Gabriel Marcel (1889-1973) foi filósofo, dramaturgo e compositor francês, tendo influenciado as tendências existencialistas e fenomenológicas.
Para Marcel, a existência tem uma urgência de transcendência. Sua obra filosófica, apesar de pouco conhecida, trata sobre introspecção e autoreflexão, fazendo parte de uma geração de pensadores franceses que possuem como fonte de sua reflexão suas experiências interiores.
Por Bruno Carrasco, psicoterapeuta existencial.
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2017
1. Gabriel Marcel e
o existencialismo
Apresentação sobre Gabriel Marcel,
e sua relação com o existencialismo.
2. Gabriel Marcel
Gabriel-Honoré Marcel (1889-1973) foi filósofo, dramaturgo e compositor
francês, tendo influenciado as tendências existencialistas e fenomenológicas.
Em sua filosofia, pode ser descrita como um neo-socrático, contrário ao
racionalismo e rejeitando o cientificismo que tenta explicar o homem como coisa
e a teocracia que toma o homem como objeto.
Marcel se converteu ao catolicismo em 1929. Ele escolheu a religião católica,
entendendo como uma fé universal, mas ainda continuou como um filósofo
independente, nunca um teólogo apologista ou porta voz do catolicismo.
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3. Marcel e o existencialismo
O termo “existencialismo” foi utilizado por Gabriel Marcel, por volta de 1940,
para descrever as filosofias de Jean-Paul Sartre, Albert Camus e Simone de
Beauvoir que tinham como foco a existência humana, ao invés da metafísica,
buscando superar o estado de alienação entre as pessoas.
Para Marcel, a existência tem uma urgência de transcendência. Sua obra
filosófica, apesar de pouco conhecida, trata sobre introspecção e auto reflexão,
fazendo parte de uma geração de pensadores franceses que possuem como
fonte de sua reflexão suas experiências interiores.
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5. Influências em sua filosofia
● Blaise Pascal (1623-1662)
● Samuel Coleridge (1772-1834)
● Friedrich Schelling (1775-1854)
● Sören Kierkegaard (1813-1855)
● Francis Bradley (1846-1924)
● Henri Bergson (1859-1941)
● Edmund Husserl (1859-1938)
● Rainer Maria Rilke (1875-1926)
● Karl Jaspers (1883-1969)
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6. Filosofia de Gabriel Marcel
A filosofia de Marcel defende a singularidade irrepetível de cada existente,
contrário ao racionalismo que reduz a existência à dados e explicações.
Marcel reconhece a falta de objetividade como algo fundamental em cada
pessoa, entende que a existência corresponde ao corpo. Cada pessoa é seu
corpo, que corresponde a matéria visível e a intimidade, que segue para a
concretização do eu, tornando-se uma existência singular.
Para ele, o homem busca um sentido para a vida, que é sempre único e pessoal.
Os que recusam encontrar o sentido de suas vidas acabam por renunciar sua
identidade própria e se dissolve no ter, ao invés de ser.
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7. Sentido existencial
O sentido existencial do indivíduo, em sua vida corporal e psíquica, é tratado por
Gabriel Marcel, propondo a expressão para se opor ao pensamento, referindo-se
a experiência imediata e irredutível da existência de um ser existente.
A partir do uso de Marcel, o termo "existencial" passou a ser difundido na
linguagem corrente. O que antes era tido como psicológico ou moral, passou a
ser tido como "existencial", correspondendo a diversas situações, como o
conteúdo de uma emoção, a um mal-estar, mas em especial a um modo de
engajamento.
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8. Ser “itinerante”
Segundo Marcel, o ser humano é itinerante, a caminho do sentido para a vida. A
esperança representa a abertura deste ser a contestar tudo o que existe.
Sua filosofia é focada no Ser e no mistério, contrária à racionalidade e
objetividade, características da filosofia ocidental de seu tempo. Sua filosofia
está em defesa do homem e de sua dignidade. Ele não rejeita a razão, mas rejeita
o abuso do racionalismo.
A filosofia é tida como uma expressão da experiência, na ordem do vivido e
experimentado.
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9. “A esperança é o estofo de que nossa
alma é feita; é um outro nome da
exigência de transcendência, pois é a
mola secreta do homem itinerante.”
(Gabriel Marcel)
10. Sou meu corpo
Para Marcel, o existente não pode se separar de seu corpo, mas só pode existir e
pensar como ser encarnado. O corpo é a base de todas as possibilidades de ter o
que quer que seja.
Não apenas temos um corpo, mas somos nosso corpo, assim como somos nossa
história, nossa situação, em nossa participação. O reconhecimento de si
acontece a partir de seu próprio corpo concreto, e não somente por meio de
pensamentos e abstrações.
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11. O Ser e o Ter
Marcel tratou sobre uma distinção fundamental sobre a existência de cada
pessoa, chamou de tensão entre o Ser e o Ter.
Ter corresponde à coisas que estão externas ao indivíduo e que não dependem
dele, onde a pessoa se coloca como proprietária delas. Os que se apegam ao Ter
acabam deixando de lado o Ser, os objetos que possuem os absorvem.
Já o Ser é aquele que tem primazia sobre o Ter, que define suas relações com o
Ter. Vivemos numa tensão dialética entre Ser e o Ter, porém devemos sempre
tentar orientar o Ser, para que não seja absorvido pelo Ter.
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12. Fidelidade
O Ser se faz presente na fidelidade, que não é finalidade em si mesmo, mas do
Ser para com os outros.
