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OSHO
ISTO ISTO
MIL VEZES ISTO
A Verdadeira Essência do Zen
UNIVERSALISMO
Sumário
Introdução
Nota ao leitor
Capítulo 1 — Zen — sua verdadeira essência
Capítulo 2 — Os bambus falam
Capítulo 3 — Isto... é todo o sermão
Capítulo 4 — A pulsação do universo
Capítulo 5 — A liberdade é o meu Deus
Capítulo 6 — O dedo apontado para o nada
Capítulo 7 — Por que ser um mendigo?
Capítulo 8 — Dançando loucamente da eternidade para a eternidade
Capítulo 9 — Uma selva de chamas
Capítulo 10 — Nada é tão ousado quanto o Zen
Capítulo 11 — Sem começo e sem fim
Capítulo 12 — Sua profundidade é infinita
Capítulo 13 — As cinco portas da sua casa
Capítulo 14 — O Zen é para ninguéns
Capítulo 15 — Todas as flechas convergem sobre isto
Apêndice: experiência dos meditadores
O Zen é muito individual, único,
uma categoria em si mesma.
É somente para as pessoas excêntricas,
para os muito inteligentes.
Não é para os medíocres,
para a multidão.
É somente para o indivíduo
que tem entranhas
para ficar de pé sozinho
e ouvir seu próprio ser
sem ficar incomodado
com o que os outros estão dizendo,
crendo,
ou adorando.
O Zen não é um esforço intelectual
para se compreender a realidade;
é uma abordagem intuitiva
para se mergulhar no mistério
da existência,
para abrir as suas asas e voar
como uma águia através do sol.
Em gratidão
amorosa
a Osho.
Discursos proferidos na
Osho International
University of Mysticism
no Gautama the Buddha Auditorium,
Puna, Índia,
de 27 de maio a 10 de junho de 1988.
Dedicado
aos bambus,
por seu
vazio interior.
Introdução
Foi um daqueles momentos com os quais os discípulos sonham, onde anos de
devoção ao mestre se cristalizam dentro de uma realidade nova, atemporal,
inesperada. Esta série foi um período tão incrível, tão único, tão impossivelmente
lindo, que as palavras parecem muito frágeis para descrevê-lo. Mas... de que
outro modo?
Osho está fazendo algo diferente aqui.
A meditação não é simplesmente um espaço onde a pessoa entra esperançosa,
mas uma paragem, um ponto onde a pessoa é conduzida. O mestre é
participante, estendendo a mão, entrando em nós como um guia e trazendo-nos
de volta — para dentro de nós mesmos.
Ele nos permite, com esses discursos, a experiência direta de relaxar (let-go)
dentro da meditação — não discursos sobre meditação, mas discursos em
meditação.
E Ele apresenta a — hoje famosa — meditação de três estágios: giberixe
(algaravia), silêncio penetrante e relaxamento (let-go), seguidos de música e
celebração. Explosão/implosão, exterior/interior, plenitude/vazio.
“Puro Zen”, diz Ele, aqui! Agora! Isto! ...
ISTO!
Até o tempo cooperou, com tempestades ruidosas, depois o silêncio. Os bambus
rangendo, depois o silêncio. Os cucos cantando, depois o silêncio. A dança da
vida, e nós como minúsculas flores devocionalmente abrindo-se à luz de Osho,
aos Seus olhos, atrás de enormes óculos escuros, cintilando como portas para
o divino.
Para o buscador sincero, esta série é um imperativo. O que aconteceu aqui
revolucionará o próprio significado da palavra “meditação”. Esta é uma linha
divisória entre o velho e o novo.
Swami Dhyan Yogi, M.D.
Nota ao leitor
Em abril de 1988, Osho introduziu um novo elemento nos Seus discursos diários.
Pela primeira vez, em mais de trinta e cinco anos, Sua audiência teve a
oportunidade de experienciar um processo de meditação específico, na Sua
presença, sob Sua orientação.
Durante um período de várias semanas, o processo evoluiu até sua presente
forma, e o texto de cada meditação da noite está incluído neste livro.
Cada estágio da meditação é precedido por um sinal de Osho para uma batida
de bumbo, que é representada no texto por este símbolo:
O primeiro estágio é o giberixe, que Osho descreve como “limpar a sua mente
de todas as espécies de poeira, falando qualquer língua que você não saiba,
jogando fora toda a sua loucura”. Durante alguns minutos, o salão permanecia
completamente ensandecido, à medida que milhares de pessoas gritavam,
berravam, balbuciavam absurdos e balançavam seus braços no ar.
O giberixe é representado no texto como se segue:
O segundo estágio é o período de se sentar em silêncio, de se reunir a energia
internamente. Osho, frequentemente, diz algumas palavras durante esse estágio
da meditação, para ajudar a aprofundar esse processo.
O terceiro estágio é o relaxamento (let-go), onde cada pessoa permite-se cair ao
chão “como morto”, nas palavras de Osho, “morrer para o mundo, morrer para o
corpo, morrer para a mente, e assim somente o eterno permanece em você”.
Uma batida final de bumbo sinaliza aos participantes para “voltarem à vida”,
guardando a experiência e lembrando-se dela, a fim de que ela possa
permanecer como uma subcorrente, vinte e quatro horas por dia.
1
Zen — sua verdadeira
essência
Maneesha,
Antes de iniciar uma nova série de discursos sobre o Zen — chamada Isto. Isto.
Mil Vezes Isto — quero devotar o dia de hoje à preparação das vindouras
historietas Zen, absurdas, contudo profundas; sem qualquer racionalidade, mas
ainda assim tão verídicas quanto a língua permite.
Estou usando óculos escuros à noite, por cortesia do Presidente Ronald Reagan.
Seu envenenamento criou muitos efeitos posteriores. Um deles é que meus
olhos se enfraqueceram imensamente; não podem nem encarar a luz do dia.
Mas, mesmo através dos óculos, sou perfeitamente capaz de ver vocês.
Nesta conexão, uma anedota:
Recebi o convite de um dos mais importantes promotores globais na eleição
presidencial dos Estados Unidos. Eles querem-me na corrida, para me
promover. Muito embora eu tenha sido proibido — ilegalmente,
inconstitucionalmente — de entrar nos Estados Unidos por dez anos, certamente
posso entrar na eleição presidencial. A lei não pode me proibir. Posso
permanecer fora dos Estados Unidos.
Disse ao promotor para ir em frente. Não importa vencer ou perder. O que
importa é que isto decidirá quantas pessoas inteligentes vivem nos Estados
Unidos, quantas têm senso de humor e quantas têm um sentido universal da
humanidade como um todo.
Se por acaso eu vencer a eleição, será realmente a maior gargalhada da História.
E será o começo de um novo dia. Sem dúvida espero que haja pessoas —
independente de partido, religião ou preconceito — que me apoiem apenas por
uma boa risada.
Minha luta contra a ilegalidade e o crime que foi cometido contra mim, minha
comuna e meu povo continua. Vocês ficarão surpresos ao saber que eles
continuavam retardando uma decisão na Suprema Corte do Oregon até me
expulsarem.
Estive nos Estados Unidos por cinco anos sem nenhum visto de entrada. Eles
não podiam me dizer para sair: sabiam que eu lutaria na Justiça. E todo
americano é um estrangeiro — os verdadeiros americanos foram mortos,
massacrados, obrigados a adentrarem as florestas, dentro de pequenas
reservas. Eles até mudaram seus nomes; são chamados de “Peles Vermelhas”.
Mesmo Ronald Reagan não é um americano; nem Abraham Lincoln era. Assim
sendo, não há nenhum problema: se outros estrangeiros podem ser escolhidos
para ser o presidente dos Estados Unidos, eu também sou elegível.
Após a minha deportação, a Suprema Corte do Oregon declarou minha comuna
vitoriosa, e a parte opositora no caso, os “Amigos do Oregon”, foi derrotada. Eles
apelaram à Suprema Corte dos Estados Unidos e ela também decidiu a meu
favor.
A destruição da comuna, minha expulsão e a de meu povo foram absolutamente
antidemocráticas e inconstitucionais. Isto prova um velho ditado de que “justiça
atrasada é justiça negada”. Ora, qual é a vantagem de ser vitorioso na Justiça,
na mais alta corte dos Estados Unidos, quando já tinham esmagado tudo,
destruído a comuna na qual cinco mil sannyasins trabalharam por cinco, dez
anos, doze horas por dia, para transformar um deserto em uma linda cidade?
Foi um grande experimento de fraternidade, de amor, de paz; nenhum crime,
nenhuma corte, nenhuma lei... E cinco mil pessoas criaram todas as estradas,
transformaram todo o deserto em um oásis. Não era um lugar pequeno, eram
trezentos e vinte quilômetros quadrados. Era quase um país.
Qual era o medo dos políticos norte-americanos? Era o medo da nossa
criatividade, da nossa alegria. Pela primeira vez na História do mundo, cinco mil
pessoas viveram como uma família. Ninguém perguntava o país de ninguém, a
religião, a casta ou a raça. Todo ano, vinte mil pessoas de todas as partes do
mundo costumavam vir ver esse milagre. Os políticos norte-americanos ficaram
perturbados pelo sucesso da comuna.
Tem havido uma grande quantidade de pesquisas, conduzidas por psicanalistas,
sobre pessoas excêntricas. Suas conclusões são muito reveladoras. Primeiro,
que as pessoas excêntricas são mais inteligentes, mais criativas, mais divertidas
que as massas medíocres comuns; as chamadas pessoas sãs não são tão
criativas. Em segundo lugar, em toda profissão a pessoa excêntrica se elevará
mais alto, devido à sua criatividade, sensibilidade, inteligência.
As pesquisas verificaram que a política é a única profissão onde — exceto
Abraham Lincoln — não tem havido uma pessoa excêntrica. É um achado
estranho. O político é muito esperto, não é inteligente. Ele substitui inteligência
por esperteza. Ele não é sábio, porque ser sábio neste mundo é ser condenado
pelas massas, e o político não pode se dar a esse luxo.
Mas todas as grandes pessoas — os poetas, os pintores, os escultores, os
cientistas, os místicos — foram excêntricas. Descobriu-se que as pessoas
excêntricas não se incomodam com as massas; são indivíduos mais íntegros.
Vivem de acordo com a própria luz, têm seu próprio estilo. Você pode condená-
los, mas não pode fazê-los comprometerem-se.
Essa pesquisa deu-me absoluta certeza sobre por que os políticos norte-
americanos ficaram tão perturbados por uma comuna que era divertida,
inteligente, que cantava com as árvores e dançava com os pavões. Eles ficaram
com medo, porque a comparação estava clara: a comuna estava caminhando na
direção da mais alta consciência, de mais vivacidade, mais alto que as massas
comuns, de todas as maneiras possíveis. Os políticos iam ser questionados: “Por
que isto não está acontecendo no mundo todo?” Se pode acontecer, numa
pequena comuna, de as pessoas viverem amorosamente, dançantes,
divertidamente, então, o que está faltando no mundo todo? Por que as pessoas
são tão miseráveis?
Assim como Jesus foi crucificado, meu povo e a comuna como um todo foram
crucificados. Nem mesmo a própria constituição pôde apoiar os atos dos
políticos. E uma vez que algo é perturbado, é muito difícil organizá-lo novamente.
Mas nós estamos fazendo o experimento novamente e estamos num estágio
muito mais bem-sucedido agora. Nosso povo está mais alegre, mais meditativo,
mais inteligente, descompromissado. Este é o encontro de pessoas excêntricas,
mas altamente inteligentes. Todo meu esforço é o de espalhar inteligência, amor,
liberdade... sem qualquer limite, sem quaisquer fronteiras, ao redor do globo. Isto
pode ser feito somente pelo indivíduo, não pelas religiões, pelos partidos
políticos, por quaisquer outras espécies de organizações, Tudo depende do
indivíduo erguer-se ao mais alto pico do seu ser e da sua potencialidade.
Estou lhes oferecendo uma nova meditação. Desde Gautama Buda, nem uma
única nova meditação foi desenvolvida. Esta meditação será o prefácio da série
vindoura sobre o Zen.
Zen significa sua verdadeira essência, seu verdadeiro ser.
Já falei sobre a meditação, e um grupo de pessoas a fez durante vinte e um dias,
mas todos vocês não foram participantes. No início desta série, seja um
participante nesta meditação denominada A Rosa Mística.
Ela tem quatro passos. Todos são destinados a um propósito específico: tirar do
seu ser todo o veneno que foi injetado por todas as gerações durante séculos. O
riso é o primeiro passo. Um dos maiores escritores, Norman Cousins, escreveu,
precisamente agora, sobre um experimento de toda a sua vida: se ele ri por vinte
minutos sem qualquer razão, todas as suas tensões desaparecem. Sua
consciência cresce, a poeira desaparece.
Vocês verão isto por si mesmos; se você pode rir sem qualquer razão, verá
alguma coisa reprimida dentro de você. Desde a infância, foi-lhe dito para não rir
— “Fique sério!”. Você tem de sair desse condicionamento repressivo.
O segundo passo são as lágrimas. As lágrimas foram reprimidas até mais
profundamente. Foi-nos dito que as lágrimas são um sintoma de fraqueza, mas
não são. As lágrimas podem não apenas lavar os seus olhos, mas seu coração
também. Elas o amaciam, são uma estratégia biológica para mantê-lo limpo,
mantê-lo descarregado. É agora um fato bem conhecido que as mulheres
enlouquecem menos que os homens. E a razão é que as mulheres podem chorar
e berrar mais facilmente que os homens. Até para uma criança é dito: “Seja um
homem, não chore como uma mulher!”
Mas, se você olhar para a psicologia do seu corpo, você tem as mesmas
glândulas cheias de lágrimas, seja você homem ou mulher. Descobriu-se que as
mulheres cometem menos suicídios que os homens. E naturalmente, nenhuma
mulher na História foi a causa da criação de religiões violentas, guerras,
massacres... Se todo mundo puder aprender a chorar e berrar novamente, será
uma tremenda transformação, uma metamorfose.
O terceiro passo é o silêncio. Chamei-o de “O Observador na Colina”. Fique tão
silencioso como se você estivesse sozinho no topo de um pico do Himalaia,
completamente silencioso e sozinho, apenas observando, ouvindo... sensitivo,
mas imóvel.
O quarto passo é o relaxamento.
A cada passo, Nivedano será solicitado a bater o seu bumbo. Ontem ele se
perdeu na meditação. Fiquei tentando duramente, mas ele estava metido demais
no próprio giberixe. E o que é o giberixe? Ele estava lutando com Mukta. Esses
são os dois lutadores daqui, Mukta e Nivedano. Mukta está lutando pelas
árvores; Nivedano está lutando pelas pedras.
Ele não ouviu; de repente ele parou... Hoje ele não tem permissão de participar.
É seu trabalho lembrar-se que quando eu digo “Bata o bumbo!”, bata-o! Caso
contrário, todos baterão em você! Concorda?
Certo!
Comecemos nosso primeiro passo da Meditação da Rosa Mística. Dê a batida,
Nivedano!
(Nivedano dá uma batida ressonante no seu bumbo e todo o Buddha Hall
explode em gargalhada selvagem durante vários minutos. Ao longo da
meditação, Osho parece estar tecendo e conduzindo comentes invisíveis
de energia com Suas mãos.)
Nivedano...
(Agora, o riso muda para choro.)
(Cai um silêncio total... nem um som, somente o cantar dos pássaros
noturnos e o ranger dos bambus.)
(Todos caem de costas no chão, tombados em desordem uns sobre os
outros, caindo em qualquer lugar, estendendo-se imóveis em profundo
“let-go”.)
Relaxem...
É isto...
A experiência...
e os bambus fazem o comentário.
Nivedano...
(Todos sentam-se silenciosamente. Alguns momentos de um silêncio tão
delicado...)
Ok, Maneesha?
Sim, Osho.
2
Os bambus falam
Amado Osho,
Quando Seppo estava vivendo no seu eremitério, dois monges vieram
prestar-lhe seus respeitos.
Assim que Seppo os viu chegando, ele abriu o portão e, apresentando-se
diante deles, disse-lhes: “O que é isto?”
Os monges também disseram: “O que é isto?”
Seppo abaixou a cabeça e voltou ao seu bangalô.
Mais tarde, os monges foram a Ganto, que perguntou: “De onde vocês
vêm?”
Os monges responderam; “Viemos do sul das montanhas Nanrei”.
Ganto disse: “Já viram Seppo?”
Os monges responderam: “Sim, já o vimos”.
Ganto disse: “O que ele disse a vocês?”
Os monges relataram a história toda.
Ganto disse: “Ora! Lamento que não lhe tenha dito a última palavra
quando estive com ele. Se tivesse feito isto, ninguém em todo o mundo
poderia ter pretendido sobrepujá-lo”.
Ao fim da assembléia de verão, os monges repetiram a história e pediram
pelas instruções de Ganto.
Ganto perguntou: “Por que não pediram mais cedo?”
Os monges responderam: “Temos tido momentos duros lutando com esse
tópico”.
Ganto disse: “Seppo veio à vida do mesmo modo que eu vim, mas ele não
morre do mesmo modo que eu. Se vocês querem saber a última palavra,
eu lhes direi simplesmente: ‘Isto! Isto!’.”
Maneesha, estou imensamente agradecido por você ter-me lembrado de Seppo.
Sempre quis trazer Seppo para vocês, porque ele é um dos mais preciosos
budas que já andou sobre a Terra. Ele era único no seu jeito próprio; nos seus
ensinamentos, as palavras não eram importantes, mas somente o “isto”, o
completo silêncio da existência. O chilrear dos pássaros são as únicas sagradas
escrituras no mundo. E os comentários dos bambus são realmente honestos,
sinceros e precisos.
Seppo teria adorado esta assembléia, este momento de espera silenciosa. Ele
não era tão afortunado quanto eu. Ele teve muito poucos discípulos, mas isto foi
muito injusto por parte da existência. Seppo deveria ter tido o mundo inteiro como
seu discípulo, porque o que ele está oferecendo é a suprema essência.
(O chilrear dos pássaros corre através do silêncio do Buddha Hall.)
Isto era Seppo.
Todos juntaram-se aqui.
