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OSHO
Um Pássaro
em Vôo
Conversas sobre o Zen
UNIVERSALISMO
Sumário
Capítulo 1 — Esvazie a Sua Xícara
Capítulo 2 — Sem mente, sem verdade
Capítulo 3 — Os portões do céu e do inferno
Capítulo 4 — Aceite uma Xícara de Chá
Capítulo 5 — Mestre do Mosteiro Novo
Capítulo 6 — O Milagre de Ser Ordinário
Capítulo 7 — O Professor Severo
Capítulo 8 — Zen Sem Escrever
Capítulo 9 — Salvem o Gato
Capítulo 10 — O Mestre do Silêncio
Capítulo 11 — Fique Sóbrio
CAPÍTULO 1
Esvazie a Sua Xícara
O mestre japonês Nan-in recebeu um professor de filosofia.
Servindo-lhe o chá, Nan-in encheu a xícara do visitante, e continuou vertendo.
O professor assistiu ao transbordamento até não conseguir mais conter-se:
“Pare! A xícara está cheia, nada mais pode entrar”.
Nan-in disse:
“Assim como esta xícara, você está cheio de suas próprias opiniões e
especulações. Como posso mostrar-lhe o zen sem que você esvazie a sua xícara
primeiro?”.
Você está diante de uma pessoa até mais perigosa que Nan-in, porque para mim
uma xícara vazia não é suficiente; a xícara tem que ser quebrada
completamente. Mesmo vazio, se você estiver lá, então você está cheio. Até
mesmo o vazio o preenche. Se sente que está vazio, você não está
absolutamente vazio, você está lá. Só o nome mudou: agora você chama a si
mesmo de vazio. A xícara não ajuda; ela tem que ser quebrada completamente.
Somente quando você não é nada é que o chá pode ser vertido em você, é
somente quando você não é, que não há uma real necessidade de verter o chá.
Quando você não é, tudo o que é vivo começa a verter, tudo o que é vivo
transforma-se numa chuva em todas as dimensões, em todas as direções.
Quando você não é, o divino é.
A história é bonita. A situação foi focada para um professor de filosofia. A história
diz que um professor de filosofia foi se encontrar com Nan-in. Ele deve ter vindo
pelas razões erradas, porque todo professor de filosofia, como tal, está sempre
errado. Filosofia significa intelecto, raciocínio, pensamento, argumentação. E
este é o caminho do erro, porque você não pode estar apaixonado pela
existência se for argumentativo. A argumentação é uma barreira. Se você
discute, você está fechado; a existência inteira se fecha para você. Então você
não está aberto e a existência não lhe está aberta.
Quando você discute, você afirma. Afirmação é violência, agressão, e a verdade
não pode ser conhecida por uma mente agressiva, a verdade não pode ser
descoberta pela violência. Você só pode vir a conhecer a verdade quando estiver
apaixonado. Mas o amor nunca discute. Não há nenhum argumento no amor,
porque não há agressão. E veja, não só aquele homem era um professor de
filosofia, você também é. Todo homem carrega a sua própria filosofia, e cada
homem à sua maneira é um professor, porque professa as suas idéias, visto que
acredita nelas. Você tem opiniões, conceitos, e, por causa das suas opiniões e
conceitos, seus olhos estão embaçados, eles não podem ver; sua mente é
estúpida, ela não pode saber.
Idéias criam estupidez, porque quanto mais as idéias estão presentes, mais a
mente está sobrecarregada. E como uma mente sobrecarregada pode saber?
Quanto mais idéias existem, é como quando o pó se juntou no espelho. Como
pode o espelho espelhar? Como pode o espelho refletir? A sua inteligência está
coberta por opiniões, o pó, e todos que estão cheios de opiniões são obrigados
a ser estúpidos e obtusos. É por isso que os professores de filosofia quase
sempre são estúpidos. Sabem demais para poder saber algo. Eles estão
carregados demais. Não podem voar no céu, não podem ter asas. E estão tão
arraigados na mente, que não podem ter raízes na terra. Eles não estão
conectados com a terra e não são livres para voar no céu.
E lembre-se, você é igual. Pode haver diferenças de quantidade, mas toda mente
é qualitativamente a mesma, porque a mente pensa, discute, armazena e junta
conhecimento e torna-se opaca. Só as crianças são inteligentes. E se você puder
manter a sua infância, se recuperar a sua infância continuamente, você
permanecerá inocente e inteligente. Se você juntar pó, a infância está perdida,
não há mais inocência; a mente fica sombria e estúpida. Agora você pode ter
filosofias. E quanto mais filosofias você tiver, mais longe estará do divino.
Uma mente religiosa é uma mente não filosófica. Uma mente religiosa é
inocente, inteligente. O espelho está límpido, o pó não foi juntado; e diariamente
uma limpeza contínua é feita. Isto é o que eu chamo meditação.
Esse professor de filosofia veio encontrar Nan-in. Ele deve ter vindo por razões
erradas: ele deve ter vindo para receber algumas respostas. Essas pessoas
cheias de perguntas estão sempre à procura de respostas. E Nan-in não pode
dar uma resposta. É tolo se interessar por perguntas e respostas. Nan-in pode
lhe dar uma nova mente, Nan-in pode lhe dar um novo ser, Nan-in pode lhe dar
uma existência nova em que nenhuma pergunta surge. Mas Nan-in não está
interessado em responder a uma pergunta particular. Ele não está interessado
em dar respostas. Nem eu.
Você deve ter vindo aqui com muitas perguntas. Tem que ser assim, porque a
mente faz nascer perguntas. A mente é um mecanismo de criação de perguntas.
Alimente-a com qualquer coisa, logo vem uma pergunta, e, depois dela, muitas
perguntas. Dê-lhe uma resposta; imediatamente ela a converte em muitas
perguntas. Você está aqui, cheio com muitas perguntas, sua xícara já está cheia.
Não tem nenhuma necessidade de Nan-in verter qualquer chá aí, você já está
transbordando.
Eu posso dar-lhe uma nova existência; é por isto que o convidei aqui, eu não lhe
darei nenhuma resposta. Todas as perguntas, todas as respostas são inúteis,
são só um desperdício de energia. Mas eu posso transformá-lo, e essa é a única
resposta. E essa resposta resolve todas as perguntas.
A filosofia tem muitas perguntas, muitas respostas, milhões. A religião tem uma
só resposta; qualquer que seja a pergunta, a resposta permanece a mesma.
Buda dizia: Você pode experimentar a água do mar em qualquer lugar, o gosto
permanece o mesmo: o da sua salinidade.
O que quer que você pergunte é realmente irrelevante. Eu responderei sempre
o mesmo, porque tenho apenas uma resposta. Mas essa resposta é como uma
chave mestra; abre todas as portas. Não está relacionada a qualquer fechadura
particular; qualquer que seja a fechadura, a chave a abre. A religião tem só uma
resposta e essa resposta é a meditação. Meditar significa esvaziar-se.
Quando alcançou a cabana de Nan-in, o professor devia estar cansado. E Nan-
in disse: “Espere um pouco”. Ele devia estar com pressa. A mente sempre está
com pressa, e sempre está à procura de realizações instantâneas. Para a mente,
esperar é muito difícil, quase impossível. Nan-in disse: “Eu lhe prepararei um
pouco de chá. Você parece cansado. Espere um pouco, descanse um pouco, e
tome uma xícara de chá. E então nós poderemos discutir”.
Nan-in ferveu a água e começou a preparar o chá. Mas ele deve ter observado
o professor. Não era só a água que estava fervendo; o professor também estava
fervendo por dentro. Não era só a chaleira de chá que emitia ruídos, o professor
também estava produzindo sons interiores, tagarelando, falando continuamente.
O professor deve ter pensado: O que perguntar? Como perguntar? Por onde
começar? Ele deve ter permanecido num monólogo profundo. Nan-in deve ter
sorrido e observado: Este homem está muito cheio, tanto que nada pode
penetrar nele. A resposta não pode ser dada porque não há ninguém para
recebê-la. O convidado não pode entrar na casa, não há nenhum quarto
disponível. Nan-in deve ter desejado tornar-se um convidado desse professor.
Sem compaixão, um buda sempre quer tornar-se um convidado dentro de você.
Ele bate em todos lugares, mas não há nenhuma porta. E até mesmo se ele
quebrar uma porta, o que é muito difícil, não há nenhum quarto disponível ali.
Você está demasiado cheio consigo mesmo e com o lixo e com todos os tipos
de móveis que recolheu ao longo de muitas e muitas vidas, não consegue nem
mesmo entrar dentro de si; não há nenhum quarto, nenhum espaço. Você só
vive fora de seu próprio ser, só nos degraus. Você não pode entrar dentro de si,
tudo está bloqueado.
Então Nan-in serviu o chá na xícara. O professor ficou pouco à vontade, porque
Nan-in continuava a verter o chá. Estava transbordando; logo iria para o chão.
Então o professor disse: “Pare! O que está fazendo? Agora esta xícara não pode
conter mais chá, nem mesmo uma única gota. Você está louco? O que está
fazendo?”
Nan-in disse: “Com você é a mesma coisa. Você está tão atento em observar
que não se dá conta de que a xícara está cheia e não pode receber mais. Por
que você não está tão atento para o seu próprio ego? Você está transbordando
de opiniões, filosofias, doutrinas, escrituras. Você já sabe muito; eu não posso
lhe dar nada. Você viajou em vão. Antes de vir a mim, você deveria ter esvaziado
a sua xícara, então eu poderia verter algo nela”.
Mas eu lhe digo, você procurou uma pessoa muito perigosa. Não, eu não
permitirei uma xícara vazia, porque se a xícara está aí, você vai enchê-la. Você
é tão viciado e se tornou tão acostumado que não pode permitir que a xícara
fique vazia nem por um único momento. No instante em que vê a vacuidade em
qualquer lugar, você começa a preenchê-la. Você tem tanto medo da vacuidade,
muito medo: a vacuidade aparece-lhe como a morte. Você vai enchê-la com
qualquer coisa, mas a encherá. Não, eu o convidei a vir aqui para destruir essa
xícara completamente, de tal forma que mesmo se você quiser, não vai poder
enchê-la.
Vacuidade significa que não sobrou nenhuma xícara. Todas as paredes
desapareceram, o fundo caiu; você se tornou um abismo. Então eu posso me
verter em você. Muito será possível, se você permitir. Mas permitir é árduo,
porque para permitir você terá de render-se. Vacuidade significa rendição.
Nan-in estava dizendo àquele professor: Incline-se, renda-se, esvazie sua
cabeça. Eu estou pronto para verter. Aquele professor nem mesmo tinha feito a
pergunta e Nan-in já havia respondido, porque realmente não há nenhuma
necessidade de fazer a pergunta. A pergunta permanece a mesma.
Quer você me pergunte ou não, eu sei qual é a pergunta. Muitos de vocês estão
aqui, mas eu sei a pergunta, porque lá no fundo a pergunta é uma: a ansiedade,
a angústia, a ausência de significado, a futilidade desta vida inteira, não saber
quem é você. Mas você está cheio. Permita-me quebrar essa xícara. Essa
estada vai ser uma destruição, uma morte. Se você está pronto para ser
destruído, algo novo sairá disto. Toda destruição pode tornar-se um nascimento
criativo. Se está pronto para morrer, você pode ter uma vida nova, pode
renascer.
Eu só estou aqui para ser um parteiro. É isto o que Sócrates costumava dizer,
que um mestre é simplesmente um parteiro. Eu posso ajudar, posso proteger,
posso guiar, isso é tudo. O fenômeno real, a transformação, vai acontecer em
você. O sofrimento estará aí, porque nenhum nascimento é possível sem sofrer.
Muita angústia surgirá, porque você a acumulou e ela tem de ser liberada. Serão
necessárias uma limpeza profunda e uma catarse.
O nascimento é igual à morte, mas o sofrimento vale a pena. Além da escuridão
do sofrimento, uma nova manhã surge, um novo sol nasce. E o amanhecer não
estará muito distante, quando você sentir bem a escuridão. Quando o sofrimento
for insuportável, a alegria estará muito próxima. Assim, não tente escapar do
sofrimento, isso é o essencial que você pode não entender. Não tente evitar isso,
atravesse isso. Não tente achar alguma maneira de rodear, não, não faça isso.
Atravesse. O sofrimento irá queimá-lo, destruí-lo, mas você não pode ser
destruído de verdade. Tudo aquilo que pode ser destruído é só o lixo que você
juntou. Tudo aquilo que pode ser destruído é algo que não é você. Quando tudo
isso for destruído, então você sentirá que é indestrutível, que é imortal. Passando
pela morte, atravessando a morte conscientemente, percebemos a vida eterna.
Nesses poucos dias em que você estará aqui comigo, muitas coisas são
possíveis, mas o primeiro passo para lembrar é passar pelo sofrimento. Muitas
vezes eu crio sofrimento para você; muitas vezes eu crio uma situação em que
tudo o que é contido interiormente em você aparece. Não coíba, não reprima.
Permita-o, liberte-o. Se você pode livrar seu sofrimento, seu sofrimento contido,
você se tornará livre dele. E você só pode alcançar o estado de beatitude quando
todo o sofrimento for liberado, atirado para fora, completamente suprimido.
E eu posso ver através de você: a chama da beatitude está muito perto. Um só
vislumbre e aquela chama se tornará sua. Eu o forçarei de várias maneiras para
que possa ter um vislumbre disso. Se você falhar, somente você será o
responsável, mais ninguém. O rio está fluindo, mas se você não puder se
abaixar, se não descer de seu estado egoístico de mente, você pode ir embora
sedento. Não culpe o rio. O rio estava lá, mas você foi paralisado pelo seu ego.
É isto que Nan-in diz: Esvazie a xícara. Isso significa esvazie a mente. O ego
está lá, transbordando, e quando o ego está transbordando, nada pode ser feito.
Toda a existência está ao seu redor, mas nada pode ser feito. Ao redor está o
divino... envolvendo-o..., mas nada pode ser feito. Não há nenhum lugar por onde
o divino pode penetrar em você, tal é a fortaleza que você criou. Esvazie a xícara.
Ou melhor, despeje completamente a xícara. Quando eu digo despeje a xícara
completamente, o que quero dizer é ficar tão vazio que você não tem sequer o
sentimento de “eu estou vazio”.
Certa vez, um discípulo veio a Bodhidharma e disse: “Mestre, você me disse
para ficar vazio. Agora eu fiquei vazio. E então, o que mais me diz?”.
Bodhidharma deu-lhe uma pancada forte na cabeça com seu bastão e disse: “Vá
e jogue fora esse vazio”.
Se você disser “Eu estou vazio”, o “Eu sou” está lá, e o “Eu” não pode estar vazio.
Assim, a vacuidade não pode ser reivindicada. Ninguém pode dizer “Eu estou
vazio”, da mesma maneira que ninguém pode dizer “Eu sou humilde”. Se você
disser “Eu sou humilde”, você não é. Quem reivindica essa humildade?
Humildade não pode ser reivindicada. Se você for humilde, você é humilde, mas
você não pode dizer isso. Não só você não pode dizer isso, você não pode sentir
que é humilde porque o próprio sentimento dará à luz novamente o ego. Fique
vazio, mas não pense que está vazio, caso contrário você está se ludibriando.
Você trouxe muitas filosofias consigo. Jogue-as fora. Elas não o ajudaram em
nada, elas não fizeram nada para você. Há tempo suficiente, o tempo certo.
Jogue-as fora, todas de uma vez, não aos poucos, não em fragmentos. Durante
esses poucos dias que você estará aqui comigo, simplesmente permaneça sem
qualquer pensamento. Sei que é difícil, mas, ainda assim, eu digo que é possível.
E uma vez que você aprender o macete disso, irá rir de toda a insensatez da
mente que você esteve carregando por tanto tempo.
Ouvi falar de um homem que estava viajando pela primeira vez em um trem, um
aldeão. Ele estava carregando a bagagem sobre a cabeça, pensando: “Colocar
isso no chão será demais para o trem carregar, e eu só paguei por mim. Comprei
a passagem, mas não paguei pela bagagem”. Assim ele estava carregando a
bagagem sobre a cabeça. O trem estava carregando a ele e a sua bagagem, e
quer ele a carregue na cabeça ou a coloque no chão, para o trem dá na mesma.
A sua mente é a bagagem desnecessária. Dá na mesma para esta existência
que o está carregando; você está sobrecarregado desnecessariamente. Eu digo:
Jogue isso fora. As árvores existem sem a mente e são mais formosas que
qualquer ser humano; os pássaros existem sem a mente e vivem em um estado
mais elevado do que qualquer ser humano. Olhe para as crianças que ainda não
são civilizadas, que ainda são selvagens. Elas existem sem a mente, e até
mesmo um Jesus ou um Buda sentirá inveja da inocência delas. Não há
nenhuma necessidade dessa mente. O mundo inteiro vai para a frente sem isso.
Por que você a fica carregando? Será que você está pensando que será demais
para Deus, demais para a vida? Uma vez que você se livre dela, até mesmo por
um único minuto, toda a sua existência será transformada. Você entrará em uma
nova dimensão, a dimensão da leveza.
É isto que eu vou lhe dar: asas para o céu, no firmamento — a leveza lhe dá
essas asas —, e raízes na terra, um aterramento, um centro. Esta terra e aquele
céu: são duas partes do todo. Nesta vida, a denominada vida ordinária, você
deve estar enraizado; e em seu espaço interior, na vida espiritual, você deve ser
a leveza e voar, fluir, flutuando.
Raízes e asas eu posso lhe dar, se você permitir, porque eu sou só um parteiro.
Não posso forçar a criança para fora de você. Uma criança forçada será feia, e
uma criança forçada pode morrer. Somente permita-me. A criança está ali, você
já está grávido. Todos estão grávidos de Deus. A criança está ali e você já a
carregou por tempo demasiado; há muito tempo o período de nove meses
passou. Isso pode ser a origem de sua angústia — a de que você está
carregando algo no útero que necessita vir ao mundo, que precisa sair para fora,
que tem de nascer. Pense em uma mulher, uma mãe, carregando uma criança
depois do nono mês. Então torna-se cada vez mais penoso, e, caso o
nascimento não ocorrer, a mãe morrerá, porque será demais para ela suportar.
Isso pode ser a razão pela qual você está com tanta ansiedade, angústia, tensão.
Algo precisa nascer de você; algo precisa ser criado fora de seu útero. Eu posso
ajudar.
Este Samadhi Sadhana Shibir, este espaço para o êxtase interno e iluminação,
lhe servirá de ajuda para que aquilo que você carregou como uma semente até
agora possa sair de sua terra e venha a tornar-se algo vivo, uma planta viva. Mas
a coisa básica é que, se deseja estar comigo, você não pode estar com a sua
mente. Essas situações não podem acontecer simultaneamente. Sempre que
está com sua mente, você não está comigo; sempre que a mente não está ali,
você está comigo. E eu só posso trabalhar se você estiver comigo. Esvazie a
xícara. Jogue fora a xícara completamente; destrua-a.
Este lugar vai ser, de muitas formas, diferente. Esta noite eu começo uma fase
completamente nova de meu trabalho. Você é afortunado por estar aqui porque
será testemunha de um novo tipo de trabalho interior. Eu devo explicar isto a
você, porque amanhã de manhã a jornada vai começar.
Você estará fazendo meditação três vezes. Pela manhã, a dinâmica, à tarde, o
kirtan, e à noite, uma nova meditação será introduzida: a dança dos dervixes
sufis. Essas três meditações São fragmentos de um todo.
A primeira meditação que você fará pela manhã está relacionada com o sol
nascente. É uma meditação matutina. Quando o sono é rompido e tudo na
natureza torna-se vivente. A noite se foi, a escuridão não mais existe, o sol está
surgindo, e tudo torna-se consciente e alerta. Assim, essa primeira meditação é
do tipo em que você tem de estar continuamente alerta, consciente, atento em
tudo que faz. O primeiro passo, respirando; o segundo passo, catarse; o terceiro
passo, o mantra, o mahamantra, Hoo.
Permaneça uma testemunha. Não se perca. É fácil perder-se. Enquanto está
respirando, você pode esquecer; você pode se tornar um com a respiração a
ponto de esquecer a testemunha. Mas, então, você perdeu o essencial. Respire
mais rápido, tão profundamente quanto possível, traga toda a sua energia para
isso, mas ainda permaneça como testemunha. Observe o que está acontecendo
como se você fosse só um espectador, como se tudo estivesse acontecendo
com outra pessoa, como se tudo estivesse apenas acontecendo no corpo e a
consciência estivesse somente centrada e olhando. Esse testemunho tem que
ser mantido em todos os três passos. E quando tudo pára, e no quarto passo
você ficou completamente inativo, congelado, então essa vigilância alcançará o
seu ápice.
Na meditação vespertina, kirtan, dançando, cantando, outro trabalho interior tem
que ser feito. Pela manhã você tem que estar completamente consciente; na
meditação da tarde você tem que estar meio consciente, meio inconsciente. É
uma meditação do fluxo da tarde, quando você está alerta, mas se sente
sonolento. É como um homem que está sob a influência de algum tipo de droga.
Ele caminha, mas não pode fazê-lo corretamente; sabe para onde está indo, mas
tudo está escuro. Ele está consciente e não consciente. Ele sabe que tomou
álcool, sabe que seus pés estão oscilando, mas sabe disso meio adormecido,
semidesperto. Assim, na meditação da tarde, lembre-se disto, aja como se
estivesse intoxicado, bêbado, extático. Às vezes você se esquecerá
completamente de si, como um bêbado, às vezes se lembrará de si, mas não
tente ser consciente como de manhã. Não. Mova-se com o dia, meio a meio ao
meio-dia. Então você estará sintonizado com a natureza.
À noite, é só o oposto da manhã, esteja completamente inconsciente; não se
preocupe. A noite chegou, o sol se pôs, agora tudo está se movendo na direção
da inconsciência. Mova-se para a inconsciência. Esse girar, o rodopio sufi, é uma
das técnicas mais antigas, uma das mais fortes. É tão profundo que até mesmo
uma única experiência pode torná-lo totalmente diferente. Você tem que rodopiar
com os olhos abertos, como as crianças pequenas fazem, como se o seu ser
interior tivesse se tornado um centro e seu corpo inteiro uma roda, em
movimento, a roda de um oleiro, movendo-se. Você está no centro, mas o corpo
inteiro está em movimento.
Comece lentamente, no sentido dos ponteiros do relógio. Se alguém sentir que
é muito difícil mover-se nesse sentido, então mova-se no sentido anti-horário,
mas a regra é mover-se no sentido horário. Algumas pessoas canhotas podem
ter dificuldade; então podem mover-se no sentido anti-horário. Cerca de dez por
cento das pessoas são canhotas, assim, se você achar que no sentido horário
se sente desconfortável, mova se no sentido anti-horário; mas comece no
sentido horário, e então sinta. Com os olhos abertos, comece a mover-se.
A música vai estar ali, suave, só para ajudá-lo. No início mova-se muito devagar;
não vá rápido, vá muito lentamente, desfrutando. E então, pouco a pouco, vá
mais rápido. Nos primeiros quinze minutos vá lentamente; nos quinze minutos
seguintes, mais rápido; nos próximos quinze minutos, mais rápido ainda; nos
últimos quinze minutos, muito rapidamente. Então traga toda a sua energia...
você torna-se um redemoinho, um redemoinho de energia, perdido
completamente nele: nenhuma testemunha, nenhum esforço para observar. Não
tente ver; seja o redemoinho, seja aquele que rodopia. Uma hora.
No princípio você pode não conseguir por tanto tempo, mas lembre-se de uma
coisa: não seja você a parar, não deixe de girar. Se você sente que é impossível,
o corpo vai parar automaticamente, mas não faça a parada. Se você cair durante
essa hora não há nenhum problema; o processo está completo. Mas não pregue
peças em si mesmo, não se engane; não pense que agora está cansado e então
é melhor parar. Não, não tome uma decisão a seu favor. Se você está cansado,
como pode continuar? Você vai parar automaticamente. Assim, não pare a si
mesmo; deixe o rodopio chegar a um ponto em que você cai. Quando cair, caia
sobre o seu estômago; e será bom se o seu estômago entrar em contato direto
com a terra. Aí feche os olhos. Deite-se sobre a terra como se fosse o peito de
sua mãe, uma criança pequena que deita no peito da mãe. Fique completamente
inconsciente e esse rodopio irá ajudá-lo,
O rodopio intoxica o corpo. É uma coisa química, ele o intoxica, para ser exato.
É por isso que às vezes você pode sentir vertigens como um bêbado. O que
acontece ao bêbado? Escondido dentro de seus ouvidos há um sexto sentido, o
sentido do equilíbrio. Quando você toma qualquer bebida, qualquer coisa
alcoólica, qualquer droga que intoxica, isso entra diretamente na área de
equilíbrio no ouvido e perturba-o. É por isso que um bêbado não pode caminhar,
sente-se atordoado.
