O documento discute a esperança messiânica e escatológica no Antigo Testamento. Apresenta o significado da unção e como ela era usada para designar sacerdotes, profetas e reis. Também explora as expectativas de um Messias vindouro que traria justiça e restauraria Israel, apesar de o termo "Messias" não aparecer tecnicamente no AT. Finalmente, discute como Jesus cumpriu as profecias e detalhes dispersos sobre o reino de Deus.
Esperança Messiânica e Escatologia na Teologia Bíblica do Antigo Testamento
1. TEOLOGIA BÍBLICA DO ANTIGOS TESTAMENTO
AULA 4 - ESPERANÇA MESSIÂNICA E ESCATOLOGICA
2. Nosso foco agora se volta para a esperança
messiânica e a escatologia. Apresentaremos a
origem e o objetivo da unção no Antigo Testamento,
além dos ofícios ministeriais que previam a unção
para a execução dos mesmos.
4. O vocábulo “messias” é uma transliteração do grego messias, ou do
aramaico meshiha, ou do hebraico māshiah.
Este vocábulo tem o significado de “o ungido”.
A raiz do termo māshiah é o verbo māšah, cujo uso mais comum serve
para expressar a ideia de unção, que é realizada pelo derramamento
ou aspersão de óleo sobre objetos ou pessoas.
Dois termos derivam de māšah:
Mišha, que é o óleo usado para a unção e que também se refere às
coisas consagradas;
Māshiah ou “ungido”.
5. No uso cotidiano māshah podia se referir à ação de passar óleo num:
Escudo (Is. 21.5)
Pintar uma casa (Jr. 22.14)
Aplicar óleo ao corpo (Am. 6.6).
No contexto religioso, envolvia a aplicação cerimonial de óleo em itens
como:
O tabernáculo
O altar ou a bacia (Ex. 40.9- 11)
A oferta pelo pecado (Ex. 29.36).
6. O ato de derramar óleo tem profundo significado no Antigo
Testamento. O ato de ungir significava especificamente:
Separação
Consagração.
Pessoas como sacerdotes, profetas, patriarcas, reis e objetos podiam
ser ungidos (Ex. 29.7; Lv. 8.11; 1Rs. 19.16; Sl. 105.15; Is. 61.1).
O óleo da unção, por exemplo, foi derramado sobre o tabernáculo e
tudo o que havia dentro e fora da tenda (Ex. 40.9-11; Lv. 8.10, 11).
7. Em geral o ato de ungir traz a ideia de designação, apontamento ou
eleição em outros contextos;
Quando o profeta Samuel derramou óleo sobre Saul ele foi nomeado
pelo Senhor (1 Sm. 10.1).
Ungiu também a Davi como rei de Judá (2 Sm. 2.4,7) e sobre todo
Israel (2 Sm. 5.3, 17).
Salomão foi ungido com óleo (1 Rs. 1.34-45);
Absalão, como sucessor de Davi (2 Sm. 19.10);
Hazael, rei da Síria (1 Rs. 19.15);
Jeú, rei de Israel (2 Rs. 9.3).
8. O grande rei Davi sabia da importância da unção, que pessoas e coisas
ungidas não deviam ser tocadas, atacadas ou destruídas, sem que
originasse culpa diante de Deus.
A ira divina era atraída, como consequência, sobre quem quisesse de
alguma forma ferir ou destruir o seu ungido.
Aquele que recebia a unção não era apenas colocado em uma relação
especial de pureza e serviço ao Senhor, era também protegido pelo
Todo-Poderoso (1 Sm. 26.9; Sl 2.2; Sl. 105.15).
Ao que é ungido é dado o direito, a capacidade e a autoridade para
agir no exercício da sua função.
9. Saul, por exemplo, havia recebido autoridade para reinar e o próprio
Davi o considerou e o tratou como o rei ungido.
Saul demonstrou não ter as qualificações necessárias para reinar,
também reconhecido por Davi (1 Sm. 24.4-16).
Como Saul recebeu este ofício e autoridade de Deus para ser rei,
somente Deus poderia removê-lo deste ofício e não os homens.
