1) O documento discute três perspectivas sociológicas sobre a relação entre indivíduo e sociedade - a sociedade determina os indivíduos, a sociedade é resultado da ação dos indivíduos, e há uma determinação recíproca entre sociedade e indivíduos limitada pelas condições materiais.
2) É apresentado o conceito de "fato social" de Durkheim, que vê a sociedade como um conjunto de normas que orientam os indivíduos.
3) Weber define a "ação social" como unidade de an
2. ▪ Em 2015, o projeto de emenda constitucional (PEC) que propunha a redução da
maioridade penal no Brasil de 18 para 16 anos suscitou o debate em torno da
responsabilidade individual dos adolescentes por seus atos. Grupos contrários à
medida afirmavam, entre outros argumentos, que adolescentes infratores não
surgem ao acaso, mas são fruto das injustiças sociais que agravam as condições de
pobreza nas quais sobrevive grande parte da população brasileira.
3. ▪ A vida em sociedade exige que os indivíduos se conformem aos comportamentos
e valores socialmente instituídos em cada cultura e momento histórico. Integrar
determinado grupo, morar em uma metrópole ou na zona rural são alguns dos
fatores que influenciam a formação dos diferentes valores e comportamentos
individuais. Graças a sua força e abrangência, essa influência pode ser
interpretada como restritiva da individualidade humana.
4. ▪ Uma evidência da força com que os padrões sociais se impõem aos indivíduos se
manifesta quando alguém decide ir contra tais padrões. Quando uma regra ou lei é
transgredida, a sociedade imediatamente aciona diferentes meios de coerção
social, que podem ir de uma simples repreensão até a privação da liberdade. Se
uma instituição de ensino obriga os alunos a usar uniforme, quem não cumprir a
regra poderá ser impedido de entrar na escola. Se, em uma manifestação pública,
pessoas decidirem tirar as roupas como meio de protesto, poderão ser detidas por
contrariarem convenções sociais.
5. ▪ Se usássemos como exemplo o padrão básico da alimentação brasileira,
poderíamos colocar a questão da seguinte forma: o arroz com feijão tornou-se a
base da alimentação no Brasil porque a maioria das pessoas gosta dessa
combinação ou, por motivos exteriores às vontades individuais, esse prato se
tornou um padrão e assim se impôs? Afinal, quem é o agente que estabelece os
padrões das relações sociais?
6. ▪ O conceito de estrutura foi desenvolvido com base na análise da influência da
organização social sobre as maneiras individuais de agir e de pensar. Assim como
a comunicação verbal não pode acontecer sem uma estrutura mínima, a existência
da vida em sociedade exige dos indivíduos a conformidade a certos
comportamentos e valores.
7. ▪ Como é possível que os indivíduos, com suas peculiaridades e diferenças, convivam
em sociedade de maneira organizada? Quem é o responsável pelo funcionamento e
pela maneira como se apresentam as diferentes instituições sociais, como a família, a
escola e o Estado? Serão os indivíduos capazes de rebelar-se contra as regras sociais e
transformá-las? Ou, ao contrário, as regras sociais exercem uma força que restringe a
capacidade de ação deles?
▪ Ao discutir a relação entre o indivíduo e a sociedade, a partir do final do século XIX, a
Sociologia produziu três matrizes de resposta a essa questão, as quais podem ser
simplificadas e compreendidas mediante o seguinte esquema:
▪ I) a sociedade determina os indivíduos, como evidenciam os fatos sociais,
▪ II ) a sociedade é compreendida como resultado da ação social dos indivíduos; e
▪ III) a sociedade e os indivíduos são expressão das contradições de classe e
determinam-se reciprocamente de acordo com os limites estabelecidos pelas
condições materiais de existência em dado período histórico.
8. FATO SOCIAL
▪ Esse princípio de objetividade na Sociologia foi estabelecido
e sistematizado em um primeiro momento pelo sociólogo
francês Émile Durkheim. Ele reconheceu na sociedade um
conjunto de fenômenos que poderiam ser compreendidos
separadamente das consciências dos indivíduos nos quais se
manifestavam e por meio dos quais eram representados.
Durkheim chamou esses fenômenos de fatos sociais.
9. ▪ Os fatos sociais são formas de agir cuja manifestação coletiva constitui aquilo que
entendemos como sociedade, a qual surge, assim, como um dado autônomo que pode
ser descrito, interpretado e explicado pela ciência com base em uma metodologia
própria: o método sociológico.
