parte
não
é
todo,
A
parte
sem
o
todo
não
é
parte,
CARÁTER
CLÁSSICO
Mas
se
a
parte
o
faz
todo,
sendo
parte,
soneto
decassílabo
Não
se
diga
que
é
parte
sendo
todo.
LIRISMO
METAFÍSICO
[paradoxo]
Em
todo
o
Sacramento
está
Deus
todo,
E
todo
assiste
inteiro
em
qualquer
parte,
Deus
está
em
cada
parte
do
sacramento
E
feito
em
partes
todo
em
toda
a
parte
cada
uma
das
partes
é
Deus
Em
qualquer
parte
sempre
fica
o
todo.
POESIA
DE
CIRCUNSTÂNCIA
O
braço
de
Jesus
não
seja
parte,
Pois
que
feito
Jesus
em
partes
todo,
poema
feito
para
celebrar
o
fato
de
haverem
Assiste
cada
parte
em
sua
parte.
encontrado
um
braço
de
uma
imagem
de
Jesus
Não
se
sabendo
parte
deste
todo,
Cristo
que
desaparecera
de
uma
Igreja
na
Bahia
Um
braço,
que
lhe
acharam,
sendo
parte,
CONCEPTISMO
Nos
disse
as
partes
todas
deste
todo.
18. ANJO NO NOME, ANGÉLICA NA CARA!
Gregório de Matos
Anjo
no
nome,
Angélica
na
cara!
CARÁTER
CLÁSSICO
Isso
é
ser
flor,
e
Anjo
juntamente:
Ser
Angélica
flor,
e
Anjo
florente
soneto
decassílabo
Em
quem,
senão
em
vós,
se
uniformara?
LIRISMO
AMOROSO
Quem
vira
uma
tal
flor,
que
a
não
cortara,
celebração
da
beleza
da
amada
De
verde
pé,
da
rama
florescente?
A
quem
um
Anjo
vira
tão
luzente
JOGOS
DE
OPOSTOS
Que
por
seu
Deus
o
não
idolatrara?
flor:
metáfora
da
beleza
fugaz
da
mulher
Se
pois
como
Anjo
sois
dos
meus
altares,
anjo:
alusão
ao
caráter
celesHal
da
mulher
Fôreis
o
meu
custódio,
e
minha
guarda,
Livrara
eu
de
diabólicos
azares.
Sois
anjo,
que
me
tenta,
e
não
me
guarda
Mas
vejo
que
tão
bela,
e
tão
galharda,
a
mulher
possui
uma
beleza
paradoxal
Posto
que
os
Anjos
nunca
dão
pesares,
CONCEPTISMO
Sois
Anjo,
que
me
tenta,
e
não
me
guarda.
19. DISCRETA, E FORMOSÍSSIMA MARIA,
Gregório de Matos
Discreta,
e
formosíssima
Maria,
CARÁTER
CLÁSSICO
Enquanto
estamos
vendo
a
qualquer
hora
soneto
decassílabo
Em
tuas
faces
a
rosada
Aurora,
Em
teus
olhos,
e
boca
o
Sol,
e
o
dia:
LIRISMO
AMOROSO
Enquanto
com
genHl
descortesia
constatação
de
que
tudo
é
transitório
O
ar,
que
fresco
Adônis
te
namora,
convite
à
amada
para
aproveitar
a
vida
te
espalha
a
rica
trança
voadora,
Quando
vem
passear-‐te
pela
fria:
RECURSOS
ESTILÍSTICOS
Goza,
goza
da
flor
da
mocidade,
alusões
mitológicas
[estrofes
1
e
2]
Que
o
tempo
trota
a
toda
ligeireza,
uso
de
metáforas
[estrofes
1,
2,
3,
4]
E
imprime
em
toda
a
flor
sua
pisada.
gradação
[úlHmo
verso]
Oh
não
aguardes
que
a
madura
idade
te
converta
em
flor,
essa
beleza
aliteração
[terceira
estrofe]
Em
terra,
em
cinza,
em
pó,
em
sombra,
em
nada.
CULTISMO
20. RUBI, CONCHA DE PERLAS PEREGRINA
Gregório de Matos
Rubi,
concha
de
perlas
peregrina,
CARÁTER
CLÁSSICO
Animado
Cristal,
viva
escarlata.
Duas
Safiras
sobre
lisa
prata,
soneto
decassílabo
Ouro
encrespado
sobre
prata
fina.
