(1) O documento discute a natureza do homem, pecado e redenção no Antigo Testamento. (2) Aborda termos como "Adam", "carne", "coração", "alma" e "espírito" e como eles são usados no AT. (3) Explica que o homem é um ser criado e que a perspectiva do AT é a unidade do homem, não a separação entre corpo e alma como na filosofia grega.
3. Não existe em toda a literatura uma obra tão rica como o AT
quanto à exposição da natureza paradoxal do homem.
Não há uma fonte mais importante do que a Bíblia que nos
ajude no entendimento da natureza e das necessidades do
homem, tão desconhecido, até mesmo na época em que
vivemos.
É disso que nos ocuparemos nesta lição, incluindo o problema
do pecado e a questão da redenção humana.
4. Conhecemos cinco vocábulos hebraicos que em geral são
traduzidos por “homem” no Antigo Testamento:
Adam
Adão
Ser Humano
Humanidade
Raça Humana
Aparece 562 vezes, sempre na forma singular mas na maioria das
vezes com sentido coletivo.
O termo provavelmente vem de uma raiz que significa “escuro”
ou “vermelho”.
5. ’îsh, “homem”, “marido”, ocorre 2.160 vezes, em geral se
refere ao marido em oposição à esposa ou ao masculino em
relação ao feminino.
Aplica-se também aos animais machos em oposição às fêmeas
(Gn. 7.2).
Este vocábulo possui uma etimologia incerta.
’ĕnôsh, “ser humano”, ocorre 42 vezes e provavelmente vem
de uma raiz que significa “ser fraco” ou “mortal”.
O termo aparece com mais frequência em Jó (18 vezes) e em
Salmos (13 vezes).
’ĕnôsh muitas vezes está em paralelo com “adam”, como nas
passagens que levantam a pergunta: “Que é o homem?”
(Jó. 7.17; Sl. 8.4; 144.3).
6. Geber, “homem”, “homem forte”, “valente”, ocorre 65 vezes e transmite
a ideia de poder, força ou excelência.
Salmos e Jó usam o termo com frequência no sentido de uma pessoa que
confia em Deus e o teme, e faz o que ele exige. (veja Jó. 3.23; 4.17; 10.5;
14.10, 15; 16.21; SI. 34.9; 37.23; 55.8, 9; Jr. 17.7).
O vocábulo mat, “homens”, que aparece apenas no plural. Às vezes o
termo se refere a pessoas do sexo masculino em geral. (Dt. 2.34; 3.6; Jz.
20.48)
Eventualmente matim é usado para indicar “poucos homens”
(Gn. 34.30; Dt. 4.27; 26.5; 28.62; 33.6; l Cr. 16.19; SI. 105.12; Jr. 44.28).
8. Os escritores do Antigo Testamento são unânimes em afirmar que o
ser humano é um ser criado.
Ao traduzir, geralmente, os substantivos hebraicos mais frequentes
com as palavras “coração”, “alma”, “carne” e “espírito”,
ocorreram equívocos de graves consequências.
Eles remontam já à antiga tradução grega da Septuaginta e
acarretaram uma antropologia dicotômica ou tricotômica, na qual
o corpo, a alma e o espírito se encontram em oposição mútua.
É necessário examinar até que ponto, quando passou a usar a
língua grega, a filosofia helênica deturpou e substituiu concepções
semítico-bíblicas.
9. Para isso, temos que esclarecer o uso veterotestamentário das
palavras.
Essa tarefa exige uma percepção dos pressupostos ideativos e
conceituais semíticos.
Dois deles possuem importância fundamental.
Por isso, vamos tratar deles antes de qualquer outra
consideração especial.
10. No Salmo 6.3-5, encontram-se paralelamente nas seguintes
palavras: eu – meus ossos – minha alma - eu.
Esse modo de proceder é acertadamente designado de
“estereometria da expressão ideativa”.
Os mestres pensam que a melhor maneira de expor suas matérias
não é mediante o emprego de termos claramente delimitados, mas,
ao contrário, por meio da justaposição de palavras com
significados afins.
Esse modo estereométrico de pensar define o espaço vital do ser
humano mediante a citação de órgãos característicos, descrevendo
desse modo a totalidade do ser humano (Pv. 18.15).