Apesar de sua falta de qualificação, Saul deveria ser honrado como o
ungido detentor do ofício.
Portanto, ser ungido era ser colocado em posição de autoridade
específica.
10. Destacamos ainda que a ideia de unção do AT implica a incapacidade
inerente daqueles que são eleitos, designados, apontados, separados,
consagrados, ordenados e colocados em posição de autoridade para
praticar os deveres de seus ofícios específicos.
As pessoas têm de ser equipadas, têm de receber as qualificações para
funcionar de maneira aceitável.
Fica dessa forma compreendido que é o próprio Senhor quem capacita
aqueles a quem Ele escolhe, consagra e coloca em lugar de autoridade
para agir em seu favor.
Sua qualificação ocorre dando de si mesmo, isto é, do Seu Espírito,
àqueles a quem escolheu para servir a Ele e ao seu povo, mas que não
tinham as capacidades necessárias.
12. Existiam, basicamente, três ofícios específicos cujos escolhidos eram
ungidos para exercerem suas funções:
O sacerdote,
O profeta
O rei.
Groningen diz que:
[...] é fora de dúvida que os três ofícios deviam completar-se entre si e
cumprir papeis que eram vitais para cada um dos outros dois. Este fato
esclarece por que os três ofícios eram cumpridos por homens designados
como ‘ungidos do Senhor’ (2003, p. 31).
13. Moisés recebeu instruções divinas para ungir, ordenar e consagrar
Arão e seus filhos, de modo que eles pudessem ser reconhecidos,
autorizados e qualificados para servirem no sacerdócio (Ex. 29.7;
30.30; 40.13-15).
O ofício de sacerdote era estabelecido dentro da comunidade da
aliança (Ex. 19.22-24).
A unção também pode ser aplicada a um profeta, conforme podemos
ver em 1 Reis 19.16-21.
Samuel foi chamado para ser profeta (1 Sm. 3.19), apesar de não ser
encontrada nenhuma ordenação específica ou um ritual de unção.
O texto de 1 Samuel 3.20 mostra que o ofício profético era conhecido e
que a pessoa que o possuía agia com autoridade e poder.
O Senhor mandou ungir Eliseu (1 Rs. 19.16), o que significa que os
escolhidos sabiam de sua designação, consagração, autoridade e
capacitação sobrenatural para este ofício
14. Com relação ao ritual de unção do profeta, Groningen diz que:
Pela falta de prova bíblica não se deve concluir que os profetas não
eram ungidos, isto é, designados, separados, autorizados e capacitados
para seu trabalho.
O fato de não haver relato de um rito de unção prescrito não significa
a inexistência de um rito.
O fato de haver referências à unção de profetas leva-nos à suposição
de que um rito poderia ter sido conhecido, mesmo que não fosse
praticado sempre da mesma forma (2003, p. 30).
15. Por fim tínhamos o rei que também era ungido.
Ele era o “ungido de Yahweh” (1 Sm. 24.10).
No AT, o principal sentido dessa expressão era atribuído ao rei que
reinava sobre o povo de Deus em nome do próprio Yahweh.
O AT não menciona tanto o ato de coroar um rei, mas sim o ato de
ungi-lo.
O ritual de ungir reis ocorreu até a queda de Jerusalém na mão da
Babilônia em 586 a.C.
Após esta data, não houve rei em Israel até o período Macabeu,
conforme podemos constatar no livro apócrifo de 1 Mc. 14.31-47.
16. Quando Samuel ungiu Saul, disse-lhe que foi ungido para governar
(1Sm. 10. 1).
Samuel lembrou a Saul que o Senhor lhe dera a missão de ungi-lo para
ser rei sobre o povo (1Sm. 15. 1, 17).
Conforme 1 Samuel 15.17, o Deus de Israel dera a Saul autoridade
para representá-lo como:
Cabeça
Governante
Príncipe
Rei sobre o Seu povo
18. Na realidade não encontramos uma harmonia perfeita em todas as
esperanças messiânicas.
