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OSHO
VÁ COM
CALMA
Discursos sobre Zen-Budismo – Volume 2
UNIVERSALISMO
Sumário
Capítulo 1 — Em Busca de um Fantasma
Capítulo 2 — Você Sente o Cheiro da Montanha de Louros?
Capítulo 3 — Somente o Ser Humano é Capaz de se Entediar
Capítulo 4 — A Flor de Lótus da lei
Capítulo 5 — Jubilosamente Além de Qualquer Experiência
Capítulo 6 — Daruma, o Gato e a Concha
Capítulo 7 — Eu Também Sou Encanador
1
Em Busca de um
Fantasma
Se eu me aproximar mais,
posso ter que saltar...
Não compreendo —
lágrimas começam a brotar de meus olhos.
Por que seus ensinamentos não são aceitos
como religiosos pela sociedade?
Por que para mim suas afirmações
parecem ser arrogantes?
Qual a diferença entre
estar totalmente entregue
e ser um robô sem cérebro?
Se eu desaparecer; quem pagará o aluguel?
O amor espiritual é possível
neste mundo apodrecido?
A primeira pergunta:
Quando eu era mais jovem, costumava sentir uma certa atração por
janelas abertas em edifícios altos. Muitas das pessoas com quem trabalho
hoje também sentem isso. A sensação é: “Se eu me aproximar mais,
posso ter que saltar”. Minha experiência é que isso não tem relação com
suicídio. O que é isso? Você pode falar mais a esse respeito?
SIM, DEVABHAKTA, POSSO FALAR MAIS a esse respeito, pois percebo este
mesmo temor em você quando você se aproxima de mim. Você mantém uma
certa distância, você está com medo. O medo nada tem a ver com suicídio, ou
tem num sentido muito diferente, num sentido espiritual.
Você não está com medo da morte comum, mas da que as pessoas do Zen
chamam de “a grande morte”. Você está com medo de desaparecer, de se
dissolver, de perder o domínio sobre você mesmo. E, de uma maneira ou de
outra, todos estão com esse medo.
É por isso que sempre vivemos sob controle. O controle não é somente imposto
pela sociedade; mesmo que a sociedade remova todo o controle, as pessoas
continuarão a viver sob controle; elas criarão seus próprios controles, suas
próprias disciplinas. Mesmo que a sociedade decida tornar todos absolutamente
livres, as pessoas não serão livres, não aceitarão a liberdade. Elas criarão suas
próprias escravidões, aprisionamentos e correntes. Elas se tornarão suas
próprias carcereiras.
A liberdade é amedrontadora, pois ela simplesmente significa que você não
estará presente. Não é que você vai ser livre; você vai ser livre de você mesmo.
Você é a escravidão — quando ela desaparece, você desaparece.
E algumas vezes esse medo pode se aproximar de você quando você estiver
perto de uma janela num edifício alto ou perto de um abismo, nas montanhas.
Essa sensação pode tomar posse de você, essa situação física pode se tornar
um desencadeante dentro de sua psique. Ela pode lhe dar a idéia de que é
possível desaparecer.
E, lembre-se, há ambos, o medo e a atração — é sempre assim. Sempre que
você se sentir atraído por algo, também terá medo dele. É por isso que o homem
se sente atraído pelas mulheres e tem medo delas.
É por isso que digo que seus pretensos santos, os quais ainda estão com medo
das mulheres, estão apaixonados por elas. Certamente, eles estão — eles estão
obcecados, pois medo e amor andam juntos. Eles podem ter se mudado para as
cavernas do Himalaia; sentados em suas cavernas, eles podem não estar
pensando que estão de alguma maneira interessados nas mulheres, mas eles
estão amedrontados. Se houver o rumor de que uma bela mulher está vindo à
montanha para fazer uma visita, algo irá se mover dentro deles. O medo estará
presente! Mas medo revela atração, revela que você ainda está envolvido.
As escrituras que falam contra as mulheres foram escritas por pessoas que
estavam obcecadas por elas. Essas pessoas podem ter renunciado, mas não
mudaram; elas são as mesmas pessoas. Um dia, elas estavam correndo atrás
das mulheres, e, num outro, elas começaram a fugir delas, mas o jogo é o
mesmo, jogado de uma maneira diferente. A mulher continua a ser a atração e
o medo dessas pessoas.
E esse é o caso quando você se sente atraída por um homem. Quando uma
mulher se sente atraída por um homem, há medo. Todo amor cria medo,
imediatamente.
Portanto, ambos andam juntos. Você fica atraído por janelas abertas porque há
grande atração por estar livre desta gaiola que se tornou a sua vida. Mas esta é
a única vida que você conhece, então vem o medo — quem sabe? Há uma outra
vida ou não? Você pode simplesmente desaparecer como você é e não aparecer
num outro plano, numa outra existência — e então?
Ao fazer amor com uma mulher ou com um homem, o mesmo temor se apossa
de você. É por isso que o orgasmo é tão impossível, tão difícil. E não pense que
somente as mulheres acham difícil ter orgasmo — é exatamente tão difícil para
os homens quanto para as mulheres. Quanto ao homem, uma única coisa o
ajuda a fingir: sua ejaculação — ele acha que atingiu o orgasmo porque pode
ver algo visível acontecendo. A mulher não tem ejaculação visível, então ela fica
preocupada e intrigada se atingiu ou não o orgasmo.
Ejaculação não é orgasmo. Orgasmo significa que você usa o ser do outro como
uma janela e você salta para o desconhecido, e o outro usa sua janela e salta
para o desconhecido... então há orgasmo. Quando você desaparece, o orgasmo
acontece. O orgasmo é um estado de imensa expansão. Trata-se de expansão
da consciência, de um estado sem fronteiras. Você se torna um com o céu, e
não é mais minúsculo, não está mais dentro de limites.
Você não é mais! Pois, enquanto você for, existem limitações, fronteiras,
definições. Quando todas as definições forem quebradas e você estiver
simplesmente ali, indefinível, inexprimível, algo da grandeza de Deus aconteceu
a você... por um momento você se dissolveu e veio a saber, provou o sabor...
O mesmo acontece com um discípulo que vai a um Mestre — o medo. Por isso,
através dos tempos muito se falou sobre a confiança. O que é a confiança?
Confiança significa simplesmente a coragem de dar o salto. É arriscado, é um
jogo, pois pode não haver segurança. Que segurança há em estar comigo? Que
segurança há em se entregar a mim? Eu não lhe garanto coisa alguma! Não
posso dizer o que vai acontecer, pois isso não pode ser dito. Você precisa se
mover na escuridão, e com enorme confiança — somente então você pode se
mover.
Você gostaria de alguma prova objetiva de Deus. É por isso que as pessoas
perguntam sobre provas de Deus. Você gostaria de alguma prova objetiva do
samadhi, do estado búdico, gostaria de algo tangível que você pudesse tocar,
ver, segurar em suas mãos, sentir e julgar. Então a confiança será fácil, porém
ela não será necessária.
Você não confia no Sol, na Lua — eles estão simplesmente ali. Ninguém pede
alguma prova do Sol ou da Lua. Eles estão simplesmente ali, são fatos, e a
confiança não é necessária. É por isso que na ciência a confiança não é
necessária, pois a ciência procura fatos.
Na religião, a confiança é necessária, pois ela o torna disponível ao supremo e
torna a verdade disponível a você. A confiança é a porta, uma janela para a
verdade. Mas será preciso coragem.
Devabhakta, este medo, esta atração pelas janelas que você também tinha
revelavam uma coisa: que desde sua infância você esteve buscando. Talvez a
busca foi trazida, através dos tempos, de outras vidas — essa é a minha
impressão sobre você. Você esteve tateando e buscando, continuamente
buscando. Daí o medo e a atração. Atração porque a busca existe, e medo por
quê? Quem sabe? Se você chegar muito perto da janela, num repentino
momento de loucura você poderá ficar tão excitado, tão possuído pela idéia, que
poderá saltar. E então? Então é melhor não se aproximar muito.
E tenho observado isso em você quando você vem a mim.
Mesmo na Alemanha você não usava o laranja e o mala 1 — Isso também é parte
desse medo. Você não quer se envolver muito comigo e quer manter uma
distância segura. Quando você está aqui, você permite um pouco de
proximidade, mas quando se afasta começa a me evitar. E tentei me contatar
com você, mas você não estava disponível. Posso contatá-lo somente se você
permanecer envolvido comigo. Eu queria ajudá-lo, mas você estava
desconectado.
1. Na época deste discurso, os sannyasins de Osho, ou discípulos, usavam roupas de cor
alaranjada e um tipo de colar chamado mala. (N. do T.)
Se alguém está tentando me ludibriar, ele está realmente ludibriando a si mesmo.
Eu sigo tentando contatar meu povo, e posso contatar somente aqueles que
estão realmente comigo — em qualquer ocasião, na alegria e na infelicidade, no
êxtase e na agonia, na vida e na morte. Posso contatar somente essas pessoas.
Portanto, torne-se agora um pouco mais alerta; isso é possível. Também sou
uma janela; não há necessidade de ficar com medo — o medo é natural, mesmo
assim não há necessidade de ter medo. Apesar do medo, aproxime-se de mim.
Acontecerá um tipo de suicídio: o ego cometerá suicídio. Sannyas é isso.
A atração existe; desse modo você se tornou um sannyasin; e o medo existe,
por isso você ainda está tentando me evitar. Hesitantemente você dá um passo
em minha direção e um passo para longe de mim. Essa hesitação pode destruir
essa oportunidade. Saltar de uma janela de um edifício não vai ajudar, mas agora
a janela pela qual você esteve ansiando está disponível, e você pode saltar, pode
morrer e renascer.
A segunda pergunta:
Não entendo o que você diz, Osho, mas, enquanto estou sentado sozinho
ou nos discursos, algo me acontece e lágrimas começam a brotar de meus
olhos.
O que é isso tudo, meu Mestre?
VOCÊ COMEÇOU A ME ESCUTAR, Shivananda, esta é a maneira de me
escutar — através das lágrimas. Esta é a maneira de me escutar — através do
amor, do coração. Pulse comigo, deixe minhas palavras se afogarem em suas
lágrimas. Você não ficará em falta, pois o que estou dizendo não é importante.
Muito mais importante é uma outra energia que circunda essas palavras que o
alcançam.
Não preste muita atenção às palavras. Se o seu coração estiver aberto, a energia
será liberada nele. Minhas palavras são apenas carregadoras, recipientes. O
conteúdo é completamente diferente, é diametralmente oposto. O recipiente é a
palavra, mas o conteúdo é um silêncio sem palavras, é o meu amor. A palavra é
apenas uma cápsula, e a cápsula não é o remédio; o remédio está dentro dela.
Esqueça-se da cápsula. Beba-me — e a melhor maneira de beber é estar com
lágrimas, pois então você participa e chega muito, muito perto.
Essas lágrimas são indicativas de que o seu coração começa a pulsar comigo,
de que há momentos em que você começa a respirar em sintonia comigo —
então, de repente, essas lágrimas surgirão. Elas são simbólicas, são como flores.
Rejubile-se!
A terceira pergunta:
Por que seus ensinamentos não são aceitos pela sociedade como religião
ou como religiosos?
ELES NÃO SÃO RELIGIOSOS OU RELIGIÃO no senso comum do termo. Eles
são muito mais... muito mais profundos e elevados. A sociedade não tem visão;
ela é constituída de pessoas cegas. Isso sempre aconteceu.
Quando Buda surgiu, elas não acreditaram que seu ensinamento fosse religioso;
quando Jesus surgiu, elas o crucificaram; quando Mansoor declarou “Eu sou
Deus”, elas o assassinaram. Os muçulmanos consideraram Mansoor como uma
das pessoas mais irreligiosas que jamais pisou na terra — declarar-se Deus?
Isso é kufr, é irreligião, é anti-religião.
Sempre que algo da pura verdade é expresso, cantado, a sociedade começa a
ficar pouco à vontade a esse respeito. Isso é natural, pois a sociedade tem um
tipo de religião muito falso — confortável, conveniente e consolador. Ela tem
falsos templos em que adorar, falsos deuses para adorar, falsos sacerdotes para
seguir. E isso é muito conveniente, pois eles não perturbam a sua vida. Você
pode permanecer cristão; na verdade, ela nunca perturba a sua vida; pelo
contrário, ela ajuda a sua vida. A chamada sociedade, as chamadas regras da
sociedade, as moralidades — você se ajusta melhor se for cristão. Mas seguir
Cristo é perigoso.
Nenhum cristão jamais segue Cristo — ele não pode seguir. Em realidade, ser
cristão é uma maneira de evitar Cristo, e ser budista é uma maneira de evitar
Buda. Se você realmente ama Buda, então você gostaria de ser um Buda e não
um budista. Por que alguém deveria querer ser cristão? Ou seja Cristo ou se
esqueça de tudo a respeito dele! Mas Cristo é perigoso. Ele não foi morto por
pessoas imorais ou más, porém por pessoas boas e respeitáveis. Lembre-se
sempre disso.
Buda não foi atacado por criminosos, mas por aqueles que você jamais poderia
considerar criminosos — pessoas boas, morais e puritanas. Por que isso
acontece? Jesus é assassinado por rabinos, por pessoas religiosas, eruditos,
sacerdotes... boas de todas as maneiras. Suas vidas são completamente limpas;
elas são pessoas de caráter. E ele era adorado por pessoas sem caráter — uma
Madalena.
Há alguns dias, uma jovem veio da Suíça; seu nome é Madalena. Eu não mudei
o seu nome — ela recebeu sannyas. Adoro esse nome, Madalena. Uma
prostituta seguiu Jesus, e os rabinos o assassinaram! Ladrões, bêbados e
jogadores seguiram Jesus, e rabinos o assassinaram. Todos os pretensos
santos estavam contra ele, e os supostos pecadores estavam a seu favor — que
tipo de mundo é este? Que paradoxo é este? Por que isso tem sempre
acontecido? Há uma certa razão.
Sempre que surge sobre a terra uma nova religião, uma nova direção, um novo
vislumbre de Deus, sempre que uma nova janela ou porta se abre para Deus,
primeiro elas são aceitas por aqueles que não são muito respeitáveis. Por quê?
Porque eles nada têm a perder; eles podem aceitar. Eles podem até mesmo
aceitar a verdade — eles nada têm a perder. O que Madalena tinha a perder?
Todavia, o rabino chefe tinha muito a perder. Ele tinha um investimento na velha
religião, a religião enferrujada, a qual estava morta, e por muito tempo; ela estava
cheirando mal, era apenas um cadáver — mas ele tinha um investimento nela.
Ele era o seu sacerdote chefe! Se ele seguisse Jesus, ele não seria mais o
sacerdote chefe, e todas as prerrogativas de ser um sacerdote chefe estariam
perdidas. Ele tinha a casa mais bonita, o melhor salário, era a pessoa mais
respeitada — por que ele deveria seguir esse vagabundo, Jesus? Isso seria
simplesmente uma perda para ele.
Madalena podia seguir Jesus; ela nada tinha a perder, porém a ganhar. Um
jogador ou um bêbado nada têm a perder, mas a ganhar. Todas as grandes
religiões começaram com pessoas rebeldes, com pessoas jovens, pois os velhos
têm investimentos. Por toda a vida eles oraram e veneraram, agora, de repente,
eles não podem interromper isso. Se eles interromperem, significa que toda a
vida deles esteve errada, e aceitar isso vai contra a fibra, contra o ego. Portanto,
somente poucas e raras pessoas velhas podem seguir um Jesus ou um Buda —
aqueles que são tão corajosos a ponto de poder perceber a questão e dizer:
“Tudo bem, então isso estava errado e eu o abandono. Toda a minha vida estava
errada e eu começo mais uma vez”. É bastante difícil começar de novo na idade
avançada, pois à frente há apenas a morte e nenhum tempo de sobra — e você
está começando algo novo? Grande confiança é necessária, grande confiança
em Deus e na vida, e um espírito aventureiro.
Todas as grandes religiões começam com pessoas aventureiras, jovens,
tiranizadas, oprimidas, criminosas e pecadoras. E todas as religiões morrem
quando elas se tornam respeitáveis e chegam os santos e as igrejas evoluem —
elas morrem.
Uma nova flor está se abrindo aqui. Todos os pretensos religiosos estarão contra
ela — eles estão contra, têm que estar. Todos os seus investimentos, privilégios
e consolos... como eles podem arriscar tanto? Eles se apegarão e lutarão contra
mim — eles estão lutando contra mim, estão criando todos os tipos de problema
para mim. É possível que você não esteja ciente, pois nunca falo sobre isso; para
quê? Nunca nada sobre isso, e pode ser que você não esteja de modo algum
ciente dos tipos de problema que estão continuamente sendo criados.
Por um ano tento encontrar um lugar para me mudar, mas eles ficam criando
problemas, legais e outros. E os políticos estão com eles, e os sacerdotes estão
presentes, e todas as pessoas respeitáveis estão com eles. E eles têm poder e
podem criar mil e um problemas. Eles não querem que a comuna se estabeleça,
pois estão com muito medo: quando a comuna existir e o trabalho realmente
começar — pois isto é apenas uma introdução —, quando o trabalho real
começar, então virão de todas as partes do mundo todos aqueles que são
corajosos. Milhares e milhares de pessoas virão e serão transformadas. Preciso
apenas de uma certa situação, de um Campo de Budas. Assim, de todas as
maneiras eles estão criando todo tipo de problema.
E quanto mais meu trabalho se difundir mais problemas virão, pois mais eles
ficarão apreensivos e temerosos.
Você me pergunta: Por que seus ensinamentos não são aceitos como
religião ou como religiosos?
Como eles podem ser aceitos como religião e religiosos? Trata-se de pura
religião, e é por isso que ela não pode ser aceita como religiosa. Eu não sou
hindu; do contrário, eles estariam muito felizes. Eles teriam amado todos vocês
se eu fosse hindu, e teriam dito: “Vejam! Nossa religião é tão fantástica que
muitas pessoas de todo o mundo e de todas as raças estão sendo convertidas
ao hinduísmo”. Eles teriam venerado vocês e os convidado a ficar em suas
casas. Eles teriam se gabado disso em seus jornais, revistas, livros, estações de
rádio, TV. Teriam se gabado: “Olhem! Vejam a beleza e a grandeza do
hinduísmo; tantas pessoas estão sendo convertidas a ele!” Mas não sou hindu.
Eles precisam reprimir tudo o que está acontecendo aqui; isso não deveria
chegar a ninguém, ninguém deveria ouvir a respeito do que está acontecendo
aqui. Ou, se alguém ouvir, então alguma falsa informação deve ser dada, de tal
modo que ninguém fique interessado em vir aqui.
Não sou muçulmano, jainista, cristão ou budista; portanto, naturalmente todas
essas pessoas estão contra mim. Todas elas estão unidas pelo menos numa
coisa: estão contra mim. Sobre isso elas não têm diferenças. O hindu e o
muçulmano, o cristão e o jainista, todos eles estão juntos numa coisa, pelo
menos em algo eles concordam, pelo menos proporcionei algo para que
concordassem: que esse homem está errado.
O que estou dizendo é rebelião, e irá destruir a própria base deles. Por isso eles
não podem aceitá-lo como religião. Eles negarão, brigarão e tentarão esmagar
este botão que está se abrindo. Eles estarão contra vocês e vocês terão que
enfrentar mil e uma dificuldades. Este é o risco que vocês correm por estarem
comigo, e também o desafio. E este desafio se tornará uma bênção para vocês.
Aqueles que serão capazes de aceitar o desafio e ficar comigo, e que estarão
tão enamorados a ponto de poder sofrer por mim, esses crescerão até alturas
infinitas e conhecerão algo que não é comumente conhecido pelos seres
humanos. Isso não está disponível nas igrejas e nos templos, e se torna
disponível somente quando um Mestre vive e quando um discípulo se permite
estar tão aberto ao Mestre que o Mestre começa a viver também no discípulo. E
quando esta transferência de energia acontece...
Eles acham que sabem o que é religião; eles têm certas definições, e eu não me
ajusto a nenhuma delas. Naturalmente, como eles podem chamá-la de religião?
E perceba, então isso ficará claro para você: o cristianismo não pode acreditar
que o budismo é uma religião, pois eles têm uma definição e o budismo não se
ajusta a ela. Como pode haver uma religião sem Deus? Portanto, os cristãos não
podem chamar o budismo de religião. No máximo, eles podem aceitá-lo como
moralidade, mas não como religião. Como pode haver uma religião sem Deus?
E pergunte ao budista: “O cristianismo é uma religião?”, e ele dirá: “Não, como
pode haver uma religião quando as pessoas são tão estúpidas a ponto de
acreditar em Deus? Eles não sabem de nada. Como uma pessoa religiosa pode
acreditar em Deus?” O budismo tem a sua definição. Acreditar em Deus significa
ser uma pessoa iludida, com alucinação, uma pessoa patológica que precisa de
tratamento psiquiátrico.
Pergunte aos jainistas e eles não concordarão que o cristianismo e o budismo
são religiões. E pergunte aos muçulmanos... ninguém concordará que a outra
religião é uma religião. Qual é o problema? Eles têm uma certa definição, uma
idéia fixa. Se algo se ajusta a essa idéia, ele é religião; se não se ajusta, não é
religião.
Portanto, sempre que um novo insight surge... e novos insights surgem
continuamente. Eles precisam surgir, pois velhos insights lentamente se tornam
tão enferrujados, empoeirados e cobertos com tantas interpretações e jargões
que perdem a vivacidade. Novos insights precisam continuar a surgir. Quando
surge um novo insight, certamente ele não se ajusta com qualquer definição
disponível — então ele não pode ser chamado de religião.
Cada nova religião precisa criar a si mesma e a sua definição. Lembre-se disso.
Quando meu povo se espalhar por todo o mundo, e temos milhões de pessoas,
então ela será uma religião, pois teremos criado nossa definição do que é
religião.
A definição vem mais tarde. Primeiro a religião precisa vir e penetrar nos
corações das pessoas, depois lentamente surge a definição, a qual não está
pronta de antemão. Cada Buda precisa criar sua religião, a definição, os
seguidores e o campo, e isso sempre tem que ser iniciado a partir do bê-á-bá,
do zero. Nenhum velho templo pode ser usado para isso — o novo templo
precisa ser erguido.
E não somente isso, mas o velho templo precisa ser eliminado, destruído, pois
somente quando o velho templo não for mais um templo aos olhos das pessoas
é que elas começarão a procurar e a tatear novamente pelo novo.
Assim, é muito natural que minha abordagem não seja considerada como religião
ou religiosa. Depende de você: se você começar a viver o que estou dizendo,
você estará criando a definição. Depende de você, exclusivamente de você! O
que estou dizendo é que, se você se tornar uno com ele e começar a vivê-lo em
sua totalidade, mais cedo ou mais tarde a definição seguirá. Mas quem se
importa com ela? Viva o que estou dizendo! Não se preocupe com o que as
pessoas pensam a esse respeito.
A quarta pergunta:
Por que para mim suas afirmações parecem ser arrogantes?
TEM SIDO SEMPRE ASSIM E SEMPRE SERÁ ASSIM. Quando Jesus disse:
“Eu e meu pai somos um”, você acha que as pessoas o consideraram muito
humilde? Quando Jesus disse: “Sou a verdade, o caminho e a porta”, você acha
que os rabinos vieram correndo e caíram a seus pés e disseram: “Um homem
tão humilde! Jamais se viu um assim”. Eles disseram: “Este homem é arrogante,
é egoísta”.
E pela lógica eles parecem certos — isso parece arrogância! Quando Krishna
disse a Arjuna: “Sarva dharma parityajya mamekam sharanam vraja — deixe
todas as religiões de lado, venha e caia a meus pés”, você acha que as pessoas
consideraram esta declaração humilde? “Deixe todas as religiões de lado e caia
a meus pés!” Isso é pura arrogância.
E você ficará surpreso; diz-se que as primeiras palavras de Gautama Buda
foram... A lenda diz que quando Buda nasceu ele exclamou: “Acima e abaixo dos
céus, só eu sou o honrado”. Quando ele nasceu, apenas um bebê, a primeira
declaração — não que ele se tornou Buda e então declarou isso. A lenda é bela!
A criança de um dia de idade, a afirmação e a expressão do primeiro momento...
ele declarou ao mundo: “Acima e abaixo dos céus, só eu sou o honrado”.
O que você acha disso? Que isso é pura arrogância?