Esta história torna claro o método de ensinamento de Seppo:
Quando Seppo estava vivendo no seu eremitério, dois monges vieram
prestar-lhe seus respeitos.
Assim que Seppo os viu chegando, abriu o portão e, apresentando-se
diante deles, disse-lhes: “O que é isto?”
Os monges devem ter ficado perplexos. Na verdade, Seppo abrir o portão,
parando diante deles, era uma pergunta a ser feita por eles. Mas, antes de terem
dito qualquer coisa, o próprio Seppo, sem ser indagado, perguntou: “O que é
isto?”
Em completa confusão, aqueles dois monges disseram a Seppo: “O que é isto?
Nós nem mesmo perguntamos, nem mesmo entramos pelo portão, nem mesmo
lhe cumprimentamos e você abre o portão e, parando diante de nós,
irracionalmente, pergunta ‘o que é isto?’ Na verdade, nós lhe perguntamos sobre
o seu comportamento: ‘O que é isto?’”
Eles perderam o ponto.
Seppo abaixou a cabeça e voltou ao seu bangalô.
Esse abaixar de cabeça do mestre é uma profunda tristeza em relação à
incompreensão que esses dois monges mostraram. E ele voltou ao seu bangalô,
porque não havia motivo para dizer mais nada. Ele já tinha dito mais do que é
absolutamente essencial. Isto fica claro que ele já tinha dito mais.
Mais tarde, os monges foram a Ganto, que perguntou: “De onde vocês
vêm?”
Ganto era mestre de Seppo.
Os monges responderam: “Viemos do sul das montanhas Nanrei”.
Ganto disse: “Já viram Seppo?”
Os monges responderam: “Sim, já o vimos”.
Ganto disse: “O que ele disse a vocês?”
Os monges relataram a história toda.
Ganto disse: “Ora! Lamento que não lhe tenha dito a última palavra
quando estive com ele. Se tivesse feito isto, ninguém em todo o mundo
poderia ter pretendido sobrepujá-lo”.
Ao fim da assembléia de verão, os monges repetiram a história e pediram
pelas instruções de Ganto.
Ganto perguntou: “Por que não pediram mais cedo?”
Os monges responderam: “Temos tido momentos duros lutando com esse
tópico”.
Ganto disse: “Seppo veio à vida do mesmo modo que eu vim, mas ele não
morre do mesmo modo que eu. Se vocês querem saber a última palavra,
eu lhes direi simplesmente: ‘Isto! Isto!’.”
Ganto está dizendo que perguntar “O que é isto?”, não é exatamente correto. A
existência não pode ser questionada, ela não pode ser um “o que”. Ela
simplesmente é, sem nenhuma pergunta e sem nenhuma resposta.
Simplesmente “isto”.
Essa pequena historieta convergindo na menor palavra possível, “isto”, lhes dá
a verdadeira essência da religiosidade — o seu mistério, a sua beleza, a sua
verdade. Você não pode responder e não pode perguntar, tem simplesmente de
viver; viver o isto, nas palavras de Gautama Buda, tathata, estado-de-exatidão,
é o todo da consciência religiosa.
Simplesmente viva a totalidade deste momento, sem oscilar; nem pensando no
passado, que não existe mais; nem projetando sobre o futuro, que ainda não
existe.
Tudo o que você tem é a pureza do isto, este momento.
E a glória e o êxtase não podem ser mais elevados, não podem ser mais
profundos, se você puder compreender a simples experiência disto.
O comentário de Setcho sobre isto:
A última palavra, deixe-me dizer-lhes: Luz e escuridão
entre mesclam-se.
Vivendo do mesmo modo, todos vocês sabem:
Morrendo de modos diferentes: além do dizível!
Absolutamente além do dizível!
Buda e Dharma apenas inclinam a cabeça (...)
Buda e Bodhidharma — Dharma é uma forma reduzida de Bodhidharma.
Buda e Dharma apenas inclinam a cabeça um para o outro.
Eles nem mesmo pronunciam a palavra mais simples: isto.
Simplesmente inclinam-se. No inclinar da cabeça, está dito tudo o dizível, o
indizível. No inclinar de cabeças, todo o mistério da existência.
Este, Oeste, Norte, Sul —
para casa, vamos nós. Tarde da noite,
vendo a neve sobre milhares de picos.
Como eu lhes disse antes, Setcho é um grande intelectual, mas ele não é um
iluminado. Uma vez ou outra, ele faz um comentário lindo, mas sai de sua cabeça
em vez de sair do seu ser. Ele não é enumerado na longa lista de budas.
Permanece somente um comentador. E um comentador, embora grande, está
simplesmente repetindo, parafraseando a experiência que não é dele próprio.
Não quero que vocês sejam comentadores.
Quero que vocês estejam no próprio centro da existência, de seu ser.
Este é o único modo de se compreender esse tremendo mistério que os circunda.
Uma outra história...
Seppo também é conhecido como Hsueh-Feng. Seppo uma vez falou de
um incidente que contribuiu para seu despertar:
“Quando perguntei ao mestre Tokusan se eu poderia partilhar a
experiência que os velhos mestres conheciam, ele me golpeou, e eu fiquei
como um balde cujo fundo tivesse caído.
Gamo proferiu um “Oh!” de advertência e perguntou:
“Você não sabe que o que vem de fora não é tão bom quanto o que é
produzido dentro? Se você estiver revelando sua experiência do Ch’an,
ou Zen ou Dhyan, tudo o que você disser ou fizer fluirá diretamente do
centro do seu ser mais recôndito, que em retorno abraçaria e penetraria o
universo inteiro”.
Após ouvir isto, Seppo subitamente ficou iluminado e fez uma profunda
reverência para Ganto.
Essas lindas histórias e essas pessoas lindas quase desapareceram do mundo.
Não eram de plástico, nem eram imitação. Eram completamente inocentes,
autênticas. Quero que o meu povo traga de volta aqueles momentos de ouro que
desapareceram do mundo.
Há uma história sobre um dos discípulos de Seppo chamado Tozan:
Quando ele foi a Seppo pela primeira vez, mal ele entrou pelo portão,
Seppo empurrou-o de volta e disse: “O que é isto?”
E Tozan ficou iluminado imediatamente.
Esquecendo de si mesmo, ele apenas ergueu as mãos e começou a
dançar. Seno perguntou: “Você está se comportando racionalmente?”
Tozan respondeu: “O que isto tem a ver com racionalidade?”
Seppo bateu-lhe nas costas e confirmou sua iluminação.
Uma dança pode dizer muito mais que qualquer filosofia. Um simples grito, “Oh!”,
pode trazê-lo a este momento. Qualquer coisa que possa trazê-lo para casa é a
única religião que eu conheço. As chamadas religiões do mundo estão
simplesmente enganando e explorando as pessoas. As pessoas têm de ser
acordadas!
O Zen tornou-se o meu amor maior, pela simples razão de que ele não cria
nenhuma teologia. Não se importa com Deus. Porque Deus é sempre aquele,
Deus está sempre lá. E o real interesse é isto, não aquilo. Aqui, não lá. Agora,
não então.
Um dia Seppo estava cortando árvores com Chosei e lhe disse:
“Quando cortar, corte até o coração. Então pare”.
Chosei disse: “Cortei e acabei”.
Seppo disse: “Mestres formais transmitiram a verdade de mente para
mente. Você diria realmente que cortou e acabou?”
Chosei respondeu: “Atirando o machado no chão, está transmitido”.
Seppo golpeou-o com seu bastão.
É a partir de tremendo amor e grande compaixão que um mestre Zen sempre
golpeia alguém. Esta é uma linguagem diferente do que dizer que você
conseguiu, que está iluminado.
Um bastão de mestre é esperado pelo discípulo durante anos, porque ele lhe
baterá se souber que sua pancada vai acordá-lo; ou lhe baterá somente quando
você estiver acordado, como recompensa. No mundo moderno isto não será
compreendido. Quando, pela primeira vez, as histórias Zen foram traduzidas,
todo mundo pensou que era alguma espécie de piada.
Não são piadas. Mas como foram traduzidas primeiramente pelos missionários
cristãos, era apenas para mostrar ao mundo: “Olhem para a grandeza do
Cristianismo e olhem para essa gente primitiva pensando que é iluminada”. Mas
a coisa toda fracassou. Essas histórias foram traduzidas pelos missionários
cristãos para provar a superioridade do Cristianismo.
Mas, na verdade, essas histórias — se compreendidas, experienciadas —
simplesmente provam que não pode haver nada superior a elas. Sua completa
inocência... olhe apenas para o discípulo dançando. Porque ele conseguiu! Olhe
apenas para o mestre batendo no discípulo como uma recompensa.
Isto só é possível nas verdadeiras alturas da consciência.
O homem progrediu tecnologicamente, cientificamente, mas se esqueceu da
linguagem do seu próprio ser. Há progresso em artefatos, mas o homem está
completamente perdido.
Quero lembrar-lhes que a sua primeira tarefa na vida é ser completamente,
inteiramente, consciente de si mesmo. Porque, sem ser totalmente consciente,
você jamais saberá da beleza e do esplendor desta existência que o circunda.
Você jamais saberá do seu nascimento, da sua morte. Você jamais saberá
realmente que viveu.
Sem ser conscientes, todos vocês são sonâmbulos, andando adormecidos,
falando adormecidos. E vocês se tornaram tão acostumados ao seu sono que
podem até fazer coisas complicadas enquanto estão completamente
adormecidos. Podem ser eficientes fazendo certos trabalhos, enquanto
ressonam dentro do seu ser.
O mundo todo pensa que acorda de manhã e, à noite, vai dormir novamente. Isto
é um completo absurdo. Uma vez acordado, você jamais vai dormir. Assim, o
acordar pela manhã é falso, muito superficial. Você tem de aprender o autêntico
acordar.
Seppo estava se despedindo de Tozan, que lhe perguntou:
“Aonde você vai?”
Seppo respondeu: “Estou voltando para Reichu”.
“Naquele tempo, por que estrada você veio?”, perguntou Tozan.
“Por Hienrei”, respondeu Seppo.
“E por que estrada você vai voltar?”, perguntou Tozan.
“Pela mesma estrada”, respondeu Seppo.
“Você já percebeu que quem nunca parte é Hienrei, a estrada?”
As pessoas vêm e vão, as estradas permanecem.
Tozan está lembrando a Seppo: “Não seja um vai-e-vem, mas seja um que
permanece. Não há nenhum lugar para se ir, você já está lá. Apenas perceba
isto”.
Seppo disse: “Eu não conheço aquele que permanece”.
“Por que não?”, perguntou Tozan.
“Porque aquele não tem personalidade”, respondeu Seppo.
Tozan disse: “Você diz que não conhece aquele.
Se é assim, como você sabe que aquele não tem personalidade?”
Esses diálogos são totalmente diferentes dos diálogos de Sócrates e Platão —
diálogos lindos, muito racionais! Mas esses diálogos são simplesmente de um
outro mundo, de uma outra consciência.
Tozan é um grande mestre, um velho mestre. Embora Seppo tenha
compreendido, seja um iluminado... Mas apenas ser iluminado não é o bastante.
Há muitas dimensões da iluminação. Tozan está tentando apanhar Seppo para
entrar numa outra dimensão. Ele conhece o é, ele conhece o isto, mas não está
consciente.
Essa consciência não tem nenhuma personalidade. Ainda assim, ela é, não há
nenhum limite para ela. O é é oceânico, não tem nenhuma fronteira.
É tão lindo simplesmente ouvir pessoas iluminadas arrumando artimanhas entre
si, para dentro de novas dimensões do ser!
Maneesha perguntou:
Amado Osho,
Isto é realmente tão fácil?
Maneesha, “fácil” não é a palavra, porque ela traz a idéia de dificuldade. Embora
fácil, ela é ainda difícil. Embora perto, ainda está longe. Seu ser não é nem difícil,
nem fácil, ele simplesmente é. Ele não é uma conquista sua, você é ele.
Maneesha fez outra pergunta:
Ganto parece estar dizendo que Seppo se tornou iluminado, veio à vida,
do mesmo modo que ele. É verdade que a realização da iluminação é a
mesma para todos?
A suprema experiência é certamente a mesma. Mas os caminhos são milhões.
Alguém vem do norte e alguém vem do sul. Um rio vem do Himalaia, um outro
rio vem de outras montanhas. Mas todos eles, grandes ou pequenos, alcançam
o mesmo oceano.
A suprema experiência é a mesma, mas as pessoas diferem na sua
singularidade. Desse modo, seus caminhos de revelarem-se para si mesmas são
diferentes. Todos nascem do mesmo modo, mas todos não morrem do mesmo
modo.
O nascimento não está nas suas mãos. Quando você acorda, você já nasceu.
Não é uma questão para você decidir, nascer ou não nascer. Mas a morte é um
caso diferente. Você pode morrer inconscientemente, pode morrer
conscientemente, pode morrer alegremente, pode morrer como se estivesse
dançando. Você pode fazer uma piada da própria morte. O nascimento é o
mesmo, mas a morte tem de ser única.
Mas a maioria das pessoas nasce do mesmo modo e morre do mesmo modo:
inconscientes. Mas, lembre-se, se nascimento e morte — os dois extremos —
são inconscientes, então, aquilo que está no meio — a vida — não pode ser
consciente. É um longo sono do berço ao cemitério.
Muito poucos são afortunados o bastante para alcançarem seus túmulos com
conhecimento, conscientemente. E no momento em que uma pessoa alcança a
própria morte conscientemente, não há morte, absolutamente.
A morte existe somente para pessoas inconscientes. Para a pessoa consciente,
a morte é apenas uma mudança de tempo e espaço, uma mudança de forma.
Mas a essência permanece a mesma.
Seppo deixou-nos sérios... Um pouco de risada antes de entrarmos na
meditação.
Bárbara Peituda está para ser submetida a uma operação redutora. Foi
preparada e conduzida numa cadeira de rodas, ao longo do corredor, até a porta
da sala de cirurgia, onde a enfermeira a deixou para checar se a equipe de
assistentes estava pronta.
A enfermeira tinha acabado de deixá-la, quando um jovem de avental branco
aproximou-se da maca. Levantando o lençol, começou a examinar o corpo nu de
Bárbara, muito cuidadosamente. Inclina a cabeça reflexivamente e vai embora.
Então, chega um segundo homem de avental branco, levanta o lençol e a
examina também.
Mas quando um terceiro homem, similarmente vestido, chega e faz o mesmo,
Bárbara fica impaciente:
“Está tudo muito bem examinarem-me”, diz ela irritada, “mas quando vão
começar a operação?”
“Não tenho a menor idéia”, responde o homem, “estamos pintando o corredor.”
*
Doutor Apertafundo, o médico da Casa Branca, está fazendo o minucioso exame
médico anual no presidente e na primeira-dama. O médico examina Ronald
Reagan primeiro, e encontra-o em boa saúde para um homem nas condições
dele.
“E como se sente?”, pergunta Apertafundo.
“Ótimo!”, responde Reagan. “A vida é tão boa que até mesmo quando vou ao
banheiro à noite, Deus apaga a luz para mim.”
O Doutor Apertafundo fica perplexo, mas não diz nada, e começa a examinar
Nancy Reagan. Quando termina, ele pergunta a ela:
“Diga-me uma coisa: é verdade mesmo essa história de Deus apagar a luz para
Ronald Reagan à noite?”
“Oh! Não!”, diz Nancy, “ele está simplesmente mijando na geladeira de novo.”
*
Jacó Pataca, um diretor ativo de meia-idade, é um daqueles que acredita muito
na eficiência. Certo dia, ele pendura um lembrete no escritório central, onde se
lê: “FAÇA-O AGORA!”
Poucas horas depois, o caixa desaparece com o conteúdo do cofre da
companhia; a secretária de Jacó foge com seu filho mais velho; a maior parte
dos funcionários tira o dia de folga; o contínuo joga um vidro de tinta vermelha
dentro do ar condicionado, e então pega o primeiro avião para Puna.
Ele deve estar aqui em algum lugar...
Agora é hora de fazermos a pequena meditação diária.
Nivedano...
Comecem a giberixar...
Nivedano...
Fiquem silenciosos, absolutamente silenciosos.
Reúnam suas energias dentro de si mesmos.
Isto é o que Seppo quer dizer por “Isto”.
Isto... os bambus, como de costume,
estão fazendo seus comentários.
Nivedano...
Relaxem...
Isto... até os bambus ficarem silenciosos.
Nivedano...
Voltem.
Ok Maneesha?
Sim, Osho.
3
Isto... é todo o sermão
Amado Osho,
Hyakujo tinha um modo singular de guiar os monges. De manhã até a
noite, ele permanecia dizendo:
“Trabalhem para mim no campo e eu lhes darei o ensinamento”. Desse
modo, ele fez seus discípulos trabalharem no campo o tempo todo; mas
ele não parecia estar preparado para fazer quaisquer discursos ou
sermões.
Finalmente, os monges, incapazes de aguentarem aquilo por mais tempo,
foram ao mestre e perguntaram:
“Você poderia, por favor, ter a bondade de nos fazer um sermão
edificante?”
A resposta decidida do mestre foi:
“Trabalhem para mim no campo e eu lhes ensinarei”.
Passaram-se vários dias, e os monges impacientes foram ao mestre
novamente e insistiram: “Por favor, faça-nos um sermão!...”
Desta vez, ele muito prontamente concordou.
Pouco depois, todos os monges estavam reunidos no saguão.
O mestre apareceu diante deles com tranquilidade,
subiu ao púlpito,
abriu os braços e,
sem uma palavra sequer,
imediatamente retornou ao seu quarto.
Certo dia, Nansen estava trabalhando nas montanhas, com uma foice.
Um monge subiu o caminho da montanha e perguntou, sem saber com
quem estava falando:
“Como posso chegar ao mestre Nansen?”
O mestre ergueu sua foice diante do monge e disse: “Paguei trinta
centavos por esta foice”.
O monge retrucou: “Eu não perguntei nada sobre a foice”.
“O que, então”, “indagou o mestre, “você perguntou?”
O monge repetiu: “Como posso chegar ao mestre Nansen?”
O mestre disse: “Oh! Sim! Isto corta bem!”