O próprio conceito de Messias não se originou com Davi, mas por
causa da sua maravilhosa carreira, os escritores bíblicos ligaram a
esperança a ele, ou à sua descendência, fazendo do seu nome o símbolo
do Rei Messiânico.
Entretanto, segundo alguns escritores, a realeza do Messias se
destacava de Davi e da sua dinastia.
Os profetas Ageu e Zacarias, por exemplo, esperavam que Zorobabel
havia de estabelecer-se como o Messias (Zc. 6.12-13; Ag. 1.12-2.9).
19. No segundo século a.C. os Macabeus da tribo de Levi, na terrível luta
de ganhar a sua independência política, esperavam por algum tempo
que o Rei Messiânico viesse daquela tribo.
Com base nas promessas do Senhor em 2 Samuel 7.11-16, os profetas e
salmistas relacionam a esperança messiânica principalmente ao
Messias da descendência de Davi.
Inúmeros profetas falaram sobre a vinda do Messias, com os
predicados divinos que lhe são atribuídos.
Grande parte dos escritores modernos destaca que a palavra
“messias”, no sentido técnico de um rei escatológico “que vem”, não
ocorre no Antigo Testamento.
Na concepção de David Hubbard o “messianismo no sentido técnico
da esperança da vinda de um rei ungido da casa de Davi não é o tema
que controla a esperança do Antigo Testamento”.
20. A unção dos reis desencadeou a ideia de um “Messias”, um ungido
ideal que viria e exerceria as funções de um rei ideal.
O Messias seria um personagem político e talvez militar; ele viria e os
salvaria dos seus inimigos e restauraria o reino a Israel.
É também chamado de tsemah (renovo, ramo novo) conforme Is. 4. 2;
11. 1; 53. 2; Jr. 23. 5; 33. 15 e Zc. 3. 8.
Segundo Smith, a maior parte dos escritores modernos afirma que a
palavra “messias”, nesse sentido, não ocorre no Antigo Testamento
(SMITH, 2001, p. 391).
21. Alguns estudiosos fazem menção daquilo que se designa de “a Idade
Áurea” de Israel ou “Dia do Senhor”, intimamente relacionada com o
Messias.
Todas as passagens do AT que apresentam de maneiras várias a visão
da Idade Áurea ou dia do Senhor, comumente se denominam
messiânicas.
O vocábulo Messias, conforme mencionado acima, é simplesmente a
palavra hebraica para Ungido, e o seu equivalente em grego é
Christós, que em português se modificou para Cristo.
22. É interessante ressaltar que, embora nessa época “Messias” havia se
tornado um termo técnico para designar o personagem que todos
aguardavam, o termo não é usado nessa conexão no Antigo
Testamento.
O termo é, de fato, encontrado; mas é aplicado a reis e sacerdotes, e
até mesmo ao rei persa Ciro.
Portanto, não é no Antigo Testamento um termo técnico para o
libertador esperado, e é mais prudente, ao lidarmos com o Antigo
Testamento, evitar, quando possível, o uso do termo.
23. A igreja cristã nascente, em seu desejo de mostrar que Jesus era o rei
há muito esperado, procurou no Antigo Testamento textos que
confirmassem a sua messianidade.
Existem em torno de 456 passagens do Antigo Testamento que se
referem ao Messias ou aos tempos messiânicos.
Smith observa que o Novo Testamento é quem reúne detalhes que
estão dispersos no Antigo Testamento sobre o futuro reino de Deus.
Segundo este autor muitos detalhes espalhados no Antigo Testamento
apontam para um novo e futuro Reino de Deus. Conceitos como:
Filho de Davi
Filho de Deus
Filho do homem
Servo sofredor
24. Esses conceitos, todavia, nunca são colocados juntos ou vinculados de
alguma forma sistemática no Antigo Testamento.
O Novo Testamento é que reúne essas ideias e afirma que Jesus Cristo
é o cumprimento de todas elas.
F. F. Bruce comenta a maneira através da qual todo o Antigo
Testamento encontra seu cumprimento em Jesus Cristo:
Em tom de cumprimento soa em todo o texto, mas não tanto um tom
quanto uma harmonia de tons.
