SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
Baixar para ler offline
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 1
Europa, periferias e desastres periféricos
Sumário
1 – Elementos de enquadramento de um capitalismo subalterno
2 - Continuada quebra da parcela dos rendimentos do trabalho
3 - Cenários de evolução na geopolítica
a) Desagregação da UE e/ou da zona euro
b)Exclusão de um Estado da UE e/ou da zona euro
c) Uma saída portuguesa voluntária da UE/zona euro
++++++++++==++++++++++
1 – Elementos de enquadramento de um capitalismo subalterno
Historicamente, Portugal nunca teve um capitalismo empreendedor, moderno e isso
confirma-se hoje, sobretudo depois da safra privatizadora final1
, imposta pela troika e
do subsequente desabar do já pequeno sector financeiro detido por portugueses. Após
essa forçada “internacionalização” do tecido económico, na aplicação das sempre
nebulosas e inacabadas “medidas estruturais”,
1 - acentua-se a dependência do empresariato sobrante, face aos apoios públicos e aos
fundos comunitários, nos quais o cumprimento de requisitos (vistoriados pela UE) é
agora mais exigente do que nas décadas de 80 e 90, quando se observou um insano
e improdutivo uso desses fundos, através da utilização do favor político e da
corrupção, no seio do costumeiro conluio entre o empresariato luso e a classe
política;
1
A inicial desenvolveu-se sobretudo no tempo do cavaquismo, por um acordo entre Cavaco e Constâncio, magnos chefes das duas
alas que enformam o partido-estado, o PSD e o PS, respetivamente.
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 2
2 – fixa-se ainda mais a dedicação a atividades pouco exigentes de qualificação, com
trabalhadores atomizados, com baixos salários, vínculos precários e ausência de
direitos, beneficiando de um aparelho sindical anémico, dependente da concertação
social para ter visibilidade, após a saída de cena das negociações coletivas, como
imposto pelo neoliberalismo desde a sua aplicação prática.
Quanto mais fundo é o fosso, mais difícil e exigente é o esforço da saída.
Como a Inglaterra foi vetada de entrar na CEE inicial, surgiu, sob a sua batuta a EFTA,
onde Portugal se integrou, naturalmente. Em 1972, na iminência da adesão inglesa à
CEE, Portugal celebrou um acordo com esta última, dado o peso das relações
comerciais com a Inglaterra e a Dinamarca. A integração portuguesa na CEE alterou
fortemente o padrão das relações comerciais que se vieram a polarizar em Espanha e na
Alemanha, para além das áreas que vieram a preencher essa integração, como os
fundos comunitários, a moeda única, etc; isso, porém, sempre no contexto de
desigualdades políticas e económicas estruturais, antigas, geridas pela oligarquia
bruxelense, em consonância com os lobbies que a utilizam, bem como dos governos
dos principais países que veiculam os interesses dos seus campeões nacionais.
A estreita e economicista visão existente nas altas esferas de Bruxelas, comungada pelas
oligarquias nacionais, baseia-se em quatro pontos essenciais:
1 – Existe uma grande preocupação em salvar os “mercados financeiros” como
instrumentos de criação acelerada de capital-dinheiro o qual, jamais se dirige para o
investimento produtivo, a não ser de forma temporária e destrutiva protagonizada
por fundos abutres. Essa acumulação de capital-dinheiro exige o engrossar de
cascatas de dívida, que capturam pessoas e estados para o seu pagamento,
sabendo-se que uma crise financeira acabará por destruir esse capital mutuado, por
não haver capacidade de, alguma vez, ser reembolsado; mesmo admitindo que isso
terá algum pingo de legitimidade a qual só somente existe nas dívidas constituídas
para incremento do bem-estar dos povos.
A preocupação com a salvaguarda dos interesses do capital financeiro, especulativo
e parasita é tal que as dificuldades dos bancos são colmatadas parcialmente com o
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 3
dinheiro dos impostos, dos estados nacionais (ver caso português2
), num género de
socialização de perdas; isto só é possível porque a democracia está capturada pelos
funcionários do sistema financeiro e das multinacionais e daí que os povos não o
tenham podido evitar, no actual contexto não-democrático. E isso é ainda mais ínvio
porque esse onerar das contas públicas dos estados nacionais não se coaduna com
o caráter global do sistema financeiro; este, dedica-se, através das classes políticas, a
repartir essas perdas pelos estados que, para este efeito, são individualizados. No
caso da UE, há um BCE que em vez de assumir as suas funções de gestor e
abastecedor do sistema financeiro (parcialmente) comunitário – admitindo que este
exista – endossa as dificuldades dos bancos para os locais onde têm as suas sedes.
2 – Sublinha-se o esforço exportador como salvação para a atividade económica, com
todas as forças e medidas colocadas nesse sentido, dando-se como certo que
existem sempre países ou economias onde esse esforço é complementado por uma
grande propensão importadora e que, no conjunto, assim se equilibra a economia
global. Admite-se, por axioma, que o mercado é tanto mais eficiente quanto mais
alargado e concorrencial, embora a existência de monopólios, preços manipulados e
adulteração da qualidade negue essa crença (veja-se o recente caso da indústria
automóvel). As fortes discrepâncias nas condições de trabalho, de equipamento e
formação de lucros, nos factores de contexto, bem como a interferência do sistema
financeiro, ou das imposições políticas, demonstram que a eficiência do mercado é
uma ficção. Na realidade, todos procuram exportar, exportar sem curarem de
entender que isso exige que alguém importe, importe… Uma lógica meridianamente
sem futuro, doentia, com efeitos desastrosos no ambiente, que induz luta
desenfreada por recursos e mercados, desequilíbrios comerciais e financeiros,
colmatados por dívida e países ou camadas sociais ricas a par de outros em
regressão e pobreza.
3 – Para se exportar, exige-se competitividade e esta, não vem privilegiando aumentos
de produtividade resultantes de inovação tecnológica mas, sobretudo, poupanças
nos custos do trabalho. Essas poupanças desenrolam-se de várias formas;
deslocalizando a produção de componentes para áreas do globo onde os salários
2
€ 14367.7 M com o BPN, o Banif e a CGD a que se deverão acrescentar os danos do BES mau e do BES menos mau (conf Visão 7/2/2017)
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 4
são mais baixos, onde os direitos ambientais não são respeitados, onde as jornadas
de trabalho são mais longas e os direitos laborais ignorados. Esta aposta em baixos
custos do trabalho, por sua vez, resulta da baixa combatividade inerente à alta
desorganização dos trabalhadores, incapazes não só de fortes contestações a nível
nacional como, sobretudo, de se concertarem internacionalmente, ultrapassando os
quadros nacionais, acompanhando a internacionalização do capital com a sua
própria internacionalização.
Nesse contexto, exige-se a cada indivíduo que seja competitivo, que se esforce mais
e mais, que se encha de empreendedorismo e se torne um empresário em nome
individual – assim considerado pelo poder, pela administração fiscal, pela segurança
social – o que disfarça uma situação real de trabalho precário e dependente, perante
a qual os capitalistas não assumem qualquer obrigação ou responsabilidade.
Como em todos os países essa lógica prepondera, o custo efetivo do trabalho baixa
por unidade de tempo e por unidade de valor criada, aumentando, por
consequência, o quinhão que é repartido pelo capitalista, pelo sistema financeiro
que o financia, pelo Estado predador que exerce a punção fiscal e constrói a
arquitetura regulatória e repressiva. Esse rebaixamento do preço do trabalho
coexiste com milhões de desempregados, com pessoas com dois ou três empregos,
numa verdadeira escravatura; e relaciona-se com a sobrevalorização das fronteiras
para que se gerem bolsas de imigrados, sem-papéis que, pelos níveis de salário e de
marginalidade contribuem para o rebaixamento global do preço do trabalho. De
facto, essa é a função oculta dos nacionalistas, sobrevalorizar a importância das
fronteiras para fornecer trabalho barato aos capitalistas.
4 – A esta arquitetura económica que se tornou obrigatória e cuja recusa provoca
acusações de irrealismo ou esquerdismo, junta-se também outra evidência,
obviamente inscrita nas estrelas como destino final da Humanidade – a chamada
democracia representativa; que admite muitas nuances, que aceita todas as
configurações práticas, desde que haja eleições e parlamento, não se cuidando de
muitos outros aspectos que de facto, negam a democracia e a representação.
Por um lado, multiplicam-se as estruturas globais ou regionais de caráter supra-
estatal, de enquadramento das profundas desigualdades entre os estados
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 5
componentes e que a “velha” ONU ou o FMI bem cedo sedimentaram. Noutras
situações, assumem particular importância corpos de funcionários, burocracias,
hierarquizadas como são todas as burocracias, consoante o peso político ou
económico do estado membro de onde provêm, sem prejuízo da sua própria
criatividade, como será o caso da UE e da Comissão Europeia em particular.
Essas estruturas multiplicam-se e fazem parte de um processo aglutinador que vai
esvaziando de funções os estados-nação, mormente pequenos e médios cuja
soberania, nos tempos atuais, nada tem de semelhante à dos tempos das fronteiras,
bem demarcadas e guardadas, com forças armadas, moeda, oligarquias económicas
próprias, hino e bandeira. Um processo que acompanha a globalização histórica,
que é perturbada, enviezada pelo capitalismo e que tende a diluir os orgulhos
patrióticos e excludentes do Outro, num processo lento que não vai evitando os
lepenismos de várias latitudes.
Essas estruturas emitem, no caso concreto da UE, bulas para aplicação pelas classes
políticas nacionais, que sobrevivem do mesmo modelo, gerindo o pote e encenando
uma “democracia” para manter os povos serenos, na esperança de que os amanhãs
cantarão. Essa ladainha visa manter a normalidade dos negócios para o que é
essencial, povos desabituados de contestar mas viciados em obedecer, que vão
acreditando em próximas eleições, dentro de sistemas políticos corruptos, onde vão
emergindo verdadeiros idiotas como Hollande ou Passos e entes com vocação de
verdugos fascistas como LePen, Farage, Wilders, Orban, Netanyahou, Erdogan, etc;
para além dos que acumulam ambas as caraterísticas, como Trump.
Nesse contexto, as democracias ditas representativas tendem a ser mero espetáculo,
com regulares romarias eleitorais para a alternância de papéis entre os vários grupos
de atores pertencentes a uma mesma oligarquia, estratificada, fechada e
conservadora. Esta situação é colocada como fazendo parte da natureza das coisas,
como a sucessão entre dia e noite e que se pretende seja aceite sem grandes
reservas pela multidão das vítimas da disfuncionalidade do modelo de
representação e da ausência de real democracia.
