Este documento fornece orientações sobre a conversão para a agricultura biológica. Discute a importância de (1) compreender o funcionamento dos agro-sistemas, (2) manter a fertilidade e atividade biológica do solo, e (3) incrementar a diversidade vegetal e animal.
2. Introdução
A Agricultura Biológica exige, na maior parte dos casos, prevenir
o problema antes de surgir, não tratar o problema quando
aparece.
A maioria dos novos aderentes, no período de conversão, tem
dificuldade em aceitar e gerir este aspecto.
Por vezes, os produtores em AB aceitam perdas para ganharem
experiência, enquanto o agro-sistema está num processo de
ganho de segurança, através da fertilidade do solo e da
diversidade vegetal e animal.
3. Introdução
De acordo com o Reg. (CE) 834/2007, os princípios da AB devem
de ter sido aplicados nas parcelas durante um período de
conversão de pelo menos dois anos antes da sementeira ou, no
caso de culturas perenes que não prados, pelo menos três
anos antes da primeira colheita.
O Organismo (Privado) de Controlo e Certificação (OC), com a
aprovação do MADRP, decide, em certos casos, alargar ou
encurtar este período tendo em atenção a utilização anterior
da parcela.
6. Chaves para o sucesso da conversão
Estar disposto a apreender o funcionamento dos
agro-sistemas
A fertilidade e a atividade biológica do solo devem
ser mantidas ou incrementadas
A diversidade vegetal e animal deve ser incrementada
O mercado da AB precisa especial atenção e
conhecimento
7. Estar disposto a apreender o funcionamento
dos agro-sistemas
A primeira mudança exige passar da fase de tratar o problema à
fase de tratar a causa do problema.
Chama-se prevenção. Alguns agricultores bem intencionados nunca
chegam a compreender esta aproximação.
Tal como qualquer outro agro-sistema, a AB deve ser adaptada à
situação individual da exploração.
AB é provavelmente mais dependente do que os sistemas
convencionais da integração dos factores: cultura, solo e
produção animal.
8. Estar disposto a apreender o funcionamento
dos agro-sistemas
Os agricultores devem considerar com ponderação rotações de
culturas, fertilidade do solo e trabalho do solo no planeamento
da transição para AB.
Devem-se preparar para usar adubos verdes e rotações bem
planeadas para mudar a ecologia da parcela, dificultando o
habitat para pragas, doenças e infestantes.
Devem-se preparar para saber lidar com a sanidade animal
controlando primariamente com medidas preventivas, tais
como rotação das pastagens, dieta equilibrada, vazios
sanitários e redução do stress.
9. A fertilidade e a atividade biológica do solo
devem ser mantidas ou incrementadas
O primeiro passo é a incorporação no solo de MO, compostada
ou não, de acordo com as regras dos Reg. 834/2007 e
889/2008.
Cientistas e agricultores têm evidências seguras de que a
resistência das plantas a pragas e doenças, está fortemente
relacionada com o solo onde crescem, com o teor de húmus,
constituinte de primordial importância.
10. A fertilidade e a atividade biológica do solo
devem ser mantidas ou incrementadas
Aumento da atividade biológica
Gestão dos resíduos de cultura
Utilização de adubos verdes
Utilização de estrumes
Utilização de resíduos de florestas e matas
Compostagem
Gestão de adventícias
Correção de pH
11. Aumento da atividade biológica
Os organismos do solo, desde bactérias e fungos aos
protozoários e nemátodos, chegando aos ácaros, e às
minhocas, são responsáveis pela manutenção de altos níveis
de fertilidade.
Uma manutenção do solo adequada ajuda os microrganismos a
manterem a fertilidade.
Uma gestão convencional do solo meramente sibstitui um
sistema químico simplificado para assegurar os nutrientes às
plantas.
