Concepção e uso de recursos digitais da Web 2.0 em contexto educativo
1. CONCEÇÃO E UTILIZAÇÃO PEDAGÓGICA DE RECURSOS DIGITAIS CONCEBIDOS
COM FERRAMENTAS DA WEB 2.0 EM CONTEXTO EDUCATIVO
Santos, O. L. & Jorge. I.
AVE Barbosa du Bocage, Setúbal, Portugal
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal
Palavras-Chave: aprendizagem; práticas profissionais; recursos digitais; Web 2.0
Os alunos que hoje frequentam as nossas escolas nasceram na era digital, facto que lhes confere
características bem diferentes de todas as outras gerações que os antecederam.
A esta nova geração são atribuídas designações tais como “digital natives” (McLester, 2007), “Net
Generation” (Olbinger & Olbinger, 2005), “Millenials” (Pedró, 2006), “New Millennium Learners” (OECD,
2008), “Neomillennial Learners”(Baird & Fisher, 2006; Dede, 2005) ou “IM Generation” (Lenhart A.,
Rainie, L. & Lewis O., 2001), em que cada um dos termos foca aspetos diferentes do mesmo fenómeno.
Esta nova geração de alunos efetuam um grande volume de interações com a tecnologia, pensam e
processam a informação de forma bem diferente das gerações anteriores (Prensky 2001, 2006), pelo que o
uso de recursos digitais em sala de aula surge como uma estratégia pedagógica fundamental a desenvolver
por parte do professor, numa perspetiva de desenvolvimento de competências para o Séc. XXI, de motivação
e potenciação das aprendizagens por parte dos mesmos. No entanto, embora o uso de recursos digitais em
sala de aula seja fundamental como foi referido, mais importante ainda será a forma como os mesmos serão
usados.
Se forem utilizados numa perspetiva instrucionista, minimiza-se o potencial de construção ativa do
conhecimento, de internalização por parte dos estudantes, e de interação com a própria tecnologia e os
outros, incorrendo-se na perspetiva redutora de encarar as tecnologias como uma mera estratégia de melhoria
das práticas tradicionais, em que o potencial pedagógico que os recursos comportam se pode desperdiçar. Ao
invés, se for privilegiada uma abordagem construtivista, ou seja, uma abordagem que permita ao aluno
construir e interagir, essa conetividade entre recurso e abordagem pedagógica poderá trazer ganhos do ponto
de vista das aprendizagens dos estudantes. Nessa perspetiva, o aparecimento da Web 2.0 e de toda a
quantidade de ferramentas gratuitas atualmente ao dispor das pessoas em geral, neste caso particular dos
educadores, deu um forte impulso para que a construção de recursos digitais pudesse ser generalizada.
Assim, ferramentas de difusão, tais como os blogs e podcasts, de colaboração, tais como as Wiki, de
comunicação em rede, tais como o MySpace e o Facebook, de partilha multimédia, como o Flickr ou o
YouTube e os jogos sociais (por exemplo, o Second Life) são cada vez mais utilizadas. Para se ter uma noção
do crescimento do uso destas ferramentas, o tamanho da blogosfera duplicou em cada 5 a 7 meses nos
últimos anos e mais de 100.000 blogs são criados diariamente (Pascu, 2008). Em junho de 2006, 2,5 bilhões
de vídeos foram visualizados no YouTube e mais de 65.000 vídeos foram enviados diariamente. Desde a sua
criação, em 2001, a Wikipedia tem crescido rapidamente e é hoje um dos maiores sites de referência a nível
mundial, atraindo pelo menos 684 milhões visitantes por ano até 2008. Existem mais de 75.000 contribuintes
ativos, a trabalhar em mais de 10.000.000 artigos, em mais de 250 línguas.
43
2. Com todas estas novas formas que a Web 2.0 oferece de produzir e distribuir recursos e de os utilizar em
contextos educativos, torna-se evidente que os novos alunos, socializados em contextos tecnológicos ricos,
exige então novas estratégias pedagógicas e, concomitantemente, novos desafios aos seus professores (Davis
& Roblyer, 2005). Surgem então novas necessidades de formação para os professores, no sentido de
adquirirem conhecimento técnico para a conceção de recursos digitais, mas também a nível pedagógico para
a sua profícua utilização em sala de aula, em que sucesso da estratégia da sua utilização é mensurável pela
apropriação das aprendizagens efetuadas através desses recursos, por parte dos alunos.