Na realidade, todos os sistemas económicos estabelecem regimes políticos que
capeiam e procuram legitimar o funcionamento das relações sociais e de produção
grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 6
que favorecem uns poucos e depreciam ou oprimem a maioria. O esclavagismo
garantia mão-de-obra aos senhores da terra, com um rei ou imperador no topo da
ação política que funcionava como um legitimador de última instância, a quem
competia a continuidade da ordem estabelecida e o cumprimento das leis
convenientes para os donos da terra. Com a diluição dos poderes monárquicos ou
imperatoriais o escravo passou a servo, de igual modo ligado à terra cuja posse
cabia a um dito nobre; exigia-se que tivesse o “empreendedorismo” necessário para
a exploração da terra que pertencia ao senhor que, como renda, cobrava uma parte
da produção ou tempo de serviço militar, inerente ao seu direito de suserania. Com
o capitalismo, o dono dos meios de produção – indivíduo, empresa ou Estado - seja
terra, equipamentos ou dinheiro, contrata quem de facto produz os bens ou
serviços, pagando à peça ou por tempo de trabalho, uma parte do valor produzido;
sem outro vínculo que não o selado pela troca de esforço de trabalho por salário,
nomeadamente nos tempos recentes de precariedade extensiva e vulgarizada. O
capitalismo, para impor esta norma, equipou-se com um enorme Estado, dotado de
formas de coação brutais e diversificadas – tribunais, polícias, tropa, ação legislativa
e regulamentadora, punção fiscal, produção ideológica, recolha extensiva de
informação para o controlo biopolítico de cada indivíduo, tudo embrulhado sob o
rótulo de democracia. Uma democracia em que tudo o que não é proibido, é
obrigatório.
2 - Continuada quebra da parcela dos rendimentos do trabalho
Vejamos o que se passou nos últimos anos (2004/16) com a evolução do PIB e do
volume das remunerações dos assalariados, para os dois principais países da UE e da
zona euro e, de todos os da periferia Sul que, com a Irlanda, estiveram sob o fogo da
troika ou das preocupações e imposições das instituições da UE, com a intervenção na
política económica protagonizada pela Comissão Europeia, BCE, Eurogrupo,
nomeadamente, para além do FMI (nos casos de Chipre, Grécia, Irlanda e Portugal).
Nessa evolução, há ganhadores e perdedores, não só no âmbito de cada país mas,
também na relação entre trabalhadores e capitalistas.
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 7
A evolução observada para as remunerações comparada com a do PIB é muito
diversificada, no quadro da UE, revelando as desigualdades existentes e aprofundadas
por políticas únicas, saídas do armário neoliberal e que são aplicadas para realidades
distintas; mostram a falta de instrumentos que colmatem ou minimizem as
desigualdades existentes, que remontam a tempos muito anteriores à crise financeira
que se revelou em 2008.
a) A Alemanha e a França, passado o sobressalto de 2009, no seguimento da crise
financeira de 2008 continuam o crescimento regular do PIB e das remunerações, mais
acentuado na primeira. Na Alemanha o PIB cresce mais do que as remunerações até
2012, havendo paralelismo daí em diante; quanto à França esse paralelismo regista-se
até 2008 passando depois as remunerações a ter um dinamismo superior ao do PIB;
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 8
b) A Irlanda é o primeiro país dos escolhidos a revelar quebra na evolução do PIB, em
2008, ao contrário dos outros, que revelam o eclodir da crise em 2009. No entanto, a
evolução das remunerações manteve-se sempre num plano mais elevado o que
deixou de se verificar em 2015, por razões muito anormais; é que o registo no país de
algumas multinacionais, para beneficiarem das vantagens fiscais, empolou de modo
absurdo o PIB;
c) A Grécia e a Irlanda revelam, uma evolução mais favorável ou menos desfavorável
para as remunerações, comparativamente ao PIB, excepto nos últimos anos. No caso
de Chipre e da Itália essa situação verifica-se em todo o período e apesar da
intervenção da troika no caso do primeiro onde, por outro lado, se evidencia o
crescimento mais elevado do PIB até 2011, pouco antes da crise que levou à
intervenção e ao bail-out do seu sistema financeiro;
d) Espanha apresenta situações de paralelismo na evolução do PIB e das remunerações
excepto no período 2008/11, quando as últimas têm uma dinâmica superior. A partir
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 9
de 2013, sanado o sistema financeiro, a evolução do PIB processa-se quase em total
concordância com a das remunerações a despeito do elevado nível de desemprego;
e) A evolução das remunerações é, em geral mais favorável ou menos desfavorável que
a observada para o PIB, ainda que com períodos de particular paralelismo nos casos
da Alemanha, da Espanha e da França;
f) Alemanha e Portugal mostram um predomínio de situações em que o PIB cresce mais
do que as remunerações, com um realce para o segundo, onde a perda de relevância
das remunerações face ao PIB é uma constante há mais de uma década, acentuando-
se bastante com a intervenção da troika. A disparidade na evolução do conjunto das
remunerações e o PIB mantém-se no período posterior, não se evidenciando
impactos da mudança de governo e do envolvimento da “esquerda” no seu apoio;
g) Sobressai a situação da Grécia, o único caso em que os níveis do PIB e das
remunerações se situam, nos últimos anos, claramente aquém do verificado no ano
base, 2004.
Neste conjunto diversificado de situações pretendemos situar alguns aspetos sobre a
realidade portuguesa.
a) Portugal, sendo o país mais pobre da Europa Ocidental, onde os rendimentos e os
perfis educativos são os mais baixos, revela uma continuada perda de representação
das remunerações no produto global, tomando como base o ano de 2004. E, entre
todos os países considerados, o crescimento do PIB só se mostra inferior ao português
no extremo caso grego e na Itália onde os níveis de vida são bastante superiores aos
portugueses. No entanto, nesses dois países a evolução das remunerações mostra-se,
em regra, acima da registada para o PIB.
b)Em Portugal, os níveis de dívida pública e privada são, em parte, resultantes dos crimes
que envolveram o sistema bancário, pejado de malparado e descapitalizado e cujo
processo se arrasta no tempo, contrastando com o que se passou em Espanha ou na
Irlanda, por exemplo, como resultado da conivência da administração do Banco de
Portugal (ligada ao PSD) com os banqueiros a quem competiria fiscalizar; uma situação
que também se verificou, anos antes, com o BPN, quando a gestão do banco central
era encabeçada por Vítor Constâncio, muito tolerante com aquele gang constituído
por altas figuras do PSD e que, no seguimento, foi brindado com uma vice-presidência
do BCE.
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 10
c) O sistema político, oligárquico e estagnado, bloqueia a evolução social e encarrega-se
de destruir qualquer foco de contestação social ou laboral o que reflete e amplia um
caso de periferização no plano europeu e ibérico, a que escapam apenas os que
podem emigrar, os promotores imobiliários ou hoteleiros (enquanto durar a moda) e
os que parasitam o erário público recolhendo prebendas e subsídios.
3 - Cenários de evolução na geopolítica
No capítulo das hipóteses de evolução no enquadramento geopolítico de um país como
Portugal, há três cenários básicos que, naturalmente, poderão ser desenvolvidos através
de sub-hipóteses, nas quais não entraremos. São cenários pouco simpáticos porque nada
há de promissor no actual contexto de capitalismo com os seus típicos gestores políticos;
precisa-se sim, de uma União dos Povos Europeus, democrática e solidária, com
capitalistas e classes políticas no baú da História.
a) Desagregação da UE e/ou da zona euro
A UE desagrega-se e cada país europeu trata de si, num contexto de retorno às
rivalidades, históricas ou mais recentes, com um regresso das fronteiras, das moedas
nacionais, das barreiras alfandegárias, dos conflitos militares, no que seria um
verdadeiro caos; que os EUA através da Nato e do dólar se encarregariam de gerir,
repartindo com a Rússia as respetivas zonas de influência, como em 1945.
Voltar-se-ia às restrições na circulação de pessoas e de bens, inevitáveis com o
aumento das já grandes disparidades no quadro europeu, com maior repressão nas
fronteiras e acrescido contrabando? Isso constitui a grande bandeira de nacionalistas
de direita ou ditos de esquerda; todos, defensores de um estado forte e de mão
pesada sobre estrangeiros e dissidentes.
Essa desagregação, com o regresso aos velhos e autárcicos estados-nação,
representaria maior severidade na repressão do trabalho, através dos sindicatos e da
inflação, para que os capitalistas nacionais se tornassem competitivos face aos dos
países vizinhos.
Neste caso, para Portugal, tendo em conta as relações externas consolidadas – capitais
estrangeiros, comércio exterior – isso significaria uma situação de apêndice periférico
da Espanha ou de plataforma logística dos EUA para o controlo do Atlântico Norte,
com um regime fascizante mesmo que adornado com eleições; um cenário excelente
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 11
para a emigração e a desertificação. A breve construção da Rota da Seda, da China até
Roterdão estabelece um eixo estruturante das relações euro-asiáticas, acentuando o
caráter periférico da Península e sobretudo de Portugal, num contexto de
desagregação da UE.
b)Exclusão de um Estado da UE e/ou da zona euro3
Num cenário de alta probabilidade - o de uma UE em reequacionamento - podemos
referir a imagem de um navio com fissuras no casco, onde se exige seja alijada carga
para manter uma deriva sem que o navio naufrague. Que países poderão constituir
essa carga a mandar pela borda fora?
Ainda que por vontade própria, a saída da Grã-Bretanha da UE vai ser um excelente
caso prático para se medirem os efeitos desse tipo de decisão que, mesmo no caso de
um país com o poder e a riqueza da Grã-Bretanha, não se preveem muito favoráveis
ao mesmo; em termos económicos, financeiros e de política interna. Farage, o grande
construtor do Brexit, satisfeito na sua verve xenófoba e de saudosista do império, logo
se colocou de fora da gestão dos efeitos, para mais tarde poder vir a apontar o dedo
para o que correr mal. O Brexit e a gestão dos dossiers que enformarão o divórcio
serão também úteis para a oligarquia bruxelense afinar práticas e condicionalismos
que dificultem tentações de saída para outros estados-membros (por exemplo, a
Polónia ou a Hungria, com governos fascizantes).
Conforme dito por Juncker no seu recente Livro Branco, admitem-se velocidades várias
para os países, no capítulo da integração económica e política, o que mais não é do
que a admissão como natural de uma hierarquia entre os países da UE, uns mais
centrais, outros mais periféricos; ou a consolidação como naturais, das desigualdades
enormes que se verificam entre os 27+1 membros da UE. Trata-se de uma forma mais
clara de admitir vários níveis de integração concertada entre países avulsos – a