O mesmo acontece quando se rodopia. Se você rodopiar, realmente, o efeito
será o mesmo: você se sentirá intoxicado, bêbado. Mas aproveite, essa
embriaguez é valiosa. Estar nesse estado inebriante é aquilo que os sufis têm
chamado êxtase, masti. No começo você pode ter vertigens, no começo, às
vezes, você pode sentir náuseas, mas depois de dois, três dias, essas
sensações desaparecerão, e por volta do quarto dia você sentirá uma energia
nova em si mesmo que nunca conheceu antes. Então a vertigem desaparecerá,
e só um pouco da sensação de embriaguez permanecerá ali. Assim, não procure
estar alerta sobre o que está acontecendo. Deixe acontecer e torne-se um com
o acontecimento.
Pela manhã, alerta; pela tarde, meio alerta, meio não alerta; à noite,
completamente não alerta. O ciclo está completo.
E então caia no chão sobre o seu estômago. Se uma pessoa sentir qualquer tipo
de dor no centro do umbigo ao deitar no chão, então ela pode virar sobre as
costas, caso contrário, não. Se você sente algo, uma sensação dolorosa muito
funda no estômago, então vire sobre as costas, caso contrário, não. O umbigo
em contato com a terra lhe dará um sentimento de felicidade tal que só é
comparável àquele que uma vez você teve, mas agora esqueceu, quando era
uma criança que deitava no peito de sua mãe, completamente livre de qualquer
preocupação, qualquer ansiedade; dessa forma, era um com sua mãe, seu
coração batendo com o dela, a sua respiração sincronizada com a respiração
dela. O mesmo acontecerá com a terra, porque a terra é a mãe. É por isso que
os hindus têm chamado a terra de mãe e o céu de pai. Fique enraizado nisso.
Sinta uma fusão como se você tivesse se dissolvido. O corpo tornou-se um com
a terra; só a forma está lá, nada mais. Só existe a terra; você não está lá. Isto é
o que eu quero dizer quando eu peço para quebrar a xícara completamente:
esqueça quem você é. A terra é, dissolva-se nisso.
Durante a hora de rodopio, a música continuará. Muitos cairão antes da hora,
mas todos devem cair quando a música parar. Assim, se você sentir que ainda
não está a ponto de cair, então vá mais e mais rápido. Depois de quarenta e
cinco minutos, rodopie muito rapidamente, até que a hora se complete e você
caia. E o sentimento de cair é bonito, então não o manipule. Caia, e quando você
cair, vire-se sobre o seu estômago, funda-se, feche os olhos. Essa fusão tem
que durar uma hora.
Assim, a meditação noturna será de duas horas, das sete às nove horas. Não
coma nada antes disso. Às nove horas lhe será dada a sugestão para que saia
dessa embriaguez profunda, desse êxtase. Mesmo depois disso, pode ser que
você não consiga caminhar corretamente, mas não se preocupe, desfrute. Então
coma o seu alimento e vá dormir.
Outra novidade: eu não estarei lá; só a minha cadeira vazia estará lá. Mas não
sinta a minha falta, porque de certo modo eu estarei lá, e, de certa forma, sempre
houve uma cadeira vazia atrás de você. Agora mesmo a cadeira está vazia,
porque não há ninguém sentado nela. Eu estou falando com você, mas não há
ninguém falando com você. É difícil entender, mas quando o ego desaparece,
os processos podem continuar. A fala pode continuar, o sentar e o caminhar e o
comer podem continuar, mas o centro desapareceu. Mesmo agora, a cadeira
está vazia. Mas eu sempre estive com você até este instante em todos os
acampamentos, porque você não estava pronto. Agora eu sinto que você está
pronto. E você deve ser ajudado para adquirir mais disposição para trabalhar em
minha ausência, porque, sentindo que eu estou ali, você pode experimentar um
tipo de entusiasmo que é falso. Apenas sentindo que eu estou presente, você
pode fazer coisas que nunca quis fazer; apenas sob a minha influência você
pode esforçar-se mais. Isso não é de muita ajuda, porque só o que pode ser útil
é o que sai de seu ser. Minha cadeira estará lá, eu estarei assistindo-o, mas você
sente-se completamente livre. E não pense que eu não estou lá, porque isso
pode deprimi-lo, e então essa depressão vai perturbar a sua meditação.
Eu estarei lá, e se você meditar corretamente, sempre que sua meditação for
sintonizada com precisão, você me verá. De forma que esse será o critério para
você saber se está realmente meditando ou não. Muitos de vocês poderão me
ver mais intensamente do que podem me ver bem agora, e sempre que você me
vê, pode ter certeza de que as coisas estão acontecendo na direção certa.
Assim, esse será o critério. Até o final deste acampamento, espero que noventa
por cento de vocês tenham me visto. Dez por cento podem não conseguir por
causa de suas mentes. Assim, se você me vê, não comece a pensar sobre isso,
sobre o que está acontecendo, não comece a pensar se é a imaginação ou uma
projeção ou se eu estou realmente ali. Não pense, porque, se você pensar,
imediatamente eu desaparecerei; pensar se tornará uma barreira. O pó surgirá
no espelho e não haverá nenhum reflexo. Sempre que o pó não estiver lá, você
se conscientizará de minha presença mais do que você o faria no momento
presente. Estar atento ao corpo físico não requer muita consciência; estar atento
ao ser não físico é a consciência verdadeira.
Vocês têm que aprender a trabalhar sem mim. Vocês não podem estar aqui o
tempo todo, terão que ir para longe; não podem ficar comigo para sempre, têm
outros trabalhos para fazer. Vocês vieram de países diferentes do mundo inteiro;
vocês terão de ir. Durante alguns dias ficarão aqui comigo, mas se vocês se
viciarem com a minha presença física, nesse caso, em lugar de ser uma ajuda,
isto pode tornar-se uma perturbação, porque então, quando forem embora,
vocês sentirão a minha falta. Suas meditações aqui devem ser de modo a que
possam ser feitas sem a minha presença; assim, onde quer que vocês estiverem,
a meditação não será de nenhuma forma afetada.
E isto também tem que ser lembrado: eu não poderei estar sempre neste corpo
físico com vocês; um dia ou outro o veículo físico tem que ser deixado. Meu
trabalho está completo até onde eu posso ver. Se estou carregando esse veículo
físico, é só para vocês; algum dia terá de ser abandonado. Antes que isso
aconteça, vocês devem estar prontos para trabalhar na minha ausência, ou na
minha presença não física, o que dá na mesma. E quando puderem sentir-me
em minha ausência, vocês estarão livres de mim, e então, mesmo se eu não
estiver aqui neste corpo, o contato não será perdido.
Isto sempre acontece quando um buda está ali: sua presença física torna-se
demasiado significativa. Então, quando ele morre, tudo se quebra. Até mesmo
Ananda, o discípulo mais íntimo de Gautama Buda, começou a chorar e a
lamentar-se quando o Buda disse: “Agora tenho que deixar este corpo”. Durante
quarenta anos, Ananda esteve com Buda vinte e quatro horas por dia, como uma
sombra. Ele começou a chorar e a lamentar-se como uma criança; de repente
ele tinha se tornado um órfão.
Buda perguntou: “O que você está fazendo?”
Ananda disse: “Agora será impossível para mim crescer. Eu pude crescer
quando você estava aqui, então como poderei crescer agora? Podem agora
passar-se milhões de vidas antes de eu me encontrar novamente com um buda,
sendo assim, eu estou perdido”.
Buda disse: “Minha compreensão é diferente, Ananda. Quando eu não estiver
aqui, você poderá ser iluminado imediatamente, porque este tem sido o meu
sentimento, você ficou muito preso a mim, e essa ligação está trabalhando como
um obstáculo. Você se prendeu excessivamente a mim; essa conexão está
funcionando como uma barreira”.
E aconteceu como Buda disse. O dia em que Buda morreu, Ananda foi iluminado.
Não havia nada para agarrar-se. Mas por que esperar? Quando eu morrer, então
vocês serão iluminados? Por que esperar?
Minha cadeira pode estar vazia; vocês podem sentir minha ausência. E lembrem,
só quando puderem sentir a minha ausência é que vocês poderão sentir a minha
presença. Se não podem ver-me enquanto meu veículo físico não estiver lá,
vocês nunca me viram. Esta é minha promessa: eu estarei lá na cadeira vazia,
e ela realmente não estará vazia. Procedam assim, cadeira não estará vazia!
Mas é melhor que vocês aprendam a entrar em contato com o meu ser não físico.
Este é um contato mais profundo, mais íntimo, mais tangível.
É por isso que eu digo que uma fase nova de meu trabalho começa neste
encontro, e estou chamando isto um Samadhi Sadhana Shibir. Não é só
meditação, é o êxtase absoluto que vou lhes ensinar. Não é só o primeiro passo,
é o último. Só parte da mente de vocês é necessária e tudo já está pronto. Só
estejam alertas para não pensar muito. Nos intervalos entre estas três
meditações, permaneçam calados, não falem. Se quiserem fazer algo, riam,
dancem: façam algo intenso e físico, mas não mental. Dêem um longo passeio,
vão correr pelos campos, saltem debaixo do sol, deitem na terra, olhem para o
céu, desfrutem, mas não deixem a mente funcionar muito. Riam, chorem,
lamentem-se, mas não pensem.
Se puderem ficar sem pensar durante estas três meditações e o intervalo entre
elas, então depois de três ou quatro dias vocês sentirão repentinamente que um
fardo desapareceu. O coração ficou claro, o corpo leve, e vocês estarão prontos
para dar um salto no desconhecido.
Mais alguma coisa?
Osho,
A última parte do que você nos disse é muito bonita e alegre, mas a primeira
parte é bastante assustadora, quebrar a xícara, sofrendo, caindo no chão, você
que não está lá. Então, nossa mente entra em ação e criamos justificativas para
o nosso corpo. Nós dizemos: “Eu tenho esta dor. Eu tenho esta bolha...”.
Você pode nos dar alguma pista de como podemos superar as barreiras que
criamos para nós mesmos quando deparamos com o medo?
Qualquer conflito criará mais barreiras. Se há medo e vocês começam a fazer
algo a respeito, então um medo novo surgirá: o medo do medo. Ficou mais
complexo. Assim, o que deve ser feito é: se o medo estiver lá, aceite-o. Não
façam nada a respeito porque fazer não ajudará. Qualquer coisa que vocês
fizerem para privar-se do medo criará mais medo; qualquer coisa que fizerem
para privar-se da confusão acrescentará mais confusão. Não façam nada.
Se o medo estiver lá, percebam que o medo está lá e aceitem isso. O que vocês
podem fazer? Nada pode ser feito; o medo está lá. Vejam, se vocês podem
simplesmente perceber que o medo está lá, então onde está o medo? Vocês
aceitaram isso; dissolveram. A aceitação dissolve; só a aceitação, nada mais. Se
vocês lutam, criam assim uma outra perturbação e isto pode continuar ad
infinitum, então isso não tem fim.
As pessoas vêm a mim e dizem: “Nós temos muito medo, o que deveríamos
fazer?” Se eu lhes der algo para fazer, elas o farão com o ser que está cheio de
medo, e assim a ação sairá do medo delas. E a ação que sai do medo só pode
ser medo.
Ouvi dizer que Adolf Hitler estava sofrendo de depressão profunda, melancolia,
e os psicólogos comentavam que isso era por causa de algum complexo de
inferioridade escondido. Então todos os psicólogos arianos foram chamados.
Eles tentaram, mas não puderam ajudar, nada conseguiram com suas análises.
Assim, eles sugeriram que um psicanalista judeu fosse chamado. A princípio,
Hitler não estava disposto a chamar um judeu, mas não vendo nenhuma outra
alternativa, teve que render-se. Um grande psicanalista judeu foi chamado. Ele
analisou, penetrou profundamente na mente de Hitler, em seus sonhos, e então
sugeriu: “Não é um problema muito grave. Simplesmente repita continuamente:
‘Eu sou importante, eu sou significativo, eu sou indispensável’. Faça com que se
torne um mantra. De noite, de dia, sempre que você lembrar, repita: ‘Eu sou
importante, eu sou significativo, eu sou indispensável’”.
Hitler disse: “Pare! Você está me dando um mau conselho”.
O psicanalista não conseguia entender. Ele disse: “O que você quer dizer? Por
que acha este conselho ruim?”.
Hitler disse: “Porque por mais que eu diga, eu estou sendo tão mentiroso que
não consigo acreditar nisso. Sou tão mentiroso, que não consigo acreditar em
qualquer coisa que eu diga. Se você diz: Repita ‘eu sou indispensável’, eu sei
que esta é uma mentira. Eu estou dizendo isto. Eu sou um mentiroso”.
Sobre as mentiras, se vocês repetirem algo isso se tornará uma mentira; sobre
o medo, se vocês fizerem algo, isso se tornará um novo medo. Sobre o ódio, se
vocês tentarem amar, esse amor se tornará um ódio escondido; não pode ser
outra coisa, vocês estão cheios de ódio. Vão aos pregadores e eles dirão: “Tente
amar”. Eles estão falando tolice, porque como pode uma pessoa que está cheia
de ódio tentar amar? Se ela tentar amar, esse amor sairá do ódio; já estará
envenenado, envenenado na própria fonte. E essa é a pobreza de todos os
pastores.
Gandhi disse às pessoas violentas: Tente ser não violento. Então a não-violência
delas sai da violência, assim, a não-violência delas é só uma fachada, só uma
face para mostrar. Profundamente, no íntimo, eles estão fervendo de violência.
Se seu brahmacharya, seu celibato, vem de muita sexualidade, será sexo
pervertido, nada mais.
Então, por favor, não criem nenhum conflito. Se vocês tiverem um problema, não
criem outro; permaneçam com ele, não lutem e criem outro. É mais fácil resolver
um problema velho do que um novo; e estando o primeiro mais perto da fonte, o
segundo será eliminado. Removendo o que está mais afastado da fonte, fica
mais difícil resolver o primeiro.
Se vocês tiverem medo, é medo que vocês têm, por que fazer disso um
problema? Então vocês sabem que têm medo, da mesma maneira que possuem
duas mãos. Por que criar um problema disso, como o fato de terem só um nariz
em vez de dois? Por que fazer disso um problema? O medo está ali: aceitem,
anotem. Aceitem, não se aborreçam com isso. O que acontecerá? De repente
vocês vão sentir que desapareceu. E esta é a alquimia interna: um problema
desaparece se vocês o aceitam, e um problema cresce mais complexo se
entrarem em conflito com ele. Sim, sofrer é isso, e de repente o medo vem;
aceitem-no. Está ali e nada pode ser feito a respeito. E quando eu digo que nada
pode feito a respeito, não pensem que estou lhes falando sobre pessimismo.
Quando digo que nada pode ser feito a respeito, eu estou lhes dando a chave
para resolver o problema.
O sofrer está aí. Faz parte da vida e do crescimento; não há nada de mau nisso.
Sofrer só se torna ruim quando é simplesmente destrutivo e não cria nada; sofrer
só é ruim quando vocês sofrem e nada ganham com isso. Mas eu estou lhes
falando que o divino pode ser obtido pelo sofrimento; então se torna criativo. A
escuridão é bonita se o amanhecer estiver próximo; a escuridão é perigosa se
for infinita, se não levar a um amanhecer, então ela simplesmente continua
indefinidamente e vocês permanecem num buraco, num círculo vicioso.
Isto é o que está acontecendo com vocês. Assim que se livram de um sofrimento,
acabam por criar outro; então livram-se outro, e de outro. E isto continua sem
parar, e todos esses sofrimentos que ainda não viveram estão esperando por
vocês. Vocês escaparam de um sofrimento para cair em outro, porque a mente
que estava criando um sofrimento criará outro. Assim, vocês podem escapar
deste sofrimento para cair em um outro, mas o sofrimento estará lá porque a
mente de vocês é a força criadora.
Aceitem o sofrimento e passem por ele; não fujam. Esta é uma dimensão
totalmente diferente para se trabalhar interiormente. O sofrimento está ali: vão
ao seu encontro, passem por ele. O medo vai estar lá, aceitem-no. Vocês
tremerão, então tremam. Por que criar uma fachada de que vocês não tremem,
de que não têm medo? Se vocês forem covardes, aceitem isso.
Todos são covardes. As pessoas que vocês chamam de valentes são só
fachadas. No fundo, elas são tão covardes quanto qualquer outra; ou melhor,
mais covardes. Só para esconder essa covardia elas criaram uma coragem ao
redor de si, e às vezes agem de tal modo que todos acreditam que elas não são
covardes. A coragem delas é só uma projeção. Como pode um homem ser
valente? ...porque a morte está ali. Como pode um homem ser valente? ...porque
ele é só uma folha ao sabor dos ventos. Como a folha pode ajudar tremendo?
Quando o vento sopra, a folha vai tremer. Mas você nunca diz à folha: “Você é
covarde”. Você só diz que a folha está viva. Assim, quando vocês tremem e o
medo os toma, vocês são uma folha no vento. Bem, por que fazer um problema
disso? Mas a sociedade criou problemas com relação a tudo.
Quando uma criança tem medo na escuridão, nós dizemos: “Não tenha medo,
seja valente”. Por quê? A criança é inocente, naturalmente ela sente medo da
escuridão. Você a força: “Seja valente”. Assim, ela também se esforça, então fica
tensa. Agora ela suporta a escuridão, mas está tensa; agora o ser inteiro dela
está pronto para tremer e ela reprime isso. Essa repressão do tremor a seguirá
agora por toda a vida. Era bom tremer na escuridão, nada estava errado. Era
bom chorar e correr, nada estava errado. A criança teria saído da escuridão mais
experiente, mais instruída. E ela teria percebido, ao atravessar a escuridão
tremendo e chorando e lamentando-se, que não havia nada para temer.
Reprimindo-se, vocês nunca experimentam as coisas em sua totalidade, nunca
ganham qualquer coisa fora disso. A sabedoria passa pelo sofrimento e pela
aceitação. Qualquer que seja o caso, tenha certeza disso.
Não se importem com a sociedade e com o seu julgamento. Ninguém está aqui
para julgá-los e ninguém pode fingir ser um juiz. Não julguem os outros e não se
perturbem e se preocupem com o julgamento deles. Vocês estão sós e são
únicos. Vocês nunca foram antes, nunca serão novamente. Vocês são bonitos.
Aceitem isso. E o que quer que aconteça, deixem isso acontecer e passem por
essa situação. Logo, o sofrimento será aprendizagem; então ele tornou-se
criativo.
O medo lhes dará a intrepidez. Sem a raiva virá a compaixão. Sem a
compreensão do ódio, o amor nascerá em vocês. Mas isto não acontece em um
conflito, e sim ao atravessá-lo com a consciência alerta. Aceitem e atravessem
isso. E se vocês fizerem questão de passar por todas as experiências, então
haverá a morte, a experiência mais intensa. A vida não é nada diante dela,
porque a vida não pode ser tão intensa quanto a morte.
A vida é distribuída ao longo de muito tempo, setenta anos, cem anos. A morte
é intensa porque não é distribuída, ela é num único momento. A vida é vivida ao
longo de cem ou setenta anos, não pode ser tão intensa. A morte chega num
único momento; vem inteira, não fragmentada. Será de tal maneira intensa, que
vocês não poderão imaginar algo do tipo. Mas se vocês têm medo, se antes da
morte chegar vocês fugirem, então se tornarão inconscientes por causa do medo
e perderão uma das oportunidades douradas, o portão dourado. Se durante toda
a vida vocês têm aceitado tudo, quando a morte vier, irão aceitá-la paciente e
passivamente sem qualquer esforço para escapar dela. Se puderem aceitar a
morte sem qualquer esforço, silenciosa e passivamente, ela desaparecerá.
Quando Krishna, Cristo, Buda e Mahavira dizem que vocês são imortais, eles
não estão falando sobre uma doutrina, estão falando da própria experiência
deles.
Isso também pode acontecer aqui, neste acampamento, porque samadhi é
morte, dhyan é morte, meditação é morte. Muitas vezes haverá momentos em
que vocês se sentirão como se estivessem morrendo. Não fujam, deixem
acontecer. Se vocês deixarem isso acontecer, a morte se foi, a morte não está
mais ali e a chama interior, sem início, sem fim, entrou no ser. Ela sempre esteve
lá, agora vocês podem senti-la.
Assim, esse deveria ser o sutra. Com medo, ódio, ciúme, qualquer que seja a
coisa, não façam disso um problema. Aceitem, permitam, atravessem isto, e
vocês derrotarão todo o sofrimento, toda a morte. E vocês se tornarão um jinna,
um vitorioso.
Mais alguma coisa?
Osho,
Quando você fala sobre a nossa necessidade de sofrer, nos diz que sejamos, ao
mesmo tempo, alegres. Tentar chegar a um acordo entre essas duas coisas
parece difícil.
Quando eu digo sofram alegremente, isso parece paradoxal e a mente de vocês
começa a pensar em como chegar a um acordo, porque essas duas coisas são
contraditórias para vocês. Elas não são, elas só parecem contraditórias. Vocês
podem gostar de sofrer.
Qual é o segredo, como gostar de sofrer? A primeira coisa é: se vocês não
fugirem, se permitirem ao sofrimento estar lá, se estiverem prontos para
enfrentar isso, se não estão de alguma maneira tentando esquecer isso, então
vocês serão diferentes. O sofrimento está aí, mas só ao redor; ele não está no
centro, está periferia. É impossível ao sofrimento estar no centro; não é da
natureza das coisas. Ele sempre está na periferia e vocês são o centro.
Assim, quando permitirem que isso aconteça, vocês não escaparão, não
correrão, não ficarão em pânico, de repente vocês se darão conta de que aquele
sofrimento está lá na periferia e é como se estivesse acontecendo com outra
pessoa, não com vocês, e vocês estarão olhando para isso. Uma alegria sutil se
irradiará em todo o seu ser, porque terão percebido uma das verdades básicas
da vida, que vocês são alegria e não sofrimento.
Então, quando eu digo desfrutem, não quero dizer: tornem-se masoquistas. Eu
não quero dizer: criem sofrimentos para si mesmos e desfrutem. Não quero dizer:
vão em frente, joguem-se num precipício, quebrem seus ossos e então
desfrutem. Não. Há pessoas desse tipo e muitas delas tornaram-se ascetas,
tapasvis, e elas ficam criando sofrimentos para si. Elas são masoquistas, estão
doentes. São pessoas muito perigosas. Elas queriam fazer outras pessoas
sofrerem, mas não eram tão corajosas. Queriam matar outras pessoas, ser
violentas com elas, aleijá-las, mas não eram tão corajosas, assim toda a sua
violência voltou-se para dentro. Agora elas estão se mutilando, se torturando, e
desfrutando isso.
Eu não estou dizendo sejam masoquistas; simplesmente estou dizendo que o
sofrimento está aí, vocês não precisam procurar para encontrá-lo. Já têm aí
sofrimento suficiente, não precisam procurar. O sofrimento já está aí; a vida por
sua própria natureza cria o sofrimento. A doença está aí, a morte está aí, o corpo
está aí, o sofrimento é criado pela própria natureza. Vejam, olhem para isto com
um olho muito imparcial. Olhem para isto, o que é que está acontecendo. Não
fujam. Imediatamente a mente diz: “Fuja daqui, não olhe para isto”. Mas se vocês
fogem, então não poderão ser felizes.
Da próxima vez que ficarem doentes e o doutor sugerir que permaneçam de
cama, aceitem isso como uma bênção. Fechem os olhos, descansem na cama
e só olhem para a doença. Olhem para ela, o que é. Não tentem analisar isso,
não criem teorias, só olhem para ela, o que é. O corpo inteiro cansado, febril,
olhem para ele. De repente, vocês sentirão que estão rodeados pela febre, mas
há um ponto muito frio dentro de vocês; a febre não pode tocar isso, não pode
influenciar isso. O corpo inteiro pode estar queimando, mas aquele ponto frio não
pode ser tocado.
Conta-se a história de uma freira zen. Antes de morrer, ela perguntou aos seus
discípulos: “O que vocês sugerem? Como eu deveria morrer?”.
É uma velha tradição no zen que os mestres façam essa pergunta. Eles podem
morrer conscientes, portanto podem perguntar. E eles são mesmo tão
brincalhões com a morte, tão espirituosos, brincando e rindo sobre isso, que
gostam de inventar métodos para morrer.
Assim, os discípulos podem sugerir: “Mestre, isto será bom: de ponta-cabeça”.
Ou então alguém sugere: “Andando... porque nós nunca vimos alguém morrer
caminhando”.
E então essa freira zen perguntou: “O que vocês sugerem?”.
Eles disseram: “Será bom se nós prepararmos um fogo, e você sentar nele e
morrer, meditando”.
Ela disse: “Isso é lindo e nunca ouvi nada assim antes”. Então, eles prepararam
uma pira funerária, a freira acomodou-se confortavelmente, sentou-se na postura
de buda, e eles então acenderam o fogo.
