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OSHO
A Divina Melodia
PALESTRAS SOBRE AS
CANÇÕES DE KABIR
UNIVERSALISMO
Sumário
Introdução
Capítulo 1 — Deus está jorrando por toda parte
Capítulo 2 — Torne-se uma chama
Capítulo 3 — A abelha recebeu o seu convite
Capítulo 4 — O maior caso de amor do mundo
Capítulo 5 — Seu lago reflete a lua de Deus
Capítulo 6 — Você acordará orando
Capítulo 7 — Escutar sem ouvidos
Capítulo 8 — A confiança é uma pedra de toque
Capítulo 9 — Pausa entre duas notas
Capítulo 10 — Casados para sempre
Introdução
Depois de ouvir as palestras de Bhagwan Shree Rajneesh durante dois anos,
fiquei realmente segura de que meu “caminho” era o da meditação: uma
observação fria, clara e imparcial do processo da mente... gradualmente me
distanciando e me separando de identificações e apegos...
Certamente, senti-me distante do tipo apaixonado-extático-celebrativo-amoroso,
que eu imaginava pertencer ao caminho “prem” devocional...
Ao ouvir essas palestras sobre as canções de Kabir, todo esse sistema de
crenças espirituais e de identidade foi profundamente abalado; o caminho
austero, silencioso e bem pavimentado que eu visualizara desapareceu de
minha mente, em meio a densas matas de flores silvestres e urzes, e o silêncio
foi invadido por canções penetrantes de pássaros selvagens...
E agora, aqui, sem caminho e incerta de minha direção, a única coisa que posso
saber com certeza é que o amor não tem nada a ver com todas as minhas idéias
e conceitos sobre ele, não tem nada a ver com qualquer coisa que eu tenha
conhecido antes... Tem muito pouco da emoção que eu rotulava de “amor”, tão
repleta de dor e de paixão, de necessidade e de desejo.
A primeira pequena visão que me veio, ao ouvir esses discursos, é a de um
espaço claro e perfeito, tão profundo dentro de mim, que todos os limites e
delineamentos do “eu” deixaram de existir... e todos os sons doces e indefiníveis
que esvoaçam entre as batidas do meu coração, numa fração de segundo, vão
embora, deixando em seu rastro uma alma banhada em ondas de deleite e
leveza.
E estou contente. Não me importo se os caminhos e direções estão
desaparecendo, e se minha mente está voando por aí, tentando encontrar uma
perspectiva para tudo isso. A canção fluiu através dos ouvidos de meu coração...
Ela voltará... Tudo o que tenho a fazer é esperar e ouvir... Bhagwan é a brisa
que sopra a canção em meu coração...
Ma Ananda Vandana
Os dez capítulos deste livro são transcrições feitas a partir das gravações dos
discursos sobre as canções de Kabir, feitos por Bhagwan Shree Rajneesh, no
Rajneesh Ashram — Poona Índia, do dia 1º a 10 de janeiro de 1977.
1
Deus está jorrando
por toda parte
1.68. bhai kai satguru sant kahawai
Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma
do Informe para a visão destes olhos:
Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele,
que não é a dos ritos nem a das cerimônias:
Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração,
e renunciar ao mundo:
Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo
onde quer que a mente se atenha:
Aquele que ensina você a ficar silencioso em meio a todas as suas
atividades
Eternamente banhado em graça, sem medo em sua mente,
ele mantém o espírito de união em meio a todos os divertimentos.
A morada infinita do Ser Infinito está em toda parte:
na terra, na água, no céu, no ar;
Tão firme quanto o trovão, o lugar daquele que procura
está colocado sobre o vazio.
Ele, que está dentro e fora; vejo-O e a ninguém mais.
1.22. jab main bhula re bhai
Ó Irmão: quando fui descuidado e desatento,
meu verdadeiro Guru mostrou-me o Caminho.
Então, abandonei todos os ritos e cerimônias,
Não mais me banhei nas águas sagradas:
Então aprendi que apenas eu estava louco,
e que todo o mundo à minha volta estava são;
e eu perturbei aquelas pessoas sábias.
Desde esse tempo eu não soube mais como rolar
no chão, em sinal de obediência:
Não toquei mais o sino do templo:
Não coloquei mais a imagem em seu trono:
Não cultuei mais a imagem com flores.
Não são as práticas de mortificação da carne
que agradam ao Senhor.
Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo,
você não está agradando a Deus:
O homem que é generoso e age com probidade,
que permanece passivo em meio às coisas do mundo,
que considera todas as criaturas na terra como ele próprio,
Esse homem atinge o Ser Imortal, o verdadeiro Deus está sempre com
ele.
Kabir diz: “Ele atinge o verdadeiro Nome cujas palavras são puras,
e está livre do orgulho e da vaidade.”
O QUE É RELIGIÃO? Religião é entrar em sintonia com o todo, apaixonar-se
pelo todo, estar em união com o todo. Uma pessoa religiosa é aquela que não
está contra o todo, e a irreligiosa é a que está lutando contra o todo, está em
conflito. A pessoa religiosa é positiva em relação à vida; a irreligiosa é negativa.
Para a pessoa religiosa tudo é bom — sua positividade é absoluta e total. Nada
está errado; mesmo que às vezes algo pareça errado, não pode estar errado.
Deve ser um desentendimento, uma má interpretação. Deve ser por causa de
nossa ignorância, pois não conhecemos a história toda. Por isso, talvez uma
parte pareça não estar se encaixando com o todo. Nós não escutamos toda a
canção, por isso algumas notas parecem não soar bem. Mas tudo tem que ser
bom, se existe Deus, Deus é a garantia do bem. O mal, como tal, não pode
existir. Se ele surge, deve ser um pesadelo de nossas próprias mentes; nós o
criamos.
A mente religiosa não nega. Sua positividade é absoluta, incondicional. Ela diz
sim à existência. E este sim não tem condições — lembre-se disso; quando ela
diz sim, realmente quer dizer isso. Se você encontrar uma pessoa que diz não à
existência, à vida, a isso, àquilo, lembre-se: ela é apenas uma egoísta, não é
absolutamente religiosa. Ela está lutando contra o todo, tentando provar que é
um conquistador, ou alguma coisa especial, e está fadada a fracassar. Mais cedo
ou mais tarde haverá frustração; isso já está predestinado, não pode ser evitado
por muito tempo, devido à própria atitude de conflito da pessoa. Religião é
cooperação — cooperação com tudo o que existe.
Tente entender isso o mais profundamente possível, porque só assim você será
capaz de entender esse poeta místico, Kabir. Ele é um amante da vida. Ele não
rejeita, não nega, não condena, não vê nada de mau em lugar algum. Uma vez
que você tenha visão do todo, tudo se torna sublime. Então, nada mais é profano;
tudo é sagrado, e toda a existência é o templo de Deus, e toda a vida é uma
prece. Andando, você anda em Deus. Dançando, você dança em Deus.
Dormindo, você dorme em Deus — pois nada mais existe além dele.
Deus é a garantia do bem. Deus significa o bem. O bem é o substrato da
existência, por isso o mal não é possível. O mal é impossível. Devemos ter
interpretado mal, ter trazido nossas próprias idéias, conceitos, doutrinas;
devemos ter criado nossas estúpidas noções particulares sobre como as coisas
devem ser. As coisas simplesmente são. Não existe deveria na existência. A
idéia do “deveria” foi trazida pelo homem e, uma vez trazida essa idéia, a
existência divide-se em duas: boa e má. Quando você diz “As coisas deveriam
ser assim”, você se afasta da realidade, afasta-se daquilo que é. E somente
aquilo que é, é; nada mais. A realidade está aqui como ela é; não traga o
“deveria”, pois assim surge a condenação.
No Ocidente, Albert Schweitzer criou uma noção falsa do Oriente. Ele foi um
grande pensador, mas infelizmente nem um pouco inteirado a respeito da mente
oriental. Ele era ocidental demais. Criou uma noção de que o Oriente e as
religiões orientais são negativas em relação à vida. Isso é um absurdo! Você
poderá ver, ao penetrarmos nas palavras de Kabir, você verá: mais positividade
não é possível, mais amor pela vida não é possível. Nem Jesus é tão positivo
quanto Kabir. Em que outro lugar você encontrará um templo como Khajuraho,
mais positivo? Onde mais você encontrará uma ciência oculta mais afirmativa do
que o Tantra? Onde mais você poderá encontrar um sim tão absoluto? Vida é
Deus — e não existe outro deus; e o culto à vida é o único culto — não há outro.
Mas Schweitzer forma essas idéias porque os missionários cristãos têm
interpretado as religiões orientais de uma forma que as faz parecer negativas em
relação à vida. É claro que existem alguns pensadores no Oriente que são
negativos, mas são bem poucos, e não fazem parte da principal corrente do
pensamento oriental. Na verdade, eles estão à margem, não estão no fluxo
principal da consciência oriental. Mas os missionários cristãos enfatizaram cada
vez mais esses pensadores negativos e sua negatividade, para criar uma
atmosfera no Ocidente de que o cristianismo é positivo. Mas a verdade é
exatamente o inverso: o cristianismo não é positivo em relação à vida, não ama
o homem, não ama este mundo, não dança, não ri.
Vá a uma igreja cristã e você sentirá como se tivesse entrado num cemitério —
morto, muito sério, como um defunto. Você entra numa igreja e começa a sentir
que também está se tornando sério. A vibração não é de alegria, de riso. Os
cristãos dizem que Cristo nunca riu. Eu não acredito nisso, não posso acreditar,
porque conheço bem Jesus. Mas os cristãos dizem que Cristo nunca riu. Se eu
tivesse escrito os Evangelhos, teria escrito que Jesus riu durante toda a sua vida.
Na verdade, quando foi crucificado, deu uma boa gargalhada. Ele riu
tremendamente, estrondosamente, pois tudo era completamente ridículo. Tentar
matar aquilo que não pode ser morto, tentar matar Jesus — apenas essa idéia é
ridícula; ele deve ter rido bastante. Ainda posso escutar seu riso... Mas os
cristãos não escutaram sua risada; basearam sua religião mais na cruz do que
em Cristo.
O cristianismo teria sido beneficiado tremendamente se a cruz tivesse sido
esquecida, pois com ela vem a morte. Chamo o cristianismo de “cruzianismo”. É
uma religião da morte, da cruz; é séria, triste. Se a cristandade tivesse dado mais
atenção a Jesus, teria surgido uma visão do mundo totalmente diferente. Deveria
ter sido dada mais ênfase ao Cristo ressuscitado, e não ao crucificado. Então, o
cristianismo teria sido mais positivo em relação à vida: nem a morte poderia
matar, nem a cruz poderia destruir — Jesus ressuscitou! Então, os cristãos
teriam dançado, cantado e celebrado, e as igrejas teriam sido mais humanas.
Mas isso não aconteceu; toda a cristandade tornou-se muito apegada à cruz.
Na verdade, todos nós estamos muito apegados à morte; ela nos impressiona
mais. Se alguém está vivo, não nos importamos muito em estar felizes com ele,
mas se esse alguém morre, nós choramos. Nunca pensáramos nisso antes:
aquele homem estava vivo há apenas um dia atrás e poderíamos ter dançado
juntos, ter celebrado alguns momentos, e poderíamos nos ter permitido a bênção
divina — nunca pensamos nisso. Agora ele está morto, agora choramos. Não
parecemos estar muito interessados na vida; parecemos estar muito
interessados na morte.
Ouvi contar...
Um grande inimigo de Voltaire morreu. Eles eram inimigos vitalícios, sempre
criticando um ao outro. Alguém veio correndo trazer a notícia para Voltaire: “Seu
grande inimigo está morto.”
Chocado, Voltaire disse: “Sentirei tremendamente a sua falta.” E começou a
chorar: “Ele foi um grande homem e será difícil encontrar alguém melhor que ele.
Tinha uma inteligência aguda e toda a sua vida foi bela.”
O homem que viera trazer a notícia não podia acreditar no que estava ouvindo;
esperava que Voltaire fosse ficar feliz. Ao ver o homem perplexo, Voltaire disse:
“Tudo é verdade, desde que ele esteja morto, realmente morto, pois se ele ainda
estiver vivo, então esqueça tudo que eu disse.”
Ouvi contar...
Um homem avaro morreu. A viúva foi até o padre e perguntou-lhe: “Quanto
custará? Com sermão.”
O padre respondeu: “Há sermões e sermões. O melhor custará duzentos
dólares.”
“Duzentos dólares?”, disse a mulher. “Meu marido não permitiria tanto luxo. Não
tem um sermão mais barato?”
O homem respondeu: “Posso fazer por cem dólares, mas então não farei muitos
elogios ao falecido.”
A mulher disse: “Faça um pouco mais barato.
E o padre respondeu: “Está bem, cinquenta dólares, mas então eu me restringirei
aos fatos.”
E a mulher: “Cinquenta dólares ainda é muito.”
Então ele disse: “Bem, dez dólares, mas lembre-se de que, assim, terei que falar
a verdade.”
Quando uma pessoa morre, começamos a contar mentiras, belas mentiras. Na
Índia, todas as pessoas que morrem vão para o céu, até mesmo os políticos.
Parece que ninguém vai para o inferno, que deve estar completamente vazio. A
morte parece ser muito importante para nós; estamos obcecados pela morte. É
por isso que os cristãos fizeram muito alarde em relação à cruz, que se tornou
um símbolo. Uma religião centrada nos conceitos de cruz, morte e crucificação,
não pode ser uma religião positiva em relação à vida. Schweitzer está errado.
Ele deveria ter lido Kabir e seu ser teria sido tremendamente beneficiado.
Kabir é realmente a pessoa religiosa. Suas palavras sobre a vida são de uma
incrível confiança. Ele não diz a você que renuncie a nada. Mas, ao contrário,
diz: “Traga tudo para Deus e traga Deus para tudo.” Você ficará surpreso com
suas afirmações, que são tremendamente revolucionárias.
Algumas coisas mais, antes de entrarmos nas canções.
A religião não é tradicional, não pode ser, por sua própria natureza. A tradição é
o que está morto. A tradição já passou, já morreu, é apenas a poeira do passado,
apenas a memória. A religião está sempre viva, respirando. A religião nunca
pode ser tradicional. Sempre que uma religião se torna tradicional, serve mais
ao Diabo do que a Deus; serve mais à morte do que à vida. Assim, ela serve aos
políticos, aos padres, às organizações, às igrejas, mas não serve ao espírito do
homem, e deixa de ser uma abertura para o futuro. A tradição está voltada para
trás e nós temos que ir para a frente. Olhar para trás não serve para nada, e não
só não serve para nada, como é prejudicial e perigoso. Não podemos ir para trás,
temos que ir para a frente, e se ficarmos olhando para trás, certamente haverá
problemas.
Outra coisa: a religião não está nas escrituras, não pode estar. As escrituras são
palavras mortas. Sim, houve religião um dia, vibrando naquelas palavras, ao
serem pronunciadas por um Mestre vivo. Quando Krishna falou o Srimat
Bhagavad Gita para Arjuna, isso era vivo. Era vivo por causa de Krishna, era
radiante por causa de Krishna. Quando ele desapareceu, o Bhagavad Gita
tornou-se um cadáver. Palavras mortas: você pode continuar analisando aquelas
palavras, interpretando de uma maneira ou de outra... Existem milhares de
comentários sobre o Gita, alguns até bem famosos. Na verdade, quando alguém
lê o Gita, dá sua própria interpretação. O significado dado por Krishna foi perdido;
desapareceu junto com ele. A cobra já passou... só restou o seu rastro na areia.
É esse rastro que você continua cultuando como uma escritura.
Quando Jesus andou sobre a terra e falou a seus discípulos, suas palavras eram
uma verdade vibrante, palpitante de vida. A palavra não estava morta; a palavra
era Deus, a palavra era a própria verdade. A palavra tinha em si um coração; era
plena de amor, experiência, existência, ser. Quando Jesus se foi, a vida se foi.
Depois, você pode colecionar palavras e fazer quantos evangelhos quiser, mas
eles não serão de nenhuma ajuda.
A religião real nunca está nas escrituras, e a pessoa religiosa que busca,
sinceramente, não vai atrás de escrituras, e sim de um Mestre — um Mestre vivo.
Esse é um dos princípios básicos da compreensão de Kabir: satguru — o Mestre
vivo. Busque um Mestre vivo! Se você puder entrar em contato com um Mestre
vivo, então as escrituras mortas tornar-se-ão vivas novamente; elas tornam-se
vivas somente através de um Mestre vivo — não há outra maneira, porque o
Mestre vivo é a única escritura. Quando um Mestre vivo toca o Bhagavad Gita,
este torna-se vivo; quando ele toca os Evangelhos, eles tornam-se vivos.
Quando o Mestre recita o Alcorão, este torna-se vivo novamente. O Mestre dará
sua própria vida a essas palavras e elas começarão a pulsar. Mas, diretamente,
você não pode encontrar religião nas escrituras.
Assim, a religião não está na tradição, não está nas escrituras e não está nos
rituais. Os rituais são formalidades. A menos que você esteja em comunhão com
um Mestre vivo, os rituais são apenas um peso morto. Eles oprimirão, esgotarão,
matarão você, e você ficará perdido em infinitas formalidades. Com um Mestre
vivo, nasce um novo ritual; que vem com o contato; existe um contexto, uma
referência viva para esse ritual, que não é aprendido através de tradições mortas,
transferidas de geração a geração. Você o vive — e, vivendo-o, aprende-o.
Quando você vem a um Mestre vivo, no fundo, alguma coisa em você quer
curvar-se em reverência. Não que você tenha que cumprir certa formalidade —
se for este o caso, então não há nenhum valor. Mas algo muito profundo em seu
espírito, em seu centro, quer reverenciar. Assim, curvar-se diante de um Mestre
não é mais um ritual, mas algo vivo, significativo, não um gesto vazio. Mas você
pode continuar curvando-se diante de qualquer pessoa, apenas porque
aprendeu assim, e isso não tem valor. Tente perceber a diferença. Quando
alguma coisa nasce em você, espontaneamente, é verdadeira. Quando você tem
que fazer algo como um dever, é falso. “Dever” é uma palavra feia. Se algo nasce
a partir do amor, está bem. Se algo nasce a partir do dever, evite-o, nunca o
faça, porque é perigoso. Se você se prender demais ao dever, esquecerá os
caminhos do amor. O dever é contra o amor; é um falso substituto do amor.
A religião não está nos rituais. Sempre que existe religião, existe ritual, mas isso
é bem diferente. Como você pode evitar de tocar os pés de Buda, quando ele
está perto de você? Impossível. Você só pode fazer duas coisas, e ambas são
rituais: ou você toca seus pés, ou você lhe atira pedras. Mas ambas são rituais
— uma é o do amigo e outra é o do inimigo. O ponto principal é que não se pode
omitir Buda, não se pode ficar indiferente. O fenômeno é tal, que não se pode
ignorá-lo. Ou você se torna um amigo ou se torna um inimigo; você tem que
escolher. Você tem que tomar uma atitude, e essa atitude é ritual. Mas, nesse
caso, nasceu em seu coração, não foi aprendida com outra pessoa. Ela
simplesmente surge em seu ser.
A religião, onde quer que exista, traz consigo rituais; mas quando a religião
desaparece, os rituais tornam-se mortos. Não carregue um cadáver. Sim, você
amou muito tua mãe, mas agora ela morreu — o que você vai fazer? Você irá
carregar seu cadáver por toda a vida? Você tem que queimá-lo ou enterrá-lo.
Você tem que abandoná-lo; não pode continuar carregando-o. E o mesmo
acontece no que se refere à religião. Você amou Buda, e uma grande paixão
surgiu em sua alma, uma grande veneração e muitas canções nasceram na
presença dele... Agora ele se foi, mas você continua a canção. Aos poucos, ela
se torna um eco muito distante da verdade e, com o tempo, não há mais verdade.
É o eco do eco do eco... desvanecendo-se.
Quando o papa fala no Vaticano, não tem nada a ver com o que Jesus disse,
não pode ter. Quando Jesus fala, faz isso baseado em sua própria autoridade.
Quando o papa fala, baseia-se na autoridade de Jesus. um Mestre real fala por
sua própria autoridade, ele é a sua única autoridade.
A religião não está na tradição, nem nos rituais e nem nas chamadas religiões:
hindu, cristã, muçulmana. A religião não tem adjetivos. Religião é simplesmente
religião, como amor é amor. Você chama o amor de cristão, hindu ou
muçulmano? Se o amor não é cristão, nem hindu, nem muçulmano, então por
que Deus deveria ser cristão, hindu ou muçulmano? Jesus não disse que Deus
é Amor? A religião não está nas religiões; está isenta de qualquer adjetivo, de
qualquer definição, e cada um tem que buscá-la. Ninguém pode nascer numa
religião; a religião tem que nascer em você. Você tem que abrir sua alma e
receber a religião. Ela está se derramando em toda parte... mas você está
carregando brinquedos substitutos, moedas falsas, em suas mãos, pensando
que tem religião. Ela não está na igreja, não está na mesquita, não está no
templo. Vá onde está um Mestre vivo: ela está lá. E isso também existe apenas
por alguns momentos — o Mestre se vai, e a religião desaparece. Daí, a
insistência do Kabir no satguru — o verdadeiro Mestre.
Religião é algo individual, cada um tem que buscar por si mesmo. Não é um
fenômeno social, não tem nada a ver com a multidão, com o coletivo. É algo
privado, tão íntimo quanto o amor. Você vem a ela sozinho, em profunda
intimidade e privança... você abre seu coração. A religião é espontânea no
sentido de que você não pode aprendê-la. Você pode estar nela, mas não pode
aprendê-la. É tão espontânea quanto o amor. Você alguma vez aprendeu o que
é o amor? No dia em que o homem tiver que aprender a amar, será o dia do
Juízo Final. Esse dia parece estar cada vez mais próximo, principalmente no
Ocidente, e particularmente na América. Livros estão sendo escritos: Como
amar, Como fazer amigos — livros tolos, porque se o homem esqueceu como
amar, nenhum livro pode ensiná-lo. Ensinar a humanidade a amar é o mesmo
que querer ensinar um peixe a nadar — tolice completa. O mesmo acontece com
a religião. Ela não pode ser aprendida, pode somente ser apreendida; é algo
contagioso. Se você vai a algum lugar onde existe uma pessoa santa, você pode
apreender, absorver a religião.
Religião é rebelião. É rebelião contra a morte, contra tudo o que está morto; é
rebelião contra o exterior: contra a política, a ganância, a sociedade, a cultura, a
civilização. Religião é uma rebelião: ela diz que temos de escutar a parte mais
profunda de nosso ser, e segui-la aonde quer que ela nos leve. Aonde for... sem
medo das consequências, escutaremos aquela pequena voz dentro de nós e a
seguiremos. Religião é um risco. As pessoas que sempre procuram a segurança
nunca poderão tornar-se religiosas; é muito perigoso. Se você passar através
desse perigo, passará através da crucificação... e somente depois da
crucificação vem a ressurreição.
Agora escute esses sutras de Kabir.
Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma
do Informe para a visão desses olhos...
Então, se o verdadeiro Mestre é a coisa básica a ser buscada, fica clara a
necessidade de uma definição: quem é o verdadeiro Mestre? A quem chamar de
verdadeiro Mestre? Como saber? Kabir diz:
Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma
do Informe para a visão desses olhos...
...em cuja presença o informe desce e torna-se uma presença... através de quem
podemos vislumbrar a estrela mais distante... através de quem podemos ter uma
sensação do que é o próprio Deus... em cujas palavras o silêncio fala, em cujos
olhos o infinito está olhando para você, espreitando-o. Se o Mestre segurar sua
mão, você verá: a mão é dele, mas não apenas dele — Deus está segurando
sua mão, através dele. Ele é um veículo, uma flauta de bambu nos lábios do
infinito. Ele dá forma ao informe, é a materialização do informe.
Você tem que estar muito aberto e vulnerável para ser capaz de sentir um
Mestre. Não vá a um Mestre com uma atitude negativa, senão você nunca o
alcançará. A própria atitude negativa não permitirá que a vibração dele chegue
até você. A atitude negativa não deixará que você entre na mesma faixa de onda
em que vive. Por isso, a confiança é necessária. Por isso, o amor é necessário.
