SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 9
Baixar para ler offline
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 1
A longa marcha das desigualdades – 2
Da primeira intervenção do FMI ao cavaquismo (1977/95)
Entre três fortes crises económicas e financeiras,
a classe política sedimenta o neoliberalismo e
engorda após a chegada dos fundos
comunitários. Destaca-se aí a figura mais nociva
do século XX português - Cavaco Silva - só
ultrapassado por Salazar.
1 – Depois do golpe de 25 Novembro, a cristalização do partido-estado PS/PSD
Após a “normalização” de 25 de novembro de 1975 e terminada a libertação das
colónias africanas, ficavam os problemas estruturais de sempre – pobreza,
analfabetismo e baixos níveis de qualificação, mortalidade infantil, empresariato
desqualificado1
– a que se juntavam os problemas surgidos nos últimos anos – a
necessidade de reestruturar e capitalizar o enorme sector nacionalizado, mormente
dos bancos, fazer face aos deficits públicos e à falta de divisas associada ao
surgimento dos saldos negativos na balança de transações correntes e ainda, a
austeridade, o saneamento dos custos da descolonização, a preparação para a
diluição na CEE, a consolidação do novo sistema político, da democracia de mercado
e da máquina da corrupção num ambiente mediático menos opaco…
A CEE representava o acto final de inclusão subalterna no espaço europeu, após
séculos de incapacidade de geração de uma verdadeira classe capitalista, em
benefício do rentismo e do favor público; isso ressalta da atuação nas colónias, cuja
prolongada manutenção resultou essencialmente, da concorrência entre as grandes
potências, que impediu a ocupação e partilha das colónias portuguesas entre si. Por
1
http://www.slideshare.net/durgarrai/empresrios-portugueses-incapazes-inteis-nocivos-e-batoteiros
A publicação do INE “Península Ibérica em Números” publicava dados comparativos das qualificações
entre empregados e patrões… e deixou de o fazer. Em 2008, o perfil das qualificações é elucidativo
%
Primário e Secundário
inferior
Secundário
superior
Superior
Empregadores
UE 27 28 45 27
España 50 22 28
Portugal 81 10 9
Empregados
UE 27 21 50 29
España 40 24 37
Portugal 65 16 18
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 2
outro lado, a Grã-Bretanha ao entrar no comboio comunitário, já sem pretensões de
grande potência global (Harold Wilson, decretara em 1971 o fim da presença inglesa a
leste do Suez), perdia também o seu interesse geopolítico em manter um Portugal
como forma de conter o engrandecimento da Espanha.
O primeiro governo do PS não consegue criar soluções para fazer face à situação e,
menos ainda, para uma mudança; e, em 1977, perante a degradação da situação,
recorre à intervenção do FMI, associando-se ao CDS. Depois de afastado o PS do
governo surgem, em 1979, três curtos governos de iniciativa presidencial (Eanes) até
o poder cair na AD (PSD/CDS/PPM), numa primeira fase chefiada por Sá Carneiro; e
que não irá conseguir resolver a crise financeira. De facto, Cavaco como super-
ministro das finanças da AD, tenta aproveitar os danos provocados pelos planos de
austeridade dos governos anteriores, produz um aumento real dos salários e uma
valorização do escudo, esquecendo que a subida do preço do petróleo em 1979 e a
má conjuntura internacional dali decorrente, não iriam consolidar essa política; e, pelo
contrário, degradou ainda mais a balança de transações, como reduziu o investimento
e voltou a fazer subir a inflação no ano seguinte.
O primeiro-ministro Sá Carneiro morre num desastre e é substituído em 1981 por um
novo governo AD, fraco e dividido que, perante uma conjuntura desfavorável, agrava a
balança de transações e aumenta o recurso a dívida externa, enquanto o dólar se
valoriza, ao contrário do escudo, que aumenta a sua desvalorização deslizante (o
crawling peg).
Daí resulta uma nova intervenção do FMI em 1983/85, sob a forma de extended
facility, imposta a um governo PS/PSD que teve ainda de gerir a integração na CEE,
no âmbito de uma frustrada e saloia competição para que Portugal entrasse antes de
Espanha; após a entrada viria a ser adoptada a postura do “bom aluno” que sela
apenas a subalternidade, a subserviência, no seio de uma UE que discrimina mais
daquilo que une2
.
2
Sobre este tema estrutural, publicámos recentemente:
Sobre o futuro precário do estado-nação
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/11/o-futuro-precario-do-estado-nacao-1.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/12/o-futuro-precario-do-estado-nacao-2.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-3.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-4.html
Europa
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/04/para-uma-breve-historia-de-uma.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/para-uma-breve-historia-de-uma.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/europa-periferias-e-desastres.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/08/o-projeto-ue-desvalorizacao-interna-o.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/09/uniao-dos-povos-da-europa-ou-o.html
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 3
Essa intervenção aponta claramente para uma redução do mercado interno (leia-se,
redução da capacidade aquisitiva de bens e serviços, por parte da população) com a
aposta na produção de bens e serviços exportáveis, para o que se exige
competitividade e encolhimento dos custos (isto é, mão-de-obra barata); e ainda
aumento de impostos, menos preços subsidiados, redução do investimento público,
subida das taxas de juro e desvalorização da moeda, surgindo daí grande degradação
do nível de vida, grande desemprego, fecho de empresas e salários em atraso. Tudo
isso, capeado por uma inflação gigantesca (28.7% em 1984).
No seguimento desta crise económica e social atinge-se um novo e mais baixo
patamar dos níveis de vida. Porém, a partir de 1985 a situação volta a melhorar,
sobretudo com a regular entrada de fundos comunitários. Em termos políticos, a
esquerda do sistema político reflete a sua inoperância na queda do número de votos,
em todas a eleições para a AR, entre 1980 e 1995 (abandonada por cerca de 50% dos
votos) enquanto o número de abstenções e votos não dirigidos a partidos, aumenta
1.8 M naquele período. Os três atos eleitorais entre 1985/91 são ganhos folgadamente
por Cavaco, beneficiário principal da melhoria da conjuntura e transição de votos do
PS – com a frouxa liderança de Constâncio - para um epifenómeno chamado PRD,
promovido por Eanes.
Na parte final deste período (1985/95) surgem os dez anos de cavaquismo,
protagonizados por Cavaco Silva, um economicista inculto, autoritário e pedante, como
primeiro-ministro. Os fundos comunitários adoçaram a gestão pública, foram pasto
distribuído pelo empresariato - e até pela pseudo-central sindical UGT - firmando-se
