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A INTERPRETAÇÃO CRISTOLÓGICA

     No reino da interpretação profética o estudo do método adequado
tem sido freqüentemente negligenciado ou olvidado o necessário
cuidado. Aprendemos que Cristo e o Novo Testamento são as
autoridades finais e a norma mais elevada para a compreensão teológica
da história, da profecia, da sabedoria e da poesia sagrada de Israel. Ficou
estabelecido que a profecia e a tipologia verbais – como profecia indireta
– não são elementos desvinculados no Velho Testamento com princípios
hermenêuticos inerentemente diferentes. A profecia preditiva e os
modelos do pensamento tipológico formam uma unidade natural e
integral. A profecia messiânica pertence à essência da esperança
veterotestamentária. Nelas, todas as promessas do concerto israelense se
convergem e delas emerge a missão universal de Israel. Mesmo as
profecias apocalípticas específicas, com o seu simbolismo mais
amplamente desenvolvido, são freqüentemente centralizadas no Messias
(Daniel 7-12).

                       As Profecias Messiânicas

     À luz do Novo Testamento, três categorias de profecias messiânicas
podem ser distinguidas no Velho Testamento. Primeiro, há profecias
diretas ou retilíneas tais como aquelas que prediziam o lugar do
nascimento do Messias, Miquéias 5:2 (ver Mateus 2:5-6); a Sua expiação
vicária, Isaías 53 (ver Lucas 22:37; Romanos 5:19; 1 Pedro 2:24); o ser
"cortado" (NIV) e o Seu ato que "fará cessar o sacrifício e a oferta de
manjares", Daniel 9:26, 27 (ver Mateus 27:51; Hebreus 10:8-9); Sua
ressurreição, Salmo 16:10 (ver Atos 2:27, 31); Sua entrada triunfal em
Jerusalém, Zacarias 9:9 (ver Mateus 21:12, 23) e o Seu reino de eterna
paz mundial, Isaías 9:5-7 (ver Lucas 1:32-33; Apocalipse 11:15).
Predições tais como essas têm sido ou serão cumpridas direta e
A Interpretação Cristológica                                           2
exclusivamente em Cristo Jesus e por isso representam o esquema mais
simples de predição e cumprimento dos eventos e sua verificação.
      Os cumprimentos de tais predições magnificam a onisciência e a
soberana providência de Deus. Suas predições não são fragmentos
desassociados, mas constituem parte de um contínuo plano ou promessa
de salvação. Segundo, há profecias messiânicas tipológicas que já
encontraram os seus cumprimentos iniciais e parciais na sucessão dos
profetas desde Moisés (Deuteronômio 18:15, 18-19)1, e na sucessão dos
reis em Jerusalém (2 Samuel 7:12l 6)2, até ambas as linhas culminarem
em um único Messias. Embora o cumprimento imediato do profeta
prometido tenha ocorrido em Josué, o sucessor de Moisés (Números
27:18-23; Deuteronômio 34:9) e o cumprimento imediato do rei
prometido aconteceu em Salomão, o filho de Davi (2 Samuel 7:14;
Salmo 132:12), apenas o próprio Messias seria o maior Profeta e o Rei
eterno, de acordo com o Novo Testamento (Atos 3:22-26; Lucas
1:32-33). À categoria das promessas tipológicas pertence a maioria das
profecias messiânicas, especialmente os Salmos monárquicos: 2:7vv;
18:43vv; 22; 45:6-8; 72:8; 89:26vv; 10:1, 4; 118:22, 23; 132:11-18.
      O Novo Testamento parece ter por garantido que os Salmos de Davi
possuem uma dimensão messiânica adicional. Na epístola aos Hebreus,
por exemplo, quatro passagens de Salmos são citadas, analisadas
exegeticamente e aplicadas escatologicamente como tendo encontrado o
seu cumprimento em Cristo Jesus: Salmo 8:46 (o homem da humanidade
perfeita); 95:7-11 (seu repouso perfeito); 110:4 (o Mediador perfeito);
40:6-8 (Seu auto-sacrifício perfeito); respectivamente em Hebreus 2:12,
13; 3:7-11; 5:6; 10:5-7. O autor de Hebreus adicionou sua interpretação
das citações dos Salmos ao significado histórico que essas palavras
possuíam originalmente. Como conclui Kistemaker em sua dissertação
considerando essas quatro citações do Saltério em Hebreus: "O autor
ligava a profecia em seu contexto original ao seu cumprimento realizado
no período quando a escreveu. Por isso, aquelas passagens das Escrituras
que são tiradas do seu tipo de interpretação Midrash pesher
A Interpretação Cristológica                                            3
[interpretação escatológica judaica] reluzem com a perspectiva histórica
dirigida para o cumprimento em Cristo Jesus".3 Nessa perspectiva
histórica, um profeta, sacerdote ou rei davídico funcionava em seu santo
ofício como um representante do Redentor vitorioso, como um tipo do
maior antítipo vindouro.
      Essa espécie de profecia tipológica provê espaço para uma
aplicação basicamente dual, com um cumprimento inicial e parcial da
promessa messiânica, sem ter um sentido "duplo" ou ambíguo.4 O
sentido pretendido de uma aplicação histórica imediata ou a realização
parcial da promessa deve servir como um tipo histórico ou profecia
representada, que reafirma a promessa e intensifica a esperança no
cumprimento futuro. Um erudito luterano explica: "Uma profecia que é
messiânica através do tipo, não o é de maneira alguma num sentido
inferior, desde que o tipo não seja acidental, mas divinamente ordenado e
nos seja descrito como tal pelo Espírito de profecia".5 O Comentário
Bíblico Adventista do Sétimo Dia explica de forma mais completa (sobre
Deuteronômio 18:15):
      A força de uma profecia em relação a Cristo não é de forma alguma
enfraquecida porque as palavras do profeta primeiro se aplicam a uma
situação histórica mais imediata. Com freqüência, o primeiro e mais imediato
cumprimento serve não apenas para confirmar e clarificar o segundo, mas
pode até mesmo ser requisito para ele. Quando um escritor
neotestamentário aplica a declaração de um profeta veterotestamentário ao
Novo Testamento ou a períodos subseqüentes, negar a validade de tal
aplicação equivale a negar a inspiração do escritor neotestamentário. Mas
quando o contexto de uma declaração veterotestamentária torna evidente
que ela se aplica também a uma situação histórica imediata, negar essa
aplicação seria violar uma regra primária de interpretação; isto é, que um
exame do contexto e do cenário histórico é fundamental para uma correta
compreensão de qualquer passagem.
     Precisamos levar em consideração que as profecias messiânicas não
são predições separadas e dispersas, mas todas constituem um plano
contínuo de Deus. Esse plano começou com a primeira promessa feita
depois da Queda no jardim do Éden, quando o Redentor foi prometido da
A Interpretação Cristológica                                             4
"semente da mulher" (Gênesis 3:15). A fim de cumprir essa promessa
"mãe" original, Deus escolheu chamar a Abraão e fez-lhe a promessa que
o Redentor seria de sua "semente" (Gênesis 12:2-3; 22:17-18; 28:13-14).
Deus confinou a Sua promessa de um Redentor real especificamente à
tribo de Judá (Gênesis 49:10; Cf. Números 24:17). Finalmente, Ele
restringiu a promessa do rei Redentor, cujo reino seria eterno e universal,
à casa de Davi (2 Samuel 7:12-15). Essa linha de revelações repetidas e
progressivas do Rei Redentor é essencial para a adequada perspectiva
das numerosas predições messiânicas dentro de uma grande Promessa
que vem consumar-se apenas na realização de um novo céu e uma nova
Terra, o lar dos justos (2 Pedro 3:13).
      Um dos eruditos do Velho Testamento enfatiza o "emocionante
ritmo" dessa perspectiva messiânica: "Cada predição é adicionada à
promessa contínua de Deus que era anunciada primeiro aos povos pré-
patriarcais, depois ampliada e continuamente suplementada dos
patriarcas até a era pós-exílica de Ageu, Zacarias e Malaquias, mas
permanecia a promessa única e cumulativa de Deus".6
      Ali permanece, contudo, um número de passagens históricas não
preditivas que são aplicadas no Novo Testamento como sendo
"cumpridas" em Cristo, mas que no seu contexto original não contêm
aparentemente nenhuma intenção preditiva. Tais passagens podem ser
narrativas ou ocorrências históricas, experiências de sofrimento,
lamentação, súplica ou ação de graças por um salmista, ou asserções
descritivas nos livros proféticos.
      Uns poucos exemplos podem ilustrar esse modelo particular do
Novo Testamento de promessa-cumprimento. Cristo cita a experiência
de Jonas que permanece no interior de um grande peixe por "três dias e
três noites" (Jonas 1:17) como Seu próprio sinal de apelo aos escribas e
fariseus descrentes (Mateus 12:40; Lucas 11:29-30, 32). Embora a
narrativa de Jonas seja uma descrição puramente histórica de sua
experiência de morte virtual e da miraculosa libertação que levou ao
arrependimento os gentios em Nínive, Jesus a aplica como um sinal
A Interpretação Cristológica                                               5
messiânico, isto é, como um tipo profético de Sua própria morte e
sobrenatural ressurreição. A implicação parece ser: assim como Jonas foi
autorizado por seu sinal para pregar arrependimento aos ninivitas, assim
também Jesus como o Messias seria autorizado em Sua mensagem ao
povo judeu, Visto que Cristo é maior do que Jonas, a falha em se
arrepender sob a mensagem de Cristo incorrerá, portanto, em uma maior
condenação divina do que a que pesava sobre os ninivitas, mas que foi
cancelada devido ao seu arrependimento.
      Da mesma forma, os apelos de Jesus à sabedoria de Salomão
(Mateus 12:42; Lucas 11:31) e à autoridade de Davi para guardar o sábado
livre de certas restrições cerimoniais (Marcos 2:25-26; Mateus 12:3-4,
5-6; Lucas 6:3-4) pertencem basicamente à mesma categoria de tipologia
messiânica como o Seu apelo ao sinal de Jonas. Pelo fato da esperança
messiânica ter sido exemplificada nos três tipos israelitas de mediadores
entre Deus e o Seu povo do concerto – o profeta, o sacerdote e o rei – ela
possuía profundo significado quando Jesus reivindicava estes três ofícios
sagrados como tipos de Sua própria missão para Israel e o mundo.7
      Por isso é muito significativo estudar os tipos messiânicos na vida
religiosa, cúltica e política de Israel. Eles são essenciais para uma melhor
e mais adequada compreensão da obra e missão de Jesus. O Velho
Testamento permanece válido e necessário para o cristão, a fim de saber
quais as implicações da missão de Cristo, o Ungido. Uma compreensão
mais plena pode ser adquirida, além do mais, ao considerar como Jesus
aplicava, de uma maneira peculiar, a história primitiva de Israel à Si
mesmo. Como representante indicado de Seu povo, Jesus recapitulava –
isto é, repetia e consumava – o plano de Deus com Israel, e através deste,
com o homem.8 Ele deliberadamente palmilhou o mesmo terreno, a fim
de conquistar onde Israel havia falhado. Cristo conscienciosamente sabia
que fora chamado para Se tornar "o Servo do Senhor" predito em Isaías
42-53, especialmente depois que a voz de Seu Pai O havia identificado
como Cristo, Seu Filho e amado Servo (Mateus 3:17), e publicamente o
capacitado com o Espírito de Deus (Mateus 3:16; cf. Isaías 42:1). Como
A Interpretação Cristológica                                            6
Messias, Jesus não apenas foi solidário a Israel, mas foi a incorporação
deste, intitulado da mesma maneira "o filho primogênito" de Deus
(Êxodo 4:22). Através deste Servo, "a vontade do SENHOR prosperará"
(Isaías 53:10).
      Os escritores dos Evangelhos asseveram que Jesus, depois de Seu
batismo, foi imediatamente "levado pelo Espírito ao deserto, para ser
tentado pelo diabo" (Mateus 4:1; Marcos 1:12; Lucas 4:1). O antigo
Israel, depois de seu êxodo do Egito e do "batismo" no Mar Vermelho,
foi testado por Deus por quarenta anos no deserto antes que pudesse
entrar na terra prometida (Deuteronômio 8:2). Assim, Cristo foi
conduzido ao deserto por quarenta dias para ser tentado pelo diabo
concernente à Sua confiança messiânica na vontade soberana de Deus,
antes de começar Sua singular comissão. Em Seu jejum deliberado por
exatamente quarenta dias, Jesus desempenhou a experiência de Israel,
mas manifestou total obediência a Deus através do apelo à Sua Palavra
revelada a Israel (três vezes: Mateus 4:4, 7, 10; citando respectivamente,
Deuteronômio 6:13, 16; 8:3). O fato notável é que Cristo, cada vez que
respondia às três tentações, citava uma passagem do livro de
Deuteronômio, capítulo 6-8, quando outras passagens também estavam
disponíveis. Robert T. France sugere:
     Não seria por que Ele via nesses capítulos, com suas vívidas
lembranças das lições aprendidas por Israel em seus quarenta anos de
peregrinação no deserto, um padrão para o Seu próprio tempo de prova?