Senão, você chegará vazio, e irá sozinho — e, indo vazio, dirá: “Esse não é o
verdadeiro Mestre. Vim vazio e voltei vazio.” Se você não estiver aberto, irá
vazio. Somente se estiver aberto existe uma possibilidade de sentir. E não tenha
medo de se abrir. Se você se abrir, e o Mestre não for verdadeiro, nada
acontecerá; você saberá, terá certeza de que ele não é para você, que esse não
é o homem que você procurava. Mas esteja aberto, porque só assim poderá
saber se ele é verdadeiro ou não. Se você se fechar, então não haverá
possibilidade. Na verdade, se você se fechar, mais cedo ou mais tarde, tornar-
se-á vítima de um pseudo-Mestre, pois os pseudo-Mestres tentam convencê-lo
com argumentos.
Os verdadeiros Mestres são muito paradoxais, muito contraditórios. São tão
contraditórios quanto a vida, pois encarnam a vida. Eles são tão inconsistentes
quanto Deus, pois eles encarnam Deus. Não são lógicos, são muito ilógicos; na
verdade são superlógicos, pois estão trazendo algo que não pode ser apreendido
através da lógica.
Próximo a um verdadeiro Mestre, você sentirá que está perto de um abismo...
mas isso, só se você estiver aberto. Se não estiver aberto, tornar-se-á vítima de
alguma pseudopessoa capaz de convencê-lo, seduzi-lo. Por exemplo: se você é
ganancioso, ela falará sobre a ganância; dirá quanto você irá ganhar com a
meditação, com a oração. Ela o persuadirá pela ganância, dizendo quanto você
terá no céu, se você a seguir; prometerá muito. Um verdadeiro Mestre nunca
promete nada. Na verdade, ele o destrói completamente — sua ganância, seus
desejos, suas idéias de tornar-se alguém, de ser alguém —, ele destrói tudo. Um
verdadeiro Mestre é uma rocha contra a qual seu barco se despedaça
completamente... sua mente é destroçada. Ele o deixa louco; não argumenta.
Sua argumentação está mais no seu ser do que em suas palavras.
Mas nós somos gananciosos. Vivemos pela ganância, e somos muito medrosos
— alguém nos consola e nos tornamos vítimas. Um verdadeiro Mestre não é
uma consolação, não é um conforto. Ele é, na verdade, a morte para você. Ele
o mata, o destrói; ele é muito destrutivo... mas a criatividade só é possível
quando o velho é destruído. Quando o velho deixa de existir, o novo pode surgir.
Ouvi contar uma bela anedota. Medite sobre ela...
Sean escreveu uma carta encorajadora à sua mãe muito velhinha, dizendo o
seguinte: “Querida mãe, estou lhe enviando umas pílulas que um curandeiro me
deu. Se você tomar uma, ela fará com que você rejuvenesça alguns anos.”
Ao voltar para casa, algumas semanas depois, encontrou uma bela jovem do
lado de fora da casa, balançando um bercinho, onde estava um bebê tomando
mamadeira.
“Onde está minha mãe?”, ele perguntou.
“Ora, não seja tolo”, ela disse: “Eu sou a sua mãe, e aquelas pílulas foram
maravilhosas!”
“Incrível”, exclamou Sean. “Uma pílula, e você está mais bela do que nunca — e
ainda mais, você pôde ter um bebê! Puxa, como essas pílulas são poderosas!”
“Você está louco!”, ela gritou. “Este não é um bebê; é seu pai. Ele tomou duas.”
Não seja ganancioso, senão você tomará duas pílulas. E existem muitas pessoas
vendendo coisas como essas. Curandeiros...
Um Mestre não está aqui para satisfazer sua ganância; está aqui para destruí-
la, pois, uma vez destruída, você fica disponível para si mesmo. Se você for
ganancioso, nunca estará disponível. A ganância torna-se desejo, e o desejo
torna-se uma projeção no futuro. E você está sempre sonhando com algum lugar
no futuro; nunca está aqui e agora. A ganância leva-o para longe de você
mesmo; a ganância tem que ser destruída.
Um Mestre nunca lhe promete nada, mas somente na presença de um Mestre
alguma coisa se torna possível. Ele não dirá: “Eu o livrarei da morte”, ou “Você
se tornará imortal.” Ele não está lhe dando o néctar, o elixir, a ambrosia. É claro
que, ao estar com um Mestre, uma pessoa torna-se imortal, mas ele não o faz
imortal. Ele simplesmente o leva a ir bem fundo na experiência da morte.
Preste atenção nisto: ele o leva a ir fundo na experiência da morte. É nisso que
consiste a meditação profunda — uma experiência da morte. E quando você já
conheceu sua morte, absorveu-a, de repente você compreende que está
separado dela. Ela acontece, mas não acontece a você. Acontece na periferia,
mas nunca atinge o centro. Acontece ao corpo, nunca a você. E o corpo não é
nada mais do que a sua moradia. Você já trocou muitas vezes de corpo, e trocará
ainda muitas mais, mas você é imortal. E um verdadeiro Mestre não promete
isso. Ele transmite isso, um dia, mas não promete. Se você está procurando um
estado onde o medo se dissolva, um estado onde sua ganância seja satisfeita,
onde você seja constantemente estimulado com prazeres, um paraíso, então
você está fadado a se tornar uma vítima de algum falsário.
Satguru significa o Mestre verdadeiro. Asatguru significa o pseudoMestre.
Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma
do Informe para a visão desses olhos:
Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele...
A maneira simples — e não métodos complexos, nem posturas de ioga, nem
rituais muito complicados. Ele ensina maneiras simples, muito simples, que
qualquer um que queira pode fazer agora mesmo. Seus caminhos são tão
simples e espontâneos, que você ficará surpreso de não tê-los descoberto por
você mesmo. São tão simples! Quando o Mestre os tiver ensinado, e você tiver
conhecido a sua beleza, quando tiver sentido seu saber, você se perguntará
como não pôde descobri-los — eles são tão simples!
O verdadeiro Mestre não é técnico, ele é simples — pois não existe técnica para
se chegar a Deus. Deus não está em algum lugar, no final de uma técnica. Deus
já está disponível para você. Você está em Deus; tem apenas que se sacudir um
pouco, para que se torne um pouco mais alerta Apenas um pouco mais de
atenção, e isso é tudo.
Algumas vezes você fica alerta, mas também faz isso de uma maneira muito
inconsciente. Você está dirigindo um carro; de repente, vê que um ônibus está
vindo na sua direção, e o motorista ou está bêbado ou é louco. Você não vê
possibilidade de evitar o acidente; ele vai acontecer, é quase uma certeza. Nesse
momento, você se torna alerta, muito alerta, mas este estado é inconsciente.
Você está alerta, mas não percebe que está alerta.
Em algumas situações perigosas você se torna alerta, mas este estado é
inconsciente. Um Mestre apenas o ensina como ficar alerta, com plena
consciência. Ele ensina a atenção consciente. Você deve estar confuso...
atenção consciente? Você pensa que consciência significa atenção, e atenção
significa consciência. Mas não é assim. Há momentos em que você está atento,
mas não consciente. Se alguém, de repente, apontar uma arma para seu peito,
você estará atento, mas não consciente. O pensamento cessará. O choque é tão
repentino, tão inesperado, você não consegue entender o que está acontecendo,
e a morte está tão próxima... nesse choque sua mente pára. Sua mente, que
está constantemente girando, pára de girar. Sua mente, constantemente
tagarelando, emudece com o choque: você fica atento. Mas esta atenção é
inconsciente.
O Mestre ensina apenas uma coisa: como estar conscientemente atento. E isso
é muito simples. Você pode começar a qualquer momento; pode usar a atenção,
a consciência em qualquer atividade em que esteja. Se você está andando pela
rua, ande conscientemente. Esteja profundamente alerta em cada passo.
Escutando-me, agora, neste momento, escute atentamente. Você pode estar
escutando atentamente, mas essa atenção pode ser inconsciente. Torne-se
consciente da atenção, e de repente você sentirá uma grande bênção invadindo-
o. Do nada, de repente, ela está lá. Apenas um momento de atenção consciente,
e suas portas se abrem, e Deus entra — como se ele estivesse apenas
esperando ali, batendo, batendo, batendo à sua porta. Mas você está tão
preocupado...
Kabir diz:
Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele...
As pessoas que ensinam maneiras complexas estão apenas mostrando que não
conheceram Deus — pois Deus não necessita de habilidades. E as pessoas que
ensinam maneiras complexas têm uma razão para isso: assim, elas sempre
podem lhe dizer que você não está fazendo a coisa corretamente, então, como
pode esperar chegar a algum lugar?
Você já ouviu esta bela história de Khalil Gibran...?
Um homem costumava ir de uma cidade a outra. Ele era um grande professor e
sempre dizia às pessoas: “Sigam-me, e eu lhes mostrarei o caminho para Deus.”
Mas as pessoas estavam muito atarefadas; tinham tantas coisas para fazer, que
diziam: “Nós o adoramos, o respeitamos e algum dia iremos segui-lo, mas agora
é difícil.”
Ninguém está pronto agora, por isso tantos pseudo-Mestres podem existir. Santo
Agostinho, em suas confissões, diz: “Eu costumava orar a Deus quando era
jovem, dizendo: ‘Salve-me, mas não agora; salve-me, mas não agora’ — porque
eu estava me divertindo com tantas coisas, e queria aproveitar tudo o que fosse
possível. Por isso, o que eu pedia não era para ser atendido imediatamente. Eu
rezava porque aquilo tinha que ser dito formalmente, mas eu sempre
acrescentava: ‘Salve-me, Senhor, mas não agora’.”
Então, aquele pregador ia de cidade em cidade, e as pessoas diziam: “Não
agora. Iremos um dia”. E ele estava satisfeito porque ninguém o seguia, e ele
não tinha problemas. Mas um louco disse, certa vez: “Está bem, eu vou.” O
pregador ficou um pouco ressabiado mas, como era um homem muito ladino,
disse: “Venha.” E então ele deu ao outro tantos métodos complexos, que era
quase impossível praticá-los. Mas o homem era realmente maluco. Ele fez tudo,
e mesmo aquele professor não pode achar nenhuma falha. E o homem
continuou. O professor pensava que, mais cedo ou mais tarde, ele se cansaria.
Passou-se um ano, passaram-se dois, e o discípulo perguntava: “Quando?” Ele
era demais! E continuava perguntando: “E agora, o que mais tenho que fazer?”
E ele estava fazendo tudo! Até o mestre estava com medo; não sabia mais o que
dizer para o outro fazer. Ele fazia tudo!
Passaram-se seis anos, e um dia o discípulo disse: “Quanto tempo ainda falta?
Estou pronto para fazer qualquer coisa, mas você não está me dando mais
nada.” “Escute”, disse o mestre, “a verdade é que, com você, perdi meu próprio
caminho... Tenha misericórdia e me deixe.”
Métodos complexos foram inventados por pessoas ladinas. Primeiro, ninguém
está pronto para praticá-lo; então, os pseudo-Mestres podem existir, pois suas
técnicas nunca serão experimentadas. Segundo, se alguém tentar praticá-las,
sempre se poderá dizer que você não as está fazendo corretamente, pois elas
são muito complexas. Assim, você não pode confiar em você mesmo, e sempre
tem medo de que algo esteja errado. Mas um verdadeiro Mestre lhe dará
técnicas muito simples — qualquer pessoa de inteligência média e de saúde
média pode fazê-las.
Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele,
que não é a dos ritos e das cerimônias...
Ele nunca ensina rituais, ritos e cerimônias. Ele pode ensinar-lhe celebração,
mas nunca cerimônias. A celebração é do coração, e a cerimônia é apenas um
ritual da mente.
Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração,
e renunciar ao mundo...
O verdadeiro Mestre é totalmente a favor do mundo, pois este mundo é uma
manifestação de Deus. Este mundo está pleno de Deus. Cada rocha está plena
de Deus, cada árvore, cada pássaro e tudo o que existe está repleto,
transbordando de Deus... Aonde ir? E para quê? Renunciar a quem? E para quê?
E como se pode renunciar? — porque onde quer que você esteja você está em
Deus, e onde quer que você esteja está neste mundo... pois não há outro mundo.
Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração,
e renunciar ao mundo:
Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo
onde quer que a mente se atenha...
Repare na beleza deste sutra. Kabir diz:
Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo
onde quer que a mente se atenha...
Ele não diz: Não se preocupe. Onde quer que sua mente se sinta apegada, não
tenha medo do apego: vá fundo nele e tente encontrar Deus lá... e você o
encontrará. Você ama uma mulher — não é necessário fugir dela: olhe
profundamente em seus olhos... e você encontrará Deus lá. Deus está jorrando
por toda parte. Você ama seu filho — não renuncie ao mundo, e não jogue seu
filho nesse mundo faminto, violento e feio, não abandone seu filho com os lobos:
olhe nos olhos dele. Coloque seu ouvido sobre seu coração e ouça
profundamente... e você encontrará Deus lá.
Kabir diz: Incondicionalmente, onde quer que a mente se atenha, perceba o ser
supremo.
Ouvi falar de um homem que veio até Kabir, dizendo que desejava conhecer
Deus, e Kabir perguntou-lhe: “Você ama alguém?”
Ele respondeu: “Desculpe, mas não amo ninguém.”
Kabir disse: “Qualquer pessoa, não importa, desde que você ame, porque se
você não amar, não há ponte.”
O homem ficou um pouco envergonhado, mas confessou: “Sim, eu amo. Amo
minha vaca.” Ele era um homem pobre e só tinha uma vaca.
Kabir disse: “Muito bem: isso funcionará.”
E o homem perguntou: “Então, o que tenho que fazer agora?”
Kabir disse: “Agora comece a pensar que a vaca é divina. Ela não é mais uma
vaca; ela é um deus, uma deusa. Você irá servi-la, amá-la, fazer-lhe carinho, dar-
lhe banho, enfim, faça tudo — mas agora ela é uma deusa. Deus está oculto ali.
E volte daqui a três meses.”
Depois de três meses, o homem estava totalmente diferente, radiante, com uma
nova energia. Os discípulos de Kabir ficaram um pouco intrigados, pensando que
ele estivesse apenas brincando com aquele homem. Mas quando ele voltou,
ficaram surpresos. Ele quase se tornara um novo homem, um novo ser. Ele caiu
aos pés de Kabir e disse: “É extraordinário! Encontrei meu Deus. E o dia em que
o encontrei em minha vaca, encontrei-o em toda parte.”
Onde quer que você deposite seu amor, não há necessidade de fugir ou de
renunciar. Deixe que seu amor seja sua prece.
Aquele que ensina você a ficar silencioso em meio a todas as suas
atividades.
Eternamente banhado em graça, sem medo em sua mente,
ele mantém o espírito de união em meio a todos os divertimentos.
E Kabir diz: Não fuja dos divertimentos; lembre-se, eles são dádivas. E não
escape das atividades mundanas; permaneça quieto e silencioso em meio a
elas, permaneça passivo. Ande na multidão e permaneça só. O ponto importante
é estar só, e não estar solitário. Uma pessoa pode estar só na multidão, e estar
numa multidão quando sentada numa gruta do Himalaia — tudo depende de sua
mente. Por isso, a mudança tem que ser interior, não exterior.
A morada infinita do Ser Infinito está em toda parte:
na terra, na água, no céu, no ar:
Tão firme quanto o trovão, o lugar daquele que procura
está colocado sobre o vazio,
Ele, que está dentro e fora: vejo-O e a ninguém mais.
Você tem apenas que tornar-se vazio de si mesmo. Esvazie-se, torne-se um
vazio... e você se tornará o lugar, a morada, você se tornará o templo.
Ó Irmão: quando fui descuidado e desatento,
meu verdadeiro Guru mostrou-me o Caminho.
Então, abandonei todos os ritos e cerimônias...
Quando você encontra o guru, de que servem os ritos e cerimônias? Quando
você encontra um Mestre vivo, de que servem as escrituras e as tradições?
Quando encontrei meu Mestre...
...abandonei todos os ritos e cerimônias.
Não mais me banhei nas águas sagradas:
Então aprendi que apenas eu estava louco,
e todo mundo à minha volta estava são;
e eu perturbei aquelas pessoas sábias.
Essa deve ser a sua experiência também, e de todos os sannyasins. As pessoas
pensarão que você está louco.
E Kabir diz: Desde que abandonei as coisas tolas — não me banho mais no
sagrado Ganges, não vou mais ao templo e não faço mais nenhum ritual — as
pessoas pensam que enlouqueci. Sempre que você estiver em contato com um
Mestre, o mundo pensará que você enlouqueceu. Todas as pessoas são sãs,
sábias. Sua sabedoria nunca as levou a lugar algum; sua sanidade nunca lhes
deu nem um vislumbre de bem-aventurança; sua sanidade não é senão a sua
miséria, a sua sabedoria não é senão a estupidez — mas, ainda assim, elas
pensam que são sãs e sábias. Se fossem realmente sábias, deveriam ser bem-
aventuradas. Se fossem realmente sãs, demonstrariam inteligência, criatividade.
Mas elas não demonstram nada.
As pessoas que estão em contato com um Mestre, e são iluminadas por seu ser,
parecerão loucas. Sempre foi assim, e sempre será. Por isso, se as pessoas
pensarem que você está louco, não se preocupe; elas pensavam o mesmo até
de Kabir.
Então aprendi que apenas eu estava louco,
e todo mundo à minha volta estava são;
e eu perturbei aquelas pessoas sábias.
Desde esse tempo eu não soube mais como rolar
no chão, em sinal de obediência:
Não toquei mais o sino do templo:
Não coloquei mais a imagem em seu trono:
Não mais cultuei a imagem com flores.
Não são as práticas de mortificação da carne
que agradam ao Senhor.
E Kabir declara: Se você mortifica a si mesmo, você é um ser pervertido, e Deus
não fica feliz com você. Se você se tortura, é um masoquista, e Deus não fica
feliz com você. Deus fica feliz apenas quando você está feliz; Deus se alegra
com a sua alegria... pois ele está escondido em seu ser mais profundo. Quando
você se tortura, está torturando Deus — como ele pode ficar feliz? Quando você
se torna um masoquista e as pessoas começam a cultuá-lo como a um mahatma,
você é um ser pervertido, insano — e está torturando Deus dentro de você.
Ele é quem está desamparado, como uma criança pequena; você pode torturá-
lo facilmente.
Não são as práticas de mortificação da carne
que agradam ao Senhor.
Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo,
você não está agradando a Deus...
Ouça bem esses dizeres rebeldes. Não agradamos a Deus quando destruímos
nosso corpo; ao contrário, ele fica satisfeito quando nossa sensibilidade atinge
um pico. Quando você pode ver mais beleza no mundo, quando pode ouvir mais
música no mundo, quando pode amar mais profundamente e estar mais vivo, ele
fica feliz.
Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo,
você não está agradando a Deus:
O homem que é generoso e age com probidade,
que permanece passivo em meio às coisas do mundo,
que considera todas as criaturas na terra como ele próprio,
Esse homem atinge o Ser Imortal; o verdadeiro Deus está sempre com
ele.
Kabir diz: “Ele atinge o verdadeiro Nome cujas palavras são puras,
e está livre do orgulho e da vaidade.”
Aquele que é generoso consigo mesmo e com os outros, aquele que ama a si
mesmo e aos outros... Ensinaram-lhe: “Nunca ame a si mesmo.” E também:
“nunca seja generoso com você mesmo.” Você foi ensinado a nunca se perdoar,
a se autotorturar: você é honrado na mesma proporção em que se tortura. Se
você quer se tornar um mahatma, tem que se tornar um masoquista — não há
outra maneira. Se você está feliz, alegre, deleitado em seu ser, ninguém irá
venerá-lo. Quem venera um homem feliz? Você já viu algum homem feliz sendo
venerado? Todos adoram as pessoas carrancudas, mortas, sombrias, estúpidas,
que podem torturar a elas mesmas. Sua única especialidade é a de torturar a si
mesmas; elas são cruéis consigo mesmas, são violentas.
Kabir diz: Seja generoso, e deixe que a generosidade flua através de você. Ame
a si mesmo, e só então poderá amar aos outros também. Quando há amor
profundo e profunda sensibilidade, Deus está satisfeito.
O ponto principal é que você tem que se tornar um hedonista espiritual. Este é
também meu ensinamento: torne-se um hedonista espiritual. Existem pessoas
espirituais, mas não são hedonistas, e existem hedonistas que não são
espirituais. O Ocidente é hedonista, mas não espiritual; é materialista. O Oriente
é espiritual, mas não hedonista. Ambos estão enganados. Uma síntese mais alta
é necessária: hedonismo e espiritualismo. Quando os dois se encontrarem, o
homem total terá nascido. E esse homem total é o homem iluminado, esse
homem total é o homem sagrado.
2
Torne-se uma chama
Percebi, na palestra de ontem, que estou resistindo à palavra “deus”.
Meus pensamentos se voltam para um fato que ocorreu, há vários anos,
quando eu estava cuidando de um homem muito doente num hospital —
ele estava morrendo. Pediu-me que chamasse um padre, pois ele estava
com medo.
Quando o padre chegou, o homem doente lhe disse diretamente: “Deus o
amaldiçoe.” E o padre se afastou, dizendo-me: “Não vale a pena fazer
nada por este homem.” Eu disse ao padre: “Este homem está muito
doente, e não sabe o que está dizendo.”
Mas o padre, assim mesmo, recusou-se a ajudá-lo. Desde esse dia, nunca
mais fui a uma igreja.
Sei que Deus está dentro de mim. Então, por que essa resistência? Por
favor, ajude-me.
A PALAVRA “DEUS” não é Deus. A palavra “amor” não é amor. A palavra “fogo”
não é fogo. Por isso, o mais importante é lembrar-se de não se apegar muito às
palavras, não ficar muito obcecado com as palavras. As palavras são apenas
símbolos indicativos: use-as, mas não se sinta muito oprimido por elas. Se a
palavra “deus” lhe causa problemas, esqueça essa palavra. “Alá” também serve,
ou “Ram”, ou “X Y Z” — escolha outra palavra, se esta provoca uma associação
errada. Mas se você começar a criar uma resistência contra o próprio Deus,
contra a própria verdade, apenas você será responsável e apenas você estará
perdendo algo de imenso valor. Mas isso acontece. Nós usamos a linguagem;
tornamo-nos tão obcecados com a linguagem, que nos esquecemos de que ela
não é a realidade. Na verdade, tem-se que colocar a linguagem de lado para se
ver a realidade.
O incidente é significativo. Se você tivesse se tornado resistente em relação aos
padres, não haveria nada de errado nisso; mas não foi isso que aconteceu. O
padre recusou-se a ajudar — não Deus. Rejeite os padres, não há nenhum
problema nisso; na verdade, quanto mais você evitar os padres, mais próximo
ficará de Deus. Os padres não são necessários, de maneira alguma. Eles
continuam propagando que são necessários, enfatizando que sem eles não há
possibilidade de você entrar algum dia no mundo de Deus, mas esta é a
proposição deles. Esse é o negócio deles, seu comércio secreto; eles têm que
criar essa atmosfera. Do contrário, nenhum intermediário é necessário; Deus é
seu, gratuitamente. Não é necessário nenhum agente intermediário; Deus está
disponível imediatamente. Mas é claro que os padres fizeram um grande negócio
— o maior de todos — e negociam uma mercadoria que é invisível; assim, você
nunca poderá provar se eles a entregam ou não. A mercadoria em si é invisível.
É um belo jogo.
Ouvi contar...
“Por que aquele menino pequeno está chorando?”, perguntou uma velha
senhora bondosa a um moleque esfarrapado.
“Porque outro garoto roubou-lhe o doce”, ele respondeu.
“E como é que você está com o doce, agora?”
“É claro que eu estou com o doce”, respondeu o moleque. “Eu sou o advogado
dele.”
Perceberam? O padre irá explorá-lo; ele se torna seu advogado, seu agente, e
apenas o explora. Ele próprio está completamente inconsciente de Deus — do
contrário, não seria padre. Teria sido um profeta, mas não um padre. “Padre” é
uma palavra feia: aquele que está usando a religião como um negócio,
explorando as pessoas em nome de Deus. O profeta é aquele que o ajuda a se
transformar, a se transfigurar. O profeta não está tão preocupado com Deus,
como está com você, com a sua realidade. Quando sua realidade começar a se
manifestar, você saberá o que é Deus — porque você é Deus em semente.