uma extensa corrupção que envolveu figuras gradas do cavaquismo e que se tornou a
imagem do partido-estado e do seu acessório, o CDS; até hoje, com elevadíssimos
níveis de impunidade.
Na ausência de controlo externo quanto à aplicação dos fundos comunitários, estes
foram muito usados direta ou indiretamente em falsas ações de formação profissional;
na ausência de qualquer planeamento inter-municipal, cada autarca procurava obra
que engrandecesse o seu nome; as urbanizações surgiram como cogumelos, produto
de conluios entre autarcas, promotores imobiliários, bancos e apoios fiscais oferecidos
pelo Estado; é de sublinhar, finalmente, o investimento estruturante da Volkswagen,
em Palmela, que desenvolveu indústrias de componentes, empregos com salários
acima da média e um impacto positivo na balança comercial.
Por outro lado, Cavaco desviou (1984/95) para cobertura de gastos públicos, 1206,4 M
contos devidos à Segurança Social, no âmbito da sua Lei de Bases – um roubo aos
trabalhadores, equivalente a toda a receita de contribuições da Segurança Social em
19953
). A delapidação da Segurança Social tem sido, aliás, uma constante por parte
do partido-estado, PS/PSD e do seu apêndice CDS, perante a displicência da
3
ver Livro Verde da Segurança Social, junho/1997
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 4
chamada esquerda; atitude extensiva à enorme dívida4
dos empresários quanto a
contribuições não pagas. Convém referir, a propósito, que há mais de uma década
(2005) o binómio criminoso dito “socialista” - Vieira da Silva/Pedro Marques - introduziu
o factor de sustentabilidade na vida dos trabalhadores; o qual, representa para cada
um, a obrigação de trabalhar mais anos de vida, com os inerentes e acrescidos
descontos, tendo como contrapartida, um menor tempo de vida na reforma. O
capitalismo tanto defende aumentos de produtividade como usa a extensão dos
tempos de trabalho para aumentar a acumulação de capital, num reflexo de que não
abandonou o pendor esclavagista, de esmagamento dos direitos e tempos de vida dos
trabalhadores.
Este período (1977/95) inicia-se com o começo da longa preparação para a
“revitalização da iniciativa privada”, com a lei 46/77, da delimitação dos sectores de
atividade e que será complementada com o longo período de privatizações cujos
principais episódios se centraram no período cavaquista, resultantes do acordo, no
seio do partido-estado, PSD/PS, assinado por Cavaco e Constâncio.
No capítulo das privatizações seguiram-se as criativas engenharias financeiras, já no
tempo de Guterres, com os contratos “project-finance” aplicados, por exemplo, no
negócio da exploração das pontes no estuário do Tejo. Mais recentemente,
vulgarizaram-se as criminosas parcerias público-privadas, bem como o recurso
extensivo à adjudicação a empresas privadas, de funções inseridas no aparelho de
estado, nas áreas da saúde, da educação, da informática, da consultadoria, da ação
social e da vigilância; uma fórmula manhosa de privatizar, sem a carga política de uma
privatização formal. Ressalta daqui a existência de um sector privado tão…
competitivo, que faz depender a sua pujança, essencialmente, da rendabilidade
garantida pela classe política, numa fórmula em que ambos, empresários e
governantes, se irmanam como parasitas do orçamento.
2 – A montagem de um capitalismo de rapina, o cavaquismo (1977/95)
Na primeira parte deste texto, relativamente ao período 1953/77, vimos que as
remunerações dos trabalhadores cresceram, na maioria dos anos, a um ritmo superior
ao verificado para o PIB e para os rendimentos do capital; e que tal deixa de se
verificar logo no começo do actual regime pós-fascista, em 1976/77 quando até
mesmo o crescimento do PIB supera o das remunerações dos trabalhadores, numa
manifestação evidente de afirmação de uma política de consolidação capitalista e de
inserção nas redes globais, em detrimento do chamado mercado interno; em que o
trabalho se pretende como globalmente “competitivo” e já não afeto primordialmente a
um território que, por sua vez deixava de ser coutada de uma burguesia nacional. A
4
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/07/a-divida-seguranca-social-o-longo.html
A dívida à Segurança social era, em 2016 € 11567 M (€ 3332.8 M em 2007)
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 5
aceleração da globalização e da concentração capitalista depois do final da II Guerra
mostrou que o nacionalismo inventado nos séculos anteriores era apenas um
instrumento do capital para dividir os povos, quando e enquanto foi necessário.
Verificou-se que, o modelo capitalista que moldou o regime fascista durante a maior
parte da sua existência não estaria a permitir a acumulação desejada pelo capital luso
e que o capital estrangeiro só entraria com maior liberdade de movimentos e com a
destruição da burocracia corporativa. Essa destruição, passado o período de forte
agitação social em 1974/75, conduziu a níveis de crescimento dos rendimentos de
capital muito mais elevados do que nos últimos anos do fascismo; e, as remunerações
do trabalho voltaram à sua subalternidade típica face aos interesses do capital. E, pior,
essa reconstituição capitalista sucedeu a um regime fascista, aconteceu numa
democracia de mercado, vendida como exemplar e inevitável por toda a classe
política, desde então, como o zénite da democracia.
Foi o princípio de uma ordem nova, esmagada a contestação popular com o golpe
militar de 1975; foi o princípio do actual regime pós-fascista, cuja estagnação resulta
da predominância de períodos de crise, de austeridade e de perda relativa para os
trabalhadores (em rendimentos e direitos), com curtos períodos de alguma folga que
conduzem à euforia quanto a crédito ao consumo, mormente de automóveis e a novos
enchimentos de bolhas imobiliárias; que, invariavelmente acabam em queda, como
está escrito nos astros.
 Tomando para este período o ano de 1977 como base, observa-se que até 1995,
para um PIB que cresceu 22 vezes, os rendimentos do capital progrediram 34
vezes e as remunerações do trabalho 17 vezes; precisamente metade do aumento
verificado para os rendimentos do patronato. Sublinha-se que tratando-se de um
período de elevadas taxas de inflação, o importante na comparação efetuada vale
precisamente pelas disparidades, pela distribuição anti-social verificada, importando
menos os valores absolutos.
graf. 3
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 6
Fonte primária: Banco de Portugal - Séries Longas para a Economia Portuguesa
Porém, é conveniente pensar-se nos diferentes impactos da inflação consoante as
classes e as camadas sociais. Os estratos de rendimento mais elevado, mormente
patrões, podem definir as suas próprias remunerações, alargando-as ou
encolhendo-as de acordo com o ciclo do negócio e, podem camuflar as contas das
empresas para evitar pagamento de impostos; o que não acontece com os
assalariados, dependentes dos humores do patronato, invasivamente escrutinados
