O pesquisador do IAC, Afonso Peche Filho, publicou o artigo Sistema Plantio Direto na Fruticultura Conservacionista, na revista da Fruta, na edição de junho.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Sistema Plantio Direto na Fruticultura Conservacionista
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PALAVRA DA CIÊNCIA
Sistema Plantio
Direto na fruticultura
conservacionistaAfonso Peche Filho, Pesquisador científico do Centro de Engenharia do
Instituto Agronômico de Campinas (SP)
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2. Revista da Fruta • Setembro 2016 • 31
A
SPD em
citros
implantação de pomares no sistema
plantio direto (SPD) marca uma nova
era na fruticultura moderna. Con-
solidada como a mais tropical das
técnicas agrícolas, o sistema plantio
direto vem sendo aprimorado para
uso em culturas perenes, em especial
na fruticultura. O SPD preconiza três
princípios clássicos: não mobilizar o
solo, manter o solo coberto sempre
e praticar a rotação de culturas. Para
que uma fruticultura atenda esses três
princípios, é necessário um período
de adequação do terreno.
A grande inovação do plantio
direto na fruticultura está no planeja-
mento e na forma de implantação
dos pomares. O planejamento con-
servacionista preconiza o que pode-
mos denominar de “preparo anteci-
pado”. Um conjunto de atividades
que começa com a escolha da área
por volta de duas ou três safras antes
do plantio das mudas. Inicia com um
diagnóstico agroambiental e termina
com adequação ou sistematização
total do terreno. Assim, implantação
do pomar de “forma direta” é mais
rápida e assertiva.
Na fruticultura tradicional o pla-
nejamento já é uma atividade que
começa pelo menos um anos antes,
principalmente pela necessidade
de encomendar a preparação de
uma boa muda. No viveiro, a fruteira
fica sendo preparada com bastante
antecedência.
No sistema plantio direto, esta re-
comendação assegura um tempo a
mais que é utilizado para realização
das atividades de restruturação hidro-
lógica e de correção das condições
produtivas do solo. O diagnóstico
agroambiental da área vai caracte-
rizar e avaliar os efeitos da ocupação
e uso do solo nas condições físicas,
químicas e biológicas.
Um bom pomar não pereniza
os problemas de erosão de solo
Normalmente áreas utilizadas
para produção agrícola tradicional
deixa “cicatrizes de manejo inade-
quado” como processos erosivos,
compactação, empoçamento e
exposição do solo, que são alguns
dos condicionantes físicos prioritários
para serem eliminados ou corrigidos
bem antes da implantação definitiva
do pomar. No sistema plantio direto
de fruteiras vale a regra: “Um bom
pomar não pereniza os problemas
Fotos:AfonsoPecheFilho
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de erosão de solo”. A fruteira é uma
planta exigente com aeração e dis-
ponibilidade de água no solo. Para
o pleno funcionamento fisiológico e
agressividade do sistema radicular
ter disponibilidade de ar e água
em profundidade é fundamental.
O pomar só deve ser implantado
quando as condições físicas do perfil
estiverem seguramente acertadas.
Para tanto, no primeiro ano de “cons-
trução do solo” é recomendado um
conjunto de operações denomina-
das de sistematização.
O descanso do terreno
no inverno expõe sua
vulnerabilidade no verão
O outono é o período mais indi-
cado para realizar a sistematização.
As chuvas torrenciais já não ocorrem
e a umidade do solo é ideal para
a mobilização do perfil cultural do
solo. Inicialmente faz-se a amostra-
gem do solo para verificar e analisar
as condições químicas do solo nas
profundidades de 0 a 20 cm e 20 a
40 cm. Assim que as análises ficarem
prontas é recomendado a aplicação
de corretivos químicos bem como a
distribuição de fertilizantes orgânicos
em superfície para serem incorpora-
dos no solo. As operações de revolvi-
mento têm duas finalidades básicas:
uma está relacionada com a neces-
sidade de regularização de superfície
para eliminar sulcos de erosão, picos
e depressões e a outra relacionada
com a incorporação de corretivos e
fertilizantes em profundidades.
Na sistematização, todo fluxo
de águas superficiais deve ser re-
trabalhado e redirecionado para
uma melhor distribuição evitando
a concentração hídrica erosiva e
possibilidades de empoçamento.
Após as atividades de mobilização
o terreno está pronto para receber
a demarcação dos talhões e o con-
junto de práticas conservacionistas,
como é o caso do terraceamento,
da instalação de caixas de infil-
tração, marcação de caminhos e
carreadores em nível. Em meados
de março e início de abril é o pe-
ríodo ideal para semear culturas
de inverno com a finalidade de
restabelecer os horizontes produtivos,
cobrir e proteger a superfície contra
a exposição excessiva ao sol e de
chuvas esporádicas. As gramíneas
são as culturas mais indicadas como
as aveias (pretas e brancas), e o
milheto; e algumas das braquiárias
são as mais utilizadas. O terreno do
pomar passa o outono e o inverno
do primeiro ano “descansando”
com a cobertura verde enquanto
as práticas conservacionistas vão se
consolidando. Daí, vale a segunda
regra: “O descanso do terreno no
inverno expõe sua vulnerabilidade
no verão”.