Um homem da multidão perguntou: “Como se sente aí? Está tão quente que eu
não posso nem chegar mais perto para lhe perguntar, por isso é que estou
gritando. Como se sente aí?”
A freira riu e disse: “Só um bobo pode fazer uma pergunta destas: Como se sente
aí? Aqui sempre se sente frio, perfeitamente frio”.
Ela está falando do seu ser interior, o centro. Lá sempre fresco, e só uma pessoa
tola pode fazer uma pergunta dessas. Por que ela diz que só uma pessoa tola
pode fazer uma pergunta desse tipo? É óbvio. Quando uma pessoa está pronta
para se sentar sobre o fogo meditando, e o fogo está queimando e ela está
sentada em silêncio, obviamente isso mostra que essa pessoa deve ter
alcançado o seu mais íntimo ponto fresco, o qual não pode ser perturbado por
qualquer fogo; caso contrário, isso não seria possível.
Assim, quando vocês estiverem deitados na cama com febre, em chamas, o
corpo todo queimando, só assistam a isso. Assistindo, vocês retrocederão para
a fonte. Assistindo, vocês ganharão equilíbrio, um ritmo. Assistindo, sem fazer
nada... o que podem fazer? A febre está ali, vocês têm de passar por isso; não
faz sentido lutar desnecessariamente contra isso. Vocês estão descansando, e
se lutarem contra a febre ficarão mais febris, isso é tudo. Sendo assim, assistam
apenas. Observando a febre, vocês ficam frescos; observando mais, vocês ficam
mais frescos ainda. Só observando vocês alcançam um cume, um cume tão
fresco, que até o Himalaia sentiria inveja; nem sequer os seus cumes são tão
frescos. Este é o Gourishankar, o Everest de dentro. E quando vocês sentirem
que a febre desapareceu... Ela nunca esteve realmente lá; apenas esteve no
corpo, muito, muito longe.
Existe um espaço infinito entre vocês e seu corpo, espaço infinito, é o que eu
digo. Uma abertura intransponível entre vocês e seu corpo. E todo o sofrimento
está na periferia. Os hindus dizem tratar-se de um sonho, porque a distância é
muito vasta, intransponível. É como um sonho que acontece em outro lugar, —
não está acontecendo com vocês —, em algum outro mundo, em algum outro
planeta.
Quando vocês assistem ao sofrimento, de repente vocês não são os que sofrem,
e então começam a desfrutar. Pelo sofrimento vocês se dão conta do pólo
oposto, o ser interior feliz. Assim, quando eu digo desfrute, estou dizendo:
Olhem. Voltem à fonte, fiquem centrados. Então, de repente, não há nenhuma
agonia; só existe o êxtase. Aqueles que estão na periferia vivem na agonia. Para
eles, nenhum êxtase. Para os que vieram de seu centro, não existe nenhuma
agonia. Para estes, só o êxtase.
Quando eu digo para quebrar a xícara, é no sentido de quebrar a periferia. E
quando eu digo fique totalmente vazio, quero dizer voltar à fonte original, porque
nascemos do vácuo e a ele retornamos. Vacuidade realmente é a melhor palavra
a empregar, até em lugar de Deus, porque com Deus começamos a sentir que
há uma pessoa. Assim, o Buda nunca usa Deus, ele sempre usa shunyata,
vacuidade, nada. No centro você é um não-ser, nada, só um espaço imenso,
eternamente fresco, silencioso, feliz. Portanto, quando eu digo desfrute, quero
dizer olhe, e então você desfrutará. Quando eu digo desfrute, eu quero dizer não
fuja.
Chega por hoje.
CAPÍTULO 2
Sem mente, sem verdade
O estudante Doko veio ao mestre e perguntou:
“Em qual estado da mente eu deveria buscar a verdade?”.
O mestre respondeu: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em
nenhum estado, e não há nenhuma verdade, assim, você não pode buscá-la”.
Doko disse: “Se não há uma mente e nem uma verdade, por que fazer todos
esses estudantes se reunirem diariamente para estudar?”.
O mestre olhou ao redor e disse: “Eu não vejo ninguém”.
O indagador perguntou: “Então a quem você está ensinando?”.
“Eu não tenho língua, então, como posso ensinar?”, respondeu o mestre.
Então Doko disse tristemente: “Eu não consigo segui-lo; eu não consigo
compreender”.
O mestre disse: “Eu mesmo não compreendo”.
A vida é um mistério muito grande, ninguém pode compreendê-la, e aquele que
afirma que a compreende é simplesmente ignorante. Ele não está consciente de
suas palavras, da tolice que está falando. Se vocês forem sábios, esta será a
sua primeira percepção: a vida não pode ser compreendida. Compreender é
impossível. Só isto deve ser muito bem compreendido, essa compreensão é
impossível. É isso o que narra essa bela história zen.
O mestre diz: “Eu mesmo não compreendo”. Se vocês perguntarem ao
iluminado, essa será a resposta dele. Mas se vocês perguntarem aos ignorantes,
eles lhes darão muitas respostas, eles proporão muitas doutrinas; e tentarão
resolver o mistério que não pode ser resolvido. Não é um enigma. Um enigma
pode ser resolvido, um mistério é insolúvel pela sua própria natureza, não há
nenhuma maneira de resolvê-lo.
Sócrates dizia: “Quando eu era jovem, achava que sabia muito. Quando fiquei
velho, maduro em sabedoria, eu compreendi que não sei nada”.
Um dos mestres sufis, Junnaid, conta que estava trabalhando com um jovem. O
jovem não estava consciente da sabedoria interior de Junnaid, e este vivia uma
vida tão ordinária que eram necessários olhos muito perspicazes para perceber
que se estava próximo de um buda. Ele trabalhava como trabalhador comum, e
só aqueles que tinham olhos podiam reconhecê-lo. Reconhecer o Buda é muito
fácil, ele fica sentado debaixo de árvore de bodhi, iluminado; reconhecer Junnaid
era muito difícil, ele trabalhava como operário e não se sentava debaixo de uma
árvore de bodhi. Ele era, em todos os aspectos, absolutamente comum.
O jovem estava trabalhando com ele, e ficava mostrando o conhecimento
continuamente; assim, para todas as coisas que Junnaid fazia, o jovem dizia:
“Isto está errado. Isto pode feito desta outra maneira, é melhor”, ele sabia tudo.
Finalmente, Junnaid riu e disse: “Meu jovem, eu não sou suficientemente jovem
para saber tanto”. Isso é realmente importante. Ele disse: “Eu não sou
suficientemente jovem para saber tanto”. Só um jovem pode ser tão tolo, tão
inexperiente.
Sócrates estava certo quando dizia: “Quando era jovem, eu sabia muito. Quando
amadureci, experimentei, eu acabei por compreender uma única coisa: que sou
absolutamente ignorante”.
A vida é um mistério; isso significa que não pode ser resolvido. E quando todos
os esforços para resolvê-lo se provam fúteis, o mistério desperta dentro de você.
Então as portas são abertas; e você é convidado. Como um entendido, ninguém
entra no divino; como uma criança, ignorante, não sabendo nada, o mistério o
acolhe. Com uma mente instruída, você é inteligente, não inocente. A inocência
é a porta.
Esse mestre zen tem razão quando diz: “Eu mesmo não compreendo”. Muito
profundamente, realmente profundamente... a pergunta mais profunda possível.
Mas essa é a última parte da história. Comecemos do princípio.
O discípulo vem ao mestre zen e diz: “Em qual estado da mente eu deveria
buscar a verdade?”.
O mestre diz: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em nenhum
estado”.
A mente é ilusão, ela não é, mas parece ser e parece tanto que você pensa que
você é a mente. A mente é maya, a mente é só um sonho, a mente é só uma
projeção... uma bolha de sabão, não há nada nela, mas parece uma bolha de
sabão flutuando num rio. O sol acabou de surgir, os raios penetram a bolha; um
arco-íris surge e nada existe nela. Quando você toca a bolha, ela se rompe e
tudo desaparece, o arco-íris, a beleza, nada fica. Só o vazio torna-se um com a
vacuidade infinita. Há pouco havia uma parede lá, a parede da bolha. Sua mente
é como uma parede de bolha, dentro o seu vazio, fora o meu vazio. É só uma
bolha: fure-a e a mente desaparece.
O mestre diz: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em nenhum
estado”. É difícil entender.
As pessoas vêm a mim e dizem: “Nós gostaríamos de atingir um estado
silencioso da mente”. Elas pensam que a mente pode permanecer calada. A
mente nunca pode ficar calada. A mente significa o tumulto, a doença, a
enfermidade; a mente significa tensão, o estado angustiado. A mente não pode
ficar silenciosa; quando há silêncio, a mente não está ali. Quando o silêncio
chega, a mente desaparece; quando a mente está ali, não há mais silêncio.
Assim, não pode haver uma mente silenciosa, da mesma maneira que não pode
haver uma doença saudável. É possível ter uma doença saudável? Quando a
saúde existe, a doença desaparece. O silêncio é a saúde interior; a mente é a
doença interior, a perturbação interior.
Assim, não pode existir uma mente silenciosa, e esse discípulo está
perguntando: “Que tipo, que espécie, que estado da mente eu deveria
alcançar?”.
Claramente, o mestre disse: “Não existe uma mente, assim, você não pode
alcançar nenhum estado”. Então, por favor, abandonem essa ilusão; não tentem
alcançar nenhum estado na ilusão.
É como se você estivesse pensando em viajar sobre o arco-íris e me
perguntasse: “Que passos devemos dar para subir no arco-íris?”. Eu respondo:
“O arco-íris não existe. O arco-íris é só uma aparição, assim, nenhum passo
pode ser dado”. Um arco-íris simplesmente aparece; ele não está ali. Não é uma
realidade, é uma falsa interpretação da realidade.
A mente não é a sua realidade; é uma falsa interpretação. Você não é a mente,
nunca foi a mente, nunca poderá ser a mente. Este é o seu problema: identifica-
se com algo que não existe. Você é como um mendigo que acredita possuir um
reino. Ele está sempre preocupado demais com o reino, em como administrá-lo,
como governá-lo, como prevenir a anarquia. Não há nenhum reino, mas ele está
preocupado.
Chuang Tzu sonhou certa vez que havia se transformado em uma borboleta.
Pela manhã ele estava muito deprimido. Seus amigos perguntaram: “O que
aconteceu? Nós nunca o vimos tão deprimido”.
Chuang Tzu disse: “Eu estou num dilema, estou perdido, não consigo entender.
À noite, enquanto dormia, eu sonhei que tinha me tornado uma borboleta”.
Então os amigos riram: “Ninguém fica assim transtornado por causa de um
sonho. Quando você acorda, o sonho desapareceu, então por que você está
perturbado?”.
Chuang Tzu disse: “Este não é o problema. Agora eu estou confuso: se Chuang
Tzu pode tornar-se uma borboleta no sonho, é possível que agora a borboleta
esteja dormindo e sonhando que é Chuang Tzu”. Se Chuang Tzu pode tornar-se
uma borboleta em sonho, por que não o contrário?, a borboleta pode sonhar e
pode se tornar Chuang Tzu. Assim o que é real — Chuang Tzu ter sonhado que
se transformou em uma borboleta ou a borboleta estar sonhando que se tornou
Chuang Tzu? O que é real? Os arco-íris estão ali. Você pode transformar-se em
borboleta no sonho. E você se transformou numa mente nesse sonho maior que
chama de vida. Quando você desperta, não alcança um estado desperto da
mente, mas um não-estado da mente, você alcança a não-mente.
O que significa não-mente? É difícil acompanhar, mas às vezes, sem um
propósito deliberado, você a alcançou, embora possa não tê-la reconhecido. Às
vezes, apenas permanecendo simplesmente sentado, sem fazer nada, não há
nenhum pensamento na mente. Quando não há nenhum pensamento, onde está
a mente? Quando não há um pensamento, não há nenhuma mente, porque a
mente é exatamente o processo de pensar. Não é uma substância, é só um
processo. Você está aqui, eu posso dizer que uma multidão está aqui, mas
realmente existe algo como uma multidão? Uma multidão é substancial ou são
só indivíduos que estão lá? Aos poucos os indivíduos irão embora. Então haverá
uma multidão deixada para trás? Quando os indivíduos se forem, não sobrará
nenhuma multidão.
A mente é exatamente como uma multidão; os pensamentos são os indivíduos.
Como os pensamentos estão lá continuamente, você acredita que o processo é
concreto. Elimine cada pensamento individual e finalmente não sobrará nada.
Não existe a mente como tal, só os pensamentos.
Mas os pensamentos se movem tão rapidamente que entre dois pensamentos
você não consegue ver o intervalo. Mas o intervalo está sempre lá. Esse intervalo
é você. Nesse intervalo não há nem Chuang Tzu nem a borboleta, porque a
borboleta é uma espécie de mente e Chuang Tzu também é uma espécie de
mente. Uma borboleta é uma combinação específica de pensamentos, Chuang
Tzu é também uma outra combinação específica, mas ambos são mentes.
Quando a mente não está lá, quem é você, Chuang Tzu ou uma borboleta? Nem
um nem outro. E o que é o estado? Você está em um estado iluminado da
mente? Se você pensa que está em um estado iluminado da mente, esse é mais
um pensamento, e quando o pensamento está ali, você não está. Se você sente
que é um buda, esse é um pensamento. A mente entrou; agora o processo está
ali, novamente o céu está nublado, a cor azul perdeu-se. A cor azul infinita, você
não pode mais ver.
Entre dois pensamentos, tente estar alerta; olhe para dentro do intervalo, o
espaço entre os dois. Você não verá nenhuma mente; essa é a sua natureza. Os
pensamentos vão e vêm, eles são acidentais; esse espaço interior sempre
permanece. As nuvens acumulam-se e vão, desaparecem, elas são acidentais,
mas o céu permanece. Você é o céu.
Certa vez um buscador foi procurar Bayazid, um místico sufi, e perguntou:
“Mestre, eu sou uma pessoa muito irascível. A raiva me toma muito facilmente;
eu fico realmente furioso e faço coisas. Nem posso acreditar, depois, que fui
capaz de fazer tais coisas; eu fico fora de mim. Então, como largar essa raiva,
como superá-la, como controlá-la?”.
Bayazid tomou a cabeça do discípulo em suas mãos e olhou-o nos olhos. O
discípulo mostrou-se um pouco intranquilo, e Bayazid disse: “Onde está essa
raiva? Eu gostaria de vê-la aqui”.
O discípulo riu, pouco à vontade, e disse: “Agora eu não estou bravo. Às vezes
acontece”.
Então Bayazid disse: “Aquilo que acontece às vezes não é da sua natureza. É
um acidente. Vai e vem. É como as nuvens, então por que ficar preocupado com
as nuvens? Pense no céu que sempre está ali”.
Esta é a definição de atman, o céu que sempre está presente. Tudo aquilo que
vai e vem é irrelevante; não se aborreça com isso, é só fumaça. O céu que
permanece eternamente nunca muda, nunca fica diferente. Entre dois
pensamentos, mergulhe nele; entre dois pensamentos, ele está sempre ali. Olhe
dentro dele e de repente perceberá que você está na não-mente.
O mestre tem razão quando disse: “Não existe uma mente, logo não pode haver
nenhum estado da mente. Que tolice é essa que você está falando?”
Mas a tolice tem a sua própria lógica. Se você pensa que tem uma mente,
começará a pensar em termos de estados, um estado ignorante da mente, um
estado iluminado da mente, um estado transtornado da mente, um estado
silencioso da mente. Uma vez que aceitar a mente, o ilusório, você ficará
motivado em classificá-la. E uma vez que aceitou que a mente está lá, você
começará a buscar uma ou outra coisa.
A mente só pode existir se você buscar algo continuamente. Por quê? É porque
a busca é um desejo, buscar é mover-se para o futuro, a busca cria sonhos.
Assim alguém está buscando poder, política, alguém está buscando riquezas,
reinos, e assim alguém está buscando a verdade. Mas a busca está ali e buscar
é o problema, não o que você está buscando. O objeto nunca é o problema;
qualquer objeto serve. A mente pode se agarrar em qualquer objeto, qualquer
desculpa é suficiente para ela existir.
O mestre disse: “Não existe nenhum estado da mente porque não há nenhuma
mente. E não há nenhuma verdade, assim, sobre o que você está falando? Não
pode haver uma busca”.
Esta é uma das maiores mensagens já ditas. É muito difícil; o discípulo não pode
conceber que não existe uma verdade. Qual é a intenção desse mestre quando
sugere que não existe uma verdade? Será que ele quer dizer que não existe uma
verdade? Não, ele está dizendo isto para você, que é um buscador, que não
pode haver nenhuma verdade. A busca sempre conduz ao falso. Só a mente de
um não-buscador percebe o que é, e sempre que você busca, você perde o que
é. A busca sempre o leva ao futuro, a busca não pode ser aqui e agora. Como
você pode buscar aqui e agora? Você só pode ser. Buscar é desejo, o futuro
entra, o tempo vem... e este momento, este, aqui e agora, é perdido. A verdade
está aqui, agora.
Se você perguntar a um buda: “Deus existe?”, ele negará imediatamente: “Não
há nenhum Deus”. Se ele disser que há, ele está criando um buscador; se ele
disser que Deus existe, você vai começar a buscar. Como você pode
permanecer tranquilo quando há um Deus para ser encontrado? Para onde você
vai correr? Você criou outra ilusão.
Então o Buda diz que não existe um Deus. Ninguém o entendeu, as pessoas
pensaram que ele era ateu. Ele não estava negando Deus, simplesmente estava
negando o buscador. Mas se ele tivesse dito que Deus existe, o buscador estaria
ali. E o buscador é o mundo; buscar é tudo aquilo que é maya. Durante milhões
de vidas você foi um buscador, atrás disto ou daquilo, este objeto, aquele objeto,
este mundo ou aquele mundo, mas um buscador. Agora você busca a verdade.
Mas o mestre diz que não existe uma verdade. Ele retira a base da busca. Ele
retira o chão sobre o qual você se apóia, onde a sua mente se apóia. Ele
simplesmente o empurra para o abismo.
O indagador disse: “Então, por que todos esses buscadores ao seu redor? Se
não há nada para buscar e nenhuma verdade, então por que essa multidão?”.
Você deveria ter estado lá, sentado ao redor do mestre.
Alguém vem a mim e eu digo: “Não há nenhuma busca. Nada há para procurar,
porque não há nada para buscar. Ele está pronto para perguntar: “Então por que
estas pessoas estão aqui, por que estes sannyasins estão aqui? O que eles
estão fazendo aqui?”.
Mas o indagador continua a não compreender o essencial. O mestre olhou ao
redor e disse: “Eu não vejo ninguém, não há ninguém aqui”. O indagador
continua sem entender o essencial, o intelecto nunca vai compreender. Ele
poderia ter olhado. Este era o fato: não havia ninguém.
Você pode estar de dois modos, mas se está buscando, você está apenas em
um. Se não está buscando, você não é, pois buscar lhe dá o ego. Bem neste
momento, se não estiver buscando nada, qualquer coisa, você não está aqui,
não há nenhuma multidão. Se eu não estou ensinando nada, porque não há nada
para ser ensinado, nenhuma verdade a ser ensinada, se eu não estou ensinando
nada e se você não estiver aprendendo nada, quem está aqui? A vacuidade
existe e a felicidade da pura vacuidade. Os indivíduos desaparecem e tudo
transforma-se numa consciência oceânica.
Os indivíduos estão lá por causa de suas mentes individuais. Você tem um
desejo diferente, é por isso que difere de seu vizinho; desejos criam distinções.
Eu estou buscando algo, você está buscando qualquer outra coisa; meu caminho
difere do seu, minha meta difere da sua. É por isso que sou diferente de você.
Se eu não estou buscando e você não está buscando, as metas desaparecem,
os caminhos não estão mais ali, como podem existir as mentes? A xícara está
quebrada. Meu chá flui em você e seu chá flui em mim. Passa a ser uma
existência oceânica.
O mestre olhou ao redor e disse: “Eu não vejo ninguém, não há ninguém”.
O intelecto continua perdido, e o indagador pergunta: “Então, quem você está
ensinando? Se não há ninguém, então quem você está ensinando?”.
E o mestre diz: “Eu não tenho língua, então, como posso ensinar?”. Ele continua
a dar sugestões para ficar alerta, para ver, mas o indagador está afundado em
sua própria mente. O mestre continua batendo, martelando na cabeça dele; ele
só está falando tolice para tirá-lo da mente dele.
Se você tivesse estado lá teria sido convencido pelo indagador, não pelo mestre.
O indagador ter-lhe-ia parecido precisamente correto. Esse mestre parece estar
louco, absurdo. Ele está falando e ele diz: “Não há nenhuma língua, assim, como
eu posso falar?” Ele está dizendo: “Não há nenhum corpo em mim, como eu
posso mover-me, como posso falar?”. Ele está dizendo: “Olhe para mim, eu não
tenho forma. Olhe para mim, eu não estou encarnado. O corpo aparece para
você, mas eu não sou ele, então, como eu posso falar?”. A mente continua
perdida. Esta é a miséria da mente. Você a empurra, ela se junta novamente;
você bate nela, e por um momento há um choque e um tremor, e novamente ela
se estabelece.
Você já viu uma boneca japonesa? Eles a chamam de boneca daruma. Você a
atira de qualquer maneira, de pernas para o ar, de cabeça para baixo, mas
qualquer coisa que você faça, a boneca permanecerá sentada na postura de
buda. A parte inferior é tão pesada que você não pode fazer nada. Atire-a de
qualquer forma e a boneca irá sentar-se novamente na postura de buda. O nome
daruma vem de Bodhidharma; no Japão, o nome de Bodhidharma é Daruma.
Daruma costumava dizer, Bodhidharma costumava dizer, que a sua mente é
igual a essa boneca. Ele costumava ter uma boneca; ele a atirava longe, a
chutava, mas qualquer coisa que fizesse não conseguia perturbar a boneca — a
parte de baixo era demasiado pesada. Você a atira de cabeça para baixo, ela
cairá sentada.
Esse mestre continua pressionando. Um pequeno golpe e a boneca senta
novamente, não entende o essencial. Finalmente, desesperado, o indagador diz:
“Eu não o acompanho, eu não o entendo”.
E o último golpe — o mestre diz: “Eu mesmo não entendo”.
Eu continuo a ensiná-lo, sabendo bem que não há nada a ser ensinado. É por
isso que posso continuar infinitamente. Se houvesse algo para ser ensinado, eu
já teria terminado. Buda pode continuar sem parar porque não há nada para ser
ensinado. É uma história sem fim, ela nunca termina, assim eu posso continuar
sem parar. Eu nunca terminarei; você pode morrer antes de a minha história
terminar, pois não há um fim para ela.
Alguém estava me perguntando: “Por que você continua a falar diariamente?”.
Eu disse: “Porque não há nada para ser ensinado”.
Algum dia você sentirá isto de repente, que eu não estou falando, que eu não
estou ensinando. Você entendeu? Não há nada para ser ensinado porque não
há nenhuma verdade.
Que disciplina eu estou lhe dando? Nenhuma. Uma mente disciplinada é
novamente uma mente, até mesmo mais teimosa, inflexível; uma mente
disciplinada é mais estúpida. Vá e veja os monges disciplinados no mundo
inteiro, cristãos, hindus, jainistas. Sempre que você vê um homem que é
absolutamente disciplinado, encontrará uma mente estúpida atrás dele. O que
flui parou. Ele se preocupa tanto em achar algo, que estará pronto para fazer
qualquer coisa que você disser. Se você disser: “Fique de cabeça para baixo
durante uma hora”, ele estará pronto para ficar de cabeça para baixo. Ele é assim
por causa do seu desejo. Se Deus só pode ser alcançado caso esse homem
fique horas de cabeça para baixo, ele estará pronto, mas ele precisa conseguir.
Eu não estou lhe dando nenhuma realização, nenhum anseio; não há nada para
encontrar em parte alguma e nada para alcançar. Se você perceber isto, você
alcançou este mesmo momento. Neste momento você é perfeito; nada será feito,
nada será mudado. Neste mesmo momento você é um brâmane absoluto.
É por isso que o mestre disse: “Eu mesmo não entendo isto”. É difícil achar um
mestre que diz: “Eu mesmo não entendo isto”, um mestre deve afirmar que sabe,
só então você irá segui-lo. Um mestre não deve só afirmar que sabe, ele tem
que afirmar que só ele sabe, mais ninguém: “Todos os outros mestres estão
errados, só eu sei”. Então siga-o. Você deve ter absoluta certeza, então você se
torna um seguidor. A certeza lhe dá o sentimento de que este é o homem, e se
você segui-lo então você alcançará.
Eu vou lhe contar uma história. Aconteceu certa vez, com um assim chamado
mestre durante suas viagens. Em toda aldeia que ia, ele declarava: “Eu me
realizei, eu conheci o divino. Se você quiser, venha e siga-me”.