11. Desse modo, o pensamento estereométrico pressupõe também uma
visão de conjunto dos membros e órgãos do corpo humano, com
suas funções e atividades.
Trata-se do pensamento sintético que, com a menção de uma parte
do corpo, refere-se à sua função (Is. 52.7).
Por isso, nossa gramática bíblico-antropológica terá que lançar luz
sobre a riqueza de significação das palavras que descrevem o ser
humano.
12. No estudo desse assunto encontramos vários termos hebraicos de
interesse especial, referem-se a elementos indivisíveis do homem.
Os vocábulos são:
Bāsār (corpo, carne),
Lēb e lēbab (coração),
Nephesh (alma)
Rûah (espírito)
13. Basicamente bāsār faz referência à parte visível, externa, física e
material da natureza humana.
Esse vocábulo traduzido por “carne” ocorre 273 vezes.
Refere-se às partes musculares tanto das pessoas quanto dos
animais.
A carne liga, portanto, o ser humano ao mundo animal, não ao
divino.
A carne, no AT, é fraca (2 Cr. 32.8; Sl. 56.4; Jr. 17.5, 7), mas não é a
base do pecado.
A carne pode significar o corpo visível, a um “parente de sangue”
ou familiar próximo (Gn. 29.14; 37.27; Lv. 18.6).
14. Ela também pode indicar uma pessoa ou indivíduo (Lv. 13.18;
Pv. 11.17).
Também tem qualidades psíquicas no Antigo Testamento. Ela pode
ter:
Esperança (Sl. 16.9),
Ansiar por Deus (Sl. 63.1),
Cantar de alegria para o Deus Vivo (Sl. 84.2).
15. A palavra lēb e lēbab significa:
Coração
Mente
Inteligência
Vontade
Consciência (1 Sm. 24.5)
Íntimo
O coração geralmente é considerado como a sede da
inteligência e da vontade (Is. 10.7)
16. Nos textos do AT o coração já era conhecido como órgão
físico, mas não sua função essencial de fazer circular o
sangue.
Na realidade são poucas as referências que tratam o coração
como órgão físico.
O uso mais comum são os dados acima.
É assim que, “coração”, no AT, refere-se principalmente aos
poderes psíquicos da pessoa.
17. Na literatura veterotestamentária ao coração é atribuído tudo o
que nós atribuímos à cabeça e ao cérebro:
A capacidade de perceber
Raciocinar
Pensar
Compreender
Entender e tomar conhecimento
A consciência
Memória
Conhecimento
Sentimento
Vontade
Juízo.
18. Nosso outro vocábulo de interesse é nepesh.
As versões tradicionais da Bíblia traduzem geralmente por
“alma” a palavra fundamental da antropologia
veterotestamentária (nepesh).
Encontramos traduzida por psyché na Bíblia grega e por anima
na latina.
O vocábulo ocorre 755 vezes no Antigo Testamento; a
Septuaginta (LXX) traduz 600 vezes por psyché.
Esta diferença estatística mostra que a significação diversa da
palavra, em vários lugares, já chamou a atenção dos antigos.
Hoje podemos concluir que em muito poucas passagens a
tradução dessa palavra por “alma” corresponde ao significado de
nepesh.
19. A tradução do termo por “alma” abriu a porta para a entrada
das ideias gregas a respeito da alma.
Na realidade, aspectos físicos e psíquicos da natureza humana
podem ser indicados por esse termo em graus variados.
Os estudiosos com frequência contrastam a perspectiva hebraica
com a perspectiva grega que compreende a natureza humana
como uma dicotomia (corpo/alma, espírito/carne) ou tricotomia
(corpo/alma/espírito), com as várias partes opostas uma à outra.
A perspectiva grega na verdade é de Platão, de que o ser humano
é composto de duas partes:
A razão, que é a parte imortal,
A sensualidade, que é a mortal.
20. A perspectiva de Aristóteles era diferente da de Platão.
Ele ensinava que a alma era o princípio vital do corpo e que nem
um nem outro podiam existir sem o outro.
Para ele a alma é para o corpo o que cortar é para o machado.
Dessa forma, a perspectiva “grega” do ser humano que separa e
opõe os vários aspectos da natureza humana na verdade é a de
Platão.
A perspectiva do Antigo Testamento é radicalmente distinta.