Deus havia testado a obediência de Israel no deserto por quarenta anos
(Deuteronômio 8:2), Seus "filhos" (Dt. 8:5; cf. Êx. 4:22), antes da missão de
conquista da terra prometida. Agora Ele estava testando Seu Filho Jesus no
deserto por quarenta dias, antes de Sua grande missão de libertação.9
     À luz de um estudo mais detalhado do contexto lingüístico e
teológico de Deuteronômio 8, que tem sido empreendido por vários
eruditos10, torna-se claro que Jesus via a Si próprio, em termos
tipológicos, como um novo Israel. Em ambas as ocasiões, um "filho de
Deus" foi provado (Êxodo 4:22; Deuteronômio 8:5); a prova ocorreu
justamente depois de seus batismos (Mateus 3:16; 1 Coríntios 10:2); e
A Interpretação Cristológica                                             7
em cada ocasião ocorreu a tentação de testar a Deus, se Ele realizaria um
milagre, a fim de cumprir as Sua promessas (Deuteronômio 6:16; Êxodo
17:2-7; Mateus 4:3-7), bem como a prova para verificar se Israel
adoraria apenas a Deus (Deuteronômio 6:13-15; Mateus 4:10). Israel
falhou diante da prova, mas Jesus triunfou em favor daquele e da
humanidade. Dessa forma, a história israelense é repetida e conduzida ao
cumprimento bem sucedido perante Deus em Cristo. A verdade da
representação inclusiva de Cristo é a razão pela qual o Novo Testamento
não apenas afirma que as profecias messiânicas diretas e tipológicas são
"cumpridas" Nele, mas também que certas experiências históricas na
vida dos israelitas veterotestamentários – a maioria dos reis davídicos
também são "cumpridas" na vida de Cristo. É como se o Novo
Testamento tomasse a história e a profecia israelense como "típicas" da
história infinitamente maior do Messias de Israel, o qual sofreria e seria
exaltado em um sentido infinitamente mais profundo.
     A verdade neotestamentária de que Jesus Cristo incorpora o Israel
de Deus como um todo e assim produz o cumprimento essencial da
história e profecia deste em Sua própria vida, é crucial para a
compreensão cristã da escatologia israelense.11 Com base no conceito do
Novo Testamento de que o Messias inclui em Si mesmo todo o povo de
Deus ou a humanidade redimida, os sofrimentos de Cristo, Sua morte e
ressurreição significam mais do que a experiência isolada de um
indivíduo justo. Eles cumprem o eterno propósito divino de Israel para
com a humanidade.
     A mais antiga confissão de fé no Novo Testamento reflete essa
interpretação cristológica de Israel:
     Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que, foi
sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1 Coríntios
15:3-4; ênfase acrescentada).
     A que passagens do Novo Testamento esta confissão religiosa se
refere? Como Cristo e os escritores neotestamentários aludiam ao Velho
Testamento em sua interpretação cristológica?
A Interpretação Cristológica                                            8
                                   12
     De acordo com C. H. Dodd, os escritores neotestamentários não
argumentam com textos separados do Velho Testamento, mas citam
frases ou sentenças únicas apenas como indicadores de um todo no
contexto do Velho Testamento. Esse contexto mais amplo desvela o
"enredo" dentro da história israelense e provê a chave para o significado
único da Igreja e da vida, morte e ressurreição de Jesus. O que aconteceu
com Jesus de Nazaré e com o Seu povo não foi uma frustração trágica ou
um adiamento do plano e das profecias divinas. Pelo contrário, de acordo
com o apóstolo Pedro no dia de Pentecostes, todos esses eventos
tomaram lugar "pelo determinado desígnio e presciência de Deus" (Atos
2:23; cf. 4:28) como revelado no Velho Testamento. Como então, o
"determinado desígnio" foi revelado? Nosso interesse particular aqui
focaliza um estilo muito negligenciado e olvidado no qual Cristo e os
escritores do Novo Testamento procuravam algumas experiências
históricas do Israel coletivo como tipologia das experiências do Messias
(êxodo, batismo, as experiências no deserto da tentação). Contemplavam
um sentido mais profundo e completo nas profecias em relação à
restauração nacional de Israel depois do exílio assírio-babilônico.

  A Ressurreição de Cristo "ao terceiro dia" no Velho Testamento

     Cristo anunciou várias vezes que a Sua ressurreição aconteceria
"depois de três elas" (Marcos 8:31; 9:31; 10:34), ou, "ao terceiro dia"
(Mateus 16:21; 17:23; 20:19; Lucas 9:22; 18:33; 24:7, 46). Afirmou que
não apenas Seu sofrimento e morte, mas também sua ressurreição "ao
terceiro dia" fora predita no Velho Testamento (Lucas 18:31-33; 24:46).
     Contudo, quais as passagens do Velho Testamento sugerem essa
predição messiânica particular? Enquanto os apóstolos apelavam para três
Salmos (2:7; 16:10; 118:22) a fim de substanciar as suas convicções de que
as promessas de Deus aos pais haviam sido cumpridas na ressurreição de
Jesus (Salmo 2:2 em Atos 13:33; Salmo 16:10 em Atos 2:31 e 13:35;
Salmo 118:22 em Atos 4:11), nenhuma destas citações sugerem qualquer
A Interpretação Cristológica                                           9
ressurreição "depois de três dias" e por isso não podem ser consideradas
como a fonte particular do elemento de tempo predito por Jesus. Contudo,
duas outras passagens veterotestamentárias podem ser reconhecidas como a
fonte específica do anúncio de Jesus: Jonas 1:17 e Oséias 6:2.
     É evidente que Jesus via na experiência de aprisionamento de Jonas
dentro do peixe por "três dias e três noites" um tipo messiânico de Sua
própria permanência na sepultura. A notável predição de Oséias – feita
antes de 722 A.C. – de que Israel como o povo do concerto de Deus seria
reavivado e restaurado depois do cativeiro assírio, é extremamente
instrutiva para compreender a aplicação messiânica de Cristo da profecia
de Israel. Dentro do contexto do iminente julgamento divino da nação de
Dez Tribos por meio do exílio assírio, Oséias retrata um Israel
arrependido que mostrará uma mudança de coração real, ao dizer:
      Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos
sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao
terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele (Oséias 6:1-2; ênfase
acrescentada).
     Um erudito faz uma observação com respeito a Oséias 6:2,
"Verbalmente, este verso é o paralelo mais próximo que o Velho
Testamento oferece às predições de Jesus de sua ressurreição, e sua
influência sobre elas é amplamente aceita".13 Outro chama Oséias 6:2 de
texto "fundamental" para a ressurreição de Cristo.14 Aplicada a Israel no
exílio assírio, a promessa de Oséias de reavivamento e restauração de um
povo arrependido "depois de dois dias" e "ao terceiro dia", poderia
apenas significar o restabelecimento deste no futuro próximo. A profecia
de Oséias concernente aos "dois dias" e "ao terceiro dia" claramente se
referia ao retorno de Israel do exílio assírio. Este começou em 722 A.C.
e não terminou até depois da queda de Babilônia em 539 A.C. Depois do
exílio, os rabis aplicavam a promessa de Oséias de uma nova forma, de
maneira escatológica à ressurreição dos israelitas, um fato que levou
Matthews Black a observar: "Porém, a interpretação de ressurreição em
Oséias vi.2 não é uma invenção cristã. É uma exegese judaica tradicional
bastante antiga de Oséias vi.2".15 A exegese judaica também combinava
A Interpretação Cristológica                                            10
Oséias 6:2 com Jonas 1:17, a fim de fortalecer a esperança israelense na
ressurreição.16 Assim, concluímos que a fonte escriturística de Jesus para
a Sua convicção de que seria ressuscitado dos mortos "ao terceiro dia"
era a combinação da passagem de Oséias 6:2 com Jonas 1:17.17
      Jesus aplicou literalmente a expressão simbólica da profecia de
Oséias concernente à restauração de Israel, depois de "dois dias" e no
"terceiro dia", a Si mesmo, à Sua morte substitutiva e à Sua ressurreição.
Em outras palavras, Ele aplicou uma profecia que originariamente
pertencia à restauração nacional de um remanescente fiel israelense a Si
mesmo como o Messias de Israel e à Sua própria ressurreição. Enquanto
os rabis faziam uma aplicação escatológica da profecia de Oséias (6:2),
referindo-se à ressurreição de Israel, Jesus fez uma nova e singular
aplicação messiânica da restauração de Israel à Sua própria ressurreição.
Este era o sentido mais profundo da profecia de Oséias na visão de Jesus.
A implicação de Seu princípio de interpretação profética é reveladora:
Jesus é Israel, e em Sua ressurreição a restauração deste é realizada. Até
mesmo C. H. Dodd diz, "A ressurreição de Cristo é a ressurreição de
Israel da qual falou o profeta".18
      Se a ressurreição de Jesus é o sentido mais profundo e o
cumprimento da profecia de Oséias 6:2, então os termos "Israel" e sua
"restauração" deveriam sempre ser compreendidos sob a perspectiva
messiânica – isto é, cristologicamente – em sua aplicação escatológica.
O cumprimento profético literal na escatologia passa pela cruz de Cristo
e é transformado em Sua ressurreição. Nela, a esperança de restauração
israelense tem sido consumada. Este estilo messiânico de interpretar a
profecia de Oséias em relação à restauração de Israel tem implicações
profundas e de longo alcance para a compreensão cristã da profecia
veterotestamentária. É refletido em muitas aplicações neotestamentárias
a Cristo Jesus dos eventos do Velho Testamento que pertencem a Israel
ou aos representantes israelitas.
A Interpretação Cristológica                                     11
 As Aplicações Messiânicas de Jesus nas Músicas Cúlticas de Israel

     Quatro Salmos para os quais Jesus apelou especificamente como
prefigurações de Sua experiência messiânica (Salmo 22, 41, 69 e 118)
merecem nossa mais profunda atenção a fim de estabelecer firmemente o
próprio princípio de Cristo da interpretação messiânica.
     Os Salmos 22, 41 e 69 pertencem à reconhecida categoria de
lamentações cúlticas que se aplicavam tanto ao israelita individualmente
como a Israel coletivamente em tempos de crise e sofrimento, muito
embora a confiança e as ações de graças a Deus pela Sua intervenção
redentora também podem ser ouvidas nas lamentações. A relação entre o
indivíduo e o povo como um todo era muito próxima em Israel,
especialmente quando o indivíduo em um cântico de adoração comum
era um rei ou um outro líder representativo do povo.
     Em Seu momento de mais profunda agonia na cruz, Cristo clamou,
"Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46;
Marcos 15:34). Estava citando as próprias palavras do Salmo 22:1 que
Davi clamara muito antes no contexto de seu próprio desespero enquanto
circundado por vorazes inimigos. Pelo fato do Salmo como um todo ser
uma unidade, consistindo de uma lamentação extensa a respeito de
grande sofrimento e escárnio (versos 1-21), Cristo via na amarga
experiência de Davi uma clara correspondência ou mesmo um tipo da
Sua própria e infinitamente mais exasperada agonia. A lamentação
histórica de Davi no Salmo 22 não é uma profecia messiânica direta,
embora Cristo e os escritores neotestamentários apliquem muitos
aspectos deste Salmo tipologicamente à cruz e à glória que seguiria. Ele
é um dos Salmos mais referidos no Novo Testamento como tendo
encontrado um cumprimento mais profundo em Cristo. O Salmo 22:18
concernente ao lançamento de sortes pelas roupas do condenado, é citada
em João 19:24 como "cumprido" em Cristo. A ação de graças de Davi no
verso 22 é citada em Hebreus 2:12 como se cumprindo na glorificação
de Cristo.
A Interpretação Cristológica                                          12
     No Salmo 41, o rei de Israel expressou sua necessidade em tempos
de severa enfermidade (versos 3, 4) e como os seus inimigos estavam
próximos a ele, procurando sua morte com falsas acusações (versos 5-8).
No centro dessa lamentação está a queixa de que mesmo um amigo
chegado, que estava acostumado a sentar-se à mesa real, o havia traído:
     Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão,
levantou contra mim o calcanhar. - Salmo 41:9
     É possível ver aqui uma referência a Aitofel, o conselheiro de
confiança de Davi (2 Samuel 15:12, 31).