25. EM JESUS
A aliança é
renovada
O reino de Deus
teve início
As profecias são
cumpridas
A lei é justificada
A salvação é
trazida
A história
sagrada atingiu
seu clímax
O sacrifício
perfeito é aceito
O sumo sacerdote
assentou-se à
direita de Deus
O filho de Davi
reina
Profeta como
Moisés
Recebeu todo o
poder
Morreu pelas
nossas
transgressões
Levou sobre si os
nossos pecados
Realizou o
propósito divino
26. É importante lembrarmos que os fundamentos do cristianismo foram
lançados sobre o Antigo e o Novo Testamento juntos.
Von Rad afirma que nós temos de voltar sempre ali para esclarecer a
relação entre os dois Testamentos.
O Novo Testamento considera o Antigo como Escritura Sagrada.
Ao mesmo tempo, o Novo traz a afirmação surpreendente de que tudo
o que aconteceu antes na história de Deus com Israel e com o mundo,
desde a criação, atingiu seu objetivo pleno na vida, morte e
ressurreição de Jesus Cristo.
Deus conduziu toda essa grande obra a uma conclusão decisiva
(Hb. 1.1-4).
27. Por fim, cabe destacar que posição de judeus e cristãos diverge mais
diretamente, com consequências desastrosas sempre que algum dos
grupos interpreta essa divergência com arrogância e orgulho.
A apelação do Novo Testamento ao testemunho do Antigo é
inarredável, mas não se deve entender que isso implica que os
seguidores de Jesus Cristo são superiores a outras pessoas, têm um
relacionamento privilegiado com Deus, ou são infalíveis moral e
espiritualmente. Antes, deve dar-lhes um sentimento imenso de
gratidão, humildade e responsabilidade. (SMITH, 2001, p. 412).
É preciso lembrarmos que a afirmação do Antigo Testamento precisa
ser declarada como moldura integral e indispensável do evangelho de
nosso Senhor Jesus Cristo.
28. ASSINALE COM X AS ALTERNATIVAS CORRETAS:
1. Existiam, basicamente, três ofícios específicos cujos escolhidos eram
ungidos para exercerem suas funções:
C. sacerdote, o profeta e o rei.
2. Com quem os profetas e salmistas relacionam a esperança messiânica
baseados nas promessas do Senhor em 2 Samuel 7.11-16?
A. Relacionam a esperança messiânica principalmente ao Messias da
descendência de Davi.
3. O que afirma o Novo Testamento sobre a história de Deus com
Israel?
D. Tudo o que aconteceu antes na história de Deus com Israel e com o
mundo, desde a criação, atingiu seu objetivo pleno na vida, morte
e ressurreição de Jesus Cristo.
QUESTIONÁRIO Pg. 99
29. Marque C para CERTO e E para ERRADO:
4. A afirmação do Antigo Testamento não precisa
ser declarada como moldura integral do
evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
5. O ato de ungir significava especificamente
separação e consagração. Pessoas como
sacerdotes, profetas, patriarcas, reis e objetos
podiam ser ungidos.
QUESTIONÁRIO Pg. 100
E
C
31. Nosso propósito aqui é tratar de um assunto que faz parte da divisão
mais abrangente chamada escatologia, a doutrina das últimas coisas.
O vocábulo “escatologia” é um termo relativamente recente. Ele não
é encontrado nem no Antigo nem no Novo Testamento.
Há quem afirme que o termo teria sido usado pela primeira vez por
Abraham Calovius em sua teologia dogmática Systema locorum
theologivorium tomus duodecimus et ultimus eschatologia sacra, em
1677.
George Buch usa o termo em um livro intitulado Anastasis
(ressurreição) publicado em 1845.
A partir de então o termo foi sendo adotado em diversos outros
livros, vindo mesmo a ser incutido em alguns textos do Concílio
Vaticano II.
32. Antes de iniciarmos nosso estudo a respeito da escatologia, é preciso
enfatizar que na Bíblia, o futuro não diz respeito em primeiro lugar
“àquilo” que está vindo, mas “a quem” está vindo.