▪ Por fatos sociais entende-se o conjunto de normas e regras coletivas que orientam e
condicionam a ação individual. Os fatos sociais são identificados por três
características principais: são exteriores aos indivíduos (existem
independentemente de sua vontade ou reflexão), coercitivos (impõem penalidades
aqueles que não cumprem suas normas) e gerais (estão presentes no conjunto de dada
sociedade).
10. ▪ Para entendermos melhor esse conceito podemos pensar no exemplo das leis, que
são independentemente da vontade do indivíduo. Todos os membros de uma
coletividade têm de cumpri-las, mesmo que possuam opinião pessoal desfavorável
(por isso elas lhes são exteriores). O descumprimento da lei prevê punição ao
transgressor (por isso são coercitivas) Ao mesmo tempo, as leis servem de
orientação para a conduta de toda a população (por isso são gerais).
11. ▪ O sistema formal de educação é um bom exemplo
de fato social. As disciplinas já ensinadas e
estabelecidas há gerações impõem-se
independentemente das vontades individuais (a
Educação Básica hoje, além de um direito, é uma
obrigação); essas regras exercem coerção sobre
os indivíduos (no sistema escolar, por exemplo,
aqueles que não conseguem determinada nota são
reprovados) e são gerais (ou seja, são seguidas
pela maioria dos indivíduos que participam do
sistema).
12. ▪ Assim, em uma caixa encontramos todas as peças de um automóvel, mas cada peça
separadamente não constitui um carro. Para que de fato exista um carro (isto é,
para que ele funcione e seja reconhecido por sua forma característica e função
estabelecida), é necessário que essas peças sejam montadas da maneira
planejada, a fim de que cada uma contribua para a existência do todo; uma peça
mal colocada comprometeria o objetivo final, e então não haveria um carro
(porque não exerceria sua função de meio de transporte).
13. ▪ A mesma ideia poderia ser utilizada para o funcionamento de um organismo vivo,
se pensarmos em órgãos em vez de peças. Cada órgão cumpre sua função para
manter o organismo funcionando, isto é, vivo e saudável Assim, mais uma vez, o
"todo" pode ser“ mais que a soma das partes"; da mesma maneira, uma sociedade,
como uma máquina ou um organismo vivo, tem primazia sobre os indivíduos, ainda
que não possa se manifestar senão por intermédio deles.
14. ▪ Quando a sociedade é comparada a uma máquina ou a um organismo vivo, quando os
indivíduos são tomados como "peças" ou "Órgãos" que contribuem para o
funcionamento de algo maior, surge outro tema importante nesta perspectiva
sociológica: a questão da ordem e da função. A sociedade seria dotada de uma ordem
que direciona as partes de acordo com funções específicas que concorrem para sua
manutenção, sua reprodução e seu aperfeiçoamento; ou seja, existiria uma ordem na
disposição das peças para que a máquina realizasse sua função.
▪
Esse funcionamento é obtido somente quando os elementos que constituem a
sociedade estão unidos, coesos. É por isso que a questão da ordem é compreendida
com base no conceito de coesão social, quando cada elemento atua de modo que os
demais também trabalhem adequadamente e todos juntos constituam um organismo
maior, dizemos que são solidários uns aos outros e ao todo. Assim, o tema da ordem
social deve ser compreendido tendo por base a ideia de coesão social, que resulta da
ação solidária das partes, a solidariedade social.
15. ▪ Diferentemente do conceito de estrutura social, compreendido como o conjunto
de princípios que explicam os comportamentos e as instituições sociais, reduz a
importância dos indivíduos nos processos de transformação da sociedade, outra
posição teórica e metodológica enfatizou que o único elemento da sociedade
que pode ser observado são os indivíduos, suas ações e a compreensão que
eles próprios têm de suas ações. Cabe à Sociologia descrever esses
comportamentos e compreensões e interpretá-los.
▪
As escolhas que orientam as ações individuais são motivadas por alguns fatores
que podem ser classificados pela Sociologia. Quando um cidadão obedece a
ordem de um policial, quando um pai se sacrifica em defesa de um filho ou
quando um fiel jejua por orientação religiosa, é possível encontrar princípios
racionais, afetivos e tradicionais na origem dessas ações. Quem propôs e
desenvolveu essa perspectiva de análise foi o sociólogo Max Weber. Segundo
ele, a ação dos indivíduos em sua interação com a sociedade é a unidade
mínima da análise sociológica.