Maneesha, esta atitude de Hyakujo é o maior sermão proferido em toda a história
do misticismo. Simplesmente para preparar o seu povo, ele costumava dizer: “Vá
e trabalhe no campo”. Você não pode trabalhar com as árvores e com a grama
e com as rosas por muito tempo, sem se tornar tão silencioso como elas.
As pessoas que vivem com a natureza, naturalmente, encontram uma
sincronicidade entre elas, os rios e as montanhas; ficam mais perto da terra e da
sua pulsação.
Hyakujo tentou primeiro trazer o discípulo para perto da natureza, para perto do
silêncio. A menos que ele esteja preparado, o grande sermão não pode ser
proferido. Um grande sermão precisa de grandes discípulos, e um grande
discípulo é exatamente aquele que é silencioso.
Antes de eu entrar nessa linda história de Hyakujo, gostaria de contar-lhes
alguma coisa sobre um mestre contemporâneo, George Gurdjieff. Ele costumava
usar — sem conhecer Hyakujo — o mesmo método; e as pessoas que vinham a
ele eram muito diferentes das pessoas que iam a Hyakujo.
Gurdjieff estava trabalhando no Ocidente. Intelectuais chegavam até ele e
Gurdjieff lhes pedia que cavassem um fosso no campo. Mas eles diziam: “Nós
viemos aqui aprender algo, não para cavar um fosso!”
Gurdjieff era muito duro. Ele dizia: “Primeiro faça o que digo, se quer ouvir a
resposta”.
Bennet chegou a Gurdjieff em uma situação particular: altamente educado, culto,
e a resposta para ele foi a mesma. Ele tinha vindo para perguntar sobre Deus e
o significado da vida. Gurdjieff disse-lhe: “No momento, abandone essas coisas.
Simplesmente vá e cave um fosso no campo”.
Bennet hesitou por um instante, mas, então, pensou: “Vim de tão longe! Vamos
ver o que acontece. O que vou perder?” Começou a cavar o fosso. Gurdjieff se
aproximou com seu charuto, observou-o cavando e disse-lhe: “Antes do pôr-do-
sol esta área marcada tem de estar preparada”.
O pôr-do-sol chegou, Bennet estava completamente cansado, um intelectual que
jamais havia trabalhado, e especialmente esse tipo de trabalho! E, vendo o sol
se pôr, sentiu um grande alívio... “Agora, pelo menos, Gurdjieff começará a ter
comigo o diálogo pelo qual eu vim até aqui.” Gurdjieff estava andando bem ao
lado, observando o tempo todo.
Então Bennet disse: “O fosso está pronto”.
Gurdjieff disse: “Agora, encha de novo o fosso completamente, devolva-o ao seu
estado natural, jogue todo o barro de volta ao seu lugar”.
Bennet estava muito cansado, mas ele era, também, um homem de integridade.
Disse: “Vamos ver o que acontece...”
Sem comida, sem descanso, nem mesmo um intervalo para o cafezinho, ele
encheu o fosso novamente. Já era quase meia-noite e Gurdjieff permanecia de
pé o tempo todo, apenas observando e fumando seu charuto. A lua estava cheia,
no pico mais alto da noite. Havia um silêncio lindo e Bennet se lembra: “Estava
tão cansado... Não sei de onde, um tremendo silêncio baixou sobre mim”. Na
sua autobiografia ele diz: “Eu estava simplesmente assombrado”.
Gurdjieff riu e disse: “Ouviu?... Agora, vá e descanse”.
Mas o que foi dito? Nada foi dito. A questão não é que o mestre deve dizer
alguma coisa. A questão é que o discípulo deve estar bem silencioso... E ele
estava silencioso, porque estava tão cansado que não podia nem mesmo
pensar, a mente ficara completamente vazia. Nesse silêncio, não há nenhuma
necessidade de o mestre dizer qualquer coisa, ele pode simplesmente indicá-la
como o ISTO, e o sermão acabou.
Mas Hyakujo vai até mais além que Gurdjieff. Ele nem mesmo dizia “Isto”. Ele
forçava seus discípulos a trabalhar até o máximo, até que suas energias fossem
completamente absorvidas pelo trabalho e a mente não tivesse mais nada,
nenhuma energia, para manter sua tagarelice. Os discípulos vinham sempre
muitas vezes a ele, mas ele repetiria simplesmente: “Vá e trabalhe no campo”.
Mas, certo dia, aqueles que tinham permanecido com esse homem esquisito,
que não ensina nada, que simplesmente diz “volte ao campo e trabalhe tão
duramente quanto possível”... E ele era conhecido como um dos grandes
mestres que sabem o segredo. Muitos vinham, mas somente alguns
permaneciam. Ele era um homem difícil.
Quando sobraram somente aqueles poucos que tinham se tornado silenciosos
com o trabalho nos campos, aqueles que tinham chegado a uma profunda
harmonia com a natureza, aqueles cujas mentes tinham sossegado, então ele
aceitou o convite.
Desta vez, depois de muitos esforços dos discípulos para convidar o mestre e
receber a mesma resposta, “volte e trabalhe no campo”, desta vez, quando eles
vieram e pediram: “Por favor, faça-nos um sermão!,
ele muito prontamente concordou que assim fosse.
Pouco depois, todos os monges estavam reunidos no saguão. O mestre
apareceu diante deles com tranquilidade, subiu ao púlpito, abriu ambos
os braços e, sem uma palavra sequer, imediatamente retornou ao seu
quarto.
Esse é conhecido, na história do Zen, como o maior sermão. E é, porque ele não
disse nada e ainda assim disse tudo. Aquelas duas mãos, abertas como asas de
pássaros, abriram o céu inteiro aos discípulos silenciosos. Uma transmissão sem
palavras.
Nós nos acostumamos demais às palavras, nada sabemos da beleza da
ausência de palavras. Até mesmo quando vê uma linda rosa, imediatamente sua
mente diz: “Que linda!”, e você perdeu. Se você tivesse simplesmente visto a
rosa e absorvido sua beleza, sentindo-a no seu coração sem pronunciar sequer
uma única palavra de apreciação, você teria ficado iluminado.
Até uma rosa poderia ter funcionado como um grande mestre para você.
A questão não é que você não saiba; a questão é: você está muito cheio de
giberixe, você sabe demais. Devido ao seu conhecimento tomado emprestado e
as palavras demais movendo-se dentro de si, você não pode ver a beleza da
ausência de palavras, que somente pode ser experienciada no silêncio. Ouçam
os bambus... e vocês descobrirão o que Hyakujo disse sem dizê-lo.
O Zen não é um esforço intelectual para compreender a realidade. É uma
abordagem intuitiva para se mergulhar no mistério da existência, para abrir as
suas asas e fazê-lo voar como uma águia através do sol.
A língua é um fenômeno muito pequeno. As estrelas não falam, nem as flores,
mas ainda assim expressam-se, transmitem seu próprio ser sem nenhuma
linguagem. O Zen é apenas uma flor silvestre, espalhando sua fragrância a quem
quer que possa interessar. Aqueles que têm sensibilidade compreenderão isto.
Nada está sendo dito e tudo é compreendido. Simplesmente inunde-se no “isto”
da coisa, o tremendo silêncio do momento, e você se sentirá livre da mente. E
esta é a única liberdade, “a primeira e a última liberdade”, liberdade da mente.
É a sua própria mente que está encobrindo o seu ser como uma gaiola. Uma vez
que a mente é deixada para trás e você é apenas um observador, bem distante,
subitamente as portas de todos os mistérios se abrem.
O Zen não fala sobre Deus, ele lhe dá Deus; ele não fala sobre o paraíso, ele o
empurra para dentro do paraíso.
Maneesha perguntou:
Amado Osho,
Por alguns minutos giberixar sons absurdos; alguns minutos mais de
silêncio; e, então, apenas relaxar totalmente. Essa meditação, ou esse
exercício simples, deixa-me num tal estado de alegria irracional, deliciosa,
que por vários momentos me sinto completamente satisfeita,
absolutamente feliz de ser eu mesma como sou, em um mundo
exatamente como ele é. Isto é o que a maioria das pessoas persegue
durante toda a vida.
Presumivelmente, é por isto que as pessoas tomam drogas, têm casos de
amor, casam-se e têm filhos; apenas por isto, que nós, os renegados,
experienciamos aos pés do homem mais perigoso do mundo. Alguma
coisa a dizer?
(Osho abre ambos os braços e permanece silencioso.)
Lembre-se das duas mãos de Hyakujo.
Nada a dizer.
O silêncio de vocês é bastante em si mesmo. Ele não precisa de nada mais. É
mais do que você poderia ter alguma vez sonhado.
A segunda história que Maneesha trouxe...
Certo dia, Nansen estava trabalhando na montanha com uma foice.
Nansen era um dos grandes. Eu o coloco junto com Gautama Buda,
Mahakashyap, Bodhidharma, Joshu, Hyakujo... Tem havido milhares de
mestres, mas, ainda assim, Nansen se sobressai com sua beleza própria, sua
singularidade. Ele se tornou tão conhecido pelas pessoas, que a própria
montanha, onde ele tinha um pequeno bangalô, agora é chamada de Monte
Nansen.
Certo dia, Nansen estava trabalhando na montanha, com uma foice.
Um monge subiu o caminho da montanha e perguntou, sem saber com
quem estava falando:
“Como posso chegar ao mestre Nansen?”
O mestre ergueu sua foice diante do monge e disse:
“Paguei trinta centavos por esta foice”.
O monge retrucou:
Eu não perguntei nada sobre a foice”.
“O que, então”, indagou o mestre, “você perguntou?”
O monge repetiu: “Como posso chegar ao mestre Nansen?”
O mestre disse: “Oh! Sim! Isto corta bem!”
Vocês vêem o esforço de trazer o monge para o presente. Não importa o que
seja, pode ser a foice, neste momento Nansen está tentando trazer o monge, o
estranho, ao momento presente. Mas o monge continua perguntando por algo
distante.
O Zen não é uma filosofia para coisas distantes, ele é uma abordagem muito
realística para o presente, e todos os meios e métodos estão sendo usados para
trazer os buscadores para o momento. Comumente, intelectualmente, a história
parecerá absurda, eis por que pessoas como Nansen e Hyakujo desapareceram
do mundo. Nós nos tornamos muito intelectuais e eles eram não-intelectuais,
inocentes, tremendamente presentes, integrados, mas sempre aqui. Você não
pode empurrá-los para nenhum outro lugar. Você não pode tirá-los dos seus
momentos.
Ora, Nansen está trabalhando com a foice, você não pode fazê-lo falar acerca
de mais nada além disto, nem sequer sobre ele mesmo.
Espero que vocês compreendam o ponto. O monge perdeu. É fácil perder o Zen.
É tão óbvio que se você simplesmente não der partida à sua mente apenas por
um momento, ele está em suas mãos. Não é nem difícil, nem é simples. É apenas
a situação, é o seu próprio ser.
Você pode estar familiarizado com ele, ou não; ele está presente, exatamente
como sua sombra. Mas a sombra é o exterior; seu ser é o seu centro interior. E,
exceto estar presente, aqui e agora, não há nenhum jeito de alcançá-lo. Este é
o único caminho que conduz ao si-mesmo.
Maneesha está perguntando novamente:
Amado Osho,
Você fala tão altivamente dos mestres Zen, de seus métodos engenhosos
e ainda assim simples; e da inocência da espécie de pessoa que poderia
tornar-se realizada através deles!... Contudo, mesmo quando O vejo como
um mestre Zen, eu não poderia dizer que a Sua abordagem tem a
característica da deles. É assim porque a espécie de pessoa que Você
tem é muito cerebral, é tão fora de contato com a inocência e a
espontaneidade, ou é assim porque Você tem uma compreensão
diferente do que é mais efetivo... ou ambos?
Maneesha...
(Osho abre os braços)
...ambos. Eu próprio sou uma categoria em si mesma. Não ficarei em nenhuma
fila, nem mesmo com Gautama Buda. Amo minha solitude, minha
espontaneidade própria. Isto faz uma diferença.
Em segundo lugar, as pessoas com quem estou são totalmente diferentes das
pessoas com as quais os mestres Zen tinham de lidar. Os mestres Zen, se
presentes aqui, pareceriam simplesmente insanos para vocês. Estou tentando
tornar a insanidade deles tão sã quanto possível, a fim de que vocês possam
compreender.
Vocês são diferentes, estão mais na cabeça do que as pessoas com as quais os
mestres Zen lidavam. Assim, meu esforço é de, primeiro, levá-los ao coração e,
somente então, posso ter um diálogo silencioso com vocês. Tenho de falar para
criar silêncio em vocês. É um jeito muito contraditório.
Mas antes de vocês caírem num silêncio mais profundo, palpitantes de alegria,
paz, o contentamento de que Maneesha esteve falando, o qual não é somente
experiência dela, pois é a experiência da maioria do meu povo aqui e ao redor
do mundo, os bambus também ficarão felizes de ouvir vocês rirem um pouco.
Simão está debruçado sobre o balcão de um barzinho quando entra Pedro com
um olho roxo.
“Ei, Pedro!”, diz Simão. “Que olho roxo bonito que você tem aí, cara! Quem bateu
em você?”
“Pra dizer a verdade”, diz Pedro, depois de pedir uma cerveja, “Fernando Reles
me bateu.”
“Meu Deus!”, diz Simão. “Com o quê?!”
“Bem... pra dizer a verdade”, responde Pedro, “ele tinha um pedaço de madeira
nas mãos dele.”
“E suponho”, observou Simão, “que você não tinha nada na sua mão.”
“Pra dizer a verdade”, diz Pedro, bebericando sua cerveja, “eu estava com as
minhas mãos nos peitos da Cátia Reles, um objeto de grande beleza... mas inútil
numa briga!”
*
Certo dia, um polaco entra no escritório administrativo do circo e diz:
“Consegui um grande número para lhe mostrar. Posso dar um mergulho de
trezentos metros de altura sobre o chão duro”.
O administrador do circo fica cético, mas concorda em ver o número. Assim, vão
para uma grande tenda e o polaco sobe pela escada, até o topo. Então ele faz
um mergulho perfeito até o chão. Aterriza de cabeça, com um rangido terrificante.
Mas, então, levanta-se, esfregando-se e gemendo baixinho.
O gerente corre até ele e diz:
“Foi espantoso! O número mais incrível que já vi! Eu lhe darei quinhentos dólares
por noite!”
O polaco balança a cabeça, dizendo não. Então, o gerente diz:
“Tá bem, diga seu preço que eu pagarei!”
“Sinto muito, responde o polaco, não quero fazer isto de novo. Eu não tinha
nenhuma idéia que ia machucar tanto!”
Agora, entremos no verdadeiro Zen. Primeiro bata o bumbo, Nivedano, e todo
mundo entra no giberixe.
Nivedano...
Mantenham-se todos em absoluto silêncio,
nenhum movimento.
Reúnam a energia dentro de vocês.
Olhem dentro.
Isto é a resposta sem palavras de Hyakujo.
E isto é a foice de Nansen
que corta realmente bem.
Nivedano...
Relaxem
Nivedano...
Por favor, retornem.
Ok, Maneesha?
Sim, Osho.
4
A pulsação do universo
Amado Osho,
Um monge perguntou a Tozan: “Frio e calor abatem-se sobre nós.
Como podemos evitá-los?”
Tozan perguntou: “Por que vocês não vão aonde não haja calor ou frio?”
O monge respondeu: “Onde fica o lugar onde não há nem frio, nem calor?”
Tozan disse: “Quando frio, deixem ficar tão frio a ponto de lhes matar;
quando quente, deixem ficar tão quente aponto de lhes matar”.
Maneesha, esse é o próprio espaço que estou tentando ajudá-los a alcançar:
Onde não haja nenhum frio, nenhum calor, onde haja somente consciência, um
silêncio que transcenda a dualidade, frio e quente, dia e noite, vida e morte.
Tudo que é dual é transcendido quando você não está na mente, mas no seu
próprio centro, que não sente nem frio, nem calor, que é somente um simples
espaço, puro espaço.
Tozan está falando exatamente acerca do que vocês estão fazendo todos os
dias.
Um monge perguntou a Tozan: “Frio e calor abatem-se sobre nós. Como
podemos evitá-los?”
É uma pergunta simples, mas tem grande complexidade. Tome a palavra “evitar”
e verá a complexidade. Eis o que todos estão tentando fazer: como evitar
miséria, agonia, como evitar a dor, como evitar a vida. Eis o que todas as
religiões vêm fazendo, evitar. Chamaram a isto de renúncia, embora não seja
nada mais que puro escapismo covarde.
Assim, a própria pergunta simples não é tão simples. Na própria palavra “evitar”,
todas as religiões do mundo ficaram reduzidas aos seus elementos básicos, de
um modo muito óbvio. Todo o esforço delas tem sido para escapar dos lugares,
das pessoas, dos relacionamentos, partir do mundo para as montanhas e para
as florestas. Mas elas não sabem... aonde quer que você vá, sua mente está
com você. E a sua mente é o seu mundo. Você não pode renunciar ao chamado
mundo exterior sem abandonar a mente e ser completamente silencioso. Mas
isto pode ser feito em qualquer lugar.
Você não tem de ir para o Himalaia, você tem de ir na direção interior. Nenhuma
viagem exterior vai ajudar. Você pode renunciar à riqueza, pode renunciar aos
reinos, pode renunciar à sua vida, ao seu marido, às suas crianças... Pode
renunciar a tudo que é possível, mas você ainda está aí. Você não pode
renunciar ao si-mesmo. É você que é o problema!
“Evitar” é a palavra contra a qual estou. E a qualquer religião que ensine
abstenção, eu chamo de covarde.
Encontre a realidade — não há nenhum sentido em evitar. Encontre com
intensidade e totalidade, e, subitamente, você vê que você alcançou um ponto
dentro de si mesmo, onde não há calor, nem frio, onde não há amor, nem ódio,
onde não há a assim chamada vida, nem a assim chamada morte.
Dentro de você está o centro do universo. Ele está sempre aqui, você não tem
de ir a algum outro lugar para encontrá-lo. Todo ir é ir para longe de si mesmo.
Você tem de parar de ir embora, tem de começar a ir para o fundo.
Nas palavras de Tozan..., e ele as expressou com tremenda beleza e grandeza,
e na língua dos leões!