pelos governos quanto à dimensão dos seus proventos e na linha da frente no
abastecimento dos cofres do Estado, mormente através do IVA e do IRS.
 O gráfico acima evidencia vários aspetos no capítulo da evolução das
remunerações do trabalho e dos rendimentos do capital. Os dois primeiros anos
depois do golpe militar de 25 de Novembro foram anos de grande recuperação dos
níveis de rendimentos do capital, como vimos atrás. Tomando como base o ano de
1977 observa-se uma evolução marcadamente ascendente dos rendimentos do
capital, muito acima do observado para o PIB e que se mostra indiferente à crise
económica e financeira de 1983/85; com uma concomitante perda de posição
relativa das remunerações do trabalho. Perante a crise de 1993/95, são os próprios
rendimentos do capital que apresentam uma estagnação.
 A inflação era, à época, um excelente modo de redistribuição de rendimentos. Por
um lado, essa inflação, desvalorizava a moeda e facilitava as vendas ao exterior,
com a concomitante valorização das moedas dos países importadores. Por outro
lado, encarecendo os preços dos bens importados, impunha limitações à sua
compra por parte das camadas sociais mais desfavorecidas, com rendimentos
baseados em salários; isso, no entanto, esteve longe de construir um equilíbrio na
balança de transações, conduzindo a duas intervenções do FMI (1977 e 1983/85)
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 7
embora, mais tarde, no estertor do cavaquismo, a feroz política de austeridade
tenha acontecido sem o recurso à desvalorização.
 A partir de 1991, a recessão europeia surge devido ao aumento dos preços do
petróleo, na sequência da intervenção ocidental no Iraque e ao impacto da
absorção da antiga RDA pela Alemanha, com a focagem do investimento alemão
na compra ou apropriação de empresas no Leste. O recurso tradicional à
desvalorização da moeda já não era possível pois o escudo havia entrado no SME
– Sistema Monetário Europeu em 1992 e a forte entrada de capitais externos
dirigidos à criação de novos bancos, ao pagamento de privatizações ou inerentes
aos fundos comunitários, não coloca problemas de equilíbrio financeiro com o
exterior.
 O problema na crise de 1993/95, com que termina o período cavaquista, não é
financeiro mas económico; traduz-se numa queda das exportações que,
internamente, gera desemprego, incute repressão salarial e quebra no consumo – o
que hoje se chama “desvalorização interna”. Assim, o FMI não entra em cena e o
governo tenta amenizar a crise com o apoio a desempregados e excluídos, o que
será institucionalizado (Rendimento Mínimo Garantido) já pela mão de Ferro
Rodrigues, no governo de Guterres.
 Findo o período do Bloco Central, em 1985, o governo de Cavaco surge com um
caminho aplanado para garantir o apoio popular durante alguns anos de
estabilidade governativa e as remunerações do trabalho situam-se claramente com
uma evolução favorável, comparativamente aos rendimentos do capital e às taxas
de inflação. Essa gestão económica originou vantagens na gestão do ciclo político e
levou Cavaco a ganhar as eleições de 1985, 1987 e 1991.
 Mais detalhadamente, o quadro seguinte que contempla as variações anuais de
várias variáveis revela, quanto ao tempo da crise de 1993/95, que as remunerações
do trabalho crescem mais do que as do capital. As remunerações do trabalho são
suficientemente inelásticas, para que se mantenha a contestação num lume brando
que os sindicatos pudessem gerir. Pelo contrário, os rendimentos do capital, sendo
geridos pelos próprios capitalistas, permitem a estes a adaptação aos ciclos de
negócio, resultando daí que no período 1993/95 o crescimento dos rendimentos do
capital seja o mais baixo no período 1977/95; e por isso, a sua evolução pode ser
negativa, como em 1994 e situar-se aquém do crescimento nominal do PIB e da
inflação.
Variações percentuais face ao ano anterior
1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989
Remun. do trabalho 17,5 17,2 18,3 27,2 23,2 23,9 19,1 12,4 20,6 19,6 17,9 16,5 21,4
Rend. do capital 33,8 46,1 23,7 31,6 54,2 35,5 44,3 49,2 15,1 12,0 8,9 9,4 20,3
Pib 28,5 23,7 27,1 30,0 20,1 20,9 27,8 22,8 22,8 22,2 17,8 19,4 18,1
Inflação 19.9 20.9 21.8 16.2 19.1 21.6 23.8 28.7 19.7 12.6 9.8 9.9 12.5
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 8
1990 1991 1992 1993 1994 1995
Remun. do trabalho 19,0 19,2 17,0 6,3 3,1 9,0
Rend. do capital 22,3 23,2 14,1 2,7 -5,5 2,8
Pib 20,1 14,7 12,4 4,6 8,4 8,1
Inflação 13.6 11.8 9.6 6.8 5.4 4.2
Chave de interpretação
Remun. do trabalho >
Rend. do capital
Remun. do
trabalho > PIB
Rend. do capital
> PIB
Remun. do trabalho
> Inflação
 Em 1995 – ano eleitoral – a taxa de crescimento das remunerações do trabalho
supera as do PIB e da inflação bem como mostra uma dinâmica superior à dos
rendimentos do capital. De facto, a alteração das causas da crise (dificuldades nas
exportações e não de equilíbrio financeiro) e a impossibilidade de desvalorização
da moeda impedem a utilização da inflação como forma de redistribuição dos
rendimentos. É sintomático que nas crises de 1977 e 1983/85 os acréscimos dos
rendimentos do capital tenham claramente ultrapassado as taxas de crescimento
das remunerações do trabalho, do PIB e, superado as taxas de inflação; ainda se
vivia num ancien regime embora já no âmbito do actual pós-fascismo.
 A inflação mantém-se elevada até 1984, apresentando um ponto mais baixo em
1980, produto da valorização do escudo avançada pelo super-ministro de Sá
Carneiro, o fabuloso Cavaco; e que logo se demonstrou ser inconsistente. Tendo
num horizonte próximo a adesão à CEE (1986) e a entrada no SME (decidida em
1989 e só concretizada em 1992), Cavaco aproveitou, demarcando-se, do aperto
económico da crise financeira de 1983/85, gerida pelo Bloco Central; como se
aproveitou da boa conjuntura europeia, do afluxo de fundos comunitários para
conseguir baixar a inflação, como imposto por Bruxelas. Após um recrudescimento
em 1989/90 a inflação volta a cair acentuadamente até ao final da grande crise de
1993/95 – como exigido pela CEE para a integração no SME - que conduziu à
saída de Cavaco e do PSD do governo.
graf. 4
grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 9
 Na sequência do retorno ao esmagamento do poder de compra da população,
num país onde a acumulação produtiva de capital é muito baixa por ausência
de verdadeiros capitalistas, investidores e empenhados em obter a sua
rendabilidade a partir de ganhos de produtividade, acentua-se o modelo do
subdesenvolvimento; isto é, esmagamento do poder de compra da população,
focagem na exportação de bens e serviços, na utilização extensiva e intensiva
do aparelho de estado como forma de obter favores, isenções, subsídios e a
mansidão do trabalho, mantido a baixo preço.
Este e outros textos em:
 http://grazia-tanta.blogspot.com/
http://www.slideshare.net/durgarrai/documents
 https://pt.scribd.com/uploads