Aristóteles, em certo sentido, previu o conceito moderno de
unidade do ser humano
21. Portanto, nepesh deve ser vista aqui em conjunto com a figura
total do ser humano e especialmente com sua respiração;
Por isso, o ser humano não tem nepesh, mas é nepesh, vive como
nepesh.
O significado básico de nepesh provavelmente é:
Garganta
Boca
Goela
Pescoço.
22. Portanto, nepesh deve ser vista aqui em conjunto com a figura
total do ser humano e especialmente com sua respiração;
Parece que o significado de nepesh mudou para “respiração”,
indicando vitalidade e vida, mas não se limita à “vida” do ser
humano.
Os animais também são chamados “seres vivos” (nepesh hāyā,
Gn. 1.21, 24; 2.19; 9.10, 15, 16; Lv. 11.46).
A forma verbal da raiz nps ocorre apenas três vezes no Antigo
Testamento, com o significado de “exalar”, “prender a
respiração”, “refrescar-se”.
Contudo, quando se diz a respeito de Raquel (Gn. 35.18) que sua
nepesh “saiu” quando ela morreu, só se pode pensar na
respiração.
Em 1 Reis 17.21s., a nepesh volta para o filho da viúva de
Sarepta, a respeito do qual o versículo 17 disse que não havia
mais hálito nele.
23. Dessa forma, fica evidente a dificuldade em se fazer uma
distinção entre nepesh, rûah e lēb do homem.
O pensamento pode representar a atividade de qualquer um
destes três órgãos, mas isto não quer dizer que as palavras são
sinônimas, a não ser no sentido muito limitado.
Na totalidade do seu ser, o homem pode ser designado por
nepesh, mas ele tem um rûah e um lēb.
Convém fixar que nepesh tem, na realidade, vários outros
sentidos.
24. Temos ainda que compreender o vocábulo rûah.
Este ocorre 378 vezes no hebraico e 11 vezes nas porções
aramaicas da Bíblia.
Em geral tem o significado de “vento”, “espírito”, “fôlego”.
Aproximadamente 113 vezes rûah se refere a “vento” ou ar em
movimento.
Em 136 lugares rûah está se referindo ao “espírito de Deus”,
deixando 130 referências para o “espírito humano” e outros
significados.
25. Podemos afirmar que a ideia básica de rûah, como na palavra
grega pneuma, é “vento”.
O próprio Senhor Jesus comparou a obra do Espírito ao vento
em João 3.6-8, seguindo os profetas e escritores do AT que viam
em rûah um poder ativo, sobre-humano, invisível, misterioso,
difuso. Rûah pode se referir:
Ao vento oriental (Êx. 10.13),
Ao vento norte (Pv .25.23),
Ao vento ocidental (Êx. 10.19)
Aos quatro ventos (Jr. 49.36),
Ao vento forte (Sl. 55.8)
Ao vento do céu (Gn. 8.1).
26. No início do AT é feita a associação entre o “sopro” de Deus e o
“princípio de vida” no ser humano (Gn. 2.7; 6.17; 7.15-22).
O sopro que “energizou” o ser humano foi uma dádiva do espírito
de Deus (Jó. 9.18; 19.17).
Essa dádiva de vida do espírito de Deus não foi exclusiva do ser
humano.
Os textos do AT afirmam que a vida ou vitalidade dos animais
também provém do espírito de Deus (Gn. 6.17; 7.15; Ec. 3.19, 21).
Os ídolos não têm “espírito” ou “fôlego”. Eles não têm vida nem
poder (Jr. 10.14; Hc. 2.19).
Os “ossos” de Israel voltam a ter vida quando o “espírito” vem
dos quatro ventos e sopra sobre eles (Ez. 37.6, 8-10, 14).
Assim, o espírito (rûah) é o sopro e o princípio vital no ser
humano.
28. Toda a criação de Deus é o mundo do ser humano.
É o que atestam os dois relatos da criação em Gênesis e
afirmações semelhantes em outras passagens como o Salmo 8.
O Escrito Sacerdotal exprime a posição especial do ser humano
na breve fórmula de que ele foi criado e é protegido como
“imagem de Deus” (tsélem ´elohim) (Gn. 1.26s; 9.6).
29. Em que sentido o ser humano é “imagem de Deus”?
Tomada em sua expressão, em primeiro lugar e basicamente,
indica uma correspondência entre o ser humano e Deus.
