1) O documento descreve duas alternativas pedagógicas na formação de professores de música: concertos didáticos e um projeto interdisciplinar de estágio.
2) Os concertos didáticos visam unir a identidade de músico e professor, permitindo que os estudantes apresentem recitais musicais interativos para crianças.
3) O projeto interdisciplinar de estágio promove a cooperação entre música e teatro, abordando temas como a autonomia, Paulo Freire e a importância da afetividade na educação.
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ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS NA FORMAÇÃO DO PROFESSORADO DE MÚSICA
1. 1
Práticas de ensino na formação inicial do professorado
INFORME DE EXPERIÊNCIA
ALTERNATIVAS PEDAGÓGICAS
NA FORMAÇÃO DO PROFESSORADO DE MÚSICA
MATEIRO, Teresa
teresa.mateiro@udesc.br
Universidade do Estado de Santa Catarina
Palavras-chave: Estágio curricular – Interdisciplinaridade – Concertos didáticos – Ensino
fundamental
Introdução
Para este trabalho apresento dois cenários da minha prática pedagógica como professora
formadora de futuros professores de música: Concertos didáticos e o Projeto
Interdisciplinar de Estágio. Esses cenários retratam a busca por uma prática mais
aproximada ao estudante no intuito de oferecer possibilidades de uma formação mais
voltada para a autonomia, para a crítica, para a interdisciplinaridade e para o
desenvolvimento da identidade profissional. Tanto os concertos didáticos quanto o projeto
interdisciplinar são, entre outras razões, tentativas de motivar aqueles acadêmicos que
não se sentem atraídos pelo curso de licenciatura, pois desejariam, em primeiro lugar, ser
músicos. Essa é uma questão que prepassa tanto a discussão sobre os status acadêmico
e social quanto o debate sobre a identidade profissional. O dilema entre ser músico ou
professor é constatado desde a escolha pela profissão, fato este apontado por vários
educadores musicais, brasileiros (Louro, 2004; Mateiro, 2007; Vieira, 2009) e
estrangeiros (Stephens, 1995; Bouij, 2004; Bernard, 2005; Fröehlich, 2007). Em estudo
realizado com um grupo de estudantes, Mateiro (2007), constatou que eles escolheram a
licenciatura como um meio para alcançar outros objetivos, estando o primeiro deles
relacionado ao estudo do instrumento. O ser professor estava entre as opções, porém o
fato de ser uma profissão relacionada à música foi o argumento mais utilizado. Essas
respostas demonstram que a identidade oscila entre o ser professor e o ser músico.
Moreira e Mateiro (2013) ao analisarem os dados coletados em entrevistas com um
professor de violão, que dá aulas de instrumento há mais de vinte anos em uma escola
livre de música, destacam que ele se autodenomina como “um músico de sala de aula”.
Foram poucas as vezes que durante as conversas informais e as entrevistas o professor
se referiu a ele mesmo como “professor”. Esta tensão identitária é observada em alguns
licenciandos, tornando-se mais acentuada no momento de enfrentar os dois semestres
do estágio curricular supervisionado que ocorre na educação básica, ou seja, na escola
da rede pública de ensino. Assim, as questões de pesquisa que tem norteado a minha
prática são: (1) De que maneira, os concertos didáticos podem promover a identidade
dos estudantes enquanto estagiários-professores na escola básica?; (2) Como os
2. 2
procedimentos de ensino das áreas de música e teatro podem contribuir para a prática
pedagógica dos estudantes em formação docente durante o período de estágio?
Cenário 1: Concertos didáticos
Para este trabalho o principal objetivo é descrever e refletir sobre o concerto didático
como uma ferramenta pedagógica na formação de professores de música.
Consequemente, outras questões emergem como, por exemplo: o professor como
músico, a performance na sala de aula e a vivência musical do aluno na escola. Venho
sugerindo aos estagiários a preparação de recitais didáticos por várias razões. Primeiro,
para que os estudantes tenham a oportunidade de experimentar ser músico e professor
ao mesmo tempo unindo, assim, a identidade de músico-professor, sem gerar conflitos de
valor ou status social ou acadêmico. Segundo, para fazer valer o Artigo 31 da Convenção
sobre os Direitos da Criança (2004), assinada por quase todos os países do mundo,
incluindo o Brasil, que afirma:
Os Estados Partes respeitam e promovem o direito da criança de participar
plenamente na vida cultural e artística e encorajam a organização, em seu
benefício, de formas adequadas de tempos livres e de atividades recreativas,
artísticas e culturais, em condições de igualdade.