Podemos nos esquecer completamente de Deus: Buda nunca falou sobre ele,
Mahavir também não. E Buda ajudou imensamente. Ele insistia: Deus não é o
problema, Deus não é a questão; a questão é o seu ser interior. Um profeta está
preocupado com o seu ser. Se o seu ser desabrochar, florescer, nessa fragrância
você saberá o que é Deus. Não há outra maneira.
Através da oração, do templo, da igreja, do ritual, da tradição, você não chegará
a lugar algum; apenas o padre ficará cada vez mais rico. E esse investimento
torna-se tão grande que os padres e os políticos se juntam para explorar as
pessoas. Essa é a maior conspiração: através dos séculos, os padres e os
políticos andaram juntos. Eles são os maiores culpados. Jesus foi crucificado
porque não era um padre... Começou a se comportar como um profeta, e é claro
que os padres ficaram com medo. Sempre que há um profeta os padres ficam
com medo — porque ele irá destruir todo o seu negócio. Jesus foi crucificado por
causa dos padres; eles estavam por trás de tudo. Nenhum profeta jamais será
tolerado pelos padres — não pode ser tolerado; é perigoso.
Por isso, se o seu incidente ajudou-o a ficar ciente dos padres, foi bom. Mas, de
alguma forma, sua associação deu errado. Não vá à igreja, não há necessidade;
Deus está em toda parte. Não vá a nenhum padre, não há necessidade; Deus
está disponível para você — direta e imediatamente. Mas se você tiver uma
resistência à palavra “deus”, isso se tornará uma barreira; irá tolhê-lo, inibi-lo,
não permitirá que você flua para o infinito. E não há razão para isso — Deus não
fez nada. O padre afastou-se e foi embora, mas você sabe se Deus também foi?
Deus nunca se afastou de ninguém. Na verdade, pelo fato de o padre ter-se
afastado, Deus pode ter cuidado ainda mais do moribundo — pois não havia
outro auxílio. Quando um homem está desamparado, Deus simplesmente
começa a fluir em direção a ele. Em imenso desamparo, você se torna receptivo.
Quando o homem estava completamente desamparado, e o padre foi embora, e
a morte estava chegando — nesse estado de desamparo, ele deve ter feito um
contato; você não pôde vê-lo do lado de fora.
Seja contra os padres. Mas não há necessidade, não se justifica que você tenha
alguma resistência em relação a Deus.
Você diz: “Sei que Deus está dentro de mim.” Você não sabe, você não sabe
absolutamente. Você ouviu dizer isso. Você me ouviu dizer, ouviu Jesus dizer
“Deus está em você”, mas você não sabe absolutamente. Porque, uma vez que
você sabe, não há problemas; sabendo que “Deus está em mim”, imediatamente
Deus está fora também. No momento em que você perceber um único raio do
divino penetrando em você, conhecerá tudo o que existe para ser conhecido.
Conhecido o de dentro, o de fora é conhecido. Conhecido o de fora, este se torna
conhecido dentro também — pois o de dentro e o de fora não são duas coisas
separadas; são dois aspectos da mesma energia.
Assim, esse pensamento de que “Deus está dentro de mim” pode ser um outro
truque de sua resistência, pois você não quer ver Deus fora. Você é contra isso,
pois bem no fundo de sua mente você sente que, se Deus está lá, então você
precisará de um mediador, precisará de alguém para guia-lo até lá. Se Deus está
fora, lá em cima no céu, então alguém será necessário para guiá-lo. Sozinho,
você não será capaz de encontrá-lo. Então você diz: “Deus está dentro de mim”
— assim não há necessidade do padre. Você está dizendo isso apenas para
evitar o padre — mas você não sabe.
Deus é tudo. A distinção entre o de fora e o de dentro é falsa. Dentro e fora são
um; apenas uma realidade, de uma ponta a outra. Não são duas, não é dual, por
isso não a divida.
Ouvi contar...
Quando Xerxes estava na praia com sua armada, e olhou para o Helesponto,
perguntou a si mesmo: “Como farei para meus homens atravessarem?” Ele
ordenou a seus generais que construíssem uma ponte de barcos, e eles
obedeceram. Mas uma tempestade veio e destroçou sua ponte. Num acesso de
raiva violenta, ele ordenou a execução dos supervisores que dirigiram o trabalho.
Mas isso não foi suficiente para satisfazê-lo, pois a sua raiva era grande, quase
louca. Então ele ordenou a seus escravos que dessem trezentas chicotadas no
mar.
Mas isso é uma tolice — trezentas chicotadas no mar! Mas é assim que a mente
funciona; nossa mente é muito infantil. Você já reparou numa criança pequena?
Se ela se machuca com uma porta ou um móvel, ela bate na porta ou no móvel,
como se eles fossem o inimigo, como se eles tivessem feito alguma coisa a ela.
Ela pode ter tropeçado, mas acha que a cadeira é responsável. E essa atitude
infantil continua. As pessoas ficam senis, mas sua atitude infantil nunca muda.
No seu caso, um padre não se comportou bem, mas se você for um pouco
razoável... Primeira coisa: se um padre não agiu bem, isto não significa que todos
os padres estejam errados. Segunda coisa: foi o padre que não agiu bem, não
Deus. Terceira coisa: você não sabe o que aconteceu àquele moribundo, no mais
profundo do seu ser.
Não se apresse em tirar conclusões. Um homem sábio nunca conclui tão
facilmente, pois todas as conclusões fazem sua mente fechar-se. Você não sabe
o suficiente; conclusões são perigosas. Uma conclusão só está certa quando
você já conheceu tudo. Os homens mais sábios do mundo disseram que nada
sabiam; como podemos nós concluir? E qualquer coisa que saibamos é tão
pequena, tão ínfima... como se você tivesse lido apenas uma linha da Bíblia e, a
partir dessa linha, concluísse alguma coisa. Seria tolice; não seria sábio.
Você pergunta: Então, por que essa resistência? Não penso que a resistência
dependa do incidente. Na verdade, todo mundo é resistente em relação a Deus;
as desculpas podem ser diferentes. Essa história é uma desculpa — porque não
é razoável ficar resistente a Deus apenas por causa desse incidente. Por isso,
deve ser uma desculpa. Você quis a resistência — essa história apenas lhe
forneceu um argumento, uma desculpa.
Todo mundo é resistente em relação a Deus — por quê? Porque, se quiser
conhecer Deus, você tem que desaparecer: essa é a resistência. Você tem que
morrer para que Deus viva em você. Você tem que desaparecer completamente,
totalmente; você tem que estar vazio, tem que esvaziar-se. Somente no seu
vazio Deus pode descer; quando você está muito cheio ele não pode entrar. Sua
taça está muito cheia de você mesmo; ela tem que ser esvaziada — esta é a
resistência.
Não dê muita importância às desculpas — elas são insignificantes. O problema
real se esconde por trás das desculpas. O problema real é: para se tornar
religiosa, a pessoa tem que negar a si mesma — este é o único sacrifício
necessário. O ego tem que ser abandonado. A mente tem que parar, para que
Deus esteja presente — então, é claro que há resistência.
Por isso, esqueça esse incidente. Ele não tem nada a ver... Na verdade, é muito
raro eu encontrar uma pessoa que não seja resistente, que não esteja, no fundo,
lutando contra Deus. É natural; tente compreender. Queremos permanecer nós
mesmos: Deus é o maior perigo. Por isso, as pessoas vão aos padres. Elas
poderiam ir diretamente a Deus, mas vão ao padre — pois não querem realmente
ir para Deus. O padre protege-as de Deus. Elas vão às escrituras, pois estas
estão mortas, e não se pode encontrar um Deus vivo numa escritura. Essa é a
maneira de esquivar-se.
As pessoas não vão a um Mestre vivo, porque ir a um Mestre vivo significa saltar
no fogo. Você desaparece — mas somente através desse desaparecimento
Deus aparece.
Ser realmente religioso é cometer suicídio. É isso mesmo que eu quero dizer —
suicídio. Quando uma pessoa se mata, isto não é um suicídio; apenas o corpo
muda — ela nascerá de novo. Isso é apenas uma mudança de corpo, uma
mudança de roupas, de moradia. Mas quando um homem abandona o ego, ele
comete um suicídio real, autêntico; agora ele não voltará mais. Agora não terá
mais necessidade de outra moradia neste mundo de miséria, neste mundo de
escuridão, neste mundo que é quase um inferno. Ele não voltará mais.
Abandonado o ego, sua jornada está terminada; você terá aprendido a lição.
Esta é a resistência.
Por isso, por favor esqueça essa desculpa. Do contrário, você continuará
pensando nela — e esta não é a causa verdadeira.
Eu gostaria de poder saber mais a respeito de Deus. Você pode me
ajudar, Bhagwan?
Não há jeito de se saber mais a respeito de Deus. Você pode conhecer Deus,
mas você não pode saber mais a respeito de Deus. Saber mais a respeito de
Deus não é conhecê-Lo. Saber mais é informação; conhecer Deus é uma
dimensão totalmente diferente. Saber a respeito é informação — você pode
continuar, sabendo mais e mais a respeito, mas nunca chegará a Deus.
Conhecer Deus é totalmente diferente de saber a respeito de Deus.
Você pode saber muito sobre o amor sem conhecer absolutamente o amor. Você
pode ir às livrarias, consultar as enciclopédias e coletar toda a informação
possível sobre o amor — mas se o amor não aconteceu a você, você não saberá
o que é o amor. Você pode coletar todas as histórias sobre o amor — Laila e
Majanu, Shiri e Farahad —, pode coletar histórias sobre todos os amantes do
mundo; isso também não ajudará. O amor tem que acontecer a você; você tem
que se apaixonar. Você tem que se arriscar, tem que jogar tudo — só então você
saberá.
Você diz: “Eu gostaria de poder saber mais a respeito de Deus.” Primeira coisa:
saber mais não será de muita ajuda. É assim que uma pessoa se torna um
estudioso, um pândita — bem-informada. Não estou aqui para ajudá-lo a tornar-
se mais bem-informado; você já tem muitas informações. Eu estou aqui para
destruir o seu conhecimento, tirá-lo de você. Você tem que aprender como
desaprender.
Você diz, que “Eu gostaria”. “Gostaria” é uma coisa muito fraca, que não faz com
que ninguém chegue até Deus. Mais insistência, um desejo mais profundo é
necessário... um desejo que se torne uma chama em você. Uma fome é
necessária; “gostaria” não ajudará. Uma sede é necessária... como se você
estivesse perdido no deserto do Saara, e por milhas à sua volta, apenas areia,
areia, areia, e um sol ardente, nenhuma gota de água com você, e não se avista
nenhum verde, e você está com sede, todo o seu ser está por um fio — a
qualquer momento você pode morrer — e a sede aumenta, e você se torna uma
chama... nessa sede Deus é possível.
Torne-se sedento. “Gostaria” não é o suficiente; é muito fraco.
Ouvi contar...
Um mendigo faminto parou numa casa de campo e pediu alguma comida. A dona
da casa trouxe-lhe alguma coisa, e ele sentou-se na porta dos fundos,
deliciando-se com a comida.
Logo que ele sentou, uma pequena galinha ruiva passou correndo, fugindo de
um galo que vinha em seu alcanço. O mendigo jogou um pedaço de seu pão
para o galo, que parou instantaneamente sua perseguição, e avidamente engoliu
o pedaço de pão.
“Nossa!” exclamou o mendigo. “Espero que eu nunca fique com tanta fome
assim!”
Você tem que estar tremendamente faminto. Não pode ser apenas uma
curiosidade. Deus não pode ser um objeto de curiosidade; Deus não pode ser
um objeto de seu pequeno desejo. Deus não é a satisfação de uma vontade, não
é um sonho seu. Deus tem que ser como uma chama em suas entranhas.
Quando você começar a sentir que nada mais importa, quando Deus é a
prioridade máxima e você está pronto a sacrificar tudo, quando Deus se torna
um desejo tão urgente, absorvente, que até mesmo a vida não tem mais sentido
sem Deus — só então você chegará a Ele. E aí, não há necessidade de ninguém
que o ajude; seu desejo fará o trabalho.
Nessa sede premente, nessa intensidade, tudo o que é escuro em você
desaparece. Nessa chama, tudo o que é inútil é consumido. Você se torna ouro
puro.
Deus é a sua realidade, assim como é a minha realidade. Deus é a sua realidade
assim como era a de Jesus Cristo ou de Gautama Buda. A diferença é que você
ainda não é capaz de separar o joio do trigo; o trigo está em você, mas há muito
joio misturado. Num tremendo desejo de conhecer, de ser, o joio é exterminado
— e não há outra maneira.
Quando você vai a um Mestre, ele, na verdade, não o ajuda a chegar a Deus:
ele o ajuda a se tornar cada vez mais sedento. Ele o ajuda a se tornar cada vez
mais intensamente faminto. Ele lhe dá sede e fome; ele lhe dá uma paixão louca
pelo impossível.
Um homem veio até Buda e perguntou: “Se eu o seguir, serei capaz de conhecer
a verdade?” Buda disse: “Isso não é certo; não posso garanti-lo. Posso garantir
apenas uma coisa: eu o tornarei cada vez mais sedento. Então, tudo o mais
dependerá de você. Posso transferir minha sede para você, se você estiver
pronto para permitir tamanha sede... pois é doloroso. A jornada é dolorosa; todo
crescimento é doloroso. Se você permitir que eu crie essa dor em você, a própria
dor o purificará. A dor é um processo de purificação.”
Por isso nunca diga que você gostaria de saber a respeito de Deus, nem que
gostaria de saber mais. Ou Deus é conhecido ou não é — mais ou menos seria
absurdo. Você não pode dividir Deus assim: “Eu sei um pouquinho, alguém sabe
um pouco mais, alguém sabe quase a metade e alguém sabe cem por cento.”
Deus não pode ser dividido; ou você sabe ou não sabe. E o conhecimento de
Deus não é como qualquer outro conhecimento. Não é como o conhecimento
científico, que você vai aumentando cada vez mais, como uma progressão que
continua e nunca termina. Não é um conhecimento a partir do exterior. O
conhecimento de Deus não é bem um conhecimento, é mais como o amor. Você
desaparece em seu amado — essa é a única maneira de conhecer. E quanto
mais você desaparece em seu amado, mais você sabe que não sabe.
Os maiores conhecedores de Deus sempre dizem que não sabem. Eles são
como gotas no oceano: elas caem no oceano e desaparecem, e o oceano cai
nelas e desaparece. Então, quem é o conhecedor e quem é o conhecido?
Kabir disse: “Eu estava procurando e procurando e procurando, e então eu me
perdi; aí aconteceu o milagre dos milagres. Quando eu não estava mais lá, você
estava, bem em frente a mim. E quando eu estava lá, procurando e procurando,
você estava tão distante — nem mesmo um vestígio. E agora, olhe... Eu
desapareci. Procurando, eu me perdi completamente; toda a minha busca me
absorveu, me destruiu completamente. Agora eu não estou mais... e meu
Senhor, você está aqui bem à minha frente.”
Kabir disse que aquele que procura nunca alcança o procurado. O homem nunca
se defronta com Deus — porque, a menos que você desapareça, ele não pode
aparecer; assim, não há ponto de encontro. Quando você está, ele não está;
quando ele está, você não está — assim, como você pode afirmar que sabe?
Quando você não está — só então ele está. Quando o conhecedor desaparece,
o conhecimento aparece; não pode ser apenas a satisfação de uma vontade.
Posso ajudá-lo a se tornar uma chama — sedenta, faminta, ardente; posso dar-
lhe a dor. Então todo o resto depende de você — o quanto você entra nessa dor,
nesse fogo, Você pode dar um salto, e Deus pode acontecer num momento
repentino. Não há necessidade de esperar, nem de adiar. Neste exato momento
pode acontecer... se você estiver pronto para entrar totalmente nessa dor.
Fui criada numa família totalmente sem religião, mas toda vez que ouço
você mencionar o nome de Jesus, choro e algo profundo dentro de mim é
tocado. O que está acontecendo?
Isso deve ser porque você foi criada numa família sem religião. Famílias
religiosas destroem a religião para sempre. Lares religiosos são os lugares mais
irreligiosos do mundo. O que quer dizer isso que estou falando? Se você nasce
numa família religiosa cristã, ela forçará você a venerar Jesus, a se tornar cristã;
ela a condicionará. Não escutará seus desejos, e não se importará com a sua
liberdade; apenas a condicionará a ser uma cristã. E é claro que o espírito interior
se rebela contra todos os tipos de escravidão. O cristianismo é uma escravidão,
assim como o hinduísmo, o islamismo e todas as chamadas religiões. Quando
uma criança é forçada a se tornar um hindu, um cristão ou um maometano, seu
ser mais interior se rebela, resiste. E quando qualquer coisa é forçada em você,
mesmo que seja bela, torna-se feia.
Deus tem que ser buscado em liberdade — não através de um condicionamento.
O mundo é tão irreligioso por causa dessas religiões, por causa dessas pessoas
religiosas! Elas condicionam as outras pessoas; destroem o próprio impulso.
Pense numa coisa assim: você vai a um jardim, observa as árvores, as flores e
sente-se muito feliz. Mas se você for forçado a isso, se um policial a seguir com
uma baioneta e disser: “Olhe a rosa e fique feliz!”, o que acontecerá? A rosa será
a mesma, mas como você poderá apreciá-la, quando alguém está atrás de você,
ordenando que fique feliz?
Quando você é forçado a ir à escola dominical, e você quer ir a algum outro lugar
— ao zoológico, ou à pescaria, ou brincar com as crianças da vizinhança, mas
você tem que ir à igreja porque é cristão... e a criança fica lá sentada numa prisão
— ouvindo sem ouvir, pronta para escapar a qualquer momento, esperando a
hora daquele absurdo todo terminar. Jesus, Jesus, Jesus... Jesus torna-se um
palavrão; perde todo o significado. Então, mais tarde, é muito difícil descobrir o
significado.
Você tem sorte de ter nascido e crescido numa família totalmente sem religião.
Num mundo melhor, toda criança deveria poder crescer sem nenhum
ensinamento religioso.
Amem seus filhos, mas nunca imponham suas ideologias. Amem seus filhos,
deixem-nos sentir que Jesus fez algo por vocês, ou Maomé fez algo por vocês,
ou Mahavira — deixem-nos sentir, mas não forcem nada. Deixem-nos crescer
em liberdade. Deixem-nos ver quando vocês orarem, as lágrimas rolando em
suas faces, e deixem-nos ver a beleza disso. Deixem-nos ver quando vocês se
curvam diante de Jesus, deixem-nos observar... e as crianças são muito
observadoras, muito sensíveis — se as coisas não forem forçadas, elas irão por
si mesmas. Quando elas virem suas lágrimas, virem vocês se curvando diante
de Jesus e sentirem a atmosfera... de repente tudo se torna silencioso, de
repente o pai não é mais o pai, e a mãe não é mais a mãe, de repente eles se
tornam seres luminosos... e a criança também se curvará. Talvez em segredo,
quando vocês não estiverem vendo, a criança também se curvará. Ela quer
saber o que acontece quando alguém se curva diante de Jesus, ou de Buda,
quando alguém está orando. Deixem-na perceber — não ensinem, não forcem
nada. Tudo se torna feio quando forçado.
Liberdade é a coisa básica. A consciência cresce na liberdade e começa a
morrer, a ficar aleijada, quando as coisas são forçadas. E até agora, é isso o que
tem sido feito. Esse é o maior crime que os pais cometem contra os filhos. Eles
forçam a criança, eles têm medo, não confiam em suas próprias orações.
Quando eu era criança, costumava ir com meu pai ao templo. No começo, ele
me dizia para fazer isso e aquilo. E eu lhe disse: “Se você me disser, eu farei,
mas já ficarei contra, desde o início. Por isso, não force. Deixe-me vir, deixe-me
observar. Se eu sentir que alguma coisa acontece a você, este será o fator
decisivo.” Meu pai era um homem simples e concordou. E ele ia e orava, e eu
simplesmente me sentava e observava. Orando, meditando, eu via como ele
mudava, como seu rosto, de repente, se transformava e ficava luminoso, e quão
silencioso e cheio de graça ele se tornava. Isso tornou-se uma indagação para
mim... uma pessoa tem que conhecer esses espaços também. Então a criança
se encanta, e um grande desejo surge de conhecer o que é isso, do que se trata.
Ainda bem que você foi educada numa família sem religião. Talvez seja esta a
causa de você chorar quando menciono o nome de Jesus e sentir que algo
profundo é tocado dentro de você. É bom que você não seja cristã, assim Cristo
ainda pode significar alguma coisa para você. E, não sendo cristã, logo você verá
que Buda também é significativo, assim como Patanjali, Kabir, Nanak. Quando
uma pessoa não está condicionada, fica disponível para todas as fontes, para
todos os grandes Mestres.
Deveríamos reivindicar como nossa a herança de toda a humanidade — nós
somos desnecessariamente pobres. Quando alguém diz: “Eu sou cristão”, está
dizendo que reivindica apenas Jesus, e não Buda, nem Zaratustra, nem Lao-
Tsé. Que pessoa pobre! Toda a humanidade, toda a história do homem é sua.
Jesus é tão seu quanto Lao-Tsé, Buda ou Maomé. Eles são todos seus:
reivindique-os todos juntos, esta é a sua herança. Mas isso só é possível se você
não estiver condicionado a ser um cristão, um hindu ou um maometano.
Você tem sorte de Jesus ainda ter algum significado para você. Este é todo o
meu esforço aqui — descondicioná-los. Se você é um cristão, quero que se
gorne descondicionado. Abandone seu cristianismo, seu hinduísmo, seu
jainismo. Isso pode lhe parecer paradoxal, mas tente compreender: se você
abandonar o cristianismo, poderá ser capaz de amar Cristo novamente. Se você
abandonar o hinduísmo, poderá ser capaz de dançar novamente com Krishna;
poderá começar a cantar as notas que ele ainda está tocando em sua flauta. O
hinduísmo funciona como uma Muralha da China — não lhe permite chegar
diretamente a Krishna. Torne-se descondicionado. Abandone toda cultura,
civilização, religião, seitas, teologias, filosofias. Seja apenas simples; seja uma
criança novamente.
Felizmente você não nasceu numa família religiosa, senão você teria tido contato
com os padres. E ter algum contato com padres significa tornar-se irreligioso
para sempre, porque os padres são as pessoas mais irreligiosas que existem.
Eles fingem — mas fingimentos nunca atraem ou convencem. Você os conhece;
são tão comuns quanto qualquer outra pessoa. Somente quando estão na igreja,
no púlpito, é que se tornam, de repente, muito eloquentes sobre religião. A vida
deles é completamente muda; não há sombra de consciência, de atenção, não
há possibilidade de florescer neles algo divino, não há fragrância em volta deles,
nenhuma vibração, nenhuma onda... mas quando estão no púlpito, de repente
começam a falar sobre religião. A religião não tem nada a ver com eles; eles são
tão irreligiosos quanto qualquer outra pessoa. Fingidos, hipócritas...
Ouvi contar...
Um homem de aparência bem doentia sentou-se em frente ao médico, que olhou
para ele e disse: “O que está acontecendo com você?”
O homem respondeu: “Não sei exatamente. Sinto-me fraco, muito, muito fraco;
estou preocupado, perdendo minhas forças. Não estou comendo bem, nem
durmo direito e, além do mais, estou ficando impotente. E vou acabar perdendo
meu emprego, se eu não me esforçar e não me mantiver calmo.”
“É, posso ver”, disse o médico. “Diga-me, que tipo de trabalho você faz?”
“Bem, senhor já viu nos jornais aqueles desenhos de publicidade do Vinho
Supertônico Revigorante Scroggs? Bem, eu sou o rapaz que os desenha.”
Este é o tipo que você encontrará nos padres. Eles estão sempre falando de
Deus — e olhe nos olhos deles... nem mesmo uma sombra de Deus. Olhe no
fundo... e eles estão tão longe de Deus quanto você, ou talvez até mais. Talvez
as pessoas que procuram os padres acreditem um pouco, mas eles são sempre
descrentes. Eles sabem, eles conhecem todo o negócio, todo o segredo. Eles
sabem que não há Deus. Eles não podem dizer, porque investiram muito nisso,
eles dependem disso. Os padres são as pessoas mais irreligiosas do mundo, e
existe uma razão — eles sabem; a imagem, a estátua no templo é apenas pedra,
eles sabem. Eles já viram os ratos andando sobre ela, e sabem que ela não pode
fazer nada. E eles rezam por você, sabendo que as orações não vão a lugar
algum — mas eles continuam fingindo.