cooperação reforçada, já prevista no Tratado de Lisboa, artº 20º - que apenas obriga
os interessados, sem que os outros sejam obrigados a participar ou a cumprir. Uma
Europa que sela com conformismo e naturalidade as crescentes desigualdades, o
crescente caráter autoritário das oligarquias nacionais ou comunitárias, devotos da
3
Os tratados que configuram a UE não contemplam a possibilidade de saída da zona euro (o sistema financeiro não aprecia turbulência
na área monetária) mas, certamente que a criatividade dos burocratas encontraria uma solução, quanto mais não seja à la carte.
Admitem uma saída da UE, através do recurso ao tão falado artº 50 que se vai aplicar à Grã-Bretanha, sendo previsíveis muitas
dificuldades para o país; as naturais, as causadas pelos burocratas de Bruxelas e a de uma eventual independência da Escócia
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 12
religião neoliberal que perseguem os objetivos ditados pelo misterioso “mercado”,
pela boca das agências de rating, tais como a redução do deficit público, o
endividamento público insustentável e as ditas reformas estruturais que, em regra, se
prendem com o “mercado de trabalho”. Todas as decisões essenciais são monitoradas
pelo sistema financeiro e pelas multinacionais e daí nada conduz a uma Europa
construída por povos solidários.
Os tratados e a legislação comunitária são construídos na base de vagos princípios
aprovados com pompa e circunstância mas, o seu detalhe revela que ao seu conteúdo
se podem atribuir diferentes leituras, para permitir a discricionariedade que tanto
agrada às classes políticas. Neste contexto, será de estranhar que os países mais ricos e
mais integrados, do Norte e Centro da Europa decidam que há uns quantos países
incapazes de manter uma velocidade desejável, de gerar deficits públicos evanescentes
ou dívidas sustentáveis e que prejudicam o conjunto? E se esses membros forem
periféricos, pobres e sem grande relevância no conjunto, como a Grécia ou Portugal,
como já foi aventado por diversas vezes?
No caso português, um empurrão para a saída da UE ou do euro teria efeitos
devastadores que, sucintamente, abordaremos em seguida.
c) Uma saída portuguesa voluntária da UE/zona euro
Consideramos que os efeitos de um empurrão Portugal para fora da UE por parte de
Bruxelas seriam muito semelhantes aos de uma saída voluntária, como protagonizada
pela Grã-Bretanha. No entanto, numa saída voluntária é possível escolher o momento
adequado, em função de uma conjuntura interna e no enquadramento externo
particularmente favoráveis, embora não consigamos antever que fatores poderiam
conduzir a que essa opção fosse vantajosa.
Em Portugal a despolitização é enorme, como consequência de o povo ter sido
mandado ficar casa, no dia 25 de Abril de 1974 quando o fascismo foi abatido –
quando não obedeceu – e no dia 25 de novembro do ano seguinte, quando um golpe
militar estabeleceu a “ordem”, restaurando o habitual poder coercivo do Estado.
Depois disso, a despolitização vem resultando da própria Constituição – repleta de
incumprimentos - que afunila toda a ação política nos partidos, para além de injeções
mediáticas de vulgaridade e intriga onde a análise é circunscrita ao que os partidos e
alguns colunáveis dizem. Nas escolas, mormente na universidade, é imensa a
despolitização que resulta da cultura do empreendedorismo, do economicismo,
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 13
gerando nos jovens um grau zero de contestação. Ora, se os jovens não contestam,
uma sociedade inteira fica socialmente petrificada, reduzida às funções animais, ao
apego ao futebol, às quatro horas diárias de vacuidade televisiva ou nas chamadas
“redes sociais”.
Entrar na CEE estava subjacente aos intuitos dos militares que derrubaram o fascismo e
tornou-se uma premência logo que terminou a turbulência social em 1975. Sabia-se
que não seria fácil estar afastado dos países de destino da exportação e onde residiam
centenas de milhares de emigrantes, cujas remessas colmatavam parte substantiva do
deficit externo. E, apesar de alguma ajuda inicial dos países ricos da Europa, até à
entrada formal na UE, em 1986, a má situação social, económica e financeira, originou
a duas intervenções do FMI (1977 e 1983) e várias formas pouco profícuas de
experimentalismo político.
A crise de 1983 só foi debelada com a chegada de fundos comunitários, de pré-adesão
a que se seguiu a entrada estatutária dos fundos estruturais que, por falta de
monitorização adequada foram, em grande parte, cair nos bolsos de uma vasta
camada de corruptos da classe política transformados em empresários e gestores ou
de capitalistas financiadores da classe política.
A partir daí, mantém-se a crónica má situação das contas públicas que, por acordo
PSD/PS, deveriam ter sido sanadas com as privatizações, o que não aconteceu, mesmo
depois da sua efetivação, em duas levas: nos anos 90 e recentemente por ordem da
troika. O aparelho de estado mantém-se até hoje enorme, ineficaz, caro; mas é o
grande viabilizador de negócios privados em diversas áreas e obras discutíveis, através
de parcerias, adjudicações, aquisições, contratos.
Hoje, a situação é mais grave porque já pouco há para privatizar e a dívida pública tem
um peso enorme, jamais poderá ser paga, custando mais de € 800 de juros a cada
residente no país, por ano; e se não fosse a inclusão no euro e o quantitative easing do
Draghi o serviço de dívida seria muito mais caro.
Se já hoje, a competitividade portuguesa se baseia no baixo salário, quanto seria
necessário rebaixar os preços do trabalho, reduzir o nível de vida dos residentes para
que a produção continuasse a engorda dos capitalistas e o parasitismo da classe
política, como gestora do sobredimensionado aparelho de estado? Rebaixar o preço
real do trabalho através da inflação tem o mesmo impacto na vida de cada um do que
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 14
a desvalorização interna, através de cortes e de punção fiscal, como é aplicável na UE
atual, mormente na zona euro, onde a desvalorização da moeda não tem cabimento.
O fim dos fundos comunitários teria efeitos altamente lesivos no nível global de
investimento e na dimensão das entradas de capitais. A exclusão afastaria o
investimento estrangeiro que hoje, se dirige a Portugal – e não é muito - devido à sua
integração na UE. Recorde-se que, nos anos 90, com a desagregação da antiga zona de
suserania soviética e mais tarde com a inclusão dos países da Europa de Leste na UE -
com vantagens de situação geográfica, nos preços do trabalho e com níveis de
qualificação superiores aos portugueses – Portugal perdeu o estatuto de região mais
pobre da UE, nunca mais tendo os níveis de prosperidade que se evidenciaram durante
os primeiros anos de inclusão na então CEE.
Por outro lado, a desinserção de uma área globalizada colocaria dificuldades aos
emigrantes já instalados nos restantes países da UE, como se pode verificar pelos
receios e a instabilidade que o Brexit vem colocando nos imigrantes comunitários na
Grã-Bretanha ou no estatuto dos britânicos nos países da UE; e que constitui um dos
pontos fortes em discussão depois do recurso ao artº 50 do Tratado de Lisboa, por
parte de Theresa May. E que dificuldades seriam colocadas a portugueses, como não-
comunitários, para emigrarem para a remanescente UE?
Uma moeda própria seria objeto das regulares desvalorizações inerentes a
desequilíbrios financeiros ou como estratégia de embaratecer os bens exportados e
ganhar competitividade; o que, numa economia muito dependente da importação
(matérias-primas, bens de equipamento, energia, sobretudo) levaria a elevados níveis
de inflação. Esta, por seu turno, traduzir-se-ia em pressão dos trabalhadores para a
reposição do poder de compra, com a óbvia oposição do empresariato, dos governos
e a compreensão – quiçá repressiva - dos burocratas sindicais. O contrabando voltaria
em grande escala criando uma circulação paralela de moeda forte que discriminaria
quem à mesma não tivesse acesso, enquanto a subfacturação ou a sobrefaturação
seriam vulgares, com a fuga de capitais para o exterior. O acesso ao crédito externo
seria muito mais dificultado e a dívida externa do Estado ou das empresas valorizar-se-
ia em função da queda do poder aquisitivo da moeda nacional, aumentando as
dificuldades inerentes ao seu reembolso e às taxas de juro exigidas… Num país pobre,
o Estado - sem pressões para a sua racionalidade - tenderia a aumentar a sua
influência como burocracia, como primordial e seguro pasto para a classe política e
suas clientelas; com as sequelas habituais em termos de carga fiscal.
grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 15
Se Portugal decidisse ficar de fora da UE, que futuro seria o de um país ainda mais
pobre e desestruturado, com o perfil educativo mais baixo da Europa, isolado dentro
da sua natural e histórica área geográfica de inserção e com várias barreiras nas suas
relações dentro dessa área? O futuro, seria ficar inserido, de modo (ainda mais)
subalterno numa zona ibérica, como área pobre e periférica; passar de uma obediência
a Bruxelas para uma situação de integração numa Espanha centralizada em Madrid,
num mesmo quadro de subalternidade, capitalista e oligárquica, seria uma alternativa
interessante? Muitos percebem esses perigos excepto os iluminados admiradores da
Le Pen que usam linguagens de “esquerda” e que ignoram a inevitabilidade da
globalização bem como o fim do prazo de validade dos estados-nação, como
concebidos no século XVII.
O que importa é o bem-estar das pessoas, a nacionalidade é um adereço que serve
para discriminar uns em favor de outros, para dividir as pessoas, com ganhos que
sempre se dirigem para os bolsos dos capitalistas, cujos interesses materiais há muito
os colocam nas tintas para as pátrias. Há muito que se diz “o capital não tem pátria”;
está do lado que mais rende e incute ao povo o sentimento patriótico e o
empolgamento face ao hino nacional. Ainda recentemente, na campanha eleitoral
francesa, Mélenchon, tal como Marine Le Pen, discursavam às massas tendo como
pano de fundo bandeiras nacionais a drapejar.
Acresce que o descontentamento popular na Europa é contido nas instituições da
democracia de mercado, ocupadas por mandarins da classe política que, nos pleitos
eleitorais, simulam alternativas para que os distraídos ou os idiotas escolham; sabendo
todos de que nada há a escolher e que nada de substantivo se irá alterar no final do
campeonato eleitoral. A nível laboral, os sindicatos tornaram-se, há décadas,
instituições burocráticas que mais parecem constituir repartições do Estado, com os
seus quadros a funcionar em simbiose com a classe política e o empresariato.
Perante tantas dificuldades e fora de um enquadramento político global que exige as
parcas democracias de mercado, não seria estranho que os regimes políticos nos
países excluídos resvalassem para um autoritarismo nacionalista com um cheiro
fascista.
Outros documentos em:
http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
https://pt.scribd.com/uploads