Neste sentido, este trabalho teve por objetivo avaliar, entre outras dimensões, as perceções de 167 docentes
de 20 áreas didáticas diferentes, oriundos de 21 Agrupamentos de Escolas dos concelhos de Sesimbra,
Setúbal e Palmela, relativamente às competências adquiridas que conduzissem a uma alteração das suas
práticas profissionais, após a frequência de uma ação de formação online realizada no contexto da formação
contínua de professores.
A ação de formação creditada com o título “Conhecimento Distribuído com a Web 2.0” foi realizada pelo
Centro de Formação Ordem de Santiago em regime de blended learning e teve por objetivo a criação de
materiais didáticos em formato digital por parte dos formandos, para organização e partilha de informação e
criação de conhecimento de autoformação, por parte dos docentes.
Procurou-se desenvolver competências na seleção, avaliação e organização de recursos educativos digitais
para atividades de educação e formação, fundamentar a tomada de decisão relativa à integração curricular de
diversas ferramentas de organização, partilha e colaboração e refletir sobre as potencialidades e
constrangimentos do uso de recursos digitais dentro de cada área específica.
O facto de a formação ter uma forte componente online (41 em 50 horas) possibilitou também a criação de
comunidades virtuais de aprendizagem, em que grupos de professores da mesma área didática construíram
colaborativamente recursos para utilizar em sala de aula (por exemplo, um site).
No final da ação, foi aplicado um questionário de avaliação, entre outras, da dimensão colaborativa, bem
como um relatório individual de reflexão, elementos esses que constituem a base do estudo que aqui se
apresenta.
Os resultados obtidos revelam que os docentes têm perceções bastante positivas sobre a aplicabilidade e
utilidade dos conhecimentos adquiridos na formação, na sua prática letiva. Outro fator significativo deste
estudo reside no facto de os docentes se sentirem reconhecidos na comunidade escolar pela inovação das
suas práticas em sala de aula.
44
3. Referências
Baird, D. E. & Fisher, M. (2006). Neomillennial User Experience Design Strategies: Utilizing Social Networking Media
to Support ‘Always On’ Learning Style“, Journal of Educational Technology Systems 34 (2006), pp 5-32.
Davis, N. E., & Roblyer,M. D. (2005). Preparing teachers for the “schools that technology built”: Evaluation of a
program to train teachers for virtual schooling. Journal of Research on Technology in Education, 37(4), 399−408.
Dede, C.. (2005). Planning for Neomillennial Learning Styles. Educause Quarterly 28 (1), 7-12; available em
http://www.educause.edu/pub/eq/eqm05/eqm0511.asp.
Lenhart, A., Rainie, L., & Lewis, O. (2001) Teenage Life Online: The Rise of Instant-Message Generation and the
Internet’s Impact on Friendship and Family Relationships, Washington, DC: Pew Internet and American Life Project.
McLester, S. (2007). “Technology Literacy and the MySpace Generation: They’re Not Asking Permission“,
Technology & Learning, 27 (2007), 16-22.
Oblinger, D. G. & James L (2005). Educating the Net Generation. Educause e-books, 2005.
http://www.educause.edu/ir/library/pdf/pub7101.pdf.
OECD (2008). New Millennium Learners. Initial findings on the effect of digital technologies em schoolage learners.
http://www.oecd.org/dataoecd/39/51/40554230.pdf.
Pascu, C. (2008). An Empirical Analysis of the Creation, Use and Adoption of Social Computing Applications. IPTS
Exploratory Research on Social Computing. JRC Scientific and Technical Reports, EUR 23415 EN,
http://ftp.jrc.es/EURdoc/JRC46431.pdf.
Pedró, F. (2006). The new Millennium Learners: Challenging our Views on ICT and Learning. OECD-CERI, 2006,
http://www.oecd.org/dataoecd/1/1/38358359.pdf.
Prensky, M. (2001). Digital Natives, digital Immigrants: a new way to look at ourselves and our kids. em the horizon, 9,
5, 1-6.
Prensky, M. (2006). Listen to the Natives. Educational Leadership, 64, 4, 8-13.
45