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poder
Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poderComo dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poder
Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poderFernando Alcoforado
 
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...Fernando Alcoforado
 
Analise de Conjuntura - Marcio Porchmann
Analise de Conjuntura - Marcio PorchmannAnalise de Conjuntura - Marcio Porchmann
Analise de Conjuntura - Marcio Porchmannauldf13
 
A desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferrazA desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferrazJose Ferraz
 
O fiasco econômico do governo temer
O fiasco econômico do governo temerO fiasco econômico do governo temer
O fiasco econômico do governo temerFernando Alcoforado
 
Resoluçãoo PSB
Resoluçãoo PSBResoluçãoo PSB
Resoluçãoo PSBAnna Tiago
 
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaro
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaroO incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaro
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaroFernando Alcoforado
 
Moção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar PortugalMoção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar PortugalMobilizar Portugal
 
A crise econômica na uniao europeia
A crise econômica na uniao europeiaA crise econômica na uniao europeia
A crise econômica na uniao europeiaLamartine Biao Oberg
 
O desastroso governo michel temer
O desastroso governo michel temerO desastroso governo michel temer
O desastroso governo michel temerFernando Alcoforado
 
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temer
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temerEconomia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temer
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temerFernando Alcoforado
 
Reflexão Individual - 1948 A Era da Prosperidade
Reflexão Individual - 1948 A Era da ProsperidadeReflexão Individual - 1948 A Era da Prosperidade
Reflexão Individual - 1948 A Era da ProsperidadeRicardo da Palma
 
O brasil rumo à ingovernabilidade
O brasil rumo à ingovernabilidadeO brasil rumo à ingovernabilidade
O brasil rumo à ingovernabilidadeFernando Alcoforado
 
O Decênio que mudou o Brasil
O Decênio que mudou o BrasilO Decênio que mudou o Brasil
O Decênio que mudou o BrasilPT Paraná
 
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.Ancelmonetto
 
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407   portugal deve sair do euro. sim ou não -11407   portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1GRAZIA TANTA
 
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Portal Canal Rural
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Carlos Eduardo
 

Mais procurados (20)

Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poder
Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poderComo dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poder
Como dilma rousseff pode conquistar a governabilidade para se manter no poder
 
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...
Para reativar a economia, o governo deve atuar como o grande indutor do desen...
 
Analise de Conjuntura - Marcio Porchmann
Analise de Conjuntura - Marcio PorchmannAnalise de Conjuntura - Marcio Porchmann
Analise de Conjuntura - Marcio Porchmann
 
A desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferrazA desindustrialização jose corval_ferraz
A desindustrialização jose corval_ferraz
 
O fiasco econômico do governo temer
O fiasco econômico do governo temerO fiasco econômico do governo temer
O fiasco econômico do governo temer
 
Resoluçãoo PSB
Resoluçãoo PSBResoluçãoo PSB
Resoluçãoo PSB
 
Governo lula
Governo lulaGoverno lula
Governo lula
 
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaro
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaroO incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaro
O incompetente e antinacional ministro paulo guedes do governo bolsonaro
 
Moção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar PortugalMoção Política - Mobilizar Portugal
Moção Política - Mobilizar Portugal
 
A crise econômica na uniao europeia
A crise econômica na uniao europeiaA crise econômica na uniao europeia
A crise econômica na uniao europeia
 
O desastroso governo michel temer
O desastroso governo michel temerO desastroso governo michel temer
O desastroso governo michel temer
 
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temer
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temerEconomia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temer
Economia brasileira ameaçada pelo ajuste fiscal do governo michel temer
 
Reflexão Individual - 1948 A Era da Prosperidade
Reflexão Individual - 1948 A Era da ProsperidadeReflexão Individual - 1948 A Era da Prosperidade
Reflexão Individual - 1948 A Era da Prosperidade
 
O brasil rumo à ingovernabilidade
O brasil rumo à ingovernabilidadeO brasil rumo à ingovernabilidade
O brasil rumo à ingovernabilidade
 
O Decênio que mudou o Brasil
O Decênio que mudou o BrasilO Decênio que mudou o Brasil
O Decênio que mudou o Brasil
 
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.
 
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407   portugal deve sair do euro. sim ou não -11407   portugal deve sair do euro. sim ou não -1
1407 portugal deve sair do euro. sim ou não -1
 
Reis (2000) cap 13
Reis (2000) cap 13Reis (2000) cap 13
Reis (2000) cap 13
 
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
Programa de governo de Dilma Rousseff (PT)
 
Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1Discurso de-despedida-do-bid-1
Discurso de-despedida-do-bid-1
 

Semelhante a A longa marcha das desigualdades no Portugal pós-25 de Abril

Segurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadasSegurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadasGRAZIA TANTA
 
Europa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosEuropa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosGRAZIA TANTA
 
A longa marcha das desigualdades - 1
A longa marcha das desigualdades - 1A longa marcha das desigualdades - 1
A longa marcha das desigualdades - 1GRAZIA TANTA
 
Conhecimentos gerais
Conhecimentos gerais Conhecimentos gerais
Conhecimentos gerais webmasX
 
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGRAZIA TANTA
 
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoGRAZIA TANTA
 
O mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaO mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaGRAZIA TANTA
 
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbCarta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbMarcelo Bancalero
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxiGRAZIA TANTA
 
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemosAspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemosGRAZIA TANTA
 
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempoGRAZIA TANTA
 
Concurso apostila conhecimentos gerais
Concurso   apostila conhecimentos geraisConcurso   apostila conhecimentos gerais
Concurso apostila conhecimentos geraisJ M
 