Tozan perguntou: “Por que vocês não vão aonde não haja calor ou frio?”
O monge respondeu: “Onde fica o lugar onde não há nem frio, nem calor?”
Esta é a desolação que sempre aconteceu entre o mestre e o discípulo. O mestre
está falando sobre o espaço interior e o discípulo fica ouvindo acerca de algum
lugar... em algum lugar exterior. O mestre não lida com lugares, ele lida com
espaços.
Tozan disse: “Quando frio, deixem ficar tão frio a ponto de lhes matar;
quando quente, deixem ficar tão quente a ponto de lhes matar”.
Ele simplesmente está dizendo: “Seja total em cada situação, quer esteja frio ou
quente; seja tão total que seu ego morra, que você não esteja mais”. Em outras
palavras, no momento em que você é total, você não está, mas apenas um
espaço puro, e essa é a sua autêntica realidade.
O comentário de Setcho:
Certa mão que ajuda,
mas ainda assim, um extenso penhasco;
Sho e Hem: nenhuma distinção arbitrária aqui.
O antigo palácio de esmeraldas brilha no luar transparente.
O hábil Kanro sobe os degraus e o encontra vazio.
Algumas notas de rodapé serão úteis para se compreender o comentário de
Setcho.
A lenda fala de um cão ligeiro e inteligente, Kanro, que caçava uma lebre.
Ambos comiam tão ligeiro que finalmente caíram mortos de exaustão.
O monge que fez a pergunta está sendo comparado a Kanro.
Seja tão total que a sua própria totalidade se torne um fogo em si mesma e
queime tudo o que é falso, inventado, e deixe somente o antigo palácio de
esmeraldas, brilhando na noite de lua cheia.
Sho e Hen são referentes às cinco etapas de Tozan, o tratamento
filosófico do relacionamento entre o real e o aparente.
Os filósofos têm se interessado, durante séculos, pelo problema do que é o real
e o que é o aparente.
Até mesmo no começo deste século, dois filósofos, Bosanquet e Bradley,
perderam suas vidas inteiras escrevendo tratados sobre o aparente e o real.
Muito estranhamente, isto não foi feito somente por Bradley e Bosanquet; isto foi
discutido na China por Sho e Hen, foi discutido na Índia por Shankara.
O problema de “o que é real” e “o que é aparente” não pode ser decidido por
discussão filosófica. Para os olhos, o que quer que apareça é aparência; e o real
está escondido dentro de você, não aparece na superfície. Assim, todos esses
filósofos, e o número deles é enorme...
Um dos meus professores tinha um doutorado sobre Bradley e Shankara,
comparando suas filosofias sobre o que é real e o que é somente aparente. O
nome do professor era S. S. Roy. Ele ainda está vivo, aposentado... ele me
amava muito. Eu lhe perguntei: “Você conseguiu um doutorado, mas você
realmente sabe o que é o real e o que é o aparente? Se eu fosse o examinador
do seu tratado, você teria fracassado!”
Ele me olhou. Não podia acreditar que um estudante pudesse dizer a seu próprio
professor... quando seu tratado tinha sido examinado pelos maiores professores
vivos, na Índia e fora da Índia, e grandemente elogiado.
Ele perguntou: “Mas você sabe o quanto o meu tratado tem sido elogiado?”
Respondi: “Isto não importa absolutamente. O que importa é que você não sabe
o que é o real. Você está somente discutindo, não é experiência própria. Você
não é um meditador, não veio para o espaço do puro silêncio; todo o seu tratado
é simplesmente verbosidade, talvez bem escrito, muito racionalmente escrito,
mas ele não é sua experiência existencial”.
Ele disse: “Meu Deus! Foi bom que você não tivesse sido um dos meus
examinadores, caso contrário eu teria perdido meu doutorado”.
Disse-lhe: “Se você é um homem de inteligência, você já o perdeu. Apenas o
que estou dizendo é o bastante para liquidar com seu tratado, porque digo-lhe
que você não conhece a si mesmo. Sei que você é um homem honesto e
perceberá que estou apontando para o lugar certo, onde você perdeu”.
O que Tozan está dizendo é que a menos que você queime sua mente que divide
as coisas em duas... a mente é sempre uma dualidade, não pode viver com o
não-dual. Tozan está dizendo: “Vá além do dual e encontrará o espaço onde não
há calor nem frio, onde somente o puro nada prevalece. E esse é o nosso ser”.
Com relação a Tozan, este não é o Tozan que aparece no Três libras de farinha
de Tozan, mas é Tozan Ryokai, o fundador da seita Soto. Tozan visitou vários
mestres.
A propósito, há apenas alguns dias, recebi um convite da seita Soto, fundada por
Tozan. Eles estavam celebrando em grande estilo uma tradição de mil anos. E
o líder do Soto Zen deve ter lido meus livros. Ele também deve ter ouvido a
história de que eu tinha aceitado que eu era o cumprimento da promessa de
Gautama Buda, de que ele voltaria depois de vinte e cinco séculos e seu nome
seria “amistosidade”, maitreya.
O representante de Tozan e sua seita, há somente duas seitas do Zen, Soto é a
mais antiga... e vocês ficarão felizes de saber que o líder do Soto Zen
reconheceu que eu tinha a consciência e o conhecimento, que eu tinha efetivado
a promessa. Ele perguntou se eu poderia ir à cerimônia deles. Se eu não
pudesse ir, deveria pelo menos enviar minha túnica, esta é uma velha tradição
Zen.
Enviei uma das minhas túnicas — com minha mensagem — para a cerimônia
deles. Dela participam quase um milhão de pessoas e mais de duzentos e
cinquenta funcionários são delegados pelo governo do Japão para estar
presentes.
Disse a meus sannyasins para irem com minha túnica, meu recado e minha
mensagem. O líder da seita apresentou minha túnica e minha mensagem a toda
a audiência, com profundo amor e devoção. Ele me informou que virá aqui
brevemente, para visitar-me e ver meu povo.
Na verdade, esta é a única assembléia Zen viva. Naquele milhão de pessoas e
duzentos e cinquenta representantes do governo, nem uma única pessoa
conhece exatamente o espaço que vocês estão sentindo todos os dias.
Uma historieta sobre Tozan:
Quando Tozan estava com Nansen — um outro grande mestre — um dos
discípulos de Baso... — Baso é o supremo no que concerne ao Zen.
Nansen observava o aniversário da morte de Baso e perguntou à
assembléia: “Baso voltará para nós?”
Tozan disse: “Se houver companhia apropriada para ele, ele virá!”
Nansen apreciou muito a resposta.
...Porque as palavras — Buda, Bodhidharma, Nansen ou Baso — são apenas
nomes das formas. Todos representam o mesmo espaço; e quando houver
pessoas que estejam prontas para receber, subitamente eles descem.
Recebi muitas cartas dizendo que, nas meditações, uma estranha sensação
acontece, como se alguma coisa estivesse baixando, um profundo silêncio do
além, pesado, quase tangível. Nesse silêncio, Baso está presente, Buda está
presente. Quando você está ausente, todos os acordados estão presentes em
você. Então, essa assembléia se torna um fenômeno eterno.
Nós sempre estivemos aqui, sempre. Uma vez ou outra vocês se esquecem de
quem vocês são, mas isto é imaterial:
Mais cedo ou mais tarde, você reconhece novamente; mais cedo ou mais tarde,
você, novamente, vê seu ser claro e cristalino. Nem o tempo importa, nem o
espaço, você é aquele que jamais vem e jamais vai, aquele que simplesmente
é. ISTO!
Quando Tozan estava estudando com Isan, ele perguntou a Isan sobre os
Sermões das Criaturas Inanimadas de Chu Kukushi.
Isan respondeu: “Sermões das criaturas inanimadas são dados aqui para
nós, mas poucos podem ouvi-los”.
Você ouve os bambus? São esses os sermões referidos, sermões vindos de
seres inanimados. Uma vez que você esteja silencioso, até as rosas começam
a falar com você.
(Neste momento, o vento está soprando e os bambus começam a
comentar com seus rangidos.)
Você ouve o ruidoso falar dos bambus?
Quanto mais profundo o seu silêncio, mais alto você será capaz de ouvi-los.
Tozan disse: “Ainda não estou muito certo sobre eles; você poderia me
ensinar, por favor?”
Isan não disse nada, mas levantou seu bastão bem alto.
Tozan perguntou: “Não compreendo. Poderia explicar para mim?”
Isan disse: “Eu jamais deveria lhe falar sobre isto com a boca dada a mim
pelos meus pais!”
Esse era o seu modo de ensinar.
Essa boca, dada pelos seus pais, não é capaz de dizê-lo; mas o ser não é dado
a você pelos seus pais. Você veio através deles, eles foram veículos, mas você
não é parte deles. Seu corpo é feito pelos seus pais, o templo é erguido por eles,
mas a deidade no templo, o ser, vem da eternidade, não pode vir de corpos
mortais.
Isan, então, sugeriu que Tozan visitasse Ungan, a quem mais tarde Tozan
sucedeu. Chegando até Ungan, Tozan perguntou:
“Quem pode ouvir os sermões de criaturas inanimadas?”
“As criaturas inanimadas podem ouvi-los”, respondeu Ungan.
“Por que eu não posso ouvi-los”, pergunta Tozan.
Ungan levantou seu bastão bem alto e disse: “Você ouve?”
“Não, eu não”, respondeu Tozan.
Ungan perguntou: “Conhece o sutra que diz: ‘Pássaros e árvores, todos
meditam no Buda e no Dharma’?”
Com isto, Tozan tornou-se subitamente iluminado.
Ele escreveu os seguintes versos:
Maravilha! Que maravilha!
Sermões de criaturas inanimadas...
Você fracassa, se escuta com seus ouvidos. (...)
Eu repito:
Você fracassa, se escuta com seus ouvidos.
Escutando com os olhos, você os ouve.
Por “olhos”, ele não quer dizer os olhos comuns, quer dizer os olhos de uma
claridade acordada do seu ser. Se você puder ouvir no seu silêncio, se puder ver
no seu silêncio, então, tudo no mundo está falando, dando sermões, cantando
canções, dançando.
Você não pode ver? Mas esses olhos e esses ouvidos não o farão. Você terá de
cavar fundo dentro de si mesmo para encontrar a abordagem certa para ver a
dança eterna da existência, para ouvir a música e ver a beleza dela.
Tozan continuou praticando Zazen e ficou alerta para sempre. Certo dia,
enquanto ele estava nadando num riacho, viu sua sombra lançada sobre
a água e experienciou sua grande iluminação.
Seu verso, nessa ocasião, foi:
Muito tempo procurando através dos outros,
Estava longe de alcançar.
Agora, vou por mim mesmo;
Encontro em todo lugar.
É apenas eu-mesmo,
e eu não sou ele-mesmo.
Compreendendo dessa maneira,
Posso ser como sou.
Tozan falou sobre duas iluminações. A segunda, ele chama de “a grande
iluminação”. A primeira foi após ouvir o sutra de Gautama Buda, que seres
inanimados não são inanimados; eles também estão vivendo, amando; também
estão cantando, dando sermões. E ele se iluminou — esse sutra penetrou seu
próprio ser. Mas ele chama isto simplesmente de iluminação.
A “grande iluminação” aconteceu quando ele viu sua própria sombra no rio e,
subitamente, ficou consciente de que:
Onde quer que você vá buscar, para encontrar a verdade, você está indo para
longe. Seu ser está com você assim como a sua sombra. Você não tem de ir a
lugar nenhum, tem apenas de olhar no espelho do seu ser.
Naturalmente ele a chama de uma “iluminação maior”, porque ela não tem mais
nada a ver com qualquer outra pessoa. É autenticamente dele.
Maneesha perguntou:
Amado Osho,
Compreendo Tozan estar dizendo que nada é para ser evitado, ao
contrário, para se encontrar tudo de frente. E que totalidade é
transcendência.
Comparadas ao Zen, as outras, as religiões formais, tais como o
Cristianismo e Hinduísmo, parecem ser tão infantis nas suas
compreensões da vida, com seus deuses e toda a parafernália psicológica
que segue com a devoção-a-Deus, e tão insensíveis ao sutil e ao poético.
Na verdade, parece que ou o Zen é uma religião e as outras não são, ou
o Zen pertence a uma categoria própria, apenas dele.
Poderia comentar, por favor?
Não há necessidade de qualquer comentário. Vocês estão todos experienciando
o Zen. Não é uma religião na qual você tem de acreditar. É uma experiência,
como o amor, que você tem de viver, que você tem de experienciar.
Em outras palavras, o Zen é a religião mais essencial, sem nada desnecessário.
Apenas o âmago, o essencial. Você pode chamá-lo de religião, pode chamá-lo
de ciência, não importa qual o nome que você lhe dê. Na sua pura simplicidade,
é experienciar seu próprio ser. E no momento em que você experiencia seu
próprio ser, você experienciou o ser de todo o universo, porque sua pulsação faz
parte da pulsação do universo.
Apenas permaneça silenciosamente consciente, e você se preencherá de Zen,
por dentro e por fora. Ele não é uma religião formal como o Cristianismo e o
Hinduísmo. Ele é muito individual, único, uma categoria em si mesma. É somente
para pessoas excêntricas, para os muito inteligentes. Não é para os medíocres,
para a multidão. É somente para o indivíduo que tem entranhas para ficar de pé
sozinho e ouvir seu próprio ser, sem ficar incomodado com o que os outros estão
dizendo, crendo ou adorando.
O Zen não é um argumento, não é uma crença. É uma experiência pura, assim
como o amor, a beleza ou o silêncio. É anônimo.
Antes de entrarmos no Zen, embora vocês já estejam parados nos degraus da
porta do templo, gostaria que dessem algumas risadas. Porque quero que
entrem no templo rindo e dançando, com alegria.
Ronald Reagan está no hospital para uma pequena operação e Nancy Reagan
está parada lá, observando cada movimento que o médico faz.
Um dos médicos se aproxima de Reagan com sua seringa.
“O que é isto?” pergunta Nancy.
“Isto é um anestésico”, responde o médico. “Depois de tomar isto, ele não saberá
de nada.”
“Economize tempo, doutor!”, Nancy deixa escapar. “Ele já não sabe de nada
mesmo!”
*
Jacó Finkelstein, o advogado, está recostado na sua poltrona, no escritório novo
que ele acabou de abrir. A porta range ao abrir-se e um homem entra.
“Ah!” pensa Jacó, “um cliente! Devo tentar impressioná-lo.”
Jacó tira o telefone do gancho e começa a falar:
“Não. Sinto extremamente, mas estou ocupado demais”, diz ele ao telefone.
“Talvez não possa pegar o caso. Não, nem mesmo por mil dólares.”
Colocou o telefone no gancho e olhou expectante para o homem que tinha
acabado de entrar.
“E agora”, diz Jacó, “em que posso ajudá-lo?”
“Em nada”, responde o homem. “Eu apenas entrei para ligar seu telefone.”
*
O papa fica seriamente doente e Pedro, Simão e João estão bêbados no
botequim, discutindo quem será o novo papa.
“Eu sei quem será o próximo papa...”, diz Simão, “vai ser o Cardeal Ratzoff da
Rússia.”
“Bobagem!”, diz João. “O próximo papa será o Cardeal Chong da China.”
“Vai ser Ratzoff da Rússia!”, insiste Simão.
“Nenhuma chance!”, diz João. “Cardeal Chong da China!”
“Ratzoff!”, grita Simão.
“Chong”, grita João.
Pedro tinha ficado calmamente sentado, olhando para sua cerveja.
“Nenhum de vocês sabe do que está falando”, diz ele. “O próximo papa vai ser
o Rabino Nussbaum de Nova Iorque.”
“Não seja tolo!”, corta Simão. “Ele nem mesmo é católico.”
“Ah!...” diz Pedro, “não quero nem conversa com você, se vai meter religião no
meio.”
*
O Anjo da Morte se encontra com Rufus Rothschild e o libera para os Portões
Perolados.
“Mister Rothschild...”, diz São Pedro, olhando para o seu arquivo, “você fez
algum bem ao mundo?”
“Bem...”, responde Rothschild, “certa vez dei um dólar para um pobre.”
“Sei...”, diz São Pedro, escrevendo algo nos seus papéis. “Alguma coisa mais?”
“Sim”, responde Rothschild, pensando com afinco. “Certa vez, dei cinquenta
centavos a um cego.”
“Há algum outro ato virtuoso na sua vida?”, pergunta São Pedro.
“Não, responde Rothschild, isto é tudo.”
“Tá bem”, diz São Pedro, virando-se para o anjo. “Dê a esse cara seu dólar e
meio de volta e diga-lhe que vá pro inferno!”
Agora podemos ser...
Nivedano, bata o bumbo...
E vocês, comecem a dizer bobagens.
Comecem!
Nivedano...
Fiquem silenciosos, completamente silenciosos,
nenhum movimento.
Isto...
Isto...
Nivedano...
Relaxem...
Nivedano...
Voltem.
Ok, Maneesha?
Sim, Osho.
5
A liberdade é o meu Deus
Amado Osho,
Uma vez houve um mestre Zen chamado Sekito, que quer dizer cabeça-
dura, assim chamado porque ele construíra uma cabana numa pedra
grande e plana que ele encontrara na montanha, e passou a viver lá. Certo
dia, um jovem monge em treinamento veio vê-lo.
Sekito perguntou: “De onde você vem?”
O monge respondeu: “De Kosei, mestre”.
Sekito, então, disse: “Em Kosei, o famoso mestre Zen, Baso, vive.
Você o viu alguma vez?”
“Vi sim”, respondeu o monge.
O mestre, apontando para uma grande acha de lenha próxima, fez então
uma extraordinária pergunta:
“Mestre Baso se parece com isto?”
Desafortunadamente, o monge, fosse qual fosse a habilidade Zen que ele
pudesse ter tido, não era páreo para Sekito. Piscou os olhos e não pôde
dizer uma palavra.
O atônito monge fez todo o caminho de volta até Kosei, encontrou o
grande professor Baso e contou-lhe a história.
Ouvindo aquilo, Baso perguntou:
“A acha que você viu era grande ou pequena?”
“Era muito grande”, respondeu o monge.
“Você é um homem de grande força”, foi a resposta inesperada de Baso.