De Êxodo (3.8) até Apocalipse (3.11; 22.7, 12) ocorre o tema da vinda
de Deus.
No Antigo Testamento existem basicamente dois conceitos que podem
ser estudados na escatologia.
O primeiro se refere ao aperfeiçoamento futuro do Reino de Deus
na terra;
O segundo trata da vida futura do homem além da morte.
33. O primeiro nasce da revelação do propósito do Senhor na escolha de
Israel, e se desenvolve em relação com as atividades de Deus na
história da humanidade.
O segundo refere-se ao Sheol como a habitação de todos os mortos, e
finalmente apenas o lugar da punição dos ímpios.
Observamos que no Antigo Testamento, a morte é uma realidade
inflexível.
É algo de que ninguém escapa.
A morte alcança a todos os seres humanos (Nm. 16.29; Js 23.14;
2 Sm. 14.14; 1 Rs. 2.2; Is. 51.12).
O homem é semelhante a Deus em muitas maneiras, mas difere de
Deus em algo muito patente.
Deus é eterno (Sl. 90.2; Hc. 1.12), enquanto o ser humano é mortal.
35. Iniciamos aqui com a escatologia do indivíduo.
A escatologia do indivíduo, no entanto, recebe menos atenção no AT
do que a escatologia da comunidade nacional.
Para os israelitas, a morte física significava a partida da alma do
corpo para se unir com outras almas no mundo subterrâneo (Sheol).
Dessa forma, a alma se separava do corpo, mas ainda continuava a
existir, embora em um estado de tristeza e esquecimento, pois se
julgava que a personalidade sem corpo não podia mais gozar da
comunhão com Deus.
Uma vez cortada da “terra dos vivos”, a mera existência da pessoa
quase não tinha mais significação.
Na leitura do AT torna-se claro que a morte próxima, sempre
despertou profunda tristeza, até mesmo no espírito dos homens mais
piedosos.
36. O vocábulo maweth significa a dissolução das coisas vivas, incluindo
o homem, mas nas Escrituras Sagradas o vocábulo adquire um
sentido peculiar em relação com o homem.
Levando na sua pessoa a semelhança de Deus, o homem, enquanto
vivia, podia ser:
“Visitado” por Deus;
Receber as bênçãos da comunhão pessoal com Yahweh.
Entretanto, é muito diferente de Deus na sua mortalidade. Como os
animais do campo, ele é sujeito à morte (Sl. 144.3).
Os escritores reconheceram uma conexão entre o pecado e a morte,
uma vez que o pecado impede a comunhão com Deus (Ez. 18.20).
A morte é, pois, um mal, uma amargura, um terror (Dt. 30.15;
1 Sm. 15.32; Sl. 55.4).
37. Contudo, o sofredor Jó, na sua aflição expressou a esperança de
encontra algum alívio no silêncio obscuro do Sheol (Jó. 17.13-16).
Ele sabe que seu Redentor vive, e espera que vindique o justo depois
da morte (19.25-27).
A morte é o oposto à vida, ela é o cessar da respiração e fim da
própria existência (Jó. 34.14, 15; Sl. 104.29).
Deus é o doador da vida e é Ele quem controla o processo de
nascimento (Jó. 10.10-12; Sl. 103.13-16) e de morte (Sl. 31.15).
No AT, além da cessação da vida, a morte também pode se referir a
qualquer circunstância que ameaça ou enfraquece a vida ou a
vitalidade, como pecado, doença, escuridão, água, o mar.
38. Westtermann afirma que a morte aparece no Antigo Testamento
como um poder que invade a vida, ataca a pessoa doente e lhe rouba
a força.
Salvar alguém da “morte”, portanto, pode significar livrá-lo de
doença ou inimigos (Sl. 116.3, 4, 8).
Assim, a morte nem sempre precisa se tratar do momento em que as
coisas ficam “prontas”, da saída, mas ao poder encontrado na vida
da pessoas após a sua vida.