O caráter peculiar do ser humano na criação deve ser entendido
a partir de sua relação especial com Deus.
Melhor ainda seria falar da relação de Deus com o ser humano
como pressuposição para a autocompreensão do ser humano,
pois o conceito aparece pela primeira vez na deliberação de Deus
e na resolução que Ele toma em Gênesis 1.26:
“Façamos o ‘ser humano’ segundo a nossa imagem, semelhante a
nós!”.
30. Em que sentido o ser humano é “imagem de Deus”?
Segundo aquela palavra decisória, o ser humano surge a partir
de uma interpelação de Deus.
Isso não deve ser entendido apenas formalmente, tanto que a
palavra de bênção em 1.28, em sua primeira parte, é semelhante
à palavra dirigida aos peixes e às aves em 1.22.
A continuação, na palavra dirigida aos seres humanos, é singular.
Ela traz a concessão do encargo que distingue o ser humano.
O Salmo 8.5 a entende como “coroação” com sublimidade e
glória.
31. A finalidade da decisão divina de criar uma “imagem de Deus” é
logo definida de tal forma que o ser humano é posto em uma
relação especial com os seres vivos criados anteriormente (1.26b).
Também conforme o Salmo 8.7, as obras das mãos de Deus são
entregues ao ser humano.
Dessa forma, a singularidade do ser humano está, basicamente,
no fato de que a ele foi dado o domínio sobre os animais.
O primeiro ser humano deu nomes a todos os animais (Gn. 2.19),
exercendo, assim, poder sobre eles.
32. Consequências da
imagem e da
semelhança divina no
espírito do homem
As aspirações
religiosas do homem
O seu entendimento
do desígnio divino
nas obras da criação
A sua capacidade de
sujeitar a terra e
dominar os animais
Os seus poderes
criadores
No aproveitamento
das riquezas da terra
O seu regozijo no
privilégio de
comunicar-se com
Deus
Receber a revelação
da vontade do
Criador para a
humanidade
As operações de Deus
na história, segundo o
seu plano
predeterminado
33. Os homens são semelhantes a Deus.
O homem é o único elemento de toda a criação de Deus
semelhante a ele.
De maneira alguma isso nos faz divinos.
Não há nenhuma centelha do divino em nossa natureza, mas
somos “semelhantes” a ele.
Nós o representamos.
Exercemos parcialmente seu poder sobre a terra.
Somos responsáveis perante ele pelo modo como agimos diante
dele e diante uns dos outros.
35. A palavra Adão significava originalmente:
O homem na sua coletividade (Gn. 1.26),
Um ser humano (Gn. 2.5).
Os sociólogos falam do organismo social, ou de grupos de pessoas
que tem característicos pessoais.
Todas as sociedades primitivas dão muita ênfase à solidariedade
social do grupo.
A personalidade corporal é conhecida entre todos os povos.
36. A entidade social, como a família, a tribo e a nação, tem um lugar
importante no pensamento dos escritores do Antigo Testamento.
A significação da entidade social verifica-se, segundo o Antigo
Testamento, na íntima relação do homem com o seu grupo.
O seu caráter é estimado pelo caráter da família (Gn. 7.1), e até
da sua geração (Jz. 2.10).
O homem está ligado não somente aos contemporâneos do seu
grupo, mas também aos seus antepassados, e à sua semente após
ele.
37. Não fazia parte do plano divino que a raça humana continuasse
composta apenas de um homem e uma mulher.
Yahweh abençoou o ser humano como o poder da reprodução.
O primeiro mandamento de Deus para o homem e para a mulher
foi “Sejam frutíferos, multiplicam-se e encham a terra”
(Gn. 1.28).
Seu plano era, dessa forma, que o homem e a mulher, com seus
filhos, vivessem em família.
38. ASSINALE COM X AS ALTERNATIVAS CORRETAS:
1. A que se refere “coração” no Antigo Testamento?
B. “coração”, no Antigo Testamento, refere-se principalmente
aos poderes psíquicos da pessoa.
2. A respeito de nepesh é correto afirmar que:
A. Deve ser vista em conjunto com a figura total do ser humano
e especialmente com sua respiração; por isso, o ser humano
não tem nepesh, mas é nepesh, vive como nepesh.