“Por que, mestre?”, interrogou o monge, perplexo, sem saber o que fazer.
Baso, então, disse: “Você trouxe uma acha de lenha tão grande de Sekito
até aqui! Você certamente é um homem de grande força, não é?”
Maneesha, antes de discutir a historieta a respeito de um mestre Zen chamado
Sekito, que quer dizer cabeça-dura, tenho de responder à revista Quick, da
Alemanha. No que diz respeito ao cabeça-dura, ele está de pé atrás de você: o
mestre Zen Niskriya. Você pode encontrar um cabeça-dura maior?
(Niskriya mantém-se olhando através da câmera; timidamente, olha por cima,
por um segundo, e volta à sua câmera.)
A revista Quick 1 precisa de uma resposta rápida. Uma vez que eu tenho estado
falando acerca de um mundo, uma humanidade, eu sabia que algum idiota iria
levantar essa questão. A revista Quick questionou: “Se você se oferecesse para
ser pessoalmente o imperador do mundo... com dezoito horas de sono por dia,
você poderia governar, mas isto seria num sonho”.
1. Quick significa “rápido”.
Isto levanta muitas questões.
Tenho falado acerca de um mundo, mas eu jamais quis dizer que seria o
imperador desse mundo insano. Jesus já respondeu por mim: “Meu reino não é
deste mundo”.
Há um vasto universo além da mente pequena dos políticos, e aqueles que se
tornam eles-mesmos, também se tornam imperadores do universo. Não há
nenhuma competição entre Baso e Buda. No pico mais alto da consciência, não
há nenhuma competição, todo mundo é um imperador.
Assim, primeiramente, quero lembrar à Quick e seus leitores que eu já sou o
imperador da minha própria consciência. Não quero descer dos meus picos para
o vale escuro da sua inconsciência. Mas posso apontar o caminho, a fim de que
vocês também se tornem imperadores. Para ser um imperador, um império não
é necessário, apenas iluminação. Esse é o único império que permanece. Todos
os outros impérios são feitos da mesma matéria que os sonhos.
No que me diz respeito, mesmo nos meus sonhos, eu não aceitaria ser o
imperador desse asilo insano que vocês chamam de mundo.
Em segundo lugar, tem de ser compreendido que as minhas dezoito horas de
sono não são da mesma qualidade das horas de sono de vocês, bem como
minhas horas de vigília não são da mesma qualidade das suas. Eu estou
acordado até no meu sono, vocês estão profundamente adormecidos até nas
horas de vigília. Não se esqueçam disto!
Minha declaração por uma humanidade, por um mundo, não implica um
imperador. O mundo tem sido torturado por pessoas que queriam ser
imperadores — Alexandre, Gengis Khan, Tamerlão, Adolf Hitler... É hora de
compreender que o mundo somente pode ser um nas mãos de alguma coisa
como a ONU, na qual cada parte da Terra pode ser representada. As pessoas
mais inteligentes podem ser escolhidas, das diferentes subdivisões da
humanidade, para darem-se as mãos; não para escolher um imperador, mas
para criar um comitê inteligente, no qual pode haver artistas, cientistas, poetas,
apenas não incluindo os políticos.
As pessoas criativas não estão interessadas em dominar; elas querem criar. Seja
qual for sua dimensão de criação, pode ser a ciência, a pintura, a música, a
poesia. Pode ser qualquer coisa que embeleze e faça o mundo mais rico, mais
sadio, mais inteligente, mais confortável, mais rico de todo modo possível.
Os dias dos indivíduos tornarem-se imperadores já passaram.
Somente um comitê de diferentes inteligências criativas pode servir ao mundo.
Até mesmo usar a palavra “governar” não é necessário.
A ONU, ou qualquer outro nome que vocês dêem, se dados a ela todos os
exércitos do mundo, naturalmente ela teria de dissolvê-los, porque para quem
você iria manter tão vasto exército? Milhões de pessoas, desnecessariamente,
fazendo “esquerda, direita”. Para quem você continuaria acumulando armas
nucleares?
Em minha concepção de um mundo, não há lugar para um imperador. Rejeitarei,
absoluta e categoricamente, a própria idéia de uma pessoa ser o governador do
mundo, eu inclusive.
Ninguém tem o direito de governar ninguém.
Sim, você pode servir. E eu estou servindo do meu próprio modo. Consegui o
meu império próprio, meu povo próprio, que está tentando de todo modo possível
alcançar os picos do Himalaia da consciência.
Talvez o pobre jornalista que escreveu esta questão na Quick não seja capaz de
compreender. Os dias dos impérios pessoais e dos imperadores já passaram. O
mundo precisa que todas as espécies de pessoas criativas se juntem; esqueça-
se da própria idéia de um imperador do mundo. Toda a história tem sido
assassina, cheia de guerras devido a esse insano desejo de dominar.
Todo o meu ensinamento é: apenas seja você mesmo, jamais interfira na
liberdade de qualquer outra pessoa. A liberdade é o meu supremo valor, o meu
deus.
Agora, sobre o mestre Zen Sekito, que quer dizer cabeça-dura...
Niskriya, por que você se sentou? Levante-se, deixe todo mundo ver o que
significa ter uma cabeça dura!
(Niskriya se levanta, dá uma voltinha para a assembléia, que,
entusiasticamente, aplaude a sua cabeça pelada.)
Está bem... sente-se.
Uma vez houve um mestre Zen chamado Sekito, que quer dizer cabeça-
dura, assim chamado porque ele construíra uma cabana numa pedra
grande e plana que ele encontrara na montanha, e passou a viver lá. Certo
dia, um jovem monge em treinamento veio vê-lo.
Sekito perguntou: “De onde você vem?”
O monge respondeu: “De Kosei, mestre”.
Sekito, então, disse: “Em Kosei, o famoso mestre Zen, Baso, vive. Você o
viu alguma vez?”
“Vi sim”, respondeu o monge.
O mestre, apontando para uma grande acha de lenha próxima, fez então
uma extraordinária pergunta:
“Mestre Baso se parece com isto?”
Desafortunadamente, o monge, fosse qual fosse a habilidade Zen que ele
pudesse ter tido, não era páreo para Sekito. Piscou os olhos e não pôde
dizer uma palavra.
O atônito monge fez todo o caminho de volta até Kosei, encontrou o
grande professor Baso e contou-lhe a história.
Ouvindo aquilo, Baso perguntou:
“A acha que você viu era grande ou pequena?”
“Era muito grande”, respondeu o monge.
“Você é um homem de grande força”, foi a resposta inesperada de Baso.
“Por que, mestre?”, interrogou o monge, perplexo, sem saber o que fazer.
Baso, então, disse: “Você trouxe uma acha de lenha tão grande de Sekito
até aqui! Você certamente é um homem de grande força, não é?”
Baso não está dizendo nada sobre a acha de lenha. Ele está falando sobre o
pensamento que o pobre monge carregou de uma montanha a outra. Sekito não
estava se referindo à acha de lenha. Ele simplesmente quis dizer: Isto. Foi
apenas por acaso que havia uma pilha de achas de madeira. Mas ele estava
apontando para isto, não para as achas de lenha.
O monge perdeu o ponto: ele pensou que, talvez, Baso pudesse ser capaz de
explicar. Mas, novamente, ele perdeu. Porque Baso não disse nada sobre a acha
de madeira, nada sobre Sekito, mas sobre a força do monge, que parecia ser
absolutamente irrelevante.
Mas Baso está certo. Ele está dizendo: “Você carregou um tal peso
desnecessariamente, de montanha para montanha...” Sekito não tinha apontado
para a acha de lenha, ele estava apontando para o isto das coisas, para a
exatidão das coisas.
O todo do Zen está relacionado a isto...
Uma nota de rodapé:
Baso, também chamado Ma Tsu, dizia-se, era um homem de aparência
esquisita. “Ele andava como uma vaca e olhava ao redor como um tigre.
Podia tocar o nariz com a língua e tinha dois anéis nas solas dos pés.”
Seus discípulos-chefes eram Hyakujo — falamos dele ontem — e Nansen
— também falamos dele. Seus discípulos eram ao todo mais de cem.
Cem pessoas ficaram iluminadas sob os cuidados de Baso. Ele derrotou até
Gautama Buda. Derrotou até mesmo Bodhidharma. Mas seu método era tão
único quanto seu estilo. Vocês não viram que ele andava como um animal,
significando o natural, o inocente?; significando nenhuma cabeça, nada da
cabeça, mas apenas um coração que pode compreender sem nada ter sido dito,
que pode compreender sem uma única palavra ter sido dita.
Ele era certamente um dos mestres mais esquisitos dentre os que andaram
sobre a Terra. Ninguém tinha andado como uma vaca; nem mesmo em dez mil
anos, nenhum hindu — que adora as vacas — tentou andar como uma vaca.
Mas não se enganem sobre o seu “andar como uma vaca”. Isto mostra sua
delicadeza, mostra sua maternalidade, mostra sua receptividade feminina. Mas
ele também “olhava ao redor como um tigre”. Ele era delicado para aqueles que
podiam compreender a delicadeza, e era duro para aqueles que podiam
compreender apenas a dureza. Era mestre de muitos, apenas por essa razão.
Baso era apenas uma vaca. Bodhidharma era apenas um tigre. Baso tinha o
coração de uma vaca, tão delicado, que ele escreveu a melhor poesia que há no
mundo. Suas pinturas são de imensa beleza. Suas declarações contêm a própria
verdade. Mas se você quisesse ser um discípulo e estivesse buscando alguém
para talhar sua cabeça, Baso era a pessoa perfeita. Para mostrar sua esquisitice,
a história diz: podia tocar o nariz com a língua.
É muito difícil. Conheço só um homem — e eu viajei ao redor do mundo inteiro
— que pode mexer os lóbulos da orelha. Vocês já tentaram? É absolutamente
impossível, devido a não haver sistema de nervos que alcance os lóbulos da
orelha. Você não pode fazer nada, é assim mesmo. Os burros podem fazê-lo,
mas vocês não.
Esse homem era um dos meus companheiros na universidade. Ele ficou famoso
apenas pelo fato de poder mexer as orelhas conforme seu desejo. Quando ele
foi apresentado a mim, eu disse: “Isto não é nada, porque tenho visto muitos
burros fazer isto. Isto não vale nada. Pode parar”.
Ele respondeu: “Você é o primeiro homem... Em vez de apreciar, está me
chamando de burro”.
Eu disse: “Essa é minha apreciação. Porque os burros têm orelhas tão grandes
e as movem tão facilmente!...”
Tenho visto algumas pessoas que podem tocar o nariz com a língua;
especialmente aqueles que pertencem a alguma escola iogue. Há uma idéia
estúpida de que se você puder tocar o seu nariz com a língua, você se tornará
imortal. E alguns idiotas tentam, durante anos, espichar a língua, pendurando
pesos nela. Tenho até visto pessoas que cortaram a língua por dentro, onde ela
é presa, de modo que ela fique mais solta e possa tocar o nariz.
Mas, por tocar o nariz, você não tocará a eternidade. Qualquer pessoa pode
tocar o nariz.
Agora mesmo, ao entrar, toquei o nariz de Avirbhava. Qualquer um pode puxar
o nariz do outro. O nariz não é imortalidade. Mas Baso, só de brincadeira,
costumava tocar o nariz com a língua, dizendo: “Não leve a religião a sério. Leve-
a tão jocosamente quanto possível”.
Um monge perguntou a Baso: “O que é o Buda?”
Baso respondeu: “A mente é o Buda”.
O monge preguntou: “Qual é o caminho?”
“A não-mente é o caminho”, respondeu Baso.
Que ótima e linda resposta! Porque até mesmo “Buda” é um pensamento na sua
mente. Buda mesmo disse: “Se eu entrar no caminho da sua meditação,
simplesmente corte a minha cabeça imediatamente, remova-me”. É isto que
Baso está dizendo: Buda é mente; a não-mente é o caminho.
O monge, então, perguntou: “O Buda e o caminho são algo diferente?”
Baso replicou: “O Buda é como abrir as mãos; o caminho é como cerrar
os punhos”.
Abrir ou fechar a mão não são duas coisas, embora pareçam duas. Apenas deixe
sua mente ficar silenciosa e estável, e você entrou na não-mente.
Não há nenhuma diferença. A diferença é apenas a da mão aberta e de um
punho. Não muita diferença, não uma diferença que possa ser chamada de
diferença. E, contudo, aparentemente é diferente. Mas apenas aparentemente.
Maneesha está perguntando:
Amado Osho,
Mais que qualquer outra compreensão da vida, o Zen é
descompromissado. Não há recurso para explicações interessantes
vindas da cabeça, ou para expressões mutáveis vindas do coração: ou
você tem a experiência, ou não. Não há meio caminho.
Poderia comentar, por favor?
Maneesha, não há nenhum caminho, nem meio caminho, nem extremo.
Caminho significa distância. E você já está aí. Eu lhe ensino o não-caminho,
apenas relaxe e você já está aí. Você não dá nem um único passo em qualquer
caminho.
Antes de entrarmos “no isto”, os bambus estão pedindo algumas risadas. Vocês
não podem ser duros com os pobres bambus...
A velha Margarida da Silva morre e se apresenta nos Portões Perolados. São
Pedro deixa-a entrar:
“Pode acomodar-se em qualquer lugar que queira”, diz ele.
“Bem...”, diz Margarida, “gostaria de ficar com meu marido que morreu há muitos
anos.”
“Tá bem...”, responde Pedro. “Qual é o nome dele?”
“João”, diz ela.
“Ih! Meu Deus!”, lamenta-se Pedro. “Temos aqui centenas de Joões da Silva. Há
algo nele que possa identificá-lo?”
Margarida pensa por um momento e então diz:
“Sim, há. Ele me disse antes de morrer que sempre que eu fosse infiel a ele, ele
se viraria na sepultura.”
“Aha!...” diz Pedro. “Eu o conheço... Ele é aquele que nós chamamos de ‘João
do Giro’.”
*
O polaco Kowalski consegue um trabalho numa grande serraria, mas na primeira
manhã ele chama o capataz e diz:
“Chefe, um dos meus dedos se foi na serra.”
“Bem...”, inquire o capataz, “o que você fez de errado?”
“Não sei!”, admite o polaco. “Eu apenas toquei nela assim... Merda! Lá se foi um
outro!...”
*
Kowalski, o polaco, inesperadamente chegou em casa, do trabalho, e subiu as
escadas até o quarto. Lá, encontrou sua esposa, Gertrudes, deitada nua sobre
a cama, muito ruborizada, com a mão no coração.
“Meu Deus!”, grita Kowalski, “o que houve?!”
“Oh!...”, suspira Gertrudes, “telefone pro médico! Acho que estou tendo um
ataque do coração!”
“O quê?!...” grita Kowalski. Ele se vira e corre escada abaixo até o telefone e
disca para o Dr. Ossadas. Só então sua filhinha chega até ele e puxa-lhe a
manga:
“Paaai...”, diz ela. “Tem um homem nu no armário do quarto.”
“O quê?!...”, grita Kowalski, largando o telefone e correndo de volta ao quarto.
Ele abre a porta do armário e encontra seu melhor amigo parado lá, sem
nenhuma roupa no corpo.
“Jorge”, grita Kowalski. “Você deveria ter vergonha de si mesmo! Minha mulher
está tendo um ataque do coração e você aqui, assustando as criancinhas!”
Agora, Nivedano, dê sua primeira batida para todo mundo ficar absolutamente
louco no giberixe.
Nivedano...
Todo mundo entrando em absoluto silêncio.
Reúnam sua energia no interior de vocês.
Fechem os olhos, nenhum movimento.
Isto.
Isto.
Mil vezes Isto.
Nivedano...
Relaxem...
Fiquem assim.
Nivedano...
Voltem à vida.
Até os bambus estão silenciosos.
Ok, Maneesha?
Sim, Osho.
6
O dedo apontado para
o nada
Amado Osho,
Nos velhos tempos, havia dezesseis Bodhisattvas. Na hora do banho dos
monges, seguindo a regra, eles tomavam banhos. Subitamente,
experienciaram a realização através do toque da água. Vocês, reverendos
estudantes do Zen, compreendem suas palavras? “Nós experienciamos o
toque sutil e claro, atingimos o Estado-de-Buda, e ainda o retemos.
Vocês serão capazes de atingir esse estado depois de penetrarem sete
vezes e abrirem caminho oito vezes.”
Maneesha, antes de tratar dessa historieta, tenho de lhes dar o fundo de cena.
Primeiro, o estado-de-buda é sua natureza. Se você for bastante sensível,
poderá tomar conhecimento dele através de qualquer sentido: através do toque,
do sabor, dos olhos, dos ouvidos. Porque ele não é exterior a você; é apenas
uma questão de concentração profunda; então, qualquer sentido que seja
predominante em você se tornará a revelação.
Lembre-se, todo mundo tem os diferentes sentidos em intensidade diferente.
Alguém pode ver mais; só então pode se tornar um pintor. Alguns têm ouvido
para música; nem todo mundo tem. Quanto mais sutil a música, maior
sensibilidade será necessária para ouvi-la.
Estou me lembrando de um grande dançarino, Nijinsky, que na sua dança
costumava pular a alturas que são cientificamente impossíveis. Vão contra a
gravidade. Você pode pular apenas dentro de certo limite. Era um milagre ver
Nijinsky pulando, como se estivesse além da gravidade, como se tivesse ficado
tão leve, que estivesse livre da gravidade.
Muito mais miraculosa era sua volta à terra. Se qualquer coisa vem na direção
da terra, vem com força, a gravidade a puxa. Você não pode hesitar, não pode
demorar ou adiar, não está em suas mãos. Se você cai de uma altura, não está
em suas mãos ir com menor ou maior velocidade. Não há nenhum velocímetro
em suas mãos.
Mas Nijinsky caía exatamente como uma pena, mostrando novamente que a
gravidade fora transcendida. Obviamente, ele era inquirido repetidamente: “Qual
é o segredo?”
E ele dizia: “Não me perguntem, porque quando ‘eu’ tento, fracasso. Eu não
posso pular essa altura, nem posso cair como uma pena. Mas dançando, uma
vez ou outra esqueço-me de mim mesmo e, subitamente, acontece. No momento
em que não estou, o milagre! Não posso lhes dar o segredo, porque não há
segredo em minhas mãos”.