16. ▪ Na concepção de Weber a sociedade existe porque é vivenciada e compreendida
por indivíduos racionais que tomam suas decisões conforme sua história e cultura.
Uma vez que só é possível observar esses indivíduos, ou a ação consciente deles,
Weber elege como objeto de estudo da Sociologia o sentido da ação social. As
normas sociais - que Durkheim entendia como fatos sociais -, de acordo com
Weber, existem mente por causa do sentido atribuído a elas pelos indivíduos, isto
é, não têm valor em si mesmas. A sociedade é moldada pelo conjunto de decisões
de muitos indivíduos, que reconhecem essas regras, atribuem-lhes sentido e
manifestam as razões para obedecer a elas de forma consciente.
Brasil Uganda
17. ▪ A ação social,portanto,é diferente de um simples comportamento social,pois carrega um sentido a ela
atribuído pelo indivíduo.Assim,a ação social como instrumento de análise sociológica é definida como
toda ação realizada pelos indivíduos levando em conta a expectativa de outra ação dos demais.Dessa
forma,da perspectiva da teoria da ação social,a Sociologia não é entendida como uma realidade
exterior aos indivíduos ou explicada por leis,como ocorre nas Ciências Naturais.A cientificidade da
Sociologia residiria em sua capacidade de compreender racionalmente as ações e as relações sociais
▪
Na construção de uma teoria da ação social,a observação da realidade levou à identificação de quatro
tipos fundamentais de ação social que orientam a explicação das causas dos fenômenos sociais:
▪ tradicional;
▪ afetiva;
▪ racional orientada a valores;
▪ racional orientada a fins.
A Sociologia fundamentada nessa perspectiva tem se concentrado principalmente na análise das duas
últimas.
18. ▪ é motivada por um hábito arraigado ou por um costume. Isto é, quando se
pergunta ao ator social por que ele realiza determinada ação (como cumprimentar
alguém com um aperto de mão), ele responde que é porque sempre o fez e
também porque seus pais e antepassados sempre o fizeram. Um exemplo de ação
tradicional é o hábito de benzer-se ao passar em frente a uma igreja, como fazem
muitos católicos. Essa ação, que identifica e integra uma comunidade religiosa
específica, quando realizada de modo espontâneo, encontra explicação em um
hábito sobre o qual não se faz uma reflexão racional. Ela já se transformou em um
modo de agir consolidado.
19. ▪ é determinada por afetos ou estados emocionais. Como exemplo, podemos
imaginar um indivíduo que reage a uma agressão ou ofensa de maneira
igualmente agressiva. Ela consiste em uma reação momentânea a uma situação
inesperada. Em outro contexto, a reação poderia ser completamente diferente.
20. ▪ orientada a valores é determinada pela crença um
valor importante para o indivíduo, sem considerar
as consequências das ações em defesa desse valor.
Como exemplo desse tipo de ação podemos citar
alguém que aja de acordo com sua convicção
política e, ao defender suas ideias em uma
manifestação pública, desencadeie uma repressão
que, na prática, vai contra seu objetivo. Apesar de
produzir efeitos contrários aos objetivos, a ação é
racionalmente elaborada; o ator social considera
suas consequências positivas e negativas, mas a
orienta conforme seus valores, dos quais não pode
abrir mão, independentemente dos resultados
negativos que possa vir a provocar.
21. ▪ é aquela determinada pelo cálculo racional que
estabelece fins objetivos e organiza os meios
necessários para alcançá-los. Um exemplo de ação
racional orientada a fins é a estratégia de um jovem
para ser aprovado nos exames de ingresso no
Ensino Superior. O aluno define as ações
necessárias para atingir esse objetivo, organiza-as
racionalmente, pesando prós e contras para sua
realização, e opta pela estratégia de ação mais
eficiente para atingir a meta planejada.
22. ▪ O objeto de estudo da Sociologia, no entanto, nem sempre é definido sobre
um dos polos da relação entre indivíduo e sociedade. Se a estrutura social
se manifesta individualmente, e se a ação social consciente dos indivíduos
conforma determinada organização social, também é possível
compreender a sociedade como uma totalidade, constituída pelas ações
individuais limitadas por condições históricas específicas. Segundo essa
perspectiva, os seres humanos só podem ser pensados com relação ao que
produzem materialmente, e a sociedade, compreendida como resultado da
ação recíproca entre os indivíduos. Por exemplo, na Antiguidade, quem
vivesse em uma comunidade nômade caçadora e coletora seria incapaz de
fazer escolhas que não fossem determinadas por sua condição material de
existência. Isso quer dizer que esse indivíduo não poderia, por exemplo,
reivindicar uma casa para si ou a propriedade do que caçasse ou coletasse,
já que em sua comunidade essas possibilidades não se apresentariam.