A atitude dos israelitas para com a morte não era muito diferente da
de outros povos.
39. Há exemplos de pessoas que sofreram profunda tristeza por causa da
morte de amigos ou de parentes amados.
Quando Jacó recebeu a suposta morte de seu filho José, por exemplo
(Gn. 37.34-35).
O povo chorou a morte de José, Moisés e os seus melhores reis e
servos.
Davi lamentou amargamente a morte do seu nobre amigo Jônatas.
Também chorou a trágica morte de seu filho rebelde Absalão.
O Antigo Testamento na realidade não tem uma explicação clara
para o que acontece quando uma pessoa morre.
Ali a pessoa é vista em termos “holísticos”.
40. Os diversos aspectos da natureza humana (corpo, espírito,
respiração, coração) estão tão integrados e inter-relacionados que
qualquer um deles pode representar o todo.
Dessa forma, no AT as pessoas constatavam que a morte física era
marcada pela ausência de respiração (1 Rs. 17.8-23) e, em alguns
casos, pela perda de sangue.
Para o homem veterotestamentário, a vida estava no sangue
(Lv. 17.11).
É interessante notar ainda, que os túmulos não eram monumentos
em honra dos mortos (com exceção de Is. 22.16).
O túmulo de Moisés, por exemplo, nunca foi encontrado (Dt. 34.6).
Os sepulcros pertenciam ao mundo dos mortos e eram profanos e
fontes de impureza (Is. 65.4).
42. O Antigo Testamento parece preservar uma crença popular de que a
presença dos mortos pode ser percebida na proximidade do seu
túmulo.
Jeremias menciona ouvir a voz de Raquel que ainda podia ser ouvida
chorando por seus filhos, em seu túmulo em Ramá (Jr. 31.15).
Talvez seja uma linguagem metafórica.
Nada se diz a respeito de Raquel como espírito insepulto.
Paralela à ideia de que os mortos estão no túmulo encontramos a
ideia de que eles estão no sheol.
43. Este é um termo hebraico que assumiu as propriedades de um
substantivo próprio.
É utilizado 65 ou 66 vezes na Bíblia Hebraica, mas não ocorre em
nenhuma outra língua semítica, a não ser como palavra emprestada
do hebraico.
Por vezes parece que os mortos estão no túmulo e no Sheol ao mesmo
tempo.
De acordo com a maneira que o vocábulo é utilizado no AT, fica
evidente que o Sheol estava localizado nas profundezas da terra.
Basta perceber que as ideias de descer ou de levar para baixo são
utilizadas 21 vezes em ligação com Sheol (Gn. 37.35; 42.38; 44.29, 31;
Nm. 16.30, 33; 1 Sm. 2.6; Pv. 1.12; Is. 14.11).
44. Apesar de ricos e pobres, bons e maus, velhos e jovens, ou seja, todo
mundo ir para o Sheol quando morre.
Algumas passagens do AT implicam que os maus e pecadores podem
ser arrebatados mais cedo e os justos podem ser poupados do Sheol
por mais tempo (Sl. 9.17; 31.17).
Contudo, apesar de não ser atraente, ao menos ele já transmitia a
ideia de que a morte não era o fim absoluto da existência.
Fica claro que os israelitas modificaram lentamente as opiniões sobre
o Sheol, e a distinção entre os seus moradores.
45. Um dos fatos para a revelação progressiva foi o fracasso dos reinos de
Israel e Judá como representantes do reino de Deus sobre a terra.
Estes reinos caíram por causa da infidelidade de reis e de multidões
de seus súditos.
O futuro do reino de Deus dependerá do restante fiel.
47. No Antigo Testamento, o vocábulo que deixa clara a sobrevivência da
alma após a morte é “ressurreição”.
O termo hebraico que traduz esta palavra é tehiyat hammetim que,
apesar de não ocorrer no hebraico bíblico, é atestado quatro vezes na
Mishná e 41 vezes no Talmude.
O Antigo Testamento relata três casos claros de ressurreição
(1 Rs. 17.17-24; 2 Rs. 4.29-37 e 13.21).