     Jesus aparentemente se referiu a essa experiência de Davi quando
disse aos doze, "Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come
comigo, me trairá... Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu
respeito" (Marcos 14:18; cf. Lucas 22:22). E acrescentou, "é, antes, para
que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra
mim seu calcanhar" (João 13:18, ênfase acrescentada; cf. 17:12).
     A chocante traição do rei Davi por um amigo próximo (Salmos
41:9) não foi uma predição ou uma profecia messiânica direta, não
obstante, Jesus aplicou essa experiência histórica e lamentação cúltica a
Si mesmo e, dessa forma, elevou a desafortunada traição de Davi a um
tipo que foi "cumprido" em Cristo. Assim, Ele desvelou o Salmo 41:9
em um sentido mais profundo e cristológico.
     O Salmo 69 contém uma desesperada lamentação do rei de Judá,
porque ele é falsamente acusado e amargamente perseguido. Não
obstante, conclui com um cântico de ação de graças e um chamado ao
louvor universal a Deus (versos 34-36; cf. Salmo 22:22vv; 41:13). Este
líder é compelido por um zelo consumidor, um amor apaixonado pela
casa de Deus, o templo. Acusado de roubo, ele sofre inocentemente a
esse respeito (versos 4, 9). Em seu sofrimento, vê a si mesmo como um
representante e exemplar de outros que partilham uma situação
semelhante (verso 6).19 Está só, como servo de Deus, pela Sua causa
(versos 8-9, 17), mas a despeito de sua angustia extrema continua a
esperar nEle (verso 6). A intervenção divina efetuou uma mudança
A Interpretação Cristológica                                           13
repentina para o rei, de maneira que uma conclamação ao louvor e à ação
de graças e todo o Israel conclui este cântico comovente (versos 30-36).
     Várias citações do Salmo 69 no Novo Testamento revelam o
significado messiânico desta lamentação e doxologia.
      São mais que os cabelos de minha cabeça os que, sem razão, me
odeiam... (verso 4). ...
      .. -pois o zelo da tua casa me consumiu, e as injúrias dos que te
ultrajam caem sobre mim. (verso 9).
      Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre
(verso 21).
       Quando Cristo notou que os judeus começaram a rejeitá-Lo a
perseguir os Seus discípulos, Ele disse, "Quem me odeia, odeia também
a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum
outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto,
mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para
que Se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo"
(João 15:23-25; ênfase acrescentada). O Novo Testamento vincula uma
situação particular da vida de Davi com uma situação semelhante na vida
de Cristo. Mais ainda, intitula a rejeição de Cristo por parte de Israel um
"cumprimento" do que foi escrito no Salmo 69. Essa ligação é justificada
de acordo com o princípio da tipologia messiânica.
     Pouco depois do incidente da purificação do templo de Jerusalém
de vendedores de gado e cambistas por Jesus, os discípulos relembraram
as palavras do Salmo 69:9, "O zelo da tua casa me consumirá" (João
2:17). A mudança da sentença original no tempo presente do Salmo 69:9
para o futuro em João 2:17 parece indicar o reconhecimento de uma
dimensão profética nesse Salmo.
     O apóstolo Paulo também aplica outras palavras do Salmo 69:9, que
pertenciam originalmente a Davi, à experiência de Cristo (ver Romanos
15:3). Além disso, a descrição nos evangelhos sinóticos de que a Jesus
foi oferecido vinagre enquanto pendia da cruz (Mateus 27:48; Marcos
15:36; Lucas 23:36) corresponde à experiência do salmista no Salmo
69:21. O Evangelho de João explicitamente afirma que Jesus disse na
A Interpretação Cristológica                                          14
cruz, "Tenho sede", "para se cumprir a Escritura" (João 19:28; ênfase
acrescentada). Esta "Escritura" é encontrada no Salmo 69:21: "... na
minha sede me deram a beber vinagre."
     O julgamento que Davi reivindicara sobre os seus perseguidores no
Salmo 69:25 é, mais tarde, cumprido no destino fatal de Judas, o traidor
de Cristo, de acordo com Atos 1:20. Hans J. Kraus observa
perceptivamente:
     Através dos sofrimentos de Jesus, o Servo de Deus, a misteriosa
mensagem do Salmo 69 é finalmente trazida à luz. Daí em diante, a
mensagem essencial desse salmo não será acessível de outra maneira. O
cumprimento "preenche" o kerugma do salmo veterotestamentário,
transcendendo cada individualidade; ele penetra na profundidade inexaurível
de sofrimento expresso em cântico o qual, em sua proclamação majestosa,
coloca-se ao lado de Isaías 53, Salmo 22 e 118.20
      O Salmo 118 é considerado parte de uma ação de graças litúrgica
do templo. Contém aclamações de louvor responsivas pela comunidade
em adoração. Um adorador individual que pertencia aos "justos" (verso
20), possivelmente o rei, experimentou uma libertação miraculosa da
morte (verso 17). Sente-se compelido a agradecer a Deus no meio de
Israel e a recontar o ato de livramento de Jeová (verso 17) como resposta
às suas súplicas (verso 21). Os outros adoradores no templo expressam a
sua admiração quanto à redenção desse oprimido e à espantosa mudança
nos eventos para ele, o qual era como uma rocha que os edificadores
rejeitaram, que provou ser, não obstante, de fundamental importância:
     A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal
pedra, angular; isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos.
- Salmo 118:22, 23.
     A idéia básica desse dito proverbial é que alguém desprezado foi
erguido à estima e à honra; alguém que fora condenado à morte recebeu
uma nova vida (versos 17-18). Todo o Israel é convidado a regozijar-se
em sua salvação (versos 24-29). O Salmo 118 mostra como a experiência
individual e coletiva em Israel está entrelaçada. Os escritores dos
evangelhos aplicavam o Salmo 118:22 profeticamente ao sofrimento e à
A Interpretação Cristológica                                             15
ressurreição do Messias (Mateus 21:42, cf. versos 14-15). De acordo
com Lucas, Jesus perguntou aos rabis e principais sacerdotes que
estavam inclinados a destruí-Lo, "Que quer dizer, pois, o que está
escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal
pedra, angular?" (Lucas 20:17; ênfase adicionada). Aparentemente, Jesus
via nos cânticos tradicionais de ação de graças do Salmo 118 um
significado messiânico que transcendia uma exegese puramente
histórica. Cristo penetrava no sentido oculto desse cântico de ação de
graças através da aplicação do método tipológico. A interpretação
cristológica revelou o significado desse salmo.
      A aplicação de Pedro do Salmo 118 ressalta a ressurreição de Cristo
como o maravilho ato de Deus. Este salmo aparentemente não preditivo
encontrou o seu cumprimento em Cristo. Pedro identificou
especificamente os governantes e mestres de Jerusalém como "os
construtores" (Atos 4:11). O Targum judaico explica o Salmos 118:22
como se referindo apenas a Davi, que havia sido rejeitado antes de ser
escolhido como o ungido.21 Porém, Pedro desenvolve com convicção
apostólica o cumprimento escatológico e cristológico do Salmo 118 (ver
1 Pedro 2:4, 7).
      Ademais, tanto Pedro quanto Paulo aplicam "a pedra" do Salmo 118
também num sentido coletivo ou corporativo à igreja dos apóstolos (1
Pedro 2:4,5; Efésios 2:20). Os crentes cristãos são como pedras vivas
"edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele
mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Efésios 2:20; 1 Pedro 2:5).
Conseqüentemente, a construção do verdadeiro templo de Deus na terra
não foi detida ou adiada, mas ao contrário, avançou e acelerou desde o
Pentecostes pelo próprio Cristo ressurreto.
      Sumariando, os salmos de Israel que encontraram cumprimento em
Jesus Cristo (Salmo 22, 41, 69, 118) não foram predições messiânicas
diretas. São orações e ações de graças de Israel que se aplicavam
diretamente ao tempo do poeta ou do próprio rei davídico. Seguindo as
pegadas de Jesus, os escritores do Novo Testamento proclamaram que a
A Interpretação Cristológica                                             16
missão de Cristo, Sua progressão do sofrimento e rejeição para a
ressurreição e exaltação como Senhor, foi o "cumprimento" de algumas
das mais dramáticas experiências de Israel descritas nos cânticos cúlticos
deste. Assim, o Novo Testamento ensina a interpretação tipológica dos
salmos e orações de Israel.22 Esse surpreendente padrão de tipologia no
livro de Salmos, que veio à luz apenas através de Jesus Cristo e do Novo
Testamento, justifica a classificação de tais salmos como profecias
messiânicas indiretas. O princípio hermenêutico que ressalta a sua
aplicação cristológica parece ser que Cristo deve repetir a experiência de
Israel num sentido bem mais pleno, a fim de cumprir o propósito de
Deus para Israel e o mundo.23
      O propósito dessas citações neotestamentárias não é simplesmente
mostrar como as predições messiânicas encobertas foram verificadas de
forma precisa na vida de Jesus, mas ao invés disso, proclamá-Lo como o
alvo da história de Israel e a perfeita realização do concerto de Deus com
este. Jesus é entesourado no Novo Testamento como infinitamente mais
elevado do que o verificador das predições verbais. A Ele são
transmitidos de uma só vez os títulos messiânicos – Messias, Escolhido,
Amado, Filho de Davi – e os títulos de Israel – Servo de Jeová, a pedra
rejeitada mas vindicada, pedra angular, templo. Em resumo, o Novo
Testamento exalta a Cristo Jesus como "o Consumador da fé" (Hebreus
12:2), como "o clímax do modelo do verdadeiro relacionamento de
concerto".24

 A Interpretação Cristológica das Descrições Históricas nos Livros
                            Proféticos

     Os escritores dos Evangelhos declaram que certas ocorrências
históricas no passado de Israel foram "cumpridas" na própria vida de
Cristo. Mateus cita uma referência histórica no livro do profeta Oséias,
"do Egito chamei o meu filho" (11:1), uma declaração que relembrava a
Israel de seu êxodo histórico do Egito. Ele aplica estas palavras à fuga de
A Interpretação Cristológica                                            17
José e Maria daquele país até a morte de Herodes: "...para que se
cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do
Egito chamei o meu Filho" (Mateus 2:15). O ponto da citação de Mateus
é que a profecia de Oséias se "cumpriu" no Jesus infante. Contudo, as
palavras do profeta, não eram profecia, mas uma lembrança significativa
da experiência histórica de Israel como "filho" de Deus (cf. Êxodo 4:22).
Como Mateus pode, então, afirmar que Oséias 11:1 se "cumpriu" em
Jesus? Pelo mesmo raciocínio que justificou a interpretação messiânica
da experiência de Davi (ver a seção anterior). Como o Filho de Deus,
Cristo não apenas representa Israel perante Ele, mas também representa a
história e o destino daquela nação em Sua própria vida. Mateus tenta
ensinar que o significado da história israelita é inteiramente revelado na
vida e missão de Jesus Cristo.
     Mateus continua o relato descrevendo o assassinato de todas as
crianças de dois anos para baixo em Belém por Herodes. Agora, ele se
refere a um evento na história de Israel, descrito no livro do profeta
Jeremias, como tendo se "cumprido" nos chocantes eventos de Belém.
     Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias:
Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, [choro] e grande lamento; era Raquel
chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem. - Mateus
2:17-18; c£ Jeremias 31:15
     Estas palavras se referem à deportação dos judeus de Jerusalém –
via Ramá – para Babilônia, que o próprio Jeremias testemunhou.
Simbolicamente, Raquel, como a mãe de Israel, estava então chorando.
De acordo com Mateus, esse choro se "cumpriu", contudo, no lamento
dos belemitas por causa do massacre decretado por Herodes, a fim de
matar Jesus. Mateus interpreta muitos eventos cruciais na história
israelense como prefigurações dos eventos messiânicos. Na vida de
Cristo, o sentido mais pleno da história sagrada de Israel é trazido à luz.25
Dessa maneira, ele tenta confirmar a fé cristã de que Jesus é o Messias
de Israel e de que Deus realizou o Seu objetivo com Ele na Sua história
de Salvação.
A Interpretação Cristológica                                             18
     Os eruditos bíblicos começam a aceitar o termo teológico sensus
plenior, ou "sentido pleno", a fim de reconhecer que a história
veterotestamentária de Israel tem um significado mais profundo do que
uma exegese puramente histórico-gramatical poderia trazer à luz.26
Dirigido por controles adequados27, o conceito de "sentido pleno" ou
"sentido mais profundo" é válido e indispensável para reconhecer como
os escritores dos Evangelhos – e do Apocalipse – interpretam o Velho
Testamento. O significado "pleno" das Escrituras figura, por definição,
como o sentido intencionado por Deus na Palavra, que pode ou não ter
sido discernido pelo autor humano, mas que é tornado claro pela
revelação subseqüente do Espírito Santo. Como um erudito esclarece,
"Em ambas as situações, o autor não transmite o sensus plenior aos seus
ouvintes, mas posteriormente, à luz de revelação ulterior, o significado
pleno torna-se claro aos leitores sob a influência do Espírito que inspirou
o autor original".28
     Alguns exemplos do Evangelho de João são instrutivos para
aprender como os apóstolos entendiam o significado da história israelita
no Velho Testamento. João interpreta a descrença judaica em Jesus como
o Messias como um cumprimento da descrença de Jerusalém na
mensagem de Isaías.