LIRISMO
AMOROSO
Este
o
rosHnho
é
de
Caterina;
celebração
da
beleza
da
mulher
amada
E
porque
docemente
obriga,
e
mata,
Não
livra
o
ser
divina
em
ser
ingrata,
CONSTRUÇÃO
PARADOXAL
E
raio
a
raio
os
corações
fulmina.
três
primeiras
estrofes
Viu
Fábio
uma
tarde
transportado
[construção
de
um
retrato
idealizado
da
amada]
Bebendo
admirações
e
galhardias,
A
quem
já
tanto
amor
levantou
aras.
úlRma
estrofe
Disse
igualmente
amante,
e
magoado:
[desidealização:
cena
escatológica]
Ah,
muchacha
genHl,
que
tal
serias,
CULTISMO
Se
sendo
tão
formosa,
não
cagaras.
22. GREGÓRIO DE MATOS
aspectos estilísticos
a sátira
universo
colonial
brasileiro
língua
brasileira
vida cotidiana política costumes
políHca
críHca
aos
dirigentes
visa
à
moralização
economia
nobres
volta
à
ordem
anterior
críHca
social
e
de
costumes
governadores
e
clero
caráter
conservador
23. SE PICA-FLOR ME CHAMAIS
Gregório de Matos
Se
pica-‐flor
me
chamais,
Pica-‐flor
aceito
ser,
Mas
resta
agora
saber,
Se
no
nome
que
me
dais,
Meteis
a
flor,
que
guardais,
No
passarinho
melhor!
Se
me
dais
este
favor
Sendo
só
de
mim
o
Pica,
E
o
mais
vosso,
claro
fica,
Que
fico
então
Pica-‐flor.
MATOS,
Gregório
de.
Antologia.
Disponível
em:
hrp://manoelneves.com
POESIA
DE
CIRCUNSTÂNCIA
o
poema
é
fruto
de
uma
situação
específica
freira
teria
dito
que
o
poeta
parecia
um
pássaro
JOGOS
METAFÓRICOS
pica:
lança
[objeto
que
perfura]
flor:
símbolo
da
beleza
fugaz
e
da
feminilidade
pica-‐flor:
pássaro
[beija-‐flor]
CULTISMO
24. TRISTE BAHIA!
Gregório de Matos
Triste
Bahia!
Ó
quão
dessemelhante
CARÁTER
CLÁSSICO
Estás
e
estou
do
nosso
anHgo
estado!
soneto
decassílabo
Pobre
te
vejo
a
H,
tu
a
mi
empenhado,
Rica
te
vi
eu
já,
tu
a
mi
abundante.
LIRISMO
SOCIAL
A
H
trocou-‐te
a
máquina
mercante,
críHca
à
situação
social
do
locutor
e
da
Bahia
Que
em
tua
larga
barra
tem
entrado,
ASPECTOS
HISTÓRICOS
E
ESTILÍSTICOS
A
mim
foi-‐me
trocando,
e
tem
trocado,
Tanto
negócio
e
tanto
negociante.
jogo
especular
e
anHtéHco
[primeira
estrofe]
Deste
em
dar
tanto
açúcar
excelente
referência
ao
mercanHlismo
[estrofes
2
e
3]
Pelas
drogas
inúteis,
que
abelhuda
anagrama:
brichote
Simples
aceitas
do
sagaz
Brichote.
desejo
de
mudança
[úlHma
estrofe]
Oh
se
quisera
Deus
que
de
repente
Um
dia
amanheceras
tão
sisuda
metáforas
[estrofes
2
e
4]
Que
fora
de
algodão
o
teu
capote!
CULTISMO
25. NESTE MUNDO É MAIS RICO...
Gregório de Matos
Neste
mundo
é
mais
rico
o
que
mais
rapa:
CARÁTER
CLÁSSICO
Quem
mais
limpo
se
faz,
tem
mais
carepa;
soneto
decassílabo
Com
sua
língua,
ao
nobre
o
vil
decepa:
O
velhaco
maior
sempre
tem
capa.