Nijinsky não era um místico, mas estava experienciando um estado místico. Ele
não era um filósofo; desse modo, não podia nem mesmo dar uma explicação.
Ele simplesmente dizia da maneira mais autêntica, sincera, que: “Chega um
momento em minha dança em que não encontro a mim mesmo em nenhum
lugar. Nesse estado, o que quer que aconteça não é meu fazer”.
Você pode experienciar o estado-de-buda apenas por ficar silencioso, ou apenas
por ficar tão amoroso, que suas mãos se fundam no amor; ou por ser tão total
em qualquer ato, que seu “eu” desapareça e somente o é permaneça.
O é é um outro nome do estado-de-buda.
Está sempre dentro de você; a questão é por qual porta você vai entrar nele.
Esta historieta diz:
Nos velhos tempos, havia dezesseis Bodhisattvas. Na hora do banho dos
monges, seguindo a regra, eles tomavam banhos. Subitamente,
experienciaram a realização através do toque da água...
Não pense que é apenas uma história. Se você está realmente vivo e o seu toque
é total, você pode ficar iluminado até debaixo do seu próprio chuveiro. Esta
historieta está sendo contada por algum professor a alguns discípulos. Ele diz:
“Vocês, reverendos estudantes...”. Naturalmente, não é um diálogo entre dois
mestres, é uma conversa entre um professor e alguns estudantes.
“Nós experienciamos o toque sutil e claro, atingimos o Estado-de-Buda, e
ainda o retemos.
Vocês serão capazes de atingir esse estado depois de penetrarem sete
vezes e abrirem caminho oito vezes.”
“Penetrar sete vezes” significa ir através de todas as suas camadas, que são
contadas como sete. Só então você pode alcançar o seu centro. E você terá de
fazê-lo oito vezes! Não é uma questão de “por que oito?”, é simplesmente a
experiência de que, a menos que você vá oito vezes, perfurando as sete
camadas da sua mente, você não saberá o que é o âmago do seu ser mais
interior.
Ainda hoje recebi um estudo de pesquisa científica que pasmou os cientistas,
pasmará qualquer um. O estudo era sobre estudantes, para averiguar suas
inteligências. Durante o teste, havia máquinas detectando a atividade contínua
dentro do cérebro. A espantosa conclusão foi de que quanto menos atividade
mostrada, tanto mais inteligência havia. Isto foi absolutamente contra a idéia
tradicional: uma mente mais ativa tem de ser mais inteligente.
Essa tem sido a superstição até agora, mesmo aos olhos da ciência. Mas esse
estudo confirma algo que os místicos têm dito sempre: não-mente é inteligência.
Olhando o estudo você pode ver duas coisas: menos atividade, mais inteligência.
A conclusão natural será: nenhuma atividade, absoluta inteligência. Mas até
mesmo os cientistas que estiveram fazendo esse estudo não concluíram isto do
modo como estou concluindo.
Não-mente significa inteligência; mente significa giberixe, não-inteligência. E
quando estou lhes pedindo o giberixe, estou simplesmente pedindo-lhes para
jogarem fora a mente e todas as suas atividades, assim, você permanece por
trás, puro, claro, transparente, perceptivo.
Um outro relatório que recebi é de um instituto nos Estados Unidos. O instituto
treina atores para o cinema. O diretor deve ter lido meus livros, porque ele obriga
todo estudante no instituto a fazer a Meditação Dinâmica, Kundalini e giberixe. E
mesmo aquelas pessoas que tinham ido apenas para aprender a arte de atuar
tinham, estranhamente, sentido uma tremenda abertura através do giberixe, um
silêncio vindo do desconhecido, baixando e envolvendo-as.
Comentário de Setcho:
O iluminado é mestre de uma única coisa:
do espichar-se à vontade na cama.
Se, em um sonho, os antigos dissessem que eram iluminados,
Deixem-nos emergirem da água perfumada, e eu cuspiria neles!
A intelectualidade de Setcho é demasiada. Ele não pode compreender, é como
um cego comentando sobre a luz.
Algumas notas de rodapé:
Dezesseis Bodhisattvas...
No sutra Surangama — uma escritura budista ancestral há um episódio
no qual vinte e cinco Bodhisattvas relatam suas experiências ao atingirem
a realização.
Primeiro, Kyochinnyo e quatro outros, os cinco primeiros discípulos de
Buda, levantaram-se e descreveram seus caminhos para a realização.
Kyochinnyo diz: “Quanto à minha realização, a visão de algo foi a causa
dela”.
Se você puder ver realmente uma linda rosa, ou um lindo pôr-do-sol, com sua
totalidade, não há nenhuma necessidade de nenhuma outra disciplina para se
tornar um Buda. Mas o ver tem de ser total, supremo e incondicional.
Segundo, Kyogon Doji diz:
“Cheirar um perfume foi a causa da minha realização”.
Terceiro, Yakuo e Yakujo citam o paladar como a causa de suas
realizações.
Quarto, Baddabara e os quinze outros Bodhisattvas nessa historieta
levantam-se, fazem reverência a Buda,
e Baddabara diz:
“Nós, anteriormente, ouvimos a pregação de Ion-o, o primeiro Buda,
e nos tornamos monges.
À hora do banho dos monges, seguindo a regra, entramos no banheiro.
Subitamente, experienciamos a realização
através do toque da água.
Nós não lavávamos a sujeira, não lavávamos o corpo.
Alcançamos a paz da mente e obtivemos o estado de não-possessão.
O supracitado Buda deu-me o nome de Baddabara, dizendo:
‘Você experienciou o toque sutil e claro
e atingiu o estado-de-buda,
e o reteve’.
A resposta à sua pergunta, portanto,
é que o toque foi a causa primeira da nossa realização”.
Outros Bodhisattvas à volta contaram suas experiências e, finalmente,
o Bodhisattva Kannon cita a importância, no seu caso, de “ouvir
o som”.
Todos os seus sentidos são portas; e lembrem-se: a mesma porta pode se abrir
para fora e também pode se abrir para dentro.
É com o mesmo sentido que você usa para ouvir música exterior, que você pode
ouvir a música do seu próprio ser. A questão simplesmente é: ou se vai na
direção do interior, ou se vai na direção do exterior; a porta é a mesma.
Maneesha está perguntando:
Amado Osho,
Embora eu não esteja nem mesmo certa do que seja intuição, suspeito
que há uma conexão entre a intuição e o Zen. É assim mesmo?
E, se é, pode a intuição ser impulsionada através de qualquer sentido, até
mesmo do pensamento?
Não, Maneesha. O pensamento não é capaz de impulsionar a intuição. Intuição...
a própria palavra está contra “tuição”. “Tuição” vem do lado de fora, intuição
floresce como uma flor do seu âmago mais interior.
Pensar não pode fazê-lo, mas esses bambus podem, este dedo apontado para
o nada, pode, este silêncio, permeando aqui, pode.
O pensamento é um obstáculo, não pode impulsionar seu ser mais interior.
Na verdade, ele impede o impulsionamento.
Quando você vê um lindo pôr-do-sol, imediatamente o pensamento vem e
obstaculiza. Ele diz: “Que lindo dia! Que lindo pôr-do-sol!”, e isto impede o pôr-
do-sol de atingir e golpear o seu verdadeiro ser.
Se você puder ouvir esses pobres bambus sem uma única palavra aparecer,
você chegou em casa.
Maneesha está perguntando:
Pode o “clarão intuitivo” ser um salto quântico cognitivo, e a iluminação,
um salto quântico do ser?
Intuição e iluminação não são duas coisas. Seu centro mais profundo é a sua
iluminação. Não é que você se torne iluminado, você é iluminado, mas os seus
pensamentos lhe impedem de reconhecê-lo. O salto quântico é necessário: do
pensamento para o não-pensamento, da mente para a não-mente, do fora para
o dentro, do lá para o aqui, do então para o agora.
Antes de entrarmos no salto quântico, os bambus estão pedindo algumas
risadas.
Uma demonstração de estudantes transformou-se num tumulto.
De repente, um homem saiu cambaleante da multidão, carregando uma jovem
desfalecida nos braços.
“Aqui”, grita um guarda, correndo para o homem. “Dê-me ela, vou tirá-la disto!”
“Vá pro inferno”, retruca o homem. “Vá e encontre uma você mesmo!”
*
Um homem com problema de peso vai procurar seu médico.
“Quero perder peso”, diz ele, “mas não é bom me dar uma dieta. Já tentei antes
e elas nunca funcionaram.”
“A única coisa que posso sugerir”, diz Dr. Ossadas, coçando o nariz, “é uma
técnica indiana um pouco incomum, usando somente exercícios. Nenhuma dieta.
Assim, você pode comer tudo que você gosta. Mas você tem de fazer sexo
apaixonado, pelo menos quatro vezes por noite. Certo? Pode ir e volte daqui um
mês.”
Passa um mês e o paciente volta.
“Quantos quilos você perdeu?”
“Cerca de um quilo”, diz o homem.
“E quantas vezes você fez sexo nesse mês?”, prossegue Ossadas.
“Quinze vezes”, responde o homem.
“Meu Deus!”, reclama Ossadas, “isto não é bom o suficiente!”
“Talvez não, retruca o homem, mas é bem razoável para um padre católico,
numa cidade pequena!”
*
Muitas pessoas têm uma compreensão confusa do que seja um milagre. Pedro
é uma dessas pessoas e muito embora Padre Murce tenha explicado o assunto
muitas vezes, e detalhadamente, Pedro ainda não está satisfeito.
“Padre”, diz Pedro, “talvez você possa me dar um exemplo de um milagre.”
“Está certo, Pedro”, diz o padre. “Vire-se de costas.”
Pedro vira-se de costas e Padre Murce lhe dá um pontapé no traseiro.
“Agora”, Pedro, pergunta o padre, “você sentiu isto?”
“Certamente que eu senti!”, retruca Pedro, esfregando as nádegas.
“Bem, Pedro”, continua Padre Murce, “teria sido um milagre se você não tivesse
sentido...”
*
Um jovem marinheiro é levado pelas águas às terras de uma ilha habitada por
canibais.
Visto que a tribo de canibais está faminta há um mês, o chefe anuncia que a vida
do marinheiro será poupada se ele passar no teste das três tendas.
“Na primeira tenda”, diz o chefe, “há uma jarra cheia de licor forte. Você deve
bebê-lo todo.”
“Na segunda tenda”, continuou, “está um leão com dor de dente. Você deve tirar
o dente dolorido dele.”
“Na terceira tenda”, arrematou, “está uma ninfomaníaca. Ela já exauriu dois
maridos que estavam tentando suprir suas necessidades. Você deve satisfazê-
la duas vezes!”
O marinheiro dá de ombros e entra na primeira tenda. Depois de cinco minutos
de silêncio, ele cambaleia para fora e entra na segunda tenda. Há gritos e
gemidos e, finalmente ele engatinha para fora, coberto de arranhões e
contusões.
Levantando-se, ele olha ao redor e pergunta:
“Agora, onde está a tal garota com o dente dolorido?”
Agora, Nivedano, dê o primeiro bumbo e todos entrem em absoluto giberixe.
Todos entrem em absoluto silêncio.
Apenas reúnam sua energia interior,
fechem os olhos...
Isto, isto, mil vezes isto!
Até os bambus ficaram silenciosos.
(Alguns bambus ainda continuam fazendo barulho)
Apenas alguns deles, Setchos,
estão ainda fazendo comentários.
(Até mesmo os bambus tornam-se absolutamente silenciosos.)
Nivedano...
Relaxem. Relaxem como se estivessem mortos.
Nivedano...
Agora, retornem da morte.
Todo mundo voltou à vida?
Ok, Maneesha?
Sim, Osho.
7
Por que ser um
mendigo?
Amado Osho,
Havia um monge em treinamento com Dogo, chamado Soshin. Ele era um
jovem monge sincero, digno do seu nome, que significava: “reverenciar e
acreditar”.
Ele havia se tornado angustiado, e sentiu que a situação já estava para
além do suportável: desde o momento em que ele havia chegado ao
mosteiro para treinamento, seu professor, Dogo, não lhe tinha dado, nem
mesmo uma vez, qualquer sermão instrutivo ou uma direção apropriada.
Certo dia, Soshin, não conseguindo esperar mais, foi até seu professor,
Dogo e perguntou:
“Até hoje, desde que vim para este mosteiro, você não me deu, nem
mesmo uma vez, seu ensinamento generoso. Qual poderia ser a razão
disto!?”
O mestre deu a resposta menos esperada, dizendo: “Ora essa, desde que
você veio para este mosteiro, nem mesmo por um momento negligenciei
ensinar-lhe”.
“Que espécie de ensinamento você me deu, mestre?”, perguntou Soshin.
“Bem, bem! Se você me traz uma xícara de chá, eu não recebo a xícara?
Se você me serve alimentos, eu não os como? Se você me saúda de
mãos postas, eu não retribuo sua mesura? Como é que eu sempre
negligenciei dar-lhe uma direção!?”
Soshin, ouvindo isto, pendeu gravemente a cabeça e, por um momento,
não pôde pronunciar nem uma palavra.
Subitamente, o brado estrondoso do mestre, como se fosse um maltrato,
caiu sobre todo o ser de Soshin. Dogo disse:
“Quando você vir, veja diretamente! Se um pensamento passa, vai tudo
embora!”
Aí, Soshin soltou um lamento não intencional, “Oh!”, e prostrou-se diante
do professor, em lágrimas, se de alegria ou de tristeza, ele mesmo não
sabia.
A verdadeira essência do Zen
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A verdadeira essência do Zen

  • 1. OSHO ISTO ISTO MIL VEZES ISTO A Verdadeira Essência do Zen UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Introdução Nota ao leitor Capítulo 1 — Zen — sua verdadeira essência Capítulo 2 — Os bambus falam Capítulo 3 — Isto... é todo o sermão Capítulo 4 — A pulsação do universo Capítulo 5 — A liberdade é o meu Deus Capítulo 6 — O dedo apontado para o nada Capítulo 7 — Por que ser um mendigo? Capítulo 8 — Dançando loucamente da eternidade para a eternidade Capítulo 9 — Uma selva de chamas Capítulo 10 — Nada é tão ousado quanto o Zen Capítulo 11 — Sem começo e sem fim Capítulo 12 — Sua profundidade é infinita Capítulo 13 — As cinco portas da sua casa Capítulo 14 — O Zen é para ninguéns Capítulo 15 — Todas as flechas convergem sobre isto Apêndice: experiência dos meditadores
  • 3. O Zen é muito individual, único, uma categoria em si mesma. É somente para as pessoas excêntricas, para os muito inteligentes. Não é para os medíocres, para a multidão. É somente para o indivíduo que tem entranhas para ficar de pé sozinho e ouvir seu próprio ser sem ficar incomodado com o que os outros estão dizendo, crendo, ou adorando. O Zen não é um esforço intelectual para se compreender a realidade; é uma abordagem intuitiva para se mergulhar no mistério da existência, para abrir as suas asas e voar como uma águia através do sol. Em gratidão amorosa a Osho.
  • 4. Discursos proferidos na Osho International University of Mysticism no Gautama the Buddha Auditorium, Puna, Índia, de 27 de maio a 10 de junho de 1988. Dedicado aos bambus, por seu vazio interior.
  • 5. Introdução Foi um daqueles momentos com os quais os discípulos sonham, onde anos de devoção ao mestre se cristalizam dentro de uma realidade nova, atemporal, inesperada. Esta série foi um período tão incrível, tão único, tão impossivelmente lindo, que as palavras parecem muito frágeis para descrevê-lo. Mas... de que outro modo? Osho está fazendo algo diferente aqui. A meditação não é simplesmente um espaço onde a pessoa entra esperançosa, mas uma paragem, um ponto onde a pessoa é conduzida. O mestre é participante, estendendo a mão, entrando em nós como um guia e trazendo-nos de volta — para dentro de nós mesmos. Ele nos permite, com esses discursos, a experiência direta de relaxar (let-go) dentro da meditação — não discursos sobre meditação, mas discursos em meditação. E Ele apresenta a — hoje famosa — meditação de três estágios: giberixe (algaravia), silêncio penetrante e relaxamento (let-go), seguidos de música e celebração. Explosão/implosão, exterior/interior, plenitude/vazio. “Puro Zen”, diz Ele, aqui! Agora! Isto! ... ISTO! Até o tempo cooperou, com tempestades ruidosas, depois o silêncio. Os bambus rangendo, depois o silêncio. Os cucos cantando, depois o silêncio. A dança da vida, e nós como minúsculas flores devocionalmente abrindo-se à luz de Osho, aos Seus olhos, atrás de enormes óculos escuros, cintilando como portas para o divino. Para o buscador sincero, esta série é um imperativo. O que aconteceu aqui revolucionará o próprio significado da palavra “meditação”. Esta é uma linha divisória entre o velho e o novo. Swami Dhyan Yogi, M.D.
  • 6. Nota ao leitor Em abril de 1988, Osho introduziu um novo elemento nos Seus discursos diários. Pela primeira vez, em mais de trinta e cinco anos, Sua audiência teve a oportunidade de experienciar um processo de meditação específico, na Sua presença, sob Sua orientação. Durante um período de várias semanas, o processo evoluiu até sua presente forma, e o texto de cada meditação da noite está incluído neste livro. Cada estágio da meditação é precedido por um sinal de Osho para uma batida de bumbo, que é representada no texto por este símbolo: O primeiro estágio é o giberixe, que Osho descreve como “limpar a sua mente de todas as espécies de poeira, falando qualquer língua que você não saiba, jogando fora toda a sua loucura”. Durante alguns minutos, o salão permanecia completamente ensandecido, à medida que milhares de pessoas gritavam, berravam, balbuciavam absurdos e balançavam seus braços no ar. O giberixe é representado no texto como se segue: O segundo estágio é o período de se sentar em silêncio, de se reunir a energia internamente. Osho, frequentemente, diz algumas palavras durante esse estágio da meditação, para ajudar a aprofundar esse processo. O terceiro estágio é o relaxamento (let-go), onde cada pessoa permite-se cair ao chão “como morto”, nas palavras de Osho, “morrer para o mundo, morrer para o corpo, morrer para a mente, e assim somente o eterno permanece em você”.