Cada pessoa tem a possibilidade de escolher por si mesmo o que deseja para si.
Se uma pessoa escolhe fazer certa escolha, e em outro momento pode mudar
sua escolha, porém a escolha foi feita por ela mesma, sua fidelidade implica numa
postura que vá além de sua vida e as situações.
Trata-se de uma escolha fiel a si mesmo.
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13. “Se cumpro minha promessa,
torno-me inautêntico para com o
outro. Por outro lado, se se negasse
todo o engajamento, todo o
compromisso, tornar-se-ia impossível
a vida em comunidade.”
(Gabriel Marcel)
14. O Ser verdadeiro é o ser disponível, que se abre para participar do mundo e para
estar com os outros. Trata-se de uma postura esperançosa e amorosa para com a
vida e as experiências.
Quando a pessoa se ocupa unicamente de si mesma, ela fica fechada para os
outros, tornando-se inquieta e insegura.
Marcel relaciona essa postura com a desesperança, que faz com que a pessoa
fique com medo, se feche de si mesmo e não espera nada mais de ninguém.
Segundo ele, o ser indisponível é a raiz do pessimismo.
Disponibilidade
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15. “O homem depende, em grande parte,
da ideia que faz de si mesmo.”
(Gabriel Marcel)
16. O mistério do Ser
Mistério é uma condição em que o próprio Ser está implicado e comprometido.
Os mistérios interessam a filosofia, porém estão fora do alcance do
conhecimento objetivo.
O problema é algo que encontramos diante de nossa existência, que podemos
delimitar ou reduzir. Diante do problema somos espectadores, já o mistério não
está inteiramente ante o ser.
Apesar dos esforços do iluminismo racionalista de eliminar o mistério da religião
na vida e no mundo, Marcel retoma o mistério no centro da experiência.
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17. A Fé autêntica
Segundo Marcel, toda fé autêntica está enraizada no ser e no mistério. O ser só
se realiza quando reafirma sua condição de criatura de Deus.
A fé é um ato de dar sentido à própria existência, de modo mais significativo e
transcendente. Entende assim Deus como presença absoluta na adoração.
Crer é sentir-se como no interior de Deus, o ato de fé supõe mais que a
subjetividade mas entender Deus como uma relação absolutamente de fé, que
constrói a realidade espiritual e a realidade a partir da divindade. Corresponde a
intimidade, de ser possuído com plenitude, ligação, vínculo, afeto e comunhão.
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18. “Eu sou mais quanto mais Deus é para
mim. A crença em Deus é um modo de
ser e não opinião sobre a existência de
uma pessoa.”
(Gabriel Marcel)
19. Relação com cristianismo
Gabriel Marcel faz parte de um grupo de renovadores do pensamento sobre o
cristianismo. Podemos citar entre eles Santo Agostinho, Blaise Pascal e Sören
Kierkegaard.
Sua obra possui uma originalidade por analisar a existência como uma expressão
do testemunho, da fidelidade, do amor e da esperança, vinculando a existência
ao Ser e partindo da realidade concreta do homem em relação a comunhão
íntima e pessoal com a transcendência.
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20. Principais obras
● Ser e ter (1935)
● Homo Viator: prolegômenos para uma filosofia da esperança (1944)
● Posição e aproximações concretas do mistério ontológico (1949)
● O mistério do Ser (1951)
● O homem problemático (1955)
● Presença e imortalidade (1959)
● A dignidade humana e suas bases existenciais (1964)
● Para uma sabedoria trágica (1968)
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21. ● Jean Wahl (1888-1974)
● Emmanuel Lévinas (1906-1995)
● Paul Ricoeur (1913-2005)
Gabriel Marcel influenciou:
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22. por Bruno Carrasco
Psicoterapeuta existencial e professor. Graduado em Psicologia, licenciado em
Filosofia e Pedagogia, pós-graduado em Ensino de Filosofia e Psicologia
Existencial Humanista e Fenomenológica, possui especialização em Psicoterapia
Fenomenológico-Existencial.
Em seu trabalho busca valorizar cada pessoa em seu modo de ser singular,
colaborando para lidar com suas dificuldades e ampliar suas possibilidades de
escolha perante a vida. Acredita na liberdade de fazer escolhas saudáveis e
refazer os rumos de nossa vida, potencializando nossa existência.
www.brunopsiexistencial.tk
23. ex-isto | existencialismo e psicologia
Ex-isto é um projeto dedicado ao estudo e pesquisa sobre o existencialismo
e suas relações com a psicologia, filosofia, psicoterapia, fenomenologia,
literatura e artes.
Tem como intuito oferecer conteúdos que facilitem a compreensão sobre os
temas pesquisados, por meio de textos, vídeos, cursos ou livros, optando por
utilizar uma linguagem acessível, de modo a promover reflexões sobre a
subjetividade, a condição humana e suas possibilidades.
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24. Referências
ZILLES, U. Gabriel Marcel e o existencialismo. Acadêmica/PUC: Porto Alegre, 1988.
SILVA, C.A.F. Gabriel Marcel, 40 anos depois. Edunioeste: Cascavel, 2013.
COLETTE, J. Existencialismo. L&PM: Porto Alegre, 2009.
JAPIASSÚ, H., MARCONDES, D. Dicionário de Filosofia. Jorge Zahar: Rio de Janeiro,
2005.
PENHA, João da. O que é existencialismo. Brasiliense: São Paulo, 2014.
REYNOLDS, Jack. Existencialismo. 1 ed. Vozes: Rio de Janeiro, 2013.