A escola é, portanto, um espaço que pode e deve respeitar a criança, promovendo
eventos culturais e educacionais. O desafio que proponho é o de pensar e preparar um
concerto que ultrapasse a ideia do concerto tradicional, aquele onde os músicos tocam e
a platéia fica sentada imóvel, ouvindo. Esses são os concertos que acontecem nos
templos, nos teatros, nos auditórios. Os concertos onde o silêncio e os aplausos no
momento certo são exigidos da platéia, educada, culta e elitizada. Seriam esses os
“concertos musicais bancários”, parafraseando Paulo Freire? Estimulo, então, a
preparação de concertos onde, de preferência, as crianças possam interagir. A interação
pode ocorrer de diversas formas, desde cantar junto com o grupo de músicos, fazer
algum tipo de acompanhamento com palmas ou até mesmo tocar. Por um lado, a audição
da criança torna-se ativa e participativa e, por outro, ela sente-se parte da apresentação
musical. Neste sentido, Swanwick (1994) amplia o conceito de execução musical, para
além daquele dado à apresentação formal de uma obra musical para uma platéia, quando
diz que o acompanhar de uma canção com palmas também é performance. Os
estudantes assistiram a vários vídeos de concertos e recitais didáticos produzidos,
principalmente, em outros países, onde essa prática musical faz parte do cotidiano das
escolas. Além dos vídeos do grupo Barbatuques (Brasil), outros trabalhos foram
apreciados como, por exemplo: Body Rhythm Factory e Impuls Trio, da Dinamarca; e,
The world according to James e The Chambermaids, da Austrália. Como palestrante, os
estudantes tiveram o Presidente da Organização Mundial Juventudes Musicais (JMI), Per
Ekedahl, que falou sobre a importância da música ao vivo para crianças em idade
escolar. Esses estímulos, somados à produção de um Programa de Concerto (ver Anexo
1) atrativo para crianças e/ou adolescentes foram atividades que permearam as aulas
dos estagiários durante dois anos. Em 2011 foram realizados quatro recitais em duas
escolas da rede municipal de uma cidade do estado de Santa Catarina. Os concertos
3. 3
foram preparados por dois grupos de licenciandos em parceria com os oito estagiários
que atuavam nas escolas básicas municipais. O primeiro concerto, idealizado por 25
licenciandos, teve um repertório variado interpretado por diferentes formações musicais
como: Grupo de Música de Câmara, de Percussão, de Choro, de Samba, de Rock e
Grupo Coral. O segundo, formado por outros 20 licenciandos, teve a música popular
brasileira como repertório principal. Foram interpretadas canções de Chico Buarque,
Lenine, Pixinguinha, Ary Barroso, Hermeto Pascoal, Nelson Cavaquinho, Vinícius de
Moraes, João Bosco e do grupo Palavra Cantada. Assistiram a esses concertos
aproximadamente 150 alunos do ensino fundamental. Em 2012 foram realizados oito
recitais didáticos em turmas de estagiários atuantes em cinco escolas da rede municipal.
Formações musicais foram compostas por 16 licenciandos e alguns músicos convidados:
Grupo de Choro, Quateto de Flauta de Doce, Quarteto de Cordas, Grupo de Metais e um
Grupo Vocal. Desta vez, os recitais foram realizados na sala de aula, pois o foco era
aquele grupo de alunos que foi preparado para interagir com os músicos. Ao total cerca
de 240 alunos foram comtemplados com esses recitais. As apresentações foram
gravadas em vídeo e tem sido utilizadas como um material de apoio a outros estudantes.