  • 7. Uma batida final de bumbo sinaliza aos participantes para “voltarem à vida”, guardando a experiência e lembrando-se dela, a fim de que ela possa permanecer como uma subcorrente, vinte e quatro horas por dia.
  • 8. 1 Zen — sua verdadeira essência Maneesha, Antes de iniciar uma nova série de discursos sobre o Zen — chamada Isto. Isto. Mil Vezes Isto — quero devotar o dia de hoje à preparação das vindouras historietas Zen, absurdas, contudo profundas; sem qualquer racionalidade, mas ainda assim tão verídicas quanto a língua permite. Estou usando óculos escuros à noite, por cortesia do Presidente Ronald Reagan. Seu envenenamento criou muitos efeitos posteriores. Um deles é que meus olhos se enfraqueceram imensamente; não podem nem encarar a luz do dia. Mas, mesmo através dos óculos, sou perfeitamente capaz de ver vocês. Nesta conexão, uma anedota: Recebi o convite de um dos mais importantes promotores globais na eleição presidencial dos Estados Unidos. Eles querem-me na corrida, para me promover. Muito embora eu tenha sido proibido — ilegalmente, inconstitucionalmente — de entrar nos Estados Unidos por dez anos, certamente posso entrar na eleição presidencial. A lei não pode me proibir. Posso permanecer fora dos Estados Unidos. Disse ao promotor para ir em frente. Não importa vencer ou perder. O que importa é que isto decidirá quantas pessoas inteligentes vivem nos Estados Unidos, quantas têm senso de humor e quantas têm um sentido universal da humanidade como um todo. Se por acaso eu vencer a eleição, será realmente a maior gargalhada da História. E será o começo de um novo dia. Sem dúvida espero que haja pessoas — independente de partido, religião ou preconceito — que me apoiem apenas por uma boa risada. Minha luta contra a ilegalidade e o crime que foi cometido contra mim, minha comuna e meu povo continua. Vocês ficarão surpresos ao saber que eles
  • 9. continuavam retardando uma decisão na Suprema Corte do Oregon até me expulsarem. Estive nos Estados Unidos por cinco anos sem nenhum visto de entrada. Eles não podiam me dizer para sair: sabiam que eu lutaria na Justiça. E todo americano é um estrangeiro — os verdadeiros americanos foram mortos, massacrados, obrigados a adentrarem as florestas, dentro de pequenas reservas. Eles até mudaram seus nomes; são chamados de “Peles Vermelhas”. Mesmo Ronald Reagan não é um americano; nem Abraham Lincoln era. Assim sendo, não há nenhum problema: se outros estrangeiros podem ser escolhidos para ser o presidente dos Estados Unidos, eu também sou elegível. Após a minha deportação, a Suprema Corte do Oregon declarou minha comuna vitoriosa, e a parte opositora no caso, os “Amigos do Oregon”, foi derrotada. Eles apelaram à Suprema Corte dos Estados Unidos e ela também decidiu a meu favor. A destruição da comuna, minha expulsão e a de meu povo foram absolutamente antidemocráticas e inconstitucionais. Isto prova um velho ditado de que “justiça atrasada é justiça negada”. Ora, qual é a vantagem de ser vitorioso na Justiça, na mais alta corte dos Estados Unidos, quando já tinham esmagado tudo, destruído a comuna na qual cinco mil sannyasins trabalharam por cinco, dez anos, doze horas por dia, para transformar um deserto em uma linda cidade? Foi um grande experimento de fraternidade, de amor, de paz; nenhum crime, nenhuma corte, nenhuma lei... E cinco mil pessoas criaram todas as estradas, transformaram todo o deserto em um oásis. Não era um lugar pequeno, eram trezentos e vinte quilômetros quadrados. Era quase um país. Qual era o medo dos políticos norte-americanos? Era o medo da nossa criatividade, da nossa alegria. Pela primeira vez na História do mundo, cinco mil pessoas viveram como uma família. Ninguém perguntava o país de ninguém, a religião, a casta ou a raça. Todo ano, vinte mil pessoas de todas as partes do mundo costumavam vir ver esse milagre. Os políticos norte-americanos ficaram perturbados pelo sucesso da comuna. Tem havido uma grande quantidade de pesquisas, conduzidas por psicanalistas, sobre pessoas excêntricas. Suas conclusões são muito reveladoras. Primeiro, que as pessoas excêntricas são mais inteligentes, mais criativas, mais divertidas que as massas medíocres comuns; as chamadas pessoas sãs não são tão criativas. Em segundo lugar, em toda profissão a pessoa excêntrica se elevará mais alto, devido à sua criatividade, sensibilidade, inteligência. As pesquisas verificaram que a política é a única profissão onde — exceto Abraham Lincoln — não tem havido uma pessoa excêntrica. É um achado estranho. O político é muito esperto, não é inteligente. Ele substitui inteligência
  • 10. por esperteza. Ele não é sábio, porque ser sábio neste mundo é ser condenado pelas massas, e o político não pode se dar a esse luxo. Mas todas as grandes pessoas — os poetas, os pintores, os escultores, os cientistas, os místicos — foram excêntricas. Descobriu-se que as pessoas excêntricas não se incomodam com as massas; são indivíduos mais íntegros. Vivem de acordo com a própria luz, têm seu próprio estilo. Você pode condená- los, mas não pode fazê-los comprometerem-se. Essa pesquisa deu-me absoluta certeza sobre por que os políticos norte- americanos ficaram tão perturbados por uma comuna que era divertida, inteligente, que cantava com as árvores e dançava com os pavões. Eles ficaram com medo, porque a comparação estava clara: a comuna estava caminhando na direção da mais alta consciência, de mais vivacidade, mais alto que as massas comuns, de todas as maneiras possíveis. Os políticos iam ser questionados: “Por que isto não está acontecendo no mundo todo?” Se pode acontecer, numa pequena comuna, de as pessoas viverem amorosamente, dançantes, divertidamente, então, o que está faltando no mundo todo? Por que as pessoas são tão miseráveis? Assim como Jesus foi crucificado, meu povo e a comuna como um todo foram crucificados. Nem mesmo a própria constituição pôde apoiar os atos dos políticos. E uma vez que algo é perturbado, é muito difícil organizá-lo novamente. Mas nós estamos fazendo o experimento novamente e estamos num estágio muito mais bem-sucedido agora. Nosso povo está mais alegre, mais meditativo, mais inteligente, descompromissado. Este é o encontro de pessoas excêntricas, mas altamente inteligentes. Todo meu esforço é o de espalhar inteligência, amor, liberdade... sem qualquer limite, sem quaisquer fronteiras, ao redor do globo. Isto pode ser feito somente pelo indivíduo, não pelas religiões, pelos partidos políticos, por quaisquer outras espécies de organizações, Tudo depende do indivíduo erguer-se ao mais alto pico do seu ser e da sua potencialidade. Estou lhes oferecendo uma nova meditação. Desde Gautama Buda, nem uma única nova meditação foi desenvolvida. Esta meditação será o prefácio da série vindoura sobre o Zen. Zen significa sua verdadeira essência, seu verdadeiro ser. Já falei sobre a meditação, e um grupo de pessoas a fez durante vinte e um dias, mas todos vocês não foram participantes. No início desta série, seja um participante nesta meditação denominada A Rosa Mística. Ela tem quatro passos. Todos são destinados a um propósito específico: tirar do seu ser todo o veneno que foi injetado por todas as gerações durante séculos. O riso é o primeiro passo. Um dos maiores escritores, Norman Cousins, escreveu, precisamente agora, sobre um experimento de toda a sua vida: se ele ri por vinte
  • 11. minutos sem qualquer razão, todas as suas tensões desaparecem. Sua consciência cresce, a poeira desaparece. Vocês verão isto por si mesmos; se você pode rir sem qualquer razão, verá alguma coisa reprimida dentro de você. Desde a infância, foi-lhe dito para não rir — “Fique sério!”. Você tem de sair desse condicionamento repressivo. O segundo passo são as lágrimas. As lágrimas foram reprimidas até mais profundamente. Foi-nos dito que as lágrimas são um sintoma de fraqueza, mas não são. As lágrimas podem não apenas lavar os seus olhos, mas seu coração também. Elas o amaciam, são uma estratégia biológica para mantê-lo limpo, mantê-lo descarregado. É agora um fato bem conhecido que as mulheres enlouquecem menos que os homens. E a razão é que as mulheres podem chorar e berrar mais facilmente que os homens. Até para uma criança é dito: “Seja um homem, não chore como uma mulher!” Mas, se você olhar para a psicologia do seu corpo, você tem as mesmas glândulas cheias de lágrimas, seja você homem ou mulher. Descobriu-se que as mulheres cometem menos suicídios que os homens. E naturalmente, nenhuma mulher na História foi a causa da criação de religiões violentas, guerras, massacres... Se todo mundo puder aprender a chorar e berrar novamente, será uma tremenda transformação, uma metamorfose. O terceiro passo é o silêncio. Chamei-o de “O Observador na Colina”. Fique tão silencioso como se você estivesse sozinho no topo de um pico do Himalaia, completamente silencioso e sozinho, apenas observando, ouvindo... sensitivo, mas imóvel. O quarto passo é o relaxamento. A cada passo, Nivedano será solicitado a bater o seu bumbo. Ontem ele se perdeu na meditação. Fiquei tentando duramente, mas ele estava metido demais no próprio giberixe. E o que é o giberixe? Ele estava lutando com Mukta. Esses são os dois lutadores daqui, Mukta e Nivedano. Mukta está lutando pelas árvores; Nivedano está lutando pelas pedras. Ele não ouviu; de repente ele parou... Hoje ele não tem permissão de participar. É seu trabalho lembrar-se que quando eu digo “Bata o bumbo!”, bata-o! Caso contrário, todos baterão em você! Concorda? Certo! Comecemos nosso primeiro passo da Meditação da Rosa Mística. Dê a batida, Nivedano!
  • 12. (Nivedano dá uma batida ressonante no seu bumbo e todo o Buddha Hall explode em gargalhada selvagem durante vários minutos. Ao longo da meditação, Osho parece estar tecendo e conduzindo comentes invisíveis de energia com Suas mãos.) Nivedano... (Agora, o riso muda para choro.) (Cai um silêncio total... nem um som, somente o cantar dos pássaros noturnos e o ranger dos bambus.) (Todos caem de costas no chão, tombados em desordem uns sobre os outros, caindo em qualquer lugar, estendendo-se imóveis em profundo “let-go”.) Relaxem... É isto... A experiência... e os bambus fazem o comentário. Nivedano... (Todos sentam-se silenciosamente. Alguns momentos de um silêncio tão delicado...) Ok, Maneesha? Sim, Osho.
  • 13. 2 Os bambus falam Amado Osho, Quando Seppo estava vivendo no seu eremitério, dois monges vieram prestar-lhe seus respeitos. Assim que Seppo os viu chegando, ele abriu o portão e, apresentando-se diante deles, disse-lhes: “O que é isto?” Os monges também disseram: “O que é isto?” Seppo abaixou a cabeça e voltou ao seu bangalô. Mais tarde, os monges foram a Ganto, que perguntou: “De onde vocês vêm?” Os monges responderam; “Viemos do sul das montanhas Nanrei”. Ganto disse: “Já viram Seppo?” Os monges responderam: “Sim, já o vimos”. Ganto disse: “O que ele disse a vocês?” Os monges relataram a história toda. Ganto disse: “Ora! Lamento que não lhe tenha dito a última palavra quando estive com ele. Se tivesse feito isto, ninguém em todo o mundo poderia ter pretendido sobrepujá-lo”. Ao fim da assembléia de verão, os monges repetiram a história e pediram pelas instruções de Ganto. Ganto perguntou: “Por que não pediram mais cedo?” Os monges responderam: “Temos tido momentos duros lutando com esse tópico”. Ganto disse: “Seppo veio à vida do mesmo modo que eu vim, mas ele não morre do mesmo modo que eu. Se vocês querem saber a última palavra, eu lhes direi simplesmente: ‘Isto! Isto!’.” Maneesha, estou imensamente agradecido por você ter-me lembrado de Seppo. Sempre quis trazer Seppo para vocês, porque ele é um dos mais preciosos budas que já andou sobre a Terra. Ele era único no seu jeito próprio; nos seus ensinamentos, as palavras não eram importantes, mas somente o “isto”, o completo silêncio da existência. O chilrear dos pássaros são as únicas sagradas
  • 14. escrituras no mundo. E os comentários dos bambus são realmente honestos, sinceros e precisos. Seppo teria adorado esta assembléia, este momento de espera silenciosa. Ele não era tão afortunado quanto eu. Ele teve muito poucos discípulos, mas isto foi muito injusto por parte da existência. Seppo deveria ter tido o mundo inteiro como seu discípulo, porque o que ele está oferecendo é a suprema essência. (O chilrear dos pássaros corre através do silêncio do Buddha Hall.) Isto era Seppo. Todos juntaram-se aqui. Esta história torna claro o método de ensinamento de Seppo: Quando Seppo estava vivendo no seu eremitério, dois monges vieram prestar-lhe seus respeitos. Assim que Seppo os viu chegando, abriu o portão e, apresentando-se diante deles, disse-lhes: “O que é isto?” Os monges devem ter ficado perplexos. Na verdade, Seppo abrir o portão, parando diante deles, era uma pergunta a ser feita por eles. Mas, antes de terem dito qualquer coisa, o próprio Seppo, sem ser indagado, perguntou: “O que é isto?” Em completa confusão, aqueles dois monges disseram a Seppo: “O que é isto? Nós nem mesmo perguntamos, nem mesmo entramos pelo portão, nem mesmo lhe cumprimentamos e você abre o portão e, parando diante de nós, irracionalmente, pergunta ‘o que é isto?’ Na verdade, nós lhe perguntamos sobre o seu comportamento: ‘O que é isto?’” Eles perderam o ponto. Seppo abaixou a cabeça e voltou ao seu bangalô. Esse abaixar de cabeça do mestre é uma profunda tristeza em relação à incompreensão que esses dois monges mostraram. E ele voltou ao seu bangalô, porque não havia motivo para dizer mais nada. Ele já tinha dito mais do que é absolutamente essencial. Isto fica claro que ele já tinha dito mais. Mais tarde, os monges foram a Ganto, que perguntou: “De onde vocês vêm?” Ganto era mestre de Seppo.
  • 15. Os monges responderam: “Viemos do sul das montanhas Nanrei”. Ganto disse: “Já viram Seppo?” Os monges responderam: “Sim, já o vimos”. Ganto disse: “O que ele disse a vocês?” Os monges relataram a história toda. Ganto disse: “Ora! Lamento que não lhe tenha dito a última palavra quando estive com ele. Se tivesse feito isto, ninguém em todo o mundo poderia ter pretendido sobrepujá-lo”. Ao fim da assembléia de verão, os monges repetiram a história e pediram pelas instruções de Ganto. Ganto perguntou: “Por que não pediram mais cedo?” Os monges responderam: “Temos tido momentos duros lutando com esse tópico”. Ganto disse: “Seppo veio à vida do mesmo modo que eu vim, mas ele não morre do mesmo modo que eu. Se vocês querem saber a última palavra, eu lhes direi simplesmente: ‘Isto! Isto!’.” Ganto está dizendo que perguntar “O que é isto?”, não é exatamente correto. A existência não pode ser questionada, ela não pode ser um “o que”. Ela simplesmente é, sem nenhuma pergunta e sem nenhuma resposta. Simplesmente “isto”. Essa pequena historieta convergindo na menor palavra possível, “isto”, lhes dá a verdadeira essência da religiosidade — o seu mistério, a sua beleza, a sua verdade. Você não pode responder e não pode perguntar, tem simplesmente de viver; viver o isto, nas palavras de Gautama Buda, tathata, estado-de-exatidão, é o todo da consciência religiosa. Simplesmente viva a totalidade deste momento, sem oscilar; nem pensando no passado, que não existe mais; nem projetando sobre o futuro, que ainda não existe. Tudo o que você tem é a pureza do isto, este momento. E a glória e o êxtase não podem ser mais elevados, não podem ser mais profundos, se você puder compreender a simples experiência disto. O comentário de Setcho sobre isto: A última palavra, deixe-me dizer-lhes: Luz e escuridão entre mesclam-se. Vivendo do mesmo modo, todos vocês sabem: Morrendo de modos diferentes: além do dizível! Absolutamente além do dizível! Buda e Dharma apenas inclinam a cabeça (...)
  • 16. Buda e Bodhidharma — Dharma é uma forma reduzida de Bodhidharma. Buda e Dharma apenas inclinam a cabeça um para o outro. Eles nem mesmo pronunciam a palavra mais simples: isto. Simplesmente inclinam-se. No inclinar da cabeça, está dito tudo o dizível, o indizível. No inclinar de cabeças, todo o mistério da existência. Este, Oeste, Norte, Sul — para casa, vamos nós. Tarde da noite, vendo a neve sobre milhares de picos. Como eu lhes disse antes, Setcho é um grande intelectual, mas ele não é um iluminado. Uma vez ou outra, ele faz um comentário lindo, mas sai de sua cabeça em vez de sair do seu ser. Ele não é enumerado na longa lista de budas. Permanece somente um comentador. E um comentador, embora grande, está simplesmente repetindo, parafraseando a experiência que não é dele próprio. Não quero que vocês sejam comentadores. Quero que vocês estejam no próprio centro da existência, de seu ser. Este é o único modo de se compreender esse tremendo mistério que os circunda. Uma outra história... Seppo também é conhecido como Hsueh-Feng. Seppo uma vez falou de um incidente que contribuiu para seu despertar: “Quando perguntei ao mestre Tokusan se eu poderia partilhar a experiência que os velhos mestres conheciam, ele me golpeou, e eu fiquei como um balde cujo fundo tivesse caído. Gamo proferiu um “Oh!” de advertência e perguntou: “Você não sabe que o que vem de fora não é tão bom quanto o que é produzido dentro? Se você estiver revelando sua experiência do Ch’an, ou Zen ou Dhyan, tudo o que você disser ou fizer fluirá diretamente do centro do seu ser mais recôndito, que em retorno abraçaria e penetraria o universo inteiro”. Após ouvir isto, Seppo subitamente ficou iluminado e fez uma profunda reverência para Ganto. Essas lindas histórias e essas pessoas lindas quase desapareceram do mundo. Não eram de plástico, nem eram imitação. Eram completamente inocentes, autênticas. Quero que o meu povo traga de volta aqueles momentos de ouro que desapareceram do mundo.