LIRISMO
SOCIAL
Mostra
o
paHfe
da
nobreza
o
mapa:
o
locutor
demonstra
desprezo
pelos
novos
ricos
Quem
tem
mão
de
agarrar,
ligeiro
trepa;
ASPECTOS
HISTÓRICOS
E
ESTILÍSTICOS
Quem
menos
falar
pode,
mais
increpa:
Quem
dinheiro
Hver,
pode
ser
Papa.
jogos
paronomásHcos
[rimas]
A
flor
baixa
se
inculca
por
tulipa;
jogos
metafóricos
[estrofes
1,
2,
3,
4]
Bengala
hoje
na
mão,
ontem
garlopa,
jogos
aliteraHvos
[úlHma
estrofe]
Mais
isento
se
mostra
o
que
mais
chupa.
feismo
[úlHma
estrofe]
Para
a
tropa
do
trapo
vazo
a
tripa
E
mais
não
digo,
porque
a
Musa
topa
metalinguagem
[úlHma
estrofe]
Em
apa,
epa,
ipa,
opa,
upa.
CULTISMO
26. A CADA CANTO...
Gregório de Matos
A
cada
canto
um
grande
conselheiro
CARÁTER
CLÁSSICO
Que
nos
quer
governar
cabana
e
vinha;
soneto
decassílabo
Não
sabem
governar
sua
cozinha
E
podem
governar
o
mundo
inteiro.
LIRISMO
SOCIAL
Em
cada
porta
um
bem
frequente
olheiro
críHca
aos
governantes,
aos
que
dão
palpites
no
Que
a
vida
do
vizinho
e
da
vizinha
governo,
aos
fofoqueiros,
aos
velhacos,
aos
Pesquisa,
escuta,
espreita
e
esquadrinha
juros
altos
e
aos
ricos
[chamados
de
ladrões]
Para
o
levar
à
praça
e
ao
terreiro.
Muitos
mulatos
desavergonhados,
ASPECTOS
ESTILÍSTICOS
Trazidos
sob
os
pés
os
homens
nobres,
reforço
poéHco
[primeira
estrofe]
Posta
nas
palmas
toda
a
picardia,
linguagem
sagrica
direta
Estupendas
usuras
nos
mercados,
Todos
os
que
não
furtam
muito
pobres:
economia
de
metáforas
E
eis
aqui
a
cidade
da
Bahia.
RESSENTIMENTO
CONTRA
OS
RICOS
27. UM CALÇÃO DE PINDOBA A MEIA ZORRA
Gregório de Matos
Um
calção
de
pindoba
a
meia
zorra
Camisa
de
Urucu,
mantéu
de
Arara,
CARÁTER
CLÁSSICO
Em
lugar
de
cotó
arco,
e
taquara,
Penacho
de
Guarás
em
vez
de
gorra.
soneto
decassílabo
Furado
o
beiço,
e
sem
temor
que
morra,
LIRISMO
SOCIAL
O
pai,
que
lho
envazou
cuma
Htara,
críHca
à
nobreza
da
terra:
não
tem
sangue
azul
Senão
a
Mãe,
que
a
pedra
lhe
aplicara,
A
reprimir-‐lhe
o
sangue,
que
não
corra.
ASPECTOS
ESTILÍSTICOS
Animal
sem
razão,
bruto
sem
fé,
vocabulário
indígena
Sem
mais
Leis,
que
as
do
gosto,
quando
erra,
linguagem
sagrica
direta
De
Paiaiá
virou-‐se
em
Abaeté.
economia
de
metáforas
Não
sei,
onde
acabou,
ou
em
que
guerra,
Só
sei,
que
deste
Adão
de
Massapé,
RESSENTIMENTO
CONTRA
OS
RICOS
Procedem
os
fidalgos
desta
terra.
28. SENHOR ANTÃO DE SOUSA DE MENEZES
Gregório de Matos
Senhor
Antão
de
Sousa
de
Meneses,
Quem
sobe
a
alto
lugar,
que
não
merece,
CARÁTER
CLÁSSICO
Homem
sobe,
asno
vai,
burro
parece,
Que
o
subir
é
desgraça
muitas
vezes.
soneto
decassílabo
A
fortunilha
autora
de
entremezes
LIRISMO
SOCIAL
Transpõe
em
burro
o
Herói,
que
indigno
cresce
críHca
ao
mau
governante
Desanda
a
roda,
e
logo
o
homem
desce,
Que
é
discreta
a
fortuna
em
seus
reveses.