A verdade é a verdade. Ela não é nem arrogante nem humilde. Ela precisa ser
declarada como ela é. Se você compreender, ela pode parecer humilde para
você; se você não compreender, ela parecerá arrogante para você. E se você
não compreender então não há necessidade de penetrar em tais declarações,
que, aparentemente, parecem arrogantes. As pessoas que não compreendem,
ou que não querem compreender, podem encontrar a arrogância em qualquer
lugar.
Aconteceu uma vez. Eu li estas palavras de Lao Tzu para um professor: “Quando
o homem superior ouve do Tao, ele o pratica; quando o homem comum ouve do
Tao, ele o ignora; quando o homem inferior ouve do Tao, ele zomba. Se ele não
fosse motivo de riso, ele não seria o verdadeiro Tao”.
E você sabe o que o professor disse? Ele disse: “Que arrogância de Lao Tzu —
quem ele pensa que é para saber? Ele se considera o homem superior, o sábio,
aquele que sabe? Que arrogância a dele de declarar que conhece o Tao! Então
Lao Tzu acha que é um dos superiores que realmente compreendem o Tao,
enquanto pessoas inferiores o ignoram ou riem dele? Que arrogante!”
Ora, isso não é muito aparente. Você poderia não ter pensado dessa maneira,
mas isso pode ser interpretado dessa maneira.
Ao perceber a resistência do professor, citei Jesus para ele: “Pai, perdoe-os, pois
eles não sabem o que fazem”.
E o que ele disse? Ele disse: “Essas palavras também são arrogantes. Quem
esse sujeito, Jesus, pensa que é, tendo uma atitude tão superior,
condescendente, arrogante e clemente?”
Ora, Isso não é aparente, mas pode ocorrer. Se você procurar, você poderá dizer
que esse homem é arrogante — quem ele pensa que é? “Pai, perdoe-os...”
Quem é você para perdoar?
Isso é exatamente o que Friedrich Nietzsche costumava dizer contra Jesus: “Ele
era a pessoa mais arrogante... Ele está dizendo a Deus: ‘Perdoe esses tolos,
pois eles não sabem o que fazem — eles são todos tolos, perdoe-os!’ Ele os está
insultando. Ele nem mesmo lhes permite a dignidade de saber o que estão
fazendo; ele não os considera como seres humanos, e os está tratando como se
fossem vermes — perdoe-os —, essa atitude ‘mais santo que você’”.
Friedrich Nietzsche costuma lembrar as palavras de Jesus: “Quando alguém
bater em sua face, ofereça-lhe a outra”. E Nietzsche disse que isso é muito
desumano, pois o faz parecer muito superior. Olhe a partir do ponto de vista de
Nietzsche, quando alguém lhe bater na face e você lhe oferecer a outra, isso é
desumano. A maneira humana é: bata-lhe de volta! Pelo menos lhe dê esse tanto
de respeito: “Você também é um ser humano, tanto quanto eu; somos iguais”.
Dar-lhe a outra face significa que você reduziu a pessoa a um verme, o que é
realmente insultante. Isso pode ser interpretado dessa maneira.
Minhas afirmações não são nem arrogantes nem humildes, pois elas não podem
ser arrogantes nem humildes. Normalmente, você acha que a humildade é
oposta à arrogância. Ela não é; ambas são iguais. Elas são como quente e frio
— graus da mesma energia.
A pessoa humilde tem tanto ego quanto a arrogante. A arrogante reivindica o
ego, e a humilde nega o ego, mas o ego está presente. A arrogante diz: “Sou
especial”, e a humilde diz: “Sou ninguém, senhor — apenas a poeira sob seus
pés”. Uma está reivindicando, a outra também está reivindicando de uma
maneira diferente.
Quando você realmente percebe a sua natureza, o ego desaparece, e com ele
desaparecem a arrogância e a humildade — ambas desaparecem. Jesus e Buda
não são nem humildes nem arrogantes. Eles simplesmente afirmam o fato. Ora,
depende de como você o interpreta.
Você diz: Por que para mim suas afirmações parecem ser arrogantes?
Deve haver algo em você que está criando o problema, algo em você que está
resistindo, lutando. Olhe fundo dentro de você mesmo. E quando você perceber
o que está criando esta idéia ficará livre dela. Então as coisas serão muito
simples.
Similarmente há uma outra pergunta:
Por que você ataca Sivananda? Como você sabe que o seu método não
funciona? Que direito você tem de julgá-lo?
Chamar as coisas pelos seus nomes não é atacá-las. Não ataquei nenhum
Sivananda; simplesmente disse qual é o caso. Mas você deve ter algum apego
a ele, e o seu apego está se sentindo ofendido. Isso nada tem a ver com
Sivananda! Algo dentro de você está se sentindo ofendido. Investigue sua
própria ferida.
E você diz: Como você sabe que o seu método não funciona? Porque nenhum
método jamais funciona. Não é uma questão de seu método — mesmo meus
métodos... nenhum método jamais funciona! E eu disse que ele é uma pessoa
estúpida porque ele acredita que métodos funcionam.
Usamos métodos porque existem pessoas como você que necessitam de
métodos, que não podem prosseguir facilmente, simplesmente na realidade, que
podem seguir somente pela maneira difícil. Se você lhes disser para sentar em
silêncio, elas não podem compreender isso. Elas dizem: “Simplesmente sentar
em silêncio? Algo vai acontecer a partir disso?” Elas não podem sentar em
silêncio, e tudo acontece somente quando a pessoa se senta em silêncio.
Sentado em silêncio, sem nada fazer,
A primavera vem
E a grama cresce por si mesma.
Esta é a verdade suprema, mas você não pode deixá-la brotar. Você diz: “Não
posso simplesmente sentar e deixar a grama crescer — tenho que puxar a grama
para cima!” Assim, eu digo: “Tudo bem, então siga Sivananda, então faça alguma
coisa, pule, faça Kundalini. Se isso não parecer suficiente, então faça Dinâmica,
Caótica 2 ou, se você tem outros carmas para sofrer, vá para o Encounter. 3
2. Técnicas de meditação bastante ativas. (N. do T.)
3. Um dos grupos terapêuticos mais temidos no ashram de Osho, na década de 70. (N. do T.)
Esses métodos são usados aqui apenas devido à sua estupidez. Toda a função
deles é deixá-lo tão cansado de fazer, que um dia você vem a mim e diz: “Osho,
eu não poderia sentar em silêncio?” Isso é tudo. Fico mandando você a grupos,
meditações e torturas, e fico esperando... Algum dia você virá chorando, se
lamentando e se rastejando e dirá: “Chega! Eu não poderia sentar em silêncio?”
E eu direi: “Estive esperando por este momento”.
Sentado em silêncio, sem nada fazer,
A primavera vem
E a grama cresce por si mesma.
Nenhum método jamais ajuda. Como ele pode ajudar? Um método pode ajudar
a criar algo não-natural. A natureza não precisa ser criada — ela já está presente.
Ela precisa ser vivida, desfrutada, dançada, cantada. Ela já existe! Você não
precisa fazer coisa alguma. A grama já está crescendo, a primavera veio! Mas
você não pode sentar em silêncio. Você tem muita inquietação, e essa
inquietação necessita de métodos.
Dou-lhe métodos, não porque através deles você se tornará iluminado, mas
porque você virá a saber quão estúpido você é — e isso é uma grande
iluminação!
Ouvi sobre um político: ele foi a um Mestre, um Mestre sufi, e disse: “Você me
mandou meditar, orar, isso e aquilo, e eu faço essas coisas, mas nenhuma
revelação jamais aconteceu”.
O Mestre o fitou e disse: “Vá lá fora e fique na rua por dez minutos”. E estava
chovendo forte.
O político perguntou: “Ficar na rua enquanto está chovendo tanto?”
O Mestre respondeu: “Simplesmente vá e uma revelação surgirá”.
E o político pensou: “Se vai acontecer uma revelação, então vale a pena tentar.
Dez minutos na chuva não é um problema tão grande”.
Ele ficou lá, e parecia estúpido, pois as pessoas estavam passando e pensavam:
“O que nosso primeiro-ministro está fazendo?” Mas ele ficou com os olhos
fechados, e abrindo-os repetidamente para olhar o relógio — dez minutos era
um longo período, pois uma multidão se juntou e as pessoas começaram a rir.
Elas estavam perplexas: “O que aconteceu com o primeiro-ministro?”
E então ele correu para a casa e disse ao Mestre: “Não aconteceu nada! Você
me enganou!”
O Mestre disse: “Diga-me, como você se sentiu?”
Ele respondeu: “Senti-me como uma pessoa muito estúpida, absolutamente
estúpida!”
O Mestre disse: “Esta é uma grande revelação! O que você acha? No período
de apenas dez minutos saber que você é uma pessoa muito estúpida — você
não acha isso uma grande revelação?”
É isso o que acontece nas meditações, na ioga, nos grupos de terapia —
lentamente, este entendimento penetra em seu coração: “O que estou fazendo?
Gritando, berrando, brigando — o que estou fazendo?” Apenas essa revelação
e você pode perceber o ponto principal, e então você pode se sentar em silêncio.
E tudo o que você precisa já está disponível.
É por isso que eu disse que o método dele não funciona — não que o método
de uma outra pessoa funcione. Nenhum método jamais funciona.
E que direito você tem de julgá-lo?
Eu não o julguei, simplesmente disse o que ele é! De que julgamento você está
falando? Eu não o condenei. Chamar as coisas pelos seus nomes não é
condenar. Sou simplesmente factual.
Mas a pergunta é de Mark. Ele deve ser uma pessoa nova por aqui. Ele não pode
me entender, ainda não tem interação comigo. Ele deve ter se sentido ofendido,
e deve estar seguindo coisas como as de Sivananda, algo assim. Seu ego está
ferido, e em vez de dizer: “Meu ego está ferido”, ele mudou a questão. Isso é
uma camuflagem, e completamente sem significado. Se algo for acontecer entre
mim e Sivananda, esse é assunto meu — não fique preocupado. Se nos
encontrarmos alguma vez, então cabe a nós decidirmos se eu deveria tê-lo
julgado ou não, ou por que o chamei de estúpido. Ele pode me perguntar, mas
por que você deveria ficar preocupado?
Você deve ter algo mais dentro; isso é apenas uma racionalização. Você deve
estar utilizando esses tipos de método. Mas o ego é muito sutil, ele protege a si
mesmo. Você fez uma pergunta de tal forma que possa se ocultar, porém, você
não pode se ocultar de mim. Mark, marque isso, você não pode se ocultar de
mim! E, lembre-se, nunca erro o alvo. Você vai ser pego, agora você não pode
escapar, pois, se você esteve fazendo essas coisas, então quanto tempo vai
demorar para você se dar conta, para permitir que a revelação aconteça? E
deixei todos os tipos de método disponíveis aqui, todos os tipos de tolice que
você pode obter em qualquer lugar do mundo. Pessoas estão vindo até mesmo
da Califórnia — para cá!
A sexta pergunta:
Qual a diferença entre estar totalmente entregue e ser um robô sem
cérebro?
VADAN, UM ROBÔ SEM CÉREBRO NÃO PODE SE ENTREGAR, e aqueles
que acham muito difícil se entregar são robôs sem cérebro. Para se entregar são
necessárias grande compreensão e inteligência.
Você ficará admirada ao saber que, quanto mais estúpida uma pessoa for, menor
a possibilidade de entrega. Os idiotas não podem se entregar, embora aqueles
que não podem se entregar pensem que são muito inteligentes e que, por isso,
não se entregam. Mas você já ouviu falar de algum idiota se entregar? Os
imbecis e os retardados não podem se entregar.
É necessária a inteligência mais elevada para se entregar, para perceber o ponto
em que “Tenho corrido em círculos. Se eu continuar a depender de mim mesmo,
continuarei a correr repetidamente nos mesmos círculos”. A única possibilidade
de sair da roda é pegar a mão de alguém, de alguém que esteja fora do círculo
vicioso. Entregar-se é pegar este apoio.
Sempre se acreditou que a pessoa inteligente não pode se entregar, que é o
crédulo que se entrega. Isso não é verdade. Uma pesquisa moderna diz uma
outra coisa: somente alguém muito inteligente pode se entregar. O crédulo
acredita, mas não se entrega. O inteligente se entrega, e não acredita. E a
diferença é grande.
Pode-se acreditar sem se entregar; então a crença é apenas devoção da boca
para fora. Você diz sim na superfície e no fundo você continua a fazer o que
estava fazendo.
Estar entregue significa que você disse sim desde a periferia até o próprio
âmago. Você se tornou um sim desde o centro até a circunferência. Há apenas
uma qualidade de consciência: sim. E imediatamente, neste sim, você sai do
ego, pois o ego existe a partir do não, ele se alimenta do não. Quanto mais você
diz não, mais o ego é fortalecido. O não é o alimento para o ego, e o sim, o
alimento para a ausência do ego.
Esse é um fenômeno simples, mas somente pessoas muito inteligentes podem
compreendê-lo!
Você já observou? Sempre que você diz não, você sente muito claramente que
você existe. É por isso que as pessoas gostam de dizer não. Quando não há
necessidade, mesmo assim elas dizem não. A criança pede à mãe: “Posso sair
para brincar?”, e a mãe responde: “Não!” Ora, não há necessidade de dizer não,
e ela sabe perfeitamente bem que a criança também não vai dar ouvidos. E a
criança também sabe perfeitamente bem que, se tiver um acesso de raiva, a mãe
vai dizer sim; portanto, ela tem um acesso de raiva. Mas a mãe diz não, ela se
sente bem ao dizer isso. E então a criança começa a dizer não para a mãe, pois
é assim que ela cria o próprio ego.
É por isso que pais e filhos e professores e estudantes estão sempre em conflito.
Não é por acaso que universitários de todo o mundo estejam revoltados — o
conflito reside no fato de que o professor diz não e o estudante diz não; dois
nãos brigando. Cônjuges estão continuamente brigando — dois nãos brigando.
E cada um precisa dizer não. E o ego se sente muito ferido. Observe: sempre
que você precisa dizer sim, parece que você foi derrotado e o outro é o vencedor.
Então você tenta encontrar uma situação em que possa novamente dizer não,
permanecer com o seu não e forçar o sim sobre o outro.
É assim que o ego existe. O dia em que a criança aprende a dizer não é o
começo do ego. Antes disso havia a inocência primal; a criança confiava e não
tinha idéia de quem ela era. Havia completo silêncio, paz, alegria e celebração.
No dia em que ela diz não, algo se fecha; ela se torna defensiva, ela cria uma
armadura. E agora ela começa a dizer tantos nãos quanto possível.
Se os pais dizem: “Não fume”, ela fumará. Se eles disserem: “Não faça isso”, ela
terá que fazê-lo. A rebelião começou. Ela precisa se tornar um ego.
Entrega significa: você viveu através do ego e percebeu a futilidade disso, a
completa infelicidade disso, e sabe que não foi capaz de viver através dele. Ele
não permite que você viva, pois ele não lhe permite nenhuma expansão. Ele o
torna menor, menor e menor; ele o encarcera mais e mais fundo, coloca-o num
estado em que não há janelas, e toda a abertura desaparece. Você começa a
viver numa espécie de cova. Entregar-se significa perceber isso, e então
encontrar uma pessoa para quem seja fácil dizer sim, alguém que teve um
vislumbre da pessoa real e para quem o amor aconteceu, alguém que se tornou
amor.
Se você puder encontrar uma pessoa para quem possa dizer sim facilmente,
você encontrou o seu Mestre. Este é o critério para decidir se você deparou com
um Mestre: você pode dizer sim fácil, simples e inocentemente. A presença da
pessoa o faz querer dizer sim. O não se torna difícil e, mesmo que você queira
dizê-lo a partir do velho hábito e estrutura, você hesita, acha difícil dizê-lo. E o
sim vem fácil, como uma enchente. E surge uma grande alegria sempre que você
diz sim; e você sente grande infelicidade sempre que diz não, como se tivesse
prejudicado a você mesmo.
Sempre que você encontra uma pessoa com quem isso comece a acontecer,
você encontrou o Mestre. Então se esqueça de todo o mundo, do que eles dizem
sobre ele! Você encontrou o Mestre; ele pode não ser Mestre para os outros,
mas é para você. Desapareça nele.
Qual a diferença entre estar totalmente entregue e ser um robô sem
cérebro?
Um robô nunca pode se entregar, nem mesmo parcialmente. Somente uma
pessoa completamente inteligente pode se entregar. E, é claro, no começo é
parcial; lentamente a pessoa reúne mais e mais coragem. Quanto mais a pessoa
saboreia a alegria da entrega, mais ela se aventura e a investiga. E a pessoa de
total inteligência se entrega completamente.
Nessa entrega o ego desaparece. Não que nessa entrega você se torne um
escravo do Mestre — não há ninguém para torná-lo um escravo. Na verdade,
devido a não haver ninguém para torná-lo um escravo é que você se sente tão
bem ao dizer sim à pessoa. Se houvesse alguém para torná-lo um escravo, você
naturalmente acharia impossível dizer sim. O ego dele teria ofendido o seu.
Existe uma interação sutil entre egos.
Se a pessoa o ajudou a se entregar, isso simplesmente significa que não havia
alguém para ofendê-lo. Havia puro amor e ninguém tentando possuí-lo. Você
não estava sendo rebaixado. E quando você entrega o ego fica surpreso por não
haver alguém para tomar posse de você — o ego desapareceu. O Mestre e a
entrega eram apenas uma estratégia. Você atingiu a inocência primal, e agora
você pode se mover por conta própria.
Quando o Mestre percebe que você se entregou totalmente, ele o deixa
absolutamente livre e diz: “Agora não há necessidade, agora não se levanta a
questão da entrega”. Uma vez entregue, então não há necessidade de qualquer
entrega. A necessidade da entrega é devida ao ego, e uma vez que a doença
desapareceu o remédio precisa ser jogado fora. O próprio Mestre o tira.
A partir daí, você está livre do ego e livre da ausência do ego. É por isso que
Ikkyu chama de vazio real: você está vazio de tudo e também vazio do vazio. O
ego se foi e a ausência do ego também se foi. Agora não há ninguém... há
absoluto nada. E a pureza e a bênção disso são tais que, se você não as
saboreia nesta vida, as perde novamente.
A sétima pergunta:
Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel?
DEIXE QUE A OUTRA PARTE SE PREOCUPE. Por que você deveria ficar
preocupado? Mas minha impressão é de que você não formulou corretamente a
questão. Você deve estar preocupado com aqueles que precisam pagar o
aluguel para você — se eles desaparecerem.
Aconteceu: um homem foi ao psicanalista; estava muito preocupado e
enlouquecido de raiva. O psicanalista perguntou: “Qual é, de fato, o seu
problema?”
Ele respondeu: “Estou preocupado, pois preciso pagar uma dívida de dez mil
dólares e parece não haver como! E estou pensando em me suicidar, pois isso
está ficando pesado demais e não posso viver com este peso”.
E o psicanalista aconselhou: “Não se preocupe. Olhe para mim: Preciso pagar
mil dólares a um homem; simplesmente abandonei a idéia de pagar e toda a
preocupação desapareceu”.
E o homem disse: “Eu sei disso. Dê-me uma outra idéia”.
O psicanalista perguntou: “Como você sabe disso?”
Ele respondeu: “Sou a pessoa para quem você deveria pagar os mil dólares, e
isso também é parte da minha preocupação. Isso não ajudará! Dê-me alguma
outra idéia”.
Por que você está preocupado: Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel? O
aluguel é tão importante? Você está aqui somente para pagar o aluguel?
Eu ouvi:
Um escocês estava visitando Londres e se encontrou com uma garota de
programa em Soho; após ter desfrutado os deleites de seu corpo, deu-lhe cem
libras esterlinas.
“Tudo isso? É muita generosidade de sua parte!”, exclamou, surpresa, a garota.
“Nenhum homem jamais me deu tanto dinheiro. E pelo seu sotaque você deve
ser escocês, o que torna essa generosidade ainda mais incrível. De que parte
da Escócia você vem?”
“De Edimburgo”, respondeu o escocês.
“Que fantástico! Meu pai trabalha lá.”
“Eu sei”, disse o escocês. “Quando seu pai soube que eu estava indo para
Londres, ele me deu cem libras para lhe entregar.”
Você vem da Escócia? De que parte? Pensando em pagar o aluguel? Não há
ninguém para pagar o aluguel e ninguém a ser pago — também não existe
aluguel realmente, nem casa. É isso que Ikkyu diz — tudo é sonho.
Você já ouviu isto? Perguntaram a um louco: “Qual a diferença entre
psicanalistas, psicólogos e psiquiatras?”
O louco respondeu: “Os psicólogos constroem castelos no ar, os psicanalistas
moram neles e os psiquiatras recebem o aluguel”.
Do que você está falando? Esqueça-se de tudo isso! Desapareça!
E lembre-se: quando você desaparece como um ego, isso não significa
necessariamente que você desaparece do mundo — o mundo continua. Kabir
desapareceu como um ego, mas continuou a ser um tecelão, continuou a
trabalhar, mas agora isso não era mais sério, agora era apenas um sonho. Se
os outros estão desfrutando, por que perturbá-los? Você pode desaparecer e
ainda pagar o aluguel. Não se preocupe com isso, a menos que você não queira
pagar o aluguel e somente por isso queira desaparecer. Esse é um outro
assunto. Do contrário, qual é o problema? Você desaparece e ainda paga o
aluguel!
Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel?
Ontem você falou sobre o natural e o não-natural. Parece que o dinheiro
deve entrar na categoria do não-natural. Com o ego e a mente é
relativamente fácil lidar com ele, mas se formos viver no mercado e viver
naturalmente o dinheiro não se tornará um problema?
O dinheiro de modo algum é um problema, a menos que você queira que ele se
torne um problema. Através dos tempos, os pretensos religiosos estiveram muito
preocupados com o dinheiro. Uma coisa tão tola como o dinheiro, e tão
preocupados! Brinque com ele! Se você o tem, desfrute; se você não o tem,
desfrute. O que mais você pode fazer quando você não o tem? Desfrute! Quando
você o tem, o que mais você pode fazer? Desfrute! Não crie problemas
desnecessários a respeito dele. O dinheiro é um brinquedo. Algumas vezes você
o tem — brinque com ele.
Mas minha impressão é: as pessoas que não podem brincar com o dinheiro
renunciam a ele — elas o levam muito a sério. Então elas ficam com muito medo
dele, pois no fundo o apego está presente.
Você sabia que o discípulo chefe de Mahatma Gandhi, Vinoba Bhave, não pode
olhar para dinheiro? Ele fechará os olhos se você trouxer uma nota de uma rupia,
a qual não tem valor, a qual de modo algum é dinheiro. Ora, que tipo de atitude
é essa? E isso é considerado algo muito santificado, e é louvado por todo o país,
pois ele é muito liberal com dinheiro. Se você é realmente liberal com dinheiro,
por que fecha os olhos? Essa nota de uma rupia é tão atraente a ponto de você
precisar fechar os olhos? Há algum medo de que, se você não fechar os olhos,
você possa pular sobre a pessoa? Deve haver algo. Isso parece um pouco
obsessivo. Há um grande temor, do contrário, por que fechar os olhos? Tantas
coisas estão passando e você não os fecha — fecha apenas ao pobre dinheiro.
E dinheiro não é nada, apenas uma estratégia para trocar coisas. Porém, as
pessoas que no fundo são realmente mesquinhas e que se apegam, devido ao
seu apego e à sua mesquinhez ficam em grande desespero e infelicidade.
Finalmente, um dia elas acreditam que é o dinheiro que está causando sua
infelicidade; mas não é o dinheiro. Como ele pode causá-la? É a mesquinhez
que a está causando. Ao pensar que é o dinheiro, elas renunciam a ele, escapam
do mundo do dinheiro. Então elas ficam continuamente com medo; em seus
sonhos elas devem estar entrando cm bancos, achando tesouros e coisas assim
— e fazendo amor com o dinheiro. Isso fatalmente acontece.
O dinheiro não é um problema! Ele pode ser usado! Se você o tem, use-o; se
você não o tem, então use essa liberdade que vem quando você não o tem. Esta
é a minha abordagem: se você for rico, desfrute; a riqueza tem algumas coisas
que nenhum pobre pode desfrutar. Fui ambos, rico e pobre, e lhe digo
honestamente: existem coisas que somente ricos podem desfrutar. Desfrute
enquanto você é rico. E lhe digo novamente: fui ambos, rico e pobre, e existem
algumas coisas que somente os pobres podem desfrutar. E não há como
desfrutar ambas ao mesmo tempo.