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

O volátil domínio da riqueza financeira
O volátil domínio da riqueza financeiraO volátil domínio da riqueza financeira
O volátil domínio da riqueza financeiraGRAZIA TANTA
 
Rendimentos familiares e desigualdades na europa
Rendimentos familiares e desigualdades na europaRendimentos familiares e desigualdades na europa
Rendimentos familiares e desigualdades na europaGRAZIA TANTA
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...GRAZIA TANTA
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política GRAZIA TANTA
 
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaOs desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaGRAZIA TANTA
 
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...A. Rui Teixeira Santos
 
Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)
 Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012) Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)
Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)A. Rui Teixeira Santos
 
As crises da economia capitalista em portugal
As crises da economia capitalista em portugalAs crises da economia capitalista em portugal
As crises da economia capitalista em portugalPedro Abreu Peixoto
 
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...GRAZIA TANTA
 
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de SalvadorConversa Afiada
 
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbCarta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbMarcelo Bancalero
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-GRAZIA TANTA
 
A obra suja do passos
A obra suja do passosA obra suja do passos
A obra suja do passosGRAZIA TANTA
 
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...GRAZIA TANTA
 
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaO Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaGRAZIA TANTA
 
Capital nacional e capital estrangeiro
Capital nacional e capital estrangeiroCapital nacional e capital estrangeiro
Capital nacional e capital estrangeiroCésar Pereira
 

Mais procurados (20)

O volátil domínio da riqueza financeira
O volátil domínio da riqueza financeiraO volátil domínio da riqueza financeira
O volátil domínio da riqueza financeira
 
Rendimentos familiares e desigualdades na europa
Rendimentos familiares e desigualdades na europaRendimentos familiares e desigualdades na europa
Rendimentos familiares e desigualdades na europa
 
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...A longa marcha das desigualdades – 3   Portugal, desastre periférico  e pasto...
A longa marcha das desigualdades – 3 Portugal, desastre periférico e pasto...
 
O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política O Estado e a mediação política
O Estado e a mediação política
 
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerdaOs desafios actuais e as insuficiências à esquerda
Os desafios actuais e as insuficiências à esquerda
 
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...
O estado isonómico e o declínio das políticas públicas, Prof. Doutor Rui Teix...
 
Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)
 Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012) Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)
Á procura dos culpados da crise (draft) prof doutor Rui Teixeira Santos (2012)
 
As crises da economia capitalista em portugal
As crises da economia capitalista em portugalAs crises da economia capitalista em portugal
As crises da economia capitalista em portugal
 
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...
Estratégia para um sistema de segurança social favorável à multidão de trabal...
 
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
 
Mais Europa
Mais EuropaMais Europa
Mais Europa
 
Piketty
PikettyPiketty
Piketty
 
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbCarta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
 
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-Quando a dívida aumenta a democracia encolhe  1-
Quando a dívida aumenta a democracia encolhe 1-
 
A obra suja do passos
A obra suja do passosA obra suja do passos
A obra suja do passos
 
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...
A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaqu...
 