Se você já teve algum contato com padres, existe toda a possibilidade de você
se tornar anti-religiosa. Se você não teve contato com padres existe uma
possibilidade de, algum dia, surgir um impulso — porque a religião é um impulso
natural. Se não for corrompida pelos padres, toda pessoa nasce religiosa e, de
alguma forma, encontrará seu caminho. Assim como o rio corre sem saber para
onde, e chega sempre ao oceano, todas as pessoas encontrarão seu caminho
para Deus, se elas não forem atrapalhadas pelos padres e impedidas pelas
religiões. A pessoa realmente religiosa será sem religião.
Os padres são pessoas muito sérias. Matam seu desejo de amar, de celebrar;
matam todas as possibilidades de alguém ser feliz. Prometem que no céu você
será feliz, mas não aqui; aqui não é permitido. Na verdade, aqui você tem que
ser masoquista, torturar a si mesmo e, então, no céu, terá a recompensa.
Ninguém conhece nada sobre o céu. Os verdadeiros profetas, que nunca são
padres — Buda, Jesus, Mahavira —, os verdadeiros profetas ensinam-nos a nos
deleitarmos aqui e agora, neste exato momento; não há necessidade de
adiarmos. O paraíso é aqui... porque o céu não é um lugar geográfico, e sim, a
sua atitude.
Há alguns anos, vi uma história em quadrinhos que nunca mais esqueci e que
ainda me faz rir. Dois homens estão numa esquina, em frente a uma igreja. Vê-
se claramente que é domingo, e as pessoas estão saindo da igreja, felizes, rindo,
algumas até dançando. E, no meio da multidão, algumas pessoas estão
carregando nos ombros o pregador com sua batina. Vendo essa cena, um dos
homens da esquina diz para o outro: “Eu gostaria de saber qual foi o sermão de
hoje!” Porque uma tal cena numa igreja — pessoas dançando, cantando,
carregando o padre nos ombros — parece impossível. Dançar numa igreja?
Pessoas divertindo-se, celebrando felizes, numa igreja? Risos numa igreja? —
nunca se viu. Observando isso, é certo que um diga ao outro: “Eu gostaria de
saber qual foi o sermão de hoje!”
A verdadeira religião sempre criará uma dança em você, uma canção; a
verdadeira religião criará a divina melodia em você. A verdadeira religião não é
nada mais do que a verdadeira felicidade.
Feliz de você por ter nascido numa família sem religião. E agora, se você fica
comovida com Jesus, entre nisso com todo o seu coração. Agora que a menção
do nome de Jesus faz você chorar, chore de todo o coração. Esta será a sua
prece: isso é prece. Fique realmente comovida... a religião está nascendo em
você. É assim que a religião sempre nasce. Ninguém pode lhe dizer quando
chega o momento certo, quando a maturidade chega... De repente, um dia, você
começa a sentir novos anseios, novos sonhos rodeando-a, novos caminhos
abertos, novas portas desafiando-a, novas aventuras.
Esse choro, essa comoção que está acontecendo em sua alma — admita-a,
entre nela. Não tente controlar — digo isso porque existe a possibilidade de você
tentar controlar, pois fomos ensinados a controlar. Choro? — controle-o. Riso?
controle-o. Controle tudo! E com o controle você perde toda a espontaneidade
— e Deus é espontaneidade. Se você se tornar espontânea, estará andando de
mãos dadas com Deus; sendo espontânea, você está com Deus. Esse é todo o
ensinamento de Kabir: sahaj samadhi bhali — esteja espontaneamente em
meditação. Esta é a melhor meditação.
Se o nome de Jesus a comove, sente-se em silêncio, e deixe que esse nome a
toque. Algumas vezes, diga silenciosamente Jesus... e espere. Esse se tornará
o seu mantra — é assim que nasce um mantra verdadeiro. Ninguém pode lhe
dar um mantra, você tem que encontrá-lo. O que a atrai? O que a comove? O
que cria um grande impacto em sua alma? Se é Jesus, então ótimo. Algumas
vezes, sentada em silêncio, repita “Jesus” e espere... e deixe que o nome
penetre fundo, bem fundo no recôndito de seu ser. Deixe-o ir até o âmago. E
permita tudo: se você começar a dançar, ótimo; se você chorar, ótimo; se rir,
ótimo. Qualquer coisa que aconteça, acate-a. Deixe que seja assim; não interfira,
não manipule. Entre nisso, e você terá seus primeiros vislumbres de prece e
meditação, e os primeiros vislumbres de Deus. Os primeiros raios começarão a
penetrar na noite escura de sua alma.
Bhagwan, sinto-me tão frustrado!
E daí?! Você deve ser responsável por isso. Se não quiser sentir-se frustrado,
não haverá necessidade. Você deve estar criando isso. Ninguém mais é
responsável; se você se sente frustrado, deve estar colhendo os frutos que
semeou. Mas você não vê essa relação. Se esperar muito, sentir-se-á frustrado.
Se não quiser sentir-se frustrado, não espere. Viva sem expectativas, e não
haverá frustrações.
Mas as pessoas estão sempre esperando; suas expectativas não têm limites.
Então vem a frustração, que é a sombra da expectativa. A frustração não é o
problema, e sim a expectativa. Quando você se sente frustrado, pensa que a
existência está fazendo algo de errado com você. Não: você estava querendo
muito. Na verdade, é só querer algo e se sentirá frustrado. Qualquer querer é
querer demais. Não queira, não peça; seja. E então, ficará surpreso — qualquer
coisa que acontecer, será bom; você não terá como julgar.
Eu costumava passar um tempo com uma família rica em Calcutá. Certa vez,
quando cheguei, a família veio me apanhar no aeroporto. O marido estava muito
triste. Então perguntei: “O que está acontecendo?” Ele respondeu: “Tive um
grande prejuízo.” Ao ouvir isso, a esposa começou a rir. Ela disse: “Não se
importe com o que ele diz. Não houve nenhum prejuízo; na verdade, houve um
grande lucro.”
Fiquei confuso e disse: “Vocês dois estão aqui. Por favor, expliquem esse
enigma.” A esposa disse: “Não há enigma nenhum. É que ele estava esperando
ganhar um milhão de rupias e ganhou apenas quinhentas mil. Por isso ele diz,
‘quinhentas mil rupias de prejuízo’, e eu digo, ‘você lucrou’ — mas ele não me
ouve e está muito triste.”
Quando você espera um milhão de rupias e ganha quinhentas mil, sente-se
frustrado. Se você não está esperando nada, e ganha quinhentas mil, fica muito
feliz e grato. Não espere nada, e verá que sua vida torna-se uma alegria. Espere,
e sua vida torna-se um inferno. A expectativa é a causa. Se você quer mudar,
nunca comece pelo efeito: comece pela causa. A frustração é o efeito. Se você
continuar lutando contra a frustração, nada acontecerá, e você ficará cada vez
mais frustrado. Comece pela causa, sempre procure pela causa. Sempre que
estiver se sentindo miserável, vá lá dentro e descubra onde está a causa. E então
tudo dependerá de você. Se você quer abandonar o efeito, evite a causa; e então
fique muito atento, cada vez mais atento.
Agora, se você gosta de sua frustração... pois existem muitas pessoas que
gostam. Há muitas pessoas que gostam de ser infelizes. Na verdade, não
conseguem tolerar a felicidade. Quando estão transtornadas, estão felizes;
quando estão felizes, sentem-se transtornadas. Você pode achar engraçado,
mas isso é o que acontece com a maioria das pessoas. E existem razões para
isso. Sempre que você está infeliz, ganha alguma coisa: simpatia, atenção. E
quando está feliz, ninguém demonstra nenhuma simpatia; ao contrário, as
pessoas ficam com inveja. Quando você está infeliz, todos são amigos, todos
são simpáticos com você — até mesmo seu inimigo. Quando você está feliz, até
seu amigo torna-se invejoso e hostil.
Quando você está feliz, ninguém lhe presta atenção. As pessoas evitam-no e
começam a pensar que você enlouqueceu. Como alguém pode ficar feliz? Deve
ter ficado louco, ou então está fingindo. Quando você está infeliz, todos o
aceitam. Então pensam que está tudo certo, pois é assim que as coisas devem
ser. E as pessoas gostam de sua infelicidade, por isso lhe dão atenção — pois,
sempre que você está infeliz, elas podem se comparar, e no fundo, sentem-se
bem: “Estou numa posição melhor. As pessoas são tão infelizes! Pelo menos
não sou tão infeliz assim. Sou infeliz, mas nem tanto.”
Elas podem comparar. Quando você está feliz, o outro se sente rebaixado; fica
infeliz por ver a sua felicidade: “Então você está feliz? Então você conseguiu?”
Ele não aceitará, ele criará problemas para você.
Este mundo consiste de pessoas miseráveis, de pessoas infelizes. E elas não
permitem que uma pessoa feliz viva ou exista.
Ouvi falar a respeito de um homem, um grande poeta, já com seus sessenta
anos de idade, que estava numa cama de hospital. Como não tinha nada para
fazer, resolveu meditar sobre sua vida, como tinha sido miserável a sua vida.
Criou belos poemas, mas não eram reais, apenas composições. Ele tinha muita
habilidade para escrever poesias — mas esses poemas não nasceram de sua
alma; eram apenas intelectuais. Ele tinha o jeito, a técnica, mas seus versos não
vinham do coração.
O poeta estava deitado na cama, pensando, meditando, e disse: “Agora estou
com sessenta anos e dentro de alguns anos terei partido. Por que estou
perdendo minha vida? Não posso ser feliz?” E então percebeu que não existe
realmente nada para se ficar infeliz. Ele tinha tudo de que um homem precisa.
Tinha prestígio, respeitabilidade, nome, dinheiro, casa, esposa, filhos, enfim,
tudo. Por que ser infeliz? Ele começou a rir de todo o ridículo daquilo: “Não tenho
nada para ser infeliz, mas sou infeliz. Isso é tolice!” E ria. Ao ouvir isso, a
enfermeira correu para chamar o médico. O poeta percebeu que ela ficara
chocada e correra de medo, então ele ria ainda mais. Quando o médico chegou,
também ficou chocado e perguntou: “Há algo errado?” E o homem ria mais ainda.
Imediatamente, ele foi levado para a ala dos doentes mentais. Depois, ele
mesmo me contou que ria cada vez mais e dizia: “Vocês todos ficaram loucos ou
o quê?” Dizia que nada estava errado, mas quem o ouvia? Os médicos
respondiam: “Todos dizem a mesma coisa! De repente, sem mais nem menos,
começaram a rir!” Algo tinha que estar errado; sua mente não estava mais sã. E
quando ele me contou essa história, disse: “Isso é bem significativo! Ninguém
pensava que eu fosse louco quando era infeliz.”
Isso também acontece a meus sannyasins muitas vezes. Um deles escreveu há
poucos dias, dizendo que recebeu o sannyas, e estava tão feliz, que foi
dançando para casa. Uma multidão juntou-se e as pessoas diziam: “Ele ficou
louco.” Sua esposa começou a chorar e as crianças gritavam: “Papai, o que você
está fazendo?” Ao ver tudo isso, ele ria e dizia: “O que estou fazendo? Tornei-
me uma pessoa feliz!” Eles o levaram forçado a um hospital, e de lá ele telegrafou
para cá: “Bhagwan, salve-me! Eles vão me dar tranquilizantes e choques
elétricos. O que devo fazer?”
A felicidade não é permitida. A felicidade é alguma coisa louca. Você diz: “Sinto-
me tão frustrado!” Olhe bem para isso. Se você se diverte assim, então não há
problema — é a sua escolha. Se você gosta disso, então vou lhe contar uma
anedota...
Um turista nervoso não estava gostando de ficar muito na beirada do penhasco
de Beachy Head, em Sussex, e disse para o guia: “E se eu cair lá embaixo?”
“Se cair, olhe para a sua direita”, respondeu o guia entusiasmado. “Você vai
adorar a vista!”
“Olhe para a direita, se cair...” Se você cair, caiu! “Olhe para a direita, você vai
adorar a vista!”
Assim, se você está frustrado, e gosta, e se diverte com isso, então fique mais
alerta, mais consciente. E divirta-se! E não reclame, não crie uma contradição.
Você gosta da frustração? Então goste e vá fundo nisso. Torne-se mais artístico
e decore-a um pouco mais; encontre novas possibilidades, novas maneiras de
ficar frustrado... Se você não gosta, então não vejo qual o problema. Entre fundo
nisso, observe, e você encontrará alguma expectativa escondida por trás.
Sempre que você espera alguma coisa está pedindo frustração. Abandone as
expectativas.
A vida de um sannyasin deve ser uma vida sem expectativas. E então, cada
momento será uma bênção, uma graça divina, pois qualquer coisa que Deus der,
será muito. E você sempre se sentirá grato. Mas quando seus desejos são
muitos, qualquer coisa que Deus der sempre parecerá pouco, e você se sentirá
frustrado, você se queixará e não se sentirá grato. E sem gratidão não há
possibilidade de surgir a prece em seu coração. Gratidão é prece.
Por que eu faço caras engraçadas?
Essa pergunta é de Amida. Primeiro, uma anedota...
Um homem era terrivelmente feio. Uma vez lhe perguntaram como ele podia
viver com uma cara tão feia.
“Por que eu deveria ficar infeliz?”, respondeu o homem. “Eu nunca vejo o meu
próprio rosto. Deixe que os outros se preocupem com isso.”
Então, Amida, simplesmente jogue fora seus espelhos, e pronto.
O problema será dos outros, não seu. Eles me perguntarão: “O que fazer com
as caras de Amida?” E há outra coisa ainda: todas as caras são engraçadas,
porque no fundo você não tem nenhuma cara. Ninguém nunca está satisfeito
com seu próprio rosto; mesmo as pessoas mais bonitas não estão satisfeitas.
Você pode pensar que não, mas até Cleópatra achava que seu nariz era um
pouco mais comprido do que deveria ser. Marilyn Monroe cometeu suicídio —
uma bela mulher, mas não satisfeita. Há algo significativo nisso. Todas as caras
são engraçadas porque todas as caras são falsas. No fundo, o seu ser não tem
rosto. É isso o que as pessoas Zen chamam de face original. Quando um
discípulo vem a um Mestre Zen, o Mestre diz: “Vá e medite sobre sua face
original.” E o que é a face original? A face que você tinha antes de nascer e a
que terá novamente depois que morrer: descubra essa face original. Não é face
alguma.
Você já pensou alguma vez que a forma de seu rosto é dada pela matéria, e ela
pode ser modificada com uma operação plástica? Mas você não mudará com a
mudança de rosto: seu nariz pode ficar mais longo ou mais curto, seus olhos
podem ficar diferentes, suas sobrancelhas também — muitas coisas podem ser
feitas agora. Mas você continuará o mesmo. Por isso, o rosto não é seu ser, é
apenas a forma de seu corpo. Não é a sua face. Você tem alguma face? Algumas
vezes, com os olhos fechados, pense profundamente... e você ficará surpreso
de ver que não tem nenhuma face. Deus não tem face — e vocês são deuses e
deusas.
É por isso que ninguém nunca está contente. Nunca se pode ficar contente com
esse rosto, por mais belo que seja. Esse rosto não irá satisfazê-lo, a menos que
você chegue à face original, a seu ser sem face: pureza sem forma, informe, sem
atributos. A forma é da matéria e não da consciência: a consciência é informe.
Seu corpo é o ponto de encontro da forma e da não-forma, da matéria e da
consciência. Seu corpo é um receptáculo. O conteúdo é você, e esse conteúdo
não tem face. Por isso, sempre, qualquer face é engraçada. A própria idéia de
ter uma face é engraçada, porque todas as faces são falsas. A face como tal é
falsa.
Esse desejo de ser mais do que se é me faz lembrar de um garoto de quatro
anos que encontrou um velho amigo da família que não via o menino há alguns
anos. “Sabe, John”, disse o homem, “estou surpreso de ver como você está
grande!” Ao que o menino replicou: “Ah, mas eu estou muito maior do que isso!”
“Maior do que isso” — você sempre tem esse sentimento de que é maior do que
isso, que é mais bonito, mais verdadeiro, mais eterno do que isso. E, por isso,
surge um grande problema. Todos olham para o seu rosto, mas ninguém pode
olhar fundo em seu ser. E você está consciente, um pouco consciente de seu
ser; você não pensa que termina no seu rosto. Você pode pensar que começa
daí, mas este não é o fim. Mas, para os outros, este é o fim, o ponto final.
Você ama uma mulher, e qualquer coisa que você faça nunca a deixará
satisfeita, pois ela sempre sente que é “maior do que isso”, mais bonita do que
você a considera. E o mesmo acontece com você: a mulher pode amá-lo muito,
mas você acha que ela ainda não o conhece bem, apenas sua periferia. “Eu sou
maior do que isso, eu sou mais do que isso.” Por isso nenhum relacionamento é
satisfatório — não pode ser, pela própria natureza das coisas, pois você conhece
algo que é muito grande, imenso, enorme... e o outro conhece apenas a face, a
forma corporal. Você fica reduzido a uma coisa pequena — e, por mais que você
seja elogiado, nunca se sente satisfeito, não pode sentir-se.
Todas as crianças fazem caras engraçadas. Você já observou? Quando uma
criança estiver no banheiro, espie pelo buraco da fechadura e verá que ela faz
caretas. Na verdade, ela se diverte com seu rosto, tenta usá-lo de várias formas,
brinca com ele. E a criança pode brincar porque está separada. Quando está
fazendo uma careta, ela sabe que não é aquela pessoa. Aquela cara é apenas
a cara; ela está por trás. Esta é apenas uma máscara. Mesmo os adultos fazem
isso no banheiro. Se ninguém está vendo, todos ficam tentados a fazer um
pouco... No espelho, todos querem fazer caretas. Não há nada de errado: isso
simplesmente mostra que você não pode se ajustar ao seu corpo, que o corpo
não é tudo, que você está muito além dele, que você pode brincar com seu corpo
como se fosse uma máscara. Ele é uma máscara.
Existem muitas meditações antigas que fazem uso de caretas. Você pode fazer
disso uma meditação — no Tibete, esta é uma das tradições mais antigas. Pegue
um espelho grande e fique na frente dele, em pé, nu, fazendo caretas — e
observe. Apenas fazendo isso, e observando por quinze ou vinte minutos, você
ficará surpreso. Começará a sentir que está separado disso. Se não está
separado, como pode fazer todas essas caretas? O corpo é apenas uma coisa
em suas mãos — você pode brincar com ele de várias maneiras. É por isso que
sempre digo que a mímica é uma arte espiritual. Logo abriremos uma pequena
escola de mímica. Se você aprender a fazer caras diferentes, se puder atuar com
seu corpo de várias maneiras, de repente você se libertará de seu corpo; sua
identidade será quebrada.
Muitas pessoas me perguntam: “Por que tantos atores vêm a você?” Minha
experiência diz que a profissão de ator é uma das mais espirituais do mundo.
Porque um ator representa muitas coisas — às vezes isso, às vezes aquilo —,
tantas identidades, que ele acaba se tornando solto, relaxado. Então, um dia, ele
começa a pensar: “Quem sou eu? Um dia sou Lincoln, outro dia, Washington,
outro dia, alguém mais.” Cada dia uma mudança. Algumas vezes ele é um santo,
outras vezes, um pecador — e, sempre que é um pecador, ele se identifica
totalmente com o pecador. Só então ele pode ser um ator perfeito.
Você pode perguntar por Veeten, e ele está aqui. Pode perguntar por Vijay
Anand, Vinod — eles são meus sannyasins. Pouco a pouco, um bom ator vem a
saber que tudo é atuação. “Então, quem sou eu?” Na vida comum você está
identificado com uma coisa: se você é um médico, então é um médico de manhã,
de tarde, de noite; por trinta, quarenta anos, você é um médico — você se fixa
numa identidade. Isso também é um papel, mas como você nunca muda, acaba
se fixando. Você se esquece; o papel se torna o seu ser. Quando uma pessoa
tem que trocar muitas vezes de papel, ela se soltar relaxa. Pouco a pouco, surge
a questão: Quem sou eu? Todos esses são papéis — então, quem sou eu?
Quem é esse homem que às vezes se torna um pecador, outras vezes um santo?
um dia faz o papel de um assassino, e noutro dia, o de um amante? Quem é
esse homem? Quem é esse ser por trás de todas essas representações?
Para mim, a profissão de ator é uma das mais espirituais que existem. E se você
tomar a vida como uma representação, começará a ir em direção à
espiritualidade. Tome a vida como uma representação, como um grande drama.
O mundo é um enorme palco. Você é uma mãe — este é apenas um papel. Você
é um pai — este é apenas um papel. Você é um homem de negócios — outro
papel. Você é irmão de alguém — outro papel. Você é um filho, um marido —
outros papéis... milhares de papéis, se você observar. E você vai mudando de
caras. Quando seu empregado vem vê-lo, você tem uma cara. Quando seu chefe
vem vê-lo, você tem outra cara. Observe, fique um pouco mais alerta, e verá que
tem milhares de faces, mudando continuamente. É automático. Você não precisa
fazer nada — elas mudam automaticamente e você vai ficando cada vez mais
hábil. Quando compreende isso, você começa a ir para dentro, onde não há face
alguma.
Ótimo, Amida. Você vai fazer essa meditação todos os dias, por vinte minutos.
Descubra novas maneiras de fazer caretas e posturas engraçadas — faça tudo
o que puder. Isso lhe dará um grande alívio, e você começará a se olhar, não
como um corpo, não como um rosto, mas como uma consciência. Isso ajudará
muito.
Bhagwan, eu me iluminei? Se ainda não, então quando?
A iluminação não é um objeto para ser desejado, não é uma meta a ser
alcançada. E você se iluminará somente quando tiver esquecido completamente
esse assunto; do contrário, nunca. E essa não é uma pergunta para ser feita.
Mesmo que eu dissesse que você se iluminou, isso não ajudaria.
A própria pergunta mostra que você ainda está desejando. A iluminação tornou-
se a sua ambição. Você pode ter desejado outras coisas antes — dinheiro,
respeitabilidade, poder, prestígio; agora você está desejando a iluminação. O
desejo tem um objeto diferente, mas não mudou. O desejo ainda é o mesmo, e
o desejo é que é o problema.
Desejar qualquer coisa é permanecer não-iluminado.
Deixe-me contar uma anedota...
O médico deu um tapinha nas costas do paciente do asilo e disse: “Muito bem,
meu velho, você está completamente curado. Vá correndo escrever uma carta
para sua família, contando que estará de volta em duas semanas, novinho em
folha.”
E o homem foi escrever a carta. Quando estava colando o selo, este escorregou
de sua mão e foi cair em cima de uma barata que estava passando por ali.
Perplexo, o paciente ficou observando o selo fazer ziguezagues pelo chão, subir
na parede, dar a volta no armário e, por fim, entrar embaixo da porta. Depois de
alguns instantes, o homem rasgou a carta. “Duas semanas?”, ele disse. “Não
sairei daqui nem por mais duas vidas!”
O selo é o seu desejo e, se você olhar atrás do desejo, encontrará a barata do
seu ego. Se não olhar a barata atrás do selo, nem duas vidas resolverão. Você
permanecerá não-iluminado. A iluminação não é algo que se tenha de alcançar.
É a sua natureza; você tem apenas que se recordar. Olhe para os jogos de seu
ego; são jogos sutis. Observe, apenas. Não faça nada; apenas veja como o ego
vai criando ambições. E, uma vez vistos todos os jogos do ego. a barata morre,
o ego desaparece e você está lá — tão iluminado como sempre esteve.
A iluminação é a sua natureza. Não é algo a ser alcançado; ela já está aí.
Bhagwan, qual é sua missão aqui?
Qual a minha missão aqui?
Era uma vez um sapo. Mas ele não era realmente um sapo; era um príncipe que
foi transformado em sapo. Uma feiticeira malvada lançou-lhe um feitiço: somente
o beijo de uma donzela poderia salvá-lo. Mas, desde quando meninas bonitas
beijam sapos? E lá ficou ele, pobre príncipe em forma de sapo. Mas milagres
acontecem. Um dia, uma linda donzela agarrou-o e deu-lhe um beijo estalado.