     E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele,
para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em
nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? (João 12:37-38;
ênfase acrescentada; cf. Isaías 53:1).
     Enquanto o antigo Israel descria na mensagem profética de Isaías
concernente à vinda do Servo de Jeová (Isaías 53), os judeus nos dias de
Jesus descriam num sentido mais profundo, pois viam o cumprimento da
profecia de Isaías perante os seus olhos e ainda não criam Nele. João
procede de maneira a clarificar a implicação teológica da rejeição pelos
judeus de Jesus Cristo, apelando para Isaías 6:9-10 através de uma
maneira literária que não se conforma nem com o texto hebraico, nem
com o da Septuaginta. Ele introduz a Jesus como realmente atuando da
A Interpretação Cristológica                                       19
maneira como Isaías originalmente havia descrito sob a ordem de Jeová.
De acordo com Isaías, Deus mandou- lhe dizer à Jerusalém:
     Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna
insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os
olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e
a entender com o coração. Isaías 6:9-10
     Contudo, João cita Isaías como dizendo, "[o Senhor] cegou-lhes os
olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem
entendam com o coração..." (João 12:40, ênfase acrescentada). Por isso,
João transforma a comissão de Deus ao profeta Isaías em uma tarefa
cumprida por Jesus Cristo. Adiciona significativamente, "Isto disse
Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito'' (João 12:41).
     Essa impressionante afirmação declara nada menos que Isaías – em
sua visão da impressionante santidade de Jeová no templo celestial e do
seu chamado profético ao povo de Israel (Isaías 6:1-8) – havia visto em
realidade, a glória de Cristo em Seu esplendor pré-encarnado, e a Ele se
referido. Para João, a pessoa de Jesus manifesta uma fusão da glória de
Jeová e da missão profética de Isaías 29 (cf. João 1:14; 17:4-5). Dessa
maneira surpreendente, o apóstolo desdobra o significado pleno da
missão profética de Isaías e a subseqüente cegueira de Israel. Jesus até
mesmo lê a descrição de Isaías da hipocrisia dos adoradores de
Jerusalém – no oitavo século A.C. – como uma profecia da hipocrisia
dos fariseus e rabis de Seus próprios dias:
     Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo
honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão
me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. - Mateus
15:7-9; ênfase acrescentada; cf. Isaías 29:13
     Uma comparação literária de Isaías 6:9-10 com João 12:40 – tanto
no texto Massorético como na Septuaginta – mostra que João não se
apega conscientemente à letra do Velho Testamento quando o cita.
Enquanto preserva o sentido original do texto hebraico, ele sente-se livre
para modificar o texto original – ou a sua versão grega – a fim de
apresentar o sentido cristológico mais apropriadamente.30 Para ele, bem
A Interpretação Cristológica                                          20
                                                        31
como para os outros autores do Novo Testamento , o significado
cristológico do texto original era de importância primária para a sua
compreensão cristã do Velho Testamento. Henry M. Shires conclui a
partir de seu estudo do Evangelho de João, "O evangelista é
primariamente influenciado pela sua convicção teológica [de que Jesus é
o Messias de Israel], e vê o V.T. como um recurso que pode usar na
formulação eficiente de sua concepção. Mas, para os cristãos, o
significado do VT. é profético".32
      Sumariando, o Novo Testamento revela uma abordagem do Velho
Testamento que é múltipla e centralizada em Cristo, a qual é também
teologicamente mais rica e compreensiva do que a hermenêutica do
literalismo. Uma consideração de vários exemplos neotestamentários de
interpretação das profecias messiânicas do Velho Testamento revela
alguns padrões fascinantes de promessa e cumprimento dentro de uma
estrutura mais ampla da contínua história divina da salvação. Baseada na
implícita pressuposição da soberania de Deus na história de Israel, o
Novo Testamento reconhece algumas profecias messiânicas diretas do
Velho Testamento que encontraram seu cumprimento em Cristo Jesus.
Ainda com mais freqüência, contudo, o Novo Testamento reconhece
muitas profecias messiânicas indiretas que têm sido confirmadas em seu
significado mais pleno (sensus plenior) em Cristo através de um
cumprimento tipológico, especialmente no modelo de sofrimento
seguido pela exaltação nos Salmos monárquicos. Finalmente, o Novo
Testamento inova uma interpretação messiânica das passagens históricas
não preditivas da experiência israelita no Velho Testamento, novamente
em termos de correlações tipológicas. Através dessas várias maneiras, o
Novo Testamento ensina que os eventos na vida de Cristo – Seu
nascimento em Belém, Sua morte humilhante, mas também Sua
ressurreição e exaltação à destra de Deus – não foram eventos
imprevistos ou acidentais, mas predeterminados de acordo com os
desígnios de Deus quando formou e chamou a Israel. Enquanto as
profecias messiânicas diretas têm uma utilidade apologética definida
A Interpretação Cristológica                                           21
para a proclamação do Evangelho aos não-cristãos, o padrão de
promessa-cumprimento nas profecias tipológicas e na história de Israel
parece válido e convincente apenas para os cristãos que já crêem que
Jesus é o Messias da profecia.
     Essa fé em Cristo Jesus é inteiramente baseada nos fatos históricos
objetivos da vida e ressurreição de Cristo. Tal fé abre os olhos para vê-
Lo em todo o Velho Testamento33, de maneira que as profecias
messiânicas não são mais isoladas e limitadas a um grupo particular de
profecias preditivas ou a algumas seções das Escrituras (ver João 5:39,
46; Lucas 24:27, 44-47). Essa visão de Cristo como a incorporação de
Israel e o representante da humanidade, devemos ao próprio Jesus,
porque Ele compreendia o Velho Testamento tipologicamente como um
todo. Por essa razão, o Velho Testamento não pode ser exaurido ou
tornado obsoleto, mesmo pelo cumprimento literal de suas predições ou
prefigurações.
     "Cresce a convicção de que os escritores do Novo Testamento
usavam as Escrituras com conhecimento e discernimento espiritual,
compreendendo inteiramente o que estavam fazendo. Para eles, o Velho
Testamento como um todo e em todas as suas partes era uma testemunha
de Cristo".34 Através do Espírito de Cristo o crente se comove com a
alegria da descoberta ao discernir novos veios da verdade nas Escrituras
que confirmam a unidade espiritual do Velho e do Novo Testamentos. O
Velho torna-se para ele um livro cristão tanto quanto o Novo
Testamento, porque "a inteireza do Antigo Testamento aponta como uma
grande flecha para o cumprimento relatado no Novo".35

     Referências Bibliográficas:
     1. Ver W. C. Kaiser, Jr., "Messianic Prophecies in the Old Testament",
em Hand Book of Biblical Prophecy, ed. C. E. Amerding and W. W.
Gasque (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1978), p. 84. Também
Toward an Old Testament Theology, p. 141. Cf. SDABC, vol. 1, pp.
l017-19 (sobre Deuteronômio 18:15).
A Interpretação Cristológica                                              22
     2. Ver Kaiser, Toward an Old Testament Theology, pp. 149-157
(sobre 2 Samuel 7); pp. 159-166 (sobre os salmos monárquicos); pp.
208-210 (sobre Isaías 7:14. Quanto a Isaías 7:14, ver Problems in Bible
Translation, ed. Uma comissão da Conferência Geral dos Adventistas do
Sétimo Dia (Washington, D.C. : Review and Herald Pub. Assn., 1954),
pp.151-169.
     3. Kistemaker, The Psalm Citations in the Epistle to the Hebrews, pp.
145-146.
     4. W. J. Beecher, The Prophets and the Promises. (Grand Rapids,
Mich.: Baker Book House, 1975; reimpressão de 1905), pp. 129-131.
     5. Paul Peters, citado em W. J. Hassold, "Rectilinear or Typological
Interpretation of Messianic Prophecy", Concordia 38 (1967): 155-167;
citação da página 155. Esse artigo apresenta um relatório instrutivo do
debate no luteranismo acerca da profecia messiânica direta ou tipológica.
     6. Kaiser, "Messianic Prophecies in the Old Testament", em Hand
Book of Biblical Prophecy, p. 77.
     7. Ver France, Jesus and the Old Testament, pp. 43-49.
     8. K. J. Woollcombe (Essays on Typology, ed. Lampe and
Woollcombe [Naperville, Ill.: A. R. Allenson, 1957], pp. 43-44) encontra o
conceito de recapitulação entrincheirado nas profecias escatológicas do
Velho Testamento, e.g., a visão do templo de Ezequiel, em consideração do
templo de Salomão e o tabernáculo de Israel.
     9. R. T. France, "In all the Scriptures" – A Study of Jesus' Typology",
TSF Bulletin (1970), p. 14.
    10. France, Jesus and the Old Testament, pp. 50-53. B. Gerhardsson,
The Testing of God's Son (Lund: CWK Gleerup, 1966), capítulos 1-4,
especialmente, pp. 19-35.
    11. Dodd, The Old Testament in the New, p. 29. Cf. H. Wheeler
Robinson, Corporate Personality in Ancient Israel (Philadelphia: Fortress
Press, 1967).
    12. Dodd, According to the Scriptures. Também The Old Testament in
the New (Philadelphia: Westminster Press, 1974); Bruce, New Testament
Development of Old Testament Themes.
A Interpretação Cristológica                                            23
    13. France, Jesus and the Old Testament, p. 54. Cf. Dodd, The Old
Testament in the New, p. 30; C. Westermann, The Old Testament and Jesus
Christ, tr. Omar Kaste (Minneapolis: Augsburg Pub.:, 1971).
    14. H. E. Tödt, The Son of Man in the Synoptic Tradition, tr. Dorothea
M. Barton (Philadelphia: Westminster Press), p. 185.
    15. Ver M. Black, "The Christological Use of the OT in the NT", NTS
18 (1972): 1-14; citação da página 6.
    16. J. W. Doeve, Jewish Hermeneutics in the Synoptic Gospels and
Acts (Assen: Van Gorcum, 1954), p. 149, que se refere a Ber. Rabba LVI:1;
XCL:7 (fim).
    17. Ver France, Jesus and the Old Testament, p. 55.
    18. Dodd, According to the Scripture, p. 103. Cf. também France, Jesus
and the Old Testament, p. 55.
    19. Ver Kraus, Psalmen, p. 482 (sobre o Salmo 69:7).
    20. Kraus, Psalmen, p. 485 (tradução do autor).
    21. Black, "The Christological Use of the OT in the NT", pp. 12-13.
    22. Mowinckel, He That Cometh, p. 12.
    23. France, Jesus and the Old Testament, p. 59.
    24. C.F.D. Moule, "Fulfillment-Words in the New Testament: Use and
Abuse", NTS 14 (1968): 293-320; especialmente, 298-302.
    25. Para um tratamento mais completo, D. A. Hagner, "The Old
Testament in the New Testament", pp. 90-104. J. C. K. von Hofmann,
Interpreting the Bible (Minneapolis: Augsburg Pub., 1972), pp. 169-204.
    26. D. A. Hagner, em Handbook of Biblical Prophecy, ed. C. E.
Amerding and W. W. Gasque (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House,
1978), p. 91. W. S. LaSor, "Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics,
ed. B. Ramm, et al. (Grand Rapids, ich.: Baker Book House, 1971), pp.
106-108. Ver o erudito católico romano R. E. Brown, The Sensus Plenior
of Sacred Scripture (Baltimore: St. Mary's University, 1955), p. 92.
    27. Ver Hagner, em Handbook of Biblical Prophecy, p. 93v; LaSor,
"Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics, p. 116.
    28. LaSor, "Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics, p. 108.
    29. Cf. Von Hofmann, Interpreting the Bible, pp. 202-204.
A Interpretação Cristológica                                               24
    30. Cf. Old Testament Quotation in the New. Testament, ed. R. G.
Bratcher (London: United Bible Society, 1967), p. 24. Para a versão de
Isaías 6:9-10 em Marcos 4:12 de acordo com a versão encontrada no
Targum de Jônatas, ver Hagner, The Old Testament in the New Testament,
em Interpreting the Word of God, pp. 87-88. A citação em Mateus 13:14-15
concorda com a Septuaginta de Isaías 6:9-10.
    31 . Um outro exemplo de notável liberdade em desviar-se do texto
original é encontrado na '"citação" de Hebreus 10:37-38 de Habacuque
2:3-4. Ver T. W. Manson, "The Argument From Prophecy", JTS 46 (1945):
129-136.