Assim, sempre, seja lá o que estiver acontecendo, desfrute-o. Uma pessoa pobre
tem um tipo de liberdade. A pobreza tem um tipo de limpeza, de relaxamento, de
contentamento. A mente não está muito preocupada; não há nada com que se
preocupar. Pode-se dormir perfeitamente bem; a insônia é impossível para uma
pessoa pobre. Portanto, durma bem, ronque e desfrute a liberdade que vem com
a pobreza.
E se você for rico desfrute a riqueza, pois há certas coisas que somente uma
pessoa rica pode desfrutar. Você pode ter as pinturas mais notáveis em sua
parede; um pobre não pode tê-las. Você pode ter as melhores músicas em sua
casa; o pobre não pode ter isso. Você pode criar um jardim Zen em volta de sua
casa; o pobre não pode ter isso. Você pode ler poesias, pintar, tocar violão,
cantar, dançar, meditar— mil e uma coisas ficam disponíveis.
Minha abordagem é: seja qual for o caso, simplesmente perceba o que você
pode tirar disso. Se for pobreza, torne-se um Buda, comece a perambular por aí;
pegue uma cumbuca de mendigo e desfrute esta beleza que somente um
mendigo pode ter. Ele não pertence a lugar algum. Hoje ele está aqui, amanhã
se foi. Ele é um fluxo; ele não se apega a lugar algum, ele não tem um lar. Ele
não precisa se preocupar com o fato de a chuva estar vindo e o telhado precisar
ser reparado. Ele não precisa temer que alguém roube algo dele — ele nada
possui.
Desfrute a pobreza se você for pobre, e desfrute a riqueza — então se torne um
janaka, um imperador, e desfrute todas as belezas que se tornam disponíveis
através do dinheiro.
Minha abordagem é total. Não o ensino a escolher, mas simplesmente digo: seja
qual for o caso, a pessoa inteligente fará algo belo a partir disso. A pessoa não-
inteligente sofre. Se ela tem dinheiro, ela sofre, pois o dinheiro traz
preocupações; ela não desfruta a música, a dança, a pintura que o dinheiro pode
trazer. Se ela tem dinheiro, ela não vai ao Himalaia para descansar, meditar,
cantar, gritar nos vales e conversar com as estrelas. Ela se preocupa, perde o
sono e o apetite — ela escolhe o errado quando tem dinheiro. E se de algum
modo ela ficar pobre, pela graça de Deus, se ela ficar pobre, então ela sofre a
pobreza e fica continuamente preocupada por não ter isso e aquilo. Você tem a
pobreza! Desfrute-a!
Todavia, existem pessoas que estão erradas em qualquer situação: onde quer
que estejam, sempre encontrarão a parte negativa e sofrerão. E existem
pessoas, e as chamo de inteligentes, e gostaria que meu povo fosse de pessoas
inteligentes... onde quer que você esteja, tente desfrutar.
Aconteceu na minha juventude: uma vez meu pai estava com muita raiva de
mim, então ele me trancou no banheiro. Eu meditei! O que fazer...? Após três ou
quatro horas, ele ficou preocupado. Ele estava na sua loja, mas estava inquieto.
Ele ficou preocupado com o que poderia ter acontecido comigo, e nenhuma
mensagem veio de casa — minha mãe não mandou nenhuma mensagem e
nenhum empregado veio dizer o que tinha acontecido comigo. Teria eu
desaparecido? Ou o quê? Ou alguém abriu o banheiro? Assim, ele não podia
fazer o seu trabalho, e teve que ir para casa.
Ele se aproximou da porta e escutou, e havia silêncio. Ele bateu, e eu lhe disse:
“Não me atrapalhe”. Essa foi a última vez que ele me puniu daquela maneira.
Não fazia sentido! Ele disse: “Fiquei tão preocupado que não pude fazer o meu
trabalho na loja, e tive que vir”.
Eu disse: “Isso é tolice! Eu curti”.
Na minha escola, quando eu era pequeno e estava no segundo grau, meu
professor era muito rígido e costumava punir ao mandar: “Corra sete vezes em
volta da escola, corra!” E ele me deu essa punição — vá sete vezes —, e eu
perguntei: “Por que não dezessete vezes?” Ele respondeu: “Você é louco?” Eu
respondi: “Esse é um exercício tão bom, e gostaria de fazê-lo todas as manhãs”.
E comecei a fazê-lo todas as manhãs. Ele me via e batia em sua própria cabeça
— ele dizia que eu tinha destruído sua punição ao torná-la um exercício. Eu a
usei! Então ele parou de me punir.
Por que não usar a oportunidade, seja ela qual for? E se você estiver alerta
poderá encontrar oportunidades em todos os lugares; mesmo que você esteja
preso, poderá usar isso como uma grande oportunidade. E há pessoas que estão
sob o céu, livres, e não usam essa oportunidade.
Dinheiro ou não dinheiro, casa ou não casa... a questão não é o que você deveria
ter, mas o que você deveria fazer, seja lá o que você tenha.
Perceba, minha ênfase é totalmente diferente. Você desaparece... e então deixe
as coisas acontecerem. Se você se sente bem em ficar no mercado, então isso
é natural, pois existem comerciantes natos. Não pense que existem somente
poetas natos — isso está errado. Existem também comerciantes natos. Não
importa o que se faça deles, eles se tornarão comerciantes; onde eles estiverem,
eles abrirão uma loja. Eles não podem evitar isso.
Você não ouviu sobre o judeu?
Um grande barco foi atacado por um crocodilo, um enorme crocodilo, realmente
muito grande. E as pessoas começaram a jogar coisas em sua boca — cadeiras,
mesas, um saco de laranja e, finalmente, um judeu. Mas insistentemente o
crocodilo vinha atacar. Por fim, elas concluíram: “Isso não vai ajudar. Damos
coisas a ele e apenas por algum tempo ele se entretém, e novamente ele volta”.
Assim, todos juntos o atacaram e abriram a barriga do animal, e o que eles
viram? Você sabe? O judeu estava sentado na cadeira, com a mesa à sua frente,
tinha aberto o saco de laranja e as estava vendendo para as outras pessoas que
foram engolidas anteriormente pelo crocodilo.
Você não pode escapar... aonde você irá? Existem comerciantes natos.
Portanto, se você for um comerciante nato, mesmo quando você desaparecer
você estará no mercado. Contudo, haverá uma qualidade totalmente diferente
nisso — você desfrutará. Este é o mundo de Deus! Um belo sonho. Você saberá
que esses fregueses são fregueses do sonho, e as coisas que você está dando
a eles são apenas sonhos, e o dinheiro que você está recebendo é apenas sonho
— mas por que não desfrutá-lo? O desfrute não é sonho.
Deixe-me lembrá-lo novamente: tudo é sonho, mas, se você puder
conscientemente desfrutá-lo, essa satisfação não será sonho, mas o objetivo de
todas as religiões. E se tudo for sonho você pode desfrutar mais. Então não há
nada com que se preocupar. Se o sucesso vier, será bom; se o fracasso vier,
também será bom.
A última pergunta:
Sei que não sou meu corpo, mas ainda assim quero amar e ser amada. O
amor espiritual é possível neste mundo apodrecido?
ESTE MUNDO NÃO ESTÁ APODRECIDO. Este mundo está repleto de Deus,
ou, nas palavras de Buda, repleto de nada, o que dá no mesmo. Se alguma coisa
está apodrecida, é a sua mente. E, sim, é muito difícil encontrar amor com uma
mente apodrecida.
E nunca pense em termos de amor espiritual e material — amor é simplesmente
amor, ele não é nem material nem espiritual. Como o amor pode ser material ou
espiritual? Amor é simplesmente amor. Amor significa a alegria de compartilhar
sua vida com alguém. Sim, seu corpo e seu ser podem ser compartilhados, mas
compartilhar é amor, não o que você compartilha. Compartilhar é amor; assim,
todo amor é simplesmente amor.
Porém, posso perceber que o problema deve estar vindo de sua educação: Sei
que não sou meu corpo... Quem lhe disse isso? Você é mais seu corpo do que
sua mente. Você é mais seu corpo do que seu suposto eu. É isso o que Ikkyu
está dizendo: que o eu é uma entidade falsa, apodrecida. E a mente é apenas
um fenômeno condicionado pela sociedade. Seu corpo é mais verdadeiro do que
sua mente e seu eu; seu corpo pertence à existência.
Entretanto, você deve estar contaminada pelos sacerdotes, que dizem que você
não é corpo. Eles criaram uma dicotomia em todo mundo, que “Você é a alma,
e como uma alma pode se rebaixar tanto a ponto de amar um corpo?” E por aqui
você não encontrará fantasmas, mas pessoas que vivem em seus corpos, que
são seus corpos.
É por isso que você não pode encontrar alguém para amar e ser amada — você
está em busca de um fantasma. E se você realmente deparar com um fantasma
não acho que você gostará dele. Mas você está ansiando por isso. Foi-lhe dito
para condenar seu corpo, e se você condená-lo e não gostar dele você acha que
alguém vai gostar dele? Se mesmo você não gosta dele, quem vai gostar? Ao
gostar de seu corpo e amá-lo, você cria uma situação na qual uma outra pessoa
pode também amar o seu corpo. Mas você cria esse ambiente, esse clima.
Um homem ou uma mulher que odeia seu próprio corpo... e é assim que todos
vocês, no fundo, odeiam, pois desde o princípio lhes disseram para odiar o corpo
— o corpo é algo feio, não-espiritual. Foi-lhes ensinado que o corpo é o inimigo.
O corpo é o templo de Deus, e neste corpo vive aquele nada do qual Buda falou,
vive aquela semente da iluminação que eu insisto em falar. Este corpo contém
sua maior satisfação, contém Deus. Não o condene, do contrário será
impossível.
Você diz: Sei que não sou meu corpo, mas ainda assim quero amar e ser
amada.
Este desejo é natural! Amar e ser amada. Isso é parte da consciência humana,
uma parte intrínseca, embutida. A sociedade pode contaminar suas idéias a
respeito do corpo, mas não pode destruir seu desejo de amar e ser amada.
Assim, esse desejo continua. Mas agora ele se torna impossível, pois ele pode
ser preenchido somente através do corpo. Portanto, você está num dilema.
Ou abandone a idéia de amar... o que você nem ninguém podem fazer, pois
somos feitos da matéria chamada amor. É impossível abandoná-la. Deixe-me
lembrá-la novamente: um único vislumbre da pessoa real e você se enamora.
Mesmo no estágio final, o amor explode, o amor permanece; você realmente se
torna totalmente amorosa.
Portanto, você não pode abandonar isso. Este é o seu destino, o qual deve ser
cumprido. Porém, se você condenar seu corpo, ficará muito difícil. Você quer ir
à outra margem e condena a ponte e o barco. Ora, como você vai conseguir? A
ponte pode levá-la à outra margem, ou além dela. O barco pode levá-la além do
barco, mas somente o barco pode levá-la.
Ame seu corpo, aceite-se como seu corpo, receba-o com gratidão; ele é uma
dádiva. Do contrário, será impossível. E, mesmo que alguém se apaixone por
você — a pergunta é de uma mulher —, você não permitirá que ele a ame. Se
ele quiser segurar a sua mão, você vai se retrair. Você pensará: “Aqui está um
hedonista, um materialista. Ele quer segurar a minha mão! Ele deveria somente
segurar minha mão fantasma, espiritual, não minha mão real. Este é apenas o
corpo apodrecido”. E ele quer abraçá-la, e você escapará, pois essa é a mesma
sensualidade apodrecida. Você não permitirá que alguém a aborde.
E, naturalmente, quando alguém deseja ter comunhão com você, ele gostará de
segurar sua mão. Não que ele queira somente isso — é através da mão que algo
mais é contatado. Não é necessariamente assim que isso é contatado, mas
também não há outra maneira de contatá-lo. Quando ele segura sua mão, ele
está segurando algo de você — e não há como segurá-lo sem segurar sua mão.
Se ele a abraça, ele está abraçando sua alma, mas o corpo é a parte visível da
alma. É através do corpo que você se comunica.
Mesmo que o silêncio tenha que ser comunicado, palavras precisam ser usadas.
As palavras são o corpo do silêncio; o silêncio é a alma. Mesmo eu tenho que
usar palavras, Buda tem que usar palavras.
Abandone esse condicionamento e a idéia de que este mundo é apodrecido,
pois, se ele for apodrecido, então nada vai acontecer nele. Você já se tornou
preconceituosa.
Medite sobre esta anedota:
Cuthbert se casou com uma virgem muito refinada de uma origem impecável e
a levou a Túnis para a lua-de-mel.
Na primeira noite no hotel, Cuthbert rapidamente tirou as suas roupas e pulou na
cama e então observou sua esposa lentamente remover todas as suas
vestimentas.
Mas Cuthbert ficou surpreso quando ela subiu hesitante na cama,
completamente despida, exceto por suas luvas brancas.
“Por que você não tira as luvas?”, perguntou ele.
“Porque mamãe disse que eu poderia, na verdade, ter que tocar a coisa imunda”,
respondeu ela.
Ora, esse tipo de mente não vai saber o que é o amor. Esse tipo de mente está
fechado, absolutamente fechado. E esse tipo de mente existe mais ou menos
em todos. Abandone essa mente.
Tudo é bom e tudo é divino — o corpo, inclusive. Todo o corpo está incluído, e
jamais faça qualquer distinção entre o corpo inferior e o superior — não existe
nada inferior e nada superior. Todo o corpo é um só, ele é uma unidade. Aceite-
o, dê as boas-vindas a ele, e você começará a desabrochar e a irradiar amor. E
esse amor irradiante atrairá os outros para você.
Você não deve estar atraindo, você deve ter se tornado muito repulsiva. As idéias
de que este mundo é apodrecido, que “Não sou meu corpo”, que “Quero um tipo
espiritual de amor”, são todas idéias errôneas. Elas envenenarão todo o seu
corpo.
E sei que existe um amor que vai bem além das formas comuns, mas esse amor
não é contra as formas comuns — ele está baseado e enraizado nas formas
comuns. A árvore sobe muito alto no céu e começa a sussurrar com as estrelas,
mas ela permanece enraizada na terra. A árvore desabrocha em belas flores,
mas permanece enraizada na terra, na terra escura, com mil e uma raízes não-
visíveis.
Deus e o espírito estão enraizados na matéria. Nunca seja contra a matéria.
Quando você cria essa dicotomia — matéria e espírito —, permanece para
sempre esquizofrênica.
Conecte-se, aproxime-se! Torne-se uma só peça. E por se tornar uma só peça
a paz surge, o amor flui, a vida se torna uma fragrância.
2
Você Sente o Cheiro da
Montanha de Louros?
Meu lugar permanente
Não tem pilares;
Ele é descoberto —
Mesmo assim a chuva não o molha
Nem o vento o golpeia.
Quando ele sopra,
O vento da montanha é turbulento,
Mas quando ele não sopra,
Ele simplesmente não sopra.
Embora não haja ponte,
A nuvem sobe até o céu;
Ela não pede pela ajuda
Dos sutras de Gautama.
Pequenas ondulações aparecem
Na água não-acumulada
Do poço não-cavado,
Quando o homem sem forma e sem corpo
Tira água dele.
A mente:
Desde que realmente não há
Tal coisa como a mente,
Com que luz
Ela deveria ser iluminada?
Uma história:
MESTRE ZEN: “Tenho aqui um bastão, e ainda assim não tenho um bastão.
Como você explicaria isso?”
O noviço judeu: “Eu não explicaria!”
Mestre: “Ora, não seja impertinente! Essa é sua incumbência; se você realmente
quer atingir a iluminação como afirma, faça todo o esforço possível para
responder”.
Noviço: “Tudo bem, suponho que, visto de uma maneira, você tem um bastão;
visto de uma outra maneira, você não o tem”.
Mestre: “Não, de modo nenhum quero dizer isso! Quero dizer que, visto
exatamente da mesma maneira, tenho um bastão e não tenho um bastão. Agora
como você explica isso?”
Noviço: “Eu desisto!”
Mestre: “Mas você não deveria desistir! Você deveria forçar cada pedaço do seu
ser para desemaranhar isso”.
Noviço: “Não argumentarei com você sobre se deveria ou não desistir. O fato
existencial simplesmente é que eu desisto”.
Mestre: “Mas você não quer atingir a iluminação?”
Noviço: “Se atingir a iluminação significa considerar questões tão tolas e
malditas, então para o inferno com ela! Sinto muito desapontá-lo, mas adeus!”
Doze anos mais tarde:
Noviço: “Eu retorno a você, ó Mestre, num estado de absoluto arrependimento.
Por doze anos tenho perambulado e me sentido muito mal pela minha covardia
e impaciência. Agora me dou conta de que não posso continuar a fugir da vida.
Mais cedo ou mais tarde tenho que enfrentar os problemas supremos do
Universo. Assim, agora estou pronto para me revestir de coragem e tentar
trabalhar a sério sobre o problema que você me deu”.
Mestre: “Qual era o problema?”
Noviço: “Você disse que tinha um bastão e ainda assim não tinha um bastão.
Como explicar isso?”
Mestre: “Eu realmente disse isso? Que tolice a minha!”
O ZEN NÃO TEM ENSINAMENTO ou doutrina e não dá uma direção, pois ele
diz que não há objetivo e que não é para você se mover numa certa direção. Ele
diz que você já está lá; portanto, quanto mais você tentar chegar lá, menor será
a possibilidade de alcançar. Quanto mais você procurar, mais você perderá.
Procurar é a maneira certa de perder.
Entender isso simplesmente significa entender que a iluminação já está
disponível, já aconteceu, e que ela é a própria natureza da existência.
A iluminação não é um objetivo, mas a qualidade de estar aqui e agora. Como
isso pode ser um objetivo? Porque o objetivo jamais está aqui e agora — ele está
sempre lá e, então, em algum outro lugar. Ele é como o horizonte, está sempre
distante e ainda assim parece estar perto. E a pessoa sente que “Se eu viajar
um pouco, chegarei ao horizonte”. Porém, ela nunca chega, pois, quanto mais
ela vai em direção ao horizonte, mais ele se afasta, porque na verdade não há
nada, apenas ilusão.
A terra e o céu não estão se encontrando em lugar algum. Eles não podem se
encontrar, pois não são dois, mas um. A terra é apenas uma materialização do
espaço do céu, é uma onda no oceano do céu.
Como eles podem se encontrar? Para haver encontro, pelo menos dois são
necessários. E eles não são dois. O horizonte existe somente na mente do ser
humano; ele não tem verdade existencial em si. Mas você pode continuar a
procurar e a procurar, e quanto mais você sente que não o está atingindo mais
e mais ansioso você pode ficar para encontrá-lo. Você pode ficar louco à procura
dele.
O Zen diz: Não existe lugar para se ir; portanto, nenhuma orientação é
necessária. Então, qual é o propósito de um Mestre Zen? Seu propósito é trazê-
lo para o aqui e o agora, é bater tão duro em você que você acorda aqui e agora.
Você adormeceu e começou a viver em sonhos.
Outra história:
Estudante Zen: “Então, Mestre, a alma é ou não Imortal? Sobrevivemos à morte
de nosso corpo ou nos aniquilamos? Nós realmente reencarnamos? Nossa alma
se divide em partes componentes que se reciclam, ou entramos no corpo de um
organismo biológico como uma única unidade? E retemos ou não nossa
memória? Ou a doutrina da reencarnação é falsa? Talvez a noção da
sobrevivência cristã seja mais correta? Se for assim, temos ressurreição do
corpo ou nossa alma entra num reino puramente platônico e espiritual?”
Mestre: “Seu café da manhã está esfriando”.
Esta é a maneira do Zen: trazê-lo para o aqui e agora. O café da manhã é muito
mais importante do que qualquer paraíso, do que qualquer conceito de Deus, do
que qualquer teoria da reencarnação, da alma, do renascimento e de toda essa
tolice. Porque o café da manhã está aqui e agora.
Para o Zen, o imediato é o final, e o iminente é o transcendental. Este momento
é a eternidade... você precisa estar desperto para este momento.
Assim, o Zen não é um ensinamento, mas uma estratégia para perturbar sua
mente sonhadora e de alguma forma criar um tal estado que você fique
alarmado, que você tenha que se levantar e ver, uma estratégia para criar tal
tensão à sua volta a ponto de você não poder permanecer dormindo
confortavelmente.
E esta é a beleza do Zen e a revolução que ele traz ao mundo. Todas as outras
religiões são consolos; elas o ajudam a dormir melhor. O Zen tenta acordá-lo;
ele de modo nenhum tem consolos. E ele não fala sobre grandes coisas. Não
que essas grandes corsas não existam, mas falar delas não vai ajudar.
As pessoas têm uma idéia muito estúpida. Elas acham... um de nossos truques
favoritos é fingir que ao falar de um problema estamos fazendo alguma coisa a
respeito dele. É por isso que a psicanálise se tornou tão importante — e ela nada
mais é do que conversa. O paciente fica falando sobre seus problemas e acha
que por falar a respeito deles os está resolvendo.
As pessoas insistem em fazer perguntas e em obter respostas, e acham que por
fazer uma pergunta e obter uma resposta elas estão fazendo algo a respeito de
seus problemas reais. As respostas dadas por outros não vão ajudá-lo; elas
podem ajudá-lo somente como consolos.
Você pergunta a alguém: “Há sobrevivência após a morte?”, e ele responde:
“Sim”. E você está livre de um medo, o medo da morte. E você começa a pensar
que a alma é imortal.
Observe as pessoas que acreditam na imortalidade da alma; você descobrirá
que elas são as maiores covardes que existem. Aconteceu isto neste país:
através dos tempos, pelo menos por cinco mil anos, este país acredita na
imortalidade da alma, e por mil anos ele permaneceu na escravidão. As pessoas
se tornaram tão covardes que não podiam se rebelar contra isso. Nem uma única
revolução jamais aconteceu na Índia.
As pessoas que acreditam na imortalidade da alma deveriam ser absolutamente
corajosas; elas podem encarar a morte, pois não vão morrer. Mas o caso é
justamente o oposto. Na verdade, a crença delas na imortalidade da alma nada
mais é do que uma proteção, apenas uma armadura em volta da sua covardia.
Elas estão com medo da morte, daí acreditarem na idéia de que a alma é imortal.
Elas ficam se apegando à idéia — contra a morte. Elas não sabem.
Se você perguntar a um Mestre Zen: “A alma é imortal?”, ele não responderá,
pois ele sabe que é o seu medo que está pedindo pela resposta. Seu medo
deseja ser acalmado; você precisa de um alívio, de alguém autoritário que possa
dizer: “Sim, não tenha medo”. Você precisa de uma figura paterna.
Não é apenas coincidência os cristãos pensarem em Deus como o pai, ou o
sacerdote católico ser chamado de “padre”. Devido ao medo, as pessoas estão
procurando pelo pai. Elas precisam de pais aqui e de um grande Pai nos céus.
Essas pessoas são infantis, imaturas; elas não podem se sustentar sozinhas,
não podem viver suas vidas sozinhas. Elas precisam de alguém em quem se
apoiar.
O Zen não fala sobre Deus. Não que Deus não exista, mas ele não é um pai,
nem uma mãe. Não se pode conceber Deus em palavra alguma; todas as suas
palavras são irrelevantes. Deus somente pode ser experienciado em completo e
absoluto silêncio. Porém, não faz sentido falar sobre ele, pois quando isso ocorre
as pessoas começam a pensar que estão fazendo um grande trabalho. Então
elas lêem as escrituras e filosofam e ficam polindo seus conceitos e doutrinas, e
continuam a acreditar. E nada, jamais, muda em suas vidas. Suas crenças nunca
trazem nenhuma luz a suas vidas. Na verdade, suas crenças atrapalham a luz.
O Zen não é um sistema de crença, mas uma maneira de despertar, e o Mestre
Zen fatalmente é firme. Essa é a sua compaixão; ele precisa golpeá-lo, e ele fica
encontrando estratégias de como fazê-lo.
Escute esta história:
Um Mestre Zen estava venerando uma estátua de Buda e um monge se
aproximou e perguntou: “Por que você venera o Buda?”
“Eu gosto de venerá-lo.”
“Mas achei que você tinha dito que não se pode obter a iluminação por venerá-
lo.”
“Não o estou venerando para obter a iluminação.”
“Então por que você o está venerando? Você deve ter alguma razão!”
“Nenhuma razão absolutamente. Eu gosto de venerá-lo.”
“Mas você deve estar buscando algo; você deve ter algum fim em vista!”
“Eu não venero Buda por nenhum fim.”
“Então por que você o venera? Qual é o seu propósito em venerá-lo?”