As pessoas diziam: “Temos muitas responsabilidades. Algum dia nós esperamos
poder ter condições de segui-lo”. Eles tocavam-lhe os pés, o respeitavam, o
serviam, mas ninguém queria segui-lo, porque havia muitas outras coisas a ser
feitas antes de sair em busca do divino. As primeiras coisas antes. O divino
sempre é o último, e a última coisa nunca chega, porque as primeiras são tão
infinitas que nunca acabam.
Mas em uma aldeia, um louco — demente ele era, caso contrário, como iria
seguir esse mestre? — disse: “Está bem. Você o encontrou?”
O mestre hesitou um pouco, olhando para o louco, pois homem parecia perigoso;
ele poderia segui-lo e criar-lhe dificuldades, mas, diante de toda a aldeia, o
mestre não pôde se esquivar, então disse: “Sim”.
O louco disse: “Agora, me inicie. Eu o seguirei até o fim. Eu quero encontrar a
Deus”. O assim chamado mestre ficou perturbado, mas o que fazer? O louco
começou a segui-lo, ele tornou-se a sua sombra.
Um ano se passou. O louco perguntou: “Quanto falta, quanto falta para chegar
ao templo?”, e acrescentou: “Eu não estou com pressa, mas quanto tempo vai
levar?”.
A essas alturas, o mestre tinha ficado muito incomodado e intranquilo com
aquele homem. O louco dormia com ele, andava com ele; tornara-se a sua
sombra. E por essa razão as convicções do mestre estavam se dissolvendo.
Sempre que dizia numa aldeia: “Sigam-me”, ele ficava amedrontado, porque o
louco olhava em sua direção e dizia: “Eu o estou seguindo, mestre, e ainda não
encontrei”.
O segundo ano passou, o terceiro, o sexto, e o louco disse: “Nós não alcançamos
nenhum lugar. Simplesmente estamos viajando de aldeia em aldeia e você
continua a dizer às pessoas: ‘Sigam-me’. Eu o estou seguindo, tudo o que você
diz, eu faço, então não pode dizer que não estou seguindo a disciplina”. O louco
estava realmente furioso, assim, tudo que lhe era dito, ele fazia. Dessa forma, o
mestre não podia enganá-lo dizendo que não estava fazendo as coisas direito.
Finalmente, uma noite, o mestre lhe disse: “Por sua causa eu perdi meu próprio
caminho. Antes de o conhecer, eu tinha certezas; agora não tenho mais. Assim,
por favor, me deixe”.
Sempre que alguém tem certezas e você é suficientemente louco, você começa
a segui-lo. Você pode seguir esse tipo de homem que diz: “Eu não sei. Eu não
entendo”? Se puder seguir esse homem, você se realizará. Você já se realizou
ao decidir seguir esse homem, porque a mente pede certezas, a mente pede
conhecimento, a mente pede afirmações dogmáticas. Assim, se você puder estar
pronto para seguir um homem que diz “Eu não sei”, a busca parou, agora você
não está pedindo conhecimento.
Aquele que está pedindo conhecimento não pode pedir ser. Conhecimento é lixo;
ser é vida. Quando você deixa de pedir conhecimento, você deixou de perguntar
pela verdade, porque a verdade é a meta de conhecimento. Se você não fizer
perguntas, se optar por ficar tão calado, tão livre de sua mente que aquele que
é, lhe será revelado...
Eu digo que não sei; você não pode encontrar um homem mais ignorante que
eu. Não há nenhuma verdade e não há nenhum caminho. Eu não alcancei
nenhum lugar, estou simplesmente aqui e agora. Se você puder seguir este
homem ignorante, a sua mente vai desistir. Porque a mente sempre segue o
conhecimento, e quando a mente desiste não há nenhuma necessidade de ir
para lugar algum. Tudo está disponível, sempre esteve disponível; você nunca
perdeu isto. Só por causa de sua busca, você não pôde olhar para isto. Sua
mente, focada no futuro, na meta, não pode olhar. A verdade o cerca, você existe
nisto. Da mesma forma que os peixes existem no oceano, você existe na
verdade. Deus não é uma meta, Deus é o que é aqui e agora. Estas árvores,
estes ventos que sopram, estas nuvens que se movem, o céu, você, eu, é isto
que Deus é. Não é uma meta.
Abandone a mente e o divino. Deus não é um objeto, é uma fusão. A mente
resiste a uma fusão, a mente é contra a rendição; a mente é muito esperta e
calculista.
Esta história é bonita. Você é o indagador. Você veio a mim indagar sobre como
alcançar a verdade, você veio a mim indagar sobre como alcançar um estado da
mente que é bem-aventurado. Você veio adquirir conhecimento, resolver o
mistério, e eu lhe repito: Não existe nenhum estado da mente, porque a mente
não existe; não existe nenhuma verdade, então nenhuma busca é válida. Toda
busca é fútil; a busca em si é tolice. Busque e você perderá, não busque e fique
ali, corra e você perderá. Pare: tudo sempre esteve ali. E não tente compreender,
seja. Compreender é superficial. Debaixo da árvore de bodhi, Buda não soube
mais. Você pode saber mais.
Muitos estudantes vieram a Buda; eles sabiam mais que Buda. Mahakashyapaa
veio, ele era uma grande autoridade. Sariputra veio, ele era uma grande
autoridade. Quando Sariputra veio, quinhentos discípulos vieram com ele, seus
discípulos. Ele era conhecido em todo o país. Quando Sariputra disse: “Eu vim
a você. Dê-me aquilo que é mais do que conhecimento, porque conhecimento
eu tenho suficiente”... realmente, ele podia saber mais que Buda. Ele era um
estudante muito profundo, arguto; ele sabia todas as escrituras, era um grande
brahmin pundit, e conhecia todos os Vedas de cor. Ele poderia recitá-los. Mas
ele perguntou a Buda: “Dê-me aquilo que é mais do que conhecimento.
Conhecimento eu tenho suficiente, e estou farto disso”.
E o que disse Buda para Sariputra? Ele disse: “Desaprenda. Solte o
conhecimento e aquilo que é maior lhe acontecerá”.
Um mestre verdadeiro lhe ensina desaprendendo; nunca o está instruindo. Você
veio a mim: desaprenda tudo aquilo que você sabe, por favor, abandone tudo.
Fique ignorante, torne-se como uma criança. Só o coração de uma criança pode
bater às portas do divino, e só o coração de uma criança é ouvido. Suas orações
não podem ser ouvidas; elas são astutas. Só uma criança, só um coração que
não sabe pode ser.
Este é o significado desta história, e é boa para você, porque o seu caso é o
mesmo.
Mais alguma coisa?
Osho,
Você há pouco nos falou que não tem nada para nos ensinar, e ontem à noite foi
um grande choque quando você disse que, até onde você sabe, o seu trabalho
está terminado, que você está carregando o seu corpo por nós. Jesus, quando
jovem também disse: “Vocês bem sabem que eu só estou para os assuntos do
meu Pai”.
O que são ou o que eram os seus assuntos?
Quando eu digo que meu trabalho terminou, o que quero dizer é que terminei
com todas as buscas; eu quero dizer que percebi que não há nada para ser
percebido, nada para ser conhecido, nenhum lugar para ir. Este momento é
suficiente, este momento é eternidade. Quando eu digo que meu trabalho está
concluído, quero dizer que agora não tenho mais nenhum desejo.
Desejo é um negócio. Você tem que fazer algo, só então você estará contente.
Eu estou simplesmente contente; não estou preocupado com qualquer fazer,
agora estou sem causa. Esta é a diferença entre a felicidade e a bem-
aventurança. A felicidade tem um motivo, você tem um amigo e está contente;
seu amado retornou e você está contente; você ganhou na loteria e está
contente. Os motivos estão ali; eles estão além de você, eles estão fora de você,
a sua felicidade vem do exterior. Há um motivo, e tudo que tem um motivo não
pode perdurar. O amado pode ir embora, o amigo pode tornar-se inimigo, os
amigos tornam-se inimigos, e tudo que você conseguiu pode ser perdido. Aquilo
que tem um motivo não pode estar ali para sempre, não pode ser eterno.
Quando eu digo que meu trabalho está terminado, o que quero dizer é que agora
a minha felicidade não tem um motivo. Não há nada que está me ajudando a
estar feliz, eu simplesmente estou feliz. Isto não pode ser levado embora. Você
não pode retirar o motivo quando não há motivo. Você não pode fazer nada
contra isto; simplesmente está além, não pode ser destruído. Meu assunto
terminou. E quando digo que meu assunto terminou, eu terminei, porque eu só
posso existir com o assunto. Então, por que estou aqui? Esta é uma das
perguntas mais antigas.
Buda viveu durante quarenta anos depois que ele foi iluminado. Depois que ele
terminou o seu assunto, viveu mais quarenta anos. Muitas vezes perguntaram:
“Por que você é?”. Quando o assunto está acabado, você deveria desaparecer.
Parece ilógico: por que Buda deveria existir dentro do corpo mesmo por um
momento? Quando não há nenhum desejo, como o corpo pode continuar?
Há algo muito profundo para ser entendido. Quando o desejo desaparece, a
energia que estava se orientando para os desejos permanece; não pode
desaparecer. Desejo é só uma forma de energia. É por isto que você pode trocar
um desejo por outro. A raiva pode se tornar sexo, o sexo pode se tornar raiva.
Sexo pode se tornar ganância. Sempre que você encontrar uma pessoa muito
gananciosa, ela será pouco interessada em sexo. Se ela for realmente
gananciosa, ela não estará nem um pouco interessada em sexo. Ela será um
brahmachari, um celibatário, porque a energia inteira está concentrada na
ganância. E se encontrar uma pessoa muito sensual, você sempre verá que ela
não é gananciosa, porque não lhe sobra nada. Se você vê uma pessoa que
suprimiu o sexo, ela será raivosa; a raiva sempre estará disponível. Você pode
ver nos seus olhos, na sua face, que ela é só raiva; toda a energia de sexo
tornou-se raiva.
É por isso que os seus assim chamados monges e sadhus estão sempre bravos.
O modo como eles caminham mostra a sua raiva; o modo como eles olham para
você mostra a sua raiva. O silêncio deles é só superficial, toque-os e eles
demonstrarão a raiva que carregam. O sexo transforma-se em raiva. Estas são
formas; a vida é a energia. O que acontece quando todos os desejos
desaparecem? A energia não pode desaparecer, a energia é indestrutível.
Pergunte aos físicos; até eles dizem que a energia não pode ser destruída.
Uma certa energia existia em Gautama Buda quando ele foi iluminado. Essa
energia estava se direcionando para o sexo, a raiva, a cobiça... de milhares de
modos. Todas as formas desapareceram. O que aconteceu com essa energia?
A energia não pode sair da existência, e, quando os desejos não estão lá, ela
fica sem forma, mas existe. Então, que função ela exerce? Essa energia torna-
se compaixão.
Você não pode ter compaixão porque você não tem energia. Toda a sua energia
é dividida, às vezes em sexo, às vezes em raiva, às vezes em ganância. A
compaixão não é uma forma. Só quando todos os seus desejos desaparecem é
que aquela energia sem forma se torna compaixão, karuna. Você não pode
cultivar compaixão. Quando você for sem-desejos, a compaixão aparece; toda a
sua energia torna-se compaixão. Mas esse movimento é muito diferente. O
desejo tem uma motivação em si, uma meta; a compaixão é não-motivada, não
há nenhuma meta nisso, simplesmente é energia transbordante.
Assim, quando eu digo que existo para você, não quero dizer que eu estou
fazendo algo para existir para você. Agora eu não estou fazendo nada. As formas
de desejo desapareceram. Agora a energia está ali, sem mim. A energia está se
movendo e está trasbordando; você pode compartilhar, você pode alimentar-se
dela. É isso que Jesus queria dizer com estas palavras: “Comam o meu corpo.
Deixem que eu me torne o vosso sangue, deixem que eu me torne o vosso pão”.
Essa energia transbordante pode tornar-se comida para você, comida do eterno.
Eu não estou fazendo nada. Quando digo que eu existo para você são só
palavras, para isso não há outra linguagem. Eu não estou fazendo nada, é assim
que acontece. Minhas formas desapareceram; agora uma energia sem forma
permaneceu nelas, e transborda. Esses que são sábios podem partilhar: logo
também tornar-se-ão sem-corpo. Antes a energia fica sem forma, sem desejos,
e então torna-se sem-corpo.
O corpo tem seu próprio impulso de vida. Quando a pessoa nasce, quando um
buda nasce, ele surgiu de uma comunhão de dois corpos, o pai e a mãe; então
cromossomos específicos, células específicas, criam o seu corpo. Essas células
têm dentro de si um impulso de vida. Esses impulsos de vida que estão como
embutidos nesse corpo significam que ele existirá durante setenta ou oitenta
anos; é como um programa do corpo. Esse corpo pode existir durante oitenta
anos. O corpo não sabe, não pode saber que a alma que entrou vai ser
iluminada. Essa casa não pode saber que a pessoa que entrou nela para viver
será iluminada. E quando esse homem se tornar iluminado, ainda assim a casa
não saberá. A casa continuará; ela tem sua própria vida. O corpo tem sua própria
vida, e o corpo é completamente desavisado que uma pessoa foi iluminada. Ele
continua, tem seu próprio impulso, seu próprio combustível.
Com a idade de quarenta anos, Buda foi iluminado. O corpo não deu importância,
mas continuou. Continuou, completou seu ciclo; ficou lá durante oitenta anos. Foi
bom, esses quarenta anos foram os anos transbordantes, e nós pudemos
conhecer o que é a iluminação. Se Buda tivesse desaparecido naquele mesmo
momento, não teria havido nenhuma religião. Se o corpo tivesse se desprendido,
se Buda tivesse sido iluminado e o corpo se desprendido, ele não teria podido
nem mesmo contar o que havia acontecido. Isto foi bom; a existência foi muito
compassiva. Buda viveu durante mais quarenta anos, não com uma motivação,
mas com o impulso do corpo, ele foi aos poucos transbordando. Esse corpo
também deve desaparecer; o impulso tem que ser concluído.
Eu não estou fazendo nada para você; pois isso também é um tipo de egoísmo,
pensar que estou fazendo algo para você. Ninguém está fazendo qualquer coisa.
Está acontecendo. A forma dos desejos desaparece e a energia torna-se
compaixão. O corpo tem que completar o seu impulso; tem que realizar o seu
impulso, tem que realizar o seu programa. Esse período será um
transbordamento. É um banquete, não dado por mim a você, é um banquete
dado pelo todo.
A linguagem cria problemas. A linguagem sempre é dual; a linguagem é sempre
deste mundo. A linguagem pertence à ignorância, pertence ao desejo. Ela
carrega todas as conotações, então é muito difícil dizer qualquer coisa sobre
aquilo que não é deste mundo. Ou você tem que ser silencioso... mas até mesmo
o silêncio pode ser mal entendido; ou você tem que usar a linguagem. E toda
palavra é tendenciosa.
Se eu digo que estou aqui por sua causa, você pode interpretar isto de tal modo
que pareça um negócio, um trabalho. Não é, não é nada disso; simplesmente é
um transbordamento de amor. E não sou eu quem faz, pois se o fizesse não
poderia haver nenhum amor. É só uma luz que está brilhando. Você pode achar
o caminho, a luz está lá. Você pode usar isso, pode tornar-se uma chama para
si mesmo, pode acender uma luz dentro de si, mas isso depende de você. Eu
simplesmente estou aqui.
Você é convidado, não por mim, mas pela própria energia. Alimente-se de mim
tanto quanto puder, deixe que eu me torne parte de você. Comemore essa
ocasião.
As palavras de Jesus criam novamente problemas, as palavras sempre criam
problemas. Se Jesus tivesse estado aqui, se tivesse estado aqui no país dos
Upanishads, de Buda e de Mahavira, a linguagem teria sido totalmente diferente.
Jesus nasceu judeu; ele teve que usar a linguagem judaica, o mito, o estilo.
Assim ele disse: “O trabalho, o negócio que meu pai determinou para mim está
terminado”.
Se Jesus tivesse estado aqui, ele nunca teria falado sobre o pai. O pai é um
conceito judeu; é bom, bonito, mas muito antropomorfo. Deus não é o pai, Deus
não é uma pessoa e Deus não está em qualquer tipo de negócios. Mas os judeus
são os homens de negócios, e o Deus deles também é um homem de negócios,
o super-homem de negócios, controlando, administrando, manipulando. E assim
como um homem de negócios, você pode seduzi-lo, você pode suborná-lo. Ele
é uma pessoa muito real. Ele vai ficar bravo: se você não se entregar a ele, ele
o lançará no inferno; se você o seguir, você alcançará o paraíso, o céu e os
prazeres celestiais.
Toda essa linguagem pertence ao mundo dos lucros, dos negócios. Mas todo
idioma tem seus próprios problemas. Esse idioma é concreto e dá até uma
aparência familiar à existência: o pai, o filho e o trabalho... Você pode alcançar
o pai pelo filho... Jesus está simplesmente usando a linguagem disponível.
Neste país nós experimentamos muitos padrões linguísticos. Os hindus usam
milhões de tipos, porque o hinduísmo não é uma religião, são muitas religiões.
Todos os tipos de religiões existem no hinduísmo; é uma multidão, é um
fenômeno em si mesmo. Todos os tipos de religião que alguma vez existiram no
mundo existem no hinduísmo. Isto é um milagre. Até mesmo um ateu pode ser
um hindu — um ateu não pode ser um cristão —, e até mesmo um ateu pode
tornar-se iluminado. Buda é ateu, ele não acredita em Deus. Ele diz que Deus
não existe, e até mais misterioso, ele diz que a alma não existe. Buda diz que
nada existe, e ele tornou-se uma das encarnações de um Deus hindu. É
realmente misterioso. Esse ateu, Gautama Buda, tornou-se o décimo avatar. Ele
disse que não existe nenhum Deus e os hindus disseram: este homem é a
encarnação de Deus, ele é Bhagwan.
Os hindus dizem que mesmo uma negação é uma forma de afirmação; os hindus
dizem até mesmo que dizer não é dizer sim. Isto é muito misterioso. Eles até
mesmo dizem que afirmar que Deus não existe é uma forma de afirmar Deus de
um modo negativo. Se Deus pode ser afirmado em forma positiva, por que não
em forma negativa? “Ele” é uma palavra, “nada” também é uma palavra, e uma
é tão pertinente quanto a outra. Buda disse não; então o não fica absoluto, o
nada torna-se a natureza. Shankara diz sim; então o sim fica absoluto, esse “sim-
perene”, brâmane, torna-se a fonte. Mas os hindus dizem que ambos têm o
mesmo significado. Cada linguagem, cada padrão de expressão, tem seus
próprios benefícios e seus próprios perigos e armadilhas.
Eu mesmo me inclino para o negativo, por isso tanta ênfase nos mestres zen.
Eu realmente amo essas anedotas, sem mente, sem verdade, sem
compreensão.
Seu desejo é positivo. Se Deus é afirmado de forma positiva, o seu desejo não
morrerá, o seu desejo se voltará para Deus e você começará a almejar a Deus.
Negatividade é dizer não a todos os seus desejos, para todos os seus objetos
de desejo. Então todos os desejos desaparecerem e todos os objetos
desaparecem, e só você é deixado em sua pureza. Aquela pureza, aquela
inocência, a bênção disso, é o que eu quero que você desfrute comigo. Não é
um ensino; eu não sou um professor. Não é uma doutrina, é só você desfrutando
comigo. Eu estou aqui disponível, e, se você puser sua mente de lado, nós
podemos comemorar. Eu estou numa dança interior; você também pode tornar-
se parceiro nela. Você pode chamar isso de meu negócio.
Meu trabalho está feito, até onde me dou conta, porque eu estou concluído.
Agora a energia tornou-se compaixão e um transbordamento, e todos aqueles
que realmente querem experimentar isso são convidados sem qualquer
condição. Você não tem que dar nada, você simplesmente recebe. Nenhuma
disciplina, nenhuma negociação, nada é esperado de sua parte. É um presente.
Sempre foi assim, sempre será assim; a bem-aventurança derradeira é sempre
um presente. É por isso que nós a chamamos graça, prasad... como se o divino
se desse para você em seu transbordamento.
Eu lhe contarei uma história que Jesus costumava contar. Ele a repetiu muitas
vezes, na certa devia amar essa história. Ele disse: Certa vez, um homem muito
rico precisou de alguns operários para trabalhar em seu jardim, então ele enviou
um homem à feira. Foram chamados todos os operários que estavam disponíveis
e eles começaram a trabalhar no jardim. Então, outros ouviram e chegaram
durante a tarde. Outros também ouviram e chegaram quando o sol estava se
pondo. Mas ele deu emprego a todos.
E quando o sol se pôs, ele reuniu todos os operários e pagou a todos a mesma
quantia. Obviamente aqueles que tinham começado de manhã ficaram
desapontados e disseram: “Que injustiça! Que tipo de injustiça é essa? O que
você está fazendo? Nós entramos de manhã e trabalhamos o dia inteiro, e esses
companheiros entraram de tarde; eles só trabalharam duas horas. E alguns
chegaram há pouco, eles não trabalharam nada. Isto é uma injustiça!”
O homem rico riu e disse: “Não pense nos outros. Tudo aquilo que eu lhes dei,
não é suficiente?”.
Eles responderam: “É mais do que suficiente, mas é injusto. Por que essas
pessoas estão ganhando o mesmo e acabaram de chegar?”.
O homem rico disse: “Eu dou a eles porque tenho muito, eu dou a eles de minha
abundância. Você não precisa ficar preocupado com isso. Você recebeu mais do
que esperava, portanto não compare. Eu não estou dando por causa do trabalho
deles, estou dando porque tenho muito... da minha abundância”.
Jesus disse: alguns trabalham muito duro para alcançar o divino, alguns só
chegam de tarde e alguns chegam quando o sol está se pondo, e todos eles
alcançam o mesmo divino. Esses que haviam entrado de manhã têm que
reclamar: “Isto é demais!”.
Veja só: você tem meditado tanto e de repente alguém vem só de noite e é
iluminado. E você portou-se como um grande asceta. Apenas observe: se todos
os ascetas chegam e vêem que os pecadores estão sentando bem ao lado do
trono de Deus, o que acontecerá? Eles ficarão muito tristes: “O que está
acontecendo? Esses pecadores nunca disciplinaram suas vidas, nunca
trabalharam e estão aqui; e nós estávamos pensando que eles estariam no
inferno!”.
Não existe o inferno; não pode haver. Como pode existir o inferno? Vindo da
abundância de Deus, tudo é paraíso. Pode ser assim, deve ser assim, tem que
ser assim. Vindo da abundância dele é o paraíso, não pode haver um inferno. O
inferno foi criado por esses ascetas, porque eles não podem conceber os
pecadores no céu. Eles têm de fazer compartimentos; eles não podem pensar
que você estará ali.
Conta-se que um hassídico, um rabino, Baal Shem, foi visitado por uma mulher.
Ela estava com quase setenta anos, o marido dela tinha oitenta anos e agora,
aos poucos, estava se tornando um homem virtuoso. A vida inteira ele tinha sido
um pecador, assim ela viera agradecer ao rabino por ter finalmente convertido
seu marido — o que era impossível... ele fora um pecador a vida inteira. Mas
agora ele estava mudando, então ela era muito grata a Baal Shem. Ela sempre
fora uma senhora piedosa, nunca hesitara, nunca fizera nada errado, sempre
havia andado no caminho reto e acreditado que o céu estava esperando por ela
para dar-lhe as boas-vindas, e sempre sabendo que aquele seu marido iria para
o inferno.
Então ela disse a Baal Shem: “Agora pode haver esperança, até o meu marido
pode alcançar o céu”.
Baal Shem riu e disse: “Maior o pecador, maior o santo”.
A mulher ficou triste e disse: “Então por que você não me disse antes? Você
deveria ter me falado isso quarenta anos atrás”.
Maior o pecador, maior o santo. Essa mulher estará num verdadeiro inferno se
encontrar o marido no céu. Essas pessoas conhecidas como virtuosas criaram
o inferno; de outra forma, fora da abundância divina o inferno não pode existir.
Os santos receberão porque eles entram de manhã; os pecadores receberão
mesmo que tenham entrado de noite. Todo mundo vai receber. É um presente.
Eu estou aqui, não como um negócio, mas como um presente. Mas você está
temeroso e medroso. Você pode entender de negócios, conhece as condições;
você não pode entender um presente, não conhece as condições. Você pode
entender se tiver que cumprir alguma condição. Se nada lhe é pedido, você fica
simplesmente perdido.
Todas as expectativas pertencem à mente, todas as disciplinas pertencem à
mente, todas as assim chamadas santidades, todos os assim denominados
pecados pertencem à mente. Quando não houver nenhuma mente, não há
pecador nem santo, e o presente simplesmente cai em abundância sobre você.
Chega por hoje.
CAPÍTULO 3
Os portões do céu e
do inferno
Um guerreiro veio ao mestre zen Hakuin e perguntou:
“Existem coisas tais como o céu e o inferno?”
Hakuin perguntou: “Quem é você?”