    32. Shires, Finding the Old Testament in the New, p. 60.
    33. Ver Westermann, The Old Testament and Jesus Christ; J.A.
Borland, Christ in the Old Testament: A Comprehensive Study of OT
Appearance of Christ in Human Form (Chicago: Moody Press, 1978);
Wnham, Christ and the Bible.
    34. Westermann, Christ and the Bible, p. 108.
    35. Hagner. The Old Testament in the New Testament, em Interpreting
the Bible, p. 103. Cf. H. L. Ellison, The Centrality of the Messianic Idea for
the Old Testament (Leicester: Theological Students Fellowship, 1977), p. 6:
"O Velho Testamento inteiro, e não meramente uma antologia de passagens
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05 a interpretação cristológica

  • 1. A INTERPRETAÇÃO CRISTOLÓGICA No reino da interpretação profética o estudo do método adequado tem sido freqüentemente negligenciado ou olvidado o necessário cuidado. Aprendemos que Cristo e o Novo Testamento são as autoridades finais e a norma mais elevada para a compreensão teológica da história, da profecia, da sabedoria e da poesia sagrada de Israel. Ficou estabelecido que a profecia e a tipologia verbais – como profecia indireta – não são elementos desvinculados no Velho Testamento com princípios hermenêuticos inerentemente diferentes. A profecia preditiva e os modelos do pensamento tipológico formam uma unidade natural e integral. A profecia messiânica pertence à essência da esperança veterotestamentária. Nelas, todas as promessas do concerto israelense se convergem e delas emerge a missão universal de Israel. Mesmo as profecias apocalípticas específicas, com o seu simbolismo mais amplamente desenvolvido, são freqüentemente centralizadas no Messias (Daniel 7-12). As Profecias Messiânicas À luz do Novo Testamento, três categorias de profecias messiânicas podem ser distinguidas no Velho Testamento. Primeiro, há profecias diretas ou retilíneas tais como aquelas que prediziam o lugar do nascimento do Messias, Miquéias 5:2 (ver Mateus 2:5-6); a Sua expiação vicária, Isaías 53 (ver Lucas 22:37; Romanos 5:19; 1 Pedro 2:24); o ser "cortado" (NIV) e o Seu ato que "fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares", Daniel 9:26, 27 (ver Mateus 27:51; Hebreus 10:8-9); Sua ressurreição, Salmo 16:10 (ver Atos 2:27, 31); Sua entrada triunfal em Jerusalém, Zacarias 9:9 (ver Mateus 21:12, 23) e o Seu reino de eterna paz mundial, Isaías 9:5-7 (ver Lucas 1:32-33; Apocalipse 11:15). Predições tais como essas têm sido ou serão cumpridas direta e
  • 2. A Interpretação Cristológica 2 exclusivamente em Cristo Jesus e por isso representam o esquema mais simples de predição e cumprimento dos eventos e sua verificação. Os cumprimentos de tais predições magnificam a onisciência e a soberana providência de Deus. Suas predições não são fragmentos desassociados, mas constituem parte de um contínuo plano ou promessa de salvação. Segundo, há profecias messiânicas tipológicas que já encontraram os seus cumprimentos iniciais e parciais na sucessão dos profetas desde Moisés (Deuteronômio 18:15, 18-19)1, e na sucessão dos reis em Jerusalém (2 Samuel 7:12l 6)2, até ambas as linhas culminarem em um único Messias. Embora o cumprimento imediato do profeta prometido tenha ocorrido em Josué, o sucessor de Moisés (Números 27:18-23; Deuteronômio 34:9) e o cumprimento imediato do rei prometido aconteceu em Salomão, o filho de Davi (2 Samuel 7:14; Salmo 132:12), apenas o próprio Messias seria o maior Profeta e o Rei eterno, de acordo com o Novo Testamento (Atos 3:22-26; Lucas 1:32-33). À categoria das promessas tipológicas pertence a maioria das profecias messiânicas, especialmente os Salmos monárquicos: 2:7vv; 18:43vv; 22; 45:6-8; 72:8; 89:26vv; 10:1, 4; 118:22, 23; 132:11-18. O Novo Testamento parece ter por garantido que os Salmos de Davi possuem uma dimensão messiânica adicional. Na epístola aos Hebreus, por exemplo, quatro passagens de Salmos são citadas, analisadas exegeticamente e aplicadas escatologicamente como tendo encontrado o seu cumprimento em Cristo Jesus: Salmo 8:46 (o homem da humanidade perfeita); 95:7-11 (seu repouso perfeito); 110:4 (o Mediador perfeito); 40:6-8 (Seu auto-sacrifício perfeito); respectivamente em Hebreus 2:12, 13; 3:7-11; 5:6; 10:5-7. O autor de Hebreus adicionou sua interpretação das citações dos Salmos ao significado histórico que essas palavras possuíam originalmente. Como conclui Kistemaker em sua dissertação considerando essas quatro citações do Saltério em Hebreus: "O autor ligava a profecia em seu contexto original ao seu cumprimento realizado no período quando a escreveu. Por isso, aquelas passagens das Escrituras que são tiradas do seu tipo de interpretação Midrash pesher
  • 3. A Interpretação Cristológica 3 [interpretação escatológica judaica] reluzem com a perspectiva histórica dirigida para o cumprimento em Cristo Jesus".3 Nessa perspectiva histórica, um profeta, sacerdote ou rei davídico funcionava em seu santo ofício como um representante do Redentor vitorioso, como um tipo do maior antítipo vindouro. Essa espécie de profecia tipológica provê espaço para uma aplicação basicamente dual, com um cumprimento inicial e parcial da promessa messiânica, sem ter um sentido "duplo" ou ambíguo.4 O sentido pretendido de uma aplicação histórica imediata ou a realização parcial da promessa deve servir como um tipo histórico ou profecia representada, que reafirma a promessa e intensifica a esperança no cumprimento futuro. Um erudito luterano explica: "Uma profecia que é messiânica através do tipo, não o é de maneira alguma num sentido inferior, desde que o tipo não seja acidental, mas divinamente ordenado e nos seja descrito como tal pelo Espírito de profecia".5 O Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia explica de forma mais completa (sobre Deuteronômio 18:15): A força de uma profecia em relação a Cristo não é de forma alguma enfraquecida porque as palavras do profeta primeiro se aplicam a uma situação histórica mais imediata. Com freqüência, o primeiro e mais imediato cumprimento serve não apenas para confirmar e clarificar o segundo, mas pode até mesmo ser requisito para ele. Quando um escritor neotestamentário aplica a declaração de um profeta veterotestamentário ao Novo Testamento ou a períodos subseqüentes, negar a validade de tal aplicação equivale a negar a inspiração do escritor neotestamentário. Mas quando o contexto de uma declaração veterotestamentária torna evidente que ela se aplica também a uma situação histórica imediata, negar essa aplicação seria violar uma regra primária de interpretação; isto é, que um exame do contexto e do cenário histórico é fundamental para uma correta compreensão de qualquer passagem. Precisamos levar em consideração que as profecias messiânicas não são predições separadas e dispersas, mas todas constituem um plano contínuo de Deus. Esse plano começou com a primeira promessa feita depois da Queda no jardim do Éden, quando o Redentor foi prometido da
  • 4. A Interpretação Cristológica 4 "semente da mulher" (Gênesis 3:15). A fim de cumprir essa promessa "mãe" original, Deus escolheu chamar a Abraão e fez-lhe a promessa que o Redentor seria de sua "semente" (Gênesis 12:2-3; 22:17-18; 28:13-14). Deus confinou a Sua promessa de um Redentor real especificamente à tribo de Judá (Gênesis 49:10; Cf. Números 24:17). Finalmente, Ele restringiu a promessa do rei Redentor, cujo reino seria eterno e universal, à casa de Davi (2 Samuel 7:12-15). Essa linha de revelações repetidas e progressivas do Rei Redentor é essencial para a adequada perspectiva das numerosas predições messiânicas dentro de uma grande Promessa que vem consumar-se apenas na realização de um novo céu e uma nova Terra, o lar dos justos (2 Pedro 3:13). Um dos eruditos do Velho Testamento enfatiza o "emocionante ritmo" dessa perspectiva messiânica: "Cada predição é adicionada à promessa contínua de Deus que era anunciada primeiro aos povos pré- patriarcais, depois ampliada e continuamente suplementada dos patriarcas até a era pós-exílica de Ageu, Zacarias e Malaquias, mas permanecia a promessa única e cumulativa de Deus".6 Ali permanece, contudo, um número de passagens históricas não preditivas que são aplicadas no Novo Testamento como sendo "cumpridas" em Cristo, mas que no seu contexto original não contêm aparentemente nenhuma intenção preditiva. Tais passagens podem ser narrativas ou ocorrências históricas, experiências de sofrimento, lamentação, súplica ou ação de graças por um salmista, ou asserções descritivas nos livros proféticos. Uns poucos exemplos podem ilustrar esse modelo particular do Novo Testamento de promessa-cumprimento. Cristo cita a experiência de Jonas que permanece no interior de um grande peixe por "três dias e três noites" (Jonas 1:17) como Seu próprio sinal de apelo aos escribas e fariseus descrentes (Mateus 12:40; Lucas 11:29-30, 32). Embora a narrativa de Jonas seja uma descrição puramente histórica de sua experiência de morte virtual e da miraculosa libertação que levou ao arrependimento os gentios em Nínive, Jesus a aplica como um sinal
  • 5. A Interpretação Cristológica 5 messiânico, isto é, como um tipo profético de Sua própria morte e sobrenatural ressurreição. A implicação parece ser: assim como Jonas foi autorizado por seu sinal para pregar arrependimento aos ninivitas, assim também Jesus como o Messias seria autorizado em Sua mensagem ao povo judeu, Visto que Cristo é maior do que Jonas, a falha em se arrepender sob a mensagem de Cristo incorrerá, portanto, em uma maior condenação divina do que a que pesava sobre os ninivitas, mas que foi cancelada devido ao seu arrependimento. Da mesma forma, os apelos de Jesus à sabedoria de Salomão (Mateus 12:42; Lucas 11:31) e à autoridade de Davi para guardar o sábado livre de certas restrições cerimoniais (Marcos 2:25-26; Mateus 12:3-4, 5-6; Lucas 6:3-4) pertencem basicamente à mesma categoria de tipologia messiânica como o Seu apelo ao sinal de Jonas. Pelo fato da esperança messiânica ter sido exemplificada nos três tipos israelitas de mediadores entre Deus e o Seu povo do concerto – o profeta, o sacerdote e o rei – ela possuía profundo significado quando Jesus reivindicava estes três ofícios sagrados como tipos de Sua própria missão para Israel e o mundo.7 Por isso é muito significativo estudar os tipos messiânicos na vida religiosa, cúltica e política de Israel. Eles são essenciais para uma melhor e mais adequada compreensão da obra e missão de Jesus. O Velho Testamento permanece válido e necessário para o cristão, a fim de saber quais as implicações da missão de Cristo, o Ungido. Uma compreensão mais plena pode ser adquirida, além do mais, ao considerar como Jesus aplicava, de uma maneira peculiar, a história primitiva de Israel à Si mesmo. Como representante indicado de Seu povo, Jesus recapitulava – isto é, repetia e consumava – o plano de Deus com Israel, e através deste, com o homem.8 Ele deliberadamente palmilhou o mesmo terreno, a fim de conquistar onde Israel havia falhado. Cristo conscienciosamente sabia que fora chamado para Se tornar "o Servo do Senhor" predito em Isaías 42-53, especialmente depois que a voz de Seu Pai O havia identificado como Cristo, Seu Filho e amado Servo (Mateus 3:17), e publicamente o capacitado com o Espírito de Deus (Mateus 3:16; cf. Isaías 42:1). Como
  • 6. A Interpretação Cristológica 6 Messias, Jesus não apenas foi solidário a Israel, mas foi a incorporação deste, intitulado da mesma maneira "o filho primogênito" de Deus (Êxodo 4:22). Através deste Servo, "a vontade do SENHOR prosperará" (Isaías 53:10). Os escritores dos Evangelhos asseveram que Jesus, depois de Seu batismo, foi imediatamente "levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mateus 4:1; Marcos 1:12; Lucas 4:1). O antigo Israel, depois de seu êxodo do Egito e do "batismo" no Mar Vermelho, foi testado por Deus por quarenta anos no deserto antes que pudesse entrar na terra prometida (Deuteronômio 8:2). Assim, Cristo foi conduzido ao deserto por quarenta dias para ser tentado pelo diabo concernente à Sua confiança messiânica na vontade soberana de Deus, antes de começar Sua singular comissão. Em Seu jejum deliberado por exatamente quarenta dias, Jesus desempenhou a experiência de Israel, mas manifestou total obediência a Deus através do apelo à Sua Palavra revelada a Israel (três vezes: Mateus 4:4, 7, 10; citando respectivamente, Deuteronômio 6:13, 16; 8:3). O fato notável é que Cristo, cada vez que respondia às três tentações, citava uma passagem do livro de Deuteronômio, capítulo 6-8, quando outras passagens também estavam disponíveis. Robert T. France sugere: Não seria por que Ele via nesses capítulos, com suas vívidas lembranças das lições aprendidas por Israel em seus quarenta anos de peregrinação no deserto, um padrão para o Seu próprio tempo de prova? Deus havia testado a obediência de Israel no deserto por quarenta anos (Deuteronômio 8:2), Seus "filhos" (Dt. 8:5; cf. Êx. 4:22), antes da missão de conquista da terra prometida. Agora Ele estava testando Seu Filho Jesus no deserto por quarenta dias, antes de Sua grande missão de libertação.9 À luz de um estudo mais detalhado do contexto lingüístico e teológico de Deuteronômio 8, que tem sido empreendido por vários eruditos10, torna-se claro que Jesus via a Si próprio, em termos tipológicos, como um novo Israel. Em ambas as ocasiões, um "filho de Deus" foi provado (Êxodo 4:22; Deuteronômio 8:5); a prova ocorreu justamente depois de seus batismos (Mateus 3:16; 1 Coríntios 10:2); e
  • 7. A Interpretação Cristológica 7 em cada ocasião ocorreu a tentação de testar a Deus, se Ele realizaria um milagre, a fim de cumprir as Sua promessas (Deuteronômio 6:16; Êxodo 17:2-7; Mateus 4:3-7), bem como a prova para verificar se Israel adoraria apenas a Deus (Deuteronômio 6:13-15; Mateus 4:10). Israel falhou diante da prova, mas Jesus triunfou em favor daquele e da humanidade. Dessa forma, a história israelense é repetida e conduzida ao cumprimento bem sucedido perante Deus em Cristo. A verdade da representação inclusiva de Cristo é a razão pela qual o Novo Testamento não apenas afirma que as profecias messiânicas diretas e tipológicas são "cumpridas" Nele, mas também que certas experiências históricas na vida dos israelitas veterotestamentários – a maioria dos reis davídicos também são "cumpridas" na vida de Cristo. É como se o Novo Testamento tomasse a história e a profecia israelense como "típicas" da história infinitamente maior do Messias de Israel, o qual sofreria e seria exaltado em um sentido infinitamente mais profundo. A verdade neotestamentária de que Jesus Cristo incorpora o Israel de Deus como um todo e assim produz o cumprimento essencial da história e profecia deste em Sua própria vida, é crucial para a compreensão cristã da escatologia israelense.11 Com base no conceito do Novo Testamento de que o Messias inclui em Si mesmo todo o povo de Deus ou a humanidade redimida, os sofrimentos de Cristo, Sua morte e ressurreição significam mais do que a experiência isolada de um indivíduo justo. Eles cumprem o eterno propósito divino de Israel para com a humanidade. A mais antiga confissão de fé no Novo Testamento reflete essa interpretação cristológica de Israel: Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1 Coríntios 15:3-4; ênfase acrescentada). A que passagens do Novo Testamento esta confissão religiosa se refere? Como Cristo e os escritores neotestamentários aludiam ao Velho Testamento em sua interpretação cristológica?
