- O texto discute a ressurreição de Jesus a partir do Evangelho de João, mostrando como o amor gera a fé na ressurreição através de Maria Madalena e dos discípulos.
- A primeira leitura fala sobre como a fé em Cristo ressuscitado gera o testemunho cristão de anunciar o que Jesus fez.
- A segunda leitura explica que os cristãos, pelo batismo, já participam da vida de Cristo ressuscitado, mas precisam viver de acordo com os valores do Reino de Deus.
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
A fé na ressurreição gera o testemunho cristão
1. O AMOR GERA A FÉ, A FÉ GERA O TESTEMUNHO
BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A, B e C – TEMPO LITÚRGICO: DOMINGO DA PÁSCOA – COR: BRANCO
I. INTRODUÇÃO GERAL ma: "Tiraram o Senhor do túmulo e não sabemos onde o
colocaram" (v. 2b).
1. Anseios de vida nova, busca de um sentido para a
própria existência, medo da morte enquanto fracasso, b. Os dois discípulos: Corre mais quem ama mais (vv.
esperança do amor que tudo renova… tudo isso encontra 3-8)
sua razão de ser na ressurreição de Jesus (Evangelho, Jo
20,1-9). Ela é o dinamismo que impulsiona a vida e ação 6. Também os dois discípulos representam a comuni-
dos que se comprometem com Cristo, de modo que se dade que não assimilou a morte de Jesus. O evangelista
atue hoje a prática de Jesus de Nazaré (1ª leitura, At dá a entender que a comunidade tinha se dispersado (cf.
10,34a.37-43). Essa prática exige discernimento, desa- 16,32). Por isso Maria Madalena encontra os dois a sós.
pego, para que o cristão, ressuscitado com Cristo no A intenção de João é bem clara: a comunidade não sub-
Batismo, caminhe para a plena realização (2ª leitura, Cl siste sem a vivência da fé em Cristo ressuscitado.
3,1-4). A ressurreição de Jesus é demonstração de como 7. Os dois discípulos são Simão Pedro e "aquele que
pode ser plena a vida de todos os cidadãos que se empe- Jesus amava". Eles saem correndo em direção ao túmulo.
nham em transformar nossa sociedade desigual. É uma verdadeira maratona. Quem corre mais? Quem
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS chega em primeiro lugar? Certamente não é quem está
em melhores condições físicas, e sim aquele que tem as
Evangelho (Jo 20,1-9): O amor gera a fé autênticas disposições em correr. Em outros termos,
quem ama corre mais e chega primeiro. De fato, o "outro
2. O texto é um ensino sobre a ressurreição de Jesus, discípulo" não traz nome, mas um apelido: "aquele que
própria da comunidade em que nasceu o IV Evangelho. Jesus amava" (v. 2). Foi esse discípulo quem esteve per-
Com esse trecho, visa-se responder à pergunta: com que to de Jesus por ocasião do julgamento e da morte. Com
disposições deve o cristão encarar o túmulo vazio do isso, João mostra quais são as disposições do cristão em
domingo da Páscoa? Serão ainda necessários "sinais" relação à morte de Jesus. Mas isso não é tudo.
que suscitem a fé em Jesus? De fato, o trecho cita sete
vezes a palavra túmulo. É uma insistência martelante que 8. O discípulo amado chega antes. "Abaixando-se, ele
provoca tomadas de posição. O texto pode ser dividido viu os panos de linho estendidos, mas não entrou" (v. 5).
em três pequenas cenas: a. Maria Madalena junto ao Ele percebe que há sinais de vida, mas ainda não alcança
túmulo e com os discípulos (vv. 1-2); b. Os dois discípu- a plena compreensão do que aconteceu. Os panos de
los junto ao túmulo (vv. 3-8); c. Explicação da increduli- linho (e os perfumes) podem ser uma tênue referência à
dade (v. 9). cama nupcial: para João e para o discípulo amado que
vê, o túmulo não é o lugar da morte, e sim do encontro
a. Maria Madalena: A comunidade que ainda não assi- do Senhor da vida com sua esposa, a comunidade.
