Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Adélia Prado
1. Adélia Prado
"Moça feita, li Drummond a primeira
vez em prosa. Muitos anos mais tarde,
Guimarães Rosa, Clarice. Esta é a
minha turma, pensei. Gostam do que
eu gosto. Minha felicidade foi imensa.
Continuava a escrever, mas enfadara-
me do meu próprio tom, esgotado de
fontes que não a minha. Até que um
dia, propriamente após a morte do
meu pai, começo a escrever
torrencialmente e percebo uma fala
minha, diversa da dos autores que
amava. É isto, é a minha fala."
2. Adélia Luzia Prado Freitas nasceu em Divinópolis, Minas
Gerais, no dia 13 de dezembro de 1935, filha do
ferroviário João do Prado Filho e de Ana Clotilde Corrêa.
Leva uma vidinha pacata naquela cidade do interior.
1935
1950 Falece sua mãe. Tal
acontecimento faz com
que a autora escreva
seus primeiros versos.
1953 Conclui o Magistério
1955 Começa a lecionar no
Ginásio Estadual Luiz de
Mello Viana Sobrinho.
“Minha mãe achava estudo a
coisa mais fina do mundo. Não é.
A coisa mais fina do mundo é o
sentimento.”
3. Casa-se, em Divinópolis, com José Assunção de Freitas,
funcionário do Banco do Brasil. Dessa união nasceram cinco
filhos: Eugênio (em 1959), Rubem (1961), Sarah (1962),
Jordano (1963) e Ana Beatriz (1966).
1958
Antes do nascimento da última filha, a escritora e o marido
iniciam o curso de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de Divinópolis.
1973
1972 Morre seu pai.
Forma-se em Filosofia. Nessa ocasião
envia carta e originais de seus novos
poemas ao poeta e crítico literário
Affonso Romano de Sant'Anna, que os
submete à apreciação de Carlos
Drummond de Andrade.
4. 1975 Drummond sugere a publicação do livro de Adélia. No dia 09
de outubro, Drummond publica uma crônica no Jornal do
Brasil chamando a atenção para o trabalho ainda inédito da
escritora.
Lança o livro Bagagem com a presença de
Antônio Houaiss, Raquel Jardim, Carlos
Drummond de Andrade, Clarice Lispector,
Juscelino Kubitscheck, Affonso Romano de
Sant'Anna, Nélida Piñon e Alphonsus de
Guimaraens Filho, entre outros.
1976
Marca o lançamento de O coração disparado que é
agraciado com o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do
Livro.
1978
1979 Estreia na prosa com Soltem os cachorros e abandona o
magistério.
5. 1980 Dirige o grupo teatral amador Cara e Coragem na montagem
de O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. Publica Cacos
para um vitral
1981
.
Publica Terra de Santa Cruz.
1984 Publica Os componentes da banda.
1985 Participa em Portugal de um programa de intercâmbio cultural
entre autores brasileiros e portugueses, e em Havana, Cuba,
do II Encontro de Intelectuais pela Soberania dos Povos de
Nossa América.
1987 Fernanda Montenegro estreia no Teatro o espetáculo Dona
Doida: um interlúdio, baseado em textos de livros da
autora. A montagem fez grande sucesso, tendo sido
apresentada em diversos estados brasileiros e, também, nos
EUA, Itália e Portugal.
De 1983 a 1988 exerce as funções de Chefe da
Divisão Cultural da Secretaria Municipal de
Educação e da Cultura de Divinópolis.
6. Apresenta-se, em Nova York, na Semana
Brasileira de Poesia, evento promovido
pelo Comitê Internacional pela Poesia. É
publicado A faca no peito.
1988
1991 É publicada sua Poesia Reunida.
1994 Após anos de silêncio poético, ressurge Adélia Prado com o
livro O homem da mão seca. Conta a autora que o livro foi
iniciado em 1987, mas, depois de concluir o primeiro capítulo,
foi acometida de uma crise de depressão, que a bloquearia
literariamente por longo tempo.