Por um lado, como material didático para as aulas dos estudantes em estágio e, por
outro, como exemplos de recitais realizados por colegas do curso. Neste caso, tem
servido como um estímulo a essa prática no contexto escolar. Avaliações tem sido
realizadas com o intuito de ouvir tanto os alunos das escolas que tem participado dos
concertos quanto os licenciandos que tem ativamente se envolvido com tais atividades
pedagógico-musicais. Entrevistas abertas e questionários tem sido os instrumentos para
a coleta de dados. Nas escolas, os alunos respondem a dois questionários: um antes e
outro depois do concerto. O primeiro, é um questionário diagnóstico para saber se o
aluno toca algum instrumento ou se tem alguém na família que toca ou canta, se já foi a
algum concerto, onde e se lembra das músicas que ouviu. O segundo, é um questionário
de caráter mais avaliativo, onde as questões versam sobre a opinião do aluno sobre o
concerto que assistiu, quais os instrumentos e gêneros musicais que identificou, se
reconheceu alguma música e se iria novamente a um concerto ou recital didático. Esses
dados ficarão para um próximo trabalho onde o foco será aluno do ensino fundamental.
Quanto aos estudantes em formação docente, ilustro o trabalho desenvolvido com os
concertos didáticos com a fala de um deles: “Foi uma atividade de valor incalculável em
todos os aspectos. Não consigo expressar com palavras a grandiosidade que foi esse
evento para o segmento educacional”. Esse depoimento é representativo, uma vez que a
preparação e a realização dos concertos e/ou recitais tem tido um significado formativo e
reflexivo na formação musical e pedagógica dos futuros professores de música.
Cenário 2: Projeto Interdisciplinar de Estágio
A interdisciplinaridade surgiu como uma alternativa pedagógica de formação para os
estudantes matriculados nas disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado dos cursos
de Licenciatura em Música e Teatro. Nesta proposta, a definição que tem sido adotada é
a de “troca e cooperação”, conforme propõe Morin (2001). Para o autor os termos inter-
multi-trans-disciplinaridade são “difíceis de definir, porque são polissêmicos e imprecisos”
e, por isso, é necessário conservar as principais noções: “cooperação; melhor, objeto
4. 4
comum; e, melhor ainda, projeto comum” (p.115). Para tanto, é preciso romper com a
lógica da organização disciplinar e hierárquica do conhecimento, da divisão do trabalho,
da hiperespecialização do pesquisador e, consequentemente, da dispersão do saber. As
disciplinas de estágio curricular ocorrem na segunda metade dos cursos e tem como foco
a prática de ensino no contexto escolar. As aulas ocorrem uma vez por semana na
universidade e a atuação no campo de estágio, ou seja, em escolas de educação básica,
tem uma previsão de 30 horas por semestre. O projeto iniciou em 2011 com o tema
“Educação para a autonomia. Uma utopia possível”. As discussões e reflexões giraram
em torno à realidade das escolas públicas: o modelo de aula tradicional, a motivação dos
alunos, a cultura e a gestão escolar, a organização disciplinar, a disciplina de artes no
currículo, o espaço escolar para as atividades de música e teatro, a obrigatoriedade do
conteúdo de música desde 2008 com a Lei 11.769, as condições de trabalho, a
infraestrutura, os materiais didáticos, o salário, a carreira do professor, entre outros tantos
aspectos. A Escola da Ponte foi o exemplo estudado como um modelo para uma escola
possível. Repensar os modelos da escola pública a partir do estudo do Projeto Fazer a
Ponte era um dos objetivos das disciplinas. Vídeos que tratavam sobre a referida escola
foram assistidos, além do debate sobre alguns textos, como: “Fazer a Ponte, construir a
memória” de José Pacheco (CANARIO; MATOS; TRINDADE, s/d); os textos do livro de
Rubem Alves (2002) e do livro de José Pacheco (2000). Para culminar o semestre os
estagiários tiveram a oportunidade de ter uma aula e uma palestra com o professor José
Pacheco sobre os diversos temas estudados e discutidos. Em 2012 o projeto teve sua
continuidade e como fundamentos teóricos foram escolhidos a pedagogia de Paulo Freire
e as teorias do cotidiano. Naquele ano a ideia foi a de despertar a curiosidade sobre