milou a morte de Jesus (vv. 1-2)
9. Chega Simão Pedro. O fato de deixar que Pedro
3. A cena inicia com uma indicação de tempo, que não entre antes no túmulo é, da parte do discípulo amado, um
é mera datação formal: "No primeiro dia da semana". gesto de reconciliação e de amor, gesto que repete o de
Nesse primeiro dia da semana (domingo), iniciou-se a Jesus. O discípulo amado não se considera superior a
nova criação nascida da morte e ressurreição de Jesus. Pedro pelo fato de ter estado perto de Jesus nas horas de
4. Maria Madalena é figura simbólica. Representa a abandono, disposto a morrer com ele. Pedro entrou no
comunidade sem a perspectiva da fé, incapaz de assimi- túmulo, "viu os panos de linho estendidos, e o lenço que
lar a morte de Jesus. Ela é figura representativa de todos tinha estado sobre a cabeça de Jesus não estava com os
os que pensam que o túmulo seja o lugar do fracasso do panos de linho estendidos, mas estava dobrado num lu-
projeto de Deus. No v. 2 ela fala na primeira pessoa do gar à parte" (vv. 6b-7). A descrição da cena quer de-
plural ("não sabemos"), denotando que é figura represen- monstrar claramente que não houve violação de sepulcro
tativa de um todo. Já é de madrugada (nasceu o novo nem roubo de cadáver, pois os ladrões não se teriam
dia), mas para ela ainda é trevas. As trevas representam preocupado em dobrar o sudário.
o "mundo", a negação da vida, que não aderiu a Jesus 10. Aconteceu algo de inaudito que só o discípulo que
(1,5; 3,19; 6,17; 12,35). O gesto de Maria indo ao túmu- ama é capaz de descobrir e tornar objeto de sua fé (v. 8):
lo sintetiza as buscas da comunidade cristã, ansiosa de Jesus não continuava prisioneiro das malhas da morte.
vida e amor, mas que às vezes os procura em lugar erra- Ele estava vivo. (Comparar a cena com a ressurreição de
do. Lázaro, 11,44: "Desatai-o e deixai-o ir embora".)
5. Diante da pedra rolada ela pensa em roubo de cadá- c. Explicação da incredulidade (v. 9)
ver. Para ela, a morte havia interrompido a vida, para
sempre. E o relato que faz aos dois discípulos o confir- 11. Pedro é figura representativa da comunidade que
ainda não fez o salto de qualidade para passar da dúvida
2. à fé. Por isso o evangelista lembra um texto da Escritura tem seu fundamento no mandato de Jesus (v.
que diz: "Os teus mortos tornarão a viver, os teus cadá- 42a; cf. Mt 28,19-20; Mc 16,15; Lc 24,47-48).
veres ressurgirão… Porque Javé está para sair do seu
domicílio" (Is 26,19.21a). • O conteúdo do testemunho cristão é o anúncio
de que Jesus é o juiz dos vivos e dos mortos, ou
1ª leitura (At 10,34a.37-43): A fé em Cristo ressuscita- seja, ele é o critério para sabermos se uma ação,
do gera o testemunho como a de Pedro, vem de Deus ou não (v. 42b).
12. No plano de Lucas, os Atos dos Apóstolos são a • Cumpre-se assim o que foi anunciado pelos pro-
continuação do evangelho do mesmo autor. Neste, ele fetas, isto é, Jesus é a realização cabal do projeto
relatou o caminho de Jesus; nos Atos, apresenta o cami- de Deus. Quem adere a ele, pela fé, recebe o
nho da Igreja que procura reproduzir as palavras e ações perdão dos pecados e passa a fazer parte do seu
do Cristo. A caminhada da Igreja é, portanto, o prolon- povo (v. 43).
gamento da prática do Filho de Deus.