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vidaO Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
O Pib, o Imi e outros modos de mercantilização da vida
 
Finisterra ee 2009
Finisterra ee 2009Finisterra ee 2009
Finisterra ee 2009
 
Capital nacional e capital estrangeiro
Capital nacional e capital estrangeiroCapital nacional e capital estrangeiro
Capital nacional e capital estrangeiro
 
Reis (2000) cap 13
Reis (2000) cap 13Reis (2000) cap 13
Reis (2000) cap 13
 

Semelhante a Europa, periferias e desastres periféricos

Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGRAZIA TANTA
 
Porque não é pagável a dívida pública portuguesa
Porque não é pagável a dívida pública portuguesaPorque não é pagável a dívida pública portuguesa
Porque não é pagável a dívida pública portuguesaGRAZIA TANTA
 
A não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoA não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoGRAZIA TANTA
 
3 D deficits, dívida, desigualdades
3 D   deficits, dívida, desigualdades3 D   deficits, dívida, desigualdades
3 D deficits, dívida, desigualdadesGRAZIA TANTA
 
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoGRAZIA TANTA
 
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempoGRAZIA TANTA
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoGRAZIA TANTA
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 2
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    2Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    2
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 2GRAZIA TANTA
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaGRAZIA TANTA
 
O salariado na europa (1)
O salariado na europa (1)O salariado na europa (1)
O salariado na europa (1)GRAZIA TANTA
 
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atual
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atualO sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atual
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atualGRAZIA TANTA
 
A burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quêA burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quêGRAZIA TANTA
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3GRAZIA TANTA
 
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407   portugal deve sair do euro. sim ou não -11407   portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1GRAZIA TANTA
 
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?GRAZIA TANTA
 
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamol
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamolDívida pública – cancro não se trata com paracetamol
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamolGRAZIA TANTA
 
E.j.a provas globalização
E.j.a provas globalizaçãoE.j.a provas globalização
E.j.a provas globalizaçãoMarciano Vieira
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
Capitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma lutaCapitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma lutaGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 

Semelhante a Europa, periferias e desastres periféricos (20)

Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
 
Porque não é pagável a dívida pública portuguesa
Porque não é pagável a dívida pública portuguesaPorque não é pagável a dívida pública portuguesa
Porque não é pagável a dívida pública portuguesa
 
A não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoA não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudo
 
3 D deficits, dívida, desigualdades
3 D   deficits, dívida, desigualdades3 D   deficits, dívida, desigualdades
3 D deficits, dívida, desigualdades
 
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercadoDecrescimento, capitalismo e democracia de mercado
Decrescimento, capitalismo e democracia de mercado
 
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
 
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e políticoO pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
O pec – programa de empobrecimento colectivo e o bloqueio económico e político
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 2
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    2Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    2
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 2
 
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à soltaUnião dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
União dos Povos da Europa ou o nacionalismo à solta
 
O salariado na europa (1)
O salariado na europa (1)O salariado na europa (1)
O salariado na europa (1)
 
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atual
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atualO sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atual
O sistema financeiro como elemento dominante no capitalismo atual
 
A burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quêA burguesia portuguesa serve para quê
A burguesia portuguesa serve para quê
 
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida    3
Como o sistema financeiro captura a humanidade através da dívida 3
 
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407   portugal deve sair do euro. sim ou não -11407   portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
 
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?
Se falta uma politica de habitação onde está a justificação para o IMI ?
 
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamol
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamolDívida pública – cancro não se trata com paracetamol
Dívida pública – cancro não se trata com paracetamol
 
E.j.a provas globalização
E.j.a provas globalizaçãoE.j.a provas globalização
E.j.a provas globalização
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
Capitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma lutaCapitalistas e estado, a mesma luta
Capitalistas e estado, a mesma luta
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 

Mais de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaGRAZIA TANTA
 

Mais de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 
As canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à soltaAs canecas de guiness e os co pos à solta
As canecas de guiness e os co pos à solta
 