Neste ponto, o Mestre simplesmente saltou e deu um bom tapa na face do
monge!
Isso parece muito selvagem e inesperado. E o monge não estava fazendo uma
pergunta irrelevante, mas uma simples pergunta humana motivada pela
curiosidade. Ele não deveria ser tratado desse modo; não havia necessidade de
bater nele. Nenhum sacerdote hindu ou católico faria isso; o propósito deles é
diferente, e somente um Mestre Zen pode bater em alguém. Seu propósito é
diferente.
Por que ele não bateu logo no início? Por que ele deu atenção a tantas perguntas
e depois deu o tapa? Ele criou a situação, a situação certa, o calor e mais e mais
curiosidade. Ele levou o monge a um estado a partir do qual o golpe poderia
simplesmente chocá-lo até um tipo de consciência.
Ele ajudou o monge a pensar mais e mais sobre o assunto, a provocar um clímax
de pensamentos, pois o golpe pode ser de alguma ajuda somente a partir do
clímax. Mas seu tapa no monge não é nem selvagem nem arrogante — ele não
vem a partir da raiva, lembre-se. Encontrei esta história num livro escrito por um
americano, que acha que o Mestre ficou com raiva devido à insistente indagação
do monge, e ele o golpeou em razão da raiva. Isso é estúpido. Assim todo o
sentido é perdido. Não foi devido à raiva! O Mestre não ficou ofendido com a
questão; ele estava curtindo-a e levando o monge a um estado mais e mais febril,
ao responder de tal forma que a pergunta não é respondida, mas intensificada.
Perceba a diferença.
Comumente se responde a uma pergunta de tal modo que ela se encerre. O
Mestre Zen está respondendo de tal modo que a pergunta se torne até mesmo
mais aguçada e penetrante. Ele está ajudando a questão a se erguer com
totalidade, está dando a idéia ao monge de que sua questão é muito importante
e que o Mestre é incapaz de respondê-la, está auxiliando o ego do monge a se
tornar um grande balão, e um pequeno furo... e o balão explode.
Ele não bateu devido à raiva, isso nada tem a ver com raiva. Ele não está com
raiva do monge nem incomodado com ele. Ele deve estar se sentindo
perfeitamente feliz com o monge por ele ter perguntado — ele está dando uma
chance ao Mestre. Mas essa é uma estratégia, ele não está respondendo.
Mesmo o tapa não é a resposta, lembre-se. Algumas pessoas começam a
pensar que o tapa era a resposta — essa também não é a resposta. O tapa é
apenas para dar um solavanco, para balançar as bases; assim, mesmo que por
um único momento você escape de seus pensamentos, você terá um vislumbre
da realidade. Então você se esquecerá de Deus, de Buda e de veneração... e
apenas perceberá que seu café da manhã está esfriando. Você virá para o aqui
e agora.
O ZEN É UMA ABORDAGEM EXISTENCIAL, e não uma abordagem filosófica
sobre a vida. E isso tem ajudado imensamente, isso tem levado muitas pessoas
ao despertar.
O Zen não acredita na análise de problemas, pois ele não acredita que algum
problema possa ser resolvido no seu próprio nível. Nenhum problema pode ser
resolvido a menos que sua consciência seja elevada um pouco acima do
problema. Isso precisa ser entendido, pois é algo fundamental.
Você me faz uma pergunta. Eu posso respondê-la, mas você permanece no
mesmo nível de consciência. Minha resposta não pode elevar sua consciência.
Você pergunta: “Deus existe?” Posso dizer Sim ou não, mas você permanece o
mesmo! Se eu disser sim ou não, isso não vai ajudá-lo de maneira alguma a se
tornar mais consciente, não vai lhe dar mais ser, e somente lhe dará mais
conhecimento disso ou daquilo.
Se você for ateu e perguntar: “Deus existe?”, e eu disser não, você se sentirá
muito feliz. Você dirá: “Então eu estava certo”. Ou, se eu disser sim, você dirá:
“Este homem está errado, ele não sabe de nada, ele é apenas um cego. Eu
argumentei e investiguei profundamente o assunto, e não posso encontrar
nenhuma prova de Deus”.
Se eu disser sim ou não, seja você uma ateísta ou um teísta, ou você acumulará
conhecimento, o receberá se ele se ajustar a você, ou o rejeitará se ele não se
ajustar a você. É isso o que você está fazendo continuamente em sua mente.
Mas sua consciência não é erguida, e a menos que isso aconteça nenhum
problema pode ser resolvido. Em primeiro lugar, o problema é criado devido à
sua consciência, e ele pode ser resolvido não por alguma resposta — ele pode
ser resolvido somente ajudando sua consciência a se elevar um pouco mais de
onde ela está.
Este é o trabalho do Zen. Ele não é uma transferência de conhecimento, mas de
consciência, de ser.
Ao dar um tapa no monge, o Mestre simplesmente o ajudou a se tornar um pouco
mais alerta. E, se o monge se torna um pouco mais alerta, esse tapa não é
somente um tapa, mas um salto do ser do Mestre para dentro do discípulo.
Contudo, para isso ocorrer, há necessidade de um grande amor pelo Mestre, do
contrário o tapa não será aproveitado. Há necessidade de grande confiança no
Mestre.
Isso acontece todos os dias.
Se eu dou um tapa em alguém, se eu digo algo duro, se eu golpeio o ego de
alguém, então, dentro de cem casos, noventa por cento das pessoas começam
a reagir antagonicamente. Elas perdem o ponto principal e perdem uma grande
oportunidade! Se algumas vezes eu o critico ou sou duro com você, isso é um
tapa em sua cara; tapas sutis.
Contudo, a humanidade não está mais interessada na verdade tanto quanto está
interessada em seu ego. Imediatamente você fica disposto a ir embora. “Este
homem não é para você.” Um único tapa e você se esquece de tudo sobre a
busca. Em vez de ficar consciente e alerta e de receber mais consciência e ser,
você simplesmente se fecha.
O Zen precisa de uma atmosfera particular, de um ambiente — um ambiente de
amor e confiança. É por isso que insisto em que, a menos que você seja um
sannyasin, meu trabalho não pode começar sobre você.
Certo dia, alguém escreveu uma carta, uma bela carta; ela deve ser de um
coração muito bom. Ele perguntou: “Não posso me relacionar com você sem me
tornar sannyasin? Não posso simplesmente ser um amigo? É uma necessidade
ser discípulo?” A pergunta é relevante. Você pode ser meu amigo, não há
problema nisso, mas você vai perder tão certamente quanto os inimigos. O amigo
vai perder tanto quanto o inimigo, pois, quando eu der um tapa em você, você
não será capaz de despertar. Você ficará com raiva, pois não se espera isso de
um amigo. Quando eu o golpear forte, você simplesmente ficará furioso; você
retaliará, argumentará, rebaterá e simplesmente dirá: “Então vou embora!”
Sannyas simplesmente significa que você está disposto a seguir comigo, mesmo
que eu bata em você, que eu o esmague e o aniquile. Você está disposto a ir
comigo seja lá para onde for. Sua confiança é maior em mim do que em você
mesmo. Então o trabalho começa.
“O trabalho” simplesmente significa que você se tornou disponível ao Mestre —
somente então você pode ser desperto, pois o despertar vai ser doloroso; ele
não vai ser muito doce, pois você dormiu por muito tempo e sonhou muitos
sonhos belos, e o despertar certamente vai destruir todos esses sonhos. Eles
são sonhos, mas até o momento você os considerou como realidades. E quando
alguém começa a tirá-los de você isso machuca. Você começa a sentir que “Não
estou obtendo nada; pelo contrário, estou perdendo tudo o que tinha antes”.
O Zen é um ambiente particular, um clima de confiança e amor, amor infinito
entre o Mestre e o discípulo, de tal modo que o discípulo fica disposto a ir a
qualquer extremo. Você ficará surpreso, pois algumas vezes os Mestres Zen são
realmente selvagens.
Aconteceu num ashram de um Mestre Zen: sempre que ele falava sobre a
verdade, ele costumava erguer um de seus dedos em direção ao céu. Esse era
seu gesto particular. Naturalmente, isso se tornou uma piada. Quem quisesse
imitar o Mestre erguia o dedo.
Um jovem discípulo tornou-se bastante habilidoso em repetir e imitar os gestos
do Mestre — sua face, a maneira que ele andava, falava, sentava. Ele era
apenas um menino. E em todos os lugares, sempre que havia alguma discussão
séria, ele erguia seu dedo em direção ao céu da mesma maneira que o Mestre.
Um dia, o garoto estava atrás do Mestre, que ergueu o dedo enquanto falava
com pessoas, e atrás o garoto também ergueu o dedo. E o Mestre o chamou...
pegou uma faca e cortou o dedo do garoto! Ora, você não pode considerar isso
como compaixão — simplesmente cortou o dedo. E o garoto gritou de dor, e o
Mestre disse: “Não perca a parte essencial! Agora levante o dedo”. Agora o dedo
se foi, não há nada para levantar, e o Mestre diz: “Agora levante o dedo, não
perca a parte essencial!” E o garoto, com lágrimas nos olhos, levantou seu dedo
cortado em direção ao céu... e naquele exato momento aconteceu o satori. O
garoto foi transformado.
Ora, na superfície isso é muito cruel e violento. Se você pode ver somente a
superfície, você para sempre será contra essas pessoas do Zen. Elas não
parecem santas. Não se sabe de santos fazendo tais coisas; eles conversam
com os peixes, com as árvores, e pássaros vêm e pousam em seus ombros.
Conhecemos tais santos, mas os que cortam o dedo sem nenhuma razão
especial, de um jovem tão simples que estava imitando o Mestre devido à sua
inocência? O Mestre está com raiva? Mas, se você olhar fundo, o menino foi
transformado.
Se você perceber a transformação, então perceberá que aquilo valeu a pena —
mesmo que o Mestre tivesse cortado a cabeça do garoto, teria valido a pena. Um
dedo não é nada. O garoto foi totalmente transformado.
Sobre este mesmo Mestre Zen, é dito que, quando ele ainda procurava e tinha
seu próprio Mestre, ele se tornou muito famoso, pois pássaros vinham e
pousavam em seus ombros e em sua cabeça. Uma vez, quando ele estava
meditando sob uma árvore, um pássaro fez um ninho em seu cabelo. Ele se
tornou famoso por todo o país, e as pessoas costumavam venerá-lo como a um
Buda.
Naturalmente, ele se tornou muito egoísta — um logro tão grande! Seu próprio
Mestre veio e ficou com muita raiva. Ele disse: “O que este pássaro está fazendo
em seu cabelo? Abandone toda essa estupidez!” Ele se ofendeu, mas
compreendeu, e desde aquele dia os pássaros pararam de vir a ele.
As pessoas vinham para ver, mas nenhum pássaro se aproximava, e elas
ficaram surpresas. Elas perguntaram ao Mestre: “O que aconteceu com seu
discípulo? Antes os pássaros costumavam vir e os animais costumavam sentar
ao lado dele, mas agora eles não vêm mais”.
O Mestre respondeu: “Agora ele desapareceu, ele não é mais especial. Ele
alcançou. Agora os pássaros não prestam nenhuma atenção a ele e os animais
simplesmente passam sem o notar. Ele não está ali! Antes ele costumava estar
ali, ele estava se tornando uma pessoa especial, estava alcançando um tipo
específico de ego. Agora, mesmo isso foi abandonado. Ele estava se tornando
iluminado, e agora mesmo a iluminação foi abandonada! Assim, os pássaros não
vêm mais a ele. Por que eles deveriam vir quando não há ninguém? E por que
os animais deveriam vir e se sentar ali? Eles podem se sentar em qualquer lugar,
dá tudo no mesmo. Não há mais ninguém”.
Perceba o ponto! O Zen tem uma abordagem em relação à vida totalmente
diferente. Agora o Mestre está feliz porque o discípulo desapareceu
completamente — pois a pessoa pode até mesmo ficar apegada à idéia de
iluminação. E você precisa ficar alerta em relação a isso.
Há alguns meses eu disse a Somendra: “Você teve um pequeno satori” — desde
então eu não o vi rir, desde então ele ficou muito sério. Ele se iluminou! Ele levou
isso a seu coração e se tornou especial. Ele não pode rir ou desfrutar — ele não
pode ser comum.
E agora, se esta idéia penetrar muito nele, ela se tornará uma crosta à sua volta.
Ele precisa abandoná-la, precisa novamente se tornar não-iluminado e esquecer
aquele satori. E não que não houve — houve —, mas muitos satoris acontecem
antes de o satori supremo ocorrer. E o satori supremo é o abandono de todos os
satoris, de todos os samadhis. A iluminação suprema é quando você se esquece
da própria idéia de iluminação. Então há inocência, há apenas a simples
natureza.
Fiz uma brincadeira com Somendra e ele foi pego nela.
ESTOU CRIANDO AQUI UM CLIMA DE TRABALHO — muitas coisas estão
acontecendo e muitas vão acontecer. E você precisa estar pronto, e a primeira
prontidão é: quando eu o golpear, o chocar — agora Somendra ficará chocado
—, utilize o choque para ficar um pouco mais alerta, mais consciente.
O Zen é uma estratégia, não uma análise da vida.
E, lembre-se sempre, o Universo é incognoscível, absolutamente, pois ele está
vivo. A análise mata. E lembre-se também: somente coisas mortas podem ser
conhecidas. A vida permanece desconhecida e incognoscível.
No momento em que você conhece, você mata algo. E as pessoas ficam
matando; elas matam o amor — uma vez que elas o analisam, ele está morto.
As pessoas são tão violentas que mesmo no amor a sua violência está
claramente presente, gritantemente presente.
Mandar flores é uma forma de sacrifício de vida para mostrar uma alta
consideração. Quando você manda uma bela rosa para sua namorada ou
namorado, o que você está dizendo? Isso não é compreendido. O que você está
dizendo quando você diz algo com uma flor? Você dá uma rosa à sua namorada
— o que você está dizendo? Você está dizendo: “Eu matarei por você, baby!
Estou disposto a matar, posso assassinar. Veja, matei esta rosa”.
Mesmo o seu amor nada mais é do que um jogo de poder. O poder sempre mata.
Bacon disse que o conhecimento é poder — deve ser, pois o conhecimento
também mata. Quando você pode matar algo, você sente grande poder.
Ouvi dizer que o passatempo favorito das pessoas à volta de Stálin era caçar.
Quando Brejnev levou Kissinger para uma caçada, ele mostrou o seu poder. Diz-
se que sempre que Tito desejava saber se ele ainda estava no controle ele
matava veados e ursos.
Sempre que as pessoas querem saber se são poderosas, elas matam. Adolf
Hitler precisou matar para mostrar o seu poder. E o ato de matar acontece em
muitos níveis. O conhecimento também é uma maneira sutil de matar algo.
As pessoas do Zen não estão interessadas no conhecimento, pois elas não estão
interessadas no poder. Elas estão interessadas na vida como ela é. Elas estão
interessadas no café da manhã, não em Deus, no céu, na alma, nas vidas
passadas e futuras. Simplesmente o café da manhã. Elas são inteiramente pelo
imediato.
Conhecemos somente aquilo que matamos. Portanto, nunca seja um buscador
de conhecimento, do contrário você se tornará um assassino, um matador. É
isso o que a ciência fica fazendo; em todos os laboratórios científicos nada mais
há do que assassinatos e assassinatos— eles mataram a natureza, e continuam
matando. Essa e uma bela estratégia para ocultar a violência.
Vá a um laboratório científico e veja quantas maneiras eles criaram para torturar
animais simples e inocentes — em nome de experimento, de investigação, da
verdade! Torturas inimagináveis. Mas quando é em benefício da verdade é
permitido — ninguém considera o cientista violento.
Ninguém considera o filósofo violento, mas ele também é violento. Ele fica
analisando tudo.
O Zen não está interessado em matar, nem mesmo em matar uma única palavra.
Ele não está interessado em saber, mas em ser. E estes sutras o ajudarão a
perceber isso.
Meu lugar permanente
Não tem pilares;
Ele é descoberto —
Mesmo assim a chuva não o molha
Nem o vento o golpeia.
Investigue cada palavra com profundo amor e simpatia. Primeiro:
Meu lugar permanente
Não tem pilares;
O INTERIOR NÃO TEM FRONTEIRAS, suportes ou pilares. Ele é espaço infinito,
espaço puro. Ele é não-coisa, e não há ninguém ali. Ele é completamente
silencioso; nem um único som jamais penetrou ali. Ninguém jamais caminhou
naquela praia de seu ser interior, nenhuma pegada está ali. Ele é uma terra
virgem.
Se você investigar esse espaço interior, você começará a desaparecer. Quanto
mais você olhar para dentro, mais você desaparecerá. É por isso que as pessoas
não querem olhar para dentro. Elas falam sobre autoconhecimento, sobre como
olhar para dentro, sobre técnicas, mas elas não olham. E não existe técnica.
Olhar para dentro é um fenômeno muito simples, tão simples como olhar para
fora. Você pode simplesmente fechar os olhos e olhar para dentro. Mas o medo
surge, grande medo surge ao olhar para dentro, pois aquele vazio o esmaga.
Você começa a desaparecer, a sentir como se fosse morrer. Você corre para
trás e começa a pensar em mil e uma coisas.
Você já observou isso? Sempre que você se senta em silêncio e olha para
dentro, a mente imediatamente cria muitos pensamentos. Por quê? Essa é sua
estratégia. É como o polvo: sempre que ele vê que algum inimigo está se
aproximando, ele libera uma tinta escura como uma nuvem à sua volta.
Imediatamente a nuvem de tinta o circunda e o inimigo não pode ver onde ele
está.
Quando você vai para dentro, imediatamente sua mente começa a secretar mil
e um pensamentos; imediatamente há uma grande corrida de energia para o
pensamento. Isso é exatamente como o polvo liberando tinta escura em volta de
si mesmo — cria uma nuvem, de tal modo que você não possa ver o nada mais
íntimo. Você não quer perceber. Perceber é cometer suicídio, suicídio como um
ego, como um eu.
Ikkyu diz:
Meu lugar permanente
Não tem pilares;
Ele é descoberto...
É exatamente como o vasto céu aberto... nenhum pilar, nenhum telhado. Ele é a
infinidade.
Mesmo assim a chuva não o molha
Nem o vento o golpeia.
Como a chuva pode molhá-lo se não há telhado nem pilar, nem mesmo chão?
Você acha que quando chove o céu fica molhado? O céu permanece como ele
é; as chuvas não podem molhá-lo. Você acha que quando há nuvens elas
provocam algum impacto no céu? Você acha que o céu fica contaminado e
poluído pelas nuvens? Você acha que ele fica escurecido? Você acha que
alguma marca é deixada no céu? Nada é deixado.
Como se pode tocar o puro nada? E da mesma maneira que há um céu externo
há um interno. E “externo” e “interno” são apenas palavras arbitrárias. No dia em
que você souber, tudo é um céu — externo e interno, tudo é um. A pessoa
precisa ser muito corajosa para investigá-lo, e uma vez que você tenha a
coragem de perceber a sua realidade todos os medos desaparecem, pois todos
eles são pelo ego, são devido ao ego. “Vou sobreviver ou não?” O medo é isso.
Mas, uma vez que você tenha visto o céu interno, o medo não pode permanecer.
Você não é, e daí? Você jamais foi e jamais será, nem nasceu nem morreu. E
aquilo que é, sempre esteve e sempre estará ali, mas você não é aquilo!
Isso aparece somente quando você não é, quando você desapareceu. Você é
apenas um sonho. O sonhador também é parte do sonho, e quando o sonho
desaparece o sonhador também desaparece. Ao viver neste espaço interior,
você não fica preocupado com a segurança. Então a insegurança é segurança.
É isso o que Alan Watts indica com a expressão “a sabedoria da insegurança”.
Há somente uma maneira de estar realmente seguro, e esta é: não tenha telhado
ou pilar. Mova-se para o céu aberto, e então se chover deixe que chova — você
não ficará molhado. Você será o céu, então como pode se molhar? Então, se a
morte vier, deixe que venha — você não estará morrendo, pois como você pode
morrer? Você nunca nasceu, você não existe como uma coisa, como uma
entidade.
Ao viver na insegurança, a pessoa está segura. Ao tentar ficar segura, a pessoa
permanece insegura. Esta é a lei do efeito inverso. Se você deseja algo, você o
perde — simplesmente porque você o deseja. Quanto mais você o deseja, mais
dificuldades você cria; e então há um círculo vicioso. Você quer ficar seguro,
você não quer morrer. Se você não quer morrer, você terá que morrer mil e uma
mortes; você terá que morrer todos os dias. Se você não quer morrer, então tudo
se tornará uma mensagem da morte, então você estará continuamente tremendo
de medo. Você verá a morte vir de todos os lugares.
E se você se esquecer completamente da morte e a aceitar então mesmo na
morte você não morrerá, mesmo na morte você será um observador. A morte
virá e partirá, e você a verá vindo e a verá passando, e você permanecerá, você
a enfrentará. Aquilo que permanece em você para sempre não é uma entidade,
mas uma consciência. Ela não é uma alma, ela é perceptividade, pura
perceptividade, a qual é parte da perceptividade universal.
Meu lugar permanente
Não tem pilares;
Ele é descoberto —
Mesmo assim a chuva não o molha
Nem o vento o golpeia.
Um Mestre Zen e seus discípulos estavam caminhando. Eles depararam com
um pequeno rio, precisando atravessá-lo. O rio não era muito fundo, era raso, e
eles começaram a passar por ele. O Mestre sempre dizia aos discípulos:
“Quando um iluminado atravessa um rio, seus pés nunca se molham”. Todos os
discípulos estavam esperando por uma oportunidade para constatar isso. Eles
ficaram perplexos, pois os pés do Mestre estavam molhados. Eles ficaram muito
confusos: “Nosso Mestre ainda não é iluminado?”
E no meio do rio o Mestre começou a dar uma sonora gargalhada, e eles
perguntaram: “O que está havendo?”
Ele respondeu: “Seus tolos! Eu disse que os pés de um iluminado nunca ficam
molhados, e meus pés não estão molhados; os pés que ficaram molhados não
são meus pés. Vocês não precisam ficar confusos, não precisam ficar tão
intrigados e perplexos. Esta água não está me tocando! Nada pode me tocar,
pois eu não sou. Esta água do rio não está tocando o céu, não está deixando o
céu molhado — como ela pode me deixar molhado? Eu sou parte do céu”.
Mesmo assim a chuva não o molha
Nem o vento o golpeia.
Portanto, quando você está em comunhão com um Mestre, lembre-se: você está
em comunhão com alguém que é ninguém, com algo que não é uma entidade,
mas somente uma presença. Comungar com um Mestre não é comungar com
uma pessoa, mas com uma presença. Uma pessoa ficará molhada; contudo, a
presença não pode ficar molhada. A presença permanece não-contaminada.
Esta presença é você. A pessoa precisa apenas encontrá-la — isso é tudo. Mas
você ficou tão envolvido com as idéias a respeito de você mesmo — que você é
um hindu, um muçulmano, um cristão, um homem, uma mulher, branco, preto,
isso e aquilo —, tão envolvido com identidades, que você nunca olhou para
dentro para ver que você é apenas um puro céu e nada mais. Nenhum hindu,
muçulmano, homem, mulher, preto ou branco existem aí. Essas são todas
identidades.
Pense naquele que está identificado com essas coisas, pense no céu interior.
Estas são todas nuvens — hindu, muçulmana, cristã, comunista, capitalista. Não
fique muito obcecado com as nuvens. Continue a se lembrar do céu.
Quando ele sopra,
O vento da montanha é turbulento,
Mas quando ele não sopra
Ele simplesmente não sopra.
UMA VEZ PERCEBIDO este nada interior, a pessoa se torna aquilo que é. Esta
expressão “aquilo que é” tem um valor infinito na experiência de Buda, no
caminho de Buda — tathata ou aquilo que é. Quando não há ninguém, então o
que acontece? Algumas coisas acontecem...
Primeira, se não houver alguém, não há alguém para controlar sua vida, para
manipular, para disciplinar. Todo controle, disciplina e manipulação
desaparecem. Liberdade é isso, moksha é isso, não algo distante nos céus, mas
algo no fundo de você, agora mesmo.
Quando você não existe, como você pode controlar sua vida? Todo controle
desaparece, e com ele desaparecem todos os tipos de tensões, nervosismos e
ansiedades. Você se torna um fluxo aberto, tão aberto que,
Quando ele sopra,
O vento da montanha é turbulento,
Mas quando ele não sopra
Ele simplesmente não sopra.