2ª leitura (Cl 3,1-4): Viver a ressurreição entre o já e o
13. Em At 10 temos uma situação histórica nova para a ainda não
Igreja: a do contato com os gentios. O contato com os
pagãos era proibido pela legislação judaica. Quem con- 16. Paulo escreveu aos cristãos de Colossas provavel-
vivesse com eles tornava-se impuro. mente quando estava preso em Éfeso (anos 55-57) para
corrigir algumas teorias que admitiam uma série de seres
14. Simão Pedro é o primeiro a romper esse esquema celestes, intermediários entre Deus e as pessoas. Esses
elitista, salientando o modo de ser Igreja. De fato, ele seres celestes comandariam o ritmo do universo, com-
está hospedado em casa de um curtidor de peles de nome prometendo assim a supremacia de Cristo.
Simão (pura coincidência de nomes, ou sinal de identifi-
cação com os marginalizados?). Os curtidores de peles 17. A carta aos Colossenses tem duas partes. A primei-
eram tidos como pessoas impuras por parte dos judeus. ra, além do endereço, saudação, ação de graças e súplica
Devia-se evitar o contato com tais pessoas. (1,1-14), é de caráter doutrinal e expositivo. É nela que
Paulo combate os erros infiltrados na comunidade (1,15-
15. Cornélio, militar romano, vivia em Cesaréia, nos 2,23). A segunda parte é de caráter prático e exortativo,
confins do território judaico. Ele manda chamar Simão na qual o Apóstolo move os cristãos a serem coerentes
Pedro para que vá à sua casa. Pedro, portanto, leva a com o nome que trazem (3,1-4,1), seguida de notícias
comunidade cristã para fora do território judaico. No seu pessoais e saudações finais (4,2-18).
discurso na casa de Cornélio, salienta os seguintes pon-
tos: 18. O cristão, pelo batismo, condivide a sorte de Cristo
morto e ressuscitado (2,12). Cristo ressuscitado está à
• Deus não faz distinção de pessoas. O novo povo direita de Deus, ou seja, é o Senhor universal (cf. Sl
de Deus não está ligado a uma raça ou nação. O 110). O cristão já participa dessa vida nova de Cristo,
critério para ser povo de Deus é temê-lo e prati- mas ainda não plenamente, porque está neste mundo. A
car a justiça (v. 34). Isso encontra seu fundamen- tarefa do cristão é pensar e procurar as coisas do alto.
to na ação de Jesus de Nazaré, ao qual Deus un- Em outras palavras, trata-se de discernir o que é confor-
giu com o Espírito Santo e com poder. A ação de me ou não ao projeto de Deus, ao qual o cristão está
Jesus é sintetizada nas seguintes palavras: "Ele associado pelo batismo. Paulo contrapõe as coisas do
andou por toda parte, fazendo o bem e curando alto às coisas da terra para alertar o cristão não avisado
todos os que estavam dominados pelo demônio" do perigo que pode correr, levando uma vida ambígua
(v. 38). que não manifeste o Cristo ressuscitado. O cristão já
participa da vida de Cristo, mas o que ele deve fazer
• A função da comunidade cristã é ser testemunha: concretamente ainda não é claro e exige discernimento
anunciar e praticar o que Jesus fez (note-se que a constante, até que Cristo, pela prática dos cristãos, se
palavra testemunhar aparece quatro vezes: vv. manifeste definitivamente, levando as pessoas à plena
39.40.42.43). A função da comunidade cristã comunhão com ele.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
19. O amor gera a fé na ressurreição de Cristo. Comunidade sem fé não é comunidade cristã (evan-
gelho, Jo 20,1-9). O que significa ser discípulo amado em nossos dias? Como testemunhar a ressur-
reição de Cristo em meio a uma sociedade marcada por sinais de morte e opressão?
20. A fé em Cristo ressuscitado suscita o testemunho. Ser cristão é fazer o que Jesus fez (1ª leitura,
At 10,34a.37-43). Nossas comunidades têm a coragem de Pedro "que se hospeda na casa de um im-
puro e convive com ele"?
21. O cristão vive na tensão entre o já pertencer a Cristo e o ainda não estar com ele definitivamente
(2ª leitura, Cl 3,1-4). Daí nasce a práxis para um mundo melhor.