O documento discute as abordagens de John Paynter e Murray Schafer para a educação musical, que enfatizam a escuta ativa, a criatividade e a percepção dos sons ambientais. Paynter propõe atividades que incluem canto, execução instrumental e ênfase na audição, enquanto Schafer defende a educação sonora e sensibilização para os sons da natureza. Ambos incentivam a composição e performance por alunos, utilizando notação analógica antes da notação convencional.
1. Didática
da Música
2Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2009.
28Metodologias em Ed. Musical II: Paynter e Schafer - Conteúdo
Introdução: a segunda geração dos Métodos Ativos
Abordagens criativas em música
Paynter – o autor e seus fundamentos
Paynter – Contribuições para a Educação Musical
Schafer – o autor e seus fundamentos
Schafer – Contribuições para a Educação Musical
Abordagens criativas e música contemporânea no Brasil
2. 3Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2009.
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Introdução: a segunda geração dos Métodos Ativos
Finalizamos uma etapa importante da interdisciplina Didática da Música até a unidade 27: o
estudo e reflexão sobre os principais educadores musicais em atividade na primeira metade do
século XX. Todos dedicaram especial atenção à voz humana, com exceções (que confirmam a
regra) nos trabalhos de Orff e Suzuki. Essas abordagens, predominantes até meados da década
de 60, buscaram promover o desenvolvimento musical a partir da prática, tratando o estudo
teórico e tecnicista como secundário ou posterior ao fazer musical em um processo de
musicalização. Por motivos de tempo e espaço, não foram vistos os trabalhos, dentre outros, de
Maurice Martenot (1898-1980), fundamentado na pedagogia de Montessori e Justine Ward (1879-
1975), afinizada com a pedagogia de Schields.
A década de 1960, entretanto, trouxe muitas transformações nas mais diversas áreas, com vistas
à ampliação de conceitos, experimentalismos ou à quebra de antigos paradigmas. A Educação
Musical finalmente passa a dialogar com a música de vanguarda de forma irremediável: pesquisas
de Pierre Schaeffer sobre a música concreta e de Eimer e Stockhausen em música eletrônica
foram determinantes nessa nova etapa da pedagogia musical, segundo Fonterrada (2008).
No conjunto de educadores da segunda geração dos Métodos Ativos, podemos enquadrar Georg
Self e seu inovador sistema de notação e classificação de instrumentos musicais, Boris Porena e
sua proposta de música contemporânea para crianças, John Paynter e o fomento à escuta ativa
e experimental, bem como Murray Schafer e a defesa da educação sonora. A partir de agora,
estudaremos Schafer e Paynter, os quais focaram na composição e performance do aluno, com
atividades de escuta ativa e fomento de atitudes criativas por parte dos alunos.
Didática
da Música
3. 4Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
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Abordagens criativas em música
De acordo com Fonterrada (2008), há diferencias paradigmáticas entre a primeira e a segunda
geração dos Métodos Ativos: enquanto a primeira propôs um desenvolvimento linear - observado
principalmente em Kodály, Suzuki e Willems, a segunda defende os procedimentos em rede,
sistêmicos, típicos do pensamento contemporâneo. Esta corrente foi denominada por alguns
autores como “abordagens alternativas” ou “abordagens criativas” em Educação Musical.
Para Fonterrada (208, p. 179): “Os educadores musicais desse período alinham-se às propostas
da música nova e buscam incorporar à prática da educação musical nas escolas os mesmos
procedimentos dos compositores de vanguarda, privilegiando a criação, a escuta ativa, a ênfase
no som e suas características, e evitando a reprodução vocal e instrumental do que denominam
‘música do passado’”. A partir desse grupo de educadores e pesquisadores, há um reiterado
interesse no som, como matéria prima da música. Confira no material de apoio uma excelente
monografia de Gomes (2004) e a aplicação das abordagens de Schafer e Paynter na sala de aula.
Ao longo do século XX, através do debate fomentado por distintas correntes pedagógicas, houve
um aumento da responsabilidade individual, com a diminuição do autoritarismo, passando a ser
valorizado a experiência do sujeito em detrimento da manutenção de tradições (PAYNTER, apud
FONTERRADA, 2008).
“O que se busca é a liberdade, e não a anarquia.”
(PAYNTER, apud FONTERRADA, 2008).
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4. 5Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2009.