O guerreiro respondeu: “Eu sou o principal samurai do imperador”.
Hakuin disse: “Você, um samurai? Com uma cara dessas, você se parece mais
com um mendigo”.
Neste ponto o guerreiro ficou tão bravo que desembainhou a sua espada.
De pé em frente a ele, Hakuin disse, calmamente: “Aqui se abrem os portões do
inferno”.
Percebendo a serenidade do mestre, o soldado embainhou a espada e curvou-
se.
Hakuin disse então: “E aqui se abrem os portões do céu”.
Céu e inferno não são geográficos. Se você vai à procura deles, nunca os
encontrará em lugar nenhum, porque eles estão dentro de você, eles são
psicológicos. A mente é o céu, e a mente é o inferno, e a mente é a capacidade
para tornar-se um dos dois. Mas nós sempre pensamos que tudo está fora. Nós
sempre olhamos para fora porque olhar em nosso íntimo é muito difícil. Nós
estamos orientados para fora. Se alguém diz que existe um Deus, nós olhamos
para o céu. Em algum lugar, sentado, estará a pessoa divina.
Um psicólogo de uma escola nos Estados Unidos fez perguntas a algumas
criancinhas sobre Deus, sobre o que elas pensavam sobre Deus. As crianças
têm uma percepção mais clara: elas são menos maliciosas, mais verdadeiras.
Elas são mais representativas da mente humana, elas não são pervertidas.
Então ele perguntou às crianças e as respostas foram coletadas. A conclusão
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O Ensinamento da Xícara Vazia

  • 1. OSHO Um Pássaro em Vôo Conversas sobre o Zen UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Capítulo 1 — Esvazie a Sua Xícara Capítulo 2 — Sem mente, sem verdade Capítulo 3 — Os portões do céu e do inferno Capítulo 4 — Aceite uma Xícara de Chá Capítulo 5 — Mestre do Mosteiro Novo Capítulo 6 — O Milagre de Ser Ordinário Capítulo 7 — O Professor Severo Capítulo 8 — Zen Sem Escrever Capítulo 9 — Salvem o Gato Capítulo 10 — O Mestre do Silêncio Capítulo 11 — Fique Sóbrio
  • 3. CAPÍTULO 1 Esvazie a Sua Xícara O mestre japonês Nan-in recebeu um professor de filosofia. Servindo-lhe o chá, Nan-in encheu a xícara do visitante, e continuou vertendo. O professor assistiu ao transbordamento até não conseguir mais conter-se: “Pare! A xícara está cheia, nada mais pode entrar”. Nan-in disse: “Assim como esta xícara, você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso mostrar-lhe o zen sem que você esvazie a sua xícara primeiro?”. Você está diante de uma pessoa até mais perigosa que Nan-in, porque para mim uma xícara vazia não é suficiente; a xícara tem que ser quebrada completamente. Mesmo vazio, se você estiver lá, então você está cheio. Até mesmo o vazio o preenche. Se sente que está vazio, você não está absolutamente vazio, você está lá. Só o nome mudou: agora você chama a si mesmo de vazio. A xícara não ajuda; ela tem que ser quebrada completamente. Somente quando você não é nada é que o chá pode ser vertido em você, é somente quando você não é, que não há uma real necessidade de verter o chá. Quando você não é, tudo o que é vivo começa a verter, tudo o que é vivo transforma-se numa chuva em todas as dimensões, em todas as direções. Quando você não é, o divino é. A história é bonita. A situação foi focada para um professor de filosofia. A história diz que um professor de filosofia foi se encontrar com Nan-in. Ele deve ter vindo pelas razões erradas, porque todo professor de filosofia, como tal, está sempre errado. Filosofia significa intelecto, raciocínio, pensamento, argumentação. E este é o caminho do erro, porque você não pode estar apaixonado pela existência se for argumentativo. A argumentação é uma barreira. Se você discute, você está fechado; a existência inteira se fecha para você. Então você não está aberto e a existência não lhe está aberta.
  • 4. Quando você discute, você afirma. Afirmação é violência, agressão, e a verdade não pode ser conhecida por uma mente agressiva, a verdade não pode ser descoberta pela violência. Você só pode vir a conhecer a verdade quando estiver apaixonado. Mas o amor nunca discute. Não há nenhum argumento no amor, porque não há agressão. E veja, não só aquele homem era um professor de filosofia, você também é. Todo homem carrega a sua própria filosofia, e cada homem à sua maneira é um professor, porque professa as suas idéias, visto que acredita nelas. Você tem opiniões, conceitos, e, por causa das suas opiniões e conceitos, seus olhos estão embaçados, eles não podem ver; sua mente é estúpida, ela não pode saber. Idéias criam estupidez, porque quanto mais as idéias estão presentes, mais a mente está sobrecarregada. E como uma mente sobrecarregada pode saber? Quanto mais idéias existem, é como quando o pó se juntou no espelho. Como pode o espelho espelhar? Como pode o espelho refletir? A sua inteligência está coberta por opiniões, o pó, e todos que estão cheios de opiniões são obrigados a ser estúpidos e obtusos. É por isso que os professores de filosofia quase sempre são estúpidos. Sabem demais para poder saber algo. Eles estão carregados demais. Não podem voar no céu, não podem ter asas. E estão tão arraigados na mente, que não podem ter raízes na terra. Eles não estão conectados com a terra e não são livres para voar no céu. E lembre-se, você é igual. Pode haver diferenças de quantidade, mas toda mente é qualitativamente a mesma, porque a mente pensa, discute, armazena e junta conhecimento e torna-se opaca. Só as crianças são inteligentes. E se você puder manter a sua infância, se recuperar a sua infância continuamente, você permanecerá inocente e inteligente. Se você juntar pó, a infância está perdida, não há mais inocência; a mente fica sombria e estúpida. Agora você pode ter filosofias. E quanto mais filosofias você tiver, mais longe estará do divino. Uma mente religiosa é uma mente não filosófica. Uma mente religiosa é inocente, inteligente. O espelho está límpido, o pó não foi juntado; e diariamente uma limpeza contínua é feita. Isto é o que eu chamo meditação. Esse professor de filosofia veio encontrar Nan-in. Ele deve ter vindo por razões erradas: ele deve ter vindo para receber algumas respostas. Essas pessoas cheias de perguntas estão sempre à procura de respostas. E Nan-in não pode dar uma resposta. É tolo se interessar por perguntas e respostas. Nan-in pode lhe dar uma nova mente, Nan-in pode lhe dar um novo ser, Nan-in pode lhe dar uma existência nova em que nenhuma pergunta surge. Mas Nan-in não está interessado em responder a uma pergunta particular. Ele não está interessado em dar respostas. Nem eu. Você deve ter vindo aqui com muitas perguntas. Tem que ser assim, porque a mente faz nascer perguntas. A mente é um mecanismo de criação de perguntas. Alimente-a com qualquer coisa, logo vem uma pergunta, e, depois dela, muitas
  • 5. perguntas. Dê-lhe uma resposta; imediatamente ela a converte em muitas perguntas. Você está aqui, cheio com muitas perguntas, sua xícara já está cheia. Não tem nenhuma necessidade de Nan-in verter qualquer chá aí, você já está transbordando. Eu posso dar-lhe uma nova existência; é por isto que o convidei aqui, eu não lhe darei nenhuma resposta. Todas as perguntas, todas as respostas são inúteis, são só um desperdício de energia. Mas eu posso transformá-lo, e essa é a única resposta. E essa resposta resolve todas as perguntas. A filosofia tem muitas perguntas, muitas respostas, milhões. A religião tem uma só resposta; qualquer que seja a pergunta, a resposta permanece a mesma. Buda dizia: Você pode experimentar a água do mar em qualquer lugar, o gosto permanece o mesmo: o da sua salinidade. O que quer que você pergunte é realmente irrelevante. Eu responderei sempre o mesmo, porque tenho apenas uma resposta. Mas essa resposta é como uma chave mestra; abre todas as portas. Não está relacionada a qualquer fechadura particular; qualquer que seja a fechadura, a chave a abre. A religião tem só uma resposta e essa resposta é a meditação. Meditar significa esvaziar-se. Quando alcançou a cabana de Nan-in, o professor devia estar cansado. E Nan- in disse: “Espere um pouco”. Ele devia estar com pressa. A mente sempre está com pressa, e sempre está à procura de realizações instantâneas. Para a mente, esperar é muito difícil, quase impossível. Nan-in disse: “Eu lhe prepararei um pouco de chá. Você parece cansado. Espere um pouco, descanse um pouco, e tome uma xícara de chá. E então nós poderemos discutir”. Nan-in ferveu a água e começou a preparar o chá. Mas ele deve ter observado o professor. Não era só a água que estava fervendo; o professor também estava fervendo por dentro. Não era só a chaleira de chá que emitia ruídos, o professor também estava produzindo sons interiores, tagarelando, falando continuamente. O professor deve ter pensado: O que perguntar? Como perguntar? Por onde começar? Ele deve ter permanecido num monólogo profundo. Nan-in deve ter sorrido e observado: Este homem está muito cheio, tanto que nada pode penetrar nele. A resposta não pode ser dada porque não há ninguém para recebê-la. O convidado não pode entrar na casa, não há nenhum quarto disponível. Nan-in deve ter desejado tornar-se um convidado desse professor. Sem compaixão, um buda sempre quer tornar-se um convidado dentro de você. Ele bate em todos lugares, mas não há nenhuma porta. E até mesmo se ele quebrar uma porta, o que é muito difícil, não há nenhum quarto disponível ali. Você está demasiado cheio consigo mesmo e com o lixo e com todos os tipos de móveis que recolheu ao longo de muitas e muitas vidas, não consegue nem mesmo entrar dentro de si; não há nenhum quarto, nenhum espaço. Você só
  • 6. vive fora de seu próprio ser, só nos degraus. Você não pode entrar dentro de si, tudo está bloqueado. Então Nan-in serviu o chá na xícara. O professor ficou pouco à vontade, porque Nan-in continuava a verter o chá. Estava transbordando; logo iria para o chão. Então o professor disse: “Pare! O que está fazendo? Agora esta xícara não pode conter mais chá, nem mesmo uma única gota. Você está louco? O que está fazendo?” Nan-in disse: “Com você é a mesma coisa. Você está tão atento em observar que não se dá conta de que a xícara está cheia e não pode receber mais. Por que você não está tão atento para o seu próprio ego? Você está transbordando de opiniões, filosofias, doutrinas, escrituras. Você já sabe muito; eu não posso lhe dar nada. Você viajou em vão. Antes de vir a mim, você deveria ter esvaziado a sua xícara, então eu poderia verter algo nela”. Mas eu lhe digo, você procurou uma pessoa muito perigosa. Não, eu não permitirei uma xícara vazia, porque se a xícara está aí, você vai enchê-la. Você é tão viciado e se tornou tão acostumado que não pode permitir que a xícara fique vazia nem por um único momento. No instante em que vê a vacuidade em qualquer lugar, você começa a preenchê-la. Você tem tanto medo da vacuidade, muito medo: a vacuidade aparece-lhe como a morte. Você vai enchê-la com qualquer coisa, mas a encherá. Não, eu o convidei a vir aqui para destruir essa xícara completamente, de tal forma que mesmo se você quiser, não vai poder enchê-la. Vacuidade significa que não sobrou nenhuma xícara. Todas as paredes desapareceram, o fundo caiu; você se tornou um abismo. Então eu posso me verter em você. Muito será possível, se você permitir. Mas permitir é árduo, porque para permitir você terá de render-se. Vacuidade significa rendição. Nan-in estava dizendo àquele professor: Incline-se, renda-se, esvazie sua cabeça. Eu estou pronto para verter. Aquele professor nem mesmo tinha feito a pergunta e Nan-in já havia respondido, porque realmente não há nenhuma necessidade de fazer a pergunta. A pergunta permanece a mesma. Quer você me pergunte ou não, eu sei qual é a pergunta. Muitos de vocês estão aqui, mas eu sei a pergunta, porque lá no fundo a pergunta é uma: a ansiedade, a angústia, a ausência de significado, a futilidade desta vida inteira, não saber quem é você. Mas você está cheio. Permita-me quebrar essa xícara. Essa estada vai ser uma destruição, uma morte. Se você está pronto para ser destruído, algo novo sairá disto. Toda destruição pode tornar-se um nascimento criativo. Se está pronto para morrer, você pode ter uma vida nova, pode renascer.
  • 7. Eu só estou aqui para ser um parteiro. É isto o que Sócrates costumava dizer, que um mestre é simplesmente um parteiro. Eu posso ajudar, posso proteger, posso guiar, isso é tudo. O fenômeno real, a transformação, vai acontecer em você. O sofrimento estará aí, porque nenhum nascimento é possível sem sofrer. Muita angústia surgirá, porque você a acumulou e ela tem de ser liberada. Serão necessárias uma limpeza profunda e uma catarse. O nascimento é igual à morte, mas o sofrimento vale a pena. Além da escuridão do sofrimento, uma nova manhã surge, um novo sol nasce. E o amanhecer não estará muito distante, quando você sentir bem a escuridão. Quando o sofrimento for insuportável, a alegria estará muito próxima. Assim, não tente escapar do sofrimento, isso é o essencial que você pode não entender. Não tente evitar isso, atravesse isso. Não tente achar alguma maneira de rodear, não, não faça isso. Atravesse. O sofrimento irá queimá-lo, destruí-lo, mas você não pode ser destruído de verdade. Tudo aquilo que pode ser destruído é só o lixo que você juntou. Tudo aquilo que pode ser destruído é algo que não é você. Quando tudo isso for destruído, então você sentirá que é indestrutível, que é imortal. Passando pela morte, atravessando a morte conscientemente, percebemos a vida eterna. Nesses poucos dias em que você estará aqui comigo, muitas coisas são possíveis, mas o primeiro passo para lembrar é passar pelo sofrimento. Muitas vezes eu crio sofrimento para você; muitas vezes eu crio uma situação em que tudo o que é contido interiormente em você aparece. Não coíba, não reprima. Permita-o, liberte-o. Se você pode livrar seu sofrimento, seu sofrimento contido, você se tornará livre dele. E você só pode alcançar o estado de beatitude quando todo o sofrimento for liberado, atirado para fora, completamente suprimido. E eu posso ver através de você: a chama da beatitude está muito perto. Um só vislumbre e aquela chama se tornará sua. Eu o forçarei de várias maneiras para que possa ter um vislumbre disso. Se você falhar, somente você será o responsável, mais ninguém. O rio está fluindo, mas se você não puder se abaixar, se não descer de seu estado egoístico de mente, você pode ir embora sedento. Não culpe o rio. O rio estava lá, mas você foi paralisado pelo seu ego. É isto que Nan-in diz: Esvazie a xícara. Isso significa esvazie a mente. O ego está lá, transbordando, e quando o ego está transbordando, nada pode ser feito. Toda a existência está ao seu redor, mas nada pode ser feito. Ao redor está o divino... envolvendo-o..., mas nada pode ser feito. Não há nenhum lugar por onde o divino pode penetrar em você, tal é a fortaleza que você criou. Esvazie a xícara. Ou melhor, despeje completamente a xícara. Quando eu digo despeje a xícara completamente, o que quero dizer é ficar tão vazio que você não tem sequer o sentimento de “eu estou vazio”. Certa vez, um discípulo veio a Bodhidharma e disse: “Mestre, você me disse para ficar vazio. Agora eu fiquei vazio. E então, o que mais me diz?”.
  • 8. Bodhidharma deu-lhe uma pancada forte na cabeça com seu bastão e disse: “Vá e jogue fora esse vazio”. Se você disser “Eu estou vazio”, o “Eu sou” está lá, e o “Eu” não pode estar vazio. Assim, a vacuidade não pode ser reivindicada. Ninguém pode dizer “Eu estou vazio”, da mesma maneira que ninguém pode dizer “Eu sou humilde”. Se você disser “Eu sou humilde”, você não é. Quem reivindica essa humildade? Humildade não pode ser reivindicada. Se você for humilde, você é humilde, mas você não pode dizer isso. Não só você não pode dizer isso, você não pode sentir que é humilde porque o próprio sentimento dará à luz novamente o ego. Fique vazio, mas não pense que está vazio, caso contrário você está se ludibriando. Você trouxe muitas filosofias consigo. Jogue-as fora. Elas não o ajudaram em nada, elas não fizeram nada para você. Há tempo suficiente, o tempo certo. Jogue-as fora, todas de uma vez, não aos poucos, não em fragmentos. Durante esses poucos dias que você estará aqui comigo, simplesmente permaneça sem qualquer pensamento. Sei que é difícil, mas, ainda assim, eu digo que é possível. E uma vez que você aprender o macete disso, irá rir de toda a insensatez da mente que você esteve carregando por tanto tempo. Ouvi falar de um homem que estava viajando pela primeira vez em um trem, um aldeão. Ele estava carregando a bagagem sobre a cabeça, pensando: “Colocar isso no chão será demais para o trem carregar, e eu só paguei por mim. Comprei a passagem, mas não paguei pela bagagem”. Assim ele estava carregando a bagagem sobre a cabeça. O trem estava carregando a ele e a sua bagagem, e quer ele a carregue na cabeça ou a coloque no chão, para o trem dá na mesma. A sua mente é a bagagem desnecessária. Dá na mesma para esta existência que o está carregando; você está sobrecarregado desnecessariamente. Eu digo: Jogue isso fora. As árvores existem sem a mente e são mais formosas que qualquer ser humano; os pássaros existem sem a mente e vivem em um estado mais elevado do que qualquer ser humano. Olhe para as crianças que ainda não são civilizadas, que ainda são selvagens. Elas existem sem a mente, e até mesmo um Jesus ou um Buda sentirá inveja da inocência delas. Não há nenhuma necessidade dessa mente. O mundo inteiro vai para a frente sem isso. Por que você a fica carregando? Será que você está pensando que será demais para Deus, demais para a vida? Uma vez que você se livre dela, até mesmo por um único minuto, toda a sua existência será transformada. Você entrará em uma nova dimensão, a dimensão da leveza. É isto que eu vou lhe dar: asas para o céu, no firmamento — a leveza lhe dá essas asas —, e raízes na terra, um aterramento, um centro. Esta terra e aquele céu: são duas partes do todo. Nesta vida, a denominada vida ordinária, você deve estar enraizado; e em seu espaço interior, na vida espiritual, você deve ser a leveza e voar, fluir, flutuando.
  • 9. Raízes e asas eu posso lhe dar, se você permitir, porque eu sou só um parteiro. Não posso forçar a criança para fora de você. Uma criança forçada será feia, e uma criança forçada pode morrer. Somente permita-me. A criança está ali, você já está grávido. Todos estão grávidos de Deus. A criança está ali e você já a carregou por tempo demasiado; há muito tempo o período de nove meses passou. Isso pode ser a origem de sua angústia — a de que você está carregando algo no útero que necessita vir ao mundo, que precisa sair para fora, que tem de nascer. Pense em uma mulher, uma mãe, carregando uma criança depois do nono mês. Então torna-se cada vez mais penoso, e, caso o nascimento não ocorrer, a mãe morrerá, porque será demais para ela suportar. Isso pode ser a razão pela qual você está com tanta ansiedade, angústia, tensão. Algo precisa nascer de você; algo precisa ser criado fora de seu útero. Eu posso ajudar. Este Samadhi Sadhana Shibir, este espaço para o êxtase interno e iluminação, lhe servirá de ajuda para que aquilo que você carregou como uma semente até agora possa sair de sua terra e venha a tornar-se algo vivo, uma planta viva. Mas a coisa básica é que, se deseja estar comigo, você não pode estar com a sua mente. Essas situações não podem acontecer simultaneamente. Sempre que está com sua mente, você não está comigo; sempre que a mente não está ali, você está comigo. E eu só posso trabalhar se você estiver comigo. Esvazie a xícara. Jogue fora a xícara completamente; destrua-a. Este lugar vai ser, de muitas formas, diferente. Esta noite eu começo uma fase completamente nova de meu trabalho. Você é afortunado por estar aqui porque será testemunha de um novo tipo de trabalho interior. Eu devo explicar isto a você, porque amanhã de manhã a jornada vai começar. Você estará fazendo meditação três vezes. Pela manhã, a dinâmica, à tarde, o kirtan, e à noite, uma nova meditação será introduzida: a dança dos dervixes sufis. Essas três meditações São fragmentos de um todo. A primeira meditação que você fará pela manhã está relacionada com o sol nascente. É uma meditação matutina. Quando o sono é rompido e tudo na natureza torna-se vivente. A noite se foi, a escuridão não mais existe, o sol está surgindo, e tudo torna-se consciente e alerta. Assim, essa primeira meditação é do tipo em que você tem de estar continuamente alerta, consciente, atento em tudo que faz. O primeiro passo, respirando; o segundo passo, catarse; o terceiro passo, o mantra, o mahamantra, Hoo. Permaneça uma testemunha. Não se perca. É fácil perder-se. Enquanto está respirando, você pode esquecer; você pode se tornar um com a respiração a ponto de esquecer a testemunha. Mas, então, você perdeu o essencial. Respire mais rápido, tão profundamente quanto possível, traga toda a sua energia para isso, mas ainda permaneça como testemunha. Observe o que está acontecendo como se você fosse só um espectador, como se tudo estivesse acontecendo
  • 10. com outra pessoa, como se tudo estivesse apenas acontecendo no corpo e a consciência estivesse somente centrada e olhando. Esse testemunho tem que ser mantido em todos os três passos. E quando tudo pára, e no quarto passo você ficou completamente inativo, congelado, então essa vigilância alcançará o seu ápice. Na meditação vespertina, kirtan, dançando, cantando, outro trabalho interior tem que ser feito. Pela manhã você tem que estar completamente consciente; na meditação da tarde você tem que estar meio consciente, meio inconsciente. É uma meditação do fluxo da tarde, quando você está alerta, mas se sente sonolento. É como um homem que está sob a influência de algum tipo de droga. Ele caminha, mas não pode fazê-lo corretamente; sabe para onde está indo, mas tudo está escuro. Ele está consciente e não consciente. Ele sabe que tomou álcool, sabe que seus pés estão oscilando, mas sabe disso meio adormecido, semidesperto. Assim, na meditação da tarde, lembre-se disto, aja como se estivesse intoxicado, bêbado, extático. Às vezes você se esquecerá completamente de si, como um bêbado, às vezes se lembrará de si, mas não tente ser consciente como de manhã. Não. Mova-se com o dia, meio a meio ao meio-dia. Então você estará sintonizado com a natureza. À noite, é só o oposto da manhã, esteja completamente inconsciente; não se preocupe. A noite chegou, o sol se pôs, agora tudo está se movendo na direção da inconsciência. Mova-se para a inconsciência. Esse girar, o rodopio sufi, é uma das técnicas mais antigas, uma das mais fortes. É tão profundo que até mesmo uma única experiência pode torná-lo totalmente diferente. Você tem que rodopiar com os olhos abertos, como as crianças pequenas fazem, como se o seu ser interior tivesse se tornado um centro e seu corpo inteiro uma roda, em movimento, a roda de um oleiro, movendo-se. Você está no centro, mas o corpo inteiro está em movimento. Comece lentamente, no sentido dos ponteiros do relógio. Se alguém sentir que é muito difícil mover-se nesse sentido, então mova-se no sentido anti-horário, mas a regra é mover-se no sentido horário. Algumas pessoas canhotas podem ter dificuldade; então podem mover-se no sentido anti-horário. Cerca de dez por cento das pessoas são canhotas, assim, se você achar que no sentido horário se sente desconfortável, mova se no sentido anti-horário; mas comece no sentido horário, e então sinta. Com os olhos abertos, comece a mover-se. A música vai estar ali, suave, só para ajudá-lo. No início mova-se muito devagar; não vá rápido, vá muito lentamente, desfrutando. E então, pouco a pouco, vá mais rápido. Nos primeiros quinze minutos vá lentamente; nos quinze minutos seguintes, mais rápido; nos próximos quinze minutos, mais rápido ainda; nos últimos quinze minutos, muito rapidamente. Então traga toda a sua energia... você torna-se um redemoinho, um redemoinho de energia, perdido
  • 11. completamente nele: nenhuma testemunha, nenhum esforço para observar. Não tente ver; seja o redemoinho, seja aquele que rodopia. Uma hora. No princípio você pode não conseguir por tanto tempo, mas lembre-se de uma coisa: não seja você a parar, não deixe de girar. Se você sente que é impossível, o corpo vai parar automaticamente, mas não faça a parada. Se você cair durante essa hora não há nenhum problema; o processo está completo. Mas não pregue peças em si mesmo, não se engane; não pense que agora está cansado e então é melhor parar. Não, não tome uma decisão a seu favor. Se você está cansado, como pode continuar? Você vai parar automaticamente. Assim, não pare a si mesmo; deixe o rodopio chegar a um ponto em que você cai. Quando cair, caia sobre o seu estômago; e será bom se o seu estômago entrar em contato direto com a terra. Aí feche os olhos. Deite-se sobre a terra como se fosse o peito de sua mãe, uma criança pequena que deita no peito da mãe. Fique completamente inconsciente e esse rodopio irá ajudá-lo, O rodopio intoxica o corpo. É uma coisa química, ele o intoxica, para ser exato. É por isso que às vezes você pode sentir vertigens como um bêbado. O que acontece ao bêbado? Escondido dentro de seus ouvidos há um sexto sentido, o sentido do equilíbrio. Quando você toma qualquer bebida, qualquer coisa alcoólica, qualquer droga que intoxica, isso entra diretamente na área de equilíbrio no ouvido e perturba-o. É por isso que um bêbado não pode caminhar, sente-se atordoado. O mesmo acontece quando se rodopia. Se você rodopiar, realmente, o efeito será o mesmo: você se sentirá intoxicado, bêbado. Mas aproveite, essa embriaguez é valiosa. Estar nesse estado inebriante é aquilo que os sufis têm chamado êxtase, masti. No começo você pode ter vertigens, no começo, às vezes, você pode sentir náuseas, mas depois de dois, três dias, essas sensações desaparecerão, e por volta do quarto dia você sentirá uma energia nova em si mesmo que nunca conheceu antes. Então a vertigem desaparecerá, e só um pouco da sensação de embriaguez permanecerá ali. Assim, não procure estar alerta sobre o que está acontecendo. Deixe acontecer e torne-se um com o acontecimento. Pela manhã, alerta; pela tarde, meio alerta, meio não alerta; à noite, completamente não alerta. O ciclo está completo. E então caia no chão sobre o seu estômago. Se uma pessoa sentir qualquer tipo de dor no centro do umbigo ao deitar no chão, então ela pode virar sobre as costas, caso contrário, não. Se você sente algo, uma sensação dolorosa muito funda no estômago, então vire sobre as costas, caso contrário, não. O umbigo em contato com a terra lhe dará um sentimento de felicidade tal que só é comparável àquele que uma vez você teve, mas agora esqueceu, quando era uma criança que deitava no peito de sua mãe, completamente livre de qualquer preocupação, qualquer ansiedade; dessa forma, era um com sua mãe, seu
  • 12. coração batendo com o dela, a sua respiração sincronizada com a respiração dela. O mesmo acontecerá com a terra, porque a terra é a mãe. É por isso que os hindus têm chamado a terra de mãe e o céu de pai. Fique enraizado nisso. Sinta uma fusão como se você tivesse se dissolvido. O corpo tornou-se um com a terra; só a forma está lá, nada mais. Só existe a terra; você não está lá. Isto é o que eu quero dizer quando eu peço para quebrar a xícara completamente: esqueça quem você é. A terra é, dissolva-se nisso. Durante a hora de rodopio, a música continuará. Muitos cairão antes da hora, mas todos devem cair quando a música parar. Assim, se você sentir que ainda não está a ponto de cair, então vá mais e mais rápido. Depois de quarenta e cinco minutos, rodopie muito rapidamente, até que a hora se complete e você caia. E o sentimento de cair é bonito, então não o manipule. Caia, e quando você cair, vire-se sobre o seu estômago, funda-se, feche os olhos. Essa fusão tem que durar uma hora. Assim, a meditação noturna será de duas horas, das sete às nove horas. Não coma nada antes disso. Às nove horas lhe será dada a sugestão para que saia dessa embriaguez profunda, desse êxtase. Mesmo depois disso, pode ser que você não consiga caminhar corretamente, mas não se preocupe, desfrute. Então coma o seu alimento e vá dormir. Outra novidade: eu não estarei lá; só a minha cadeira vazia estará lá. Mas não sinta a minha falta, porque de certo modo eu estarei lá, e, de certa forma, sempre houve uma cadeira vazia atrás de você. Agora mesmo a cadeira está vazia, porque não há ninguém sentado nela. Eu estou falando com você, mas não há ninguém falando com você. É difícil entender, mas quando o ego desaparece, os processos podem continuar. A fala pode continuar, o sentar e o caminhar e o comer podem continuar, mas o centro desapareceu. Mesmo agora, a cadeira está vazia. Mas eu sempre estive com você até este instante em todos os acampamentos, porque você não estava pronto. Agora eu sinto que você está pronto. E você deve ser ajudado para adquirir mais disposição para trabalhar em minha ausência, porque, sentindo que eu estou ali, você pode experimentar um tipo de entusiasmo que é falso. Apenas sentindo que eu estou presente, você pode fazer coisas que nunca quis fazer; apenas sob a minha influência você pode esforçar-se mais. Isso não é de muita ajuda, porque só o que pode ser útil é o que sai de seu ser. Minha cadeira estará lá, eu estarei assistindo-o, mas você sente-se completamente livre. E não pense que eu não estou lá, porque isso pode deprimi-lo, e então essa depressão vai perturbar a sua meditação. Eu estarei lá, e se você meditar corretamente, sempre que sua meditação for sintonizada com precisão, você me verá. De forma que esse será o critério para você saber se está realmente meditando ou não. Muitos de vocês poderão me ver mais intensamente do que podem me ver bem agora, e sempre que você me vê, pode ter certeza de que as coisas estão acontecendo na direção certa.