Então, tudo o que acontece, acontece. Uma pessoa Zen é totalmente diferente
de um iogue, e a distinção precisa ser compreendida.
O iogue está sob imenso controle. Toda a metodologia da Ioga é como se
controlar, como controlar absolutamente. A pessoa da Ioga não se perturba
porque ela está sob completo controle, e a Zen não se perturba porque não há
controle. Mas a diferença é imensa.
O iogue não está sob controle absoluto, ninguém pode estar. Existem
possibilidades em que ele perderá o seu controle. Precisa-se apenas
proporcionar essas oportunidades — ele perderá o controle, pois todo controle é
relativo e ele existe somente até certo ponto.
Observe o seu controle: se você deparar com uma nota de dez rupias, você pode
não roubá-la, mas se forem dez mil rupias? Então você se sente um pouco
inclinado. E um milhão de rupias? Então você começa a pensar, e a idéia parece
ser digna de consideração. Você começa a sonhar... um milhão de rupias? E
apenas por essa vez, e as pessoas estão cometendo tantos pecados, e você
fará um e apenas um. E então você pode doar a metade do dinheiro para a igreja
ou para o templo. E isso também não está tão errado, pois o dinheiro não
pertence a um mendigo, mas a alguém muito rico, e para ele não importa ter
menos ou mais que um milhão de rupias. E em primeiro lugar, ele explorou
pessoas para ter esse dinheiro. Agora você está juntando energia para fazê-lo!
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O Zen e a Busca Interior

  • 1. OSHO VÁ COM CALMA Discursos sobre Zen-Budismo – Volume 2 UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Capítulo 1 — Em Busca de um Fantasma Capítulo 2 — Você Sente o Cheiro da Montanha de Louros? Capítulo 3 — Somente o Ser Humano é Capaz de se Entediar Capítulo 4 — A Flor de Lótus da lei Capítulo 5 — Jubilosamente Além de Qualquer Experiência Capítulo 6 — Daruma, o Gato e a Concha Capítulo 7 — Eu Também Sou Encanador
  • 3. 1 Em Busca de um Fantasma Se eu me aproximar mais, posso ter que saltar... Não compreendo — lágrimas começam a brotar de meus olhos. Por que seus ensinamentos não são aceitos como religiosos pela sociedade? Por que para mim suas afirmações parecem ser arrogantes? Qual a diferença entre estar totalmente entregue e ser um robô sem cérebro? Se eu desaparecer; quem pagará o aluguel? O amor espiritual é possível neste mundo apodrecido? A primeira pergunta: Quando eu era mais jovem, costumava sentir uma certa atração por janelas abertas em edifícios altos. Muitas das pessoas com quem trabalho hoje também sentem isso. A sensação é: “Se eu me aproximar mais, posso ter que saltar”. Minha experiência é que isso não tem relação com suicídio. O que é isso? Você pode falar mais a esse respeito?
  • 4. SIM, DEVABHAKTA, POSSO FALAR MAIS a esse respeito, pois percebo este mesmo temor em você quando você se aproxima de mim. Você mantém uma certa distância, você está com medo. O medo nada tem a ver com suicídio, ou tem num sentido muito diferente, num sentido espiritual. Você não está com medo da morte comum, mas da que as pessoas do Zen chamam de “a grande morte”. Você está com medo de desaparecer, de se dissolver, de perder o domínio sobre você mesmo. E, de uma maneira ou de outra, todos estão com esse medo. É por isso que sempre vivemos sob controle. O controle não é somente imposto pela sociedade; mesmo que a sociedade remova todo o controle, as pessoas continuarão a viver sob controle; elas criarão seus próprios controles, suas próprias disciplinas. Mesmo que a sociedade decida tornar todos absolutamente livres, as pessoas não serão livres, não aceitarão a liberdade. Elas criarão suas próprias escravidões, aprisionamentos e correntes. Elas se tornarão suas próprias carcereiras. A liberdade é amedrontadora, pois ela simplesmente significa que você não estará presente. Não é que você vai ser livre; você vai ser livre de você mesmo. Você é a escravidão — quando ela desaparece, você desaparece. E algumas vezes esse medo pode se aproximar de você quando você estiver perto de uma janela num edifício alto ou perto de um abismo, nas montanhas. Essa sensação pode tomar posse de você, essa situação física pode se tornar um desencadeante dentro de sua psique. Ela pode lhe dar a idéia de que é possível desaparecer. E, lembre-se, há ambos, o medo e a atração — é sempre assim. Sempre que você se sentir atraído por algo, também terá medo dele. É por isso que o homem se sente atraído pelas mulheres e tem medo delas. É por isso que digo que seus pretensos santos, os quais ainda estão com medo das mulheres, estão apaixonados por elas. Certamente, eles estão — eles estão obcecados, pois medo e amor andam juntos. Eles podem ter se mudado para as cavernas do Himalaia; sentados em suas cavernas, eles podem não estar pensando que estão de alguma maneira interessados nas mulheres, mas eles estão amedrontados. Se houver o rumor de que uma bela mulher está vindo à montanha para fazer uma visita, algo irá se mover dentro deles. O medo estará presente! Mas medo revela atração, revela que você ainda está envolvido. As escrituras que falam contra as mulheres foram escritas por pessoas que estavam obcecadas por elas. Essas pessoas podem ter renunciado, mas não mudaram; elas são as mesmas pessoas. Um dia, elas estavam correndo atrás das mulheres, e, num outro, elas começaram a fugir delas, mas o jogo é o
  • 5. mesmo, jogado de uma maneira diferente. A mulher continua a ser a atração e o medo dessas pessoas. E esse é o caso quando você se sente atraída por um homem. Quando uma mulher se sente atraída por um homem, há medo. Todo amor cria medo, imediatamente. Portanto, ambos andam juntos. Você fica atraído por janelas abertas porque há grande atração por estar livre desta gaiola que se tornou a sua vida. Mas esta é a única vida que você conhece, então vem o medo — quem sabe? Há uma outra vida ou não? Você pode simplesmente desaparecer como você é e não aparecer num outro plano, numa outra existência — e então? Ao fazer amor com uma mulher ou com um homem, o mesmo temor se apossa de você. É por isso que o orgasmo é tão impossível, tão difícil. E não pense que somente as mulheres acham difícil ter orgasmo — é exatamente tão difícil para os homens quanto para as mulheres. Quanto ao homem, uma única coisa o ajuda a fingir: sua ejaculação — ele acha que atingiu o orgasmo porque pode ver algo visível acontecendo. A mulher não tem ejaculação visível, então ela fica preocupada e intrigada se atingiu ou não o orgasmo. Ejaculação não é orgasmo. Orgasmo significa que você usa o ser do outro como uma janela e você salta para o desconhecido, e o outro usa sua janela e salta para o desconhecido... então há orgasmo. Quando você desaparece, o orgasmo acontece. O orgasmo é um estado de imensa expansão. Trata-se de expansão da consciência, de um estado sem fronteiras. Você se torna um com o céu, e não é mais minúsculo, não está mais dentro de limites. Você não é mais! Pois, enquanto você for, existem limitações, fronteiras, definições. Quando todas as definições forem quebradas e você estiver simplesmente ali, indefinível, inexprimível, algo da grandeza de Deus aconteceu a você... por um momento você se dissolveu e veio a saber, provou o sabor... O mesmo acontece com um discípulo que vai a um Mestre — o medo. Por isso, através dos tempos muito se falou sobre a confiança. O que é a confiança? Confiança significa simplesmente a coragem de dar o salto. É arriscado, é um jogo, pois pode não haver segurança. Que segurança há em estar comigo? Que segurança há em se entregar a mim? Eu não lhe garanto coisa alguma! Não posso dizer o que vai acontecer, pois isso não pode ser dito. Você precisa se mover na escuridão, e com enorme confiança — somente então você pode se mover. Você gostaria de alguma prova objetiva de Deus. É por isso que as pessoas perguntam sobre provas de Deus. Você gostaria de alguma prova objetiva do samadhi, do estado búdico, gostaria de algo tangível que você pudesse tocar,
  • 6. ver, segurar em suas mãos, sentir e julgar. Então a confiança será fácil, porém ela não será necessária. Você não confia no Sol, na Lua — eles estão simplesmente ali. Ninguém pede alguma prova do Sol ou da Lua. Eles estão simplesmente ali, são fatos, e a confiança não é necessária. É por isso que na ciência a confiança não é necessária, pois a ciência procura fatos. Na religião, a confiança é necessária, pois ela o torna disponível ao supremo e torna a verdade disponível a você. A confiança é a porta, uma janela para a verdade. Mas será preciso coragem. Devabhakta, este medo, esta atração pelas janelas que você também tinha revelavam uma coisa: que desde sua infância você esteve buscando. Talvez a busca foi trazida, através dos tempos, de outras vidas — essa é a minha impressão sobre você. Você esteve tateando e buscando, continuamente buscando. Daí o medo e a atração. Atração porque a busca existe, e medo por quê? Quem sabe? Se você chegar muito perto da janela, num repentino momento de loucura você poderá ficar tão excitado, tão possuído pela idéia, que poderá saltar. E então? Então é melhor não se aproximar muito. E tenho observado isso em você quando você vem a mim. Mesmo na Alemanha você não usava o laranja e o mala 1 — Isso também é parte desse medo. Você não quer se envolver muito comigo e quer manter uma distância segura. Quando você está aqui, você permite um pouco de proximidade, mas quando se afasta começa a me evitar. E tentei me contatar com você, mas você não estava disponível. Posso contatá-lo somente se você permanecer envolvido comigo. Eu queria ajudá-lo, mas você estava desconectado. 1. Na época deste discurso, os sannyasins de Osho, ou discípulos, usavam roupas de cor alaranjada e um tipo de colar chamado mala. (N. do T.) Se alguém está tentando me ludibriar, ele está realmente ludibriando a si mesmo. Eu sigo tentando contatar meu povo, e posso contatar somente aqueles que estão realmente comigo — em qualquer ocasião, na alegria e na infelicidade, no êxtase e na agonia, na vida e na morte. Posso contatar somente essas pessoas. Portanto, torne-se agora um pouco mais alerta; isso é possível. Também sou uma janela; não há necessidade de ficar com medo — o medo é natural, mesmo assim não há necessidade de ter medo. Apesar do medo, aproxime-se de mim. Acontecerá um tipo de suicídio: o ego cometerá suicídio. Sannyas é isso. A atração existe; desse modo você se tornou um sannyasin; e o medo existe, por isso você ainda está tentando me evitar. Hesitantemente você dá um passo em minha direção e um passo para longe de mim. Essa hesitação pode destruir
  • 7. essa oportunidade. Saltar de uma janela de um edifício não vai ajudar, mas agora a janela pela qual você esteve ansiando está disponível, e você pode saltar, pode morrer e renascer. A segunda pergunta: Não entendo o que você diz, Osho, mas, enquanto estou sentado sozinho ou nos discursos, algo me acontece e lágrimas começam a brotar de meus olhos. O que é isso tudo, meu Mestre? VOCÊ COMEÇOU A ME ESCUTAR, Shivananda, esta é a maneira de me escutar — através das lágrimas. Esta é a maneira de me escutar — através do amor, do coração. Pulse comigo, deixe minhas palavras se afogarem em suas lágrimas. Você não ficará em falta, pois o que estou dizendo não é importante. Muito mais importante é uma outra energia que circunda essas palavras que o alcançam. Não preste muita atenção às palavras. Se o seu coração estiver aberto, a energia será liberada nele. Minhas palavras são apenas carregadoras, recipientes. O conteúdo é completamente diferente, é diametralmente oposto. O recipiente é a palavra, mas o conteúdo é um silêncio sem palavras, é o meu amor. A palavra é apenas uma cápsula, e a cápsula não é o remédio; o remédio está dentro dela. Esqueça-se da cápsula. Beba-me — e a melhor maneira de beber é estar com lágrimas, pois então você participa e chega muito, muito perto. Essas lágrimas são indicativas de que o seu coração começa a pulsar comigo, de que há momentos em que você começa a respirar em sintonia comigo — então, de repente, essas lágrimas surgirão. Elas são simbólicas, são como flores. Rejubile-se! A terceira pergunta: Por que seus ensinamentos não são aceitos pela sociedade como religião ou como religiosos? ELES NÃO SÃO RELIGIOSOS OU RELIGIÃO no senso comum do termo. Eles são muito mais... muito mais profundos e elevados. A sociedade não tem visão; ela é constituída de pessoas cegas. Isso sempre aconteceu. Quando Buda surgiu, elas não acreditaram que seu ensinamento fosse religioso; quando Jesus surgiu, elas o crucificaram; quando Mansoor declarou “Eu sou Deus”, elas o assassinaram. Os muçulmanos consideraram Mansoor como uma das pessoas mais irreligiosas que jamais pisou na terra — declarar-se Deus? Isso é kufr, é irreligião, é anti-religião.
  • 8. Sempre que algo da pura verdade é expresso, cantado, a sociedade começa a ficar pouco à vontade a esse respeito. Isso é natural, pois a sociedade tem um tipo de religião muito falso — confortável, conveniente e consolador. Ela tem falsos templos em que adorar, falsos deuses para adorar, falsos sacerdotes para seguir. E isso é muito conveniente, pois eles não perturbam a sua vida. Você pode permanecer cristão; na verdade, ela nunca perturba a sua vida; pelo contrário, ela ajuda a sua vida. A chamada sociedade, as chamadas regras da sociedade, as moralidades — você se ajusta melhor se for cristão. Mas seguir Cristo é perigoso. Nenhum cristão jamais segue Cristo — ele não pode seguir. Em realidade, ser cristão é uma maneira de evitar Cristo, e ser budista é uma maneira de evitar Buda. Se você realmente ama Buda, então você gostaria de ser um Buda e não um budista. Por que alguém deveria querer ser cristão? Ou seja Cristo ou se esqueça de tudo a respeito dele! Mas Cristo é perigoso. Ele não foi morto por pessoas imorais ou más, porém por pessoas boas e respeitáveis. Lembre-se sempre disso. Buda não foi atacado por criminosos, mas por aqueles que você jamais poderia considerar criminosos — pessoas boas, morais e puritanas. Por que isso acontece? Jesus é assassinado por rabinos, por pessoas religiosas, eruditos, sacerdotes... boas de todas as maneiras. Suas vidas são completamente limpas; elas são pessoas de caráter. E ele era adorado por pessoas sem caráter — uma Madalena. Há alguns dias, uma jovem veio da Suíça; seu nome é Madalena. Eu não mudei o seu nome — ela recebeu sannyas. Adoro esse nome, Madalena. Uma prostituta seguiu Jesus, e os rabinos o assassinaram! Ladrões, bêbados e jogadores seguiram Jesus, e rabinos o assassinaram. Todos os pretensos santos estavam contra ele, e os supostos pecadores estavam a seu favor — que tipo de mundo é este? Que paradoxo é este? Por que isso tem sempre acontecido? Há uma certa razão. Sempre que surge sobre a terra uma nova religião, uma nova direção, um novo vislumbre de Deus, sempre que uma nova janela ou porta se abre para Deus, primeiro elas são aceitas por aqueles que não são muito respeitáveis. Por quê? Porque eles nada têm a perder; eles podem aceitar. Eles podem até mesmo aceitar a verdade — eles nada têm a perder. O que Madalena tinha a perder? Todavia, o rabino chefe tinha muito a perder. Ele tinha um investimento na velha religião, a religião enferrujada, a qual estava morta, e por muito tempo; ela estava cheirando mal, era apenas um cadáver — mas ele tinha um investimento nela. Ele era o seu sacerdote chefe! Se ele seguisse Jesus, ele não seria mais o sacerdote chefe, e todas as prerrogativas de ser um sacerdote chefe estariam perdidas. Ele tinha a casa mais bonita, o melhor salário, era a pessoa mais
  • 9. respeitada — por que ele deveria seguir esse vagabundo, Jesus? Isso seria simplesmente uma perda para ele. Madalena podia seguir Jesus; ela nada tinha a perder, porém a ganhar. Um jogador ou um bêbado nada têm a perder, mas a ganhar. Todas as grandes religiões começaram com pessoas rebeldes, com pessoas jovens, pois os velhos têm investimentos. Por toda a vida eles oraram e veneraram, agora, de repente, eles não podem interromper isso. Se eles interromperem, significa que toda a vida deles esteve errada, e aceitar isso vai contra a fibra, contra o ego. Portanto, somente poucas e raras pessoas velhas podem seguir um Jesus ou um Buda — aqueles que são tão corajosos a ponto de poder perceber a questão e dizer: “Tudo bem, então isso estava errado e eu o abandono. Toda a minha vida estava errada e eu começo mais uma vez”. É bastante difícil começar de novo na idade avançada, pois à frente há apenas a morte e nenhum tempo de sobra — e você está começando algo novo? Grande confiança é necessária, grande confiança em Deus e na vida, e um espírito aventureiro. Todas as grandes religiões começam com pessoas aventureiras, jovens, tiranizadas, oprimidas, criminosas e pecadoras. E todas as religiões morrem quando elas se tornam respeitáveis e chegam os santos e as igrejas evoluem — elas morrem. Uma nova flor está se abrindo aqui. Todos os pretensos religiosos estarão contra ela — eles estão contra, têm que estar. Todos os seus investimentos, privilégios e consolos... como eles podem arriscar tanto? Eles se apegarão e lutarão contra mim — eles estão lutando contra mim, estão criando todos os tipos de problema para mim. É possível que você não esteja ciente, pois nunca falo sobre isso; para quê? Nunca nada sobre isso, e pode ser que você não esteja de modo algum ciente dos tipos de problema que estão continuamente sendo criados. Por um ano tento encontrar um lugar para me mudar, mas eles ficam criando problemas, legais e outros. E os políticos estão com eles, e os sacerdotes estão presentes, e todas as pessoas respeitáveis estão com eles. E eles têm poder e podem criar mil e um problemas. Eles não querem que a comuna se estabeleça, pois estão com muito medo: quando a comuna existir e o trabalho realmente começar — pois isto é apenas uma introdução —, quando o trabalho real começar, então virão de todas as partes do mundo todos aqueles que são corajosos. Milhares e milhares de pessoas virão e serão transformadas. Preciso apenas de uma certa situação, de um Campo de Budas. Assim, de todas as maneiras eles estão criando todo tipo de problema. E quanto mais meu trabalho se difundir mais problemas virão, pois mais eles ficarão apreensivos e temerosos. Você me pergunta: Por que seus ensinamentos não são aceitos como religião ou como religiosos?
  • 10. Como eles podem ser aceitos como religião e religiosos? Trata-se de pura religião, e é por isso que ela não pode ser aceita como religiosa. Eu não sou hindu; do contrário, eles estariam muito felizes. Eles teriam amado todos vocês se eu fosse hindu, e teriam dito: “Vejam! Nossa religião é tão fantástica que muitas pessoas de todo o mundo e de todas as raças estão sendo convertidas ao hinduísmo”. Eles teriam venerado vocês e os convidado a ficar em suas casas. Eles teriam se gabado disso em seus jornais, revistas, livros, estações de rádio, TV. Teriam se gabado: “Olhem! Vejam a beleza e a grandeza do hinduísmo; tantas pessoas estão sendo convertidas a ele!” Mas não sou hindu. Eles precisam reprimir tudo o que está acontecendo aqui; isso não deveria chegar a ninguém, ninguém deveria ouvir a respeito do que está acontecendo aqui. Ou, se alguém ouvir, então alguma falsa informação deve ser dada, de tal modo que ninguém fique interessado em vir aqui. Não sou muçulmano, jainista, cristão ou budista; portanto, naturalmente todas essas pessoas estão contra mim. Todas elas estão unidas pelo menos numa coisa: estão contra mim. Sobre isso elas não têm diferenças. O hindu e o muçulmano, o cristão e o jainista, todos eles estão juntos numa coisa, pelo menos em algo eles concordam, pelo menos proporcionei algo para que concordassem: que esse homem está errado. O que estou dizendo é rebelião, e irá destruir a própria base deles. Por isso eles não podem aceitá-lo como religião. Eles negarão, brigarão e tentarão esmagar este botão que está se abrindo. Eles estarão contra vocês e vocês terão que enfrentar mil e uma dificuldades. Este é o risco que vocês correm por estarem comigo, e também o desafio. E este desafio se tornará uma bênção para vocês. Aqueles que serão capazes de aceitar o desafio e ficar comigo, e que estarão tão enamorados a ponto de poder sofrer por mim, esses crescerão até alturas infinitas e conhecerão algo que não é comumente conhecido pelos seres humanos. Isso não está disponível nas igrejas e nos templos, e se torna disponível somente quando um Mestre vive e quando um discípulo se permite estar tão aberto ao Mestre que o Mestre começa a viver também no discípulo. E quando esta transferência de energia acontece... Eles acham que sabem o que é religião; eles têm certas definições, e eu não me ajusto a nenhuma delas. Naturalmente, como eles podem chamá-la de religião? E perceba, então isso ficará claro para você: o cristianismo não pode acreditar que o budismo é uma religião, pois eles têm uma definição e o budismo não se ajusta a ela. Como pode haver uma religião sem Deus? Portanto, os cristãos não podem chamar o budismo de religião. No máximo, eles podem aceitá-lo como moralidade, mas não como religião. Como pode haver uma religião sem Deus? E pergunte ao budista: “O cristianismo é uma religião?”, e ele dirá: “Não, como
  • 11. pode haver uma religião quando as pessoas são tão estúpidas a ponto de acreditar em Deus? Eles não sabem de nada. Como uma pessoa religiosa pode acreditar em Deus?” O budismo tem a sua definição. Acreditar em Deus significa ser uma pessoa iludida, com alucinação, uma pessoa patológica que precisa de tratamento psiquiátrico. Pergunte aos jainistas e eles não concordarão que o cristianismo e o budismo são religiões. E pergunte aos muçulmanos... ninguém concordará que a outra religião é uma religião. Qual é o problema? Eles têm uma certa definição, uma idéia fixa. Se algo se ajusta a essa idéia, ele é religião; se não se ajusta, não é religião. Portanto, sempre que um novo insight surge... e novos insights surgem continuamente. Eles precisam surgir, pois velhos insights lentamente se tornam tão enferrujados, empoeirados e cobertos com tantas interpretações e jargões que perdem a vivacidade. Novos insights precisam continuar a surgir. Quando surge um novo insight, certamente ele não se ajusta com qualquer definição disponível — então ele não pode ser chamado de religião. Cada nova religião precisa criar a si mesma e a sua definição. Lembre-se disso. Quando meu povo se espalhar por todo o mundo, e temos milhões de pessoas, então ela será uma religião, pois teremos criado nossa definição do que é religião. A definição vem mais tarde. Primeiro a religião precisa vir e penetrar nos corações das pessoas, depois lentamente surge a definição, a qual não está pronta de antemão. Cada Buda precisa criar sua religião, a definição, os seguidores e o campo, e isso sempre tem que ser iniciado a partir do bê-á-bá, do zero. Nenhum velho templo pode ser usado para isso — o novo templo precisa ser erguido. E não somente isso, mas o velho templo precisa ser eliminado, destruído, pois somente quando o velho templo não for mais um templo aos olhos das pessoas é que elas começarão a procurar e a tatear novamente pelo novo. Assim, é muito natural que minha abordagem não seja considerada como religião ou religiosa. Depende de você: se você começar a viver o que estou dizendo, você estará criando a definição. Depende de você, exclusivamente de você! O que estou dizendo é que, se você se tornar uno com ele e começar a vivê-lo em sua totalidade, mais cedo ou mais tarde a definição seguirá. Mas quem se importa com ela? Viva o que estou dizendo! Não se preocupe com o que as pessoas pensam a esse respeito. A quarta pergunta: Por que para mim suas afirmações parecem ser arrogantes?