Apostila conhecimentos gerais
Apostila conhecimentos geraisApostila conhecimentos gerais
Apostila conhecimentos geraisJ M
 
Unprotected apostila conhecimentos gerais
Unprotected apostila conhecimentos geraisUnprotected apostila conhecimentos gerais
Unprotected apostila conhecimentos geraisJ M
 
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de SalvadorConversa Afiada
 
O futuro precário do estado nação - 3
O  futuro precário do estado nação - 3O  futuro precário do estado nação - 3
O futuro precário do estado nação - 3GRAZIA TANTA
 
O futuro precário do estado nação - 4
O futuro precário do estado nação - 4O futuro precário do estado nação - 4
O futuro precário do estado nação - 4GRAZIA TANTA
 
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimentoDívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimentoGRAZIA TANTA
 
A não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoA não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoGRAZIA TANTA
 

Semelhante a A longa marcha das desigualdades no Portugal pós-25 de Abril (20)

Segurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadasSegurança Social, vítima de uma burla com décadas
Segurança Social, vítima de uma burla com décadas
 
Cp
CpCp
Cp
 
Europa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricosEuropa, periferias e desastres periféricos
Europa, periferias e desastres periféricos
 
A longa marcha das desigualdades - 1
A longa marcha das desigualdades - 1A longa marcha das desigualdades - 1
A longa marcha das desigualdades - 1
 
Conhecimentos gerais
Conhecimentos gerais Conhecimentos gerais
Conhecimentos gerais
 
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ueGrécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
Grécia, vítima da gula dos bancos e das desigualdades dentro da ue
 
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismoReflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
Reflexões sobre a intervenção do estado na actual crise do capitalismo
 
O mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um diaO mundo pos-covid que chegará… um dia
O mundo pos-covid que chegará… um dia
 
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmbCarta de-salvador -completa--chapa-pmb
Carta de-salvador -completa--chapa-pmb
 
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi2201   a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
2201 a precariedade suprema no capitalismo do século xxi
 
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemosAspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
Aspectos sobre os tempos conturbados que vivemos
 
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo2002   Como se consolidam as desigualdades através do tempo
2002 Como se consolidam as desigualdades através do tempo
 
Concurso apostila conhecimentos gerais
Concurso   apostila conhecimentos geraisConcurso   apostila conhecimentos gerais
Concurso apostila conhecimentos gerais
 
Apostila conhecimentos gerais
Apostila conhecimentos geraisApostila conhecimentos gerais
Apostila conhecimentos gerais
 
Unprotected apostila conhecimentos gerais
Unprotected apostila conhecimentos geraisUnprotected apostila conhecimentos gerais
Unprotected apostila conhecimentos gerais
 
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
5º Congresso: PT divulga a Carta de Salvador
 
O futuro precário do estado nação - 3
O  futuro precário do estado nação - 3O  futuro precário do estado nação - 3
O futuro precário do estado nação - 3
 
O futuro precário do estado nação - 4
O futuro precário do estado nação - 4O futuro precário do estado nação - 4
O futuro precário do estado nação - 4
 
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimentoDívida & deficit – estratégia de empobrecimento
Dívida & deficit – estratégia de empobrecimento
 
A não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudoA não solução com um novo escudo
A não solução com um novo escudo
 

Mais de GRAZIA TANTA

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docGRAZIA TANTA
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfGRAZIA TANTA
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfGRAZIA TANTA
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfGRAZIA TANTA
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaGRAZIA TANTA
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight overGRAZIA TANTA
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfGRAZIA TANTA
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfGRAZIA TANTA
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfGRAZIA TANTA
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfGRAZIA TANTA
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UEGRAZIA TANTA
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUGRAZIA TANTA
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmitaGRAZIA TANTA
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueGRAZIA TANTA
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemGRAZIA TANTA
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroGRAZIA TANTA
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10GRAZIA TANTA
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGRAZIA TANTA
 

Mais de GRAZIA TANTA (20)

Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdfUcrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
Ucrânia – Uma realidade pobre e volátil.pdf
 
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.docAs desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
As desigualdades entre mais pobres e menos pobres.doc
 
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdfBalofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
Balofas palavras em dia de fuga para as praias.pdf
 
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdfAs balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
As balas da guerra parecem beliscar pouco as transações de energia.pdf
 
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdfUnião Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
União Europeia – diferenciações nos dinamismos sectoriais.pdf
 
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na EuropaAs desigualdades provenientes da demografia na Europa
As desigualdades provenientes da demografia na Europa
 
A BideNato flight over
A BideNato flight overA BideNato flight over
A BideNato flight over
 
Um sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdfUm sobrevoo do BideNato.pdf
Um sobrevoo do BideNato.pdf
 
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdfNATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
NATO in the wake of Hitler - Drang nach Osten.pdf
 
USA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdfUSA – A huge danger to Humanity.pdf
USA – A huge danger to Humanity.pdf
 
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdfEUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
EUA – Um perigo enorme para a Humanidade.pdf
 
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdfA NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
A NATO na senda de Hitler – Drang nach Osten.pdf
 
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UENato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
Nato, Ucrânia e a menoridade política dos chefes da UE
 
Speculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EUSpeculative electricity prices in the EU
Speculative electricity prices in the EU
 
Eleições em portugal o assalto à marmita
Eleições em portugal   o assalto à marmitaEleições em portugal   o assalto à marmita
Eleições em portugal o assalto à marmita
 
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ueOs especulativos preços da energia elétrica na ue
Os especulativos preços da energia elétrica na ue
 
Human beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial systemHuman beings, servants of the financial system
Human beings, servants of the financial system
 
Seres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiroSeres humanos, servos do sistema financeiro
Seres humanos, servos do sistema financeiro
 
Textos de circunstância - 10
Textos de circunstância  - 10Textos de circunstância  - 10
Textos de circunstância - 10
 
Glasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the looseGlasgow – guinness mugs on the loose
Glasgow – guinness mugs on the loose
 