Mesmo que o termo “ressurreição” não esteja no AT, a ideia é
expressa oito vezes através dos seguintes termos:
hāyâ (viver),
qûm (surgir, levantar),
heqis (despertar),
lāqah (tomar), ‘
ālâh (subir),
sûb (voltar),
‘āmad (ficar de pé)
ne‘or (levantar).
48. Quase 20 passagens do Antigo Testamento podem estar relacionadas
com ressurreição (Dt. 32.39; 1Sm. 2.6; 1Rs. 17.22; Jó.14.12,13;
19.25-27; Sl. 16.10; Is. 26.19; 53. 11, 12; 66.24; Ez. 37.10,).
A passagem de Daniel 12.2-3 fornece novas ideias a respeito do tema.
O autor, aparentemente comovido pela condição doa mártires, os
quais não deviam ficar privados do privilégio de ocupar um lugar de
honra no novo reino, afirma com confiança que “muitos dos que
dormem no pó da terra acordarão, alguns para a vida eterna, e
outros para a vergonha e desprezo eterno”.
49. Observe que Daniel trata a ressurreição de duas classes.
Os justos voltarão à vida para renovarem a comunhão com Deus e
com a comunidade de fé.1
O ensino de que os ímpios, bem como os justos, se levantarão,
introduz um novo motivo na doutrina.
Acrescenta a ideia da justiça da retribuição do Senhor. Serão
ressuscitados os injustos a fim de que sejam punidos.
Este novo conceito implica que o escritor pensava do Sheol como a
região onde não havia nem recompensa nem punição.
50. Talvez tenha ocorrido mais mudanças no conceito de vida após a
morte no período entre os Testamentos do que em qualquer outro
conceito do Antigo Testamento.
A ideia de separação entre justos e maus depois da morte é
esclarecida (1 Enoque 5.5-9) e o conceito do julgamento final é
estabelecido (2 Esdras 7.70).
Segundo o livro apócrifo de Enoque 22.9 “há uma separação dos
espíritos justos que têm uma fonte de água brilhante”.
Do mesmo modo, modificaram-se em termos mais espirituais, as
referências à ressurreição e à idade messiânica.
52. Mesmo com a infidelidade de Judá, sob o governo de reis como Acaz
e Manassés, Isaías não creu que a nação seria completamente
destruída.
A doutrina do “restante fiel” ou do “remanescente” do povo eleito é
um dos ensinos característicos de Isaías (4.2-4; 10.20- 22; 37.30-32).
O reino de Deus seria estabelecido finalmente pelo restante fiel do
povo escolhido.
Judá havia caído no estado de corrupção que não podia mais ser
identificado como agente do Reino de Deus.
Entretanto, em meio à degeneração moral e espiritual,
permaneceram homens fiéis que não se esqueceram do amor e da
fidelidade do Senhor no cumprimento das promessas do concerto.
53. O profeta Isaías estava convicto de que o Senhor sempre teria um
remanescente que permaneceria confiante em Deus e que o propósito
divino no final não poderia falhar.
Segundo Crabtree: [...] Isaías entendeu as operações de Deus na
história, e na base deste entendimento interpretou a missão do
restante, o grupo dos salvos, os escolhidos para pregar a salvação do
Senhor.
O restante fiel e o reino Messiânico são doutrinas diferentes do ponto
de vista do profeta, mas intimamente relacionadas, no seu
pensamento, como no desenvolvimento da história do reino de Deus
na terra.
54. Deus salva, purifica e orienta o restante através das guerras, das
invasões do estrangeiro, do cativeiro; e estes, por sua parte, confiam
em Deus, preservam as Escrituras da revelação divina, mantêm a
esperança no Messias vindouro.
Há evidências de que o profeta esperava a vinda do Messias dentro
em breve.
É preciso lembrar, contudo, que a doutrina do remanescente no
Antigo Testamento não se limita ao livro de Isaías.