3. O que é exatamente o espírito (rûah) no ser humano?
A. O espírito (rûah) é o sopro e o princípio vital no ser humano.
QUESTIONÁRIO Pg. 73
39. Marque C para CERTO e E para ERRADO:
4. A expressão “imagem de Deus” indica uma
correspondência entre o ser humano e Deus.
5. A expressão “imagem de Deus” indica uma
centelha divino no ser humano.
QUESTIONÁRIO Pg. 74
C
E
41. O homem, enquanto ser caído, precisa de redenção.
É o que iremos tratar nesta parte da lição.
Contudo, para melhor compreendermos a questão da redenção,
faz-se necessário um melhor entendimento do conceito de pecado
e também de suas consequências
42. O conceito que qualquer pessoa, ou qualquer povo, tenha do
pecado é determinado pelo sua compreensão do caráter de Deus
e da natureza do homem.
O entendimento da natureza do pecado no Antigo Testamento,
por exemplo, acompanha a revelação progressiva de Deus, ou por
outro lado, o progresso do conhecimento humano da santidade de
Deus (Is. 6.1-5).
Há uma diferença que merece atenção, por exemplo, entre as
ideias do pecado contra o ritualismo na história primitiva de
Israel, e o conceito do pecado contra a justiça de Deus, segundo
os escritos proféticos.
43. Através do AT podemos encontrar diversas evidências de um
conflito de ideias entre o ponto de vista dos sacerdotes e o dos
profetas, quanto à importância do sistema ritual e sacrificial.
O conflito chegou à sua maior intensidade no período dos
profetas Amós, Oséias, Miquéias e Isaías.
Contudo, o estudioso cuidadoso da história dos hebreus não pode
deixar de observar que, logo após o retorno do cativeiro
babilônico, havia uma nova ênfase no cerimonialismo,
especialmente por parte de Esdras e Neemias.
O profeta Ageu também deu ênfase ao cerimonialismo, e
Malaquias condena o casamento com mulheres estranhas, e
representa o ponto de vista dos sacerdotes na questão das ofertas
e dos dízimos.
44. Entre os povos primitivos o pecado era simplesmente
considerado uma ofensa contra Deus, e por algum tempo alguns
israelitas tiveram esta mesma opinião.
Contudo, quando uma ofensa foi cometida voluntariamente
contra Deus, foi reconhecida, sem dúvida, como uma violação no
sentido ético ou moral do homem.
Entretanto, uma violação involuntária da lei moral era punida,
bem como as ofensas deliberadas.
45. É assim que o pecado é um dos temas principais encontrados no
Antigo Testamento.
É muito fácil encontrar passagens referindo-se a ele.
Estudiosos afirmam que há poucos capítulos que não contêm
alguma referência àquilo que o pecado é ou causa e que tem mais
termos que descrevem o mal do que termos que descrevem o
bem;
Enquanto há apenas uma maneira de fazer o que é certo, há
muitas maneiras de agir errado.78
46. É assim que o pecado é um dos temas principais encontrados no
Antigo Testamento. Isso nos mostra como a Bíblia leva o pecado
a sério.
Vemos aqui um contraste com muitos especialistas em religião
nos dias de hoje, que procuram desculpar o pecado e desfazer da
sua seriedade, a maioria dos escritores bíblicos estava bem ciente
da sua malignidade, culpabilidade e tragédia.
A seriedade do pecado no AT fica manifesta no distanciamento
que causa entre o homem e Deus, entre o ser humano e o mundo,
entre o ser humano e a sociedade e mesmo entre as pessoas.
47. O AT reconhece a dignidade e o valor do ser humano, mas está
mais preocupado com a sua carência.
Ele está repleto de exemplos da tragédia humana, com a
desgraça, culpa e alienação, que constituem o destino do ser
humano.
A sua condição de necessidade é mais vital ao AT do que o
conceito de natureza humana.
O ser humano é descrito na Bíblia como um ser cuja principal
necessidade é a salvação
No AT, o pecado despedaça a unidade da natureza humana e
destrói a harmonia do mundo.
49. Com respeito à origem do pecado na história da humanidade, o
AT ensina que ele teve início com a transgressão de Adão no
Jardim do Édem e, portanto, com um ato perfeitamente
voluntário da parte do homem.