Crash! Bum! Zap! E pronto, ali estava um belo príncipe. E vocês sabem o resto:
eles viveram felizes para sempre...
Então qual é a minha missão aqui? Dar beijos em sapos, é claro.
3
A abelha recebeu
o seu convite
I.20. man na rangaye kapada
O Iogue tinge suas roupas,
em vez de tingir sua mente com as cores do amor:
Senta-se no interior do templo do Senhor,
deixando Brama, para cultuar uma pedra.
Fura as orelhas e usa uma longa barba
e os cabelos emaranhados; parece-se com um bode:
Parte para o deserto, matando todos os seus desejos,
e torna-se um eunuco.
Raspa a cabeça e tinge suas roupas;
lê o Gita e torna-se um grande falador.
Kabir diz: “Você está indo para as portas da morte,
com as mãos e os pés amarrados.”
III.102. ham se raha na jay
Ouço a melodia da sua flauta, e não posso me conter:
A flor desabrocha, apesar de não ser primavera
e a abelha já recebeu o seu convite.
Os trovões ribombam no céu e os raios lampejam,
as ondas levantam-se em meu coração,
A chuva cai, e meu coração anseia pelo meu Senhor.
Onde o ritmo do mundo sobe e cai,
lá chegou meu coração:
Lá, as bandeiras ocultas drapejam no ar.
Kabir diz: “Meu coração está morrendo, embora ele viva.”
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  • 1. OSHO A Divina Melodia PALESTRAS SOBRE AS CANÇÕES DE KABIR UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Introdução Capítulo 1 — Deus está jorrando por toda parte Capítulo 2 — Torne-se uma chama Capítulo 3 — A abelha recebeu o seu convite Capítulo 4 — O maior caso de amor do mundo Capítulo 5 — Seu lago reflete a lua de Deus Capítulo 6 — Você acordará orando Capítulo 7 — Escutar sem ouvidos Capítulo 8 — A confiança é uma pedra de toque Capítulo 9 — Pausa entre duas notas Capítulo 10 — Casados para sempre
  • 3. Introdução Depois de ouvir as palestras de Bhagwan Shree Rajneesh durante dois anos, fiquei realmente segura de que meu “caminho” era o da meditação: uma observação fria, clara e imparcial do processo da mente... gradualmente me distanciando e me separando de identificações e apegos... Certamente, senti-me distante do tipo apaixonado-extático-celebrativo-amoroso, que eu imaginava pertencer ao caminho “prem” devocional... Ao ouvir essas palestras sobre as canções de Kabir, todo esse sistema de crenças espirituais e de identidade foi profundamente abalado; o caminho austero, silencioso e bem pavimentado que eu visualizara desapareceu de minha mente, em meio a densas matas de flores silvestres e urzes, e o silêncio foi invadido por canções penetrantes de pássaros selvagens... E agora, aqui, sem caminho e incerta de minha direção, a única coisa que posso saber com certeza é que o amor não tem nada a ver com todas as minhas idéias e conceitos sobre ele, não tem nada a ver com qualquer coisa que eu tenha conhecido antes... Tem muito pouco da emoção que eu rotulava de “amor”, tão repleta de dor e de paixão, de necessidade e de desejo. A primeira pequena visão que me veio, ao ouvir esses discursos, é a de um espaço claro e perfeito, tão profundo dentro de mim, que todos os limites e delineamentos do “eu” deixaram de existir... e todos os sons doces e indefiníveis que esvoaçam entre as batidas do meu coração, numa fração de segundo, vão embora, deixando em seu rastro uma alma banhada em ondas de deleite e leveza. E estou contente. Não me importo se os caminhos e direções estão desaparecendo, e se minha mente está voando por aí, tentando encontrar uma perspectiva para tudo isso. A canção fluiu através dos ouvidos de meu coração... Ela voltará... Tudo o que tenho a fazer é esperar e ouvir... Bhagwan é a brisa que sopra a canção em meu coração... Ma Ananda Vandana
  • 4. Os dez capítulos deste livro são transcrições feitas a partir das gravações dos discursos sobre as canções de Kabir, feitos por Bhagwan Shree Rajneesh, no Rajneesh Ashram — Poona Índia, do dia 1º a 10 de janeiro de 1977.
  • 5. 1 Deus está jorrando por toda parte 1.68. bhai kai satguru sant kahawai Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma do Informe para a visão destes olhos: Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele, que não é a dos ritos nem a das cerimônias: Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração, e renunciar ao mundo: Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo onde quer que a mente se atenha: Aquele que ensina você a ficar silencioso em meio a todas as suas atividades Eternamente banhado em graça, sem medo em sua mente, ele mantém o espírito de união em meio a todos os divertimentos. A morada infinita do Ser Infinito está em toda parte: na terra, na água, no céu, no ar; Tão firme quanto o trovão, o lugar daquele que procura está colocado sobre o vazio. Ele, que está dentro e fora; vejo-O e a ninguém mais. 1.22. jab main bhula re bhai Ó Irmão: quando fui descuidado e desatento, meu verdadeiro Guru mostrou-me o Caminho. Então, abandonei todos os ritos e cerimônias, Não mais me banhei nas águas sagradas: Então aprendi que apenas eu estava louco, e que todo o mundo à minha volta estava são; e eu perturbei aquelas pessoas sábias.
  • 6. Desde esse tempo eu não soube mais como rolar no chão, em sinal de obediência: Não toquei mais o sino do templo: Não coloquei mais a imagem em seu trono: Não cultuei mais a imagem com flores. Não são as práticas de mortificação da carne que agradam ao Senhor. Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo, você não está agradando a Deus: O homem que é generoso e age com probidade, que permanece passivo em meio às coisas do mundo, que considera todas as criaturas na terra como ele próprio, Esse homem atinge o Ser Imortal, o verdadeiro Deus está sempre com ele. Kabir diz: “Ele atinge o verdadeiro Nome cujas palavras são puras, e está livre do orgulho e da vaidade.” O QUE É RELIGIÃO? Religião é entrar em sintonia com o todo, apaixonar-se pelo todo, estar em união com o todo. Uma pessoa religiosa é aquela que não está contra o todo, e a irreligiosa é a que está lutando contra o todo, está em conflito. A pessoa religiosa é positiva em relação à vida; a irreligiosa é negativa. Para a pessoa religiosa tudo é bom — sua positividade é absoluta e total. Nada está errado; mesmo que às vezes algo pareça errado, não pode estar errado. Deve ser um desentendimento, uma má interpretação. Deve ser por causa de nossa ignorância, pois não conhecemos a história toda. Por isso, talvez uma parte pareça não estar se encaixando com o todo. Nós não escutamos toda a canção, por isso algumas notas parecem não soar bem. Mas tudo tem que ser bom, se existe Deus, Deus é a garantia do bem. O mal, como tal, não pode existir. Se ele surge, deve ser um pesadelo de nossas próprias mentes; nós o criamos. A mente religiosa não nega. Sua positividade é absoluta, incondicional. Ela diz sim à existência. E este sim não tem condições — lembre-se disso; quando ela diz sim, realmente quer dizer isso. Se você encontrar uma pessoa que diz não à existência, à vida, a isso, àquilo, lembre-se: ela é apenas uma egoísta, não é absolutamente religiosa. Ela está lutando contra o todo, tentando provar que é um conquistador, ou alguma coisa especial, e está fadada a fracassar. Mais cedo ou mais tarde haverá frustração; isso já está predestinado, não pode ser evitado por muito tempo, devido à própria atitude de conflito da pessoa. Religião é cooperação — cooperação com tudo o que existe. Tente entender isso o mais profundamente possível, porque só assim você será capaz de entender esse poeta místico, Kabir. Ele é um amante da vida. Ele não rejeita, não nega, não condena, não vê nada de mau em lugar algum. Uma vez
  • 7. que você tenha visão do todo, tudo se torna sublime. Então, nada mais é profano; tudo é sagrado, e toda a existência é o templo de Deus, e toda a vida é uma prece. Andando, você anda em Deus. Dançando, você dança em Deus. Dormindo, você dorme em Deus — pois nada mais existe além dele. Deus é a garantia do bem. Deus significa o bem. O bem é o substrato da existência, por isso o mal não é possível. O mal é impossível. Devemos ter interpretado mal, ter trazido nossas próprias idéias, conceitos, doutrinas; devemos ter criado nossas estúpidas noções particulares sobre como as coisas devem ser. As coisas simplesmente são. Não existe deveria na existência. A idéia do “deveria” foi trazida pelo homem e, uma vez trazida essa idéia, a existência divide-se em duas: boa e má. Quando você diz “As coisas deveriam ser assim”, você se afasta da realidade, afasta-se daquilo que é. E somente aquilo que é, é; nada mais. A realidade está aqui como ela é; não traga o “deveria”, pois assim surge a condenação. No Ocidente, Albert Schweitzer criou uma noção falsa do Oriente. Ele foi um grande pensador, mas infelizmente nem um pouco inteirado a respeito da mente oriental. Ele era ocidental demais. Criou uma noção de que o Oriente e as religiões orientais são negativas em relação à vida. Isso é um absurdo! Você poderá ver, ao penetrarmos nas palavras de Kabir, você verá: mais positividade não é possível, mais amor pela vida não é possível. Nem Jesus é tão positivo quanto Kabir. Em que outro lugar você encontrará um templo como Khajuraho, mais positivo? Onde mais você encontrará uma ciência oculta mais afirmativa do que o Tantra? Onde mais você poderá encontrar um sim tão absoluto? Vida é Deus — e não existe outro deus; e o culto à vida é o único culto — não há outro. Mas Schweitzer forma essas idéias porque os missionários cristãos têm interpretado as religiões orientais de uma forma que as faz parecer negativas em relação à vida. É claro que existem alguns pensadores no Oriente que são negativos, mas são bem poucos, e não fazem parte da principal corrente do pensamento oriental. Na verdade, eles estão à margem, não estão no fluxo principal da consciência oriental. Mas os missionários cristãos enfatizaram cada vez mais esses pensadores negativos e sua negatividade, para criar uma atmosfera no Ocidente de que o cristianismo é positivo. Mas a verdade é exatamente o inverso: o cristianismo não é positivo em relação à vida, não ama o homem, não ama este mundo, não dança, não ri. Vá a uma igreja cristã e você sentirá como se tivesse entrado num cemitério — morto, muito sério, como um defunto. Você entra numa igreja e começa a sentir que também está se tornando sério. A vibração não é de alegria, de riso. Os cristãos dizem que Cristo nunca riu. Eu não acredito nisso, não posso acreditar, porque conheço bem Jesus. Mas os cristãos dizem que Cristo nunca riu. Se eu tivesse escrito os Evangelhos, teria escrito que Jesus riu durante toda a sua vida. Na verdade, quando foi crucificado, deu uma boa gargalhada. Ele riu
  • 8. tremendamente, estrondosamente, pois tudo era completamente ridículo. Tentar matar aquilo que não pode ser morto, tentar matar Jesus — apenas essa idéia é ridícula; ele deve ter rido bastante. Ainda posso escutar seu riso... Mas os cristãos não escutaram sua risada; basearam sua religião mais na cruz do que em Cristo. O cristianismo teria sido beneficiado tremendamente se a cruz tivesse sido esquecida, pois com ela vem a morte. Chamo o cristianismo de “cruzianismo”. É uma religião da morte, da cruz; é séria, triste. Se a cristandade tivesse dado mais atenção a Jesus, teria surgido uma visão do mundo totalmente diferente. Deveria ter sido dada mais ênfase ao Cristo ressuscitado, e não ao crucificado. Então, o cristianismo teria sido mais positivo em relação à vida: nem a morte poderia matar, nem a cruz poderia destruir — Jesus ressuscitou! Então, os cristãos teriam dançado, cantado e celebrado, e as igrejas teriam sido mais humanas. Mas isso não aconteceu; toda a cristandade tornou-se muito apegada à cruz. Na verdade, todos nós estamos muito apegados à morte; ela nos impressiona mais. Se alguém está vivo, não nos importamos muito em estar felizes com ele, mas se esse alguém morre, nós choramos. Nunca pensáramos nisso antes: aquele homem estava vivo há apenas um dia atrás e poderíamos ter dançado juntos, ter celebrado alguns momentos, e poderíamos nos ter permitido a bênção divina — nunca pensamos nisso. Agora ele está morto, agora choramos. Não parecemos estar muito interessados na vida; parecemos estar muito interessados na morte. Ouvi contar... Um grande inimigo de Voltaire morreu. Eles eram inimigos vitalícios, sempre criticando um ao outro. Alguém veio correndo trazer a notícia para Voltaire: “Seu grande inimigo está morto.” Chocado, Voltaire disse: “Sentirei tremendamente a sua falta.” E começou a chorar: “Ele foi um grande homem e será difícil encontrar alguém melhor que ele. Tinha uma inteligência aguda e toda a sua vida foi bela.” O homem que viera trazer a notícia não podia acreditar no que estava ouvindo; esperava que Voltaire fosse ficar feliz. Ao ver o homem perplexo, Voltaire disse: “Tudo é verdade, desde que ele esteja morto, realmente morto, pois se ele ainda estiver vivo, então esqueça tudo que eu disse.” Ouvi contar... Um homem avaro morreu. A viúva foi até o padre e perguntou-lhe: “Quanto custará? Com sermão.” O padre respondeu: “Há sermões e sermões. O melhor custará duzentos dólares.”
  • 9. “Duzentos dólares?”, disse a mulher. “Meu marido não permitiria tanto luxo. Não tem um sermão mais barato?” O homem respondeu: “Posso fazer por cem dólares, mas então não farei muitos elogios ao falecido.” A mulher disse: “Faça um pouco mais barato. E o padre respondeu: “Está bem, cinquenta dólares, mas então eu me restringirei aos fatos.” E a mulher: “Cinquenta dólares ainda é muito.” Então ele disse: “Bem, dez dólares, mas lembre-se de que, assim, terei que falar a verdade.” Quando uma pessoa morre, começamos a contar mentiras, belas mentiras. Na Índia, todas as pessoas que morrem vão para o céu, até mesmo os políticos. Parece que ninguém vai para o inferno, que deve estar completamente vazio. A morte parece ser muito importante para nós; estamos obcecados pela morte. É por isso que os cristãos fizeram muito alarde em relação à cruz, que se tornou um símbolo. Uma religião centrada nos conceitos de cruz, morte e crucificação, não pode ser uma religião positiva em relação à vida. Schweitzer está errado. Ele deveria ter lido Kabir e seu ser teria sido tremendamente beneficiado. Kabir é realmente a pessoa religiosa. Suas palavras sobre a vida são de uma incrível confiança. Ele não diz a você que renuncie a nada. Mas, ao contrário, diz: “Traga tudo para Deus e traga Deus para tudo.” Você ficará surpreso com suas afirmações, que são tremendamente revolucionárias. Algumas coisas mais, antes de entrarmos nas canções. A religião não é tradicional, não pode ser, por sua própria natureza. A tradição é o que está morto. A tradição já passou, já morreu, é apenas a poeira do passado, apenas a memória. A religião está sempre viva, respirando. A religião nunca pode ser tradicional. Sempre que uma religião se torna tradicional, serve mais ao Diabo do que a Deus; serve mais à morte do que à vida. Assim, ela serve aos políticos, aos padres, às organizações, às igrejas, mas não serve ao espírito do homem, e deixa de ser uma abertura para o futuro. A tradição está voltada para trás e nós temos que ir para a frente. Olhar para trás não serve para nada, e não só não serve para nada, como é prejudicial e perigoso. Não podemos ir para trás, temos que ir para a frente, e se ficarmos olhando para trás, certamente haverá problemas. Outra coisa: a religião não está nas escrituras, não pode estar. As escrituras são palavras mortas. Sim, houve religião um dia, vibrando naquelas palavras, ao serem pronunciadas por um Mestre vivo. Quando Krishna falou o Srimat
  • 10. Bhagavad Gita para Arjuna, isso era vivo. Era vivo por causa de Krishna, era radiante por causa de Krishna. Quando ele desapareceu, o Bhagavad Gita tornou-se um cadáver. Palavras mortas: você pode continuar analisando aquelas palavras, interpretando de uma maneira ou de outra... Existem milhares de comentários sobre o Gita, alguns até bem famosos. Na verdade, quando alguém lê o Gita, dá sua própria interpretação. O significado dado por Krishna foi perdido; desapareceu junto com ele. A cobra já passou... só restou o seu rastro na areia. É esse rastro que você continua cultuando como uma escritura. Quando Jesus andou sobre a terra e falou a seus discípulos, suas palavras eram uma verdade vibrante, palpitante de vida. A palavra não estava morta; a palavra era Deus, a palavra era a própria verdade. A palavra tinha em si um coração; era plena de amor, experiência, existência, ser. Quando Jesus se foi, a vida se foi. Depois, você pode colecionar palavras e fazer quantos evangelhos quiser, mas eles não serão de nenhuma ajuda. A religião real nunca está nas escrituras, e a pessoa religiosa que busca, sinceramente, não vai atrás de escrituras, e sim de um Mestre — um Mestre vivo. Esse é um dos princípios básicos da compreensão de Kabir: satguru — o Mestre vivo. Busque um Mestre vivo! Se você puder entrar em contato com um Mestre vivo, então as escrituras mortas tornar-se-ão vivas novamente; elas tornam-se vivas somente através de um Mestre vivo — não há outra maneira, porque o Mestre vivo é a única escritura. Quando um Mestre vivo toca o Bhagavad Gita, este torna-se vivo; quando ele toca os Evangelhos, eles tornam-se vivos. Quando o Mestre recita o Alcorão, este torna-se vivo novamente. O Mestre dará sua própria vida a essas palavras e elas começarão a pulsar. Mas, diretamente, você não pode encontrar religião nas escrituras. Assim, a religião não está na tradição, não está nas escrituras e não está nos rituais. Os rituais são formalidades. A menos que você esteja em comunhão com um Mestre vivo, os rituais são apenas um peso morto. Eles oprimirão, esgotarão, matarão você, e você ficará perdido em infinitas formalidades. Com um Mestre vivo, nasce um novo ritual; que vem com o contato; existe um contexto, uma referência viva para esse ritual, que não é aprendido através de tradições mortas, transferidas de geração a geração. Você o vive — e, vivendo-o, aprende-o. Quando você vem a um Mestre vivo, no fundo, alguma coisa em você quer curvar-se em reverência. Não que você tenha que cumprir certa formalidade — se for este o caso, então não há nenhum valor. Mas algo muito profundo em seu espírito, em seu centro, quer reverenciar. Assim, curvar-se diante de um Mestre não é mais um ritual, mas algo vivo, significativo, não um gesto vazio. Mas você pode continuar curvando-se diante de qualquer pessoa, apenas porque aprendeu assim, e isso não tem valor. Tente perceber a diferença. Quando alguma coisa nasce em você, espontaneamente, é verdadeira. Quando você tem que fazer algo como um dever, é falso. “Dever” é uma palavra feia. Se algo nasce
  • 11. a partir do amor, está bem. Se algo nasce a partir do dever, evite-o, nunca o faça, porque é perigoso. Se você se prender demais ao dever, esquecerá os caminhos do amor. O dever é contra o amor; é um falso substituto do amor. A religião não está nos rituais. Sempre que existe religião, existe ritual, mas isso é bem diferente. Como você pode evitar de tocar os pés de Buda, quando ele está perto de você? Impossível. Você só pode fazer duas coisas, e ambas são rituais: ou você toca seus pés, ou você lhe atira pedras. Mas ambas são rituais — uma é o do amigo e outra é o do inimigo. O ponto principal é que não se pode omitir Buda, não se pode ficar indiferente. O fenômeno é tal, que não se pode ignorá-lo. Ou você se torna um amigo ou se torna um inimigo; você tem que escolher. Você tem que tomar uma atitude, e essa atitude é ritual. Mas, nesse caso, nasceu em seu coração, não foi aprendida com outra pessoa. Ela simplesmente surge em seu ser. A religião, onde quer que exista, traz consigo rituais; mas quando a religião desaparece, os rituais tornam-se mortos. Não carregue um cadáver. Sim, você amou muito tua mãe, mas agora ela morreu — o que você vai fazer? Você irá carregar seu cadáver por toda a vida? Você tem que queimá-lo ou enterrá-lo. Você tem que abandoná-lo; não pode continuar carregando-o. E o mesmo acontece no que se refere à religião. Você amou Buda, e uma grande paixão surgiu em sua alma, uma grande veneração e muitas canções nasceram na presença dele... Agora ele se foi, mas você continua a canção. Aos poucos, ela se torna um eco muito distante da verdade e, com o tempo, não há mais verdade. É o eco do eco do eco... desvanecendo-se. Quando o papa fala no Vaticano, não tem nada a ver com o que Jesus disse, não pode ter. Quando Jesus fala, faz isso baseado em sua própria autoridade. Quando o papa fala, baseia-se na autoridade de Jesus. um Mestre real fala por sua própria autoridade, ele é a sua única autoridade. A religião não está na tradição, nem nos rituais e nem nas chamadas religiões: hindu, cristã, muçulmana. A religião não tem adjetivos. Religião é simplesmente religião, como amor é amor. Você chama o amor de cristão, hindu ou muçulmano? Se o amor não é cristão, nem hindu, nem muçulmano, então por que Deus deveria ser cristão, hindu ou muçulmano? Jesus não disse que Deus é Amor? A religião não está nas religiões; está isenta de qualquer adjetivo, de qualquer definição, e cada um tem que buscá-la. Ninguém pode nascer numa religião; a religião tem que nascer em você. Você tem que abrir sua alma e receber a religião. Ela está se derramando em toda parte... mas você está carregando brinquedos substitutos, moedas falsas, em suas mãos, pensando que tem religião. Ela não está na igreja, não está na mesquita, não está no templo. Vá onde está um Mestre vivo: ela está lá. E isso também existe apenas por alguns momentos — o Mestre se vai, e a religião desaparece. Daí, a insistência do Kabir no satguru — o verdadeiro Mestre.
  • 12. Religião é algo individual, cada um tem que buscar por si mesmo. Não é um fenômeno social, não tem nada a ver com a multidão, com o coletivo. É algo privado, tão íntimo quanto o amor. Você vem a ela sozinho, em profunda intimidade e privança... você abre seu coração. A religião é espontânea no sentido de que você não pode aprendê-la. Você pode estar nela, mas não pode aprendê-la. É tão espontânea quanto o amor. Você alguma vez aprendeu o que é o amor? No dia em que o homem tiver que aprender a amar, será o dia do Juízo Final. Esse dia parece estar cada vez mais próximo, principalmente no Ocidente, e particularmente na América. Livros estão sendo escritos: Como amar, Como fazer amigos — livros tolos, porque se o homem esqueceu como amar, nenhum livro pode ensiná-lo. Ensinar a humanidade a amar é o mesmo que querer ensinar um peixe a nadar — tolice completa. O mesmo acontece com a religião. Ela não pode ser aprendida, pode somente ser apreendida; é algo contagioso. Se você vai a algum lugar onde existe uma pessoa santa, você pode apreender, absorver a religião. Religião é rebelião. É rebelião contra a morte, contra tudo o que está morto; é rebelião contra o exterior: contra a política, a ganância, a sociedade, a cultura, a civilização. Religião é uma rebelião: ela diz que temos de escutar a parte mais profunda de nosso ser, e segui-la aonde quer que ela nos leve. Aonde for... sem medo das consequências, escutaremos aquela pequena voz dentro de nós e a seguiremos. Religião é um risco. As pessoas que sempre procuram a segurança nunca poderão tornar-se religiosas; é muito perigoso. Se você passar através desse perigo, passará através da crucificação... e somente depois da crucificação vem a ressurreição. Agora escute esses sutras de Kabir. Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma do Informe para a visão desses olhos... Então, se o verdadeiro Mestre é a coisa básica a ser buscada, fica clara a necessidade de uma definição: quem é o verdadeiro Mestre? A quem chamar de verdadeiro Mestre? Como saber? Kabir diz: Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma do Informe para a visão desses olhos... ...em cuja presença o informe desce e torna-se uma presença... através de quem podemos vislumbrar a estrela mais distante... através de quem podemos ter uma sensação do que é o próprio Deus... em cujas palavras o silêncio fala, em cujos olhos o infinito está olhando para você, espreitando-o. Se o Mestre segurar sua mão, você verá: a mão é dele, mas não apenas dele — Deus está segurando sua mão, através dele. Ele é um veículo, uma flauta de bambu nos lábios do infinito. Ele dá forma ao informe, é a materialização do informe.