  • 8. A Interpretação Cristológica 8 12 De acordo com C. H. Dodd, os escritores neotestamentários não argumentam com textos separados do Velho Testamento, mas citam frases ou sentenças únicas apenas como indicadores de um todo no contexto do Velho Testamento. Esse contexto mais amplo desvela o "enredo" dentro da história israelense e provê a chave para o significado único da Igreja e da vida, morte e ressurreição de Jesus. O que aconteceu com Jesus de Nazaré e com o Seu povo não foi uma frustração trágica ou um adiamento do plano e das profecias divinas. Pelo contrário, de acordo com o apóstolo Pedro no dia de Pentecostes, todos esses eventos tomaram lugar "pelo determinado desígnio e presciência de Deus" (Atos 2:23; cf. 4:28) como revelado no Velho Testamento. Como então, o "determinado desígnio" foi revelado? Nosso interesse particular aqui focaliza um estilo muito negligenciado e olvidado no qual Cristo e os escritores do Novo Testamento procuravam algumas experiências históricas do Israel coletivo como tipologia das experiências do Messias (êxodo, batismo, as experiências no deserto da tentação). Contemplavam um sentido mais profundo e completo nas profecias em relação à restauração nacional de Israel depois do exílio assírio-babilônico. A Ressurreição de Cristo "ao terceiro dia" no Velho Testamento Cristo anunciou várias vezes que a Sua ressurreição aconteceria "depois de três elas" (Marcos 8:31; 9:31; 10:34), ou, "ao terceiro dia" (Mateus 16:21; 17:23; 20:19; Lucas 9:22; 18:33; 24:7, 46). Afirmou que não apenas Seu sofrimento e morte, mas também sua ressurreição "ao terceiro dia" fora predita no Velho Testamento (Lucas 18:31-33; 24:46). Contudo, quais as passagens do Velho Testamento sugerem essa predição messiânica particular? Enquanto os apóstolos apelavam para três Salmos (2:7; 16:10; 118:22) a fim de substanciar as suas convicções de que as promessas de Deus aos pais haviam sido cumpridas na ressurreição de Jesus (Salmo 2:2 em Atos 13:33; Salmo 16:10 em Atos 2:31 e 13:35; Salmo 118:22 em Atos 4:11), nenhuma destas citações sugerem qualquer
  • 9. A Interpretação Cristológica 9 ressurreição "depois de três dias" e por isso não podem ser consideradas como a fonte particular do elemento de tempo predito por Jesus. Contudo, duas outras passagens veterotestamentárias podem ser reconhecidas como a fonte específica do anúncio de Jesus: Jonas 1:17 e Oséias 6:2. É evidente que Jesus via na experiência de aprisionamento de Jonas dentro do peixe por "três dias e três noites" um tipo messiânico de Sua própria permanência na sepultura. A notável predição de Oséias – feita antes de 722 A.C. – de que Israel como o povo do concerto de Deus seria reavivado e restaurado depois do cativeiro assírio, é extremamente instrutiva para compreender a aplicação messiânica de Cristo da profecia de Israel. Dentro do contexto do iminente julgamento divino da nação de Dez Tribos por meio do exílio assírio, Oséias retrata um Israel arrependido que mostrará uma mudança de coração real, ao dizer: Vinde, e tornemos para o SENHOR, porque ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará. Depois de dois dias, nos revigorará; ao terceiro dia, nos levantará, e viveremos diante dele (Oséias 6:1-2; ênfase acrescentada). Um erudito faz uma observação com respeito a Oséias 6:2, "Verbalmente, este verso é o paralelo mais próximo que o Velho Testamento oferece às predições de Jesus de sua ressurreição, e sua influência sobre elas é amplamente aceita".13 Outro chama Oséias 6:2 de texto "fundamental" para a ressurreição de Cristo.14 Aplicada a Israel no exílio assírio, a promessa de Oséias de reavivamento e restauração de um povo arrependido "depois de dois dias" e "ao terceiro dia", poderia apenas significar o restabelecimento deste no futuro próximo. A profecia de Oséias concernente aos "dois dias" e "ao terceiro dia" claramente se referia ao retorno de Israel do exílio assírio. Este começou em 722 A.C. e não terminou até depois da queda de Babilônia em 539 A.C. Depois do exílio, os rabis aplicavam a promessa de Oséias de uma nova forma, de maneira escatológica à ressurreição dos israelitas, um fato que levou Matthews Black a observar: "Porém, a interpretação de ressurreição em Oséias vi.2 não é uma invenção cristã. É uma exegese judaica tradicional bastante antiga de Oséias vi.2".15 A exegese judaica também combinava
  • 10. A Interpretação Cristológica 10 Oséias 6:2 com Jonas 1:17, a fim de fortalecer a esperança israelense na ressurreição.16 Assim, concluímos que a fonte escriturística de Jesus para a Sua convicção de que seria ressuscitado dos mortos "ao terceiro dia" era a combinação da passagem de Oséias 6:2 com Jonas 1:17.17 Jesus aplicou literalmente a expressão simbólica da profecia de Oséias concernente à restauração de Israel, depois de "dois dias" e no "terceiro dia", a Si mesmo, à Sua morte substitutiva e à Sua ressurreição. Em outras palavras, Ele aplicou uma profecia que originariamente pertencia à restauração nacional de um remanescente fiel israelense a Si mesmo como o Messias de Israel e à Sua própria ressurreição. Enquanto os rabis faziam uma aplicação escatológica da profecia de Oséias (6:2), referindo-se à ressurreição de Israel, Jesus fez uma nova e singular aplicação messiânica da restauração de Israel à Sua própria ressurreição. Este era o sentido mais profundo da profecia de Oséias na visão de Jesus. A implicação de Seu princípio de interpretação profética é reveladora: Jesus é Israel, e em Sua ressurreição a restauração deste é realizada. Até mesmo C. H. Dodd diz, "A ressurreição de Cristo é a ressurreição de Israel da qual falou o profeta".18 Se a ressurreição de Jesus é o sentido mais profundo e o cumprimento da profecia de Oséias 6:2, então os termos "Israel" e sua "restauração" deveriam sempre ser compreendidos sob a perspectiva messiânica – isto é, cristologicamente – em sua aplicação escatológica. O cumprimento profético literal na escatologia passa pela cruz de Cristo e é transformado em Sua ressurreição. Nela, a esperança de restauração israelense tem sido consumada. Este estilo messiânico de interpretar a profecia de Oséias em relação à restauração de Israel tem implicações profundas e de longo alcance para a compreensão cristã da profecia veterotestamentária. É refletido em muitas aplicações neotestamentárias a Cristo Jesus dos eventos do Velho Testamento que pertencem a Israel ou aos representantes israelitas.
  • 11. A Interpretação Cristológica 11 As Aplicações Messiânicas de Jesus nas Músicas Cúlticas de Israel Quatro Salmos para os quais Jesus apelou especificamente como prefigurações de Sua experiência messiânica (Salmo 22, 41, 69 e 118) merecem nossa mais profunda atenção a fim de estabelecer firmemente o próprio princípio de Cristo da interpretação messiânica. Os Salmos 22, 41 e 69 pertencem à reconhecida categoria de lamentações cúlticas que se aplicavam tanto ao israelita individualmente como a Israel coletivamente em tempos de crise e sofrimento, muito embora a confiança e as ações de graças a Deus pela Sua intervenção redentora também podem ser ouvidas nas lamentações. A relação entre o indivíduo e o povo como um todo era muito próxima em Israel, especialmente quando o indivíduo em um cântico de adoração comum era um rei ou um outro líder representativo do povo. Em Seu momento de mais profunda agonia na cruz, Cristo clamou, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46; Marcos 15:34). Estava citando as próprias palavras do Salmo 22:1 que Davi clamara muito antes no contexto de seu próprio desespero enquanto circundado por vorazes inimigos. Pelo fato do Salmo como um todo ser uma unidade, consistindo de uma lamentação extensa a respeito de grande sofrimento e escárnio (versos 1-21), Cristo via na amarga experiência de Davi uma clara correspondência ou mesmo um tipo da Sua própria e infinitamente mais exasperada agonia. A lamentação histórica de Davi no Salmo 22 não é uma profecia messiânica direta, embora Cristo e os escritores neotestamentários apliquem muitos aspectos deste Salmo tipologicamente à cruz e à glória que seguiria. Ele é um dos Salmos mais referidos no Novo Testamento como tendo encontrado um cumprimento mais profundo em Cristo. O Salmo 22:18 concernente ao lançamento de sortes pelas roupas do condenado, é citada em João 19:24 como "cumprido" em Cristo. A ação de graças de Davi no verso 22 é citada em Hebreus 2:12 como se cumprindo na glorificação de Cristo.