Repassando os
últimos preparativos
No verão deste primeiro ano,
com área coberta pelos restos
culturais do inverno implanta-se as
lavouras de verão e logo nas primei-
ras chuvas os sinais de problemas
remanescentes vão reaparecer
e serão corrigidos. É o caso de
escorrimentos superficiais difusos,
processos erosivos e pontos de em-
poçamento distribuídos ao longo
de terraços, áreas e estradas. O
trabalho conservacionista promove
correção na hidrologia de superfície
e elimina entrada de água pelas la-
terais, organizando uma adequada
condução de terras para a instala-
ção segura do pomar. Nesta etapa
é aconselhável coletar amostras de
solo para reavaliar as condições
químicas da área. Neste final de
verão e início do novo outono é o
período mais indicado para terminar
a correção do perfil adequando-o a
receber uma fruteira. Normalmente,
no último repasse são coletadas
amostras de solo e planta para
análise de macro e micronutrientes
PALAVRA DA CIÊNCIA
SPD em frutíferas
de clima
temperado
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4. Revista da Fruta • Setembro 2016 • 33
e também para saber o nível de
infestação de fitonematoides e
fungos do solo. Com as condições
físicas do solo resolvidas os trabalhos
se voltam para as condições quí-
micas que são fundamentais para
o pleno funcionamento do sistema
radicular da planta produtora de
frutos. A distribuição de nutrientes no
perfil é um forte condicionador da
concentração do tipo de raízes nos
horizontes. As atividades biológicas
diversificadas condicionam a saúde
e longevidade produtiva das plantas.
Na fruticultura moderna o
pomar está coberto sempre
Árvores frutíferas apresentam
raízes que tem uma formação com-
plexa. A raiz primária tem origem
ainda na fase embrionária, na trans-
formação da semente em plântula.
Durante a fase vegetativa a raiz prin-
cipal cresce rapidamente buscando
as grandes profundidades do solo. É
nesta fase que o bom desempenho
agrega à planta vantagem adap-
tativa aos períodos secos ou muito
úmidos. Tornando-se lenhosa e defi-
nitiva, a raiz principal contribui muito
com a sustentação e resistência da
planta. Ramificações horizontais dão
origem a raízes secundárias e não
lenhosas, sendo estas responsáveis
pela construção da “malha ou teia”,
formando um intrincado sistema tu-
bular com raio de ocupação muito
maior que o raio ocupado pela sua
copa. A grande área total das raízes
secundárias é muito importante, pois
são responsáveis pela absorção de
água e sais minerais do solo, além
de acumularem reservas para serem
gastas na frutificação. Das raízes
secundárias saem longos filamen-
tos (raízes terciárias) compostos de
milhares de raízes muito finas (pelos
absorventes) que se localizam próxi-
mos da superfície do solo, atuando
na zona de transição entre o solo e
a cobertura vegetal.
O SPD preconiza a manutenção
do solo coberto sempre. Esse proce-
dimento cultural vem diretamente
ao encontro das necessidades das
plantas. Uma planta que produz frutos
normalmente tem seu metabolismo
fisiológico muito relacionado com
as estações climáticas, sendo o
crescimento de raízes influenciado
pela disponibilidade sazonal de
alimentos fotossintetizados e pelas
condições físicas, químicas e bioló-
gicas do solo. As fruteiras exploram
um grande volume de área, tanto
na parte aérea quanto no solo, e
apresentam algumas características
importantes no desenvolvimento de
suas raízes que estão diretamente
ligadas com as condições da copa
e com as condições de cobertura
do solo. As variações de temperatura
e umidade do solo interferem forte-
mente no desempenho produtivo da
planta. Daí, vale a terceira regra: “Na
fruticultura moderna o pomar está
coberto sempre”.
SPD é um caminho sem volta
A necessidade de manutenção
da cobertura de solo no pomar tem
uma relação intima com outra ca-
racterística do SPD que é a rotação
de culturas. Após implantação das
mudas em solo coberto inicia-se um
novo ciclo de atividades. Todo plane-
jamento de manejo do solo agora é
focado nas culturas intercalares que
em cada pomar é preciso planejar
de forma a atender as exigências
da fruteira em produção. O uso de
adubos verdes é, sem dúvida nenhu-
ma, um benefício constante para o
pomar em SPD. A cada dia mais fru-
ticultores aderem ao SPD sinalizando
um caminho sem volta.