12. Aumento da atividade biológica
Logo que um ecossistema solo saudável é desorganizado pelo
uso excessivo de fertilizantes sintéticos solúveis, a sua
recuperação pode ser um processo longo e dispendioso.
Em muitos casos, o uso excessivo de energia do petróleo em
fertilizantes e pesticidas destruiu a fertilidade biológica do
solo.
Só com uma boa gestão do solo, baseada na suficiente adição de
MO e com um mínimo de perturbação podemos ter uma boa
actividade biológica.
13. Gestão dos resíduos de cultura
A manutenção dos resíduos de cultura é um aspecto chave da
manutenção do solo. Resíduos de cultura devolvem MO ao
solo, e os resíduos deixados sobre a superfície ajudam a
prevenir a erosão e a conservar a humidade do solo.
Alqueives de Verão com mobilizações frequentes não é uma
prática de manutenção do solo sustentável dado que deixa o
solo nu e mais susceptível à erosão e excesso de evaporação.
14. Gestão dos resíduos de cultura
As culturas diferem na quantidade de resíduos que deixam e na
contribuição desses resíduos para a fertilidade do solo.
Certas culturas, como ervilha, feijão, lentilha and batata,
produzem poucos resíduos e podem deixar o solo mais
susceptível à erosão. Tais culturas devem entrar em rotações
com cereais que produzem maior quantidade de rsíduos.
Nos pomares, olivais e vinhas, a lenha de poda deve ficar à
superfície, ou enterrada depois de destroçada.
15. Utilização de adubos verdes
A manutenção da fertilidade do solo com adubos verdes é muito
importante, especialmente com leguminosas.
Uma cultura de cobertura enterrada enquanto verde é
designada por adubo verde. A sua importância deve-se à
nutrição do solo e à manutenção da MO.
Trata-se de uma fonte de alimentação para os microrganismos
do solo e minhocas.
Rhizobium nas raízes das leguminosas desempenha um papel
essencial, sendo uma forma ecológica de adubação azotada.
16. Utilização de adubos verdes
Durante o processo de decomposição pelos organismos do solo,
MO e nutrientes ficam disponíveis para as plantas.
Benefícios adicionais incluem o controlo das infestantes e
repressão de fungos patogénicos do solo.
Nos pomares e vinhas, os adubos verdes são semeados ao caír
da folha, e crescem até à Primavera enquanto não competem
com a cultura pela humidade.
O seu enterramento acontece com frequência por altura da
floração, quando a sua decomposição é ainda fácil.
17. Utilização de estrumes
Estrume fresco é um excelente fertilizante na AB e é
tradicionalmente um fertilizante chave na gestão sustentável
do solo.
Fornece nutrientes e MO, estimula os processos biológicos no
solo que ajudam a melhorar a fertilidade.
No entanto, é mais eficaz quando usado com outras práticas
sustentáveis: rotação de culturas, adubos verdes, cobertura do
solo, correcção do solo, e adição de outros fertilizantes que
não prejudicam a biologia do solo.
18. Utilização de estrumes
Outros fertilizantes orgânicos ou minerais, mencionados no
Anexo I do Reg. 889/2008, podem ser aplicados apenas nos
casos em que uma nutrição adequada o exija.
19. Utilização de resíduos de florestas e matas
As limpezas das florestas e as indústrias das madeiras (não
tratadas) fornecem grandes quantidades de resíduos que
constituem MO válida para solos em AB.
Resíduos de limpeza das florestas para prevenção de fogos são
uma boa fonte, depois de destroçados, para produção de
composto.
Trata-se de uma boa maneira de incrementar o nível de MO dos
solos, se temos florestas, matas ou bosques nas
proximidades.
20. Compostagem
A manutenção do solo está no coração da AB: Não alimentem as
plantas. Alimentem o solo – as plantas terão mais
possibilidades de “olhar por elas próprias”.
A extrema complexidade que é uma boa manutenção do solo
pode, com propriedade ser sumarizada numa palavra:
compostagem.