A longa marcha das desigualdades no Portugal pós-25 de Abril

  • 1. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 1 A longa marcha das desigualdades – 2 Da primeira intervenção do FMI ao cavaquismo (1977/95) Entre três fortes crises económicas e financeiras, a classe política sedimenta o neoliberalismo e engorda após a chegada dos fundos comunitários. Destaca-se aí a figura mais nociva do século XX português - Cavaco Silva - só ultrapassado por Salazar. 1 – Depois do golpe de 25 Novembro, a cristalização do partido-estado PS/PSD Após a “normalização” de 25 de novembro de 1975 e terminada a libertação das colónias africanas, ficavam os problemas estruturais de sempre – pobreza, analfabetismo e baixos níveis de qualificação, mortalidade infantil, empresariato desqualificado1 – a que se juntavam os problemas surgidos nos últimos anos – a necessidade de reestruturar e capitalizar o enorme sector nacionalizado, mormente dos bancos, fazer face aos deficits públicos e à falta de divisas associada ao surgimento dos saldos negativos na balança de transações correntes e ainda, a austeridade, o saneamento dos custos da descolonização, a preparação para a diluição na CEE, a consolidação do novo sistema político, da democracia de mercado e da máquina da corrupção num ambiente mediático menos opaco… A CEE representava o acto final de inclusão subalterna no espaço europeu, após séculos de incapacidade de geração de uma verdadeira classe capitalista, em benefício do rentismo e do favor público; isso ressalta da atuação nas colónias, cuja prolongada manutenção resultou essencialmente, da concorrência entre as grandes potências, que impediu a ocupação e partilha das colónias portuguesas entre si. Por 1 http://www.slideshare.net/durgarrai/empresrios-portugueses-incapazes-inteis-nocivos-e-batoteiros A publicação do INE “Península Ibérica em Números” publicava dados comparativos das qualificações entre empregados e patrões… e deixou de o fazer. Em 2008, o perfil das qualificações é elucidativo % Primário e Secundário inferior Secundário superior Superior Empregadores UE 27 28 45 27 España 50 22 28 Portugal 81 10 9 Empregados UE 27 21 50 29 España 40 24 37 Portugal 65 16 18
  • 2. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 2 outro lado, a Grã-Bretanha ao entrar no comboio comunitário, já sem pretensões de grande potência global (Harold Wilson, decretara em 1971 o fim da presença inglesa a leste do Suez), perdia também o seu interesse geopolítico em manter um Portugal como forma de conter o engrandecimento da Espanha. O primeiro governo do PS não consegue criar soluções para fazer face à situação e, menos ainda, para uma mudança; e, em 1977, perante a degradação da situação, recorre à intervenção do FMI, associando-se ao CDS. Depois de afastado o PS do governo surgem, em 1979, três curtos governos de iniciativa presidencial (Eanes) até o poder cair na AD (PSD/CDS/PPM), numa primeira fase chefiada por Sá Carneiro; e que não irá conseguir resolver a crise financeira. De facto, Cavaco como super- ministro das finanças da AD, tenta aproveitar os danos provocados pelos planos de austeridade dos governos anteriores, produz um aumento real dos salários e uma valorização do escudo, esquecendo que a subida do preço do petróleo em 1979 e a má conjuntura internacional dali decorrente, não iriam consolidar essa política; e, pelo contrário, degradou ainda mais a balança de transações, como reduziu o investimento e voltou a fazer subir a inflação no ano seguinte. O primeiro-ministro Sá Carneiro morre num desastre e é substituído em 1981 por um novo governo AD, fraco e dividido que, perante uma conjuntura desfavorável, agrava a balança de transações e aumenta o recurso a dívida externa, enquanto o dólar se valoriza, ao contrário do escudo, que aumenta a sua desvalorização deslizante (o crawling peg). Daí resulta uma nova intervenção do FMI em 1983/85, sob a forma de extended facility, imposta a um governo PS/PSD que teve ainda de gerir a integração na CEE, no âmbito de uma frustrada e saloia competição para que Portugal entrasse antes de Espanha; após a entrada viria a ser adoptada a postura do “bom aluno” que sela apenas a subalternidade, a subserviência, no seio de uma UE que discrimina mais daquilo que une2 . 2 Sobre este tema estrutural, publicámos recentemente: Sobre o futuro precário do estado-nação https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/11/o-futuro-precario-do-estado-nacao-1.html https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/12/o-futuro-precario-do-estado-nacao-2.html https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-3.html https://grazia-tanta.blogspot.pt/2018/01/o-futuro-precario-do-estado-nacao-4.html Europa http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/04/para-uma-breve-historia-de-uma.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/para-uma-breve-historia-de-uma.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/05/europa-periferias-e-desastres.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/08/o-projeto-ue-desvalorizacao-interna-o.html http://grazia-tanta.blogspot.pt/2016/09/uniao-dos-povos-da-europa-ou-o.html
  • 3. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 3 Essa intervenção aponta claramente para uma redução do mercado interno (leia-se, redução da capacidade aquisitiva de bens e serviços, por parte da população) com a aposta na produção de bens e serviços exportáveis, para o que se exige competitividade e encolhimento dos custos (isto é, mão-de-obra barata); e ainda aumento de impostos, menos preços subsidiados, redução do investimento público, subida das taxas de juro e desvalorização da moeda, surgindo daí grande degradação do nível de vida, grande desemprego, fecho de empresas e salários em atraso. Tudo isso, capeado por uma inflação gigantesca (28.7% em 1984). No seguimento desta crise económica e social atinge-se um novo e mais baixo patamar dos níveis de vida. Porém, a partir de 1985 a situação volta a melhorar, sobretudo com a regular entrada de fundos comunitários. Em termos políticos, a esquerda do sistema político reflete a sua inoperância na queda do número de votos, em todas a eleições para a AR, entre 1980 e 1995 (abandonada por cerca de 50% dos votos) enquanto o número de abstenções e votos não dirigidos a partidos, aumenta 1.8 M naquele período. Os três atos eleitorais entre 1985/91 são ganhos folgadamente por Cavaco, beneficiário principal da melhoria da conjuntura e transição de votos do PS – com a frouxa liderança de Constâncio - para um epifenómeno chamado PRD, promovido por Eanes. Na parte final deste período (1985/95) surgem os dez anos de cavaquismo, protagonizados por Cavaco Silva, um economicista inculto, autoritário e pedante, como primeiro-ministro. Os fundos comunitários adoçaram a gestão pública, foram pasto distribuído pelo empresariato - e até pela pseudo-central sindical UGT - firmando-se uma