ASPECTOS
TEMÁTICOS
Homem
(sei
eu)
que
foi
Vossenhoria,
desconcerto
do
mundo
Quando
o
pisava
da
fortuna
a
Roda,
denúncia
dos
desmandos
do
Braço
de
Prata
Burro
foi
ao
subir
tão
alto
clima.
engajamento
social
Pois
vá
descendo
do
alto,
onde
jazia,
Verá,
quanto
melhor
se
lhe
acomoda
CULTISMO
Ser
home
em
baixo,
do
que
burro
em
cima.
29. SENHOR: OS NEGROS JUÍZES
Gregório de Matos
Senhor:
os
Negros
Juízes
da
Senhora
do
Rosário
fazem
por
uso
ordinário:
como
são
infelizes,
CARÁTER
POPULAR
que
por
seus
negros
pecados
andam
sempre
emascarados
versos
heptassílabos
contra
a
lei
da
polícia,
LIRISMO
SOCIAL
ante
Vossa
Senhoria
pedem
licença
prostrados.
críHca
ao
costume
dos
negros
de
tomar
bebida
A
um
General
Capitão
ASPECTOS
ESTILÍSTICOS
Suplica
a
Irmandade
preta,
poesia
de
circunstância
que
não
irão
de
careta,
linguagem
sagrica
direta
mas
descarados
irão:
todo
o
negregado
Irmão
economia
de
metáforas
desta
Irmandade
bendita
CARÁTER
CONSERVADOR
pede,
que
se
lhe
permita
ir
ao
alarde
enfrascados
não
de
pólvora
atacados,
[mas]
calcados
de
jeribita
.
30. JOGANDO PEDRO, E MARIA
Gregório de Matos
Jogando
Pedro,
e
Maria
Abrasado,
em
vivo
fogo
Picou
Pedro,
e
de
feição,
os
piques
sobre
a
merenda,
Pedro,
que
o
jogo
sabia,
que
a
Maria
fez
saltar:
vi
pois,
que
sobre
a
contenda
disse,
eu
te
pico,
Maria,
quis
ela
também
picar,
Maria
picar
queria:
porque
tu
me
piques
logo:
pois
que
assim
picado
a
hão:
ela,
que
a
Pedro
entendia
disse
ela,
pois
o
teu
fogo
picados
ambos
estão:
disse
então:
aqui-‐d’El-‐Rei
é
dos
melhores
que
achei,
diz
Maria
o
jogo
sei,
pica-‐me,
Pedro,
e
picar-‐te-‐ei.
pica-‐me,
Pedro,
e
picar-‐te-‐ei.
pica-‐me,
Pedro,
e
picar-‐te-‐ei.
Pedro,
que
já
se
enfadava,
de
picar,
queria
erguer-‐se;
Maria
quis
mais
deter-‐se,
porquanto
picada
estava:
disse,
ela,
que
então
gostava
do
jogo,
que
lhe
ensinei:
pica-‐me,
Pedro,
e
picar-‐te-‐ei.
POESIA
POPULAR
uso
do
heptassílabo
exploração
do
duplo
senHdo
laivos
de
medievalismo:
linguagem
e
temáHca
31. RECOMPILOU-SE O DIREITO
a sátira
Recopilou-‐se
o
direito,
Se
de
dous
ff
composta
Provo
a
conjetura
já
e
quem
o
recopilou
está
a
nossa
Bahia,
prontamente
com
um
brinco:
com
dous
ff
o
explicou
errada
a
ortografia
Bahia
tem
letras
cinco
por
estar
feito
e
bem
feito:
a
grande
dano
está
posta:
que
são
BAHIA,
por
bem
digesto
e
colheito,
eu
quero
fazer
aposta,
logo
ninguém
me
dirá
só
com
dous
ff
o
expõe,
e
quero
um
tostão
perder,
que
dous
ff
chega
a
ter
e
assim
quem
os
olhos
põe
que
isso
a
há
de
perverter,
pois
nenhum
contém
sequer,
no
trato,
que
aqui
se
encerra,
se
o
furtar
e
o
foder
bem
salvo
se
em
boa
verdade
há
de
dizer
que
esta
terra
não
são
os
ff
que
tem
são
os
ff
da
cidade
De
dous
ff
se
compõe.
Esta
cidade
a
meu
ver.
um
furtar,
outro
foder.
POESIA
POPULAR
uso
do
heptassílabo
críHca
social
ferina
A
LINGUAGEM
CHULA
choca
os
leitores
de
bom
gosto
rompe
com
o
senso
comum
[caráter
contestador]