Há diversos vocábulos hebraicos que nas suas várias formas
significam “escapar” de qualquer desastre ou calamidade: palat,
shaar, yathar, malat, sarad, como vemos, por exemplo, em Joel 2.32:
“E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do SENHOR será
salvo (malat); porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que
forem salvos (palat), como o SENHOR prometeu; e, entre os
sobreviventes (sarad), aqueles que o SENHOR chamar.”
55. A doutrina da eleição liga-se com a ideia do restante, como no caso da
escolha de Noé, de Abraão, de Moisés e dos profetas.
Os profetas seriam salvos juntamente com os fiéis dentre o povo, e
terão por missão preservar as Escrituras da revelação divina.
O que podemos perceber no Antigo Testamento também é que Deus
chama e dirige todos aqueles que servem ao seu eterno propósito,
revelado de maneira transparente no seu concerto com Israel.
Deus opera na história, usando meios humanos, segundo a justiça
divina, para promover as forças espirituais e as influências tendo em
vista o progresso do seu reino no mundo e a realização final do seu
eterno propósito.
57. O Dia do Senhor, é a ocasião do juízo do Senhor.
Nas versões da Bíblia em português a palavra juízo é considerada
como sinônimo de justiça, mas em geral pode significar também os
estatutos de Deus e as ordenanças da lei.
No sentido de julgamento do Senhor, o vocábulo se refere ao
julgamento dos atos dos homens e das nações na história; refere-se
ainda ao fim da história.
Todavia, como vimos na questão do “remanescente”, o reino de Deus
visa a vindicação da justiça e dos justos.
58. O povo israelita pensava que o Dia do Senhor significava o
estabelecimento do seu governo benéfico sobre o povo escolhido.
Todavia, não compreendiam a justiça de Deus que exige a justiça do
povo do seu reino.
Em Amós (5.18, 19) não se pode haver nenhuma esperança para
Israel no Dia do Senhor.
Os profetas anunciavam uma manifestação divina na história de
maneira surpreendente (Is. 13.6; Jl. 1.15; Ob. 15; Sf. 1.15).
Eles criam no Dia do Senhor como algo iminente, pronto para
acontecer.
59. A eleição e os privilégios especiais de Israel não podem isentá-lo do
julgamento, mas pedem o castigo de todas as suas injustiças (Am. 3).
Será um dia cruel com furor e ira ardente, fazendo da terra uma
desolação com a destruição dos pecadores (Am. 5.19; Sf. 1.15)
Joel declara que o Dia do Senhor será dia de trevas, escuridão, dia de
nuvens e densa névoa (Jl. 2.1, 2).
Contudo, o mesmo texto de Joel afirma que após o julgamento, e a
destruição dos ímpios, haveria nova glória e nova luz.
Para a nação pecaminosa, o Dia do Senhor seria um dia de
julgamento. Para os fiéis será um dia de exaltação.
Por fim, os profetas entenderam que o Dia do Senhor é o dia em que
Deus havia de julgar os povos e as nações com justiça, e estabelecer o
seu reino eterno em todo o mundo.
60. ASSINALE COM X AS ALTERNATIVAS CORRETAS:
6. O que significava a morte física para os israelitas?
B. Significava a partida da alma do corpo para se unir com
outras almas no mundo subterrâneo (Sheol).
7. No Antigo Testamento quem é que vai para o Sheol, quando
morre?
A. No Antigo Testamento ricos e pobres, bons e maus, velhos e
jovens, ou seja, todo mundo vai para o Sheol quando morre.
8. Qual o significado de Dia do Senhor no Antigo Testamento?
D. O Dia do Senhor é a ocasião do juízo do Senhor.
QUESTIONÁRIO Pg. 111
61. Marque C para CERTO e E para ERRADO:
9. Na Bíblia, o futuro não diz respeito em primeiro
lugar “àquilo” que está vindo, mas “a quem” está
vindo.
10. No Antigo Testamento existem basicamente dois
conceitos que podem ser estudados na escatologia.
O primeiro se refere ao aperfeiçoamento futuro
do Reino de Deus na terra; o segundo trata da
vida futura do homem além da morte.
QUESTIONÁRIO Pg. 86
C
C