extensa corrupção que envolveu figuras gradas do cavaquismo e que se tornou a imagem do partido-estado e do seu acessório, o CDS; até hoje, com elevadíssimos níveis de impunidade. Na ausência de controlo externo quanto à aplicação dos fundos comunitários, estes foram muito usados direta ou indiretamente em falsas ações de formação profissional; na ausência de qualquer planeamento inter-municipal, cada autarca procurava obra que engrandecesse o seu nome; as urbanizações surgiram como cogumelos, produto de conluios entre autarcas, promotores imobiliários, bancos e apoios fiscais oferecidos pelo Estado; é de sublinhar, finalmente, o investimento estruturante da Volkswagen, em Palmela, que desenvolveu indústrias de componentes, empregos com salários acima da média e um impacto positivo na balança comercial. Por outro lado, Cavaco desviou (1984/95) para cobertura de gastos públicos, 1206,4 M contos devidos à Segurança Social, no âmbito da sua Lei de Bases – um roubo aos trabalhadores, equivalente a toda a receita de contribuições da Segurança Social em 19953 ). A delapidação da Segurança Social tem sido, aliás, uma constante por parte do partido-estado, PS/PSD e do seu apêndice CDS, perante a displicência da 3 ver Livro Verde da Segurança Social, junho/1997
  • 4. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 4 chamada esquerda; atitude extensiva à enorme dívida4 dos empresários quanto a contribuições não pagas. Convém referir, a propósito, que há mais de uma década (2005) o binómio criminoso dito “socialista” - Vieira da Silva/Pedro Marques - introduziu o factor de sustentabilidade na vida dos trabalhadores; o qual, representa para cada um, a obrigação de trabalhar mais anos de vida, com os inerentes e acrescidos descontos, tendo como contrapartida, um menor tempo de vida na reforma. O capitalismo tanto defende aumentos de produtividade como usa a extensão dos tempos de trabalho para aumentar a acumulação de capital, num reflexo de que não abandonou o pendor esclavagista, de esmagamento dos direitos e tempos de vida dos trabalhadores. Este período (1977/95) inicia-se com o começo da longa preparação para a “revitalização da iniciativa privada”, com a lei 46/77, da delimitação dos sectores de atividade e que será complementada com o longo período de privatizações cujos principais episódios se centraram no período cavaquista, resultantes do acordo, no seio do partido-estado, PSD/PS, assinado por Cavaco e Constâncio. No capítulo das privatizações seguiram-se as criativas engenharias financeiras, já no tempo de Guterres, com os contratos “project-finance” aplicados, por exemplo, no negócio da exploração das pontes no estuário do Tejo. Mais recentemente, vulgarizaram-se as criminosas parcerias público-privadas, bem como o recurso extensivo à adjudicação a empresas privadas, de funções inseridas no aparelho de estado, nas áreas da saúde, da educação, da informática, da consultadoria, da ação social e da vigilância; uma fórmula manhosa de privatizar, sem a carga política de uma privatização formal. Ressalta daqui a existência de um sector privado tão… competitivo, que faz depender a sua pujança, essencialmente, da rendabilidade garantida pela classe política, numa fórmula em que ambos, empresários e governantes, se irmanam como parasitas do orçamento. 2 – A montagem de um capitalismo de rapina, o cavaquismo (1977/95) Na primeira parte deste texto, relativamente ao período 1953/77, vimos que as remunerações dos trabalhadores cresceram, na maioria dos anos, a um ritmo superior ao verificado para o PIB e para os rendimentos do capital; e que tal deixa de se verificar logo no começo do actual regime pós-fascista, em 1976/77 quando até mesmo o crescimento do PIB supera o das remunerações dos trabalhadores, numa manifestação evidente de afirmação de uma política de consolidação capitalista e de inserção nas redes globais, em detrimento do chamado mercado interno; em que o trabalho se pretende como globalmente “competitivo” e já não afeto primordialmente a um território que, por sua vez deixava de ser coutada de uma burguesia nacional. A 4 http://grazia-tanta.blogspot.pt/2012/07/a-divida-seguranca-social-o-longo.html A dívida à Segurança social era, em 2016 € 11567 M (€ 3332.8 M em 2007)
  • 5. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 5 aceleração da globalização e da concentração capitalista depois do final da II Guerra mostrou que o nacionalismo inventado nos séculos anteriores era apenas um instrumento do capital para dividir os povos, quando e enquanto foi necessário. Verificou-se que, o modelo capitalista que moldou o regime fascista durante a maior parte da sua existência não estaria a permitir a acumulação desejada pelo capital luso e que o capital estrangeiro só entraria com maior liberdade de movimentos e com a destruição da burocracia corporativa. Essa destruição, passado o período de forte agitação social em 1974/75, conduziu a níveis de crescimento dos rendimentos de capital muito mais elevados do que nos últimos anos do fascismo; e, as remunerações do trabalho voltaram à sua subalternidade típica face aos interesses do capital. E, pior, essa reconstituição capitalista sucedeu a um regime fascista, aconteceu numa democracia de mercado, vendida como exemplar e inevitável por toda a classe política, desde então, como o zénite da democracia. Foi o princípio de uma ordem nova, esmagada a contestação popular com o golpe militar de 1975; foi o princípio do actual regime pós-fascista, cuja estagnação resulta da predominância de períodos de crise, de austeridade e de perda relativa para os trabalhadores (em rendimentos e direitos), com curtos períodos de alguma folga que conduzem à euforia quanto a crédito ao consumo, mormente de automóveis e a novos enchimentos de bolhas imobiliárias; que, invariavelmente acabam em queda, como está escrito nos astros.  Tomando para este período o ano de 1977 como base, observa-se que até 1995, para um PIB que cresceu 22 vezes, os rendimentos do capital progrediram 34 vezes e as remunerações do trabalho 17 vezes; precisamente metade do aumento verificado para os rendimentos do patronato. Sublinha-se que tratando-se de um período de elevadas taxas de inflação, o importante na comparação efetuada vale precisamente pelas disparidades, pela distribuição anti-social verificada, importando menos os valores absolutos. graf. 3