1999 Publica Oráculos de maio.
2010 Publica A duração do dia.
2013 Publica Miserere
7. POESIA:
- Bagagem, - 1976
- O coração disparado, - 1978
- Terra de Santa Cruz, - 1981
- O pelicano, - 1987
- A faca no peito, - 1988
- Oráculos de maio, - 1999
- A duração do dia, - 2010
- Miserere, - 2013
PROSA:
- Solte os cachorros, - 1979
- Cacos para um vitral, - 1980
- Os componentes da banda, - 1984
- O homem da mão seca, - 1994
- Manuscritos de Felipa, - 1999
- Filandras, - 2001
- Quero minha mãe ,- 2005
- Quando eu era pequena, - 2006.
8. Adélia costuma dizer que o cotidiano é a
própria condição da literatura. Morando
na pequena Divinópolis, cidade com
aproximadamente 200.000 habitantes,
estão em sua prosa e em sua poesia
temas recorrentes da vida de província,
a moça que arruma a cozinha, a missa,
um certo cheiro do mato, vizinhos, a
gente de lá.
Deus é personagem
principal em sua obra. Ele
está em tudo. Não apenas
Ele, mas a fé católica, a
reza, a lida cristã.
9. Adélia não cultua a desesperança, a derrota, e o
desencanto. Não crê na morte como fim (mas treme de pensar
nela). A fé cristã para Adélia é baluarte, sustentáculo que a
habilita a enfrentar qualquer adversidade. Vale lembrar que sua
poesia tem muitas vezes um tom de salmo. Algo como louvor e
denúncia, canto pela vida e reclamação contra as dores. Daí
também as referências diretas e indiretas ao livro de Jó, Cântico
dos Cânticos, Salmos, etc. Muitas vezes seus poemas são
verdadeiras orações. A adesão à fé é explícita e motivadora de
sua poesia.
O ESTILO DE ADÉLIA PRADO
Religiosidade
10. Reflexão metalinguística
De fato, a poesia adeliana vai aliando essas possibilidades de
reinvenção às possíveis formas de falar de poesia, sobre poesia, para
e com a poesia. Assim vai se acentuando o caráter metalinguístico
que perpassa com uma força notável por seus escritos. A reflexão
metalinguística se dá em dois níveis: ora fala do poeta e seu ofício,
ora reflete sobre a poesia – sua natureza, sua função, a dificuldade de
concebê-la, de objetivá-la, sua fonte de inspiração.
Essa forma ímpar de observar a vida e
transpô-la aos livros faz dessa escritora uma das
grandes representantes da nossa poesia
contemporânea e a coloca em lugar de destaque
da representação da experiência feminina no meio
literário. A crítica observa o surgimento de uma
dicção diferente na tradição literária.
Um jeito de mulher
11. A experiência nascida de dias vividos e, sobretudo,
observados e refletidos, constrói uma poesia-experiência que está
diretamente ligada aos elementos que constituem a vida comum de
uma dona de casa. Segundo Kujawski (1991), só o cotidiano nos
permite estar, verdadeiramente. Afinal, ainda de acordo com o
autor, sem a integridade do cotidiano, estamos condenados ao mal
estar existencial. Estar quer dizer demorar-se nos lugares, nas
pessoas e nas coisas e isso Adélia Prado cumpre em seus versos.
O cotidiano
O cotidiano é, como a própria
escritora afirma, a matéria prima
de onde ela extrai o lirismo mais
humano e natural que a poetisa
consegue revelar.
12. Caráter Narrativo
Sabemos que esse é um predicado peculiar à prosa, mas que
pode ser retomado pela poesia para que o texto ganhe diferentes
nuances, adquira sentidos específicos que o escritor deseje
empregar. A narratividade atuará na poesia adeliana enquanto
estratégia para conceder ao poema riquezas de tonalidades diversas,
sempre utilizando uma mescla de procedimentos: narrativos,
descritivos e dialogais. Através do coloquialismo e do registro oral, o
caráter narrativo confere no poema uma aproximação, tornando-o
mais íntimo do leitor.
13. TERRA DE SANTA CRUZ
Território 28
poemas
Catequese 11
poemas
Sagração 1
poema
Cotidiano, Religiosidade e Erotismo
14. Festa do corpo de Deus
Como um tumor maduro
a poesia pulsa dolorosa,
anunciando a paixão:
“Ó crux ave, spes única
Ó passiones tempore”
Jesus tem um par de nádegas!