  • 13. Você tem que estar muito aberto e vulnerável para ser capaz de sentir um Mestre. Não vá a um Mestre com uma atitude negativa, senão você nunca o alcançará. A própria atitude negativa não permitirá que a vibração dele chegue até você. A atitude negativa não deixará que você entre na mesma faixa de onda em que vive. Por isso, a confiança é necessária. Por isso, o amor é necessário. Senão, você chegará vazio, e irá sozinho — e, indo vazio, dirá: “Esse não é o verdadeiro Mestre. Vim vazio e voltei vazio.” Se você não estiver aberto, irá vazio. Somente se estiver aberto existe uma possibilidade de sentir. E não tenha medo de se abrir. Se você se abrir, e o Mestre não for verdadeiro, nada acontecerá; você saberá, terá certeza de que ele não é para você, que esse não é o homem que você procurava. Mas esteja aberto, porque só assim poderá saber se ele é verdadeiro ou não. Se você se fechar, então não haverá possibilidade. Na verdade, se você se fechar, mais cedo ou mais tarde, tornar- se-á vítima de um pseudo-Mestre, pois os pseudo-Mestres tentam convencê-lo com argumentos. Os verdadeiros Mestres são muito paradoxais, muito contraditórios. São tão contraditórios quanto a vida, pois encarnam a vida. Eles são tão inconsistentes quanto Deus, pois eles encarnam Deus. Não são lógicos, são muito ilógicos; na verdade são superlógicos, pois estão trazendo algo que não pode ser apreendido através da lógica. Próximo a um verdadeiro Mestre, você sentirá que está perto de um abismo... mas isso, só se você estiver aberto. Se não estiver aberto, tornar-se-á vítima de alguma pseudopessoa capaz de convencê-lo, seduzi-lo. Por exemplo: se você é ganancioso, ela falará sobre a ganância; dirá quanto você irá ganhar com a meditação, com a oração. Ela o persuadirá pela ganância, dizendo quanto você terá no céu, se você a seguir; prometerá muito. Um verdadeiro Mestre nunca promete nada. Na verdade, ele o destrói completamente — sua ganância, seus desejos, suas idéias de tornar-se alguém, de ser alguém —, ele destrói tudo. Um verdadeiro Mestre é uma rocha contra a qual seu barco se despedaça completamente... sua mente é destroçada. Ele o deixa louco; não argumenta. Sua argumentação está mais no seu ser do que em suas palavras. Mas nós somos gananciosos. Vivemos pela ganância, e somos muito medrosos — alguém nos consola e nos tornamos vítimas. Um verdadeiro Mestre não é uma consolação, não é um conforto. Ele é, na verdade, a morte para você. Ele o mata, o destrói; ele é muito destrutivo... mas a criatividade só é possível quando o velho é destruído. Quando o velho deixa de existir, o novo pode surgir. Ouvi contar uma bela anedota. Medite sobre ela... Sean escreveu uma carta encorajadora à sua mãe muito velhinha, dizendo o seguinte: “Querida mãe, estou lhe enviando umas pílulas que um curandeiro me deu. Se você tomar uma, ela fará com que você rejuvenesça alguns anos.”
  • 14. Ao voltar para casa, algumas semanas depois, encontrou uma bela jovem do lado de fora da casa, balançando um bercinho, onde estava um bebê tomando mamadeira. “Onde está minha mãe?”, ele perguntou. “Ora, não seja tolo”, ela disse: “Eu sou a sua mãe, e aquelas pílulas foram maravilhosas!” “Incrível”, exclamou Sean. “Uma pílula, e você está mais bela do que nunca — e ainda mais, você pôde ter um bebê! Puxa, como essas pílulas são poderosas!” “Você está louco!”, ela gritou. “Este não é um bebê; é seu pai. Ele tomou duas.” Não seja ganancioso, senão você tomará duas pílulas. E existem muitas pessoas vendendo coisas como essas. Curandeiros... Um Mestre não está aqui para satisfazer sua ganância; está aqui para destruí- la, pois, uma vez destruída, você fica disponível para si mesmo. Se você for ganancioso, nunca estará disponível. A ganância torna-se desejo, e o desejo torna-se uma projeção no futuro. E você está sempre sonhando com algum lugar no futuro; nunca está aqui e agora. A ganância leva-o para longe de você mesmo; a ganância tem que ser destruída. Um Mestre nunca lhe promete nada, mas somente na presença de um Mestre alguma coisa se torna possível. Ele não dirá: “Eu o livrarei da morte”, ou “Você se tornará imortal.” Ele não está lhe dando o néctar, o elixir, a ambrosia. É claro que, ao estar com um Mestre, uma pessoa torna-se imortal, mas ele não o faz imortal. Ele simplesmente o leva a ir bem fundo na experiência da morte. Preste atenção nisto: ele o leva a ir fundo na experiência da morte. É nisso que consiste a meditação profunda — uma experiência da morte. E quando você já conheceu sua morte, absorveu-a, de repente você compreende que está separado dela. Ela acontece, mas não acontece a você. Acontece na periferia, mas nunca atinge o centro. Acontece ao corpo, nunca a você. E o corpo não é nada mais do que a sua moradia. Você já trocou muitas vezes de corpo, e trocará ainda muitas mais, mas você é imortal. E um verdadeiro Mestre não promete isso. Ele transmite isso, um dia, mas não promete. Se você está procurando um estado onde o medo se dissolva, um estado onde sua ganância seja satisfeita, onde você seja constantemente estimulado com prazeres, um paraíso, então você está fadado a se tornar uma vítima de algum falsário. Satguru significa o Mestre verdadeiro. Asatguru significa o pseudoMestre. Ele é o verdadeiro Mestre; aquele que pode revelar a forma do Informe para a visão desses olhos: Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele...
  • 15. A maneira simples — e não métodos complexos, nem posturas de ioga, nem rituais muito complicados. Ele ensina maneiras simples, muito simples, que qualquer um que queira pode fazer agora mesmo. Seus caminhos são tão simples e espontâneos, que você ficará surpreso de não tê-los descoberto por você mesmo. São tão simples! Quando o Mestre os tiver ensinado, e você tiver conhecido a sua beleza, quando tiver sentido seu saber, você se perguntará como não pôde descobri-los — eles são tão simples! O verdadeiro Mestre não é técnico, ele é simples — pois não existe técnica para se chegar a Deus. Deus não está em algum lugar, no final de uma técnica. Deus já está disponível para você. Você está em Deus; tem apenas que se sacudir um pouco, para que se torne um pouco mais alerta Apenas um pouco mais de atenção, e isso é tudo. Algumas vezes você fica alerta, mas também faz isso de uma maneira muito inconsciente. Você está dirigindo um carro; de repente, vê que um ônibus está vindo na sua direção, e o motorista ou está bêbado ou é louco. Você não vê possibilidade de evitar o acidente; ele vai acontecer, é quase uma certeza. Nesse momento, você se torna alerta, muito alerta, mas este estado é inconsciente. Você está alerta, mas não percebe que está alerta. Em algumas situações perigosas você se torna alerta, mas este estado é inconsciente. Um Mestre apenas o ensina como ficar alerta, com plena consciência. Ele ensina a atenção consciente. Você deve estar confuso... atenção consciente? Você pensa que consciência significa atenção, e atenção significa consciência. Mas não é assim. Há momentos em que você está atento, mas não consciente. Se alguém, de repente, apontar uma arma para seu peito, você estará atento, mas não consciente. O pensamento cessará. O choque é tão repentino, tão inesperado, você não consegue entender o que está acontecendo, e a morte está tão próxima... nesse choque sua mente pára. Sua mente, que está constantemente girando, pára de girar. Sua mente, constantemente tagarelando, emudece com o choque: você fica atento. Mas esta atenção é inconsciente. O Mestre ensina apenas uma coisa: como estar conscientemente atento. E isso é muito simples. Você pode começar a qualquer momento; pode usar a atenção, a consciência em qualquer atividade em que esteja. Se você está andando pela rua, ande conscientemente. Esteja profundamente alerta em cada passo. Escutando-me, agora, neste momento, escute atentamente. Você pode estar escutando atentamente, mas essa atenção pode ser inconsciente. Torne-se consciente da atenção, e de repente você sentirá uma grande bênção invadindo- o. Do nada, de repente, ela está lá. Apenas um momento de atenção consciente, e suas portas se abrem, e Deus entra — como se ele estivesse apenas esperando ali, batendo, batendo, batendo à sua porta. Mas você está tão preocupado...
  • 16. Kabir diz: Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele... As pessoas que ensinam maneiras complexas estão apenas mostrando que não conheceram Deus — pois Deus não necessita de habilidades. E as pessoas que ensinam maneiras complexas têm uma razão para isso: assim, elas sempre podem lhe dizer que você não está fazendo a coisa corretamente, então, como pode esperar chegar a algum lugar? Você já ouviu esta bela história de Khalil Gibran...? Um homem costumava ir de uma cidade a outra. Ele era um grande professor e sempre dizia às pessoas: “Sigam-me, e eu lhes mostrarei o caminho para Deus.” Mas as pessoas estavam muito atarefadas; tinham tantas coisas para fazer, que diziam: “Nós o adoramos, o respeitamos e algum dia iremos segui-lo, mas agora é difícil.” Ninguém está pronto agora, por isso tantos pseudo-Mestres podem existir. Santo Agostinho, em suas confissões, diz: “Eu costumava orar a Deus quando era jovem, dizendo: ‘Salve-me, mas não agora; salve-me, mas não agora’ — porque eu estava me divertindo com tantas coisas, e queria aproveitar tudo o que fosse possível. Por isso, o que eu pedia não era para ser atendido imediatamente. Eu rezava porque aquilo tinha que ser dito formalmente, mas eu sempre acrescentava: ‘Salve-me, Senhor, mas não agora’.” Então, aquele pregador ia de cidade em cidade, e as pessoas diziam: “Não agora. Iremos um dia”. E ele estava satisfeito porque ninguém o seguia, e ele não tinha problemas. Mas um louco disse, certa vez: “Está bem, eu vou.” O pregador ficou um pouco ressabiado mas, como era um homem muito ladino, disse: “Venha.” E então ele deu ao outro tantos métodos complexos, que era quase impossível praticá-los. Mas o homem era realmente maluco. Ele fez tudo, e mesmo aquele professor não pode achar nenhuma falha. E o homem continuou. O professor pensava que, mais cedo ou mais tarde, ele se cansaria. Passou-se um ano, passaram-se dois, e o discípulo perguntava: “Quando?” Ele era demais! E continuava perguntando: “E agora, o que mais tenho que fazer?” E ele estava fazendo tudo! Até o mestre estava com medo; não sabia mais o que dizer para o outro fazer. Ele fazia tudo! Passaram-se seis anos, e um dia o discípulo disse: “Quanto tempo ainda falta? Estou pronto para fazer qualquer coisa, mas você não está me dando mais nada.” “Escute”, disse o mestre, “a verdade é que, com você, perdi meu próprio caminho... Tenha misericórdia e me deixe.”
  • 17. Métodos complexos foram inventados por pessoas ladinas. Primeiro, ninguém está pronto para praticá-lo; então, os pseudo-Mestres podem existir, pois suas técnicas nunca serão experimentadas. Segundo, se alguém tentar praticá-las, sempre se poderá dizer que você não as está fazendo corretamente, pois elas são muito complexas. Assim, você não pode confiar em você mesmo, e sempre tem medo de que algo esteja errado. Mas um verdadeiro Mestre lhe dará técnicas muito simples — qualquer pessoa de inteligência média e de saúde média pode fazê-las. Aquele que ensina a maneira simples de se chegar a Ele, que não é a dos ritos e das cerimônias... Ele nunca ensina rituais, ritos e cerimônias. Ele pode ensinar-lhe celebração, mas nunca cerimônias. A celebração é do coração, e a cerimônia é apenas um ritual da mente. Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração, e renunciar ao mundo... O verdadeiro Mestre é totalmente a favor do mundo, pois este mundo é uma manifestação de Deus. Este mundo está pleno de Deus. Cada rocha está plena de Deus, cada árvore, cada pássaro e tudo o que existe está repleto, transbordando de Deus... Aonde ir? E para quê? Renunciar a quem? E para quê? E como se pode renunciar? — porque onde quer que você esteja você está em Deus, e onde quer que você esteja está neste mundo... pois não há outro mundo. Aquele que não faz você fechar as portas, prender a respiração, e renunciar ao mundo: Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo onde quer que a mente se atenha... Repare na beleza deste sutra. Kabir diz: Aquele que faz você perceber o Espírito Supremo onde quer que a mente se atenha... Ele não diz: Não se preocupe. Onde quer que sua mente se sinta apegada, não tenha medo do apego: vá fundo nele e tente encontrar Deus lá... e você o encontrará. Você ama uma mulher — não é necessário fugir dela: olhe profundamente em seus olhos... e você encontrará Deus lá. Deus está jorrando por toda parte. Você ama seu filho — não renuncie ao mundo, e não jogue seu filho nesse mundo faminto, violento e feio, não abandone seu filho com os lobos: olhe nos olhos dele. Coloque seu ouvido sobre seu coração e ouça profundamente... e você encontrará Deus lá.
  • 18. Kabir diz: Incondicionalmente, onde quer que a mente se atenha, perceba o ser supremo. Ouvi falar de um homem que veio até Kabir, dizendo que desejava conhecer Deus, e Kabir perguntou-lhe: “Você ama alguém?” Ele respondeu: “Desculpe, mas não amo ninguém.” Kabir disse: “Qualquer pessoa, não importa, desde que você ame, porque se você não amar, não há ponte.” O homem ficou um pouco envergonhado, mas confessou: “Sim, eu amo. Amo minha vaca.” Ele era um homem pobre e só tinha uma vaca. Kabir disse: “Muito bem: isso funcionará.” E o homem perguntou: “Então, o que tenho que fazer agora?” Kabir disse: “Agora comece a pensar que a vaca é divina. Ela não é mais uma vaca; ela é um deus, uma deusa. Você irá servi-la, amá-la, fazer-lhe carinho, dar- lhe banho, enfim, faça tudo — mas agora ela é uma deusa. Deus está oculto ali. E volte daqui a três meses.” Depois de três meses, o homem estava totalmente diferente, radiante, com uma nova energia. Os discípulos de Kabir ficaram um pouco intrigados, pensando que ele estivesse apenas brincando com aquele homem. Mas quando ele voltou, ficaram surpresos. Ele quase se tornara um novo homem, um novo ser. Ele caiu aos pés de Kabir e disse: “É extraordinário! Encontrei meu Deus. E o dia em que o encontrei em minha vaca, encontrei-o em toda parte.” Onde quer que você deposite seu amor, não há necessidade de fugir ou de renunciar. Deixe que seu amor seja sua prece. Aquele que ensina você a ficar silencioso em meio a todas as suas atividades. Eternamente banhado em graça, sem medo em sua mente, ele mantém o espírito de união em meio a todos os divertimentos. E Kabir diz: Não fuja dos divertimentos; lembre-se, eles são dádivas. E não escape das atividades mundanas; permaneça quieto e silencioso em meio a elas, permaneça passivo. Ande na multidão e permaneça só. O ponto importante é estar só, e não estar solitário. Uma pessoa pode estar só na multidão, e estar numa multidão quando sentada numa gruta do Himalaia — tudo depende de sua mente. Por isso, a mudança tem que ser interior, não exterior. A morada infinita do Ser Infinito está em toda parte: na terra, na água, no céu, no ar:
  • 19. Tão firme quanto o trovão, o lugar daquele que procura está colocado sobre o vazio, Ele, que está dentro e fora: vejo-O e a ninguém mais. Você tem apenas que tornar-se vazio de si mesmo. Esvazie-se, torne-se um vazio... e você se tornará o lugar, a morada, você se tornará o templo. Ó Irmão: quando fui descuidado e desatento, meu verdadeiro Guru mostrou-me o Caminho. Então, abandonei todos os ritos e cerimônias... Quando você encontra o guru, de que servem os ritos e cerimônias? Quando você encontra um Mestre vivo, de que servem as escrituras e as tradições? Quando encontrei meu Mestre... ...abandonei todos os ritos e cerimônias. Não mais me banhei nas águas sagradas: Então aprendi que apenas eu estava louco, e todo mundo à minha volta estava são; e eu perturbei aquelas pessoas sábias. Essa deve ser a sua experiência também, e de todos os sannyasins. As pessoas pensarão que você está louco. E Kabir diz: Desde que abandonei as coisas tolas — não me banho mais no sagrado Ganges, não vou mais ao templo e não faço mais nenhum ritual — as pessoas pensam que enlouqueci. Sempre que você estiver em contato com um Mestre, o mundo pensará que você enlouqueceu. Todas as pessoas são sãs, sábias. Sua sabedoria nunca as levou a lugar algum; sua sanidade nunca lhes deu nem um vislumbre de bem-aventurança; sua sanidade não é senão a sua miséria, a sua sabedoria não é senão a estupidez — mas, ainda assim, elas pensam que são sãs e sábias. Se fossem realmente sábias, deveriam ser bem- aventuradas. Se fossem realmente sãs, demonstrariam inteligência, criatividade. Mas elas não demonstram nada. As pessoas que estão em contato com um Mestre, e são iluminadas por seu ser, parecerão loucas. Sempre foi assim, e sempre será. Por isso, se as pessoas pensarem que você está louco, não se preocupe; elas pensavam o mesmo até de Kabir. Então aprendi que apenas eu estava louco, e todo mundo à minha volta estava são; e eu perturbei aquelas pessoas sábias. Desde esse tempo eu não soube mais como rolar no chão, em sinal de obediência:
  • 20. Não toquei mais o sino do templo: Não coloquei mais a imagem em seu trono: Não mais cultuei a imagem com flores. Não são as práticas de mortificação da carne que agradam ao Senhor. E Kabir declara: Se você mortifica a si mesmo, você é um ser pervertido, e Deus não fica feliz com você. Se você se tortura, é um masoquista, e Deus não fica feliz com você. Deus fica feliz apenas quando você está feliz; Deus se alegra com a sua alegria... pois ele está escondido em seu ser mais profundo. Quando você se tortura, está torturando Deus — como ele pode ficar feliz? Quando você se torna um masoquista e as pessoas começam a cultuá-lo como a um mahatma, você é um ser pervertido, insano — e está torturando Deus dentro de você. Ele é quem está desamparado, como uma criança pequena; você pode torturá- lo facilmente. Não são as práticas de mortificação da carne que agradam ao Senhor. Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo, você não está agradando a Deus... Ouça bem esses dizeres rebeldes. Não agradamos a Deus quando destruímos nosso corpo; ao contrário, ele fica satisfeito quando nossa sensibilidade atinge um pico. Quando você pode ver mais beleza no mundo, quando pode ouvir mais música no mundo, quando pode amar mais profundamente e estar mais vivo, ele fica feliz. Quando você tira as roupas e maltrata o seu corpo, você não está agradando a Deus: O homem que é generoso e age com probidade, que permanece passivo em meio às coisas do mundo, que considera todas as criaturas na terra como ele próprio, Esse homem atinge o Ser Imortal; o verdadeiro Deus está sempre com ele. Kabir diz: “Ele atinge o verdadeiro Nome cujas palavras são puras, e está livre do orgulho e da vaidade.” Aquele que é generoso consigo mesmo e com os outros, aquele que ama a si mesmo e aos outros... Ensinaram-lhe: “Nunca ame a si mesmo.” E também: “nunca seja generoso com você mesmo.” Você foi ensinado a nunca se perdoar, a se autotorturar: você é honrado na mesma proporção em que se tortura. Se
  • 21. você quer se tornar um mahatma, tem que se tornar um masoquista — não há outra maneira. Se você está feliz, alegre, deleitado em seu ser, ninguém irá venerá-lo. Quem venera um homem feliz? Você já viu algum homem feliz sendo venerado? Todos adoram as pessoas carrancudas, mortas, sombrias, estúpidas, que podem torturar a elas mesmas. Sua única especialidade é a de torturar a si mesmas; elas são cruéis consigo mesmas, são violentas. Kabir diz: Seja generoso, e deixe que a generosidade flua através de você. Ame a si mesmo, e só então poderá amar aos outros também. Quando há amor profundo e profunda sensibilidade, Deus está satisfeito. O ponto principal é que você tem que se tornar um hedonista espiritual. Este é também meu ensinamento: torne-se um hedonista espiritual. Existem pessoas espirituais, mas não são hedonistas, e existem hedonistas que não são espirituais. O Ocidente é hedonista, mas não espiritual; é materialista. O Oriente é espiritual, mas não hedonista. Ambos estão enganados. Uma síntese mais alta é necessária: hedonismo e espiritualismo. Quando os dois se encontrarem, o homem total terá nascido. E esse homem total é o homem iluminado, esse homem total é o homem sagrado.
  • 22. 2 Torne-se uma chama Percebi, na palestra de ontem, que estou resistindo à palavra “deus”. Meus pensamentos se voltam para um fato que ocorreu, há vários anos, quando eu estava cuidando de um homem muito doente num hospital — ele estava morrendo. Pediu-me que chamasse um padre, pois ele estava com medo. Quando o padre chegou, o homem doente lhe disse diretamente: “Deus o amaldiçoe.” E o padre se afastou, dizendo-me: “Não vale a pena fazer nada por este homem.” Eu disse ao padre: “Este homem está muito doente, e não sabe o que está dizendo.” Mas o padre, assim mesmo, recusou-se a ajudá-lo. Desde esse dia, nunca mais fui a uma igreja. Sei que Deus está dentro de mim. Então, por que essa resistência? Por favor, ajude-me. A PALAVRA “DEUS” não é Deus. A palavra “amor” não é amor. A palavra “fogo” não é fogo. Por isso, o mais importante é lembrar-se de não se apegar muito às palavras, não ficar muito obcecado com as palavras. As palavras são apenas símbolos indicativos: use-as, mas não se sinta muito oprimido por elas. Se a palavra “deus” lhe causa problemas, esqueça essa palavra. “Alá” também serve, ou “Ram”, ou “X Y Z” — escolha outra palavra, se esta provoca uma associação errada. Mas se você começar a criar uma resistência contra o próprio Deus, contra a própria verdade, apenas você será responsável e apenas você estará perdendo algo de imenso valor. Mas isso acontece. Nós usamos a linguagem; tornamo-nos tão obcecados com a linguagem, que nos esquecemos de que ela não é a realidade. Na verdade, tem-se que colocar a linguagem de lado para se ver a realidade. O incidente é significativo. Se você tivesse se tornado resistente em relação aos padres, não haveria nada de errado nisso; mas não foi isso que aconteceu. O padre recusou-se a ajudar — não Deus. Rejeite os padres, não há nenhum problema nisso; na verdade, quanto mais você evitar os padres, mais próximo ficará de Deus. Os padres não são necessários, de maneira alguma. Eles continuam propagando que são necessários, enfatizando que sem eles não há
  • 23. possibilidade de você entrar algum dia no mundo de Deus, mas esta é a proposição deles. Esse é o negócio deles, seu comércio secreto; eles têm que criar essa atmosfera. Do contrário, nenhum intermediário é necessário; Deus é seu, gratuitamente. Não é necessário nenhum agente intermediário; Deus está disponível imediatamente. Mas é claro que os padres fizeram um grande negócio — o maior de todos — e negociam uma mercadoria que é invisível; assim, você nunca poderá provar se eles a entregam ou não. A mercadoria em si é invisível. É um belo jogo. Ouvi contar... “Por que aquele menino pequeno está chorando?”, perguntou uma velha senhora bondosa a um moleque esfarrapado. “Porque outro garoto roubou-lhe o doce”, ele respondeu. “E como é que você está com o doce, agora?” “É claro que eu estou com o doce”, respondeu o moleque. “Eu sou o advogado dele.” Perceberam? O padre irá explorá-lo; ele se torna seu advogado, seu agente, e apenas o explora. Ele próprio está completamente inconsciente de Deus — do contrário, não seria padre. Teria sido um profeta, mas não um padre. “Padre” é uma palavra feia: aquele que está usando a religião como um negócio, explorando as pessoas em nome de Deus. O profeta é aquele que o ajuda a se transformar, a se transfigurar. O profeta não está tão preocupado com Deus, como está com você, com a sua realidade. Quando sua realidade começar a se manifestar, você saberá o que é Deus — porque você é Deus em semente. Podemos nos esquecer completamente de Deus: Buda nunca falou sobre ele, Mahavir também não. E Buda ajudou imensamente. Ele insistia: Deus não é o problema, Deus não é a questão; a questão é o seu ser interior. Um profeta está preocupado com o seu ser. Se o seu ser desabrochar, florescer, nessa fragrância você saberá o que é Deus. Não há outra maneira. Através da oração, do templo, da igreja, do ritual, da tradição, você não chegará a lugar algum; apenas o padre ficará cada vez mais rico. E esse investimento torna-se tão grande que os padres e os políticos se juntam para explorar as pessoas. Essa é a maior conspiração: através dos séculos, os padres e os políticos andaram juntos. Eles são os maiores culpados. Jesus foi crucificado porque não era um padre... Começou a se comportar como um profeta, e é claro que os padres ficaram com medo. Sempre que há um profeta os padres ficam com medo — porque ele irá destruir todo o seu negócio. Jesus foi crucificado por causa dos padres; eles estavam por trás de tudo. Nenhum profeta jamais será tolerado pelos padres — não pode ser tolerado; é perigoso.