  • 13. Assim, esse será o critério. Até o final deste acampamento, espero que noventa por cento de vocês tenham me visto. Dez por cento podem não conseguir por causa de suas mentes. Assim, se você me vê, não comece a pensar sobre isso, sobre o que está acontecendo, não comece a pensar se é a imaginação ou uma projeção ou se eu estou realmente ali. Não pense, porque, se você pensar, imediatamente eu desaparecerei; pensar se tornará uma barreira. O pó surgirá no espelho e não haverá nenhum reflexo. Sempre que o pó não estiver lá, você se conscientizará de minha presença mais do que você o faria no momento presente. Estar atento ao corpo físico não requer muita consciência; estar atento ao ser não físico é a consciência verdadeira. Vocês têm que aprender a trabalhar sem mim. Vocês não podem estar aqui o tempo todo, terão que ir para longe; não podem ficar comigo para sempre, têm outros trabalhos para fazer. Vocês vieram de países diferentes do mundo inteiro; vocês terão de ir. Durante alguns dias ficarão aqui comigo, mas se vocês se viciarem com a minha presença física, nesse caso, em lugar de ser uma ajuda, isto pode tornar-se uma perturbação, porque então, quando forem embora, vocês sentirão a minha falta. Suas meditações aqui devem ser de modo a que possam ser feitas sem a minha presença; assim, onde quer que vocês estiverem, a meditação não será de nenhuma forma afetada. E isto também tem que ser lembrado: eu não poderei estar sempre neste corpo físico com vocês; um dia ou outro o veículo físico tem que ser deixado. Meu trabalho está completo até onde eu posso ver. Se estou carregando esse veículo físico, é só para vocês; algum dia terá de ser abandonado. Antes que isso aconteça, vocês devem estar prontos para trabalhar na minha ausência, ou na minha presença não física, o que dá na mesma. E quando puderem sentir-me em minha ausência, vocês estarão livres de mim, e então, mesmo se eu não estiver aqui neste corpo, o contato não será perdido. Isto sempre acontece quando um buda está ali: sua presença física torna-se demasiado significativa. Então, quando ele morre, tudo se quebra. Até mesmo Ananda, o discípulo mais íntimo de Gautama Buda, começou a chorar e a lamentar-se quando o Buda disse: “Agora tenho que deixar este corpo”. Durante quarenta anos, Ananda esteve com Buda vinte e quatro horas por dia, como uma sombra. Ele começou a chorar e a lamentar-se como uma criança; de repente ele tinha se tornado um órfão. Buda perguntou: “O que você está fazendo?” Ananda disse: “Agora será impossível para mim crescer. Eu pude crescer quando você estava aqui, então como poderei crescer agora? Podem agora passar-se milhões de vidas antes de eu me encontrar novamente com um buda, sendo assim, eu estou perdido”.
  • 14. Buda disse: “Minha compreensão é diferente, Ananda. Quando eu não estiver aqui, você poderá ser iluminado imediatamente, porque este tem sido o meu sentimento, você ficou muito preso a mim, e essa ligação está trabalhando como um obstáculo. Você se prendeu excessivamente a mim; essa conexão está funcionando como uma barreira”. E aconteceu como Buda disse. O dia em que Buda morreu, Ananda foi iluminado. Não havia nada para agarrar-se. Mas por que esperar? Quando eu morrer, então vocês serão iluminados? Por que esperar? Minha cadeira pode estar vazia; vocês podem sentir minha ausência. E lembrem, só quando puderem sentir a minha ausência é que vocês poderão sentir a minha presença. Se não podem ver-me enquanto meu veículo físico não estiver lá, vocês nunca me viram. Esta é minha promessa: eu estarei lá na cadeira vazia, e ela realmente não estará vazia. Procedam assim, cadeira não estará vazia! Mas é melhor que vocês aprendam a entrar em contato com o meu ser não físico. Este é um contato mais profundo, mais íntimo, mais tangível. É por isso que eu digo que uma fase nova de meu trabalho começa neste encontro, e estou chamando isto um Samadhi Sadhana Shibir. Não é só meditação, é o êxtase absoluto que vou lhes ensinar. Não é só o primeiro passo, é o último. Só parte da mente de vocês é necessária e tudo já está pronto. Só estejam alertas para não pensar muito. Nos intervalos entre estas três meditações, permaneçam calados, não falem. Se quiserem fazer algo, riam, dancem: façam algo intenso e físico, mas não mental. Dêem um longo passeio, vão correr pelos campos, saltem debaixo do sol, deitem na terra, olhem para o céu, desfrutem, mas não deixem a mente funcionar muito. Riam, chorem, lamentem-se, mas não pensem. Se puderem ficar sem pensar durante estas três meditações e o intervalo entre elas, então depois de três ou quatro dias vocês sentirão repentinamente que um fardo desapareceu. O coração ficou claro, o corpo leve, e vocês estarão prontos para dar um salto no desconhecido. Mais alguma coisa? Osho, A última parte do que você nos disse é muito bonita e alegre, mas a primeira parte é bastante assustadora, quebrar a xícara, sofrendo, caindo no chão, você que não está lá. Então, nossa mente entra em ação e criamos justificativas para o nosso corpo. Nós dizemos: “Eu tenho esta dor. Eu tenho esta bolha...”. Você pode nos dar alguma pista de como podemos superar as barreiras que criamos para nós mesmos quando deparamos com o medo?
  • 15. Qualquer conflito criará mais barreiras. Se há medo e vocês começam a fazer algo a respeito, então um medo novo surgirá: o medo do medo. Ficou mais complexo. Assim, o que deve ser feito é: se o medo estiver lá, aceite-o. Não façam nada a respeito porque fazer não ajudará. Qualquer coisa que vocês fizerem para privar-se do medo criará mais medo; qualquer coisa que fizerem para privar-se da confusão acrescentará mais confusão. Não façam nada. Se o medo estiver lá, percebam que o medo está lá e aceitem isso. O que vocês podem fazer? Nada pode ser feito; o medo está lá. Vejam, se vocês podem simplesmente perceber que o medo está lá, então onde está o medo? Vocês aceitaram isso; dissolveram. A aceitação dissolve; só a aceitação, nada mais. Se vocês lutam, criam assim uma outra perturbação e isto pode continuar ad infinitum, então isso não tem fim. As pessoas vêm a mim e dizem: “Nós temos muito medo, o que deveríamos fazer?” Se eu lhes der algo para fazer, elas o farão com o ser que está cheio de medo, e assim a ação sairá do medo delas. E a ação que sai do medo só pode ser medo. Ouvi dizer que Adolf Hitler estava sofrendo de depressão profunda, melancolia, e os psicólogos comentavam que isso era por causa de algum complexo de inferioridade escondido. Então todos os psicólogos arianos foram chamados. Eles tentaram, mas não puderam ajudar, nada conseguiram com suas análises. Assim, eles sugeriram que um psicanalista judeu fosse chamado. A princípio, Hitler não estava disposto a chamar um judeu, mas não vendo nenhuma outra alternativa, teve que render-se. Um grande psicanalista judeu foi chamado. Ele analisou, penetrou profundamente na mente de Hitler, em seus sonhos, e então sugeriu: “Não é um problema muito grave. Simplesmente repita continuamente: ‘Eu sou importante, eu sou significativo, eu sou indispensável’. Faça com que se torne um mantra. De noite, de dia, sempre que você lembrar, repita: ‘Eu sou importante, eu sou significativo, eu sou indispensável’”. Hitler disse: “Pare! Você está me dando um mau conselho”. O psicanalista não conseguia entender. Ele disse: “O que você quer dizer? Por que acha este conselho ruim?”. Hitler disse: “Porque por mais que eu diga, eu estou sendo tão mentiroso que não consigo acreditar nisso. Sou tão mentiroso, que não consigo acreditar em qualquer coisa que eu diga. Se você diz: Repita ‘eu sou indispensável’, eu sei que esta é uma mentira. Eu estou dizendo isto. Eu sou um mentiroso”. Sobre as mentiras, se vocês repetirem algo isso se tornará uma mentira; sobre o medo, se vocês fizerem algo, isso se tornará um novo medo. Sobre o ódio, se vocês tentarem amar, esse amor se tornará um ódio escondido; não pode ser outra coisa, vocês estão cheios de ódio. Vão aos pregadores e eles dirão: “Tente
  • 16. amar”. Eles estão falando tolice, porque como pode uma pessoa que está cheia de ódio tentar amar? Se ela tentar amar, esse amor sairá do ódio; já estará envenenado, envenenado na própria fonte. E essa é a pobreza de todos os pastores. Gandhi disse às pessoas violentas: Tente ser não violento. Então a não-violência delas sai da violência, assim, a não-violência delas é só uma fachada, só uma face para mostrar. Profundamente, no íntimo, eles estão fervendo de violência. Se seu brahmacharya, seu celibato, vem de muita sexualidade, será sexo pervertido, nada mais. Então, por favor, não criem nenhum conflito. Se vocês tiverem um problema, não criem outro; permaneçam com ele, não lutem e criem outro. É mais fácil resolver um problema velho do que um novo; e estando o primeiro mais perto da fonte, o segundo será eliminado. Removendo o que está mais afastado da fonte, fica mais difícil resolver o primeiro. Se vocês tiverem medo, é medo que vocês têm, por que fazer disso um problema? Então vocês sabem que têm medo, da mesma maneira que possuem duas mãos. Por que criar um problema disso, como o fato de terem só um nariz em vez de dois? Por que fazer disso um problema? O medo está ali: aceitem, anotem. Aceitem, não se aborreçam com isso. O que acontecerá? De repente vocês vão sentir que desapareceu. E esta é a alquimia interna: um problema desaparece se vocês o aceitam, e um problema cresce mais complexo se entrarem em conflito com ele. Sim, sofrer é isso, e de repente o medo vem; aceitem-no. Está ali e nada pode ser feito a respeito. E quando eu digo que nada pode feito a respeito, não pensem que estou lhes falando sobre pessimismo. Quando digo que nada pode ser feito a respeito, eu estou lhes dando a chave para resolver o problema. O sofrer está aí. Faz parte da vida e do crescimento; não há nada de mau nisso. Sofrer só se torna ruim quando é simplesmente destrutivo e não cria nada; sofrer só é ruim quando vocês sofrem e nada ganham com isso. Mas eu estou lhes falando que o divino pode ser obtido pelo sofrimento; então se torna criativo. A escuridão é bonita se o amanhecer estiver próximo; a escuridão é perigosa se for infinita, se não levar a um amanhecer, então ela simplesmente continua indefinidamente e vocês permanecem num buraco, num círculo vicioso. Isto é o que está acontecendo com vocês. Assim que se livram de um sofrimento, acabam por criar outro; então livram-se outro, e de outro. E isto continua sem parar, e todos esses sofrimentos que ainda não viveram estão esperando por vocês. Vocês escaparam de um sofrimento para cair em outro, porque a mente que estava criando um sofrimento criará outro. Assim, vocês podem escapar deste sofrimento para cair em um outro, mas o sofrimento estará lá porque a mente de vocês é a força criadora.
  • 17. Aceitem o sofrimento e passem por ele; não fujam. Esta é uma dimensão totalmente diferente para se trabalhar interiormente. O sofrimento está ali: vão ao seu encontro, passem por ele. O medo vai estar lá, aceitem-no. Vocês tremerão, então tremam. Por que criar uma fachada de que vocês não tremem, de que não têm medo? Se vocês forem covardes, aceitem isso. Todos são covardes. As pessoas que vocês chamam de valentes são só fachadas. No fundo, elas são tão covardes quanto qualquer outra; ou melhor, mais covardes. Só para esconder essa covardia elas criaram uma coragem ao redor de si, e às vezes agem de tal modo que todos acreditam que elas não são covardes. A coragem delas é só uma projeção. Como pode um homem ser valente? ...porque a morte está ali. Como pode um homem ser valente? ...porque ele é só uma folha ao sabor dos ventos. Como a folha pode ajudar tremendo? Quando o vento sopra, a folha vai tremer. Mas você nunca diz à folha: “Você é covarde”. Você só diz que a folha está viva. Assim, quando vocês tremem e o medo os toma, vocês são uma folha no vento. Bem, por que fazer um problema disso? Mas a sociedade criou problemas com relação a tudo. Quando uma criança tem medo na escuridão, nós dizemos: “Não tenha medo, seja valente”. Por quê? A criança é inocente, naturalmente ela sente medo da escuridão. Você a força: “Seja valente”. Assim, ela também se esforça, então fica tensa. Agora ela suporta a escuridão, mas está tensa; agora o ser inteiro dela está pronto para tremer e ela reprime isso. Essa repressão do tremor a seguirá agora por toda a vida. Era bom tremer na escuridão, nada estava errado. Era bom chorar e correr, nada estava errado. A criança teria saído da escuridão mais experiente, mais instruída. E ela teria percebido, ao atravessar a escuridão tremendo e chorando e lamentando-se, que não havia nada para temer. Reprimindo-se, vocês nunca experimentam as coisas em sua totalidade, nunca ganham qualquer coisa fora disso. A sabedoria passa pelo sofrimento e pela aceitação. Qualquer que seja o caso, tenha certeza disso. Não se importem com a sociedade e com o seu julgamento. Ninguém está aqui para julgá-los e ninguém pode fingir ser um juiz. Não julguem os outros e não se perturbem e se preocupem com o julgamento deles. Vocês estão sós e são únicos. Vocês nunca foram antes, nunca serão novamente. Vocês são bonitos. Aceitem isso. E o que quer que aconteça, deixem isso acontecer e passem por essa situação. Logo, o sofrimento será aprendizagem; então ele tornou-se criativo. O medo lhes dará a intrepidez. Sem a raiva virá a compaixão. Sem a compreensão do ódio, o amor nascerá em vocês. Mas isto não acontece em um conflito, e sim ao atravessá-lo com a consciência alerta. Aceitem e atravessem isso. E se vocês fizerem questão de passar por todas as experiências, então haverá a morte, a experiência mais intensa. A vida não é nada diante dela, porque a vida não pode ser tão intensa quanto a morte.
  • 18. A vida é distribuída ao longo de muito tempo, setenta anos, cem anos. A morte é intensa porque não é distribuída, ela é num único momento. A vida é vivida ao longo de cem ou setenta anos, não pode ser tão intensa. A morte chega num único momento; vem inteira, não fragmentada. Será de tal maneira intensa, que vocês não poderão imaginar algo do tipo. Mas se vocês têm medo, se antes da morte chegar vocês fugirem, então se tornarão inconscientes por causa do medo e perderão uma das oportunidades douradas, o portão dourado. Se durante toda a vida vocês têm aceitado tudo, quando a morte vier, irão aceitá-la paciente e passivamente sem qualquer esforço para escapar dela. Se puderem aceitar a morte sem qualquer esforço, silenciosa e passivamente, ela desaparecerá. Quando Krishna, Cristo, Buda e Mahavira dizem que vocês são imortais, eles não estão falando sobre uma doutrina, estão falando da própria experiência deles. Isso também pode acontecer aqui, neste acampamento, porque samadhi é morte, dhyan é morte, meditação é morte. Muitas vezes haverá momentos em que vocês se sentirão como se estivessem morrendo. Não fujam, deixem acontecer. Se vocês deixarem isso acontecer, a morte se foi, a morte não está mais ali e a chama interior, sem início, sem fim, entrou no ser. Ela sempre esteve lá, agora vocês podem senti-la. Assim, esse deveria ser o sutra. Com medo, ódio, ciúme, qualquer que seja a coisa, não façam disso um problema. Aceitem, permitam, atravessem isto, e vocês derrotarão todo o sofrimento, toda a morte. E vocês se tornarão um jinna, um vitorioso. Mais alguma coisa? Osho, Quando você fala sobre a nossa necessidade de sofrer, nos diz que sejamos, ao mesmo tempo, alegres. Tentar chegar a um acordo entre essas duas coisas parece difícil. Quando eu digo sofram alegremente, isso parece paradoxal e a mente de vocês começa a pensar em como chegar a um acordo, porque essas duas coisas são contraditórias para vocês. Elas não são, elas só parecem contraditórias. Vocês podem gostar de sofrer. Qual é o segredo, como gostar de sofrer? A primeira coisa é: se vocês não fugirem, se permitirem ao sofrimento estar lá, se estiverem prontos para enfrentar isso, se não estão de alguma maneira tentando esquecer isso, então vocês serão diferentes. O sofrimento está aí, mas só ao redor; ele não está no centro, está periferia. É impossível ao sofrimento estar no centro; não é da natureza das coisas. Ele sempre está na periferia e vocês são o centro.
  • 19. Assim, quando permitirem que isso aconteça, vocês não escaparão, não correrão, não ficarão em pânico, de repente vocês se darão conta de que aquele sofrimento está lá na periferia e é como se estivesse acontecendo com outra pessoa, não com vocês, e vocês estarão olhando para isso. Uma alegria sutil se irradiará em todo o seu ser, porque terão percebido uma das verdades básicas da vida, que vocês são alegria e não sofrimento. Então, quando eu digo desfrutem, não quero dizer: tornem-se masoquistas. Eu não quero dizer: criem sofrimentos para si mesmos e desfrutem. Não quero dizer: vão em frente, joguem-se num precipício, quebrem seus ossos e então desfrutem. Não. Há pessoas desse tipo e muitas delas tornaram-se ascetas, tapasvis, e elas ficam criando sofrimentos para si. Elas são masoquistas, estão doentes. São pessoas muito perigosas. Elas queriam fazer outras pessoas sofrerem, mas não eram tão corajosas. Queriam matar outras pessoas, ser violentas com elas, aleijá-las, mas não eram tão corajosas, assim toda a sua violência voltou-se para dentro. Agora elas estão se mutilando, se torturando, e desfrutando isso. Eu não estou dizendo sejam masoquistas; simplesmente estou dizendo que o sofrimento está aí, vocês não precisam procurar para encontrá-lo. Já têm aí sofrimento suficiente, não precisam procurar. O sofrimento já está aí; a vida por sua própria natureza cria o sofrimento. A doença está aí, a morte está aí, o corpo está aí, o sofrimento é criado pela própria natureza. Vejam, olhem para isto com um olho muito imparcial. Olhem para isto, o que é que está acontecendo. Não fujam. Imediatamente a mente diz: “Fuja daqui, não olhe para isto”. Mas se vocês fogem, então não poderão ser felizes. Da próxima vez que ficarem doentes e o doutor sugerir que permaneçam de cama, aceitem isso como uma bênção. Fechem os olhos, descansem na cama e só olhem para a doença. Olhem para ela, o que é. Não tentem analisar isso, não criem teorias, só olhem para ela, o que é. O corpo inteiro cansado, febril, olhem para ele. De repente, vocês sentirão que estão rodeados pela febre, mas há um ponto muito frio dentro de vocês; a febre não pode tocar isso, não pode influenciar isso. O corpo inteiro pode estar queimando, mas aquele ponto frio não pode ser tocado. Conta-se a história de uma freira zen. Antes de morrer, ela perguntou aos seus discípulos: “O que vocês sugerem? Como eu deveria morrer?”. É uma velha tradição no zen que os mestres façam essa pergunta. Eles podem morrer conscientes, portanto podem perguntar. E eles são mesmo tão brincalhões com a morte, tão espirituosos, brincando e rindo sobre isso, que gostam de inventar métodos para morrer.