Mais que Javé na montanha
esta revelação me prostra.
Ó mistério, mistério,
suspenso no madeiro
o corpo humano de Deus.
é próprio do sexo o ar
que nos faunos velhos surpreendo,
em crianças supostamente
pervertidas
e a que chamam dissoluto.
Nisto consiste o crime,
em fotografar uma mulher gozando
e dizer: eis a face do pecado.
Por séculos e séculos
os demônios porfiaram
em nos cegar com este embuste.
E teu corpo na cruz, suspenso.
E teu corpo na cruz, sem panos:
olha para mim.
Eu te adoro, ó salvador meu
que apaixonadamente me revelas
a inocência da carne.
Expondo-te como um fruto
nesta árvore de execração
o que dizes é amor,
amor do corpo, amor.
( p. 75)
15. 1-O título- Já é sugestivo por si só, se a ele associarmos, do
calendário litúrgico, a festa de Corpus Christi. “... na Igreja
Católica tal festa, de Corpus Christi, revela Jesus Cristo
presente na hóstia consagrada. A hóstia é um tipo de pão
branco, amorfo, sem formato de corpo. Adélia, entretanto,
aponta para uma outra forma de compreender a presença
sacramental de Cristo: através do corpo em seus contornos e
em sua nudez da cruz.” (Rodrigo Portela)
2- A cruz- Para Adélia, a cruz revela que o corpo é inocência e
não desfrutar da corporeidade é pecado. Portanto, o objetivo
da poesia, enquanto a que “evangeliza”, está na revelação da
sacralidade corpórea provocando um deslocamento na
compreensão do sagrado e do profano.
16. 3-O crime- “Nisto consiste o crime, /em fotografar uma mulher
gozando /e dizer: eis a face do pecado. /Por séculos e séculos /os
demônios porfiaram /em nos cegar com este embuste”.
Nesses versos, a autora resgata o modo como na tradição
judaico-cristã utilizou-se da ideia da atribuição à entrada do
pecado no mundo por intermédio da mulher. Eva é a
personificação do pecado.
Mulher + sexualidade = pecado
Ela desfaz este mito afirmando-o como porfia (discussão)
demoníaca para cegar as culturas patriarcais que durante séculos
utilizaram este mito para submeter as mulheres à condição de
pecadoras e, portanto, devendo ser subordinadas, controladas
pelos homens, convertendo-as em objetos de propriedade no seio
das estruturas familiares.
17. 4- A paixão- Essa paixão que a poesia anuncia revela a humanidade
de Cristo: “Jesus tem um par de nádegas!” A escolha dessa metáfora,
para afirmar a corporeidade de Cristo, faz a diferença: a autora
escolhe as nádegas e não o falo para afirmar o corpo de Deus.
Desviar-se do estabelecido culturalmente para representar o corpo
masculino, referindo-se a Cristo homem-divino-crucificado, revela
uma capacidade reinventiva e transgressora.
O poema traz o sublime para o
cotidiano, o distante para o próximo. A visão
do corpo de Cristo crucificado dá testemunho
da corporeidade da vida. Não se trata,
portanto, de uma visão que foge do sexo, do
prazer, por considerá-lo pecado. A carne é
inocente e a festa dos corpos pode ser um
hino de louvor.
18. Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como 'este foi difícil'
'prateou no ar dando rabanadas'
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
19. Em poucas palavras, ela demonstra o
quanto vale a pena doar-se para ter pequenos
grandes prazeres. Momentos considerados
enfadonhos para alguns, tornam-se intensos para
este eu-lírico feminino. Ela sabe o valor de se
compartilhar a limpeza de peixes com o marido. É
a divisão de momentos, o companheirismo, a
troca, sem qualquer indício de vaidade, de
orgulho. Que sabedoria! As mulheres que se
recusam a limpar peixes não sabem o que estão
perdendo! É mais ou menos isso que ela diz nas
entrelinhas. Isso pode ser dimensionado para
qualquer outra situação dentro de um
relacionamento. Seja um namoro, um noivado ou
um casamento.
Casamento