  • 24. Por isso, se o seu incidente ajudou-o a ficar ciente dos padres, foi bom. Mas, de alguma forma, sua associação deu errado. Não vá à igreja, não há necessidade; Deus está em toda parte. Não vá a nenhum padre, não há necessidade; Deus está disponível para você — direta e imediatamente. Mas se você tiver uma resistência à palavra “deus”, isso se tornará uma barreira; irá tolhê-lo, inibi-lo, não permitirá que você flua para o infinito. E não há razão para isso — Deus não fez nada. O padre afastou-se e foi embora, mas você sabe se Deus também foi? Deus nunca se afastou de ninguém. Na verdade, pelo fato de o padre ter-se afastado, Deus pode ter cuidado ainda mais do moribundo — pois não havia outro auxílio. Quando um homem está desamparado, Deus simplesmente começa a fluir em direção a ele. Em imenso desamparo, você se torna receptivo. Quando o homem estava completamente desamparado, e o padre foi embora, e a morte estava chegando — nesse estado de desamparo, ele deve ter feito um contato; você não pôde vê-lo do lado de fora. Seja contra os padres. Mas não há necessidade, não se justifica que você tenha alguma resistência em relação a Deus. Você diz: “Sei que Deus está dentro de mim.” Você não sabe, você não sabe absolutamente. Você ouviu dizer isso. Você me ouviu dizer, ouviu Jesus dizer “Deus está em você”, mas você não sabe absolutamente. Porque, uma vez que você sabe, não há problemas; sabendo que “Deus está em mim”, imediatamente Deus está fora também. No momento em que você perceber um único raio do divino penetrando em você, conhecerá tudo o que existe para ser conhecido. Conhecido o de dentro, o de fora é conhecido. Conhecido o de fora, este se torna conhecido dentro também — pois o de dentro e o de fora não são duas coisas separadas; são dois aspectos da mesma energia. Assim, esse pensamento de que “Deus está dentro de mim” pode ser um outro truque de sua resistência, pois você não quer ver Deus fora. Você é contra isso, pois bem no fundo de sua mente você sente que, se Deus está lá, então você precisará de um mediador, precisará de alguém para guia-lo até lá. Se Deus está fora, lá em cima no céu, então alguém será necessário para guiá-lo. Sozinho, você não será capaz de encontrá-lo. Então você diz: “Deus está dentro de mim” — assim não há necessidade do padre. Você está dizendo isso apenas para evitar o padre — mas você não sabe. Deus é tudo. A distinção entre o de fora e o de dentro é falsa. Dentro e fora são um; apenas uma realidade, de uma ponta a outra. Não são duas, não é dual, por isso não a divida. Ouvi contar... Quando Xerxes estava na praia com sua armada, e olhou para o Helesponto, perguntou a si mesmo: “Como farei para meus homens atravessarem?” Ele ordenou a seus generais que construíssem uma ponte de barcos, e eles
  • 25. obedeceram. Mas uma tempestade veio e destroçou sua ponte. Num acesso de raiva violenta, ele ordenou a execução dos supervisores que dirigiram o trabalho. Mas isso não foi suficiente para satisfazê-lo, pois a sua raiva era grande, quase louca. Então ele ordenou a seus escravos que dessem trezentas chicotadas no mar. Mas isso é uma tolice — trezentas chicotadas no mar! Mas é assim que a mente funciona; nossa mente é muito infantil. Você já reparou numa criança pequena? Se ela se machuca com uma porta ou um móvel, ela bate na porta ou no móvel, como se eles fossem o inimigo, como se eles tivessem feito alguma coisa a ela. Ela pode ter tropeçado, mas acha que a cadeira é responsável. E essa atitude infantil continua. As pessoas ficam senis, mas sua atitude infantil nunca muda. No seu caso, um padre não se comportou bem, mas se você for um pouco razoável... Primeira coisa: se um padre não agiu bem, isto não significa que todos os padres estejam errados. Segunda coisa: foi o padre que não agiu bem, não Deus. Terceira coisa: você não sabe o que aconteceu àquele moribundo, no mais profundo do seu ser. Não se apresse em tirar conclusões. Um homem sábio nunca conclui tão facilmente, pois todas as conclusões fazem sua mente fechar-se. Você não sabe o suficiente; conclusões são perigosas. Uma conclusão só está certa quando você já conheceu tudo. Os homens mais sábios do mundo disseram que nada sabiam; como podemos nós concluir? E qualquer coisa que saibamos é tão pequena, tão ínfima... como se você tivesse lido apenas uma linha da Bíblia e, a partir dessa linha, concluísse alguma coisa. Seria tolice; não seria sábio. Você pergunta: Então, por que essa resistência? Não penso que a resistência dependa do incidente. Na verdade, todo mundo é resistente em relação a Deus; as desculpas podem ser diferentes. Essa história é uma desculpa — porque não é razoável ficar resistente a Deus apenas por causa desse incidente. Por isso, deve ser uma desculpa. Você quis a resistência — essa história apenas lhe forneceu um argumento, uma desculpa. Todo mundo é resistente em relação a Deus — por quê? Porque, se quiser conhecer Deus, você tem que desaparecer: essa é a resistência. Você tem que morrer para que Deus viva em você. Você tem que desaparecer completamente, totalmente; você tem que estar vazio, tem que esvaziar-se. Somente no seu vazio Deus pode descer; quando você está muito cheio ele não pode entrar. Sua taça está muito cheia de você mesmo; ela tem que ser esvaziada — esta é a resistência. Não dê muita importância às desculpas — elas são insignificantes. O problema real se esconde por trás das desculpas. O problema real é: para se tornar religiosa, a pessoa tem que negar a si mesma — este é o único sacrifício
  • 26. necessário. O ego tem que ser abandonado. A mente tem que parar, para que Deus esteja presente — então, é claro que há resistência. Por isso, esqueça esse incidente. Ele não tem nada a ver... Na verdade, é muito raro eu encontrar uma pessoa que não seja resistente, que não esteja, no fundo, lutando contra Deus. É natural; tente compreender. Queremos permanecer nós mesmos: Deus é o maior perigo. Por isso, as pessoas vão aos padres. Elas poderiam ir diretamente a Deus, mas vão ao padre — pois não querem realmente ir para Deus. O padre protege-as de Deus. Elas vão às escrituras, pois estas estão mortas, e não se pode encontrar um Deus vivo numa escritura. Essa é a maneira de esquivar-se. As pessoas não vão a um Mestre vivo, porque ir a um Mestre vivo significa saltar no fogo. Você desaparece — mas somente através desse desaparecimento Deus aparece. Ser realmente religioso é cometer suicídio. É isso mesmo que eu quero dizer — suicídio. Quando uma pessoa se mata, isto não é um suicídio; apenas o corpo muda — ela nascerá de novo. Isso é apenas uma mudança de corpo, uma mudança de roupas, de moradia. Mas quando um homem abandona o ego, ele comete um suicídio real, autêntico; agora ele não voltará mais. Agora não terá mais necessidade de outra moradia neste mundo de miséria, neste mundo de escuridão, neste mundo que é quase um inferno. Ele não voltará mais. Abandonado o ego, sua jornada está terminada; você terá aprendido a lição. Esta é a resistência. Por isso, por favor esqueça essa desculpa. Do contrário, você continuará pensando nela — e esta não é a causa verdadeira. Eu gostaria de poder saber mais a respeito de Deus. Você pode me ajudar, Bhagwan? Não há jeito de se saber mais a respeito de Deus. Você pode conhecer Deus, mas você não pode saber mais a respeito de Deus. Saber mais a respeito de Deus não é conhecê-Lo. Saber mais é informação; conhecer Deus é uma dimensão totalmente diferente. Saber a respeito é informação — você pode continuar, sabendo mais e mais a respeito, mas nunca chegará a Deus. Conhecer Deus é totalmente diferente de saber a respeito de Deus. Você pode saber muito sobre o amor sem conhecer absolutamente o amor. Você pode ir às livrarias, consultar as enciclopédias e coletar toda a informação possível sobre o amor — mas se o amor não aconteceu a você, você não saberá o que é o amor. Você pode coletar todas as histórias sobre o amor — Laila e Majanu, Shiri e Farahad —, pode coletar histórias sobre todos os amantes do mundo; isso também não ajudará. O amor tem que acontecer a você; você tem
  • 27. que se apaixonar. Você tem que se arriscar, tem que jogar tudo — só então você saberá. Você diz: “Eu gostaria de poder saber mais a respeito de Deus.” Primeira coisa: saber mais não será de muita ajuda. É assim que uma pessoa se torna um estudioso, um pândita — bem-informada. Não estou aqui para ajudá-lo a tornar- se mais bem-informado; você já tem muitas informações. Eu estou aqui para destruir o seu conhecimento, tirá-lo de você. Você tem que aprender como desaprender. Você diz, que “Eu gostaria”. “Gostaria” é uma coisa muito fraca, que não faz com que ninguém chegue até Deus. Mais insistência, um desejo mais profundo é necessário... um desejo que se torne uma chama em você. Uma fome é necessária; “gostaria” não ajudará. Uma sede é necessária... como se você estivesse perdido no deserto do Saara, e por milhas à sua volta, apenas areia, areia, areia, e um sol ardente, nenhuma gota de água com você, e não se avista nenhum verde, e você está com sede, todo o seu ser está por um fio — a qualquer momento você pode morrer — e a sede aumenta, e você se torna uma chama... nessa sede Deus é possível. Torne-se sedento. “Gostaria” não é o suficiente; é muito fraco. Ouvi contar... Um mendigo faminto parou numa casa de campo e pediu alguma comida. A dona da casa trouxe-lhe alguma coisa, e ele sentou-se na porta dos fundos, deliciando-se com a comida. Logo que ele sentou, uma pequena galinha ruiva passou correndo, fugindo de um galo que vinha em seu alcanço. O mendigo jogou um pedaço de seu pão para o galo, que parou instantaneamente sua perseguição, e avidamente engoliu o pedaço de pão. “Nossa!” exclamou o mendigo. “Espero que eu nunca fique com tanta fome assim!” Você tem que estar tremendamente faminto. Não pode ser apenas uma curiosidade. Deus não pode ser um objeto de curiosidade; Deus não pode ser um objeto de seu pequeno desejo. Deus não é a satisfação de uma vontade, não é um sonho seu. Deus tem que ser como uma chama em suas entranhas. Quando você começar a sentir que nada mais importa, quando Deus é a prioridade máxima e você está pronto a sacrificar tudo, quando Deus se torna um desejo tão urgente, absorvente, que até mesmo a vida não tem mais sentido sem Deus — só então você chegará a Ele. E aí, não há necessidade de ninguém que o ajude; seu desejo fará o trabalho.
  • 28. Nessa sede premente, nessa intensidade, tudo o que é escuro em você desaparece. Nessa chama, tudo o que é inútil é consumido. Você se torna ouro puro. Deus é a sua realidade, assim como é a minha realidade. Deus é a sua realidade assim como era a de Jesus Cristo ou de Gautama Buda. A diferença é que você ainda não é capaz de separar o joio do trigo; o trigo está em você, mas há muito joio misturado. Num tremendo desejo de conhecer, de ser, o joio é exterminado — e não há outra maneira. Quando você vai a um Mestre, ele, na verdade, não o ajuda a chegar a Deus: ele o ajuda a se tornar cada vez mais sedento. Ele o ajuda a se tornar cada vez mais intensamente faminto. Ele lhe dá sede e fome; ele lhe dá uma paixão louca pelo impossível. Um homem veio até Buda e perguntou: “Se eu o seguir, serei capaz de conhecer a verdade?” Buda disse: “Isso não é certo; não posso garanti-lo. Posso garantir apenas uma coisa: eu o tornarei cada vez mais sedento. Então, tudo o mais dependerá de você. Posso transferir minha sede para você, se você estiver pronto para permitir tamanha sede... pois é doloroso. A jornada é dolorosa; todo crescimento é doloroso. Se você permitir que eu crie essa dor em você, a própria dor o purificará. A dor é um processo de purificação.” Por isso nunca diga que você gostaria de saber a respeito de Deus, nem que gostaria de saber mais. Ou Deus é conhecido ou não é — mais ou menos seria absurdo. Você não pode dividir Deus assim: “Eu sei um pouquinho, alguém sabe um pouco mais, alguém sabe quase a metade e alguém sabe cem por cento.” Deus não pode ser dividido; ou você sabe ou não sabe. E o conhecimento de Deus não é como qualquer outro conhecimento. Não é como o conhecimento científico, que você vai aumentando cada vez mais, como uma progressão que continua e nunca termina. Não é um conhecimento a partir do exterior. O conhecimento de Deus não é bem um conhecimento, é mais como o amor. Você desaparece em seu amado — essa é a única maneira de conhecer. E quanto mais você desaparece em seu amado, mais você sabe que não sabe. Os maiores conhecedores de Deus sempre dizem que não sabem. Eles são como gotas no oceano: elas caem no oceano e desaparecem, e o oceano cai nelas e desaparece. Então, quem é o conhecedor e quem é o conhecido? Kabir disse: “Eu estava procurando e procurando e procurando, e então eu me perdi; aí aconteceu o milagre dos milagres. Quando eu não estava mais lá, você estava, bem em frente a mim. E quando eu estava lá, procurando e procurando, você estava tão distante — nem mesmo um vestígio. E agora, olhe... Eu desapareci. Procurando, eu me perdi completamente; toda a minha busca me absorveu, me destruiu completamente. Agora eu não estou mais... e meu Senhor, você está aqui bem à minha frente.”
  • 29. Kabir disse que aquele que procura nunca alcança o procurado. O homem nunca se defronta com Deus — porque, a menos que você desapareça, ele não pode aparecer; assim, não há ponto de encontro. Quando você está, ele não está; quando ele está, você não está — assim, como você pode afirmar que sabe? Quando você não está — só então ele está. Quando o conhecedor desaparece, o conhecimento aparece; não pode ser apenas a satisfação de uma vontade. Posso ajudá-lo a se tornar uma chama — sedenta, faminta, ardente; posso dar- lhe a dor. Então todo o resto depende de você — o quanto você entra nessa dor, nesse fogo, Você pode dar um salto, e Deus pode acontecer num momento repentino. Não há necessidade de esperar, nem de adiar. Neste exato momento pode acontecer... se você estiver pronto para entrar totalmente nessa dor. Fui criada numa família totalmente sem religião, mas toda vez que ouço você mencionar o nome de Jesus, choro e algo profundo dentro de mim é tocado. O que está acontecendo? Isso deve ser porque você foi criada numa família sem religião. Famílias religiosas destroem a religião para sempre. Lares religiosos são os lugares mais irreligiosos do mundo. O que quer dizer isso que estou falando? Se você nasce numa família religiosa cristã, ela forçará você a venerar Jesus, a se tornar cristã; ela a condicionará. Não escutará seus desejos, e não se importará com a sua liberdade; apenas a condicionará a ser uma cristã. E é claro que o espírito interior se rebela contra todos os tipos de escravidão. O cristianismo é uma escravidão, assim como o hinduísmo, o islamismo e todas as chamadas religiões. Quando uma criança é forçada a se tornar um hindu, um cristão ou um maometano, seu ser mais interior se rebela, resiste. E quando qualquer coisa é forçada em você, mesmo que seja bela, torna-se feia. Deus tem que ser buscado em liberdade — não através de um condicionamento. O mundo é tão irreligioso por causa dessas religiões, por causa dessas pessoas religiosas! Elas condicionam as outras pessoas; destroem o próprio impulso. Pense numa coisa assim: você vai a um jardim, observa as árvores, as flores e sente-se muito feliz. Mas se você for forçado a isso, se um policial a seguir com uma baioneta e disser: “Olhe a rosa e fique feliz!”, o que acontecerá? A rosa será a mesma, mas como você poderá apreciá-la, quando alguém está atrás de você, ordenando que fique feliz? Quando você é forçado a ir à escola dominical, e você quer ir a algum outro lugar — ao zoológico, ou à pescaria, ou brincar com as crianças da vizinhança, mas você tem que ir à igreja porque é cristão... e a criança fica lá sentada numa prisão — ouvindo sem ouvir, pronta para escapar a qualquer momento, esperando a hora daquele absurdo todo terminar. Jesus, Jesus, Jesus... Jesus torna-se um
  • 30. palavrão; perde todo o significado. Então, mais tarde, é muito difícil descobrir o significado. Você tem sorte de ter nascido e crescido numa família totalmente sem religião. Num mundo melhor, toda criança deveria poder crescer sem nenhum ensinamento religioso. Amem seus filhos, mas nunca imponham suas ideologias. Amem seus filhos, deixem-nos sentir que Jesus fez algo por vocês, ou Maomé fez algo por vocês, ou Mahavira — deixem-nos sentir, mas não forcem nada. Deixem-nos crescer em liberdade. Deixem-nos ver quando vocês orarem, as lágrimas rolando em suas faces, e deixem-nos ver a beleza disso. Deixem-nos ver quando vocês se curvam diante de Jesus, deixem-nos observar... e as crianças são muito observadoras, muito sensíveis — se as coisas não forem forçadas, elas irão por si mesmas. Quando elas virem suas lágrimas, virem vocês se curvando diante de Jesus e sentirem a atmosfera... de repente tudo se torna silencioso, de repente o pai não é mais o pai, e a mãe não é mais a mãe, de repente eles se tornam seres luminosos... e a criança também se curvará. Talvez em segredo, quando vocês não estiverem vendo, a criança também se curvará. Ela quer saber o que acontece quando alguém se curva diante de Jesus, ou de Buda, quando alguém está orando. Deixem-na perceber — não ensinem, não forcem nada. Tudo se torna feio quando forçado. Liberdade é a coisa básica. A consciência cresce na liberdade e começa a morrer, a ficar aleijada, quando as coisas são forçadas. E até agora, é isso o que tem sido feito. Esse é o maior crime que os pais cometem contra os filhos. Eles forçam a criança, eles têm medo, não confiam em suas próprias orações. Quando eu era criança, costumava ir com meu pai ao templo. No começo, ele me dizia para fazer isso e aquilo. E eu lhe disse: “Se você me disser, eu farei, mas já ficarei contra, desde o início. Por isso, não force. Deixe-me vir, deixe-me observar. Se eu sentir que alguma coisa acontece a você, este será o fator decisivo.” Meu pai era um homem simples e concordou. E ele ia e orava, e eu simplesmente me sentava e observava. Orando, meditando, eu via como ele mudava, como seu rosto, de repente, se transformava e ficava luminoso, e quão silencioso e cheio de graça ele se tornava. Isso tornou-se uma indagação para mim... uma pessoa tem que conhecer esses espaços também. Então a criança se encanta, e um grande desejo surge de conhecer o que é isso, do que se trata. Ainda bem que você foi educada numa família sem religião. Talvez seja esta a causa de você chorar quando menciono o nome de Jesus e sentir que algo profundo é tocado dentro de você. É bom que você não seja cristã, assim Cristo ainda pode significar alguma coisa para você. E, não sendo cristã, logo você verá que Buda também é significativo, assim como Patanjali, Kabir, Nanak. Quando uma pessoa não está condicionada, fica disponível para todas as fontes, para todos os grandes Mestres.
  • 31. Deveríamos reivindicar como nossa a herança de toda a humanidade — nós somos desnecessariamente pobres. Quando alguém diz: “Eu sou cristão”, está dizendo que reivindica apenas Jesus, e não Buda, nem Zaratustra, nem Lao- Tsé. Que pessoa pobre! Toda a humanidade, toda a história do homem é sua. Jesus é tão seu quanto Lao-Tsé, Buda ou Maomé. Eles são todos seus: reivindique-os todos juntos, esta é a sua herança. Mas isso só é possível se você não estiver condicionado a ser um cristão, um hindu ou um maometano. Você tem sorte de Jesus ainda ter algum significado para você. Este é todo o meu esforço aqui — descondicioná-los. Se você é um cristão, quero que se gorne descondicionado. Abandone seu cristianismo, seu hinduísmo, seu jainismo. Isso pode lhe parecer paradoxal, mas tente compreender: se você abandonar o cristianismo, poderá ser capaz de amar Cristo novamente. Se você abandonar o hinduísmo, poderá ser capaz de dançar novamente com Krishna; poderá começar a cantar as notas que ele ainda está tocando em sua flauta. O hinduísmo funciona como uma Muralha da China — não lhe permite chegar diretamente a Krishna. Torne-se descondicionado. Abandone toda cultura, civilização, religião, seitas, teologias, filosofias. Seja apenas simples; seja uma criança novamente. Felizmente você não nasceu numa família religiosa, senão você teria tido contato com os padres. E ter algum contato com padres significa tornar-se irreligioso para sempre, porque os padres são as pessoas mais irreligiosas que existem. Eles fingem — mas fingimentos nunca atraem ou convencem. Você os conhece; são tão comuns quanto qualquer outra pessoa. Somente quando estão na igreja, no púlpito, é que se tornam, de repente, muito eloquentes sobre religião. A vida deles é completamente muda; não há sombra de consciência, de atenção, não há possibilidade de florescer neles algo divino, não há fragrância em volta deles, nenhuma vibração, nenhuma onda... mas quando estão no púlpito, de repente começam a falar sobre religião. A religião não tem nada a ver com eles; eles são tão irreligiosos quanto qualquer outra pessoa. Fingidos, hipócritas... Ouvi contar... Um homem de aparência bem doentia sentou-se em frente ao médico, que olhou para ele e disse: “O que está acontecendo com você?” O homem respondeu: “Não sei exatamente. Sinto-me fraco, muito, muito fraco; estou preocupado, perdendo minhas forças. Não estou comendo bem, nem durmo direito e, além do mais, estou ficando impotente. E vou acabar perdendo meu emprego, se eu não me esforçar e não me mantiver calmo.” “É, posso ver”, disse o médico. “Diga-me, que tipo de trabalho você faz?” “Bem, senhor já viu nos jornais aqueles desenhos de publicidade do Vinho Supertônico Revigorante Scroggs? Bem, eu sou o rapaz que os desenha.”