  • 20. Assim, os discípulos podem sugerir: “Mestre, isto será bom: de ponta-cabeça”. Ou então alguém sugere: “Andando... porque nós nunca vimos alguém morrer caminhando”. E então essa freira zen perguntou: “O que vocês sugerem?”. Eles disseram: “Será bom se nós prepararmos um fogo, e você sentar nele e morrer, meditando”. Ela disse: “Isso é lindo e nunca ouvi nada assim antes”. Então, eles prepararam uma pira funerária, a freira acomodou-se confortavelmente, sentou-se na postura de buda, e eles então acenderam o fogo. Um homem da multidão perguntou: “Como se sente aí? Está tão quente que eu não posso nem chegar mais perto para lhe perguntar, por isso é que estou gritando. Como se sente aí?” A freira riu e disse: “Só um bobo pode fazer uma pergunta destas: Como se sente aí? Aqui sempre se sente frio, perfeitamente frio”. Ela está falando do seu ser interior, o centro. Lá sempre fresco, e só uma pessoa tola pode fazer uma pergunta dessas. Por que ela diz que só uma pessoa tola pode fazer uma pergunta desse tipo? É óbvio. Quando uma pessoa está pronta para se sentar sobre o fogo meditando, e o fogo está queimando e ela está sentada em silêncio, obviamente isso mostra que essa pessoa deve ter alcançado o seu mais íntimo ponto fresco, o qual não pode ser perturbado por qualquer fogo; caso contrário, isso não seria possível. Assim, quando vocês estiverem deitados na cama com febre, em chamas, o corpo todo queimando, só assistam a isso. Assistindo, vocês retrocederão para a fonte. Assistindo, vocês ganharão equilíbrio, um ritmo. Assistindo, sem fazer nada... o que podem fazer? A febre está ali, vocês têm de passar por isso; não faz sentido lutar desnecessariamente contra isso. Vocês estão descansando, e se lutarem contra a febre ficarão mais febris, isso é tudo. Sendo assim, assistam apenas. Observando a febre, vocês ficam frescos; observando mais, vocês ficam mais frescos ainda. Só observando vocês alcançam um cume, um cume tão fresco, que até o Himalaia sentiria inveja; nem sequer os seus cumes são tão frescos. Este é o Gourishankar, o Everest de dentro. E quando vocês sentirem que a febre desapareceu... Ela nunca esteve realmente lá; apenas esteve no corpo, muito, muito longe. Existe um espaço infinito entre vocês e seu corpo, espaço infinito, é o que eu digo. Uma abertura intransponível entre vocês e seu corpo. E todo o sofrimento está na periferia. Os hindus dizem tratar-se de um sonho, porque a distância é muito vasta, intransponível. É como um sonho que acontece em outro lugar, — não está acontecendo com vocês —, em algum outro mundo, em algum outro planeta.
  • 21. Quando vocês assistem ao sofrimento, de repente vocês não são os que sofrem, e então começam a desfrutar. Pelo sofrimento vocês se dão conta do pólo oposto, o ser interior feliz. Assim, quando eu digo desfrute, estou dizendo: Olhem. Voltem à fonte, fiquem centrados. Então, de repente, não há nenhuma agonia; só existe o êxtase. Aqueles que estão na periferia vivem na agonia. Para eles, nenhum êxtase. Para os que vieram de seu centro, não existe nenhuma agonia. Para estes, só o êxtase. Quando eu digo para quebrar a xícara, é no sentido de quebrar a periferia. E quando eu digo fique totalmente vazio, quero dizer voltar à fonte original, porque nascemos do vácuo e a ele retornamos. Vacuidade realmente é a melhor palavra a empregar, até em lugar de Deus, porque com Deus começamos a sentir que há uma pessoa. Assim, o Buda nunca usa Deus, ele sempre usa shunyata, vacuidade, nada. No centro você é um não-ser, nada, só um espaço imenso, eternamente fresco, silencioso, feliz. Portanto, quando eu digo desfrute, quero dizer olhe, e então você desfrutará. Quando eu digo desfrute, eu quero dizer não fuja. Chega por hoje.
  • 22. CAPÍTULO 2 Sem mente, sem verdade O estudante Doko veio ao mestre e perguntou: “Em qual estado da mente eu deveria buscar a verdade?”. O mestre respondeu: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em nenhum estado, e não há nenhuma verdade, assim, você não pode buscá-la”. Doko disse: “Se não há uma mente e nem uma verdade, por que fazer todos esses estudantes se reunirem diariamente para estudar?”. O mestre olhou ao redor e disse: “Eu não vejo ninguém”. O indagador perguntou: “Então a quem você está ensinando?”. “Eu não tenho língua, então, como posso ensinar?”, respondeu o mestre. Então Doko disse tristemente: “Eu não consigo segui-lo; eu não consigo compreender”. O mestre disse: “Eu mesmo não compreendo”. A vida é um mistério muito grande, ninguém pode compreendê-la, e aquele que afirma que a compreende é simplesmente ignorante. Ele não está consciente de suas palavras, da tolice que está falando. Se vocês forem sábios, esta será a sua primeira percepção: a vida não pode ser compreendida. Compreender é impossível. Só isto deve ser muito bem compreendido, essa compreensão é impossível. É isso o que narra essa bela história zen. O mestre diz: “Eu mesmo não compreendo”. Se vocês perguntarem ao iluminado, essa será a resposta dele. Mas se vocês perguntarem aos ignorantes, eles lhes darão muitas respostas, eles proporão muitas doutrinas; e tentarão resolver o mistério que não pode ser resolvido. Não é um enigma. Um enigma pode ser resolvido, um mistério é insolúvel pela sua própria natureza, não há nenhuma maneira de resolvê-lo. Sócrates dizia: “Quando eu era jovem, achava que sabia muito. Quando fiquei velho, maduro em sabedoria, eu compreendi que não sei nada”.
  • 23. Um dos mestres sufis, Junnaid, conta que estava trabalhando com um jovem. O jovem não estava consciente da sabedoria interior de Junnaid, e este vivia uma vida tão ordinária que eram necessários olhos muito perspicazes para perceber que se estava próximo de um buda. Ele trabalhava como trabalhador comum, e só aqueles que tinham olhos podiam reconhecê-lo. Reconhecer o Buda é muito fácil, ele fica sentado debaixo de árvore de bodhi, iluminado; reconhecer Junnaid era muito difícil, ele trabalhava como operário e não se sentava debaixo de uma árvore de bodhi. Ele era, em todos os aspectos, absolutamente comum. O jovem estava trabalhando com ele, e ficava mostrando o conhecimento continuamente; assim, para todas as coisas que Junnaid fazia, o jovem dizia: “Isto está errado. Isto pode feito desta outra maneira, é melhor”, ele sabia tudo. Finalmente, Junnaid riu e disse: “Meu jovem, eu não sou suficientemente jovem para saber tanto”. Isso é realmente importante. Ele disse: “Eu não sou suficientemente jovem para saber tanto”. Só um jovem pode ser tão tolo, tão inexperiente. Sócrates estava certo quando dizia: “Quando era jovem, eu sabia muito. Quando amadureci, experimentei, eu acabei por compreender uma única coisa: que sou absolutamente ignorante”. A vida é um mistério; isso significa que não pode ser resolvido. E quando todos os esforços para resolvê-lo se provam fúteis, o mistério desperta dentro de você. Então as portas são abertas; e você é convidado. Como um entendido, ninguém entra no divino; como uma criança, ignorante, não sabendo nada, o mistério o acolhe. Com uma mente instruída, você é inteligente, não inocente. A inocência é a porta. Esse mestre zen tem razão quando diz: “Eu mesmo não compreendo”. Muito profundamente, realmente profundamente... a pergunta mais profunda possível. Mas essa é a última parte da história. Comecemos do princípio. O discípulo vem ao mestre zen e diz: “Em qual estado da mente eu deveria buscar a verdade?”. O mestre diz: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em nenhum estado”. A mente é ilusão, ela não é, mas parece ser e parece tanto que você pensa que você é a mente. A mente é maya, a mente é só um sonho, a mente é só uma projeção... uma bolha de sabão, não há nada nela, mas parece uma bolha de sabão flutuando num rio. O sol acabou de surgir, os raios penetram a bolha; um arco-íris surge e nada existe nela. Quando você toca a bolha, ela se rompe e tudo desaparece, o arco-íris, a beleza, nada fica. Só o vazio torna-se um com a vacuidade infinita. Há pouco havia uma parede lá, a parede da bolha. Sua mente
  • 24. é como uma parede de bolha, dentro o seu vazio, fora o meu vazio. É só uma bolha: fure-a e a mente desaparece. O mestre diz: “Não há nenhuma mente, assim, você não pode pô-la em nenhum estado”. É difícil entender. As pessoas vêm a mim e dizem: “Nós gostaríamos de atingir um estado silencioso da mente”. Elas pensam que a mente pode permanecer calada. A mente nunca pode ficar calada. A mente significa o tumulto, a doença, a enfermidade; a mente significa tensão, o estado angustiado. A mente não pode ficar silenciosa; quando há silêncio, a mente não está ali. Quando o silêncio chega, a mente desaparece; quando a mente está ali, não há mais silêncio. Assim, não pode haver uma mente silenciosa, da mesma maneira que não pode haver uma doença saudável. É possível ter uma doença saudável? Quando a saúde existe, a doença desaparece. O silêncio é a saúde interior; a mente é a doença interior, a perturbação interior. Assim, não pode existir uma mente silenciosa, e esse discípulo está perguntando: “Que tipo, que espécie, que estado da mente eu deveria alcançar?”. Claramente, o mestre disse: “Não existe uma mente, assim, você não pode alcançar nenhum estado”. Então, por favor, abandonem essa ilusão; não tentem alcançar nenhum estado na ilusão. É como se você estivesse pensando em viajar sobre o arco-íris e me perguntasse: “Que passos devemos dar para subir no arco-íris?”. Eu respondo: “O arco-íris não existe. O arco-íris é só uma aparição, assim, nenhum passo pode ser dado”. Um arco-íris simplesmente aparece; ele não está ali. Não é uma realidade, é uma falsa interpretação da realidade. A mente não é a sua realidade; é uma falsa interpretação. Você não é a mente, nunca foi a mente, nunca poderá ser a mente. Este é o seu problema: identifica- se com algo que não existe. Você é como um mendigo que acredita possuir um reino. Ele está sempre preocupado demais com o reino, em como administrá-lo, como governá-lo, como prevenir a anarquia. Não há nenhum reino, mas ele está preocupado. Chuang Tzu sonhou certa vez que havia se transformado em uma borboleta. Pela manhã ele estava muito deprimido. Seus amigos perguntaram: “O que aconteceu? Nós nunca o vimos tão deprimido”. Chuang Tzu disse: “Eu estou num dilema, estou perdido, não consigo entender. À noite, enquanto dormia, eu sonhei que tinha me tornado uma borboleta”.
  • 25. Então os amigos riram: “Ninguém fica assim transtornado por causa de um sonho. Quando você acorda, o sonho desapareceu, então por que você está perturbado?”. Chuang Tzu disse: “Este não é o problema. Agora eu estou confuso: se Chuang Tzu pode tornar-se uma borboleta no sonho, é possível que agora a borboleta esteja dormindo e sonhando que é Chuang Tzu”. Se Chuang Tzu pode tornar-se uma borboleta em sonho, por que não o contrário?, a borboleta pode sonhar e pode se tornar Chuang Tzu. Assim o que é real — Chuang Tzu ter sonhado que se transformou em uma borboleta ou a borboleta estar sonhando que se tornou Chuang Tzu? O que é real? Os arco-íris estão ali. Você pode transformar-se em borboleta no sonho. E você se transformou numa mente nesse sonho maior que chama de vida. Quando você desperta, não alcança um estado desperto da mente, mas um não-estado da mente, você alcança a não-mente. O que significa não-mente? É difícil acompanhar, mas às vezes, sem um propósito deliberado, você a alcançou, embora possa não tê-la reconhecido. Às vezes, apenas permanecendo simplesmente sentado, sem fazer nada, não há nenhum pensamento na mente. Quando não há nenhum pensamento, onde está a mente? Quando não há um pensamento, não há nenhuma mente, porque a mente é exatamente o processo de pensar. Não é uma substância, é só um processo. Você está aqui, eu posso dizer que uma multidão está aqui, mas realmente existe algo como uma multidão? Uma multidão é substancial ou são só indivíduos que estão lá? Aos poucos os indivíduos irão embora. Então haverá uma multidão deixada para trás? Quando os indivíduos se forem, não sobrará nenhuma multidão. A mente é exatamente como uma multidão; os pensamentos são os indivíduos. Como os pensamentos estão lá continuamente, você acredita que o processo é concreto. Elimine cada pensamento individual e finalmente não sobrará nada. Não existe a mente como tal, só os pensamentos. Mas os pensamentos se movem tão rapidamente que entre dois pensamentos você não consegue ver o intervalo. Mas o intervalo está sempre lá. Esse intervalo é você. Nesse intervalo não há nem Chuang Tzu nem a borboleta, porque a borboleta é uma espécie de mente e Chuang Tzu também é uma espécie de mente. Uma borboleta é uma combinação específica de pensamentos, Chuang Tzu é também uma outra combinação específica, mas ambos são mentes. Quando a mente não está lá, quem é você, Chuang Tzu ou uma borboleta? Nem um nem outro. E o que é o estado? Você está em um estado iluminado da mente? Se você pensa que está em um estado iluminado da mente, esse é mais um pensamento, e quando o pensamento está ali, você não está. Se você sente que é um buda, esse é um pensamento. A mente entrou; agora o processo está ali, novamente o céu está nublado, a cor azul perdeu-se. A cor azul infinita, você não pode mais ver.
  • 26. Entre dois pensamentos, tente estar alerta; olhe para dentro do intervalo, o espaço entre os dois. Você não verá nenhuma mente; essa é a sua natureza. Os pensamentos vão e vêm, eles são acidentais; esse espaço interior sempre permanece. As nuvens acumulam-se e vão, desaparecem, elas são acidentais, mas o céu permanece. Você é o céu. Certa vez um buscador foi procurar Bayazid, um místico sufi, e perguntou: “Mestre, eu sou uma pessoa muito irascível. A raiva me toma muito facilmente; eu fico realmente furioso e faço coisas. Nem posso acreditar, depois, que fui capaz de fazer tais coisas; eu fico fora de mim. Então, como largar essa raiva, como superá-la, como controlá-la?”. Bayazid tomou a cabeça do discípulo em suas mãos e olhou-o nos olhos. O discípulo mostrou-se um pouco intranquilo, e Bayazid disse: “Onde está essa raiva? Eu gostaria de vê-la aqui”. O discípulo riu, pouco à vontade, e disse: “Agora eu não estou bravo. Às vezes acontece”. Então Bayazid disse: “Aquilo que acontece às vezes não é da sua natureza. É um acidente. Vai e vem. É como as nuvens, então por que ficar preocupado com as nuvens? Pense no céu que sempre está ali”. Esta é a definição de atman, o céu que sempre está presente. Tudo aquilo que vai e vem é irrelevante; não se aborreça com isso, é só fumaça. O céu que permanece eternamente nunca muda, nunca fica diferente. Entre dois pensamentos, mergulhe nele; entre dois pensamentos, ele está sempre ali. Olhe dentro dele e de repente perceberá que você está na não-mente. O mestre tem razão quando disse: “Não existe uma mente, logo não pode haver nenhum estado da mente. Que tolice é essa que você está falando?” Mas a tolice tem a sua própria lógica. Se você pensa que tem uma mente, começará a pensar em termos de estados, um estado ignorante da mente, um estado iluminado da mente, um estado transtornado da mente, um estado silencioso da mente. Uma vez que aceitar a mente, o ilusório, você ficará motivado em classificá-la. E uma vez que aceitou que a mente está lá, você começará a buscar uma ou outra coisa. A mente só pode existir se você buscar algo continuamente. Por quê? É porque a busca é um desejo, buscar é mover-se para o futuro, a busca cria sonhos. Assim alguém está buscando poder, política, alguém está buscando riquezas, reinos, e assim alguém está buscando a verdade. Mas a busca está ali e buscar é o problema, não o que você está buscando. O objeto nunca é o problema; qualquer objeto serve. A mente pode se agarrar em qualquer objeto, qualquer desculpa é suficiente para ela existir.
  • 27. O mestre disse: “Não existe nenhum estado da mente porque não há nenhuma mente. E não há nenhuma verdade, assim, sobre o que você está falando? Não pode haver uma busca”. Esta é uma das maiores mensagens já ditas. É muito difícil; o discípulo não pode conceber que não existe uma verdade. Qual é a intenção desse mestre quando sugere que não existe uma verdade? Será que ele quer dizer que não existe uma verdade? Não, ele está dizendo isto para você, que é um buscador, que não pode haver nenhuma verdade. A busca sempre conduz ao falso. Só a mente de um não-buscador percebe o que é, e sempre que você busca, você perde o que é. A busca sempre o leva ao futuro, a busca não pode ser aqui e agora. Como você pode buscar aqui e agora? Você só pode ser. Buscar é desejo, o futuro entra, o tempo vem... e este momento, este, aqui e agora, é perdido. A verdade está aqui, agora. Se você perguntar a um buda: “Deus existe?”, ele negará imediatamente: “Não há nenhum Deus”. Se ele disser que há, ele está criando um buscador; se ele disser que Deus existe, você vai começar a buscar. Como você pode permanecer tranquilo quando há um Deus para ser encontrado? Para onde você vai correr? Você criou outra ilusão. Então o Buda diz que não existe um Deus. Ninguém o entendeu, as pessoas pensaram que ele era ateu. Ele não estava negando Deus, simplesmente estava negando o buscador. Mas se ele tivesse dito que Deus existe, o buscador estaria ali. E o buscador é o mundo; buscar é tudo aquilo que é maya. Durante milhões de vidas você foi um buscador, atrás disto ou daquilo, este objeto, aquele objeto, este mundo ou aquele mundo, mas um buscador. Agora você busca a verdade. Mas o mestre diz que não existe uma verdade. Ele retira a base da busca. Ele retira o chão sobre o qual você se apóia, onde a sua mente se apóia. Ele simplesmente o empurra para o abismo. O indagador disse: “Então, por que todos esses buscadores ao seu redor? Se não há nada para buscar e nenhuma verdade, então por que essa multidão?”. Você deveria ter estado lá, sentado ao redor do mestre. Alguém vem a mim e eu digo: “Não há nenhuma busca. Nada há para procurar, porque não há nada para buscar. Ele está pronto para perguntar: “Então por que estas pessoas estão aqui, por que estes sannyasins estão aqui? O que eles estão fazendo aqui?”. Mas o indagador continua a não compreender o essencial. O mestre olhou ao redor e disse: “Eu não vejo ninguém, não há ninguém aqui”. O indagador continua sem entender o essencial, o intelecto nunca vai compreender. Ele poderia ter olhado. Este era o fato: não havia ninguém.
  • 28. Você pode estar de dois modos, mas se está buscando, você está apenas em um. Se não está buscando, você não é, pois buscar lhe dá o ego. Bem neste momento, se não estiver buscando nada, qualquer coisa, você não está aqui, não há nenhuma multidão. Se eu não estou ensinando nada, porque não há nada para ser ensinado, nenhuma verdade a ser ensinada, se eu não estou ensinando nada e se você não estiver aprendendo nada, quem está aqui? A vacuidade existe e a felicidade da pura vacuidade. Os indivíduos desaparecem e tudo transforma-se numa consciência oceânica. Os indivíduos estão lá por causa de suas mentes individuais. Você tem um desejo diferente, é por isso que difere de seu vizinho; desejos criam distinções. Eu estou buscando algo, você está buscando qualquer outra coisa; meu caminho difere do seu, minha meta difere da sua. É por isso que sou diferente de você. Se eu não estou buscando e você não está buscando, as metas desaparecem, os caminhos não estão mais ali, como podem existir as mentes? A xícara está quebrada. Meu chá flui em você e seu chá flui em mim. Passa a ser uma existência oceânica. O mestre olhou ao redor e disse: “Eu não vejo ninguém, não há ninguém”. O intelecto continua perdido, e o indagador pergunta: “Então, quem você está ensinando? Se não há ninguém, então quem você está ensinando?”. E o mestre diz: “Eu não tenho língua, então, como posso ensinar?”. Ele continua a dar sugestões para ficar alerta, para ver, mas o indagador está afundado em sua própria mente. O mestre continua batendo, martelando na cabeça dele; ele só está falando tolice para tirá-lo da mente dele. Se você tivesse estado lá teria sido convencido pelo indagador, não pelo mestre. O indagador ter-lhe-ia parecido precisamente correto. Esse mestre parece estar louco, absurdo. Ele está falando e ele diz: “Não há nenhuma língua, assim, como eu posso falar?” Ele está dizendo: “Não há nenhum corpo em mim, como eu posso mover-me, como posso falar?”. Ele está dizendo: “Olhe para mim, eu não tenho forma. Olhe para mim, eu não estou encarnado. O corpo aparece para você, mas eu não sou ele, então, como eu posso falar?”. A mente continua perdida. Esta é a miséria da mente. Você a empurra, ela se junta novamente; você bate nela, e por um momento há um choque e um tremor, e novamente ela se estabelece. Você já viu uma boneca japonesa? Eles a chamam de boneca daruma. Você a atira de qualquer maneira, de pernas para o ar, de cabeça para baixo, mas qualquer coisa que você faça, a boneca permanecerá sentada na postura de buda. A parte inferior é tão pesada que você não pode fazer nada. Atire-a de qualquer forma e a boneca irá sentar-se novamente na postura de buda. O nome daruma vem de Bodhidharma; no Japão, o nome de Bodhidharma é Daruma. Daruma costumava dizer, Bodhidharma costumava dizer, que a sua mente é
  • 29. igual a essa boneca. Ele costumava ter uma boneca; ele a atirava longe, a chutava, mas qualquer coisa que fizesse não conseguia perturbar a boneca — a parte de baixo era demasiado pesada. Você a atira de cabeça para baixo, ela cairá sentada. Esse mestre continua pressionando. Um pequeno golpe e a boneca senta novamente, não entende o essencial. Finalmente, desesperado, o indagador diz: “Eu não o acompanho, eu não o entendo”. E o último golpe — o mestre diz: “Eu mesmo não entendo”. Eu continuo a ensiná-lo, sabendo bem que não há nada a ser ensinado. É por isso que posso continuar infinitamente. Se houvesse algo para ser ensinado, eu já teria terminado. Buda pode continuar sem parar porque não há nada para ser ensinado. É uma história sem fim, ela nunca termina, assim eu posso continuar sem parar. Eu nunca terminarei; você pode morrer antes de a minha história terminar, pois não há um fim para ela. Alguém estava me perguntando: “Por que você continua a falar diariamente?”. Eu disse: “Porque não há nada para ser ensinado”. Algum dia você sentirá isto de repente, que eu não estou falando, que eu não estou ensinando. Você entendeu? Não há nada para ser ensinado porque não há nenhuma verdade. Que disciplina eu estou lhe dando? Nenhuma. Uma mente disciplinada é novamente uma mente, até mesmo mais teimosa, inflexível; uma mente disciplinada é mais estúpida. Vá e veja os monges disciplinados no mundo inteiro, cristãos, hindus, jainistas. Sempre que você vê um homem que é absolutamente disciplinado, encontrará uma mente estúpida atrás dele. O que flui parou. Ele se preocupa tanto em achar algo, que estará pronto para fazer qualquer coisa que você disser. Se você disser: “Fique de cabeça para baixo durante uma hora”, ele estará pronto para ficar de cabeça para baixo. Ele é assim por causa do seu desejo. Se Deus só pode ser alcançado caso esse homem fique horas de cabeça para baixo, ele estará pronto, mas ele precisa conseguir. Eu não estou lhe dando nenhuma realização, nenhum anseio; não há nada para encontrar em parte alguma e nada para alcançar. Se você perceber isto, você alcançou este mesmo momento. Neste momento você é perfeito; nada será feito, nada será mudado. Neste mesmo momento você é um brâmane absoluto. É por isso que o mestre disse: “Eu mesmo não entendo isto”. É difícil achar um mestre que diz: “Eu mesmo não entendo isto”, um mestre deve afirmar que sabe, só então você irá segui-lo. Um mestre não deve só afirmar que sabe, ele tem que afirmar que só ele sabe, mais ninguém: “Todos os outros mestres estão errados, só eu sei”. Então siga-o. Você deve ter absoluta certeza, então você se
  • 30. torna um seguidor. A certeza lhe dá o sentimento de que este é o homem, e se você segui-lo então você alcançará. Eu vou lhe contar uma história. Aconteceu certa vez, com um assim chamado mestre durante suas viagens. Em toda aldeia que ia, ele declarava: “Eu me realizei, eu conheci o divino. Se você quiser, venha e siga-me”. As pessoas diziam: “Temos muitas responsabilidades. Algum dia nós esperamos poder ter condições de segui-lo”. Eles tocavam-lhe os pés, o respeitavam, o serviam, mas ninguém queria segui-lo, porque havia muitas outras coisas a ser feitas antes de sair em busca do divino. As primeiras coisas antes. O divino sempre é o último, e a última coisa nunca chega, porque as primeiras são tão infinitas que nunca acabam. Mas em uma aldeia, um louco — demente ele era, caso contrário, como iria seguir esse mestre? — disse: “Está bem. Você o encontrou?” O mestre hesitou um pouco, olhando para o louco, pois homem parecia perigoso; ele poderia segui-lo e criar-lhe dificuldades, mas, diante de toda a aldeia, o mestre não pôde se esquivar, então disse: “Sim”. O louco disse: “Agora, me inicie. Eu o seguirei até o fim. Eu quero encontrar a Deus”. O assim chamado mestre ficou perturbado, mas o que fazer? O louco começou a segui-lo, ele tornou-se a sua sombra. Um ano se passou. O louco perguntou: “Quanto falta, quanto falta para chegar ao templo?”, e acrescentou: “Eu não estou com pressa, mas quanto tempo vai levar?”. A essas alturas, o mestre tinha ficado muito incomodado e intranquilo com aquele homem. O louco dormia com ele, andava com ele; tornara-se a sua sombra. E por essa razão as convicções do mestre estavam se dissolvendo. Sempre que dizia numa aldeia: “Sigam-me”, ele ficava amedrontado, porque o louco olhava em sua direção e dizia: “Eu o estou seguindo, mestre, e ainda não encontrei”. O segundo ano passou, o terceiro, o sexto, e o louco disse: “Nós não alcançamos nenhum lugar. Simplesmente estamos viajando de aldeia em aldeia e você continua a dizer às pessoas: ‘Sigam-me’. Eu o estou seguindo, tudo o que você diz, eu faço, então não pode dizer que não estou seguindo a disciplina”. O louco estava realmente furioso, assim, tudo que lhe era dito, ele fazia. Dessa forma, o mestre não podia enganá-lo dizendo que não estava fazendo as coisas direito. Finalmente, uma noite, o mestre lhe disse: “Por sua causa eu perdi meu próprio caminho. Antes de o conhecer, eu tinha certezas; agora não tenho mais. Assim, por favor, me deixe”.