Tudo o que vive morre e os seus componentes voltam ao solo
para para serem reciclados em novas vidas. Esta é uma lei
natural dos ciclos.
21. Compostagem
Os agricultores em AB recomendam vivamente que os resíduos
de culturas e das florestas, estrumes e outros desperdícios
orgânicos passem pelo processo de compostagem antes de os
lançar ao solo.
Composto bem feito é o alimento ideal do solo. Esta é a melhor
forma de recuperar solos empobrecidos ou doentes, e
mantê-los com altos níveis de fertilidade.
22. Gestão de adventícias
A gestão de adventícias deve ser baseada na prevenção. À
medida que a saúde do solo cresce, as populações de
infestantes difíceis vão enfraquecendo.
As populações de infestantes vão enfraquecendo também com
as rotações de culturas, o seu corte antes da fase de semente e
evitando contaminações do exterior.
Algumas culturas podem crescer e competir (abafar) as
infestantes por luz e nutrientes.
Coberturas ajudam a suprimir infestantes, desde a barreira à sua
germinação.
23. Gestão de adventícias
Por outro lado, há evidêncas que certas plantas usadas em
cobertura excretam pelas raízes substâncias alopáticas
(alelopatia negativa) ajudando a impedir a germinação de
infestantes.
Depois da germinação, as infestantes podem ser eliminadas por
monda térmica, monda mecânica com enterramento no solo
ou apenas por corte ou desroçamento em superfície.
24. Correcção do pH
O pH do solo tem um efeito importante sobre a disponibilidade
dos nutrientes para as plantas. O pH óptimo situa-se no
intervalo 6,5-7.
Este intervalo de pH é também o ideal para a maioria dos
organismos do solo, incluindo minhocas. A manutenção do pH
neste intervalo é outra forma de manter a saúde e a
fertilidade do solo.
A forma mais vulgar de corrigir o pH é por adição de calcário
(solos ácidos). A aplicação de calcário deve ser fraccionada e
fora do período de vegetação.
25. A diversidade vegetal e animal deve ser
incrementada
A conversão para AB deve acontecer em termos de incremento
da diversidade floral, com mais espécies associadas com
crescimento da fertilidade.
Ao mesmo tempo, o potencial de diversidade aumenta como
resultado da conversão para AB.
Um número mais elevado de insectos benéficos podem ser
encontrados em explorações em AB, com uma maior
diversidade de espécies vegetais.
26. A diversidade vegetal e animal deve ser
incrementada
Outros invertebrados, tais como aranhas, são também afetados
pelo modo de produção, registando-se maior abundância e
mais espécies de aranhas nas culturas em MPB.
Populações de pequenos mamíferos diferem em termos de
tamanho e estrutura entre campos convencionais e biológicos.
Este aspeto terá, provavelmente, a ver com a disponibilidade
de comida e a riqueza da cobertura nos campos e suas
bordaduras.
27. A diversidade vegetal e animal deve ser
incrementada
Manutenção das ervas e flores
Rotações de culturas
Pequenos charcos
Manutenção de árvores, sebes e refúgios
Protecção fitossanitária
28. Manutenção das ervas e flores
Nas bordaduras das parcelas, podem ser usadas misturas de
sementes de flores selvagens para criar ervamentos
permanentes, com benefícios ao nível do controlo de
infestantes e da conservação da vida selvagem.
Deixando a bordadura inculta no Verão, produz a sua própria
semente, e resulta um habitat melhorado para invertebrados.
Outra forma de incrementar a diversidade é a manutenção de
bandas de ervas ou flores selvagens, no meio das culturas,
para atracção de insectos auxiliares.
29. Rotações de culturas
Rotações são uma prática obrigatória para qualquer agricultura
sustentável e é uma parte integral do sistema.
São um processo chave no controlo de pragas, doenças e
infestantes.
O planeamento de uma rotação requer ao agricultor instalar a
mesma cultura durante períodos e localizações diferentes na
mesma parcela.