O tentador veio do mundo dos espíritos com a sugestão de que o
homem, colocando-se em oposição a Deus, poderia tornar-se
semelhante a Deus.
Adão se rendeu à tentação e cometeu o primeiro pecado,
comendo do fruto proibido.
Mas a coisa não parou aí, pois com esse primeiro pecado Adão
passou a ser escravo do pecado.
50. Esse pecado trouxe consigo corrupção permanente, corrupção
que, dada a solidariedade da raça humana, teria efeito, não
somente sobre Adão, mas também sobre todos os seus
descendentes.
Como resultado da Queda, o pai da raça só pôde transmitir uma
natureza depravada à sua semente.
Dessa fonte não santa o pecado flui numa corrente impura
passando para todas as gerações de homens, corrompendo tudo e
todos com que entra em contato.
51. É exatamente esse estado de coisas que torna tão pertinente a
pergunta de Jó, “Quem da imundícia poderá tirar cousa pura?
Ninguém” (Jó. 14.4. Mas ainda isso não é tudo.
Adão pecou não somente como o pai da raça humana, mas
também como chefe representativo de todos os seus
descendentes; e, portanto, a culpa do seu pecado é posta na conta
deles, pelo que todos são passíveis de punição e morte.
É primariamente nesse sentido que o pecado de Adão é o pecado
de todos.
52. É Os teólogos modernos do AT, contudo, afirmam pouco, ou
nada, sobre a origem do pecado, ou a queda do homem.
Em geral dizem que o AT não possui uma doutrina da queda do
homem.
Parece que somente no NT é que o apóstolo Paulo dá uma
interpretação do significado do pecado de Adão que não se
encontra no AT, senão por implicação.
Não deveríamos esperar encontra-la, pois a Bíblia sempre trata
da vida real, trazendo regras de conduta ou julgando-a.
O que temos são descrições concretas da realidade do mal em
suas várias esferas.
A Bíblia não contém uma única definição abrangente do pecado.
Ele é identificado em todo tipo de ação, condição e intenção.
53. Podemos, contudo, afirmar que a essência do pecado é de fato a
rebeldia contra Deus.
Não se trata simplesmente um mal moral, mas um mal moral
com conotações religiosas.
No Antigo Testamento, o pecado é, pois, uma violação da graciosa
e justa vontade divina, rebelião que destruiu a comunhão pessoal
55. Do ponto de vista dos escritores veterotestamentários, o pecado
entre o povo escolhido é, em sua essência, a infidelidade dos
homens de Israel no cumprimento das suas responsabilidades
perante Deus, de acordo com a aliança entre Deus e o povo da
sua escolha.
Estas responsabilidades incluem a prática da justiça e retidão
entre os homens.
Dessa forma, uma injustiça praticada contra o vizinho é também
um pecado contra Deus.
A violação do casamento é pecado (Gn. 39.9).
A violação do contrato com o jornaleiro é pecado (Dt. 24.15).
Todos os atos que prejudicam os interesses de Israel são
pecaminosos (2 Rs. 18.14).
56. Do mesmo modo, quem deixa de cumprir a promessa feita a
outro homem comete pecado (Gn. 43.10).
Ajudar o ímpio na sua contenda com um homem justo, perante o
tribunal, também é pecado (Êx. 23.7; Pv. 17.15; Is. 5.23).
Portanto, a responsabilidade social do homem recebe ênfase em
toda parte do Antigo Testamento.
Os profetas condenaram veementemente os pecados sociais
porque eram ofensas contra Deus, e contra o bem-estar do povo
escolhido (Mq. 6.8).
Como a violação da justiça o pecado é igualmente a maldição do
pecador (Ez 18.30).
58. O vocabulário do pecado no Antigo Testamento é riquíssimo.
A variedade de termos que significam pecado é muito grande.
O termo básico traduzido por pecado, hata‘, significa “errar o
alvo”, como no caso de alguém que atira pedras com uma funda
(Jz. 20.16), ou um viajante que erra o caminho (Pv. 19.2).
O vocábulo ’awôn significa “perverter” ou “tornar mau” (1 Sm
20.1).
Pecado é o que é tortuoso, não reto, correto ou direto.