▪
23. ▪ Quem definiu as bases para a compreensão do
objeto da Sociologia tendo em mente os aspectos
materiais e históricos que ligam o indivíduo à
sociedade foi o filósofo Karl Marx . Segundo ele,
"os homens fazem sua própria história, mas não a
fazem como querem e, sim, limitados pelas
condições materiais e históricas de sua
existência". Por isso, não é possível afirmar que os
indivíduos têm primazia sobre a sociedade ou o
contrário, pois sua ação na vida social, assim como
a estrutura na qual estão inseridos, é resultado de
determinada situação histórico-social. Do mesmo
modo que o nômade não poderia optar por uma
residência fixa, o trabalhador moderno também
não é livre para escolher suas condições de
trabalho (quantas horas deve trabalhar ou o valor
do seu salário).Tanto as horas de trabalho quanto
o salário dependem das condições materiais de
determinado momento histórico.
24. ▪ Nessa perspectiva, a base dessa sociedade é definida
pelo modo como é organizada a produção das condições
materiais de existência, ou seja, quem planta o alimento,
quem constrói as casas, quem fabrica as roupas. Isso não
quer dizer que a sociedade também não seja constituída
por práticas culturais e políticas, como a religião, as artes
e a organização dos governos. No entanto, tais
manifestações se constituem a partir da base material
que organiza a vida econômica.
▪
Analisando a organização da produção nas sociedades
modernas capitalistas na Europa do século XIX, Marx
chamou a atenção para o fato de que a posição social dos
indivíduos estava definida por sua relação com os meios
de produção. O fato de serem proprietários desses meios
(donos das terras, fábricas, máquinas) ou meros
trabalhadores seria o elemento fundamental para
determinar a divisão da sociedade em grupos com
interesses antagônicos, as classes sociais.
25. ▪ Segundo Marx, podemos definir classe social como a posição que um grupo de
indivíduos ocupa no processo de produção: de um lado, os proprietários dos meios de
produção e, de outro, os produtores (trabalhadores). Nessa perspectiva, a propriedade
privada dos meios de produção seria a causa maior da dominação de uma classe
sobre a outra ao longo da história, com base na exploração do trabalho. Se o
trabalhador não dispõe de mais nada além da própria força de trabalho, está
submetido ao poder do patrão, que definira quanto e de que forma ele vai trabalhar,
assim como o valor de seu salário, de acordo com as leis existentes e a capacidade de
negociação dos trabalhadores organizados. Na sociedade capitalista que Marx
analisou, burguesia e proletariado eram as classes que protagonizaram o conflito, em
meio a uma profunda desigualdade.
26. ▪ Marx desenvolveu uma teoria orientada pela ideia de conflito, estabelecendo a
classe social como unidade de análise sociológica que permite pensar a relação
entre indivíduo e sociedade de maneira recíproca. Ou seja, não é possível pensar
o indivíduo sem considerar sua constituição em uma classe social e as diferenças
de poder e dominação definidas a partir de sua posição nas relações de produção.
Do mesmo modo, não é possível pensar a sociedade sem compreendê-la como
resultado de um processo histórico marcado por contradições.
27. ▪ Dois indivíduos que tenham nascido na
mesma cidade e no mesmo dia, mas que
pertençam a classes sociais diferentes, terão
sua trajetória de vida individual marcada
pelas classes das quais fazem parte. Assim,
o filho de uma família de operários terá
muito mais possibilidade de seguir a mesma
profissão dos pais do que de se tornar
empresário. Por sua vez, o filho de uma
família de empresários terá muito mais
possibilidade de tornar-se também
empresário do que de vir a ser operário.
Isso significa que a classe social na qual o
indivíduo nasce é fator determinante do
possível curso de sua vida profissional.
28. ▪ De acordo com Marx, os homens produzem a própria vida por meio das relações de
produção. E as leis existem para garantir o controle e a continuidade dessas relações
estabelecidas em determinado momento histórico. Assim, nas sociedades
contemporâneas, a propriedade privada é defendida pela legislação como direito
inviolável. Marx postula que as leis sempre representam as ideias da classe dominante.
Quando passou de classe dominada a classe dominante, a burguesia criou novas leis
que regulavam a vida social e que refletiam as ideias da nova classe dirigente. Em
nossos dias, modificações na organização do sistema de produção geram novas
legislações que tentam dar legitimidade ao modo como as classes dominantes
pretendem interferir na realidade.