conhecimentos teóricos e experiências já estabelecidas e reconhecidas que pudessem
auxiliar a prática pedagógica dos estagiários no contexto escolar. Para tanto, foram
oferecidas duas palestras: uma com o professor Lourival José Martins Filho (UDESC)
para falar sobre o trabalho de Paulo Freire e outra com a professora Jusamara Souza
(UFRGS) para expor sobre as teorias do cotidiano com ênfase nas pesquisas realizadas
na área da sociologia da educação musical. Leituras das obras de Paulo Freire (1967;
2011) e de Jusamara Souza (2000; 2008) foram recomendadas aos estudantes em
formação. Uma vez mais, a integração das aprendizagens e dos conhecimentos estavam
sendo propostos. Humanizar o conhecimento e compreender como os processos afetivos
podem ser construídos no cotidiano escolar foram os principais objetivos que permearam
as aulas dos estagiários no primeiro semestre de 2013. Com o tema “Afetividade na
educação, a troca de ideias permeou assuntos como: a função social da escola; o papel
dos pais e professores diante dos problemas de aprendizagem; os valores como
elementos constituintes da dimensão afetiva; a diferença entre sentimentos, emoções e
afetividade; os laços afetivos necessários aos processos educacionais; ética e moral; a
resolução de conflitos interpessoais; as influências das emoções nas funções cognitivas e
comportamentais; a violência e o fracasso escolar. Ana Maria Borges de Sousa (UFSC)
foi a professora convidada que falou aos estudantes sobre a educação a partir da Ética
do Cuidado. Para ela a ética pedagógica tem por base a afetividade qualificadora e o
aprender deve ser um direito prazeroso que encanta e dá liberdade. Não é um dever
moral. A professora diz que “a escola, orientada pela gestão do cuidado na formação
5. 5
humana e na capacitação de sua comunidade, rejeita qualquer processo que produza
exclusão, nega qualquer manifestação de desrespeito, porque pratica, pelo exemplo, o
desenraizamento das indiferenças” (SOUSA, 2002, p.186). Além da roda de conversa
com os estudantes de música e teatro, Ana Maria propos e orientou vivências
fundamentadas nos princípios da Educação Biocêntrica e da Biodanza (ver SOUSA,
2006). Uma aula por mês foi dedicada às aulas interdisciplinares, envolvendo os
estudantes dos dois cursos e os respectivos professores. Os estudantes preparavam
atividades possíveis para a sala de aula e, assim, os estagiários de música tiveram
contato com algumas metodologias teatrais, como o Drama (VIDOR, 2010) e o Teatro
Playback (SALAS, 2000), enquanto os estagiários de teatro experimentaram atividades
musicais fundamentadas em pedagogias de educação musical como, por exemplo, as
propostas de Schafer (1991). As aulas foram gravadas em vídeo e registradas em
protocolos escritos. Ao final de cada semestre foi realizada uma avaliação com os
estudantes, por meio de questionários e entrevistas. Na opinião dos licenciandos essas
aulas constituíram um espaço de troca de ideias pedagógicas, pois durante o período de
estágio o planejamento é uma das tarefas que mais ocupa e preocupa os estudantes.
Maurício escreveu: “As aulas de estágio foram produtivas no sentido de compartilhar as
experiências vividas em sala de aula, tanto do pessoal da música quanto do pessoal de
teatro. Inclusive as aulas integradas no meu ponto de vista contribuíram imensamente na
nossa prática como estagiários”. A maioria dos colegas foi unânime em afirmar o mesmo.
Outros aspectos foram também destacados como, por exemplo, a oportunidade que cada
um teve de desenvolver habilidades e/ou comportamentos, como se pode observar no
depoimento de Luiza: “Nestas aulas consegui me soltar um pouco mais e ter mais
coragem de me expor de outra maneira, além de ter aumentado o repertório de
atividades em sala de aula”. Esse “soltar um pouco mais” está relacionado às atividades
corporais que foram mais desafiantes para os alunos de música do que para os de teatro.
Durante os três anos de realização do Projeto Interdisciplinar de Estágio, os
procedimentos metodológicos foram alternados entre leituras e debates, palestras e
minicursos, mostra de vídeos e propostas práticas para o ensino de música e para o
ensino de teatro.