Davidson afirma que é da natureza do pecado não atingir um
alvo;
É natural do que é tortuoso, em comparação com o que é reto;
É natural do que é irregular, em comparação com o que é
nivelado;
É natural do que é sujo, em comparação com o que é limpo
59. O vocabulário do pecado no Antigo Testamento é riquíssimo. O
estudioso De Vries organiza os vocábulos hebraicos relativos ao
pecado em seis grupos:
Palavras formais que indicam um desvio do que é bom e correto;
Termos teológicos, que mostram o pecado como um desafio
contra Deus;
Termos que descrevem o estado interior do pecador;
Termos em que sobressai o aspecto ético;
Termos que destacam os resultados maléficos do pecado;
Termos relativos à culpa
60. Além desses grupos, o mesmo estudioso nota que o Antigo
Testamento usa muitos outros para definir o pecado, tais como:
Obstinação
Soberba
Reincidência
Tolice
Engano
Impureza e outros.
Além disso, há um nome para cada pecado e crime específico.
Por fim, De Vries classificou a linguagem do pecado em termos
formais, relacionais, psicológicos e qualitativos.
62. Conforme ficou claro acima, todas as formas do pecado, segundo
o Antigo Testamento, são sempre cometidas contra Deus.
Qualquer falta de conformidade à vontade de Deus constitui-se
em pecado.
É justamente isto o significado do verbo hebraico hata‘.
O alvo divino para o homem é o de viver em feliz comunhão com
Deus, e quando ele desobedece à vontade do Senhor, perde o alvo
preceituado para ele.
A maldição do pecado é o engano, a culpa, a vergonha e a
depravação do pecador (Os. 8.7; Dt. 28.15).
É a impureza do pecador que faz separação entre ele e Deus
(Sl. 51.2; Is. 59.2).
Os profetas ensinaram também que o pecado da comunidade, ou
mesmo da nação, traz a calamidade sobre os transgressores.
63. A primeira consequência ou resultado do pecado é mesmo o
sentimento de culpa.
Podemos afirmar que a culpa pode ser um sentimento interior
de:
Perturbação
Alienação
Distanciamento
Foi justamente essa a experiência de Adão e Eva (Gn. 3.10).
Eles ficaram envergonhados e se esconderam.
Muitos estudiosos do AT concordam que a condenação divina do
pecado é um dos principais elementos veterotestamentários, mas
discussões recentes têm questionado o método dessa condenação.
64. O propósito do julgamento divino no Antigo testamento é mais
que punir.
Ele tem o propósito de purificar, como o fogo que refina
(Ml. 3.2, 2);
O propósito de corrigir; como o prumo (2 Ts. 21.10-13);
O propósito de renovar, como quando se limpa um prato
(2 Rs. 21.10- 13).
Deus é sempre livre para exercer misericórdia. Isso não é o
mesmo que cancelar o castigo, mas retira dele o aspecto de
condenação irrevogável.
A dor de parto abre caminho para a promessa de uma nova vida.
O sinal de Caim é um símbolo protetor, para guardar sua vida
daqueles que lhe tentam fazer o que ele fez com seu irmão Abel
66. Quando tratamos da redenção estamos pensando na necessidade
da remoção do pecado.
A terminologia do Antigo Testamento em referência à remoção
do pecado também é muito rica e variada, da mesma forma que o
seu vocabulário relativo ao pecado.
Boa parte da linguagem está concentrada no que Deus faz com o
pecado.
67. E o que Deus faz com o pecado?
Ele o remove, põe de lado, joga fora como roupas sujas e
rasgadas (Is. 6.7; Zc. 3.4);
Ele o faz sobressair e/ou afasta-o (Êx. 34.6, 7);
Deus apaga o pecado (Is. 43.25; Sl. 51.1, 9; 109.14; Is. 44.22;
Jr. 8.23);
Deus o lava e limpa (Sl. 51.2; 51.7; Jr. 33.8);
Ele o elimina, remove (Sl. 51.7);
Deus o cobre (Sl. 32.1; 85.3);
Ele expia o pecado (Ez. 16.62, 63; Is. 6.7; Sl. 65.3);
Deus esquece ou não se lembra do pecado (Is. 43.25);
Ele os lança para trás de si e no mar (Is. 38.17; Mq. 7.19);
Deus os pisoteará (Mq. 7.19);
Deus perdoa os pecados (Sl. 103.2,3; Ne. 9.17; Is 55.7; Jr. 5.1;
31.34).