Paynter – o autor e seus fundamentos
John Paynter nasceu em 1931 e ainda vive. Atuou em escolas da Inglaterra, experiência
fundamental para a construção de sua pedagogia musical. Doutor em filosofia, passou a dar aulas
na Universidade do Condado de York, na Grã-Bretanha. “Som e Silêncio”, de 1967, alça Paynter a
uma importante posição no debate sobre a música e a educação no século XX, influenciando
trabalhos realizados até nossos dias. As perguntas que sempre instigaram o educador podem ser
resumidas em: “O que é música?” “Para que serve a música?” e “O que a música comunica?”,
como define Fonterrada (2008).
Fundamentos psicológicos: a proposta de Paynter encontra respaldo em teorias da educação
do séc. XX, como as defendidas por Piaget, Vigotsky, Gardner, Freire, dentre outros
(FONTERRADA, 2008). Nas palavras do próprio Paynter, proferidas na Conferência da ISME
(Sociedade Internacional de Ed. Musical) de 1976, podemos ver um síntese de suas concepções
acerca da necessidade de nos libertarmos dos programas rigidamente pré-estabelecidos, pois:
“a educação fracassa se não oferece ocasiões para o florescimento da personalidade e
desenvolvimento da imaginação [...]. A educação pode transformar-se em um processo que
abarque a totalidade da vida, oferecendo ao indivíduo não só confiança em suas atitudes
adquiridas e inatas, como também na aventura da exploração: ver as coisas com novos olhos,
descobrir novos horizontes, assim como novos campos para experimentar” (PAYNTER, apud
FREGA, 1997, p. 127)
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5. 6Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2009.
Paynter – Contribuições para a Educação Musical
Proposta: O cerne da proposta de Paynter, assim como a de Self, baseia-se na análise de
projetos das artes visuais, que buscavam proporcionar às crianças experiências exploratórias a
partir do interior da pessoa, chegando à compreensão da obra. Paynter, assim, elaborou uma
proposta análoga, incentivando a expressão musical e compreensão da música, como afirma
Fonterrada (2008). Pode ser sintetizado em “construir música ou fragmentos musicais a partir de
uma atitude de escuta ativa e experimental” (FONTERRADA, 2008, p. 186).
Seus livros foram e ainda são muito importantes para a consolidação dessas propostas
vanguardistas de ensino musical: Sound and silence (Som e silêncio, 1967), Hear and now (Ouvir
e agora, 1972) e Sound and structure (Som e estrutura, 1992). Neste último, Paynter aborda o
papel da arte no currículo escolar e reforça as direções de sua proposta: composição, execução
e escuta.
Atividades: Escuta ativa, percepção dos sons do ambiente, os ruídos diversos do mundo que nos
cerca. A proposta é permeada por atividades que incluem o canto, a execução instrumental
(percussão, flauta doce e teclado) e ênfase na audição. No seu livro Sound and Structure, Paynter
aponta procedimentos que julga ser o núcleo da prática musical: 1) sons da música, 2) ideias
musicais, 3) pensar e fazer música e 4) modelos de tempo (FONTERRADA, 2008).
Notação Musical: prática de notação analógica durante todo o processo; ao final da oficina ou
curso ou ainda cronograma, apresenta a notação convencional como um fim, mas sem estudo da
teoria da notação.
Público alvo: grupos de crianças e adolescentes.
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Didática
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6. 7Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
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Schafer – o autor e seus fundamentos
Murray Schafer nasceu em 1933 no Canadá e continua atuante no cenário artístico e educacional
contemporâneo. Um dos compositores e educadores mais importantes de nosso tempo, Schafer
produziu livros que influenciaram e influenciam milhares de pessoas no mundo todo, como O
Ouvido Pensante e a Afinação do Mundo, ambos editados no Brasil pela Unesp.
Schafer preocupa-se com a relação do homem com a natureza, sendo um estudioso da ecologia, e
um defensor da ecologia sonora, uma proposta de sensibilização da escuta para os sons naturais.
Em suas palavras: “fomos ensinados a interferir nos sons naturais em toda a nossa educação, a
moldá-los, e a transformá-los em algo melhor. Mas talvez devêssemos deixá-los como são e
escutá-los como são” (SCHAFER, 1992).
Fundamentos psicológicos: Desenvolveu sua própria teoria pedagógico-musical, a partir de
experiências (mal sucedidas, geralmente) como estudante de música e a extrema motivação para a
pesquisa acústica dos sons da natureza. Sua proposta consiste em uma investigação experimental,
que gerou princípios que ele chamou de Educação Sonora.