  • 12. A Interpretação Cristológica 12 No Salmo 41, o rei de Israel expressou sua necessidade em tempos de severa enfermidade (versos 3, 4) e como os seus inimigos estavam próximos a ele, procurando sua morte com falsas acusações (versos 5-8). No centro dessa lamentação está a queixa de que mesmo um amigo chegado, que estava acostumado a sentar-se à mesa real, o havia traído: Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar. - Salmo 41:9 É possível ver aqui uma referência a Aitofel, o conselheiro de confiança de Davi (2 Samuel 15:12, 31). Jesus aparentemente se referiu a essa experiência de Davi quando disse aos doze, "Em verdade vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá... Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito" (Marcos 14:18; cf. Lucas 22:22). E acrescentou, "é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar" (João 13:18, ênfase acrescentada; cf. 17:12). A chocante traição do rei Davi por um amigo próximo (Salmos 41:9) não foi uma predição ou uma profecia messiânica direta, não obstante, Jesus aplicou essa experiência histórica e lamentação cúltica a Si mesmo e, dessa forma, elevou a desafortunada traição de Davi a um tipo que foi "cumprido" em Cristo. Assim, Ele desvelou o Salmo 41:9 em um sentido mais profundo e cristológico. O Salmo 69 contém uma desesperada lamentação do rei de Judá, porque ele é falsamente acusado e amargamente perseguido. Não obstante, conclui com um cântico de ação de graças e um chamado ao louvor universal a Deus (versos 34-36; cf. Salmo 22:22vv; 41:13). Este líder é compelido por um zelo consumidor, um amor apaixonado pela casa de Deus, o templo. Acusado de roubo, ele sofre inocentemente a esse respeito (versos 4, 9). Em seu sofrimento, vê a si mesmo como um representante e exemplar de outros que partilham uma situação semelhante (verso 6).19 Está só, como servo de Deus, pela Sua causa (versos 8-9, 17), mas a despeito de sua angustia extrema continua a esperar nEle (verso 6). A intervenção divina efetuou uma mudança
  • 13. A Interpretação Cristológica 13 repentina para o rei, de maneira que uma conclamação ao louvor e à ação de graças e todo o Israel conclui este cântico comovente (versos 30-36). Várias citações do Salmo 69 no Novo Testamento revelam o significado messiânico desta lamentação e doxologia. São mais que os cabelos de minha cabeça os que, sem razão, me odeiam... (verso 4). ... .. -pois o zelo da tua casa me consumiu, e as injúrias dos que te ultrajam caem sobre mim. (verso 9). Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre (verso 21). Quando Cristo notou que os judeus começaram a rejeitá-Lo a perseguir os Seus discípulos, Ele disse, "Quem me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai. Isto, porém, é para que Se cumpra a palavra escrita na sua lei: Odiaram-me sem motivo" (João 15:23-25; ênfase acrescentada). O Novo Testamento vincula uma situação particular da vida de Davi com uma situação semelhante na vida de Cristo. Mais ainda, intitula a rejeição de Cristo por parte de Israel um "cumprimento" do que foi escrito no Salmo 69. Essa ligação é justificada de acordo com o princípio da tipologia messiânica. Pouco depois do incidente da purificação do templo de Jerusalém de vendedores de gado e cambistas por Jesus, os discípulos relembraram as palavras do Salmo 69:9, "O zelo da tua casa me consumirá" (João 2:17). A mudança da sentença original no tempo presente do Salmo 69:9 para o futuro em João 2:17 parece indicar o reconhecimento de uma dimensão profética nesse Salmo. O apóstolo Paulo também aplica outras palavras do Salmo 69:9, que pertenciam originalmente a Davi, à experiência de Cristo (ver Romanos 15:3). Além disso, a descrição nos evangelhos sinóticos de que a Jesus foi oferecido vinagre enquanto pendia da cruz (Mateus 27:48; Marcos 15:36; Lucas 23:36) corresponde à experiência do salmista no Salmo 69:21. O Evangelho de João explicitamente afirma que Jesus disse na
  • 14. A Interpretação Cristológica 14 cruz, "Tenho sede", "para se cumprir a Escritura" (João 19:28; ênfase acrescentada). Esta "Escritura" é encontrada no Salmo 69:21: "... na minha sede me deram a beber vinagre." O julgamento que Davi reivindicara sobre os seus perseguidores no Salmo 69:25 é, mais tarde, cumprido no destino fatal de Judas, o traidor de Cristo, de acordo com Atos 1:20. Hans J. Kraus observa perceptivamente: Através dos sofrimentos de Jesus, o Servo de Deus, a misteriosa mensagem do Salmo 69 é finalmente trazida à luz. Daí em diante, a mensagem essencial desse salmo não será acessível de outra maneira. O cumprimento "preenche" o kerugma do salmo veterotestamentário, transcendendo cada individualidade; ele penetra na profundidade inexaurível de sofrimento expresso em cântico o qual, em sua proclamação majestosa, coloca-se ao lado de Isaías 53, Salmo 22 e 118.20 O Salmo 118 é considerado parte de uma ação de graças litúrgica do templo. Contém aclamações de louvor responsivas pela comunidade em adoração. Um adorador individual que pertencia aos "justos" (verso 20), possivelmente o rei, experimentou uma libertação miraculosa da morte (verso 17). Sente-se compelido a agradecer a Deus no meio de Israel e a recontar o ato de livramento de Jeová (verso 17) como resposta às suas súplicas (verso 21). Os outros adoradores no templo expressam a sua admiração quanto à redenção desse oprimido e à espantosa mudança nos eventos para ele, o qual era como uma rocha que os edificadores rejeitaram, que provou ser, não obstante, de fundamental importância: A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do SENHOR e é maravilhoso aos nossos olhos. - Salmo 118:22, 23. A idéia básica desse dito proverbial é que alguém desprezado foi erguido à estima e à honra; alguém que fora condenado à morte recebeu uma nova vida (versos 17-18). Todo o Israel é convidado a regozijar-se em sua salvação (versos 24-29). O Salmo 118 mostra como a experiência individual e coletiva em Israel está entrelaçada. Os escritores dos evangelhos aplicavam o Salmo 118:22 profeticamente ao sofrimento e à
  • 15. A Interpretação Cristológica 15 ressurreição do Messias (Mateus 21:42, cf. versos 14-15). De acordo com Lucas, Jesus perguntou aos rabis e principais sacerdotes que estavam inclinados a destruí-Lo, "Que quer dizer, pois, o que está escrito: A pedra que os construtores rejeitaram, esta veio a ser a principal pedra, angular?" (Lucas 20:17; ênfase adicionada). Aparentemente, Jesus via nos cânticos tradicionais de ação de graças do Salmo 118 um significado messiânico que transcendia uma exegese puramente histórica. Cristo penetrava no sentido oculto desse cântico de ação de graças através da aplicação do método tipológico. A interpretação cristológica revelou o significado desse salmo. A aplicação de Pedro do Salmo 118 ressalta a ressurreição de Cristo como o maravilho ato de Deus. Este salmo aparentemente não preditivo encontrou o seu cumprimento em Cristo. Pedro identificou especificamente os governantes e mestres de Jerusalém como "os construtores" (Atos 4:11). O Targum judaico explica o Salmos 118:22 como se referindo apenas a Davi, que havia sido rejeitado antes de ser escolhido como o ungido.21 Porém, Pedro desenvolve com convicção apostólica o cumprimento escatológico e cristológico do Salmo 118 (ver 1 Pedro 2:4, 7). Ademais, tanto Pedro quanto Paulo aplicam "a pedra" do Salmo 118 também num sentido coletivo ou corporativo à igreja dos apóstolos (1 Pedro 2:4,5; Efésios 2:20). Os crentes cristãos são como pedras vivas "edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular" (Efésios 2:20; 1 Pedro 2:5). Conseqüentemente, a construção do verdadeiro templo de Deus na terra não foi detida ou adiada, mas ao contrário, avançou e acelerou desde o Pentecostes pelo próprio Cristo ressurreto. Sumariando, os salmos de Israel que encontraram cumprimento em Jesus Cristo (Salmo 22, 41, 69, 118) não foram predições messiânicas diretas. São orações e ações de graças de Israel que se aplicavam diretamente ao tempo do poeta ou do próprio rei davídico. Seguindo as pegadas de Jesus, os escritores do Novo Testamento proclamaram que a
  • 16. A Interpretação Cristológica 16 missão de Cristo, Sua progressão do sofrimento e rejeição para a ressurreição e exaltação como Senhor, foi o "cumprimento" de algumas das mais dramáticas experiências de Israel descritas nos cânticos cúlticos deste. Assim, o Novo Testamento ensina a interpretação tipológica dos salmos e orações de Israel.22 Esse surpreendente padrão de tipologia no livro de Salmos, que veio à luz apenas através de Jesus Cristo e do Novo Testamento, justifica a classificação de tais salmos como profecias messiânicas indiretas. O princípio hermenêutico que ressalta a sua aplicação cristológica parece ser que Cristo deve repetir a experiência de Israel num sentido bem mais pleno, a fim de cumprir o propósito de Deus para Israel e o mundo.23 O propósito dessas citações neotestamentárias não é simplesmente mostrar como as predições messiânicas encobertas foram verificadas de forma precisa na vida de Jesus, mas ao invés disso, proclamá-Lo como o alvo da história de Israel e a perfeita realização do concerto de Deus com este. Jesus é entesourado no Novo Testamento como infinitamente mais elevado do que o verificador das predições verbais. A Ele são transmitidos de uma só vez os títulos messiânicos – Messias, Escolhido, Amado, Filho de Davi – e os títulos de Israel – Servo de Jeová, a pedra rejeitada mas vindicada, pedra angular, templo. Em resumo, o Novo Testamento exalta a Cristo Jesus como "o Consumador da fé" (Hebreus 12:2), como "o clímax do modelo do verdadeiro relacionamento de concerto".24 A Interpretação Cristológica das Descrições Históricas nos Livros Proféticos Os escritores dos Evangelhos declaram que certas ocorrências históricas no passado de Israel foram "cumpridas" na própria vida de Cristo. Mateus cita uma referência histórica no livro do profeta Oséias, "do Egito chamei o meu filho" (11:1), uma declaração que relembrava a Israel de seu êxodo histórico do Egito. Ele aplica estas palavras à fuga de
  • 17. A Interpretação Cristológica 17 José e Maria daquele país até a morte de Herodes: "...para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho" (Mateus 2:15). O ponto da citação de Mateus é que a profecia de Oséias se "cumpriu" no Jesus infante. Contudo, as palavras do profeta, não eram profecia, mas uma lembrança significativa da experiência histórica de Israel como "filho" de Deus (cf. Êxodo 4:22). Como Mateus pode, então, afirmar que Oséias 11:1 se "cumpriu" em Jesus? Pelo mesmo raciocínio que justificou a interpretação messiânica da experiência de Davi (ver a seção anterior). Como o Filho de Deus, Cristo não apenas representa Israel perante Ele, mas também representa a história e o destino daquela nação em Sua própria vida. Mateus tenta ensinar que o significado da história israelita é inteiramente revelado na vida e missão de Jesus Cristo. Mateus continua o relato descrevendo o assassinato de todas as crianças de dois anos para baixo em Belém por Herodes. Agora, ele se refere a um evento na história de Israel, descrito no livro do profeta Jeremias, como tendo se "cumprido" nos chocantes eventos de Belém. Então, se cumpriu o que fora dito por intermédio do profeta Jeremias: Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto, [choro] e grande lamento; era Raquel chorando por seus filhos e inconsolável porque não mais existem. - Mateus 2:17-18; c£ Jeremias 31:15 Estas palavras se referem à deportação dos judeus de Jerusalém – via Ramá – para Babilônia, que o próprio Jeremias testemunhou. Simbolicamente, Raquel, como a mãe de Israel, estava então chorando. De acordo com Mateus, esse choro se "cumpriu", contudo, no lamento dos belemitas por causa do massacre decretado por Herodes, a fim de matar Jesus. Mateus interpreta muitos eventos cruciais na história israelense como prefigurações dos eventos messiânicos. Na vida de Cristo, o sentido mais pleno da história sagrada de Israel é trazido à luz.25 Dessa maneira, ele tenta confirmar a fé cristã de que Jesus é o Messias de Israel e de que Deus realizou o Seu objetivo com Ele na Sua história de Salvação.