Europa, periferias e desastres periféricos

  • 1. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 1 Europa, periferias e desastres periféricos Sumário 1 – Elementos de enquadramento de um capitalismo subalterno 2 - Continuada quebra da parcela dos rendimentos do trabalho 3 - Cenários de evolução na geopolítica a) Desagregação da UE e/ou da zona euro b)Exclusão de um Estado da UE e/ou da zona euro c) Uma saída portuguesa voluntária da UE/zona euro ++++++++++==++++++++++ 1 – Elementos de enquadramento de um capitalismo subalterno Historicamente, Portugal nunca teve um capitalismo empreendedor, moderno e isso confirma-se hoje, sobretudo depois da safra privatizadora final1 , imposta pela troika e do subsequente desabar do já pequeno sector financeiro detido por portugueses. Após essa forçada “internacionalização” do tecido económico, na aplicação das sempre nebulosas e inacabadas “medidas estruturais”, 1 - acentua-se a dependência do empresariato sobrante, face aos apoios públicos e aos fundos comunitários, nos quais o cumprimento de requisitos (vistoriados pela UE) é agora mais exigente do que nas décadas de 80 e 90, quando se observou um insano e improdutivo uso desses fundos, através da utilização do favor político e da corrupção, no seio do costumeiro conluio entre o empresariato luso e a classe política; 1 A inicial desenvolveu-se sobretudo no tempo do cavaquismo, por um acordo entre Cavaco e Constâncio, magnos chefes das duas alas que enformam o partido-estado, o PSD e o PS, respetivamente.
  • 2. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 2 2 – fixa-se ainda mais a dedicação a atividades pouco exigentes de qualificação, com trabalhadores atomizados, com baixos salários, vínculos precários e ausência de direitos, beneficiando de um aparelho sindical anémico, dependente da concertação social para ter visibilidade, após a saída de cena das negociações coletivas, como imposto pelo neoliberalismo desde a sua aplicação prática. Quanto mais fundo é o fosso, mais difícil e exigente é o esforço da saída. Como a Inglaterra foi vetada de entrar na CEE inicial, surgiu, sob a sua batuta a EFTA, onde Portugal se integrou, naturalmente. Em 1972, na iminência da adesão inglesa à CEE, Portugal celebrou um acordo com esta última, dado o peso das relações comerciais com a Inglaterra e a Dinamarca. A integração portuguesa na CEE alterou fortemente o padrão das relações comerciais que se vieram a polarizar em Espanha e na Alemanha, para além das áreas que vieram a preencher essa integração, como os fundos comunitários, a moeda única, etc; isso, porém, sempre no contexto de desigualdades políticas e económicas estruturais, antigas, geridas pela oligarquia bruxelense, em consonância com os lobbies que a utilizam, bem como dos governos dos principais países que veiculam os interesses dos seus campeões nacionais. A estreita e economicista visão existente nas altas esferas de Bruxelas, comungada pelas oligarquias nacionais, baseia-se em quatro pontos essenciais: 1 – Existe uma grande preocupação em salvar os “mercados financeiros” como instrumentos de criação acelerada de capital-dinheiro o qual, jamais se dirige para o investimento produtivo, a não ser de forma temporária e destrutiva protagonizada por fundos abutres. Essa acumulação de capital-dinheiro exige o engrossar de cascatas de dívida, que capturam pessoas e estados para o seu pagamento, sabendo-se que uma crise financeira acabará por destruir esse capital mutuado, por não haver capacidade de, alguma vez, ser reembolsado; mesmo admitindo que isso terá algum pingo de legitimidade a qual só somente existe nas dívidas constituídas para incremento do bem-estar dos povos. A preocupação com a salvaguarda dos interesses do capital financeiro, especulativo e parasita é tal que as dificuldades dos bancos são colmatadas parcialmente com o
  • 3. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 3 dinheiro dos impostos, dos estados nacionais (ver caso português2 ), num género de socialização de perdas; isto só é possível porque a democracia está capturada pelos funcionários do sistema financeiro e das multinacionais e daí que os povos não o tenham podido evitar, no actual contexto não-democrático. E isso é ainda mais ínvio porque esse onerar das contas públicas dos estados nacionais não se coaduna com o caráter global do sistema financeiro; este, dedica-se, através das classes políticas, a repartir essas perdas pelos estados que, para este efeito, são individualizados. No caso da UE, há um BCE que em vez de assumir as suas funções de gestor e abastecedor do sistema financeiro (parcialmente) comunitário – admitindo que este exista – endossa as dificuldades dos bancos para os locais onde têm as suas sedes. 2 – Sublinha-se o esforço exportador como salvação para a atividade económica, com todas as forças e medidas colocadas nesse sentido, dando-se como certo que existem sempre países ou economias onde esse esforço é complementado por uma grande propensão importadora e que, no conjunto, assim se equilibra a economia global. Admite-se, por axioma, que o mercado é tanto mais eficiente quanto mais alargado e concorrencial, embora a existência de monopólios, preços manipulados e adulteração da qualidade negue essa crença (veja-se o recente caso da indústria automóvel). As fortes discrepâncias nas condições de trabalho, de equipamento e formação de lucros, nos factores de contexto, bem como a interferência do sistema financeiro, ou das imposições políticas, demonstram que a eficiência do mercado é uma ficção. Na realidade, todos procuram exportar, exportar sem curarem de entender que isso exige que alguém importe, importe… Uma lógica meridianamente sem futuro, doentia, com efeitos desastrosos no ambiente, que induz luta desenfreada por recursos e mercados, desequilíbrios comerciais e financeiros, colmatados por dívida e países ou camadas sociais ricas a par de outros em regressão e pobreza. 3 – Para se exportar, exige-se competitividade e esta, não vem privilegiando aumentos de produtividade resultantes de inovação tecnológica mas, sobretudo, poupanças nos custos do trabalho. Essas poupanças desenrolam-se de várias formas; deslocalizando a produção de componentes para áreas do globo onde os salários 2 € 14367.7 M com o BPN, o Banif e a CGD a que se deverão acrescentar os danos do BES mau e do BES menos mau (conf Visão 7/2/2017)
  • 4. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 4 são mais baixos, onde os direitos ambientais não são respeitados, onde as jornadas de trabalho são mais longas e os direitos laborais ignorados. Esta aposta em baixos custos do trabalho, por sua vez, resulta da baixa combatividade inerente à alta desorganização dos trabalhadores, incapazes não só de fortes contestações a nível nacional como, sobretudo, de se concertarem internacionalmente, ultrapassando os quadros nacionais, acompanhando a internacionalização do capital com a sua própria internacionalização. Nesse contexto, exige-se a cada indivíduo que seja competitivo, que se esforce mais e mais, que se encha de empreendedorismo e se torne um empresário em nome individual – assim considerado pelo poder, pela administração fiscal, pela segurança social – o que disfarça uma situação real de trabalho precário e dependente, perante a qual os capitalistas não assumem qualquer obrigação ou responsabilidade. Como em todos os países essa lógica prepondera, o custo efetivo do trabalho baixa por unidade de tempo e por unidade de valor criada, aumentando, por consequência, o quinhão que é repartido pelo capitalista, pelo sistema financeiro que o financia, pelo Estado predador que exerce a punção fiscal e constrói a arquitetura regulatória e repressiva. Esse rebaixamento do preço do trabalho coexiste com milhões de desempregados, com pessoas com dois ou três empregos, numa verdadeira escravatura; e relaciona-se com a sobrevalorização das fronteiras para que se gerem bolsas de imigrados, sem-papéis que, pelos níveis de salário e de marginalidade contribuem para o rebaixamento global do preço do trabalho. De facto, essa é a função oculta dos nacionalistas, sobrevalorizar a importância das fronteiras para fornecer trabalho barato aos capitalistas. 4 – A esta arquitetura económica que se tornou obrigatória e cuja recusa provoca acusações de irrealismo ou esquerdismo, junta-se também outra evidência, obviamente inscrita nas estrelas como destino final da Humanidade – a chamada democracia representativa; que admite muitas nuances, que aceita todas as configurações práticas, desde que haja eleições e parlamento, não se cuidando de muitos outros aspectos que de facto, negam a democracia e a representação. Por um lado, multiplicam-se as estruturas globais ou regionais de caráter supra- estatal, de enquadramento das profundas desigualdades entre os estados
  • 5. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 5 componentes e que a “velha” ONU ou o FMI bem cedo sedimentaram. Noutras situações, assumem particular importância corpos de funcionários, burocracias, hierarquizadas como são todas as burocracias, consoante o peso político ou económico do estado membro de onde provêm, sem prejuízo da sua própria criatividade, como será o caso da UE e da Comissão Europeia em particular. Essas estruturas multiplicam-se e fazem parte de um processo aglutinador que vai esvaziando de funções os estados-nação, mormente pequenos e médios cuja soberania, nos tempos atuais, nada tem de semelhante à dos tempos das fronteiras, bem demarcadas e guardadas, com forças armadas, moeda, oligarquias económicas próprias, hino e bandeira. Um processo que acompanha a globalização histórica, que é perturbada, enviezada pelo capitalismo e que tende a diluir os orgulhos patrióticos e excludentes do Outro, num processo lento que não vai evitando os lepenismos de várias latitudes. Essas estruturas emitem, no caso concreto da UE, bulas para aplicação pelas classes políticas nacionais, que sobrevivem do mesmo modelo, gerindo o pote e encenando uma “democracia” para manter os povos serenos, na esperança de que os amanhãs cantarão. Essa ladainha visa manter a normalidade dos negócios para o que é essencial, povos desabituados de contestar mas viciados em obedecer, que vão acreditando em próximas eleições, dentro de sistemas políticos corruptos, onde vão emergindo verdadeiros idiotas como Hollande ou Passos e entes com vocação de verdugos fascistas como LePen, Farage, Wilders, Orban, Netanyahou, Erdogan, etc; para além dos que acumulam ambas as caraterísticas, como Trump. Nesse contexto, as democracias ditas representativas tendem a ser mero espetáculo, com regulares romarias eleitorais para a alternância de papéis entre os vários grupos de atores pertencentes a uma mesma oligarquia, estratificada, fechada e conservadora. Esta situação é colocada como fazendo parte da natureza das coisas, como a sucessão entre dia e noite e que se pretende seja aceite sem grandes reservas pela multidão das vítimas da disfuncionalidade do modelo de representação e da ausência de real democracia. Na realidade, todos os sistemas económicos estabelecem regimes políticos que capeiam e procuram legitimar o funcionamento das relações sociais e de produção