  • 32. Este é o tipo que você encontrará nos padres. Eles estão sempre falando de Deus — e olhe nos olhos deles... nem mesmo uma sombra de Deus. Olhe no fundo... e eles estão tão longe de Deus quanto você, ou talvez até mais. Talvez as pessoas que procuram os padres acreditem um pouco, mas eles são sempre descrentes. Eles sabem, eles conhecem todo o negócio, todo o segredo. Eles sabem que não há Deus. Eles não podem dizer, porque investiram muito nisso, eles dependem disso. Os padres são as pessoas mais irreligiosas do mundo, e existe uma razão — eles sabem; a imagem, a estátua no templo é apenas pedra, eles sabem. Eles já viram os ratos andando sobre ela, e sabem que ela não pode fazer nada. E eles rezam por você, sabendo que as orações não vão a lugar algum — mas eles continuam fingindo. Se você já teve algum contato com padres, existe toda a possibilidade de você se tornar anti-religiosa. Se você não teve contato com padres existe uma possibilidade de, algum dia, surgir um impulso — porque a religião é um impulso natural. Se não for corrompida pelos padres, toda pessoa nasce religiosa e, de alguma forma, encontrará seu caminho. Assim como o rio corre sem saber para onde, e chega sempre ao oceano, todas as pessoas encontrarão seu caminho para Deus, se elas não forem atrapalhadas pelos padres e impedidas pelas religiões. A pessoa realmente religiosa será sem religião. Os padres são pessoas muito sérias. Matam seu desejo de amar, de celebrar; matam todas as possibilidades de alguém ser feliz. Prometem que no céu você será feliz, mas não aqui; aqui não é permitido. Na verdade, aqui você tem que ser masoquista, torturar a si mesmo e, então, no céu, terá a recompensa. Ninguém conhece nada sobre o céu. Os verdadeiros profetas, que nunca são padres — Buda, Jesus, Mahavira —, os verdadeiros profetas ensinam-nos a nos deleitarmos aqui e agora, neste exato momento; não há necessidade de adiarmos. O paraíso é aqui... porque o céu não é um lugar geográfico, e sim, a sua atitude. Há alguns anos, vi uma história em quadrinhos que nunca mais esqueci e que ainda me faz rir. Dois homens estão numa esquina, em frente a uma igreja. Vê- se claramente que é domingo, e as pessoas estão saindo da igreja, felizes, rindo, algumas até dançando. E, no meio da multidão, algumas pessoas estão carregando nos ombros o pregador com sua batina. Vendo essa cena, um dos homens da esquina diz para o outro: “Eu gostaria de saber qual foi o sermão de hoje!” Porque uma tal cena numa igreja — pessoas dançando, cantando, carregando o padre nos ombros — parece impossível. Dançar numa igreja? Pessoas divertindo-se, celebrando felizes, numa igreja? Risos numa igreja? — nunca se viu. Observando isso, é certo que um diga ao outro: “Eu gostaria de saber qual foi o sermão de hoje!”
  • 33. A verdadeira religião sempre criará uma dança em você, uma canção; a verdadeira religião criará a divina melodia em você. A verdadeira religião não é nada mais do que a verdadeira felicidade. Feliz de você por ter nascido numa família sem religião. E agora, se você fica comovida com Jesus, entre nisso com todo o seu coração. Agora que a menção do nome de Jesus faz você chorar, chore de todo o coração. Esta será a sua prece: isso é prece. Fique realmente comovida... a religião está nascendo em você. É assim que a religião sempre nasce. Ninguém pode lhe dizer quando chega o momento certo, quando a maturidade chega... De repente, um dia, você começa a sentir novos anseios, novos sonhos rodeando-a, novos caminhos abertos, novas portas desafiando-a, novas aventuras. Esse choro, essa comoção que está acontecendo em sua alma — admita-a, entre nela. Não tente controlar — digo isso porque existe a possibilidade de você tentar controlar, pois fomos ensinados a controlar. Choro? — controle-o. Riso? controle-o. Controle tudo! E com o controle você perde toda a espontaneidade — e Deus é espontaneidade. Se você se tornar espontânea, estará andando de mãos dadas com Deus; sendo espontânea, você está com Deus. Esse é todo o ensinamento de Kabir: sahaj samadhi bhali — esteja espontaneamente em meditação. Esta é a melhor meditação. Se o nome de Jesus a comove, sente-se em silêncio, e deixe que esse nome a toque. Algumas vezes, diga silenciosamente Jesus... e espere. Esse se tornará o seu mantra — é assim que nasce um mantra verdadeiro. Ninguém pode lhe dar um mantra, você tem que encontrá-lo. O que a atrai? O que a comove? O que cria um grande impacto em sua alma? Se é Jesus, então ótimo. Algumas vezes, sentada em silêncio, repita “Jesus” e espere... e deixe que o nome penetre fundo, bem fundo no recôndito de seu ser. Deixe-o ir até o âmago. E permita tudo: se você começar a dançar, ótimo; se você chorar, ótimo; se rir, ótimo. Qualquer coisa que aconteça, acate-a. Deixe que seja assim; não interfira, não manipule. Entre nisso, e você terá seus primeiros vislumbres de prece e meditação, e os primeiros vislumbres de Deus. Os primeiros raios começarão a penetrar na noite escura de sua alma. Bhagwan, sinto-me tão frustrado! E daí?! Você deve ser responsável por isso. Se não quiser sentir-se frustrado, não haverá necessidade. Você deve estar criando isso. Ninguém mais é responsável; se você se sente frustrado, deve estar colhendo os frutos que semeou. Mas você não vê essa relação. Se esperar muito, sentir-se-á frustrado. Se não quiser sentir-se frustrado, não espere. Viva sem expectativas, e não haverá frustrações.
  • 34. Mas as pessoas estão sempre esperando; suas expectativas não têm limites. Então vem a frustração, que é a sombra da expectativa. A frustração não é o problema, e sim a expectativa. Quando você se sente frustrado, pensa que a existência está fazendo algo de errado com você. Não: você estava querendo muito. Na verdade, é só querer algo e se sentirá frustrado. Qualquer querer é querer demais. Não queira, não peça; seja. E então, ficará surpreso — qualquer coisa que acontecer, será bom; você não terá como julgar. Eu costumava passar um tempo com uma família rica em Calcutá. Certa vez, quando cheguei, a família veio me apanhar no aeroporto. O marido estava muito triste. Então perguntei: “O que está acontecendo?” Ele respondeu: “Tive um grande prejuízo.” Ao ouvir isso, a esposa começou a rir. Ela disse: “Não se importe com o que ele diz. Não houve nenhum prejuízo; na verdade, houve um grande lucro.” Fiquei confuso e disse: “Vocês dois estão aqui. Por favor, expliquem esse enigma.” A esposa disse: “Não há enigma nenhum. É que ele estava esperando ganhar um milhão de rupias e ganhou apenas quinhentas mil. Por isso ele diz, ‘quinhentas mil rupias de prejuízo’, e eu digo, ‘você lucrou’ — mas ele não me ouve e está muito triste.” Quando você espera um milhão de rupias e ganha quinhentas mil, sente-se frustrado. Se você não está esperando nada, e ganha quinhentas mil, fica muito feliz e grato. Não espere nada, e verá que sua vida torna-se uma alegria. Espere, e sua vida torna-se um inferno. A expectativa é a causa. Se você quer mudar, nunca comece pelo efeito: comece pela causa. A frustração é o efeito. Se você continuar lutando contra a frustração, nada acontecerá, e você ficará cada vez mais frustrado. Comece pela causa, sempre procure pela causa. Sempre que estiver se sentindo miserável, vá lá dentro e descubra onde está a causa. E então tudo dependerá de você. Se você quer abandonar o efeito, evite a causa; e então fique muito atento, cada vez mais atento. Agora, se você gosta de sua frustração... pois existem muitas pessoas que gostam. Há muitas pessoas que gostam de ser infelizes. Na verdade, não conseguem tolerar a felicidade. Quando estão transtornadas, estão felizes; quando estão felizes, sentem-se transtornadas. Você pode achar engraçado, mas isso é o que acontece com a maioria das pessoas. E existem razões para isso. Sempre que você está infeliz, ganha alguma coisa: simpatia, atenção. E quando está feliz, ninguém demonstra nenhuma simpatia; ao contrário, as pessoas ficam com inveja. Quando você está infeliz, todos são amigos, todos são simpáticos com você — até mesmo seu inimigo. Quando você está feliz, até seu amigo torna-se invejoso e hostil. Quando você está feliz, ninguém lhe presta atenção. As pessoas evitam-no e começam a pensar que você enlouqueceu. Como alguém pode ficar feliz? Deve ter ficado louco, ou então está fingindo. Quando você está infeliz, todos o
  • 35. aceitam. Então pensam que está tudo certo, pois é assim que as coisas devem ser. E as pessoas gostam de sua infelicidade, por isso lhe dão atenção — pois, sempre que você está infeliz, elas podem se comparar, e no fundo, sentem-se bem: “Estou numa posição melhor. As pessoas são tão infelizes! Pelo menos não sou tão infeliz assim. Sou infeliz, mas nem tanto.” Elas podem comparar. Quando você está feliz, o outro se sente rebaixado; fica infeliz por ver a sua felicidade: “Então você está feliz? Então você conseguiu?” Ele não aceitará, ele criará problemas para você. Este mundo consiste de pessoas miseráveis, de pessoas infelizes. E elas não permitem que uma pessoa feliz viva ou exista. Ouvi falar a respeito de um homem, um grande poeta, já com seus sessenta anos de idade, que estava numa cama de hospital. Como não tinha nada para fazer, resolveu meditar sobre sua vida, como tinha sido miserável a sua vida. Criou belos poemas, mas não eram reais, apenas composições. Ele tinha muita habilidade para escrever poesias — mas esses poemas não nasceram de sua alma; eram apenas intelectuais. Ele tinha o jeito, a técnica, mas seus versos não vinham do coração. O poeta estava deitado na cama, pensando, meditando, e disse: “Agora estou com sessenta anos e dentro de alguns anos terei partido. Por que estou perdendo minha vida? Não posso ser feliz?” E então percebeu que não existe realmente nada para se ficar infeliz. Ele tinha tudo de que um homem precisa. Tinha prestígio, respeitabilidade, nome, dinheiro, casa, esposa, filhos, enfim, tudo. Por que ser infeliz? Ele começou a rir de todo o ridículo daquilo: “Não tenho nada para ser infeliz, mas sou infeliz. Isso é tolice!” E ria. Ao ouvir isso, a enfermeira correu para chamar o médico. O poeta percebeu que ela ficara chocada e correra de medo, então ele ria ainda mais. Quando o médico chegou, também ficou chocado e perguntou: “Há algo errado?” E o homem ria mais ainda. Imediatamente, ele foi levado para a ala dos doentes mentais. Depois, ele mesmo me contou que ria cada vez mais e dizia: “Vocês todos ficaram loucos ou o quê?” Dizia que nada estava errado, mas quem o ouvia? Os médicos respondiam: “Todos dizem a mesma coisa! De repente, sem mais nem menos, começaram a rir!” Algo tinha que estar errado; sua mente não estava mais sã. E quando ele me contou essa história, disse: “Isso é bem significativo! Ninguém pensava que eu fosse louco quando era infeliz.” Isso também acontece a meus sannyasins muitas vezes. Um deles escreveu há poucos dias, dizendo que recebeu o sannyas, e estava tão feliz, que foi dançando para casa. Uma multidão juntou-se e as pessoas diziam: “Ele ficou louco.” Sua esposa começou a chorar e as crianças gritavam: “Papai, o que você está fazendo?” Ao ver tudo isso, ele ria e dizia: “O que estou fazendo? Tornei- me uma pessoa feliz!” Eles o levaram forçado a um hospital, e de lá ele telegrafou
  • 36. para cá: “Bhagwan, salve-me! Eles vão me dar tranquilizantes e choques elétricos. O que devo fazer?” A felicidade não é permitida. A felicidade é alguma coisa louca. Você diz: “Sinto- me tão frustrado!” Olhe bem para isso. Se você se diverte assim, então não há problema — é a sua escolha. Se você gosta disso, então vou lhe contar uma anedota... Um turista nervoso não estava gostando de ficar muito na beirada do penhasco de Beachy Head, em Sussex, e disse para o guia: “E se eu cair lá embaixo?” “Se cair, olhe para a sua direita”, respondeu o guia entusiasmado. “Você vai adorar a vista!” “Olhe para a direita, se cair...” Se você cair, caiu! “Olhe para a direita, você vai adorar a vista!” Assim, se você está frustrado, e gosta, e se diverte com isso, então fique mais alerta, mais consciente. E divirta-se! E não reclame, não crie uma contradição. Você gosta da frustração? Então goste e vá fundo nisso. Torne-se mais artístico e decore-a um pouco mais; encontre novas possibilidades, novas maneiras de ficar frustrado... Se você não gosta, então não vejo qual o problema. Entre fundo nisso, observe, e você encontrará alguma expectativa escondida por trás. Sempre que você espera alguma coisa está pedindo frustração. Abandone as expectativas. A vida de um sannyasin deve ser uma vida sem expectativas. E então, cada momento será uma bênção, uma graça divina, pois qualquer coisa que Deus der, será muito. E você sempre se sentirá grato. Mas quando seus desejos são muitos, qualquer coisa que Deus der sempre parecerá pouco, e você se sentirá frustrado, você se queixará e não se sentirá grato. E sem gratidão não há possibilidade de surgir a prece em seu coração. Gratidão é prece. Por que eu faço caras engraçadas? Essa pergunta é de Amida. Primeiro, uma anedota... Um homem era terrivelmente feio. Uma vez lhe perguntaram como ele podia viver com uma cara tão feia. “Por que eu deveria ficar infeliz?”, respondeu o homem. “Eu nunca vejo o meu próprio rosto. Deixe que os outros se preocupem com isso.” Então, Amida, simplesmente jogue fora seus espelhos, e pronto. O problema será dos outros, não seu. Eles me perguntarão: “O que fazer com as caras de Amida?” E há outra coisa ainda: todas as caras são engraçadas, porque no fundo você não tem nenhuma cara. Ninguém nunca está satisfeito
  • 37. com seu próprio rosto; mesmo as pessoas mais bonitas não estão satisfeitas. Você pode pensar que não, mas até Cleópatra achava que seu nariz era um pouco mais comprido do que deveria ser. Marilyn Monroe cometeu suicídio — uma bela mulher, mas não satisfeita. Há algo significativo nisso. Todas as caras são engraçadas porque todas as caras são falsas. No fundo, o seu ser não tem rosto. É isso o que as pessoas Zen chamam de face original. Quando um discípulo vem a um Mestre Zen, o Mestre diz: “Vá e medite sobre sua face original.” E o que é a face original? A face que você tinha antes de nascer e a que terá novamente depois que morrer: descubra essa face original. Não é face alguma. Você já pensou alguma vez que a forma de seu rosto é dada pela matéria, e ela pode ser modificada com uma operação plástica? Mas você não mudará com a mudança de rosto: seu nariz pode ficar mais longo ou mais curto, seus olhos podem ficar diferentes, suas sobrancelhas também — muitas coisas podem ser feitas agora. Mas você continuará o mesmo. Por isso, o rosto não é seu ser, é apenas a forma de seu corpo. Não é a sua face. Você tem alguma face? Algumas vezes, com os olhos fechados, pense profundamente... e você ficará surpreso de ver que não tem nenhuma face. Deus não tem face — e vocês são deuses e deusas. É por isso que ninguém nunca está contente. Nunca se pode ficar contente com esse rosto, por mais belo que seja. Esse rosto não irá satisfazê-lo, a menos que você chegue à face original, a seu ser sem face: pureza sem forma, informe, sem atributos. A forma é da matéria e não da consciência: a consciência é informe. Seu corpo é o ponto de encontro da forma e da não-forma, da matéria e da consciência. Seu corpo é um receptáculo. O conteúdo é você, e esse conteúdo não tem face. Por isso, sempre, qualquer face é engraçada. A própria idéia de ter uma face é engraçada, porque todas as faces são falsas. A face como tal é falsa. Esse desejo de ser mais do que se é me faz lembrar de um garoto de quatro anos que encontrou um velho amigo da família que não via o menino há alguns anos. “Sabe, John”, disse o homem, “estou surpreso de ver como você está grande!” Ao que o menino replicou: “Ah, mas eu estou muito maior do que isso!” “Maior do que isso” — você sempre tem esse sentimento de que é maior do que isso, que é mais bonito, mais verdadeiro, mais eterno do que isso. E, por isso, surge um grande problema. Todos olham para o seu rosto, mas ninguém pode olhar fundo em seu ser. E você está consciente, um pouco consciente de seu ser; você não pensa que termina no seu rosto. Você pode pensar que começa daí, mas este não é o fim. Mas, para os outros, este é o fim, o ponto final. Você ama uma mulher, e qualquer coisa que você faça nunca a deixará satisfeita, pois ela sempre sente que é “maior do que isso”, mais bonita do que você a considera. E o mesmo acontece com você: a mulher pode amá-lo muito,
  • 38. mas você acha que ela ainda não o conhece bem, apenas sua periferia. “Eu sou maior do que isso, eu sou mais do que isso.” Por isso nenhum relacionamento é satisfatório — não pode ser, pela própria natureza das coisas, pois você conhece algo que é muito grande, imenso, enorme... e o outro conhece apenas a face, a forma corporal. Você fica reduzido a uma coisa pequena — e, por mais que você seja elogiado, nunca se sente satisfeito, não pode sentir-se. Todas as crianças fazem caras engraçadas. Você já observou? Quando uma criança estiver no banheiro, espie pelo buraco da fechadura e verá que ela faz caretas. Na verdade, ela se diverte com seu rosto, tenta usá-lo de várias formas, brinca com ele. E a criança pode brincar porque está separada. Quando está fazendo uma careta, ela sabe que não é aquela pessoa. Aquela cara é apenas a cara; ela está por trás. Esta é apenas uma máscara. Mesmo os adultos fazem isso no banheiro. Se ninguém está vendo, todos ficam tentados a fazer um pouco... No espelho, todos querem fazer caretas. Não há nada de errado: isso simplesmente mostra que você não pode se ajustar ao seu corpo, que o corpo não é tudo, que você está muito além dele, que você pode brincar com seu corpo como se fosse uma máscara. Ele é uma máscara. Existem muitas meditações antigas que fazem uso de caretas. Você pode fazer disso uma meditação — no Tibete, esta é uma das tradições mais antigas. Pegue um espelho grande e fique na frente dele, em pé, nu, fazendo caretas — e observe. Apenas fazendo isso, e observando por quinze ou vinte minutos, você ficará surpreso. Começará a sentir que está separado disso. Se não está separado, como pode fazer todas essas caretas? O corpo é apenas uma coisa em suas mãos — você pode brincar com ele de várias maneiras. É por isso que sempre digo que a mímica é uma arte espiritual. Logo abriremos uma pequena escola de mímica. Se você aprender a fazer caras diferentes, se puder atuar com seu corpo de várias maneiras, de repente você se libertará de seu corpo; sua identidade será quebrada. Muitas pessoas me perguntam: “Por que tantos atores vêm a você?” Minha experiência diz que a profissão de ator é uma das mais espirituais do mundo. Porque um ator representa muitas coisas — às vezes isso, às vezes aquilo —, tantas identidades, que ele acaba se tornando solto, relaxado. Então, um dia, ele começa a pensar: “Quem sou eu? Um dia sou Lincoln, outro dia, Washington, outro dia, alguém mais.” Cada dia uma mudança. Algumas vezes ele é um santo, outras vezes, um pecador — e, sempre que é um pecador, ele se identifica totalmente com o pecador. Só então ele pode ser um ator perfeito. Você pode perguntar por Veeten, e ele está aqui. Pode perguntar por Vijay Anand, Vinod — eles são meus sannyasins. Pouco a pouco, um bom ator vem a saber que tudo é atuação. “Então, quem sou eu?” Na vida comum você está identificado com uma coisa: se você é um médico, então é um médico de manhã, de tarde, de noite; por trinta, quarenta anos, você é um médico — você se fixa
  • 39. numa identidade. Isso também é um papel, mas como você nunca muda, acaba se fixando. Você se esquece; o papel se torna o seu ser. Quando uma pessoa tem que trocar muitas vezes de papel, ela se soltar relaxa. Pouco a pouco, surge a questão: Quem sou eu? Todos esses são papéis — então, quem sou eu? Quem é esse homem que às vezes se torna um pecador, outras vezes um santo? um dia faz o papel de um assassino, e noutro dia, o de um amante? Quem é esse homem? Quem é esse ser por trás de todas essas representações? Para mim, a profissão de ator é uma das mais espirituais que existem. E se você tomar a vida como uma representação, começará a ir em direção à espiritualidade. Tome a vida como uma representação, como um grande drama. O mundo é um enorme palco. Você é uma mãe — este é apenas um papel. Você é um pai — este é apenas um papel. Você é um homem de negócios — outro papel. Você é irmão de alguém — outro papel. Você é um filho, um marido — outros papéis... milhares de papéis, se você observar. E você vai mudando de caras. Quando seu empregado vem vê-lo, você tem uma cara. Quando seu chefe vem vê-lo, você tem outra cara. Observe, fique um pouco mais alerta, e verá que tem milhares de faces, mudando continuamente. É automático. Você não precisa fazer nada — elas mudam automaticamente e você vai ficando cada vez mais hábil. Quando compreende isso, você começa a ir para dentro, onde não há face alguma. Ótimo, Amida. Você vai fazer essa meditação todos os dias, por vinte minutos. Descubra novas maneiras de fazer caretas e posturas engraçadas — faça tudo o que puder. Isso lhe dará um grande alívio, e você começará a se olhar, não como um corpo, não como um rosto, mas como uma consciência. Isso ajudará muito. Bhagwan, eu me iluminei? Se ainda não, então quando? A iluminação não é um objeto para ser desejado, não é uma meta a ser alcançada. E você se iluminará somente quando tiver esquecido completamente esse assunto; do contrário, nunca. E essa não é uma pergunta para ser feita. Mesmo que eu dissesse que você se iluminou, isso não ajudaria. A própria pergunta mostra que você ainda está desejando. A iluminação tornou- se a sua ambição. Você pode ter desejado outras coisas antes — dinheiro, respeitabilidade, poder, prestígio; agora você está desejando a iluminação. O desejo tem um objeto diferente, mas não mudou. O desejo ainda é o mesmo, e o desejo é que é o problema. Desejar qualquer coisa é permanecer não-iluminado. Deixe-me contar uma anedota...
  • 40. O médico deu um tapinha nas costas do paciente do asilo e disse: “Muito bem, meu velho, você está completamente curado. Vá correndo escrever uma carta para sua família, contando que estará de volta em duas semanas, novinho em folha.” E o homem foi escrever a carta. Quando estava colando o selo, este escorregou de sua mão e foi cair em cima de uma barata que estava passando por ali. Perplexo, o paciente ficou observando o selo fazer ziguezagues pelo chão, subir na parede, dar a volta no armário e, por fim, entrar embaixo da porta. Depois de alguns instantes, o homem rasgou a carta. “Duas semanas?”, ele disse. “Não sairei daqui nem por mais duas vidas!” O selo é o seu desejo e, se você olhar atrás do desejo, encontrará a barata do seu ego. Se não olhar a barata atrás do selo, nem duas vidas resolverão. Você permanecerá não-iluminado. A iluminação não é algo que se tenha de alcançar. É a sua natureza; você tem apenas que se recordar. Olhe para os jogos de seu ego; são jogos sutis. Observe, apenas. Não faça nada; apenas veja como o ego vai criando ambições. E, uma vez vistos todos os jogos do ego. a barata morre, o ego desaparece e você está lá — tão iluminado como sempre esteve. A iluminação é a sua natureza. Não é algo a ser alcançado; ela já está aí. Bhagwan, qual é sua missão aqui? Qual a minha missão aqui? Era uma vez um sapo. Mas ele não era realmente um sapo; era um príncipe que foi transformado em sapo. Uma feiticeira malvada lançou-lhe um feitiço: somente o beijo de uma donzela poderia salvá-lo. Mas, desde quando meninas bonitas beijam sapos? E lá ficou ele, pobre príncipe em forma de sapo. Mas milagres acontecem. Um dia, uma linda donzela agarrou-o e deu-lhe um beijo estalado. Crash! Bum! Zap! E pronto, ali estava um belo príncipe. E vocês sabem o resto: eles viveram felizes para sempre... Então qual é a minha missão aqui? Dar beijos em sapos, é claro.
  • 41. 3 A abelha recebeu o seu convite I.20. man na rangaye kapada O Iogue tinge suas roupas, em vez de tingir sua mente com as cores do amor: Senta-se no interior do templo do Senhor, deixando Brama, para cultuar uma pedra. Fura as orelhas e usa uma longa barba e os cabelos emaranhados; parece-se com um bode: Parte para o deserto, matando todos os seus desejos, e torna-se um eunuco. Raspa a cabeça e tinge suas roupas; lê o Gita e torna-se um grande falador. Kabir diz: “Você está indo para as portas da morte, com as mãos e os pés amarrados.” III.102. ham se raha na jay Ouço a melodia da sua flauta, e não posso me conter: A flor desabrocha, apesar de não ser primavera e a abelha já recebeu o seu convite. Os trovões ribombam no céu e os raios lampejam, as ondas levantam-se em meu coração, A chuva cai, e meu coração anseia pelo meu Senhor. Onde o ritmo do mundo sobe e cai, lá chegou meu coração: Lá, as bandeiras ocultas drapejam no ar. Kabir diz: “Meu coração está morrendo, embora ele viva.”