  • 18. A Interpretação Cristológica 18 Os eruditos bíblicos começam a aceitar o termo teológico sensus plenior, ou "sentido pleno", a fim de reconhecer que a história veterotestamentária de Israel tem um significado mais profundo do que uma exegese puramente histórico-gramatical poderia trazer à luz.26 Dirigido por controles adequados27, o conceito de "sentido pleno" ou "sentido mais profundo" é válido e indispensável para reconhecer como os escritores dos Evangelhos – e do Apocalipse – interpretam o Velho Testamento. O significado "pleno" das Escrituras figura, por definição, como o sentido intencionado por Deus na Palavra, que pode ou não ter sido discernido pelo autor humano, mas que é tornado claro pela revelação subseqüente do Espírito Santo. Como um erudito esclarece, "Em ambas as situações, o autor não transmite o sensus plenior aos seus ouvintes, mas posteriormente, à luz de revelação ulterior, o significado pleno torna-se claro aos leitores sob a influência do Espírito que inspirou o autor original".28 Alguns exemplos do Evangelho de João são instrutivos para aprender como os apóstolos entendiam o significado da história israelita no Velho Testamento. João interpreta a descrença judaica em Jesus como o Messias como um cumprimento da descrença de Jerusalém na mensagem de Isaías. E, embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? (João 12:37-38; ênfase acrescentada; cf. Isaías 53:1). Enquanto o antigo Israel descria na mensagem profética de Isaías concernente à vinda do Servo de Jeová (Isaías 53), os judeus nos dias de Jesus descriam num sentido mais profundo, pois viam o cumprimento da profecia de Isaías perante os seus olhos e ainda não criam Nele. João procede de maneira a clarificar a implicação teológica da rejeição pelos judeus de Jesus Cristo, apelando para Isaías 6:9-10 através de uma maneira literária que não se conforma nem com o texto hebraico, nem com o da Septuaginta. Ele introduz a Jesus como realmente atuando da
  • 19. A Interpretação Cristológica 19 maneira como Isaías originalmente havia descrito sob a ordem de Jeová. De acordo com Isaías, Deus mandou- lhe dizer à Jerusalém: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração. Isaías 6:9-10 Contudo, João cita Isaías como dizendo, "[o Senhor] cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração..." (João 12:40, ênfase acrescentada). Por isso, João transforma a comissão de Deus ao profeta Isaías em uma tarefa cumprida por Jesus Cristo. Adiciona significativamente, "Isto disse Isaías porque viu a glória dele e falou a seu respeito'' (João 12:41). Essa impressionante afirmação declara nada menos que Isaías – em sua visão da impressionante santidade de Jeová no templo celestial e do seu chamado profético ao povo de Israel (Isaías 6:1-8) – havia visto em realidade, a glória de Cristo em Seu esplendor pré-encarnado, e a Ele se referido. Para João, a pessoa de Jesus manifesta uma fusão da glória de Jeová e da missão profética de Isaías 29 (cf. João 1:14; 17:4-5). Dessa maneira surpreendente, o apóstolo desdobra o significado pleno da missão profética de Isaías e a subseqüente cegueira de Israel. Jesus até mesmo lê a descrição de Isaías da hipocrisia dos adoradores de Jerusalém – no oitavo século A.C. – como uma profecia da hipocrisia dos fariseus e rabis de Seus próprios dias: Hipócritas! Bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. - Mateus 15:7-9; ênfase acrescentada; cf. Isaías 29:13 Uma comparação literária de Isaías 6:9-10 com João 12:40 – tanto no texto Massorético como na Septuaginta – mostra que João não se apega conscientemente à letra do Velho Testamento quando o cita. Enquanto preserva o sentido original do texto hebraico, ele sente-se livre para modificar o texto original – ou a sua versão grega – a fim de apresentar o sentido cristológico mais apropriadamente.30 Para ele, bem
  • 20. A Interpretação Cristológica 20 31 como para os outros autores do Novo Testamento , o significado cristológico do texto original era de importância primária para a sua compreensão cristã do Velho Testamento. Henry M. Shires conclui a partir de seu estudo do Evangelho de João, "O evangelista é primariamente influenciado pela sua convicção teológica [de que Jesus é o Messias de Israel], e vê o V.T. como um recurso que pode usar na formulação eficiente de sua concepção. Mas, para os cristãos, o significado do VT. é profético".32 Sumariando, o Novo Testamento revela uma abordagem do Velho Testamento que é múltipla e centralizada em Cristo, a qual é também teologicamente mais rica e compreensiva do que a hermenêutica do literalismo. Uma consideração de vários exemplos neotestamentários de interpretação das profecias messiânicas do Velho Testamento revela alguns padrões fascinantes de promessa e cumprimento dentro de uma estrutura mais ampla da contínua história divina da salvação. Baseada na implícita pressuposição da soberania de Deus na história de Israel, o Novo Testamento reconhece algumas profecias messiânicas diretas do Velho Testamento que encontraram seu cumprimento em Cristo Jesus. Ainda com mais freqüência, contudo, o Novo Testamento reconhece muitas profecias messiânicas indiretas que têm sido confirmadas em seu significado mais pleno (sensus plenior) em Cristo através de um cumprimento tipológico, especialmente no modelo de sofrimento seguido pela exaltação nos Salmos monárquicos. Finalmente, o Novo Testamento inova uma interpretação messiânica das passagens históricas não preditivas da experiência israelita no Velho Testamento, novamente em termos de correlações tipológicas. Através dessas várias maneiras, o Novo Testamento ensina que os eventos na vida de Cristo – Seu nascimento em Belém, Sua morte humilhante, mas também Sua ressurreição e exaltação à destra de Deus – não foram eventos imprevistos ou acidentais, mas predeterminados de acordo com os desígnios de Deus quando formou e chamou a Israel. Enquanto as profecias messiânicas diretas têm uma utilidade apologética definida
  • 21. A Interpretação Cristológica 21 para a proclamação do Evangelho aos não-cristãos, o padrão de promessa-cumprimento nas profecias tipológicas e na história de Israel parece válido e convincente apenas para os cristãos que já crêem que Jesus é o Messias da profecia. Essa fé em Cristo Jesus é inteiramente baseada nos fatos históricos objetivos da vida e ressurreição de Cristo. Tal fé abre os olhos para vê- Lo em todo o Velho Testamento33, de maneira que as profecias messiânicas não são mais isoladas e limitadas a um grupo particular de profecias preditivas ou a algumas seções das Escrituras (ver João 5:39, 46; Lucas 24:27, 44-47). Essa visão de Cristo como a incorporação de Israel e o representante da humanidade, devemos ao próprio Jesus, porque Ele compreendia o Velho Testamento tipologicamente como um todo. Por essa razão, o Velho Testamento não pode ser exaurido ou tornado obsoleto, mesmo pelo cumprimento literal de suas predições ou prefigurações. "Cresce a convicção de que os escritores do Novo Testamento usavam as Escrituras com conhecimento e discernimento espiritual, compreendendo inteiramente o que estavam fazendo. Para eles, o Velho Testamento como um todo e em todas as suas partes era uma testemunha de Cristo".34 Através do Espírito de Cristo o crente se comove com a alegria da descoberta ao discernir novos veios da verdade nas Escrituras que confirmam a unidade espiritual do Velho e do Novo Testamentos. O Velho torna-se para ele um livro cristão tanto quanto o Novo Testamento, porque "a inteireza do Antigo Testamento aponta como uma grande flecha para o cumprimento relatado no Novo".35 Referências Bibliográficas: 1. Ver W. C. Kaiser, Jr., "Messianic Prophecies in the Old Testament", em Hand Book of Biblical Prophecy, ed. C. E. Amerding and W. W. Gasque (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1978), p. 84. Também Toward an Old Testament Theology, p. 141. Cf. SDABC, vol. 1, pp. l017-19 (sobre Deuteronômio 18:15).
  • 22. A Interpretação Cristológica 22 2. Ver Kaiser, Toward an Old Testament Theology, pp. 149-157 (sobre 2 Samuel 7); pp. 159-166 (sobre os salmos monárquicos); pp. 208-210 (sobre Isaías 7:14. Quanto a Isaías 7:14, ver Problems in Bible Translation, ed. Uma comissão da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia (Washington, D.C. : Review and Herald Pub. Assn., 1954), pp.151-169. 3. Kistemaker, The Psalm Citations in the Epistle to the Hebrews, pp. 145-146. 4. W. J. Beecher, The Prophets and the Promises. (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1975; reimpressão de 1905), pp. 129-131. 5. Paul Peters, citado em W. J. Hassold, "Rectilinear or Typological Interpretation of Messianic Prophecy", Concordia 38 (1967): 155-167; citação da página 155. Esse artigo apresenta um relatório instrutivo do debate no luteranismo acerca da profecia messiânica direta ou tipológica. 6. Kaiser, "Messianic Prophecies in the Old Testament", em Hand Book of Biblical Prophecy, p. 77. 7. Ver France, Jesus and the Old Testament, pp. 43-49. 8. K. J. Woollcombe (Essays on Typology, ed. Lampe and Woollcombe [Naperville, Ill.: A. R. Allenson, 1957], pp. 43-44) encontra o conceito de recapitulação entrincheirado nas profecias escatológicas do Velho Testamento, e.g., a visão do templo de Ezequiel, em consideração do templo de Salomão e o tabernáculo de Israel. 9. R. T. France, "In all the Scriptures" – A Study of Jesus' Typology", TSF Bulletin (1970), p. 14. 10. France, Jesus and the Old Testament, pp. 50-53. B. Gerhardsson, The Testing of God's Son (Lund: CWK Gleerup, 1966), capítulos 1-4, especialmente, pp. 19-35. 11. Dodd, The Old Testament in the New, p. 29. Cf. H. Wheeler Robinson, Corporate Personality in Ancient Israel (Philadelphia: Fortress Press, 1967). 12. Dodd, According to the Scriptures. Também The Old Testament in the New (Philadelphia: Westminster Press, 1974); Bruce, New Testament Development of Old Testament Themes.
  • 23. A Interpretação Cristológica 23 13. France, Jesus and the Old Testament, p. 54. Cf. Dodd, The Old Testament in the New, p. 30; C. Westermann, The Old Testament and Jesus Christ, tr. Omar Kaste (Minneapolis: Augsburg Pub.:, 1971). 14. H. E. Tödt, The Son of Man in the Synoptic Tradition, tr. Dorothea M. Barton (Philadelphia: Westminster Press), p. 185. 15. Ver M. Black, "The Christological Use of the OT in the NT", NTS 18 (1972): 1-14; citação da página 6. 16. J. W. Doeve, Jewish Hermeneutics in the Synoptic Gospels and Acts (Assen: Van Gorcum, 1954), p. 149, que se refere a Ber. Rabba LVI:1; XCL:7 (fim). 17. Ver France, Jesus and the Old Testament, p. 55. 18. Dodd, According to the Scripture, p. 103. Cf. também France, Jesus and the Old Testament, p. 55. 19. Ver Kraus, Psalmen, p. 482 (sobre o Salmo 69:7). 20. Kraus, Psalmen, p. 485 (tradução do autor). 21. Black, "The Christological Use of the OT in the NT", pp. 12-13. 22. Mowinckel, He That Cometh, p. 12. 23. France, Jesus and the Old Testament, p. 59. 24. C.F.D. Moule, "Fulfillment-Words in the New Testament: Use and Abuse", NTS 14 (1968): 293-320; especialmente, 298-302. 25. Para um tratamento mais completo, D. A. Hagner, "The Old Testament in the New Testament", pp. 90-104. J. C. K. von Hofmann, Interpreting the Bible (Minneapolis: Augsburg Pub., 1972), pp. 169-204. 26. D. A. Hagner, em Handbook of Biblical Prophecy, ed. C. E. Amerding and W. W. Gasque (Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1978), p. 91. W. S. LaSor, "Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics, ed. B. Ramm, et al. (Grand Rapids, ich.: Baker Book House, 1971), pp. 106-108. Ver o erudito católico romano R. E. Brown, The Sensus Plenior of Sacred Scripture (Baltimore: St. Mary's University, 1955), p. 92. 27. Ver Hagner, em Handbook of Biblical Prophecy, p. 93v; LaSor, "Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics, p. 116. 28. LaSor, "Interpretation of Prophecy", em Hermeneutics, p. 108. 29. Cf. Von Hofmann, Interpreting the Bible, pp. 202-204.
  • 24. A Interpretação Cristológica 24 30. Cf. Old Testament Quotation in the New. Testament, ed. R. G. Bratcher (London: United Bible Society, 1967), p. 24. Para a versão de Isaías 6:9-10 em Marcos 4:12 de acordo com a versão encontrada no Targum de Jônatas, ver Hagner, The Old Testament in the New Testament, em Interpreting the Word of God, pp. 87-88. A citação em Mateus 13:14-15 concorda com a Septuaginta de Isaías 6:9-10. 31 . Um outro exemplo de notável liberdade em desviar-se do texto original é encontrado na '"citação" de Hebreus 10:37-38 de Habacuque 2:3-4. Ver T. W. Manson, "The Argument From Prophecy", JTS 46 (1945): 129-136. 32. Shires, Finding the Old Testament in the New, p. 60. 33. Ver Westermann, The Old Testament and Jesus Christ; J.A. Borland, Christ in the Old Testament: A Comprehensive Study of OT Appearance of Christ in Human Form (Chicago: Moody Press, 1978); Wnham, Christ and the Bible. 34. Westermann, Christ and the Bible, p. 108. 35. Hagner. The Old Testament in the New Testament, em Interpreting the Bible, p. 103. Cf. H. L. Ellison, The Centrality of the Messianic Idea for the Old Testament (Leicester: Theological Students Fellowship, 1977), p. 6: "O Velho Testamento inteiro, e não meramente uma antologia de passagens provas, foi considerado como se referindo a Cristo Jesus."