Considerações finais
Buscar alternativas pedagógicas para a formação de professores tem sido um estímulo
constante nos dias atuais, onde a presença das tecnologias da informação e da
comunicação tem exigido “reconstruir o mundo”. Essa busca justifica-se, portanto, pelas
inúmeras razões que prepassam a necessidade de novos modos de produção e
transmissão de conhecimentos. Superar as fronteiras disciplinares, construindo
passarelas entre as disciplinas, tem sido um desafio. Enfrentar as mídias nas aulas de
música da escola básica, tem sido outro. Se, por um lado, faz-se necessário reorganizar
o conhecimento acadêmico, por outro, as aulas escolares também caressem de novos
objetivos e opções conceituais que resultem em práticas pedagógicas mais atrativas às
novas gerações. Os concertos didáticos surgem como uma possibilidade de levar a
música ao vivo à escola, ou seja, uma experiência estética possível de ser vivida por um
determinado grupo social. Do ponto de vista da formação do professor de música é uma
6. 6
atividade que propõe o desempenho do estudante enquanto músico e professor,
atenuando a tensão entre as duas identidades profissionais. Pensar e atuar como
músico-professor em sala de aula. De maneira geral, observo que a opção por um
concerto ou recital didático tem sido por aquele onde os músicos falam sobre o repertório
tocado e/ou cantado e apresentam as características dos instrumentos musicais.
Tomando como exemplo os concertos de música clássica em auditórios ou salas de
concerto, sabemos que não existe expectativa que os músicos se comuniquem com a
platéia de alguma forma. Quando isso ocorre, normalmente, é responsabilidade do
maestro ou de um narrador. Mesmo quando os músicos são chamados para apresentar
um instrumento, uma melodia ou outros aspectos musicais, o papel deles é tocar (ver
Myers, 2005). A maioria dos concertos didáticos preparados pelos licenciandos foram
concebidos a partir dessa imagem, isto é, os estagiários ousaram pouco e acredito que
seja por não terem outras referências que possibilitem o criar concertos diferentes
àqueles a que estão tão habituados. Olhar para outras práticas, como foi o caso dos
vídeos, é fundamental para se obter uma visão sobre a própria prática, porém não
pressupõe modificá-la ou reinventá-la. O “saber-fazer” (Tardif, 2008) no sentido de saber-
tocar/cantar é um conhecimento que os estudantes, licenciandos em música, dominam.
Entretanto, o saber-ensinar refere-se ao conhecimento pedagógico do conteúdo
(Shulman, 1987), a ser aprendido na prática, no dia a dia da sala de aula – rotina esta
que é recente à maioria dos estagiários. Respondendo à primeira questão de pesquisa é
possível afirmar que os concertos didáticos são atividades que tem exigido dos
estudantes uma dupla função: a de músico e a de professor. Contudo, parece que o ser
professor, nesse contexto, acaba ficando em segundo plano por requerer habilidades e
competências que estão ainda em desenvolvimento. Quanto à segunda questão de
pesquisa posso afirmar que os procedimentos de ensino na perspectiva adotada de
“troca e cooperação” (Morin, 2001) “contribuíram imensamente” – como assim foi definido
por um dos estudantes – para a prática pedagógica dos estagiários. Observo que os
procedimentos compartilhados de ensino tem proporcionado aos estudantes um desafio
global e complexo quando são convidados a pensar nos conhecimentos de forma
integrada e não fragmentada. As experiências relatadas neste trabalho resumem três
anos de propostas didático pedagógicas com grupos de estudantes dos cursos de
Licenciatura em Música e Teatro. Vale destacar que como parte dos resultados deste
projeto foi realizado um estágio curricular integrando música e teatro. Os licenciandos
desenvolveram um trabalho integrado com uma turma de crianças na faixa etária entre
quatro e cinco anos, do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI/UFSC). Por meio da
metodologia teatral do Drama, onde as atividades, inseridas em um contexto ficcional, se
desenvolveram por episódios e com a mediação do professor-personagem, as aulas
foram permeadas por vivências teatrais e musicais. A temática estava relacionada ao
respeito pela diversidade, onde experiências com elementos de culturas estrangeiras
tornaram-se o foco dos processos de ensino e aprendizagem. Além disso, o Projeto
Interdisciplinar de Estágio ampliou suas atividades, incluindo os estudantes matriculados
nas disciplinas de estágio curricular supervisionado do curso de Licenciatura em Artes
Visuais. Concluo, afirmando que romper com o isolamento das disciplinas, considerando
o que lhes é contextual, pode favorecer a convergência de olhares, contribuindo para
7. 7
modificar e alterar os procedimentos de ensino das aulas de arte. Sem dúvida: a
educação e o trabalho docente estão sendo reconfigurados.
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Anexo 1: Encarte do Programa para o Recital Didático
Fonte: Elaboração de Jeasir Rego