  • 6. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 6 Fonte primária: Banco de Portugal - Séries Longas para a Economia Portuguesa Porém, é conveniente pensar-se nos diferentes impactos da inflação consoante as classes e as camadas sociais. Os estratos de rendimento mais elevado, mormente patrões, podem definir as suas próprias remunerações, alargando-as ou encolhendo-as de acordo com o ciclo do negócio e, podem camuflar as contas das empresas para evitar pagamento de impostos; o que não acontece com os assalariados, dependentes dos humores do patronato, invasivamente escrutinados pelos governos quanto à dimensão dos seus proventos e na linha da frente no abastecimento dos cofres do Estado, mormente através do IVA e do IRS.  O gráfico acima evidencia vários aspetos no capítulo da evolução das remunerações do trabalho e dos rendimentos do capital. Os dois primeiros anos depois do golpe militar de 25 de Novembro foram anos de grande recuperação dos níveis de rendimentos do capital, como vimos atrás. Tomando como base o ano de 1977 observa-se uma evolução marcadamente ascendente dos rendimentos do capital, muito acima do observado para o PIB e que se mostra indiferente à crise económica e financeira de 1983/85; com uma concomitante perda de posição relativa das remunerações do trabalho. Perante a crise de 1993/95, são os próprios rendimentos do capital que apresentam uma estagnação.  A inflação era, à época, um excelente modo de redistribuição de rendimentos. Por um lado, essa inflação, desvalorizava a moeda e facilitava as vendas ao exterior, com a concomitante valorização das moedas dos países importadores. Por outro lado, encarecendo os preços dos bens importados, impunha limitações à sua compra por parte das camadas sociais mais desfavorecidas, com rendimentos baseados em salários; isso, no entanto, esteve longe de construir um equilíbrio na balança de transações, conduzindo a duas intervenções do FMI (1977 e 1983/85)
  • 7. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 7 embora, mais tarde, no estertor do cavaquismo, a feroz política de austeridade tenha acontecido sem o recurso à desvalorização.  A partir de 1991, a recessão europeia surge devido ao aumento dos preços do petróleo, na sequência da intervenção ocidental no Iraque e ao impacto da absorção da antiga RDA pela Alemanha, com a focagem do investimento alemão na compra ou apropriação de empresas no Leste. O recurso tradicional à desvalorização da moeda já não era possível pois o escudo havia entrado no SME – Sistema Monetário Europeu em 1992 e a forte entrada de capitais externos dirigidos à criação de novos bancos, ao pagamento de privatizações ou inerentes aos fundos comunitários, não coloca problemas de equilíbrio financeiro com o exterior.  O problema na crise de 1993/95, com que termina o período cavaquista, não é financeiro mas económico; traduz-se numa queda das exportações que, internamente, gera desemprego, incute repressão salarial e quebra no consumo – o que hoje se chama “desvalorização interna”. Assim, o FMI não entra em cena e o governo tenta amenizar a crise com o apoio a desempregados e excluídos, o que será institucionalizado (Rendimento Mínimo Garantido) já pela mão de Ferro Rodrigues, no governo de Guterres.  Findo o período do Bloco Central, em 1985, o governo de Cavaco surge com um caminho aplanado para garantir o apoio popular durante alguns anos de estabilidade governativa e as remunerações do trabalho situam-se claramente com uma evolução favorável, comparativamente aos rendimentos do capital e às taxas de inflação. Essa gestão económica originou vantagens na gestão do ciclo político e levou Cavaco a ganhar as eleições de 1985, 1987 e 1991.  Mais detalhadamente, o quadro seguinte que contempla as variações anuais de várias variáveis revela, quanto ao tempo da crise de 1993/95, que as remunerações do trabalho crescem mais do que as do capital. As remunerações do trabalho são suficientemente inelásticas, para que se mantenha a contestação num lume brando que os sindicatos pudessem gerir. Pelo contrário, os rendimentos do capital, sendo geridos pelos próprios capitalistas, permitem a estes a adaptação aos ciclos de negócio, resultando daí que no período 1993/95 o crescimento dos rendimentos do capital seja o mais baixo no período 1977/95; e por isso, a sua evolução pode ser negativa, como em 1994 e situar-se aquém do crescimento nominal do PIB e da inflação. Variações percentuais face ao ano anterior 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 Remun. do trabalho 17,5 17,2 18,3 27,2 23,2 23,9 19,1 12,4 20,6 19,6 17,9 16,5 21,4 Rend. do capital 33,8 46,1 23,7 31,6 54,2 35,5 44,3 49,2 15,1 12,0 8,9 9,4 20,3 Pib 28,5 23,7 27,1 30,0 20,1 20,9 27,8 22,8 22,8 22,2 17,8 19,4 18,1 Inflação 19.9 20.9 21.8 16.2 19.1 21.6 23.8 28.7 19.7 12.6 9.8 9.9 12.5
  • 8. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 8 1990 1991 1992 1993 1994 1995 Remun. do trabalho 19,0 19,2 17,0 6,3 3,1 9,0 Rend. do capital 22,3 23,2 14,1 2,7 -5,5 2,8 Pib 20,1 14,7 12,4 4,6 8,4 8,1 Inflação 13.6 11.8 9.6 6.8 5.4 4.2 Chave de interpretação Remun. do trabalho > Rend. do capital Remun. do trabalho > PIB Rend. do capital > PIB Remun. do trabalho > Inflação  Em 1995 – ano eleitoral – a taxa de crescimento das remunerações do trabalho supera as do PIB e da inflação bem como mostra uma dinâmica superior à dos rendimentos do capital. De facto, a alteração das causas da crise (dificuldades nas exportações e não de equilíbrio financeiro) e a impossibilidade de desvalorização da moeda impedem a utilização da inflação como forma de redistribuição dos rendimentos. É sintomático que nas crises de 1977 e 1983/85 os acréscimos dos rendimentos do capital tenham claramente ultrapassado as taxas de crescimento das remunerações do trabalho, do PIB e, superado as taxas de inflação; ainda se vivia num ancien regime embora já no âmbito do actual pós-fascismo.  A inflação mantém-se elevada até 1984, apresentando um ponto mais baixo em 1980, produto da valorização do escudo avançada pelo super-ministro de Sá Carneiro, o fabuloso Cavaco; e que logo se demonstrou ser inconsistente. Tendo num horizonte próximo a adesão à CEE (1986) e a entrada no SME (decidida em 1989 e só concretizada em 1992), Cavaco aproveitou, demarcando-se, do aperto económico da crise financeira de 1983/85, gerida pelo Bloco Central; como se aproveitou da boa conjuntura europeia, do afluxo de fundos comunitários para conseguir baixar a inflação, como imposto por Bruxelas. Após um recrudescimento em 1989/90 a inflação volta a cair acentuadamente até ao final da grande crise de 1993/95 – como exigido pela CEE para a integração no SME - que conduziu à saída de Cavaco e do PSD do governo. graf. 4
  • 9. grazia.tanta@gmail.com 1/08/2018 9  Na sequência do retorno ao esmagamento do poder de compra da população, num país onde a acumulação produtiva de capital é muito baixa por ausência de verdadeiros capitalistas, investidores e empenhados em obter a sua rendabilidade a partir de ganhos de produtividade, acentua-se o modelo do subdesenvolvimento; isto é, esmagamento do poder de compra da população, focagem na exportação de bens e serviços, na utilização extensiva e intensiva do aparelho de estado como forma de obter favores, isenções, subsídios e a mansidão do trabalho, mantido a baixo preço. Este e outros textos em:  http://grazia-tanta.blogspot.com/ http://www.slideshare.net/durgarrai/documents  https://pt.scribd.com/uploads