  • 12. TEM SIDO SEMPRE ASSIM E SEMPRE SERÁ ASSIM. Quando Jesus disse: “Eu e meu pai somos um”, você acha que as pessoas o consideraram muito humilde? Quando Jesus disse: “Sou a verdade, o caminho e a porta”, você acha que os rabinos vieram correndo e caíram a seus pés e disseram: “Um homem tão humilde! Jamais se viu um assim”. Eles disseram: “Este homem é arrogante, é egoísta”. E pela lógica eles parecem certos — isso parece arrogância! Quando Krishna disse a Arjuna: “Sarva dharma parityajya mamekam sharanam vraja — deixe todas as religiões de lado, venha e caia a meus pés”, você acha que as pessoas consideraram esta declaração humilde? “Deixe todas as religiões de lado e caia a meus pés!” Isso é pura arrogância. E você ficará surpreso; diz-se que as primeiras palavras de Gautama Buda foram... A lenda diz que quando Buda nasceu ele exclamou: “Acima e abaixo dos céus, só eu sou o honrado”. Quando ele nasceu, apenas um bebê, a primeira declaração — não que ele se tornou Buda e então declarou isso. A lenda é bela! A criança de um dia de idade, a afirmação e a expressão do primeiro momento... ele declarou ao mundo: “Acima e abaixo dos céus, só eu sou o honrado”. O que você acha disso? Que isso é pura arrogância? A verdade é a verdade. Ela não é nem arrogante nem humilde. Ela precisa ser declarada como ela é. Se você compreender, ela pode parecer humilde para você; se você não compreender, ela parecerá arrogante para você. E se você não compreender então não há necessidade de penetrar em tais declarações, que, aparentemente, parecem arrogantes. As pessoas que não compreendem, ou que não querem compreender, podem encontrar a arrogância em qualquer lugar. Aconteceu uma vez. Eu li estas palavras de Lao Tzu para um professor: “Quando o homem superior ouve do Tao, ele o pratica; quando o homem comum ouve do Tao, ele o ignora; quando o homem inferior ouve do Tao, ele zomba. Se ele não fosse motivo de riso, ele não seria o verdadeiro Tao”. E você sabe o que o professor disse? Ele disse: “Que arrogância de Lao Tzu — quem ele pensa que é para saber? Ele se considera o homem superior, o sábio, aquele que sabe? Que arrogância a dele de declarar que conhece o Tao! Então Lao Tzu acha que é um dos superiores que realmente compreendem o Tao, enquanto pessoas inferiores o ignoram ou riem dele? Que arrogante!” Ora, isso não é muito aparente. Você poderia não ter pensado dessa maneira, mas isso pode ser interpretado dessa maneira. Ao perceber a resistência do professor, citei Jesus para ele: “Pai, perdoe-os, pois eles não sabem o que fazem”.
  • 13. E o que ele disse? Ele disse: “Essas palavras também são arrogantes. Quem esse sujeito, Jesus, pensa que é, tendo uma atitude tão superior, condescendente, arrogante e clemente?” Ora, Isso não é aparente, mas pode ocorrer. Se você procurar, você poderá dizer que esse homem é arrogante — quem ele pensa que é? “Pai, perdoe-os...” Quem é você para perdoar? Isso é exatamente o que Friedrich Nietzsche costumava dizer contra Jesus: “Ele era a pessoa mais arrogante... Ele está dizendo a Deus: ‘Perdoe esses tolos, pois eles não sabem o que fazem — eles são todos tolos, perdoe-os!’ Ele os está insultando. Ele nem mesmo lhes permite a dignidade de saber o que estão fazendo; ele não os considera como seres humanos, e os está tratando como se fossem vermes — perdoe-os —, essa atitude ‘mais santo que você’”. Friedrich Nietzsche costuma lembrar as palavras de Jesus: “Quando alguém bater em sua face, ofereça-lhe a outra”. E Nietzsche disse que isso é muito desumano, pois o faz parecer muito superior. Olhe a partir do ponto de vista de Nietzsche, quando alguém lhe bater na face e você lhe oferecer a outra, isso é desumano. A maneira humana é: bata-lhe de volta! Pelo menos lhe dê esse tanto de respeito: “Você também é um ser humano, tanto quanto eu; somos iguais”. Dar-lhe a outra face significa que você reduziu a pessoa a um verme, o que é realmente insultante. Isso pode ser interpretado dessa maneira. Minhas afirmações não são nem arrogantes nem humildes, pois elas não podem ser arrogantes nem humildes. Normalmente, você acha que a humildade é oposta à arrogância. Ela não é; ambas são iguais. Elas são como quente e frio — graus da mesma energia. A pessoa humilde tem tanto ego quanto a arrogante. A arrogante reivindica o ego, e a humilde nega o ego, mas o ego está presente. A arrogante diz: “Sou especial”, e a humilde diz: “Sou ninguém, senhor — apenas a poeira sob seus pés”. Uma está reivindicando, a outra também está reivindicando de uma maneira diferente. Quando você realmente percebe a sua natureza, o ego desaparece, e com ele desaparecem a arrogância e a humildade — ambas desaparecem. Jesus e Buda não são nem humildes nem arrogantes. Eles simplesmente afirmam o fato. Ora, depende de como você o interpreta. Você diz: Por que para mim suas afirmações parecem ser arrogantes? Deve haver algo em você que está criando o problema, algo em você que está resistindo, lutando. Olhe fundo dentro de você mesmo. E quando você perceber o que está criando esta idéia ficará livre dela. Então as coisas serão muito simples.
  • 14. Similarmente há uma outra pergunta: Por que você ataca Sivananda? Como você sabe que o seu método não funciona? Que direito você tem de julgá-lo? Chamar as coisas pelos seus nomes não é atacá-las. Não ataquei nenhum Sivananda; simplesmente disse qual é o caso. Mas você deve ter algum apego a ele, e o seu apego está se sentindo ofendido. Isso nada tem a ver com Sivananda! Algo dentro de você está se sentindo ofendido. Investigue sua própria ferida. E você diz: Como você sabe que o seu método não funciona? Porque nenhum método jamais funciona. Não é uma questão de seu método — mesmo meus métodos... nenhum método jamais funciona! E eu disse que ele é uma pessoa estúpida porque ele acredita que métodos funcionam. Usamos métodos porque existem pessoas como você que necessitam de métodos, que não podem prosseguir facilmente, simplesmente na realidade, que podem seguir somente pela maneira difícil. Se você lhes disser para sentar em silêncio, elas não podem compreender isso. Elas dizem: “Simplesmente sentar em silêncio? Algo vai acontecer a partir disso?” Elas não podem sentar em silêncio, e tudo acontece somente quando a pessoa se senta em silêncio. Sentado em silêncio, sem nada fazer, A primavera vem E a grama cresce por si mesma. Esta é a verdade suprema, mas você não pode deixá-la brotar. Você diz: “Não posso simplesmente sentar e deixar a grama crescer — tenho que puxar a grama para cima!” Assim, eu digo: “Tudo bem, então siga Sivananda, então faça alguma coisa, pule, faça Kundalini. Se isso não parecer suficiente, então faça Dinâmica, Caótica 2 ou, se você tem outros carmas para sofrer, vá para o Encounter. 3 2. Técnicas de meditação bastante ativas. (N. do T.) 3. Um dos grupos terapêuticos mais temidos no ashram de Osho, na década de 70. (N. do T.) Esses métodos são usados aqui apenas devido à sua estupidez. Toda a função deles é deixá-lo tão cansado de fazer, que um dia você vem a mim e diz: “Osho, eu não poderia sentar em silêncio?” Isso é tudo. Fico mandando você a grupos, meditações e torturas, e fico esperando... Algum dia você virá chorando, se lamentando e se rastejando e dirá: “Chega! Eu não poderia sentar em silêncio?” E eu direi: “Estive esperando por este momento”. Sentado em silêncio, sem nada fazer, A primavera vem
  • 15. E a grama cresce por si mesma. Nenhum método jamais ajuda. Como ele pode ajudar? Um método pode ajudar a criar algo não-natural. A natureza não precisa ser criada — ela já está presente. Ela precisa ser vivida, desfrutada, dançada, cantada. Ela já existe! Você não precisa fazer coisa alguma. A grama já está crescendo, a primavera veio! Mas você não pode sentar em silêncio. Você tem muita inquietação, e essa inquietação necessita de métodos. Dou-lhe métodos, não porque através deles você se tornará iluminado, mas porque você virá a saber quão estúpido você é — e isso é uma grande iluminação! Ouvi sobre um político: ele foi a um Mestre, um Mestre sufi, e disse: “Você me mandou meditar, orar, isso e aquilo, e eu faço essas coisas, mas nenhuma revelação jamais aconteceu”. O Mestre o fitou e disse: “Vá lá fora e fique na rua por dez minutos”. E estava chovendo forte. O político perguntou: “Ficar na rua enquanto está chovendo tanto?” O Mestre respondeu: “Simplesmente vá e uma revelação surgirá”. E o político pensou: “Se vai acontecer uma revelação, então vale a pena tentar. Dez minutos na chuva não é um problema tão grande”. Ele ficou lá, e parecia estúpido, pois as pessoas estavam passando e pensavam: “O que nosso primeiro-ministro está fazendo?” Mas ele ficou com os olhos fechados, e abrindo-os repetidamente para olhar o relógio — dez minutos era um longo período, pois uma multidão se juntou e as pessoas começaram a rir. Elas estavam perplexas: “O que aconteceu com o primeiro-ministro?” E então ele correu para a casa e disse ao Mestre: “Não aconteceu nada! Você me enganou!” O Mestre disse: “Diga-me, como você se sentiu?” Ele respondeu: “Senti-me como uma pessoa muito estúpida, absolutamente estúpida!” O Mestre disse: “Esta é uma grande revelação! O que você acha? No período de apenas dez minutos saber que você é uma pessoa muito estúpida — você não acha isso uma grande revelação?” É isso o que acontece nas meditações, na ioga, nos grupos de terapia — lentamente, este entendimento penetra em seu coração: “O que estou fazendo? Gritando, berrando, brigando — o que estou fazendo?” Apenas essa revelação
  • 16. e você pode perceber o ponto principal, e então você pode se sentar em silêncio. E tudo o que você precisa já está disponível. É por isso que eu disse que o método dele não funciona — não que o método de uma outra pessoa funcione. Nenhum método jamais funciona. E que direito você tem de julgá-lo? Eu não o julguei, simplesmente disse o que ele é! De que julgamento você está falando? Eu não o condenei. Chamar as coisas pelos seus nomes não é condenar. Sou simplesmente factual. Mas a pergunta é de Mark. Ele deve ser uma pessoa nova por aqui. Ele não pode me entender, ainda não tem interação comigo. Ele deve ter se sentido ofendido, e deve estar seguindo coisas como as de Sivananda, algo assim. Seu ego está ferido, e em vez de dizer: “Meu ego está ferido”, ele mudou a questão. Isso é uma camuflagem, e completamente sem significado. Se algo for acontecer entre mim e Sivananda, esse é assunto meu — não fique preocupado. Se nos encontrarmos alguma vez, então cabe a nós decidirmos se eu deveria tê-lo julgado ou não, ou por que o chamei de estúpido. Ele pode me perguntar, mas por que você deveria ficar preocupado? Você deve ter algo mais dentro; isso é apenas uma racionalização. Você deve estar utilizando esses tipos de método. Mas o ego é muito sutil, ele protege a si mesmo. Você fez uma pergunta de tal forma que possa se ocultar, porém, você não pode se ocultar de mim. Mark, marque isso, você não pode se ocultar de mim! E, lembre-se, nunca erro o alvo. Você vai ser pego, agora você não pode escapar, pois, se você esteve fazendo essas coisas, então quanto tempo vai demorar para você se dar conta, para permitir que a revelação aconteça? E deixei todos os tipos de método disponíveis aqui, todos os tipos de tolice que você pode obter em qualquer lugar do mundo. Pessoas estão vindo até mesmo da Califórnia — para cá! A sexta pergunta: Qual a diferença entre estar totalmente entregue e ser um robô sem cérebro? VADAN, UM ROBÔ SEM CÉREBRO NÃO PODE SE ENTREGAR, e aqueles que acham muito difícil se entregar são robôs sem cérebro. Para se entregar são necessárias grande compreensão e inteligência. Você ficará admirada ao saber que, quanto mais estúpida uma pessoa for, menor a possibilidade de entrega. Os idiotas não podem se entregar, embora aqueles que não podem se entregar pensem que são muito inteligentes e que, por isso,
  • 17. não se entregam. Mas você já ouviu falar de algum idiota se entregar? Os imbecis e os retardados não podem se entregar. É necessária a inteligência mais elevada para se entregar, para perceber o ponto em que “Tenho corrido em círculos. Se eu continuar a depender de mim mesmo, continuarei a correr repetidamente nos mesmos círculos”. A única possibilidade de sair da roda é pegar a mão de alguém, de alguém que esteja fora do círculo vicioso. Entregar-se é pegar este apoio. Sempre se acreditou que a pessoa inteligente não pode se entregar, que é o crédulo que se entrega. Isso não é verdade. Uma pesquisa moderna diz uma outra coisa: somente alguém muito inteligente pode se entregar. O crédulo acredita, mas não se entrega. O inteligente se entrega, e não acredita. E a diferença é grande. Pode-se acreditar sem se entregar; então a crença é apenas devoção da boca para fora. Você diz sim na superfície e no fundo você continua a fazer o que estava fazendo. Estar entregue significa que você disse sim desde a periferia até o próprio âmago. Você se tornou um sim desde o centro até a circunferência. Há apenas uma qualidade de consciência: sim. E imediatamente, neste sim, você sai do ego, pois o ego existe a partir do não, ele se alimenta do não. Quanto mais você diz não, mais o ego é fortalecido. O não é o alimento para o ego, e o sim, o alimento para a ausência do ego. Esse é um fenômeno simples, mas somente pessoas muito inteligentes podem compreendê-lo! Você já observou? Sempre que você diz não, você sente muito claramente que você existe. É por isso que as pessoas gostam de dizer não. Quando não há necessidade, mesmo assim elas dizem não. A criança pede à mãe: “Posso sair para brincar?”, e a mãe responde: “Não!” Ora, não há necessidade de dizer não, e ela sabe perfeitamente bem que a criança também não vai dar ouvidos. E a criança também sabe perfeitamente bem que, se tiver um acesso de raiva, a mãe vai dizer sim; portanto, ela tem um acesso de raiva. Mas a mãe diz não, ela se sente bem ao dizer isso. E então a criança começa a dizer não para a mãe, pois é assim que ela cria o próprio ego. É por isso que pais e filhos e professores e estudantes estão sempre em conflito. Não é por acaso que universitários de todo o mundo estejam revoltados — o conflito reside no fato de que o professor diz não e o estudante diz não; dois nãos brigando. Cônjuges estão continuamente brigando — dois nãos brigando. E cada um precisa dizer não. E o ego se sente muito ferido. Observe: sempre que você precisa dizer sim, parece que você foi derrotado e o outro é o vencedor.
  • 18. Então você tenta encontrar uma situação em que possa novamente dizer não, permanecer com o seu não e forçar o sim sobre o outro. É assim que o ego existe. O dia em que a criança aprende a dizer não é o começo do ego. Antes disso havia a inocência primal; a criança confiava e não tinha idéia de quem ela era. Havia completo silêncio, paz, alegria e celebração. No dia em que ela diz não, algo se fecha; ela se torna defensiva, ela cria uma armadura. E agora ela começa a dizer tantos nãos quanto possível. Se os pais dizem: “Não fume”, ela fumará. Se eles disserem: “Não faça isso”, ela terá que fazê-lo. A rebelião começou. Ela precisa se tornar um ego. Entrega significa: você viveu através do ego e percebeu a futilidade disso, a completa infelicidade disso, e sabe que não foi capaz de viver através dele. Ele não permite que você viva, pois ele não lhe permite nenhuma expansão. Ele o torna menor, menor e menor; ele o encarcera mais e mais fundo, coloca-o num estado em que não há janelas, e toda a abertura desaparece. Você começa a viver numa espécie de cova. Entregar-se significa perceber isso, e então encontrar uma pessoa para quem seja fácil dizer sim, alguém que teve um vislumbre da pessoa real e para quem o amor aconteceu, alguém que se tornou amor. Se você puder encontrar uma pessoa para quem possa dizer sim facilmente, você encontrou o seu Mestre. Este é o critério para decidir se você deparou com um Mestre: você pode dizer sim fácil, simples e inocentemente. A presença da pessoa o faz querer dizer sim. O não se torna difícil e, mesmo que você queira dizê-lo a partir do velho hábito e estrutura, você hesita, acha difícil dizê-lo. E o sim vem fácil, como uma enchente. E surge uma grande alegria sempre que você diz sim; e você sente grande infelicidade sempre que diz não, como se tivesse prejudicado a você mesmo. Sempre que você encontra uma pessoa com quem isso comece a acontecer, você encontrou o Mestre. Então se esqueça de todo o mundo, do que eles dizem sobre ele! Você encontrou o Mestre; ele pode não ser Mestre para os outros, mas é para você. Desapareça nele. Qual a diferença entre estar totalmente entregue e ser um robô sem cérebro? Um robô nunca pode se entregar, nem mesmo parcialmente. Somente uma pessoa completamente inteligente pode se entregar. E, é claro, no começo é parcial; lentamente a pessoa reúne mais e mais coragem. Quanto mais a pessoa saboreia a alegria da entrega, mais ela se aventura e a investiga. E a pessoa de total inteligência se entrega completamente.
  • 19. Nessa entrega o ego desaparece. Não que nessa entrega você se torne um escravo do Mestre — não há ninguém para torná-lo um escravo. Na verdade, devido a não haver ninguém para torná-lo um escravo é que você se sente tão bem ao dizer sim à pessoa. Se houvesse alguém para torná-lo um escravo, você naturalmente acharia impossível dizer sim. O ego dele teria ofendido o seu. Existe uma interação sutil entre egos. Se a pessoa o ajudou a se entregar, isso simplesmente significa que não havia alguém para ofendê-lo. Havia puro amor e ninguém tentando possuí-lo. Você não estava sendo rebaixado. E quando você entrega o ego fica surpreso por não haver alguém para tomar posse de você — o ego desapareceu. O Mestre e a entrega eram apenas uma estratégia. Você atingiu a inocência primal, e agora você pode se mover por conta própria. Quando o Mestre percebe que você se entregou totalmente, ele o deixa absolutamente livre e diz: “Agora não há necessidade, agora não se levanta a questão da entrega”. Uma vez entregue, então não há necessidade de qualquer entrega. A necessidade da entrega é devida ao ego, e uma vez que a doença desapareceu o remédio precisa ser jogado fora. O próprio Mestre o tira. A partir daí, você está livre do ego e livre da ausência do ego. É por isso que Ikkyu chama de vazio real: você está vazio de tudo e também vazio do vazio. O ego se foi e a ausência do ego também se foi. Agora não há ninguém... há absoluto nada. E a pureza e a bênção disso são tais que, se você não as saboreia nesta vida, as perde novamente. A sétima pergunta: Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel? DEIXE QUE A OUTRA PARTE SE PREOCUPE. Por que você deveria ficar preocupado? Mas minha impressão é de que você não formulou corretamente a questão. Você deve estar preocupado com aqueles que precisam pagar o aluguel para você — se eles desaparecerem. Aconteceu: um homem foi ao psicanalista; estava muito preocupado e enlouquecido de raiva. O psicanalista perguntou: “Qual é, de fato, o seu problema?” Ele respondeu: “Estou preocupado, pois preciso pagar uma dívida de dez mil dólares e parece não haver como! E estou pensando em me suicidar, pois isso está ficando pesado demais e não posso viver com este peso”. E o psicanalista aconselhou: “Não se preocupe. Olhe para mim: Preciso pagar mil dólares a um homem; simplesmente abandonei a idéia de pagar e toda a preocupação desapareceu”.
  • 20. E o homem disse: “Eu sei disso. Dê-me uma outra idéia”. O psicanalista perguntou: “Como você sabe disso?” Ele respondeu: “Sou a pessoa para quem você deveria pagar os mil dólares, e isso também é parte da minha preocupação. Isso não ajudará! Dê-me alguma outra idéia”. Por que você está preocupado: Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel? O aluguel é tão importante? Você está aqui somente para pagar o aluguel? Eu ouvi: Um escocês estava visitando Londres e se encontrou com uma garota de programa em Soho; após ter desfrutado os deleites de seu corpo, deu-lhe cem libras esterlinas. “Tudo isso? É muita generosidade de sua parte!”, exclamou, surpresa, a garota. “Nenhum homem jamais me deu tanto dinheiro. E pelo seu sotaque você deve ser escocês, o que torna essa generosidade ainda mais incrível. De que parte da Escócia você vem?” “De Edimburgo”, respondeu o escocês. “Que fantástico! Meu pai trabalha lá.” “Eu sei”, disse o escocês. “Quando seu pai soube que eu estava indo para Londres, ele me deu cem libras para lhe entregar.” Você vem da Escócia? De que parte? Pensando em pagar o aluguel? Não há ninguém para pagar o aluguel e ninguém a ser pago — também não existe aluguel realmente, nem casa. É isso que Ikkyu diz — tudo é sonho. Você já ouviu isto? Perguntaram a um louco: “Qual a diferença entre psicanalistas, psicólogos e psiquiatras?” O louco respondeu: “Os psicólogos constroem castelos no ar, os psicanalistas moram neles e os psiquiatras recebem o aluguel”. Do que você está falando? Esqueça-se de tudo isso! Desapareça! E lembre-se: quando você desaparece como um ego, isso não significa necessariamente que você desaparece do mundo — o mundo continua. Kabir desapareceu como um ego, mas continuou a ser um tecelão, continuou a trabalhar, mas agora isso não era mais sério, agora era apenas um sonho. Se os outros estão desfrutando, por que perturbá-los? Você pode desaparecer e ainda pagar o aluguel. Não se preocupe com isso, a menos que você não queira pagar o aluguel e somente por isso queira desaparecer. Esse é um outro
  • 21. assunto. Do contrário, qual é o problema? Você desaparece e ainda paga o aluguel! Se eu desaparecer, quem pagará o aluguel? Ontem você falou sobre o natural e o não-natural. Parece que o dinheiro deve entrar na categoria do não-natural. Com o ego e a mente é relativamente fácil lidar com ele, mas se formos viver no mercado e viver naturalmente o dinheiro não se tornará um problema? O dinheiro de modo algum é um problema, a menos que você queira que ele se torne um problema. Através dos tempos, os pretensos religiosos estiveram muito preocupados com o dinheiro. Uma coisa tão tola como o dinheiro, e tão preocupados! Brinque com ele! Se você o tem, desfrute; se você não o tem, desfrute. O que mais você pode fazer quando você não o tem? Desfrute! Quando você o tem, o que mais você pode fazer? Desfrute! Não crie problemas desnecessários a respeito dele. O dinheiro é um brinquedo. Algumas vezes você o tem — brinque com ele. Mas minha impressão é: as pessoas que não podem brincar com o dinheiro renunciam a ele — elas o levam muito a sério. Então elas ficam com muito medo dele, pois no fundo o apego está presente. Você sabia que o discípulo chefe de Mahatma Gandhi, Vinoba Bhave, não pode olhar para dinheiro? Ele fechará os olhos se você trouxer uma nota de uma rupia, a qual não tem valor, a qual de modo algum é dinheiro. Ora, que tipo de atitude é essa? E isso é considerado algo muito santificado, e é louvado por todo o país, pois ele é muito liberal com dinheiro. Se você é realmente liberal com dinheiro, por que fecha os olhos? Essa nota de uma rupia é tão atraente a ponto de você precisar fechar os olhos? Há algum medo de que, se você não fechar os olhos, você possa pular sobre a pessoa? Deve haver algo. Isso parece um pouco obsessivo. Há um grande temor, do contrário, por que fechar os olhos? Tantas coisas estão passando e você não os fecha — fecha apenas ao pobre dinheiro. E dinheiro não é nada, apenas uma estratégia para trocar coisas. Porém, as pessoas que no fundo são realmente mesquinhas e que se apegam, devido ao seu apego e à sua mesquinhez ficam em grande desespero e infelicidade. Finalmente, um dia elas acreditam que é o dinheiro que está causando sua infelicidade; mas não é o dinheiro. Como ele pode causá-la? É a mesquinhez que a está causando. Ao pensar que é o dinheiro, elas renunciam a ele, escapam do mundo do dinheiro. Então elas ficam continuamente com medo; em seus sonhos elas devem estar entrando cm bancos, achando tesouros e coisas assim — e fazendo amor com o dinheiro. Isso fatalmente acontece. O dinheiro não é um problema! Ele pode ser usado! Se você o tem, use-o; se você não o tem, então use essa liberdade que vem quando você não o tem. Esta
  • 22. é a minha abordagem: se você for rico, desfrute; a riqueza tem algumas coisas que nenhum pobre pode desfrutar. Fui ambos, rico e pobre, e lhe digo honestamente: existem coisas que somente ricos podem desfrutar. Desfrute enquanto você é rico. E lhe digo novamente: fui ambos, rico e pobre, e existem algumas coisas que somente os pobres podem desfrutar. E não há como desfrutar ambas ao mesmo tempo. Assim, sempre, seja lá o que estiver acontecendo, desfrute-o. Uma pessoa pobre tem um tipo de liberdade. A pobreza tem um tipo de limpeza, de relaxamento, de contentamento. A mente não está muito preocupada; não há nada com que se preocupar. Pode-se dormir perfeitamente bem; a insônia é impossível para uma pessoa pobre. Portanto, durma bem, ronque e desfrute a liberdade que vem com a pobreza. E se você for rico desfrute a riqueza, pois há certas coisas que somente uma pessoa rica pode desfrutar. Você pode ter as pinturas mais notáveis em sua parede; um pobre não pode tê-las. Você pode ter as melhores músicas em sua casa; o pobre não pode ter isso. Você pode criar um jardim Zen em volta de sua casa; o pobre não pode ter isso. Você pode ler poesias, pintar, tocar violão, cantar, dançar, meditar— mil e uma coisas ficam disponíveis. Minha abordagem é: seja qual for o caso, simplesmente perceba o que você pode tirar disso. Se for pobreza, torne-se um Buda, comece a perambular por aí; pegue uma cumbuca de mendigo e desfrute esta beleza que somente um mendigo pode ter. Ele não pertence a lugar algum. Hoje ele está aqui, amanhã se foi. Ele é um fluxo; ele não se apega a lugar algum, ele não tem um lar. Ele não precisa se preocupar com o fato de a chuva estar vindo e o telhado precisar ser reparado. Ele não precisa temer que alguém roube algo dele — ele nada possui. Desfrute a pobreza se você for pobre, e desfrute a riqueza — então se torne um janaka, um imperador, e desfrute todas as belezas que se tornam disponíveis através do dinheiro. Minha abordagem é total. Não o ensino a escolher, mas simplesmente digo: seja qual for o caso, a pessoa inteligente fará algo belo a partir disso. A pessoa não- inteligente sofre. Se ela tem dinheiro, ela sofre, pois o dinheiro traz preocupações; ela não desfruta a música, a dança, a pintura que o dinheiro pode trazer. Se ela tem dinheiro, ela não vai ao Himalaia para descansar, meditar, cantar, gritar nos vales e conversar com as estrelas. Ela se preocupa, perde o sono e o apetite — ela escolhe o errado quando tem dinheiro. E se de algum modo ela ficar pobre, pela graça de Deus, se ela ficar pobre, então ela sofre a pobreza e fica continuamente preocupada por não ter isso e aquilo. Você tem a pobreza! Desfrute-a!