30. Rotações de culturas
Normalmente, a cultura sucessora deverá ser de uma espécie
diferente da cultura precedente.
Rotações podem também ser usadas para melhorar a fertilidade
do solo, reduzir a erosão (melhora a agregação do solo),
reduzir a pressão de pragas e doenças, e baixar o risco
financeiro no caso de falhanço de uma cultura.
A inclusão de uma leguminosa na rotação aumenta a
disponibilidade de azoto no solo.
31. Pequenos charcos
A manutenção de pequenos charcos promove a existência de
algumas espécies diferentes, e de pequenos animais, e a
diversidade dos recursos genéticos.
Trata-se de uma estratégia que favorece um habitat crucial para
vida selvagem.
Incultos encharcados estão entre os ecossistemas mais ricos e
produtivos. Uma grande variedade de micróbios, plantas,
insectos, anfíbeos, répteis, aves, peixes, e mamíferos podem
ser parte deste habitat.
32. Manutenção de árvores, sebes e refúgios
Os princípios da AB devem proteger e encorajar uma boa
manutenção dos habitats da exploração, tais como árvores e
sebes nas extremas das parcelas e refúgios para abrigo de
pequenos animais.
Tratam-se de uma componente importante da exploração AB
para a necessidade de manter os habitats dos predadores
naturais tais como insectos, aranhas, aves, para o controlo das
pragas.
33. Protecção fitossanitária
No sistema biológico, o equilíbrio biológico é o principal
objectivo em vez da erradicação completa.
O equilíbrio biológico é mantido com a fauna auxiliar, que
mantém os insectos nocivos a baixos níveis.
Para atraír estes organismos úteis, os agricultores enriquecem os
habitats da exploração com sebes e bandas de flores
selvagens.
Se ataques severos, o Anexo II do Reg. (CE) 889/2008 permite o
uso de insecticidas bio-racionais (menos nocivos que os
convencionais), como último recurso.
34. Protecção fitossanitária
Estão incluidos microrganismos tais como
Beauveria bassiana (fungo que ataca uma vasta gama de
insectos nos estados de larva e adulto),
Bacillus thuringiensis,
soaps and mineral or vegetal oils que interferem com a
respiração dos insectos,
feromonas usadas em armadilhas para monitorização e como
disruptores do ciclo por confusão sexual,
botanical plant extracts tais como o neem (azadirachtin) que
interfere com vários processos metabólicos,
cupper and sulphur.
35. O mercado da AB precisa especial atenção e
conhecimento
Muitos agricultores, em particular os novos, querem iniciar a
produção sem pensar primeiro no mercado.
Um bom marketing é uma condicionante para o sucesso da
empresa agrícola. Há quem chegue a argumentar que é um
aspecto mais importante que a própria produção –
especialmente para agricultores que diversifiquem a oferta.
A diversificação para culturas menos comuns pode significar a
compreensão, ou mesmo a criação de novos sistemas de
mercado.
36. O mercado da AB precisa especial atenção e
conhecimento
Circuitos de mercado já existentes muitas vezes não recebem
bem o novo produtor – especialmente o pequeno produtor.
Os agricultores podem assumir um maior controlo do mercado
saltando por cima dos canais tradicionais pela venda directa,
ao nível local e regional.
A venda dos produtos não começa após a produção, mas bem
antes da primeira semente na terra.
A comercialização focada no consumidor é o factor que mais
determina o sucesso da empresa.
37. O mercado da AB precisa especial atenção e
conhecimento
Assim, antes da conversão para AB:
A comercialização requer uma compreensão clara e astuta do
que os consumidores querem e a abilidade para lhes fazer
chegar os produtos, escolhendo os canais mais apropriados.
Isso inclui
planeamento, preço, promoção e distribuição de
produtos e serviços aos consumidores, sejam certos
sejam potenciais.