2. Guernica
de Pablo Picasso
Autor: Pablo Picasso (1881-1973)
Execução: 1937
Dimensões: 7,766 x 3,493 m
Localização: Centro Nacional Centro de Arte Rainha Sofia,
Madrid, Espanha
Materiais: óleo sobre tela
1. Classificação
3. A Guerra Civil de Espanha (1936-1939) foi um dos
acontecimentos mais trágicos que ocorreram na
Europa, antecedendo a II Guerra Mundial (1939-
1944).
A Guerra Civil de Espanha opôs duas fações
políticas e ideológicas, cujo antagonismo marcou o
século XX na Europa:
→ de um lado, republicanos e democratas;
→ do outro, nacionalistas e fascistas.
Soldados republicanos prontos a
avançar para a frente de batalha.
Guernica é uma das cidades mais antigas do país
basco e um centro da sua tradição cultural.
Guernica foi bombardeada em 1937 pela aviação
alemã, no contexto da Guerra Civil de Espanha.
2.1 A obra no seu tempo
2. Contexto histórico-cultural
4. Com esta obra o Governo espanhol pretendia atrair a atenção internacional para a
causa republicana em Espanha contra a ameaça nacionalista e fascista.Pablo Picasso, c. 1965
Quando eclode a Guerra Civil de Espanha (18 de julho de 1936), Picasso toma partido
pelo Governo Republicano. Como reconhecimento, é nomeado diretor do Museu do
Prado.
Em 1937, o Governo Republicano encomenda a Picasso uma obra para figurar no
Pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris de 1937.
A 1 de maio de 1937, Picasso começa a trabalhar nos
estudos de Guernica no seu estúdio da Rue des Grands
Augustines.
Impressionado com a brutalidade da destruição de Guernica,
Picasso decide realizar um grande painel inspirado no
terrível bombardeamento.
Durante o processo criativo do painel, Picasso faria cerca de
60 estudos de figuras e composição.
2. Contexto histórico-cultural
5. Define, depois, um painel à
esquerda com o «touro», a
«mãe com o filho nos braços»
e a cabeça do «guerreiro».
Picasso concebeu o assunto como se fosse um tríptico.
Começa por definir um painel
central que compreende o «cavalo»,
o corpo do «guerreiro», a
«aparição» e metade da «mulher
arrastando-se».
E um painel à direita, com o
«homem implorando ao céu» e
o corpo da «mulher
arrastando- -se» de seios
desnudados.
A unidade da obra é suportada por uma estrutura
de composição clássica segundo um triângulo
inscrito no centro da composição. Este primeiro
triângulo está subordinado a um segundo triângulo,
cujo vértice é a «chama do candeeiro».
Um terceiro triângulo «invertido» funciona como
contraponto aos dois primeiros, integrando os dois
«painéis» laterais na totalidade da composição.
3. Análise formal
6. A natureza do espaço é complexa mas respeita o método de
representação cubista.
Os volumes e o espaço são
reduzidos à bidimensionalidade.
Picasso abandona a
tridimensionalidade e a noção de
perspetiva.
O ritmo é feito de alternâncias de
retas e curvas, de cheios e vazios,
e de formas-figuras e formas
geométricas.
O ritmo produz um potente efeito
de «ruído visual», como se
traduzisse o silêncio da morte
entre os gemidos.
A multiplicação de pontos de
vista e a representação
simultânea de vários planos dá-
nos uma visão globalizante de
toda a cena.
pela diversidade de pontos de vista.
Esta é uma das obras mais representativas do cubismo:
pela geometria estruturante do assunto;
pela sobreposição e interseção de planos;
pela redução extrema das figuras a formas simples;
As «deformações» são mais do
que um simples recurso
plástico: elas modelam as
figuras e conferem-lhes o
simbolismo que as caracteriza.
3. Análise formal
7. Guernica é uma alegoria, ou seja, um quadro cuja representação nos
conduz para além do que está representado.
O touro
representa a
bestialidade
humana.
A mãe com o filho
morto nos braços
é uma referência à
Pietà, de Miguel
Ângelo (1499).
O homem «implorando ao
céu» é inspirado na obra Os
Fuzilamentos de 3 de Maio,
de Goya (1814).
A mão do «guerreiro»
com a espada
quebrada significa a
bravura e a resistência.
A flor significa
esperança.
A «casa em chamas»,
símbolo da destruição da
cidade.
4. Análise temática
8. A «pomba»,
símbolo da paz
agredida e
violentada.
A «mulher
arrastando-se»
em desespero
e impotência
faz uma
diagonal
ascendente na
direção da
«luz» e do
«cavalo em
agonia».
A lâmpada «explosiva»,
metáfora das bombas
destruidoras.
A «aparição», uma
mulher brandindo um
candeeiro, é uma
alusão à Estátua da
Liberdade, em Nova
Iorque
→ O «cavalo ferido» é o elemento
central da composição.
→ A excessiva deformação do
corpo acentua o seu sofrimento e
agonia.
→ Picasso mostra-nos
simultaneamente os dois flancos do
cavalo: de um lado, a lança cravada;
do outro, a chaga aberta no dorso.
O corpo mutilado
do «guerreiro» é a
expressão mais
bárbara da
tragédia da guerra.
9. Picasso assume a «deformação»
como uma manifestação do horror da
guerra e do sofrimento humano.
Guernica é uma obra «ruidosa». As pessoas gritam, gesticulam e morrem indefesas sob as
explosões das bombas. Indefesas, as pessoas são representadas em atitudes desesperadas.
Cada figura é caracterizada por um
tipo de dor, com uma função e uma
razão de ser e de sentir.
O grito de
agonia da mãe
ao perder o
seu filho.
O grito de
raiva do
«guerreiro»
vencido.
O grito de
dor do
«homem
implorando
ao céu».
O terror do
«cavalo
ferido» de
morte.
O pasmo de
horror da mulher
brandindo o
candeeiro
perante a
chacina.
As mãos não se
distinguem,
entre esquerda e
direita.
A ordem de
implantação dos
dedos está
modificada.
A proporção das
mãos está
alterada.
10. Guernica é um paradigma da pintura de compromisso social e político.
É uma brutal representação de um dos mais constantes dramas da
sociedade: a guerra brutal, a violência gratuita, a destruição irracional.
Guernica é uma pintura intemporal
pois traduz o lado mais destrutivo
da natureza humana, evocando o
sofrimento associado à guerra.
Picasso converte o sofrimento de
cada uma das figuras no
sofrimento de todos os que
representam:
→ o sofrimento de todas mães;
→ o sofrimento de todas as
mulheres;
→ o sofrimento de todos os
guerreiros…
Podemos considerar que se trata
de um simbolismo expressionista.
A obra escapa a qualquer referência histórica, tal como também evita
uma aproximação direta a uma cena de guerra.
Guernica situa-se num imaginário universal de horror, sofrimento e dor.
5. Leitura de significados