  • 6. grazia.tanta@gmail.com 26/04/2017 6 que favorecem uns poucos e depreciam ou oprimem a maioria. O esclavagismo garantia mão-de-obra aos senhores da terra, com um rei ou imperador no topo da ação política que funcionava como um legitimador de última instância, a quem competia a continuidade da ordem estabelecida e o cumprimento das leis convenientes para os donos da terra. Com a diluição dos poderes monárquicos ou imperatoriais o escravo passou a servo, de igual modo ligado à terra cuja posse cabia a um dito nobre; exigia-se que tivesse o “empreendedorismo” necessário para a exploração da terra que pertencia ao senhor que, como renda, cobrava uma parte da produção ou tempo de serviço militar, inerente ao seu direito de suserania. Com o capitalismo, o dono dos meios de produção – indivíduo, empresa ou Estado - seja terra, equipamentos ou dinheiro, contrata quem de facto produz os bens ou serviços, pagando à peça ou por tempo de trabalho, uma parte do valor produzido; sem outro vínculo que não o selado pela troca de esforço de trabalho por salário, nomeadamente nos tempos recentes de precariedade extensiva e vulgarizada. O capitalismo, para impor esta norma, equipou-se com um enorme Estado, dotado de formas de coação brutais e diversificadas – tribunais, polícias, tropa, ação legislativa e regulamentadora, punção fiscal, produção ideológica, recolha extensiva de informação para o controlo biopolítico de cada indivíduo, tudo embrulhado sob o rótulo de democracia. Uma democracia em que tudo o que não é proibido, é obrigatório. 2 - Continuada quebra da parcela dos rendimentos do trabalho Vejamos o que se passou nos últimos anos (2004/16) com a evolução do PIB e do volume das remunerações dos assalariados, para os dois principais países da UE e da zona euro e, de todos os da periferia Sul que, com a Irlanda, estiveram sob o fogo da troika ou das preocupações e imposições das instituições da UE, com a intervenção na política económica protagonizada pela Comissão Europeia, BCE, Eurogrupo, nomeadamente, para além do FMI (nos casos de Chipre, Grécia, Irlanda e Portugal). Nessa evolução, há ganhadores e perdedores, não só no âmbito de cada país mas, também na relação entre trabalhadores e capitalistas.
  • 7. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 7 A evolução observada para as remunerações comparada com a do PIB é muito diversificada, no quadro da UE, revelando as desigualdades existentes e aprofundadas por políticas únicas, saídas do armário neoliberal e que são aplicadas para realidades distintas; mostram a falta de instrumentos que colmatem ou minimizem as desigualdades existentes, que remontam a tempos muito anteriores à crise financeira que se revelou em 2008. a) A Alemanha e a França, passado o sobressalto de 2009, no seguimento da crise financeira de 2008 continuam o crescimento regular do PIB e das remunerações, mais acentuado na primeira. Na Alemanha o PIB cresce mais do que as remunerações até 2012, havendo paralelismo daí em diante; quanto à França esse paralelismo regista-se até 2008 passando depois as remunerações a ter um dinamismo superior ao do PIB;
  • 8. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 8 b) A Irlanda é o primeiro país dos escolhidos a revelar quebra na evolução do PIB, em 2008, ao contrário dos outros, que revelam o eclodir da crise em 2009. No entanto, a evolução das remunerações manteve-se sempre num plano mais elevado o que deixou de se verificar em 2015, por razões muito anormais; é que o registo no país de algumas multinacionais, para beneficiarem das vantagens fiscais, empolou de modo absurdo o PIB; c) A Grécia e a Irlanda revelam, uma evolução mais favorável ou menos desfavorável para as remunerações, comparativamente ao PIB, excepto nos últimos anos. No caso de Chipre e da Itália essa situação verifica-se em todo o período e apesar da intervenção da troika no caso do primeiro onde, por outro lado, se evidencia o crescimento mais elevado do PIB até 2011, pouco antes da crise que levou à intervenção e ao bail-out do seu sistema financeiro; d) Espanha apresenta situações de paralelismo na evolução do PIB e das remunerações excepto no período 2008/11, quando as últimas têm uma dinâmica superior. A partir
  • 9. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 9 de 2013, sanado o sistema financeiro, a evolução do PIB processa-se quase em total concordância com a das remunerações a despeito do elevado nível de desemprego; e) A evolução das remunerações é, em geral mais favorável ou menos desfavorável que a observada para o PIB, ainda que com períodos de particular paralelismo nos casos da Alemanha, da Espanha e da França; f) Alemanha e Portugal mostram um predomínio de situações em que o PIB cresce mais do que as remunerações, com um realce para o segundo, onde a perda de relevância das remunerações face ao PIB é uma constante há mais de uma década, acentuando- se bastante com a intervenção da troika. A disparidade na evolução do conjunto das remunerações e o PIB mantém-se no período posterior, não se evidenciando impactos da mudança de governo e do envolvimento da “esquerda” no seu apoio; g) Sobressai a situação da Grécia, o único caso em que os níveis do PIB e das remunerações se situam, nos últimos anos, claramente aquém do verificado no ano base, 2004. Neste conjunto diversificado de situações pretendemos situar alguns aspetos sobre a realidade portuguesa. a) Portugal, sendo o país mais pobre da Europa Ocidental, onde os rendimentos e os perfis educativos são os mais baixos, revela uma continuada perda de representação das remunerações no produto global, tomando como base o ano de 2004. E, entre todos os países considerados, o crescimento do PIB só se mostra inferior ao português no extremo caso grego e na Itália onde os níveis de vida são bastante superiores aos portugueses. No entanto, nesses dois países a evolução das remunerações mostra-se, em regra, acima da registada para o PIB. b)Em Portugal, os níveis de dívida pública e privada são, em parte, resultantes dos crimes que envolveram o sistema bancário, pejado de malparado e descapitalizado e cujo processo se arrasta no tempo, contrastando com o que se passou em Espanha ou na Irlanda, por exemplo, como resultado da conivência da administração do Banco de Portugal (ligada ao PSD) com os banqueiros a quem competiria fiscalizar; uma situação que também se verificou, anos antes, com o BPN, quando a gestão do banco central era encabeçada por Vítor Constâncio, muito tolerante com aquele gang constituído por altas figuras do PSD e que, no seguimento, foi brindado com uma vice-presidência do BCE.
  • 10. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 10 c) O sistema político, oligárquico e estagnado, bloqueia a evolução social e encarrega-se de destruir qualquer foco de contestação social ou laboral o que reflete e amplia um caso de periferização no plano europeu e ibérico, a que escapam apenas os que podem emigrar, os promotores imobiliários ou hoteleiros (enquanto durar a moda) e os que parasitam o erário público recolhendo prebendas e subsídios. 3 - Cenários de evolução na geopolítica No capítulo das hipóteses de evolução no enquadramento geopolítico de um país como Portugal, há três cenários básicos que, naturalmente, poderão ser desenvolvidos através de sub-hipóteses, nas quais não entraremos. São cenários pouco simpáticos porque nada há de promissor no actual contexto de capitalismo com os seus típicos gestores políticos; precisa-se sim, de uma União dos Povos Europeus, democrática e solidária, com capitalistas e classes políticas no baú da História. a) Desagregação da UE e/ou da zona euro A UE desagrega-se e cada país europeu trata de si, num contexto de retorno às rivalidades, históricas ou mais recentes, com um regresso das fronteiras, das moedas nacionais, das barreiras alfandegárias, dos conflitos militares, no que seria um verdadeiro caos; que os EUA através da Nato e do dólar se encarregariam de gerir, repartindo com a Rússia as respetivas zonas de influência, como em 1945. Voltar-se-ia às restrições na circulação de pessoas e de bens, inevitáveis com o aumento das já grandes disparidades no quadro europeu, com maior repressão nas fronteiras e acrescido contrabando? Isso constitui a grande bandeira de nacionalistas de direita ou ditos de esquerda; todos, defensores de um estado forte e de mão pesada sobre estrangeiros e dissidentes. Essa desagregação, com o regresso aos velhos e autárcicos estados-nação, representaria maior severidade na repressão do trabalho, através dos sindicatos e da inflação, para que os capitalistas nacionais se tornassem competitivos face aos dos países vizinhos. Neste caso, para Portugal, tendo em conta as relações externas consolidadas – capitais estrangeiros, comércio exterior – isso significaria uma situação de apêndice periférico da Espanha ou de plataforma logística dos EUA para o controlo do Atlântico Norte, com um regime fascizante mesmo que adornado com eleições; um cenário excelente
  • 11. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 11 para a emigração e a desertificação. A breve construção da Rota da Seda, da China até Roterdão estabelece um eixo estruturante das relações euro-asiáticas, acentuando o caráter periférico da Península e sobretudo de Portugal, num contexto de desagregação da UE. b)Exclusão de um Estado da UE e/ou da zona euro3 Num cenário de alta probabilidade - o de uma UE em reequacionamento - podemos referir a imagem de um navio com fissuras no casco, onde se exige seja alijada carga para manter uma deriva sem que o navio naufrague. Que países poderão constituir essa carga a mandar pela borda fora? Ainda que por vontade própria, a saída da Grã-Bretanha da UE vai ser um excelente caso prático para se medirem os efeitos desse tipo de decisão que, mesmo no caso de um país com o poder e a riqueza da Grã-Bretanha, não se preveem muito favoráveis ao mesmo; em termos económicos, financeiros e de política interna. Farage, o grande construtor do Brexit, satisfeito na sua verve xenófoba e de saudosista do império, logo se colocou de fora da gestão dos efeitos, para mais tarde poder vir a apontar o dedo para o que correr mal. O Brexit e a gestão dos dossiers que enformarão o divórcio serão também úteis para a oligarquia bruxelense afinar práticas e condicionalismos que dificultem tentações de saída para outros estados-membros (por exemplo, a Polónia ou a Hungria, com governos fascizantes). Conforme dito por Juncker no seu recente Livro Branco, admitem-se velocidades várias para os países, no capítulo da integração económica e política, o que mais não é do que a admissão como natural de uma hierarquia entre os países da UE, uns mais centrais, outros mais periféricos; ou a consolidação como naturais, das desigualdades enormes que se verificam entre os 27+1 membros da UE. Trata-se de uma forma mais clara de admitir vários níveis de integração concertada entre países avulsos – a cooperação reforçada, já prevista no Tratado de Lisboa, artº 20º - que apenas obriga os interessados, sem que os outros sejam obrigados a participar ou a cumprir. Uma Europa que sela com conformismo e naturalidade as crescentes desigualdades, o crescente caráter autoritário das oligarquias nacionais ou comunitárias, devotos da 3 Os tratados que configuram a UE não contemplam a possibilidade de saída da zona euro (o sistema financeiro não aprecia turbulência na área monetária) mas, certamente que a criatividade dos burocratas encontraria uma solução, quanto mais não seja à la carte. Admitem uma saída da UE, através do recurso ao tão falado artº 50 que se vai aplicar à Grã-Bretanha, sendo previsíveis muitas dificuldades para o país; as naturais, as causadas pelos burocratas de Bruxelas e a de uma eventual independência da Escócia