  • 23. Todavia, existem pessoas que estão erradas em qualquer situação: onde quer que estejam, sempre encontrarão a parte negativa e sofrerão. E existem pessoas, e as chamo de inteligentes, e gostaria que meu povo fosse de pessoas inteligentes... onde quer que você esteja, tente desfrutar. Aconteceu na minha juventude: uma vez meu pai estava com muita raiva de mim, então ele me trancou no banheiro. Eu meditei! O que fazer...? Após três ou quatro horas, ele ficou preocupado. Ele estava na sua loja, mas estava inquieto. Ele ficou preocupado com o que poderia ter acontecido comigo, e nenhuma mensagem veio de casa — minha mãe não mandou nenhuma mensagem e nenhum empregado veio dizer o que tinha acontecido comigo. Teria eu desaparecido? Ou o quê? Ou alguém abriu o banheiro? Assim, ele não podia fazer o seu trabalho, e teve que ir para casa. Ele se aproximou da porta e escutou, e havia silêncio. Ele bateu, e eu lhe disse: “Não me atrapalhe”. Essa foi a última vez que ele me puniu daquela maneira. Não fazia sentido! Ele disse: “Fiquei tão preocupado que não pude fazer o meu trabalho na loja, e tive que vir”. Eu disse: “Isso é tolice! Eu curti”. Na minha escola, quando eu era pequeno e estava no segundo grau, meu professor era muito rígido e costumava punir ao mandar: “Corra sete vezes em volta da escola, corra!” E ele me deu essa punição — vá sete vezes —, e eu perguntei: “Por que não dezessete vezes?” Ele respondeu: “Você é louco?” Eu respondi: “Esse é um exercício tão bom, e gostaria de fazê-lo todas as manhãs”. E comecei a fazê-lo todas as manhãs. Ele me via e batia em sua própria cabeça — ele dizia que eu tinha destruído sua punição ao torná-la um exercício. Eu a usei! Então ele parou de me punir. Por que não usar a oportunidade, seja ela qual for? E se você estiver alerta poderá encontrar oportunidades em todos os lugares; mesmo que você esteja preso, poderá usar isso como uma grande oportunidade. E há pessoas que estão sob o céu, livres, e não usam essa oportunidade. Dinheiro ou não dinheiro, casa ou não casa... a questão não é o que você deveria ter, mas o que você deveria fazer, seja lá o que você tenha. Perceba, minha ênfase é totalmente diferente. Você desaparece... e então deixe as coisas acontecerem. Se você se sente bem em ficar no mercado, então isso é natural, pois existem comerciantes natos. Não pense que existem somente poetas natos — isso está errado. Existem também comerciantes natos. Não importa o que se faça deles, eles se tornarão comerciantes; onde eles estiverem, eles abrirão uma loja. Eles não podem evitar isso. Você não ouviu sobre o judeu?
  • 24. Um grande barco foi atacado por um crocodilo, um enorme crocodilo, realmente muito grande. E as pessoas começaram a jogar coisas em sua boca — cadeiras, mesas, um saco de laranja e, finalmente, um judeu. Mas insistentemente o crocodilo vinha atacar. Por fim, elas concluíram: “Isso não vai ajudar. Damos coisas a ele e apenas por algum tempo ele se entretém, e novamente ele volta”. Assim, todos juntos o atacaram e abriram a barriga do animal, e o que eles viram? Você sabe? O judeu estava sentado na cadeira, com a mesa à sua frente, tinha aberto o saco de laranja e as estava vendendo para as outras pessoas que foram engolidas anteriormente pelo crocodilo. Você não pode escapar... aonde você irá? Existem comerciantes natos. Portanto, se você for um comerciante nato, mesmo quando você desaparecer você estará no mercado. Contudo, haverá uma qualidade totalmente diferente nisso — você desfrutará. Este é o mundo de Deus! Um belo sonho. Você saberá que esses fregueses são fregueses do sonho, e as coisas que você está dando a eles são apenas sonhos, e o dinheiro que você está recebendo é apenas sonho — mas por que não desfrutá-lo? O desfrute não é sonho. Deixe-me lembrá-lo novamente: tudo é sonho, mas, se você puder conscientemente desfrutá-lo, essa satisfação não será sonho, mas o objetivo de todas as religiões. E se tudo for sonho você pode desfrutar mais. Então não há nada com que se preocupar. Se o sucesso vier, será bom; se o fracasso vier, também será bom. A última pergunta: Sei que não sou meu corpo, mas ainda assim quero amar e ser amada. O amor espiritual é possível neste mundo apodrecido? ESTE MUNDO NÃO ESTÁ APODRECIDO. Este mundo está repleto de Deus, ou, nas palavras de Buda, repleto de nada, o que dá no mesmo. Se alguma coisa está apodrecida, é a sua mente. E, sim, é muito difícil encontrar amor com uma mente apodrecida. E nunca pense em termos de amor espiritual e material — amor é simplesmente amor, ele não é nem material nem espiritual. Como o amor pode ser material ou espiritual? Amor é simplesmente amor. Amor significa a alegria de compartilhar sua vida com alguém. Sim, seu corpo e seu ser podem ser compartilhados, mas compartilhar é amor, não o que você compartilha. Compartilhar é amor; assim, todo amor é simplesmente amor. Porém, posso perceber que o problema deve estar vindo de sua educação: Sei que não sou meu corpo... Quem lhe disse isso? Você é mais seu corpo do que sua mente. Você é mais seu corpo do que seu suposto eu. É isso o que Ikkyu está dizendo: que o eu é uma entidade falsa, apodrecida. E a mente é apenas
  • 25. um fenômeno condicionado pela sociedade. Seu corpo é mais verdadeiro do que sua mente e seu eu; seu corpo pertence à existência. Entretanto, você deve estar contaminada pelos sacerdotes, que dizem que você não é corpo. Eles criaram uma dicotomia em todo mundo, que “Você é a alma, e como uma alma pode se rebaixar tanto a ponto de amar um corpo?” E por aqui você não encontrará fantasmas, mas pessoas que vivem em seus corpos, que são seus corpos. É por isso que você não pode encontrar alguém para amar e ser amada — você está em busca de um fantasma. E se você realmente deparar com um fantasma não acho que você gostará dele. Mas você está ansiando por isso. Foi-lhe dito para condenar seu corpo, e se você condená-lo e não gostar dele você acha que alguém vai gostar dele? Se mesmo você não gosta dele, quem vai gostar? Ao gostar de seu corpo e amá-lo, você cria uma situação na qual uma outra pessoa pode também amar o seu corpo. Mas você cria esse ambiente, esse clima. Um homem ou uma mulher que odeia seu próprio corpo... e é assim que todos vocês, no fundo, odeiam, pois desde o princípio lhes disseram para odiar o corpo — o corpo é algo feio, não-espiritual. Foi-lhes ensinado que o corpo é o inimigo. O corpo é o templo de Deus, e neste corpo vive aquele nada do qual Buda falou, vive aquela semente da iluminação que eu insisto em falar. Este corpo contém sua maior satisfação, contém Deus. Não o condene, do contrário será impossível. Você diz: Sei que não sou meu corpo, mas ainda assim quero amar e ser amada. Este desejo é natural! Amar e ser amada. Isso é parte da consciência humana, uma parte intrínseca, embutida. A sociedade pode contaminar suas idéias a respeito do corpo, mas não pode destruir seu desejo de amar e ser amada. Assim, esse desejo continua. Mas agora ele se torna impossível, pois ele pode ser preenchido somente através do corpo. Portanto, você está num dilema. Ou abandone a idéia de amar... o que você nem ninguém podem fazer, pois somos feitos da matéria chamada amor. É impossível abandoná-la. Deixe-me lembrá-la novamente: um único vislumbre da pessoa real e você se enamora. Mesmo no estágio final, o amor explode, o amor permanece; você realmente se torna totalmente amorosa. Portanto, você não pode abandonar isso. Este é o seu destino, o qual deve ser cumprido. Porém, se você condenar seu corpo, ficará muito difícil. Você quer ir à outra margem e condena a ponte e o barco. Ora, como você vai conseguir? A ponte pode levá-la à outra margem, ou além dela. O barco pode levá-la além do barco, mas somente o barco pode levá-la.
  • 26. Ame seu corpo, aceite-se como seu corpo, receba-o com gratidão; ele é uma dádiva. Do contrário, será impossível. E, mesmo que alguém se apaixone por você — a pergunta é de uma mulher —, você não permitirá que ele a ame. Se ele quiser segurar a sua mão, você vai se retrair. Você pensará: “Aqui está um hedonista, um materialista. Ele quer segurar a minha mão! Ele deveria somente segurar minha mão fantasma, espiritual, não minha mão real. Este é apenas o corpo apodrecido”. E ele quer abraçá-la, e você escapará, pois essa é a mesma sensualidade apodrecida. Você não permitirá que alguém a aborde. E, naturalmente, quando alguém deseja ter comunhão com você, ele gostará de segurar sua mão. Não que ele queira somente isso — é através da mão que algo mais é contatado. Não é necessariamente assim que isso é contatado, mas também não há outra maneira de contatá-lo. Quando ele segura sua mão, ele está segurando algo de você — e não há como segurá-lo sem segurar sua mão. Se ele a abraça, ele está abraçando sua alma, mas o corpo é a parte visível da alma. É através do corpo que você se comunica. Mesmo que o silêncio tenha que ser comunicado, palavras precisam ser usadas. As palavras são o corpo do silêncio; o silêncio é a alma. Mesmo eu tenho que usar palavras, Buda tem que usar palavras. Abandone esse condicionamento e a idéia de que este mundo é apodrecido, pois, se ele for apodrecido, então nada vai acontecer nele. Você já se tornou preconceituosa. Medite sobre esta anedota: Cuthbert se casou com uma virgem muito refinada de uma origem impecável e a levou a Túnis para a lua-de-mel. Na primeira noite no hotel, Cuthbert rapidamente tirou as suas roupas e pulou na cama e então observou sua esposa lentamente remover todas as suas vestimentas. Mas Cuthbert ficou surpreso quando ela subiu hesitante na cama, completamente despida, exceto por suas luvas brancas. “Por que você não tira as luvas?”, perguntou ele. “Porque mamãe disse que eu poderia, na verdade, ter que tocar a coisa imunda”, respondeu ela. Ora, esse tipo de mente não vai saber o que é o amor. Esse tipo de mente está fechado, absolutamente fechado. E esse tipo de mente existe mais ou menos em todos. Abandone essa mente. Tudo é bom e tudo é divino — o corpo, inclusive. Todo o corpo está incluído, e jamais faça qualquer distinção entre o corpo inferior e o superior — não existe
  • 27. nada inferior e nada superior. Todo o corpo é um só, ele é uma unidade. Aceite- o, dê as boas-vindas a ele, e você começará a desabrochar e a irradiar amor. E esse amor irradiante atrairá os outros para você. Você não deve estar atraindo, você deve ter se tornado muito repulsiva. As idéias de que este mundo é apodrecido, que “Não sou meu corpo”, que “Quero um tipo espiritual de amor”, são todas idéias errôneas. Elas envenenarão todo o seu corpo. E sei que existe um amor que vai bem além das formas comuns, mas esse amor não é contra as formas comuns — ele está baseado e enraizado nas formas comuns. A árvore sobe muito alto no céu e começa a sussurrar com as estrelas, mas ela permanece enraizada na terra. A árvore desabrocha em belas flores, mas permanece enraizada na terra, na terra escura, com mil e uma raízes não- visíveis. Deus e o espírito estão enraizados na matéria. Nunca seja contra a matéria. Quando você cria essa dicotomia — matéria e espírito —, permanece para sempre esquizofrênica. Conecte-se, aproxime-se! Torne-se uma só peça. E por se tornar uma só peça a paz surge, o amor flui, a vida se torna uma fragrância.
  • 28. 2 Você Sente o Cheiro da Montanha de Louros? Meu lugar permanente Não tem pilares; Ele é descoberto — Mesmo assim a chuva não o molha Nem o vento o golpeia. Quando ele sopra, O vento da montanha é turbulento, Mas quando ele não sopra, Ele simplesmente não sopra. Embora não haja ponte, A nuvem sobe até o céu; Ela não pede pela ajuda Dos sutras de Gautama. Pequenas ondulações aparecem Na água não-acumulada Do poço não-cavado, Quando o homem sem forma e sem corpo Tira água dele. A mente: Desde que realmente não há Tal coisa como a mente, Com que luz Ela deveria ser iluminada? Uma história:
  • 29. MESTRE ZEN: “Tenho aqui um bastão, e ainda assim não tenho um bastão. Como você explicaria isso?” O noviço judeu: “Eu não explicaria!” Mestre: “Ora, não seja impertinente! Essa é sua incumbência; se você realmente quer atingir a iluminação como afirma, faça todo o esforço possível para responder”. Noviço: “Tudo bem, suponho que, visto de uma maneira, você tem um bastão; visto de uma outra maneira, você não o tem”. Mestre: “Não, de modo nenhum quero dizer isso! Quero dizer que, visto exatamente da mesma maneira, tenho um bastão e não tenho um bastão. Agora como você explica isso?” Noviço: “Eu desisto!” Mestre: “Mas você não deveria desistir! Você deveria forçar cada pedaço do seu ser para desemaranhar isso”. Noviço: “Não argumentarei com você sobre se deveria ou não desistir. O fato existencial simplesmente é que eu desisto”. Mestre: “Mas você não quer atingir a iluminação?” Noviço: “Se atingir a iluminação significa considerar questões tão tolas e malditas, então para o inferno com ela! Sinto muito desapontá-lo, mas adeus!” Doze anos mais tarde: Noviço: “Eu retorno a você, ó Mestre, num estado de absoluto arrependimento. Por doze anos tenho perambulado e me sentido muito mal pela minha covardia e impaciência. Agora me dou conta de que não posso continuar a fugir da vida. Mais cedo ou mais tarde tenho que enfrentar os problemas supremos do Universo. Assim, agora estou pronto para me revestir de coragem e tentar trabalhar a sério sobre o problema que você me deu”. Mestre: “Qual era o problema?” Noviço: “Você disse que tinha um bastão e ainda assim não tinha um bastão. Como explicar isso?” Mestre: “Eu realmente disse isso? Que tolice a minha!” O ZEN NÃO TEM ENSINAMENTO ou doutrina e não dá uma direção, pois ele diz que não há objetivo e que não é para você se mover numa certa direção. Ele diz que você já está lá; portanto, quanto mais você tentar chegar lá, menor será
  • 30. a possibilidade de alcançar. Quanto mais você procurar, mais você perderá. Procurar é a maneira certa de perder. Entender isso simplesmente significa entender que a iluminação já está disponível, já aconteceu, e que ela é a própria natureza da existência. A iluminação não é um objetivo, mas a qualidade de estar aqui e agora. Como isso pode ser um objetivo? Porque o objetivo jamais está aqui e agora — ele está sempre lá e, então, em algum outro lugar. Ele é como o horizonte, está sempre distante e ainda assim parece estar perto. E a pessoa sente que “Se eu viajar um pouco, chegarei ao horizonte”. Porém, ela nunca chega, pois, quanto mais ela vai em direção ao horizonte, mais ele se afasta, porque na verdade não há nada, apenas ilusão. A terra e o céu não estão se encontrando em lugar algum. Eles não podem se encontrar, pois não são dois, mas um. A terra é apenas uma materialização do espaço do céu, é uma onda no oceano do céu. Como eles podem se encontrar? Para haver encontro, pelo menos dois são necessários. E eles não são dois. O horizonte existe somente na mente do ser humano; ele não tem verdade existencial em si. Mas você pode continuar a procurar e a procurar, e quanto mais você sente que não o está atingindo mais e mais ansioso você pode ficar para encontrá-lo. Você pode ficar louco à procura dele. O Zen diz: Não existe lugar para se ir; portanto, nenhuma orientação é necessária. Então, qual é o propósito de um Mestre Zen? Seu propósito é trazê- lo para o aqui e o agora, é bater tão duro em você que você acorda aqui e agora. Você adormeceu e começou a viver em sonhos. Outra história: Estudante Zen: “Então, Mestre, a alma é ou não Imortal? Sobrevivemos à morte de nosso corpo ou nos aniquilamos? Nós realmente reencarnamos? Nossa alma se divide em partes componentes que se reciclam, ou entramos no corpo de um organismo biológico como uma única unidade? E retemos ou não nossa memória? Ou a doutrina da reencarnação é falsa? Talvez a noção da sobrevivência cristã seja mais correta? Se for assim, temos ressurreição do corpo ou nossa alma entra num reino puramente platônico e espiritual?” Mestre: “Seu café da manhã está esfriando”. Esta é a maneira do Zen: trazê-lo para o aqui e agora. O café da manhã é muito mais importante do que qualquer paraíso, do que qualquer conceito de Deus, do que qualquer teoria da reencarnação, da alma, do renascimento e de toda essa tolice. Porque o café da manhã está aqui e agora.
  • 31. Para o Zen, o imediato é o final, e o iminente é o transcendental. Este momento é a eternidade... você precisa estar desperto para este momento. Assim, o Zen não é um ensinamento, mas uma estratégia para perturbar sua mente sonhadora e de alguma forma criar um tal estado que você fique alarmado, que você tenha que se levantar e ver, uma estratégia para criar tal tensão à sua volta a ponto de você não poder permanecer dormindo confortavelmente. E esta é a beleza do Zen e a revolução que ele traz ao mundo. Todas as outras religiões são consolos; elas o ajudam a dormir melhor. O Zen tenta acordá-lo; ele de modo nenhum tem consolos. E ele não fala sobre grandes coisas. Não que essas grandes corsas não existam, mas falar delas não vai ajudar. As pessoas têm uma idéia muito estúpida. Elas acham... um de nossos truques favoritos é fingir que ao falar de um problema estamos fazendo alguma coisa a respeito dele. É por isso que a psicanálise se tornou tão importante — e ela nada mais é do que conversa. O paciente fica falando sobre seus problemas e acha que por falar a respeito deles os está resolvendo. As pessoas insistem em fazer perguntas e em obter respostas, e acham que por fazer uma pergunta e obter uma resposta elas estão fazendo algo a respeito de seus problemas reais. As respostas dadas por outros não vão ajudá-lo; elas podem ajudá-lo somente como consolos. Você pergunta a alguém: “Há sobrevivência após a morte?”, e ele responde: “Sim”. E você está livre de um medo, o medo da morte. E você começa a pensar que a alma é imortal. Observe as pessoas que acreditam na imortalidade da alma; você descobrirá que elas são as maiores covardes que existem. Aconteceu isto neste país: através dos tempos, pelo menos por cinco mil anos, este país acredita na imortalidade da alma, e por mil anos ele permaneceu na escravidão. As pessoas se tornaram tão covardes que não podiam se rebelar contra isso. Nem uma única revolução jamais aconteceu na Índia. As pessoas que acreditam na imortalidade da alma deveriam ser absolutamente corajosas; elas podem encarar a morte, pois não vão morrer. Mas o caso é justamente o oposto. Na verdade, a crença delas na imortalidade da alma nada mais é do que uma proteção, apenas uma armadura em volta da sua covardia. Elas estão com medo da morte, daí acreditarem na idéia de que a alma é imortal. Elas ficam se apegando à idéia — contra a morte. Elas não sabem. Se você perguntar a um Mestre Zen: “A alma é imortal?”, ele não responderá, pois ele sabe que é o seu medo que está pedindo pela resposta. Seu medo deseja ser acalmado; você precisa de um alívio, de alguém autoritário que possa dizer: “Sim, não tenha medo”. Você precisa de uma figura paterna.