Postura Estética: Schafer preocupa-se com os sons do mundo, sejam eles materiais musicais
convencionais, sejam eles o canto dos pássaros ou o som de um engarrafamento urbano. Neste
sentido, abarca em suas propostas a música ocidental e a oriental, a etnomúsica e a música
contemporânea em geral, inclusive a eletroacústica.
“Sempre é necessário manter vivo o espírito investigador para um fazer musical criativo”
(SCHAFER, apud FREGA, 1997, p. 117)
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7. 8Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
Produzido pela equipe do CAEF. Porto Alegre, 2009.
Schafer – Contribuições para a Educação Musical
Proposta: O projeto de Schafer é um “estudo multidisciplinar a respeito do som ambiental, suas
características e suas modificações ocorridas no decorrer da história, seu significado, assim como
o simbolismo desses sons para as comunidades atingidas por eles” (GOMES, 2004, p. 8). Em seu
livro “Afinação do Mundo” (1977/1997, p. 330), Schafer define os seguintes princípios de seu
Projeto Acústico: 1) respeito pelo ouvido e pela voz; 2) consciência pelo simbolismo sonoro; 3)
conhecimento de ritmos e tempos da paisagem sonora natural e 4) compreensão do mecanismo
de equilíbrio pelo qual uma paisagem sonora desequilibrada pode voltar a ser o que era.
Atividades: Podem ser desenvolvidas em sala de aula ou qualquer outro ambiente, com grupos
de qualquer faixa etária e enfoque no som que nos cerca. Não há preocupação com o estudo
sistemático de música a partir da teoria, da formação vocal ou instrumental, mas antes de tudo,
“com o despertar de uma nova maneira de ser e estar no mundo, caracterizada por uma
mudança de consciência” (FONTERRADA, 2008, p. 195).
Notação Musical: Assim como Paynter, Schafer propõe a prática de notação analógica durante
todo o processo; ao final da oficina ou curso ou ainda cronograma; apresenta a notação
convencional como um fim, mas sem estudo sistemático da música. Sempre polêmico, provoca:
“Quem inventou que o entusiasmado descobrimento da música preceda a habilidade
musical de tocar um instrumento ou ler notas?” (SCHAFER, apud FREGA, 1997, p. 116)
Público alvo: grupos de crianças, adolescentes ou adultos.
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8. 9Material elaborado para o Curso de Licenciatura em Música da UFRGS e Universidades Parceiras, do Programa Pró-Licenciaturas II da CAPES.
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Abordagens criativas e Música Contemporânea no Brasil
Muitas pessoas têm preconceito com a chamada música contemporânea, remetendo a ela ideias
pejorativas de ruído, ruptura, incoerência, etc. De fato, a partir da Segunda Guerra Mundial, houve
um movimento intenso de rompimento com tradições e modelos, numa tentativa dramática de
transformação humana e sociocultural que também se verifica na música desse período.
No entanto, é fundamental compreendermos que a “música contemporânea” possui inúmeras
correntes, estilos, gêneros e sub-gêneros, e pode-se afirmar com convicção de que haverá
algumas destas peças com as quais você se identificará imediatamente, outras poderá “aprender a
gostar” depois ouvir várias vezes, e, finalmente, haverá algumas obras das quais você quererá
distância (fenômeno que poderá ocorrer com qualquer música de qualquer período). Ainda assim,
como educador musical, é importante que você ENTRE EM CONTATO COM A MÚSICA DE SEU
TEMPO! A falta de familiaridade do educador com a música contemporânea é um fator
desestimulante e limitador na aula de música (CUERVO, 2008).
Antunes questiona: “Por acaso é necessário, para o jovem, conhecer a linguagem musical do
passado, para depois ser iniciado na linguagem musical do presente?” (1990, p. 53).
No Brasil, Koellreutter foi um grande defensor da música contemporânea, para apreciação,
execução e criação com os alunos, assim como Jorge Antunes, compositor atualmente docente na
UNB e profundamente envolvido com a música contemporânea da sala de aula. Antunes afirma
que: “O mundo sonoro da Música Contemporânea abrange o restrito mundo sonoro da Música
Tradicional. O conjunto sonoro da Música Tradicional é um caso particular daquele da Música
Contemporânea” (1990, p. 4), opinião defendida também por Mattos (2004).
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