  • 12. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 12 religião neoliberal que perseguem os objetivos ditados pelo misterioso “mercado”, pela boca das agências de rating, tais como a redução do deficit público, o endividamento público insustentável e as ditas reformas estruturais que, em regra, se prendem com o “mercado de trabalho”. Todas as decisões essenciais são monitoradas pelo sistema financeiro e pelas multinacionais e daí nada conduz a uma Europa construída por povos solidários. Os tratados e a legislação comunitária são construídos na base de vagos princípios aprovados com pompa e circunstância mas, o seu detalhe revela que ao seu conteúdo se podem atribuir diferentes leituras, para permitir a discricionariedade que tanto agrada às classes políticas. Neste contexto, será de estranhar que os países mais ricos e mais integrados, do Norte e Centro da Europa decidam que há uns quantos países incapazes de manter uma velocidade desejável, de gerar deficits públicos evanescentes ou dívidas sustentáveis e que prejudicam o conjunto? E se esses membros forem periféricos, pobres e sem grande relevância no conjunto, como a Grécia ou Portugal, como já foi aventado por diversas vezes? No caso português, um empurrão para a saída da UE ou do euro teria efeitos devastadores que, sucintamente, abordaremos em seguida. c) Uma saída portuguesa voluntária da UE/zona euro Consideramos que os efeitos de um empurrão Portugal para fora da UE por parte de Bruxelas seriam muito semelhantes aos de uma saída voluntária, como protagonizada pela Grã-Bretanha. No entanto, numa saída voluntária é possível escolher o momento adequado, em função de uma conjuntura interna e no enquadramento externo particularmente favoráveis, embora não consigamos antever que fatores poderiam conduzir a que essa opção fosse vantajosa. Em Portugal a despolitização é enorme, como consequência de o povo ter sido mandado ficar casa, no dia 25 de Abril de 1974 quando o fascismo foi abatido – quando não obedeceu – e no dia 25 de novembro do ano seguinte, quando um golpe militar estabeleceu a “ordem”, restaurando o habitual poder coercivo do Estado. Depois disso, a despolitização vem resultando da própria Constituição – repleta de incumprimentos - que afunila toda a ação política nos partidos, para além de injeções mediáticas de vulgaridade e intriga onde a análise é circunscrita ao que os partidos e alguns colunáveis dizem. Nas escolas, mormente na universidade, é imensa a despolitização que resulta da cultura do empreendedorismo, do economicismo,
  • 13. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 13 gerando nos jovens um grau zero de contestação. Ora, se os jovens não contestam, uma sociedade inteira fica socialmente petrificada, reduzida às funções animais, ao apego ao futebol, às quatro horas diárias de vacuidade televisiva ou nas chamadas “redes sociais”. Entrar na CEE estava subjacente aos intuitos dos militares que derrubaram o fascismo e tornou-se uma premência logo que terminou a turbulência social em 1975. Sabia-se que não seria fácil estar afastado dos países de destino da exportação e onde residiam centenas de milhares de emigrantes, cujas remessas colmatavam parte substantiva do deficit externo. E, apesar de alguma ajuda inicial dos países ricos da Europa, até à entrada formal na UE, em 1986, a má situação social, económica e financeira, originou a duas intervenções do FMI (1977 e 1983) e várias formas pouco profícuas de experimentalismo político. A crise de 1983 só foi debelada com a chegada de fundos comunitários, de pré-adesão a que se seguiu a entrada estatutária dos fundos estruturais que, por falta de monitorização adequada foram, em grande parte, cair nos bolsos de uma vasta camada de corruptos da classe política transformados em empresários e gestores ou de capitalistas financiadores da classe política. A partir daí, mantém-se a crónica má situação das contas públicas que, por acordo PSD/PS, deveriam ter sido sanadas com as privatizações, o que não aconteceu, mesmo depois da sua efetivação, em duas levas: nos anos 90 e recentemente por ordem da troika. O aparelho de estado mantém-se até hoje enorme, ineficaz, caro; mas é o grande viabilizador de negócios privados em diversas áreas e obras discutíveis, através de parcerias, adjudicações, aquisições, contratos. Hoje, a situação é mais grave porque já pouco há para privatizar e a dívida pública tem um peso enorme, jamais poderá ser paga, custando mais de € 800 de juros a cada residente no país, por ano; e se não fosse a inclusão no euro e o quantitative easing do Draghi o serviço de dívida seria muito mais caro. Se já hoje, a competitividade portuguesa se baseia no baixo salário, quanto seria necessário rebaixar os preços do trabalho, reduzir o nível de vida dos residentes para que a produção continuasse a engorda dos capitalistas e o parasitismo da classe política, como gestora do sobredimensionado aparelho de estado? Rebaixar o preço real do trabalho através da inflação tem o mesmo impacto na vida de cada um do que
  • 14. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 14 a desvalorização interna, através de cortes e de punção fiscal, como é aplicável na UE atual, mormente na zona euro, onde a desvalorização da moeda não tem cabimento. O fim dos fundos comunitários teria efeitos altamente lesivos no nível global de investimento e na dimensão das entradas de capitais. A exclusão afastaria o investimento estrangeiro que hoje, se dirige a Portugal – e não é muito - devido à sua integração na UE. Recorde-se que, nos anos 90, com a desagregação da antiga zona de suserania soviética e mais tarde com a inclusão dos países da Europa de Leste na UE - com vantagens de situação geográfica, nos preços do trabalho e com níveis de qualificação superiores aos portugueses – Portugal perdeu o estatuto de região mais pobre da UE, nunca mais tendo os níveis de prosperidade que se evidenciaram durante os primeiros anos de inclusão na então CEE. Por outro lado, a desinserção de uma área globalizada colocaria dificuldades aos emigrantes já instalados nos restantes países da UE, como se pode verificar pelos receios e a instabilidade que o Brexit vem colocando nos imigrantes comunitários na Grã-Bretanha ou no estatuto dos britânicos nos países da UE; e que constitui um dos pontos fortes em discussão depois do recurso ao artº 50 do Tratado de Lisboa, por parte de Theresa May. E que dificuldades seriam colocadas a portugueses, como não- comunitários, para emigrarem para a remanescente UE? Uma moeda própria seria objeto das regulares desvalorizações inerentes a desequilíbrios financeiros ou como estratégia de embaratecer os bens exportados e ganhar competitividade; o que, numa economia muito dependente da importação (matérias-primas, bens de equipamento, energia, sobretudo) levaria a elevados níveis de inflação. Esta, por seu turno, traduzir-se-ia em pressão dos trabalhadores para a reposição do poder de compra, com a óbvia oposição do empresariato, dos governos e a compreensão – quiçá repressiva - dos burocratas sindicais. O contrabando voltaria em grande escala criando uma circulação paralela de moeda forte que discriminaria quem à mesma não tivesse acesso, enquanto a subfacturação ou a sobrefaturação seriam vulgares, com a fuga de capitais para o exterior. O acesso ao crédito externo seria muito mais dificultado e a dívida externa do Estado ou das empresas valorizar-se- ia em função da queda do poder aquisitivo da moeda nacional, aumentando as dificuldades inerentes ao seu reembolso e às taxas de juro exigidas… Num país pobre, o Estado - sem pressões para a sua racionalidade - tenderia a aumentar a sua influência como burocracia, como primordial e seguro pasto para a classe política e suas clientelas; com as sequelas habituais em termos de carga fiscal.
  • 15. grazia.tanta@gmail.com 17/05/2017 15 Se Portugal decidisse ficar de fora da UE, que futuro seria o de um país ainda mais pobre e desestruturado, com o perfil educativo mais baixo da Europa, isolado dentro da sua natural e histórica área geográfica de inserção e com várias barreiras nas suas relações dentro dessa área? O futuro, seria ficar inserido, de modo (ainda mais) subalterno numa zona ibérica, como área pobre e periférica; passar de uma obediência a Bruxelas para uma situação de integração numa Espanha centralizada em Madrid, num mesmo quadro de subalternidade, capitalista e oligárquica, seria uma alternativa interessante? Muitos percebem esses perigos excepto os iluminados admiradores da Le Pen que usam linguagens de “esquerda” e que ignoram a inevitabilidade da globalização bem como o fim do prazo de validade dos estados-nação, como concebidos no século XVII. O que importa é o bem-estar das pessoas, a nacionalidade é um adereço que serve para discriminar uns em favor de outros, para dividir as pessoas, com ganhos que sempre se dirigem para os bolsos dos capitalistas, cujos interesses materiais há muito os colocam nas tintas para as pátrias. Há muito que se diz “o capital não tem pátria”; está do lado que mais rende e incute ao povo o sentimento patriótico e o empolgamento face ao hino nacional. Ainda recentemente, na campanha eleitoral francesa, Mélenchon, tal como Marine Le Pen, discursavam às massas tendo como pano de fundo bandeiras nacionais a drapejar. Acresce que o descontentamento popular na Europa é contido nas instituições da democracia de mercado, ocupadas por mandarins da classe política que, nos pleitos eleitorais, simulam alternativas para que os distraídos ou os idiotas escolham; sabendo todos de que nada há a escolher e que nada de substantivo se irá alterar no final do campeonato eleitoral. A nível laboral, os sindicatos tornaram-se, há décadas, instituições burocráticas que mais parecem constituir repartições do Estado, com os seus quadros a funcionar em simbiose com a classe política e o empresariato. Perante tantas dificuldades e fora de um enquadramento político global que exige as parcas democracias de mercado, não seria estranho que os regimes políticos nos países excluídos resvalassem para um autoritarismo nacionalista com um cheiro fascista. Outros documentos em: http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents https://pt.scribd.com/uploads