68. Essas são apenas algumas das diversas maneiras pelas quais Deus
lida com o pecado no AT.
Observamos que no AT o termo salvação abrange todas as
qualidades de socorro que os israelitas recebem do seu Deus
Yahweh.
Já tratamos um pouco disso quando falamos do Deus que perdoa
e do Deus que salva.
69. O vocábulo hebraico para salvação trata-se do verbo yasha’, que
significa:
Fazer largo
Viver em abundância
Conseguir a vitória
Libertar do poder do inimigo
Salvar da opressão
Salvar do pecado
Da aflição
Da doença
Salvar da morte
Perceba que realmente trata de todos os aspectos aflitivos da vida
humana.
O substantivo yesha’, ou yeshua’, pode significar a salvação em
qualquer um, ou em qualquer conjunto, destes vários sentidos
mencionados acima.
70. O vocábulo hebraico para salvação trata-se do verbo yasha’, que
significa: O vocábulo pode ser utilizado para significar a salvação
do mal na vida futura, ou no sentido de libertação de todas as
qualidades de aflição da vida neste mundo.
A salvação no AT significa que o processo é iniciado e efetuado
pelo Senhor, em favor do seu povo e pode ser independente do
entendimento de Israel.
O texto de 2 Crônicas 7.14 (Nvi) mostra a importância do
arrependimento:
“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar,
buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o
ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra”.
71. Para que realmente seja efetivado o perdão divino é necessário
arrependimento, confissão e conversão, que, se genuínos,
produzem o abandono da prática pecaminosa (Lv. 5.5; Pv. 28.13;
Dn. 9.4).
No NT as pessoas se arrependem e Deus perdoa.
A “chamada ao arrependimento” é o tema do arrependimento e
faz parte de diversas formas narrativas e das petições nas
orações (Lv. 26.40; Dt. 4.30; 30.2, 10; 1Rs. 8.33, 35, 47, 48;
2 Rs. 23.25; 2 Cr. 7.14; Ne. 9.26, 29, 35; Zc. 1.6; Ml. 2.6).
Mesmo assim, cabe ressaltar que, no Antigo Testamento, o
pecado é um problema muito sério que não é resolvido de modo
satisfatório.
72. Algumas pessoas acabam tentando negar que pecaram (Gn. 4.9).
Outras tentam esconder ou mesmo encobrir seu pecado
(Gn. 3.8-11).
Contudo, o pecado não pegou Deus de surpresa.
Ele o previra e se preparara para lidar com o pecado de maneira
provisória no Antigo Testamento.
O meio de perdão definitivo, contudo, veio no Novo Testamento,
em Jesus Cristo, por meio de sua morte expiatória e do poder da
sua ressurreição.
73. ASSINALE COM X AS ALTERNATIVAS CORRETAS:
6. Qual é a origem do pecado?
D. Antigo Testamento ensina que ele teve início com a transgressão
de Adão no Jardim do Édem e, portanto, com um ato
perfeitamente voluntário da parte do homem.
7. Qual era a postura dos profetas com relação ao pecado?
B. Os profetas condenaram veementemente os pecados sociais
porque eram ofensas contra Deus, e contra o bem-estar do povo
escolhido (Mq 6.8). Como a violação da justiça o pecado é
igualmente a maldição do pecador (Ez 18.30).
QUESTIONÁRIO Pg. 85
74. ASSINALE COM X AS ALTERNATIVAS CORRETAS:
8. Quais são as principais consequências do pecado?
C. A maldição do pecado é o engano, a culpa, a vergonha e a
depravação do pecador (Os 8.7; Dt 28.15). É a impureza do
pecador que faz separação entre ele e Deus (Sl 51.2; Is 59.2).
QUESTIONÁRIO Pg. 85
75. Marque C para CERTO e E para ERRADO:
9. Para que realmente seja efetivado o perdão
divino é necessário arrependimento, confissão e
conversão, que, se genuínos, produzem o
abandono da prática pecaminosa (Lv 5.5; Pv
28.13; Dn 9.4).
10. Para que realmente seja efetivado o perdão
divino nem sempre é necessário arrependimento,
confissão e conversão.
QUESTIONÁRIO Pg. 86
C
C