29. ▪ A concepção sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade na Sociologia
contemporânea está, assim como na Sociologia clássica, relacionada à experiência
social de época e articula as diferentes percepções sobre o papel e os limites da
ação individual.
▪ O sociólogo alemão Norbert Elias, recontextualizando a discussão entre ação
individual e estrutura social, afirma que não existe dicotomia entre indivíduo e
sociedade. seja, não é suficiente para a compreensão da sociedade
contemporânea uma teoria se refira aos conceitos de indivíduo e sociedade como
termos antagônicos. Essa é e proveitoso processo de influência mútua, em que o
indivíduo constrói a estrutura e é falsa questão que gera problemas na
interpretação da vida social, na qual há um constante simultaneamente formado
por ela.
30. ▪
Nesse sentido, o indivíduo elabora estratégias para alcançar objetivos, mas
objetivos que são socialmente validados pelas estruturas sociais construídas
historicamente. Considere-se o exemplo das leis, que especificam limites para a
escolha individual mesmo tempo que protegem os indivíduos. Em muitos casos,
tais leis existem para garantir o direito individual diante da pressão coletiva ou
podem, de maneira oposta, servir como defesa da maioria contra uma minoria que
tenta impor sua vontade.
31. ▪ Um traço comum na Sociologia contemporânea é o esforço para construir uma teoria
capaz de interpretar o indivíduo e a sociedade como partes inseparáveis da mesma
realidade. O sociólogo britânico Anthony Giddens avalia que o indivíduo na
modernidade age de modo dialético em relação às estruturas. Em uma releitura das
teorias sociológicas clássicas, Giddens defende que os agentes (indivíduos) são
influenciados pelas estruturas em seu cotidiano ao mesmo tempo que recriam essas
mesmas estruturas mediante um processo de reflexão sobre sua própria prática. Em
nosso exemplo, isso significa dizer que os indivíduos, ao cumprirem as leis, refletem
sobre sua aplicabilidade na realidade social, adaptando-a continuamente às
necessidades individuais e coletivas da sociedade em que vivem, o que pode alterar as
próprias leis que deram origem a essa reflexão.
32. ▪ Giddens defende que o modo de vida que teve início no século XVII chegou a seu
ápice, de maneira que estaríamos experimentando um momento de radicalização
da modernidade. Essa radicalização das formas de relacionamentos e das
instituições nos traria algumas “consequências da modernidade", isto é,
viveríamos em uma época de incertezas, por um lado, e de reflexividade, por outro.
Tais incertezas seriam situações de risco às quais estão submetidos os sujeitos nas
sociedades contemporâneas, como uma epidemia global ou uma guerra. A
radicalização também daria maior reflexividade (incorporação reelaborada das
situações e informações do cotidiano) aos indivíduos, tendo em mente que estes
reexaminam constantemente as práticas sociais, o que lhes confere maior
autonomia.
33. ▪ O debate sobre a relação entre indivíduo e sociedade - seja nos autores clássicos, seja
nos contemporâneos - evidencia uma característica central da Sociologia: a percepção
de que as experiências pessoais não se limitam às consciências individuais, mas
devem ser interpretadas como parte da experiência social.
▪ Charles Wright Mills denominou essa característica social como imaginação
sociológica. Esse conceito significa, na prática, ir além das experiências e observações
individuais para compreender temas coletivos, de maior amplitude. Sem sair do
exemplo do trânsito, podemos considerar que a pressa é um fato de importância
pessoal; entretanto, o uso da imaginação sociológica permite compreendê-la não
apenas como problema individual, mas como preocupação social.
34. ▪
Correr no trânsito, apesar de ser uma solução imediata ao problema da urgência
que se tem em realizar algo, pode ocasionar algum tipo de acidente, envolvendo
outras pessoas. Nessa perspectiva, o autor propõe que a Sociologia deve permitir
que o indivíduo relacione seu cotidiano com a realidade histórico-social, fazendo
com que reflita acerca da implicação de suas ações.
▪
Em um contexto em que as transformações das últimas décadas têm trazido
numerosos desafios para os indivíduos em seu cotidiano, cabe à ciência da
sociedade o papel de compreender as conexões que existem entre a experiência
pessoal e a vida coletiva.
35. ▪ Sociedade em movimento. – 2. ed. – São Paulo: Moderna, 2016.Vários autores.