  • 32. Não é apenas coincidência os cristãos pensarem em Deus como o pai, ou o sacerdote católico ser chamado de “padre”. Devido ao medo, as pessoas estão procurando pelo pai. Elas precisam de pais aqui e de um grande Pai nos céus. Essas pessoas são infantis, imaturas; elas não podem se sustentar sozinhas, não podem viver suas vidas sozinhas. Elas precisam de alguém em quem se apoiar. O Zen não fala sobre Deus. Não que Deus não exista, mas ele não é um pai, nem uma mãe. Não se pode conceber Deus em palavra alguma; todas as suas palavras são irrelevantes. Deus somente pode ser experienciado em completo e absoluto silêncio. Porém, não faz sentido falar sobre ele, pois quando isso ocorre as pessoas começam a pensar que estão fazendo um grande trabalho. Então elas lêem as escrituras e filosofam e ficam polindo seus conceitos e doutrinas, e continuam a acreditar. E nada, jamais, muda em suas vidas. Suas crenças nunca trazem nenhuma luz a suas vidas. Na verdade, suas crenças atrapalham a luz. O Zen não é um sistema de crença, mas uma maneira de despertar, e o Mestre Zen fatalmente é firme. Essa é a sua compaixão; ele precisa golpeá-lo, e ele fica encontrando estratégias de como fazê-lo. Escute esta história: Um Mestre Zen estava venerando uma estátua de Buda e um monge se aproximou e perguntou: “Por que você venera o Buda?” “Eu gosto de venerá-lo.” “Mas achei que você tinha dito que não se pode obter a iluminação por venerá- lo.” “Não o estou venerando para obter a iluminação.” “Então por que você o está venerando? Você deve ter alguma razão!” “Nenhuma razão absolutamente. Eu gosto de venerá-lo.” “Mas você deve estar buscando algo; você deve ter algum fim em vista!” “Eu não venero Buda por nenhum fim.” “Então por que você o venera? Qual é o seu propósito em venerá-lo?” Neste ponto, o Mestre simplesmente saltou e deu um bom tapa na face do monge! Isso parece muito selvagem e inesperado. E o monge não estava fazendo uma pergunta irrelevante, mas uma simples pergunta humana motivada pela curiosidade. Ele não deveria ser tratado desse modo; não havia necessidade de bater nele. Nenhum sacerdote hindu ou católico faria isso; o propósito deles é
  • 33. diferente, e somente um Mestre Zen pode bater em alguém. Seu propósito é diferente. Por que ele não bateu logo no início? Por que ele deu atenção a tantas perguntas e depois deu o tapa? Ele criou a situação, a situação certa, o calor e mais e mais curiosidade. Ele levou o monge a um estado a partir do qual o golpe poderia simplesmente chocá-lo até um tipo de consciência. Ele ajudou o monge a pensar mais e mais sobre o assunto, a provocar um clímax de pensamentos, pois o golpe pode ser de alguma ajuda somente a partir do clímax. Mas seu tapa no monge não é nem selvagem nem arrogante — ele não vem a partir da raiva, lembre-se. Encontrei esta história num livro escrito por um americano, que acha que o Mestre ficou com raiva devido à insistente indagação do monge, e ele o golpeou em razão da raiva. Isso é estúpido. Assim todo o sentido é perdido. Não foi devido à raiva! O Mestre não ficou ofendido com a questão; ele estava curtindo-a e levando o monge a um estado mais e mais febril, ao responder de tal forma que a pergunta não é respondida, mas intensificada. Perceba a diferença. Comumente se responde a uma pergunta de tal modo que ela se encerre. O Mestre Zen está respondendo de tal modo que a pergunta se torne até mesmo mais aguçada e penetrante. Ele está ajudando a questão a se erguer com totalidade, está dando a idéia ao monge de que sua questão é muito importante e que o Mestre é incapaz de respondê-la, está auxiliando o ego do monge a se tornar um grande balão, e um pequeno furo... e o balão explode. Ele não bateu devido à raiva, isso nada tem a ver com raiva. Ele não está com raiva do monge nem incomodado com ele. Ele deve estar se sentindo perfeitamente feliz com o monge por ele ter perguntado — ele está dando uma chance ao Mestre. Mas essa é uma estratégia, ele não está respondendo. Mesmo o tapa não é a resposta, lembre-se. Algumas pessoas começam a pensar que o tapa era a resposta — essa também não é a resposta. O tapa é apenas para dar um solavanco, para balançar as bases; assim, mesmo que por um único momento você escape de seus pensamentos, você terá um vislumbre da realidade. Então você se esquecerá de Deus, de Buda e de veneração... e apenas perceberá que seu café da manhã está esfriando. Você virá para o aqui e agora. O ZEN É UMA ABORDAGEM EXISTENCIAL, e não uma abordagem filosófica sobre a vida. E isso tem ajudado imensamente, isso tem levado muitas pessoas ao despertar. O Zen não acredita na análise de problemas, pois ele não acredita que algum problema possa ser resolvido no seu próprio nível. Nenhum problema pode ser
  • 34. resolvido a menos que sua consciência seja elevada um pouco acima do problema. Isso precisa ser entendido, pois é algo fundamental. Você me faz uma pergunta. Eu posso respondê-la, mas você permanece no mesmo nível de consciência. Minha resposta não pode elevar sua consciência. Você pergunta: “Deus existe?” Posso dizer Sim ou não, mas você permanece o mesmo! Se eu disser sim ou não, isso não vai ajudá-lo de maneira alguma a se tornar mais consciente, não vai lhe dar mais ser, e somente lhe dará mais conhecimento disso ou daquilo. Se você for ateu e perguntar: “Deus existe?”, e eu disser não, você se sentirá muito feliz. Você dirá: “Então eu estava certo”. Ou, se eu disser sim, você dirá: “Este homem está errado, ele não sabe de nada, ele é apenas um cego. Eu argumentei e investiguei profundamente o assunto, e não posso encontrar nenhuma prova de Deus”. Se eu disser sim ou não, seja você uma ateísta ou um teísta, ou você acumulará conhecimento, o receberá se ele se ajustar a você, ou o rejeitará se ele não se ajustar a você. É isso o que você está fazendo continuamente em sua mente. Mas sua consciência não é erguida, e a menos que isso aconteça nenhum problema pode ser resolvido. Em primeiro lugar, o problema é criado devido à sua consciência, e ele pode ser resolvido não por alguma resposta — ele pode ser resolvido somente ajudando sua consciência a se elevar um pouco mais de onde ela está. Este é o trabalho do Zen. Ele não é uma transferência de conhecimento, mas de consciência, de ser. Ao dar um tapa no monge, o Mestre simplesmente o ajudou a se tornar um pouco mais alerta. E, se o monge se torna um pouco mais alerta, esse tapa não é somente um tapa, mas um salto do ser do Mestre para dentro do discípulo. Contudo, para isso ocorrer, há necessidade de um grande amor pelo Mestre, do contrário o tapa não será aproveitado. Há necessidade de grande confiança no Mestre. Isso acontece todos os dias. Se eu dou um tapa em alguém, se eu digo algo duro, se eu golpeio o ego de alguém, então, dentro de cem casos, noventa por cento das pessoas começam a reagir antagonicamente. Elas perdem o ponto principal e perdem uma grande oportunidade! Se algumas vezes eu o critico ou sou duro com você, isso é um tapa em sua cara; tapas sutis. Contudo, a humanidade não está mais interessada na verdade tanto quanto está interessada em seu ego. Imediatamente você fica disposto a ir embora. “Este homem não é para você.” Um único tapa e você se esquece de tudo sobre a
  • 35. busca. Em vez de ficar consciente e alerta e de receber mais consciência e ser, você simplesmente se fecha. O Zen precisa de uma atmosfera particular, de um ambiente — um ambiente de amor e confiança. É por isso que insisto em que, a menos que você seja um sannyasin, meu trabalho não pode começar sobre você. Certo dia, alguém escreveu uma carta, uma bela carta; ela deve ser de um coração muito bom. Ele perguntou: “Não posso me relacionar com você sem me tornar sannyasin? Não posso simplesmente ser um amigo? É uma necessidade ser discípulo?” A pergunta é relevante. Você pode ser meu amigo, não há problema nisso, mas você vai perder tão certamente quanto os inimigos. O amigo vai perder tanto quanto o inimigo, pois, quando eu der um tapa em você, você não será capaz de despertar. Você ficará com raiva, pois não se espera isso de um amigo. Quando eu o golpear forte, você simplesmente ficará furioso; você retaliará, argumentará, rebaterá e simplesmente dirá: “Então vou embora!” Sannyas simplesmente significa que você está disposto a seguir comigo, mesmo que eu bata em você, que eu o esmague e o aniquile. Você está disposto a ir comigo seja lá para onde for. Sua confiança é maior em mim do que em você mesmo. Então o trabalho começa. “O trabalho” simplesmente significa que você se tornou disponível ao Mestre — somente então você pode ser desperto, pois o despertar vai ser doloroso; ele não vai ser muito doce, pois você dormiu por muito tempo e sonhou muitos sonhos belos, e o despertar certamente vai destruir todos esses sonhos. Eles são sonhos, mas até o momento você os considerou como realidades. E quando alguém começa a tirá-los de você isso machuca. Você começa a sentir que “Não estou obtendo nada; pelo contrário, estou perdendo tudo o que tinha antes”. O Zen é um ambiente particular, um clima de confiança e amor, amor infinito entre o Mestre e o discípulo, de tal modo que o discípulo fica disposto a ir a qualquer extremo. Você ficará surpreso, pois algumas vezes os Mestres Zen são realmente selvagens. Aconteceu num ashram de um Mestre Zen: sempre que ele falava sobre a verdade, ele costumava erguer um de seus dedos em direção ao céu. Esse era seu gesto particular. Naturalmente, isso se tornou uma piada. Quem quisesse imitar o Mestre erguia o dedo. Um jovem discípulo tornou-se bastante habilidoso em repetir e imitar os gestos do Mestre — sua face, a maneira que ele andava, falava, sentava. Ele era apenas um menino. E em todos os lugares, sempre que havia alguma discussão séria, ele erguia seu dedo em direção ao céu da mesma maneira que o Mestre. Um dia, o garoto estava atrás do Mestre, que ergueu o dedo enquanto falava com pessoas, e atrás o garoto também ergueu o dedo. E o Mestre o chamou...
  • 36. pegou uma faca e cortou o dedo do garoto! Ora, você não pode considerar isso como compaixão — simplesmente cortou o dedo. E o garoto gritou de dor, e o Mestre disse: “Não perca a parte essencial! Agora levante o dedo”. Agora o dedo se foi, não há nada para levantar, e o Mestre diz: “Agora levante o dedo, não perca a parte essencial!” E o garoto, com lágrimas nos olhos, levantou seu dedo cortado em direção ao céu... e naquele exato momento aconteceu o satori. O garoto foi transformado. Ora, na superfície isso é muito cruel e violento. Se você pode ver somente a superfície, você para sempre será contra essas pessoas do Zen. Elas não parecem santas. Não se sabe de santos fazendo tais coisas; eles conversam com os peixes, com as árvores, e pássaros vêm e pousam em seus ombros. Conhecemos tais santos, mas os que cortam o dedo sem nenhuma razão especial, de um jovem tão simples que estava imitando o Mestre devido à sua inocência? O Mestre está com raiva? Mas, se você olhar fundo, o menino foi transformado. Se você perceber a transformação, então perceberá que aquilo valeu a pena — mesmo que o Mestre tivesse cortado a cabeça do garoto, teria valido a pena. Um dedo não é nada. O garoto foi totalmente transformado. Sobre este mesmo Mestre Zen, é dito que, quando ele ainda procurava e tinha seu próprio Mestre, ele se tornou muito famoso, pois pássaros vinham e pousavam em seus ombros e em sua cabeça. Uma vez, quando ele estava meditando sob uma árvore, um pássaro fez um ninho em seu cabelo. Ele se tornou famoso por todo o país, e as pessoas costumavam venerá-lo como a um Buda. Naturalmente, ele se tornou muito egoísta — um logro tão grande! Seu próprio Mestre veio e ficou com muita raiva. Ele disse: “O que este pássaro está fazendo em seu cabelo? Abandone toda essa estupidez!” Ele se ofendeu, mas compreendeu, e desde aquele dia os pássaros pararam de vir a ele. As pessoas vinham para ver, mas nenhum pássaro se aproximava, e elas ficaram surpresas. Elas perguntaram ao Mestre: “O que aconteceu com seu discípulo? Antes os pássaros costumavam vir e os animais costumavam sentar ao lado dele, mas agora eles não vêm mais”. O Mestre respondeu: “Agora ele desapareceu, ele não é mais especial. Ele alcançou. Agora os pássaros não prestam nenhuma atenção a ele e os animais simplesmente passam sem o notar. Ele não está ali! Antes ele costumava estar ali, ele estava se tornando uma pessoa especial, estava alcançando um tipo específico de ego. Agora, mesmo isso foi abandonado. Ele estava se tornando iluminado, e agora mesmo a iluminação foi abandonada! Assim, os pássaros não vêm mais a ele. Por que eles deveriam vir quando não há ninguém? E por que
  • 37. os animais deveriam vir e se sentar ali? Eles podem se sentar em qualquer lugar, dá tudo no mesmo. Não há mais ninguém”. Perceba o ponto! O Zen tem uma abordagem em relação à vida totalmente diferente. Agora o Mestre está feliz porque o discípulo desapareceu completamente — pois a pessoa pode até mesmo ficar apegada à idéia de iluminação. E você precisa ficar alerta em relação a isso. Há alguns meses eu disse a Somendra: “Você teve um pequeno satori” — desde então eu não o vi rir, desde então ele ficou muito sério. Ele se iluminou! Ele levou isso a seu coração e se tornou especial. Ele não pode rir ou desfrutar — ele não pode ser comum. E agora, se esta idéia penetrar muito nele, ela se tornará uma crosta à sua volta. Ele precisa abandoná-la, precisa novamente se tornar não-iluminado e esquecer aquele satori. E não que não houve — houve —, mas muitos satoris acontecem antes de o satori supremo ocorrer. E o satori supremo é o abandono de todos os satoris, de todos os samadhis. A iluminação suprema é quando você se esquece da própria idéia de iluminação. Então há inocência, há apenas a simples natureza. Fiz uma brincadeira com Somendra e ele foi pego nela. ESTOU CRIANDO AQUI UM CLIMA DE TRABALHO — muitas coisas estão acontecendo e muitas vão acontecer. E você precisa estar pronto, e a primeira prontidão é: quando eu o golpear, o chocar — agora Somendra ficará chocado —, utilize o choque para ficar um pouco mais alerta, mais consciente. O Zen é uma estratégia, não uma análise da vida. E, lembre-se sempre, o Universo é incognoscível, absolutamente, pois ele está vivo. A análise mata. E lembre-se também: somente coisas mortas podem ser conhecidas. A vida permanece desconhecida e incognoscível. No momento em que você conhece, você mata algo. E as pessoas ficam matando; elas matam o amor — uma vez que elas o analisam, ele está morto. As pessoas são tão violentas que mesmo no amor a sua violência está claramente presente, gritantemente presente. Mandar flores é uma forma de sacrifício de vida para mostrar uma alta consideração. Quando você manda uma bela rosa para sua namorada ou namorado, o que você está dizendo? Isso não é compreendido. O que você está dizendo quando você diz algo com uma flor? Você dá uma rosa à sua namorada — o que você está dizendo? Você está dizendo: “Eu matarei por você, baby! Estou disposto a matar, posso assassinar. Veja, matei esta rosa”.
  • 38. Mesmo o seu amor nada mais é do que um jogo de poder. O poder sempre mata. Bacon disse que o conhecimento é poder — deve ser, pois o conhecimento também mata. Quando você pode matar algo, você sente grande poder. Ouvi dizer que o passatempo favorito das pessoas à volta de Stálin era caçar. Quando Brejnev levou Kissinger para uma caçada, ele mostrou o seu poder. Diz- se que sempre que Tito desejava saber se ele ainda estava no controle ele matava veados e ursos. Sempre que as pessoas querem saber se são poderosas, elas matam. Adolf Hitler precisou matar para mostrar o seu poder. E o ato de matar acontece em muitos níveis. O conhecimento também é uma maneira sutil de matar algo. As pessoas do Zen não estão interessadas no conhecimento, pois elas não estão interessadas no poder. Elas estão interessadas na vida como ela é. Elas estão interessadas no café da manhã, não em Deus, no céu, na alma, nas vidas passadas e futuras. Simplesmente o café da manhã. Elas são inteiramente pelo imediato. Conhecemos somente aquilo que matamos. Portanto, nunca seja um buscador de conhecimento, do contrário você se tornará um assassino, um matador. É isso o que a ciência fica fazendo; em todos os laboratórios científicos nada mais há do que assassinatos e assassinatos— eles mataram a natureza, e continuam matando. Essa e uma bela estratégia para ocultar a violência. Vá a um laboratório científico e veja quantas maneiras eles criaram para torturar animais simples e inocentes — em nome de experimento, de investigação, da verdade! Torturas inimagináveis. Mas quando é em benefício da verdade é permitido — ninguém considera o cientista violento. Ninguém considera o filósofo violento, mas ele também é violento. Ele fica analisando tudo. O Zen não está interessado em matar, nem mesmo em matar uma única palavra. Ele não está interessado em saber, mas em ser. E estes sutras o ajudarão a perceber isso. Meu lugar permanente Não tem pilares; Ele é descoberto — Mesmo assim a chuva não o molha Nem o vento o golpeia. Investigue cada palavra com profundo amor e simpatia. Primeiro: Meu lugar permanente Não tem pilares;
  • 39. O INTERIOR NÃO TEM FRONTEIRAS, suportes ou pilares. Ele é espaço infinito, espaço puro. Ele é não-coisa, e não há ninguém ali. Ele é completamente silencioso; nem um único som jamais penetrou ali. Ninguém jamais caminhou naquela praia de seu ser interior, nenhuma pegada está ali. Ele é uma terra virgem. Se você investigar esse espaço interior, você começará a desaparecer. Quanto mais você olhar para dentro, mais você desaparecerá. É por isso que as pessoas não querem olhar para dentro. Elas falam sobre autoconhecimento, sobre como olhar para dentro, sobre técnicas, mas elas não olham. E não existe técnica. Olhar para dentro é um fenômeno muito simples, tão simples como olhar para fora. Você pode simplesmente fechar os olhos e olhar para dentro. Mas o medo surge, grande medo surge ao olhar para dentro, pois aquele vazio o esmaga. Você começa a desaparecer, a sentir como se fosse morrer. Você corre para trás e começa a pensar em mil e uma coisas. Você já observou isso? Sempre que você se senta em silêncio e olha para dentro, a mente imediatamente cria muitos pensamentos. Por quê? Essa é sua estratégia. É como o polvo: sempre que ele vê que algum inimigo está se aproximando, ele libera uma tinta escura como uma nuvem à sua volta. Imediatamente a nuvem de tinta o circunda e o inimigo não pode ver onde ele está. Quando você vai para dentro, imediatamente sua mente começa a secretar mil e um pensamentos; imediatamente há uma grande corrida de energia para o pensamento. Isso é exatamente como o polvo liberando tinta escura em volta de si mesmo — cria uma nuvem, de tal modo que você não possa ver o nada mais íntimo. Você não quer perceber. Perceber é cometer suicídio, suicídio como um ego, como um eu. Ikkyu diz: Meu lugar permanente Não tem pilares; Ele é descoberto... É exatamente como o vasto céu aberto... nenhum pilar, nenhum telhado. Ele é a infinidade. Mesmo assim a chuva não o molha Nem o vento o golpeia. Como a chuva pode molhá-lo se não há telhado nem pilar, nem mesmo chão? Você acha que quando chove o céu fica molhado? O céu permanece como ele é; as chuvas não podem molhá-lo. Você acha que quando há nuvens elas
  • 40. provocam algum impacto no céu? Você acha que o céu fica contaminado e poluído pelas nuvens? Você acha que ele fica escurecido? Você acha que alguma marca é deixada no céu? Nada é deixado. Como se pode tocar o puro nada? E da mesma maneira que há um céu externo há um interno. E “externo” e “interno” são apenas palavras arbitrárias. No dia em que você souber, tudo é um céu — externo e interno, tudo é um. A pessoa precisa ser muito corajosa para investigá-lo, e uma vez que você tenha a coragem de perceber a sua realidade todos os medos desaparecem, pois todos eles são pelo ego, são devido ao ego. “Vou sobreviver ou não?” O medo é isso. Mas, uma vez que você tenha visto o céu interno, o medo não pode permanecer. Você não é, e daí? Você jamais foi e jamais será, nem nasceu nem morreu. E aquilo que é, sempre esteve e sempre estará ali, mas você não é aquilo! Isso aparece somente quando você não é, quando você desapareceu. Você é apenas um sonho. O sonhador também é parte do sonho, e quando o sonho desaparece o sonhador também desaparece. Ao viver neste espaço interior, você não fica preocupado com a segurança. Então a insegurança é segurança. É isso o que Alan Watts indica com a expressão “a sabedoria da insegurança”. Há somente uma maneira de estar realmente seguro, e esta é: não tenha telhado ou pilar. Mova-se para o céu aberto, e então se chover deixe que chova — você não ficará molhado. Você será o céu, então como pode se molhar? Então, se a morte vier, deixe que venha — você não estará morrendo, pois como você pode morrer? Você nunca nasceu, você não existe como uma coisa, como uma entidade. Ao viver na insegurança, a pessoa está segura. Ao tentar ficar segura, a pessoa permanece insegura. Esta é a lei do efeito inverso. Se você deseja algo, você o perde — simplesmente porque você o deseja. Quanto mais você o deseja, mais dificuldades você cria; e então há um círculo vicioso. Você quer ficar seguro, você não quer morrer. Se você não quer morrer, você terá que morrer mil e uma mortes; você terá que morrer todos os dias. Se você não quer morrer, então tudo se tornará uma mensagem da morte, então você estará continuamente tremendo de medo. Você verá a morte vir de todos os lugares. E se você se esquecer completamente da morte e a aceitar então mesmo na morte você não morrerá, mesmo na morte você será um observador. A morte virá e partirá, e você a verá vindo e a verá passando, e você permanecerá, você a enfrentará. Aquilo que permanece em você para sempre não é uma entidade, mas uma consciência. Ela não é uma alma, ela é perceptividade, pura perceptividade, a qual é parte da perceptividade universal. Meu lugar permanente Não tem pilares; Ele é descoberto —
  • 41. Mesmo assim a chuva não o molha Nem o vento o golpeia. Um Mestre Zen e seus discípulos estavam caminhando. Eles depararam com um pequeno rio, precisando atravessá-lo. O rio não era muito fundo, era raso, e eles começaram a passar por ele. O Mestre sempre dizia aos discípulos: “Quando um iluminado atravessa um rio, seus pés nunca se molham”. Todos os discípulos estavam esperando por uma oportunidade para constatar isso. Eles ficaram perplexos, pois os pés do Mestre estavam molhados. Eles ficaram muito confusos: “Nosso Mestre ainda não é iluminado?” E no meio do rio o Mestre começou a dar uma sonora gargalhada, e eles perguntaram: “O que está havendo?” Ele respondeu: “Seus tolos! Eu disse que os pés de um iluminado nunca ficam molhados, e meus pés não estão molhados; os pés que ficaram molhados não são meus pés. Vocês não precisam ficar confusos, não precisam ficar tão intrigados e perplexos. Esta água não está me tocando! Nada pode me tocar, pois eu não sou. Esta água do rio não está tocando o céu, não está deixando o céu molhado — como ela pode me deixar molhado? Eu sou parte do céu”. Mesmo assim a chuva não o molha Nem o vento o golpeia. Portanto, quando você está em comunhão com um Mestre, lembre-se: você está em comunhão com alguém que é ninguém, com algo que não é uma entidade, mas somente uma presença. Comungar com um Mestre não é comungar com uma pessoa, mas com uma presença. Uma pessoa ficará molhada; contudo, a presença não pode ficar molhada. A presença permanece não-contaminada. Esta presença é você. A pessoa precisa apenas encontrá-la — isso é tudo. Mas você ficou tão envolvido com as idéias a respeito de você mesmo — que você é um hindu, um muçulmano, um cristão, um homem, uma mulher, branco, preto, isso e aquilo —, tão envolvido com identidades, que você nunca olhou para dentro para ver que você é apenas um puro céu e nada mais. Nenhum hindu, muçulmano, homem, mulher, preto ou branco existem aí. Essas são todas identidades. Pense naquele que está identificado com essas coisas, pense no céu interior. Estas são todas nuvens — hindu, muçulmana, cristã, comunista, capitalista. Não fique muito obcecado com as nuvens. Continue a se lembrar do céu. Quando ele sopra, O vento da montanha é turbulento, Mas quando ele não sopra
  • 42. Ele simplesmente não sopra. UMA VEZ PERCEBIDO este nada interior, a pessoa se torna aquilo que é. Esta expressão “aquilo que é” tem um valor infinito na experiência de Buda, no caminho de Buda — tathata ou aquilo que é. Quando não há ninguém, então o que acontece? Algumas coisas acontecem... Primeira, se não houver alguém, não há alguém para controlar sua vida, para manipular, para disciplinar. Todo controle, disciplina e manipulação desaparecem. Liberdade é isso, moksha é isso, não algo distante nos céus, mas algo no fundo de você, agora mesmo. Quando você não existe, como você pode controlar sua vida? Todo controle desaparece, e com ele desaparecem todos os tipos de tensões, nervosismos e ansiedades. Você se torna um fluxo aberto, tão aberto que, Quando ele sopra, O vento da montanha é turbulento, Mas quando ele não sopra Ele simplesmente não sopra. Então, tudo o que acontece, acontece. Uma pessoa Zen é totalmente diferente de um iogue, e a distinção precisa ser compreendida. O iogue está sob imenso controle. Toda a metodologia da Ioga é como se controlar, como controlar absolutamente. A pessoa da Ioga não se perturba porque ela está sob completo controle, e a Zen não se perturba porque não há controle. Mas a diferença é imensa. O iogue não está sob controle absoluto, ninguém pode estar. Existem possibilidades em que ele perderá o seu controle. Precisa-se apenas proporcionar essas oportunidades — ele perderá o controle, pois todo controle é relativo e ele existe somente até certo ponto. Observe o seu controle: se você deparar com uma nota de dez rupias, você pode não roubá-la, mas se forem dez mil rupias? Então você se sente um pouco inclinado. E um milhão de rupias? Então você começa a pensar, e a idéia parece ser digna de consideração. Você começa a sonhar... um milhão de rupias? E apenas por essa vez, e as pessoas estão cometendo tantos pecados, e você fará um e apenas um. E então você pode doar a metade do dinheiro para a igreja ou para o templo. E isso também não está tão errado, pois o dinheiro não pertence a um mendigo, mas a alguém muito rico, e para ele não importa ter menos ou mais que um milhão de rupias. E em primeiro lugar, ele explorou pessoas para ter esse dinheiro. Agora você está juntando energia para fazê-lo!