  • 31. Sempre que alguém tem certezas e você é suficientemente louco, você começa a segui-lo. Você pode seguir esse tipo de homem que diz: “Eu não sei. Eu não entendo”? Se puder seguir esse homem, você se realizará. Você já se realizou ao decidir seguir esse homem, porque a mente pede certezas, a mente pede conhecimento, a mente pede afirmações dogmáticas. Assim, se você puder estar pronto para seguir um homem que diz “Eu não sei”, a busca parou, agora você não está pedindo conhecimento. Aquele que está pedindo conhecimento não pode pedir ser. Conhecimento é lixo; ser é vida. Quando você deixa de pedir conhecimento, você deixou de perguntar pela verdade, porque a verdade é a meta de conhecimento. Se você não fizer perguntas, se optar por ficar tão calado, tão livre de sua mente que aquele que é, lhe será revelado... Eu digo que não sei; você não pode encontrar um homem mais ignorante que eu. Não há nenhuma verdade e não há nenhum caminho. Eu não alcancei nenhum lugar, estou simplesmente aqui e agora. Se você puder seguir este homem ignorante, a sua mente vai desistir. Porque a mente sempre segue o conhecimento, e quando a mente desiste não há nenhuma necessidade de ir para lugar algum. Tudo está disponível, sempre esteve disponível; você nunca perdeu isto. Só por causa de sua busca, você não pôde olhar para isto. Sua mente, focada no futuro, na meta, não pode olhar. A verdade o cerca, você existe nisto. Da mesma forma que os peixes existem no oceano, você existe na verdade. Deus não é uma meta, Deus é o que é aqui e agora. Estas árvores, estes ventos que sopram, estas nuvens que se movem, o céu, você, eu, é isto que Deus é. Não é uma meta. Abandone a mente e o divino. Deus não é um objeto, é uma fusão. A mente resiste a uma fusão, a mente é contra a rendição; a mente é muito esperta e calculista. Esta história é bonita. Você é o indagador. Você veio a mim indagar sobre como alcançar a verdade, você veio a mim indagar sobre como alcançar um estado da mente que é bem-aventurado. Você veio adquirir conhecimento, resolver o mistério, e eu lhe repito: Não existe nenhum estado da mente, porque a mente não existe; não existe nenhuma verdade, então nenhuma busca é válida. Toda busca é fútil; a busca em si é tolice. Busque e você perderá, não busque e fique ali, corra e você perderá. Pare: tudo sempre esteve ali. E não tente compreender, seja. Compreender é superficial. Debaixo da árvore de bodhi, Buda não soube mais. Você pode saber mais. Muitos estudantes vieram a Buda; eles sabiam mais que Buda. Mahakashyapaa veio, ele era uma grande autoridade. Sariputra veio, ele era uma grande autoridade. Quando Sariputra veio, quinhentos discípulos vieram com ele, seus discípulos. Ele era conhecido em todo o país. Quando Sariputra disse: “Eu vim a você. Dê-me aquilo que é mais do que conhecimento, porque conhecimento
  • 32. eu tenho suficiente”... realmente, ele podia saber mais que Buda. Ele era um estudante muito profundo, arguto; ele sabia todas as escrituras, era um grande brahmin pundit, e conhecia todos os Vedas de cor. Ele poderia recitá-los. Mas ele perguntou a Buda: “Dê-me aquilo que é mais do que conhecimento. Conhecimento eu tenho suficiente, e estou farto disso”. E o que disse Buda para Sariputra? Ele disse: “Desaprenda. Solte o conhecimento e aquilo que é maior lhe acontecerá”. Um mestre verdadeiro lhe ensina desaprendendo; nunca o está instruindo. Você veio a mim: desaprenda tudo aquilo que você sabe, por favor, abandone tudo. Fique ignorante, torne-se como uma criança. Só o coração de uma criança pode bater às portas do divino, e só o coração de uma criança é ouvido. Suas orações não podem ser ouvidas; elas são astutas. Só uma criança, só um coração que não sabe pode ser. Este é o significado desta história, e é boa para você, porque o seu caso é o mesmo. Mais alguma coisa? Osho, Você há pouco nos falou que não tem nada para nos ensinar, e ontem à noite foi um grande choque quando você disse que, até onde você sabe, o seu trabalho está terminado, que você está carregando o seu corpo por nós. Jesus, quando jovem também disse: “Vocês bem sabem que eu só estou para os assuntos do meu Pai”. O que são ou o que eram os seus assuntos? Quando eu digo que meu trabalho terminou, o que quero dizer é que terminei com todas as buscas; eu quero dizer que percebi que não há nada para ser percebido, nada para ser conhecido, nenhum lugar para ir. Este momento é suficiente, este momento é eternidade. Quando eu digo que meu trabalho está concluído, quero dizer que agora não tenho mais nenhum desejo. Desejo é um negócio. Você tem que fazer algo, só então você estará contente. Eu estou simplesmente contente; não estou preocupado com qualquer fazer, agora estou sem causa. Esta é a diferença entre a felicidade e a bem- aventurança. A felicidade tem um motivo, você tem um amigo e está contente; seu amado retornou e você está contente; você ganhou na loteria e está contente. Os motivos estão ali; eles estão além de você, eles estão fora de você, a sua felicidade vem do exterior. Há um motivo, e tudo que tem um motivo não pode perdurar. O amado pode ir embora, o amigo pode tornar-se inimigo, os amigos tornam-se inimigos, e tudo que você conseguiu pode ser perdido. Aquilo que tem um motivo não pode estar ali para sempre, não pode ser eterno.
  • 33. Quando eu digo que meu trabalho está terminado, o que quero dizer é que agora a minha felicidade não tem um motivo. Não há nada que está me ajudando a estar feliz, eu simplesmente estou feliz. Isto não pode ser levado embora. Você não pode retirar o motivo quando não há motivo. Você não pode fazer nada contra isto; simplesmente está além, não pode ser destruído. Meu assunto terminou. E quando digo que meu assunto terminou, eu terminei, porque eu só posso existir com o assunto. Então, por que estou aqui? Esta é uma das perguntas mais antigas. Buda viveu durante quarenta anos depois que ele foi iluminado. Depois que ele terminou o seu assunto, viveu mais quarenta anos. Muitas vezes perguntaram: “Por que você é?”. Quando o assunto está acabado, você deveria desaparecer. Parece ilógico: por que Buda deveria existir dentro do corpo mesmo por um momento? Quando não há nenhum desejo, como o corpo pode continuar? Há algo muito profundo para ser entendido. Quando o desejo desaparece, a energia que estava se orientando para os desejos permanece; não pode desaparecer. Desejo é só uma forma de energia. É por isto que você pode trocar um desejo por outro. A raiva pode se tornar sexo, o sexo pode se tornar raiva. Sexo pode se tornar ganância. Sempre que você encontrar uma pessoa muito gananciosa, ela será pouco interessada em sexo. Se ela for realmente gananciosa, ela não estará nem um pouco interessada em sexo. Ela será um brahmachari, um celibatário, porque a energia inteira está concentrada na ganância. E se encontrar uma pessoa muito sensual, você sempre verá que ela não é gananciosa, porque não lhe sobra nada. Se você vê uma pessoa que suprimiu o sexo, ela será raivosa; a raiva sempre estará disponível. Você pode ver nos seus olhos, na sua face, que ela é só raiva; toda a energia de sexo tornou-se raiva. É por isso que os seus assim chamados monges e sadhus estão sempre bravos. O modo como eles caminham mostra a sua raiva; o modo como eles olham para você mostra a sua raiva. O silêncio deles é só superficial, toque-os e eles demonstrarão a raiva que carregam. O sexo transforma-se em raiva. Estas são formas; a vida é a energia. O que acontece quando todos os desejos desaparecem? A energia não pode desaparecer, a energia é indestrutível. Pergunte aos físicos; até eles dizem que a energia não pode ser destruída. Uma certa energia existia em Gautama Buda quando ele foi iluminado. Essa energia estava se direcionando para o sexo, a raiva, a cobiça... de milhares de modos. Todas as formas desapareceram. O que aconteceu com essa energia? A energia não pode sair da existência, e, quando os desejos não estão lá, ela fica sem forma, mas existe. Então, que função ela exerce? Essa energia torna- se compaixão. Você não pode ter compaixão porque você não tem energia. Toda a sua energia é dividida, às vezes em sexo, às vezes em raiva, às vezes em ganância. A
  • 34. compaixão não é uma forma. Só quando todos os seus desejos desaparecem é que aquela energia sem forma se torna compaixão, karuna. Você não pode cultivar compaixão. Quando você for sem-desejos, a compaixão aparece; toda a sua energia torna-se compaixão. Mas esse movimento é muito diferente. O desejo tem uma motivação em si, uma meta; a compaixão é não-motivada, não há nenhuma meta nisso, simplesmente é energia transbordante. Assim, quando eu digo que existo para você, não quero dizer que eu estou fazendo algo para existir para você. Agora eu não estou fazendo nada. As formas de desejo desapareceram. Agora a energia está ali, sem mim. A energia está se movendo e está trasbordando; você pode compartilhar, você pode alimentar-se dela. É isso que Jesus queria dizer com estas palavras: “Comam o meu corpo. Deixem que eu me torne o vosso sangue, deixem que eu me torne o vosso pão”. Essa energia transbordante pode tornar-se comida para você, comida do eterno. Eu não estou fazendo nada. Quando digo que eu existo para você são só palavras, para isso não há outra linguagem. Eu não estou fazendo nada, é assim que acontece. Minhas formas desapareceram; agora uma energia sem forma permaneceu nelas, e transborda. Esses que são sábios podem partilhar: logo também tornar-se-ão sem-corpo. Antes a energia fica sem forma, sem desejos, e então torna-se sem-corpo. O corpo tem seu próprio impulso de vida. Quando a pessoa nasce, quando um buda nasce, ele surgiu de uma comunhão de dois corpos, o pai e a mãe; então cromossomos específicos, células específicas, criam o seu corpo. Essas células têm dentro de si um impulso de vida. Esses impulsos de vida que estão como embutidos nesse corpo significam que ele existirá durante setenta ou oitenta anos; é como um programa do corpo. Esse corpo pode existir durante oitenta anos. O corpo não sabe, não pode saber que a alma que entrou vai ser iluminada. Essa casa não pode saber que a pessoa que entrou nela para viver será iluminada. E quando esse homem se tornar iluminado, ainda assim a casa não saberá. A casa continuará; ela tem sua própria vida. O corpo tem sua própria vida, e o corpo é completamente desavisado que uma pessoa foi iluminada. Ele continua, tem seu próprio impulso, seu próprio combustível. Com a idade de quarenta anos, Buda foi iluminado. O corpo não deu importância, mas continuou. Continuou, completou seu ciclo; ficou lá durante oitenta anos. Foi bom, esses quarenta anos foram os anos transbordantes, e nós pudemos conhecer o que é a iluminação. Se Buda tivesse desaparecido naquele mesmo momento, não teria havido nenhuma religião. Se o corpo tivesse se desprendido, se Buda tivesse sido iluminado e o corpo se desprendido, ele não teria podido nem mesmo contar o que havia acontecido. Isto foi bom; a existência foi muito compassiva. Buda viveu durante mais quarenta anos, não com uma motivação, mas com o impulso do corpo, ele foi aos poucos transbordando. Esse corpo também deve desaparecer; o impulso tem que ser concluído.
  • 35. Eu não estou fazendo nada para você; pois isso também é um tipo de egoísmo, pensar que estou fazendo algo para você. Ninguém está fazendo qualquer coisa. Está acontecendo. A forma dos desejos desaparece e a energia torna-se compaixão. O corpo tem que completar o seu impulso; tem que realizar o seu impulso, tem que realizar o seu programa. Esse período será um transbordamento. É um banquete, não dado por mim a você, é um banquete dado pelo todo. A linguagem cria problemas. A linguagem sempre é dual; a linguagem é sempre deste mundo. A linguagem pertence à ignorância, pertence ao desejo. Ela carrega todas as conotações, então é muito difícil dizer qualquer coisa sobre aquilo que não é deste mundo. Ou você tem que ser silencioso... mas até mesmo o silêncio pode ser mal entendido; ou você tem que usar a linguagem. E toda palavra é tendenciosa. Se eu digo que estou aqui por sua causa, você pode interpretar isto de tal modo que pareça um negócio, um trabalho. Não é, não é nada disso; simplesmente é um transbordamento de amor. E não sou eu quem faz, pois se o fizesse não poderia haver nenhum amor. É só uma luz que está brilhando. Você pode achar o caminho, a luz está lá. Você pode usar isso, pode tornar-se uma chama para si mesmo, pode acender uma luz dentro de si, mas isso depende de você. Eu simplesmente estou aqui. Você é convidado, não por mim, mas pela própria energia. Alimente-se de mim tanto quanto puder, deixe que eu me torne parte de você. Comemore essa ocasião. As palavras de Jesus criam novamente problemas, as palavras sempre criam problemas. Se Jesus tivesse estado aqui, se tivesse estado aqui no país dos Upanishads, de Buda e de Mahavira, a linguagem teria sido totalmente diferente. Jesus nasceu judeu; ele teve que usar a linguagem judaica, o mito, o estilo. Assim ele disse: “O trabalho, o negócio que meu pai determinou para mim está terminado”. Se Jesus tivesse estado aqui, ele nunca teria falado sobre o pai. O pai é um conceito judeu; é bom, bonito, mas muito antropomorfo. Deus não é o pai, Deus não é uma pessoa e Deus não está em qualquer tipo de negócios. Mas os judeus são os homens de negócios, e o Deus deles também é um homem de negócios, o super-homem de negócios, controlando, administrando, manipulando. E assim como um homem de negócios, você pode seduzi-lo, você pode suborná-lo. Ele é uma pessoa muito real. Ele vai ficar bravo: se você não se entregar a ele, ele o lançará no inferno; se você o seguir, você alcançará o paraíso, o céu e os prazeres celestiais. Toda essa linguagem pertence ao mundo dos lucros, dos negócios. Mas todo idioma tem seus próprios problemas. Esse idioma é concreto e dá até uma
  • 36. aparência familiar à existência: o pai, o filho e o trabalho... Você pode alcançar o pai pelo filho... Jesus está simplesmente usando a linguagem disponível. Neste país nós experimentamos muitos padrões linguísticos. Os hindus usam milhões de tipos, porque o hinduísmo não é uma religião, são muitas religiões. Todos os tipos de religiões existem no hinduísmo; é uma multidão, é um fenômeno em si mesmo. Todos os tipos de religião que alguma vez existiram no mundo existem no hinduísmo. Isto é um milagre. Até mesmo um ateu pode ser um hindu — um ateu não pode ser um cristão —, e até mesmo um ateu pode tornar-se iluminado. Buda é ateu, ele não acredita em Deus. Ele diz que Deus não existe, e até mais misterioso, ele diz que a alma não existe. Buda diz que nada existe, e ele tornou-se uma das encarnações de um Deus hindu. É realmente misterioso. Esse ateu, Gautama Buda, tornou-se o décimo avatar. Ele disse que não existe nenhum Deus e os hindus disseram: este homem é a encarnação de Deus, ele é Bhagwan. Os hindus dizem que mesmo uma negação é uma forma de afirmação; os hindus dizem até mesmo que dizer não é dizer sim. Isto é muito misterioso. Eles até mesmo dizem que afirmar que Deus não existe é uma forma de afirmar Deus de um modo negativo. Se Deus pode ser afirmado em forma positiva, por que não em forma negativa? “Ele” é uma palavra, “nada” também é uma palavra, e uma é tão pertinente quanto a outra. Buda disse não; então o não fica absoluto, o nada torna-se a natureza. Shankara diz sim; então o sim fica absoluto, esse “sim- perene”, brâmane, torna-se a fonte. Mas os hindus dizem que ambos têm o mesmo significado. Cada linguagem, cada padrão de expressão, tem seus próprios benefícios e seus próprios perigos e armadilhas. Eu mesmo me inclino para o negativo, por isso tanta ênfase nos mestres zen. Eu realmente amo essas anedotas, sem mente, sem verdade, sem compreensão. Seu desejo é positivo. Se Deus é afirmado de forma positiva, o seu desejo não morrerá, o seu desejo se voltará para Deus e você começará a almejar a Deus. Negatividade é dizer não a todos os seus desejos, para todos os seus objetos de desejo. Então todos os desejos desaparecerem e todos os objetos desaparecem, e só você é deixado em sua pureza. Aquela pureza, aquela inocência, a bênção disso, é o que eu quero que você desfrute comigo. Não é um ensino; eu não sou um professor. Não é uma doutrina, é só você desfrutando comigo. Eu estou aqui disponível, e, se você puser sua mente de lado, nós podemos comemorar. Eu estou numa dança interior; você também pode tornar- se parceiro nela. Você pode chamar isso de meu negócio. Meu trabalho está feito, até onde me dou conta, porque eu estou concluído. Agora a energia tornou-se compaixão e um transbordamento, e todos aqueles que realmente querem experimentar isso são convidados sem qualquer condição. Você não tem que dar nada, você simplesmente recebe. Nenhuma
  • 37. disciplina, nenhuma negociação, nada é esperado de sua parte. É um presente. Sempre foi assim, sempre será assim; a bem-aventurança derradeira é sempre um presente. É por isso que nós a chamamos graça, prasad... como se o divino se desse para você em seu transbordamento. Eu lhe contarei uma história que Jesus costumava contar. Ele a repetiu muitas vezes, na certa devia amar essa história. Ele disse: Certa vez, um homem muito rico precisou de alguns operários para trabalhar em seu jardim, então ele enviou um homem à feira. Foram chamados todos os operários que estavam disponíveis e eles começaram a trabalhar no jardim. Então, outros ouviram e chegaram durante a tarde. Outros também ouviram e chegaram quando o sol estava se pondo. Mas ele deu emprego a todos. E quando o sol se pôs, ele reuniu todos os operários e pagou a todos a mesma quantia. Obviamente aqueles que tinham começado de manhã ficaram desapontados e disseram: “Que injustiça! Que tipo de injustiça é essa? O que você está fazendo? Nós entramos de manhã e trabalhamos o dia inteiro, e esses companheiros entraram de tarde; eles só trabalharam duas horas. E alguns chegaram há pouco, eles não trabalharam nada. Isto é uma injustiça!” O homem rico riu e disse: “Não pense nos outros. Tudo aquilo que eu lhes dei, não é suficiente?”. Eles responderam: “É mais do que suficiente, mas é injusto. Por que essas pessoas estão ganhando o mesmo e acabaram de chegar?”. O homem rico disse: “Eu dou a eles porque tenho muito, eu dou a eles de minha abundância. Você não precisa ficar preocupado com isso. Você recebeu mais do que esperava, portanto não compare. Eu não estou dando por causa do trabalho deles, estou dando porque tenho muito... da minha abundância”. Jesus disse: alguns trabalham muito duro para alcançar o divino, alguns só chegam de tarde e alguns chegam quando o sol está se pondo, e todos eles alcançam o mesmo divino. Esses que haviam entrado de manhã têm que reclamar: “Isto é demais!”. Veja só: você tem meditado tanto e de repente alguém vem só de noite e é iluminado. E você portou-se como um grande asceta. Apenas observe: se todos os ascetas chegam e vêem que os pecadores estão sentando bem ao lado do trono de Deus, o que acontecerá? Eles ficarão muito tristes: “O que está acontecendo? Esses pecadores nunca disciplinaram suas vidas, nunca trabalharam e estão aqui; e nós estávamos pensando que eles estariam no inferno!”. Não existe o inferno; não pode haver. Como pode existir o inferno? Vindo da abundância de Deus, tudo é paraíso. Pode ser assim, deve ser assim, tem que ser assim. Vindo da abundância dele é o paraíso, não pode haver um inferno. O
  • 38. inferno foi criado por esses ascetas, porque eles não podem conceber os pecadores no céu. Eles têm de fazer compartimentos; eles não podem pensar que você estará ali. Conta-se que um hassídico, um rabino, Baal Shem, foi visitado por uma mulher. Ela estava com quase setenta anos, o marido dela tinha oitenta anos e agora, aos poucos, estava se tornando um homem virtuoso. A vida inteira ele tinha sido um pecador, assim ela viera agradecer ao rabino por ter finalmente convertido seu marido — o que era impossível... ele fora um pecador a vida inteira. Mas agora ele estava mudando, então ela era muito grata a Baal Shem. Ela sempre fora uma senhora piedosa, nunca hesitara, nunca fizera nada errado, sempre havia andado no caminho reto e acreditado que o céu estava esperando por ela para dar-lhe as boas-vindas, e sempre sabendo que aquele seu marido iria para o inferno. Então ela disse a Baal Shem: “Agora pode haver esperança, até o meu marido pode alcançar o céu”. Baal Shem riu e disse: “Maior o pecador, maior o santo”. A mulher ficou triste e disse: “Então por que você não me disse antes? Você deveria ter me falado isso quarenta anos atrás”. Maior o pecador, maior o santo. Essa mulher estará num verdadeiro inferno se encontrar o marido no céu. Essas pessoas conhecidas como virtuosas criaram o inferno; de outra forma, fora da abundância divina o inferno não pode existir. Os santos receberão porque eles entram de manhã; os pecadores receberão mesmo que tenham entrado de noite. Todo mundo vai receber. É um presente. Eu estou aqui, não como um negócio, mas como um presente. Mas você está temeroso e medroso. Você pode entender de negócios, conhece as condições; você não pode entender um presente, não conhece as condições. Você pode entender se tiver que cumprir alguma condição. Se nada lhe é pedido, você fica simplesmente perdido. Todas as expectativas pertencem à mente, todas as disciplinas pertencem à mente, todas as assim chamadas santidades, todos os assim denominados pecados pertencem à mente. Quando não houver nenhuma mente, não há pecador nem santo, e o presente simplesmente cai em abundância sobre você. Chega por hoje.
  • 39. CAPÍTULO 3 Os portões do céu e do inferno Um guerreiro veio ao mestre zen Hakuin e perguntou: “Existem coisas tais como o céu e o inferno?” Hakuin perguntou: “Quem é você?” O guerreiro respondeu: “Eu sou o principal samurai do imperador”. Hakuin disse: “Você, um samurai? Com uma cara dessas, você se parece mais com um mendigo”. Neste ponto o guerreiro ficou tão bravo que desembainhou a sua espada. De pé em frente a ele, Hakuin disse, calmamente: “Aqui se abrem os portões do inferno”. Percebendo a serenidade do mestre, o soldado embainhou a espada e curvou- se. Hakuin disse então: “E aqui se abrem os portões do céu”. Céu e inferno não são geográficos. Se você vai à procura deles, nunca os encontrará em lugar nenhum, porque eles estão dentro de você, eles são psicológicos. A mente é o céu, e a mente é o inferno, e a mente é a capacidade para tornar-se um dos dois. Mas nós sempre pensamos que tudo está fora. Nós sempre olhamos para fora porque olhar em nosso íntimo é muito difícil. Nós estamos orientados para fora. Se alguém diz que existe um Deus, nós olhamos para o céu. Em algum lugar, sentado, estará a pessoa divina. Um psicólogo de uma escola nos Estados Unidos fez perguntas a algumas criancinhas sobre Deus, sobre o que elas pensavam sobre Deus. As crianças têm uma percepção mais clara: elas são menos maliciosas, mais verdadeiras. Elas são mais representativas da mente humana, elas não são pervertidas. Então ele perguntou às crianças e as respostas foram coletadas. A conclusão