  • 17. Há uma história sobre um dos discípulos de Seppo chamado Tozan: Quando ele foi a Seppo pela primeira vez, mal ele entrou pelo portão, Seppo empurrou-o de volta e disse: “O que é isto?” E Tozan ficou iluminado imediatamente. Esquecendo de si mesmo, ele apenas ergueu as mãos e começou a dançar. Seno perguntou: “Você está se comportando racionalmente?” Tozan respondeu: “O que isto tem a ver com racionalidade?” Seppo bateu-lhe nas costas e confirmou sua iluminação. Uma dança pode dizer muito mais que qualquer filosofia. Um simples grito, “Oh!”, pode trazê-lo a este momento. Qualquer coisa que possa trazê-lo para casa é a única religião que eu conheço. As chamadas religiões do mundo estão simplesmente enganando e explorando as pessoas. As pessoas têm de ser acordadas! O Zen tornou-se o meu amor maior, pela simples razão de que ele não cria nenhuma teologia. Não se importa com Deus. Porque Deus é sempre aquele, Deus está sempre lá. E o real interesse é isto, não aquilo. Aqui, não lá. Agora, não então. Um dia Seppo estava cortando árvores com Chosei e lhe disse: “Quando cortar, corte até o coração. Então pare”. Chosei disse: “Cortei e acabei”. Seppo disse: “Mestres formais transmitiram a verdade de mente para mente. Você diria realmente que cortou e acabou?” Chosei respondeu: “Atirando o machado no chão, está transmitido”. Seppo golpeou-o com seu bastão. É a partir de tremendo amor e grande compaixão que um mestre Zen sempre golpeia alguém. Esta é uma linguagem diferente do que dizer que você conseguiu, que está iluminado. Um bastão de mestre é esperado pelo discípulo durante anos, porque ele lhe baterá se souber que sua pancada vai acordá-lo; ou lhe baterá somente quando você estiver acordado, como recompensa. No mundo moderno isto não será compreendido. Quando, pela primeira vez, as histórias Zen foram traduzidas, todo mundo pensou que era alguma espécie de piada. Não são piadas. Mas como foram traduzidas primeiramente pelos missionários cristãos, era apenas para mostrar ao mundo: “Olhem para a grandeza do Cristianismo e olhem para essa gente primitiva pensando que é iluminada”. Mas a coisa toda fracassou. Essas histórias foram traduzidas pelos missionários cristãos para provar a superioridade do Cristianismo.
  • 18. Mas, na verdade, essas histórias — se compreendidas, experienciadas — simplesmente provam que não pode haver nada superior a elas. Sua completa inocência... olhe apenas para o discípulo dançando. Porque ele conseguiu! Olhe apenas para o mestre batendo no discípulo como uma recompensa. Isto só é possível nas verdadeiras alturas da consciência. O homem progrediu tecnologicamente, cientificamente, mas se esqueceu da linguagem do seu próprio ser. Há progresso em artefatos, mas o homem está completamente perdido. Quero lembrar-lhes que a sua primeira tarefa na vida é ser completamente, inteiramente, consciente de si mesmo. Porque, sem ser totalmente consciente, você jamais saberá da beleza e do esplendor desta existência que o circunda. Você jamais saberá do seu nascimento, da sua morte. Você jamais saberá realmente que viveu. Sem ser conscientes, todos vocês são sonâmbulos, andando adormecidos, falando adormecidos. E vocês se tornaram tão acostumados ao seu sono que podem até fazer coisas complicadas enquanto estão completamente adormecidos. Podem ser eficientes fazendo certos trabalhos, enquanto ressonam dentro do seu ser. O mundo todo pensa que acorda de manhã e, à noite, vai dormir novamente. Isto é um completo absurdo. Uma vez acordado, você jamais vai dormir. Assim, o acordar pela manhã é falso, muito superficial. Você tem de aprender o autêntico acordar. Seppo estava se despedindo de Tozan, que lhe perguntou: “Aonde você vai?” Seppo respondeu: “Estou voltando para Reichu”. “Naquele tempo, por que estrada você veio?”, perguntou Tozan. “Por Hienrei”, respondeu Seppo. “E por que estrada você vai voltar?”, perguntou Tozan. “Pela mesma estrada”, respondeu Seppo. “Você já percebeu que quem nunca parte é Hienrei, a estrada?” As pessoas vêm e vão, as estradas permanecem. Tozan está lembrando a Seppo: “Não seja um vai-e-vem, mas seja um que permanece. Não há nenhum lugar para se ir, você já está lá. Apenas perceba isto”. Seppo disse: “Eu não conheço aquele que permanece”. “Por que não?”, perguntou Tozan. “Porque aquele não tem personalidade”, respondeu Seppo.
  • 19. Tozan disse: “Você diz que não conhece aquele. Se é assim, como você sabe que aquele não tem personalidade?” Esses diálogos são totalmente diferentes dos diálogos de Sócrates e Platão — diálogos lindos, muito racionais! Mas esses diálogos são simplesmente de um outro mundo, de uma outra consciência. Tozan é um grande mestre, um velho mestre. Embora Seppo tenha compreendido, seja um iluminado... Mas apenas ser iluminado não é o bastante. Há muitas dimensões da iluminação. Tozan está tentando apanhar Seppo para entrar numa outra dimensão. Ele conhece o é, ele conhece o isto, mas não está consciente. Essa consciência não tem nenhuma personalidade. Ainda assim, ela é, não há nenhum limite para ela. O é é oceânico, não tem nenhuma fronteira. É tão lindo simplesmente ouvir pessoas iluminadas arrumando artimanhas entre si, para dentro de novas dimensões do ser! Maneesha perguntou: Amado Osho, Isto é realmente tão fácil? Maneesha, “fácil” não é a palavra, porque ela traz a idéia de dificuldade. Embora fácil, ela é ainda difícil. Embora perto, ainda está longe. Seu ser não é nem difícil, nem fácil, ele simplesmente é. Ele não é uma conquista sua, você é ele. Maneesha fez outra pergunta: Ganto parece estar dizendo que Seppo se tornou iluminado, veio à vida, do mesmo modo que ele. É verdade que a realização da iluminação é a mesma para todos? A suprema experiência é certamente a mesma. Mas os caminhos são milhões. Alguém vem do norte e alguém vem do sul. Um rio vem do Himalaia, um outro rio vem de outras montanhas. Mas todos eles, grandes ou pequenos, alcançam o mesmo oceano. A suprema experiência é a mesma, mas as pessoas diferem na sua singularidade. Desse modo, seus caminhos de revelarem-se para si mesmas são diferentes. Todos nascem do mesmo modo, mas todos não morrem do mesmo modo. O nascimento não está nas suas mãos. Quando você acorda, você já nasceu. Não é uma questão para você decidir, nascer ou não nascer. Mas a morte é um
  • 20. caso diferente. Você pode morrer inconscientemente, pode morrer conscientemente, pode morrer alegremente, pode morrer como se estivesse dançando. Você pode fazer uma piada da própria morte. O nascimento é o mesmo, mas a morte tem de ser única. Mas a maioria das pessoas nasce do mesmo modo e morre do mesmo modo: inconscientes. Mas, lembre-se, se nascimento e morte — os dois extremos — são inconscientes, então, aquilo que está no meio — a vida — não pode ser consciente. É um longo sono do berço ao cemitério. Muito poucos são afortunados o bastante para alcançarem seus túmulos com conhecimento, conscientemente. E no momento em que uma pessoa alcança a própria morte conscientemente, não há morte, absolutamente. A morte existe somente para pessoas inconscientes. Para a pessoa consciente, a morte é apenas uma mudança de tempo e espaço, uma mudança de forma. Mas a essência permanece a mesma. Seppo deixou-nos sérios... Um pouco de risada antes de entrarmos na meditação. Bárbara Peituda está para ser submetida a uma operação redutora. Foi preparada e conduzida numa cadeira de rodas, ao longo do corredor, até a porta da sala de cirurgia, onde a enfermeira a deixou para checar se a equipe de assistentes estava pronta. A enfermeira tinha acabado de deixá-la, quando um jovem de avental branco aproximou-se da maca. Levantando o lençol, começou a examinar o corpo nu de Bárbara, muito cuidadosamente. Inclina a cabeça reflexivamente e vai embora. Então, chega um segundo homem de avental branco, levanta o lençol e a examina também. Mas quando um terceiro homem, similarmente vestido, chega e faz o mesmo, Bárbara fica impaciente: “Está tudo muito bem examinarem-me”, diz ela irritada, “mas quando vão começar a operação?” “Não tenho a menor idéia”, responde o homem, “estamos pintando o corredor.” * Doutor Apertafundo, o médico da Casa Branca, está fazendo o minucioso exame médico anual no presidente e na primeira-dama. O médico examina Ronald Reagan primeiro, e encontra-o em boa saúde para um homem nas condições dele. “E como se sente?”, pergunta Apertafundo.
  • 21. “Ótimo!”, responde Reagan. “A vida é tão boa que até mesmo quando vou ao banheiro à noite, Deus apaga a luz para mim.” O Doutor Apertafundo fica perplexo, mas não diz nada, e começa a examinar Nancy Reagan. Quando termina, ele pergunta a ela: “Diga-me uma coisa: é verdade mesmo essa história de Deus apagar a luz para Ronald Reagan à noite?” “Oh! Não!”, diz Nancy, “ele está simplesmente mijando na geladeira de novo.” * Jacó Pataca, um diretor ativo de meia-idade, é um daqueles que acredita muito na eficiência. Certo dia, ele pendura um lembrete no escritório central, onde se lê: “FAÇA-O AGORA!” Poucas horas depois, o caixa desaparece com o conteúdo do cofre da companhia; a secretária de Jacó foge com seu filho mais velho; a maior parte dos funcionários tira o dia de folga; o contínuo joga um vidro de tinta vermelha dentro do ar condicionado, e então pega o primeiro avião para Puna. Ele deve estar aqui em algum lugar... Agora é hora de fazermos a pequena meditação diária. Nivedano... Comecem a giberixar... Nivedano... Fiquem silenciosos, absolutamente silenciosos. Reúnam suas energias dentro de si mesmos. Isto é o que Seppo quer dizer por “Isto”. Isto... os bambus, como de costume, estão fazendo seus comentários.
  • 22. Nivedano... Relaxem... Isto... até os bambus ficarem silenciosos. Nivedano... Voltem. Ok Maneesha? Sim, Osho.
  • 23. 3 Isto... é todo o sermão Amado Osho, Hyakujo tinha um modo singular de guiar os monges. De manhã até a noite, ele permanecia dizendo: “Trabalhem para mim no campo e eu lhes darei o ensinamento”. Desse modo, ele fez seus discípulos trabalharem no campo o tempo todo; mas ele não parecia estar preparado para fazer quaisquer discursos ou sermões. Finalmente, os monges, incapazes de aguentarem aquilo por mais tempo, foram ao mestre e perguntaram: “Você poderia, por favor, ter a bondade de nos fazer um sermão edificante?” A resposta decidida do mestre foi: “Trabalhem para mim no campo e eu lhes ensinarei”. Passaram-se vários dias, e os monges impacientes foram ao mestre novamente e insistiram: “Por favor, faça-nos um sermão!...” Desta vez, ele muito prontamente concordou. Pouco depois, todos os monges estavam reunidos no saguão. O mestre apareceu diante deles com tranquilidade, subiu ao púlpito, abriu os braços e, sem uma palavra sequer, imediatamente retornou ao seu quarto. Certo dia, Nansen estava trabalhando nas montanhas, com uma foice. Um monge subiu o caminho da montanha e perguntou, sem saber com quem estava falando: “Como posso chegar ao mestre Nansen?” O mestre ergueu sua foice diante do monge e disse: “Paguei trinta centavos por esta foice”. O monge retrucou: “Eu não perguntei nada sobre a foice”. “O que, então”, “indagou o mestre, “você perguntou?” O monge repetiu: “Como posso chegar ao mestre Nansen?” O mestre disse: “Oh! Sim! Isto corta bem!”
  • 24. Maneesha, esta atitude de Hyakujo é o maior sermão proferido em toda a história do misticismo. Simplesmente para preparar o seu povo, ele costumava dizer: “Vá e trabalhe no campo”. Você não pode trabalhar com as árvores e com a grama e com as rosas por muito tempo, sem se tornar tão silencioso como elas. As pessoas que vivem com a natureza, naturalmente, encontram uma sincronicidade entre elas, os rios e as montanhas; ficam mais perto da terra e da sua pulsação. Hyakujo tentou primeiro trazer o discípulo para perto da natureza, para perto do silêncio. A menos que ele esteja preparado, o grande sermão não pode ser proferido. Um grande sermão precisa de grandes discípulos, e um grande discípulo é exatamente aquele que é silencioso. Antes de eu entrar nessa linda história de Hyakujo, gostaria de contar-lhes alguma coisa sobre um mestre contemporâneo, George Gurdjieff. Ele costumava usar — sem conhecer Hyakujo — o mesmo método; e as pessoas que vinham a ele eram muito diferentes das pessoas que iam a Hyakujo. Gurdjieff estava trabalhando no Ocidente. Intelectuais chegavam até ele e Gurdjieff lhes pedia que cavassem um fosso no campo. Mas eles diziam: “Nós viemos aqui aprender algo, não para cavar um fosso!” Gurdjieff era muito duro. Ele dizia: “Primeiro faça o que digo, se quer ouvir a resposta”. Bennet chegou a Gurdjieff em uma situação particular: altamente educado, culto, e a resposta para ele foi a mesma. Ele tinha vindo para perguntar sobre Deus e o significado da vida. Gurdjieff disse-lhe: “No momento, abandone essas coisas. Simplesmente vá e cave um fosso no campo”. Bennet hesitou por um instante, mas, então, pensou: “Vim de tão longe! Vamos ver o que acontece. O que vou perder?” Começou a cavar o fosso. Gurdjieff se aproximou com seu charuto, observou-o cavando e disse-lhe: “Antes do pôr-do- sol esta área marcada tem de estar preparada”. O pôr-do-sol chegou, Bennet estava completamente cansado, um intelectual que jamais havia trabalhado, e especialmente esse tipo de trabalho! E, vendo o sol se pôr, sentiu um grande alívio... “Agora, pelo menos, Gurdjieff começará a ter comigo o diálogo pelo qual eu vim até aqui.” Gurdjieff estava andando bem ao lado, observando o tempo todo. Então Bennet disse: “O fosso está pronto”. Gurdjieff disse: “Agora, encha de novo o fosso completamente, devolva-o ao seu estado natural, jogue todo o barro de volta ao seu lugar”.
  • 25. Bennet estava muito cansado, mas ele era, também, um homem de integridade. Disse: “Vamos ver o que acontece...” Sem comida, sem descanso, nem mesmo um intervalo para o cafezinho, ele encheu o fosso novamente. Já era quase meia-noite e Gurdjieff permanecia de pé o tempo todo, apenas observando e fumando seu charuto. A lua estava cheia, no pico mais alto da noite. Havia um silêncio lindo e Bennet se lembra: “Estava tão cansado... Não sei de onde, um tremendo silêncio baixou sobre mim”. Na sua autobiografia ele diz: “Eu estava simplesmente assombrado”. Gurdjieff riu e disse: “Ouviu?... Agora, vá e descanse”. Mas o que foi dito? Nada foi dito. A questão não é que o mestre deve dizer alguma coisa. A questão é que o discípulo deve estar bem silencioso... E ele estava silencioso, porque estava tão cansado que não podia nem mesmo pensar, a mente ficara completamente vazia. Nesse silêncio, não há nenhuma necessidade de o mestre dizer qualquer coisa, ele pode simplesmente indicá-la como o ISTO, e o sermão acabou. Mas Hyakujo vai até mais além que Gurdjieff. Ele nem mesmo dizia “Isto”. Ele forçava seus discípulos a trabalhar até o máximo, até que suas energias fossem completamente absorvidas pelo trabalho e a mente não tivesse mais nada, nenhuma energia, para manter sua tagarelice. Os discípulos vinham sempre muitas vezes a ele, mas ele repetiria simplesmente: “Vá e trabalhe no campo”. Mas, certo dia, aqueles que tinham permanecido com esse homem esquisito, que não ensina nada, que simplesmente diz “volte ao campo e trabalhe tão duramente quanto possível”... E ele era conhecido como um dos grandes mestres que sabem o segredo. Muitos vinham, mas somente alguns permaneciam. Ele era um homem difícil. Quando sobraram somente aqueles poucos que tinham se tornado silenciosos com o trabalho nos campos, aqueles que tinham chegado a uma profunda harmonia com a natureza, aqueles cujas mentes tinham sossegado, então ele aceitou o convite. Desta vez, depois de muitos esforços dos discípulos para convidar o mestre e receber a mesma resposta, “volte e trabalhe no campo”, desta vez, quando eles vieram e pediram: “Por favor, faça-nos um sermão!, ele muito prontamente concordou que assim fosse. Pouco depois, todos os monges estavam reunidos no saguão. O mestre apareceu diante deles com tranquilidade, subiu ao púlpito, abriu ambos os braços e, sem uma palavra sequer, imediatamente retornou ao seu quarto.
  • 26. Esse é conhecido, na história do Zen, como o maior sermão. E é, porque ele não disse nada e ainda assim disse tudo. Aquelas duas mãos, abertas como asas de pássaros, abriram o céu inteiro aos discípulos silenciosos. Uma transmissão sem palavras. Nós nos acostumamos demais às palavras, nada sabemos da beleza da ausência de palavras. Até mesmo quando vê uma linda rosa, imediatamente sua mente diz: “Que linda!”, e você perdeu. Se você tivesse simplesmente visto a rosa e absorvido sua beleza, sentindo-a no seu coração sem pronunciar sequer uma única palavra de apreciação, você teria ficado iluminado. Até uma rosa poderia ter funcionado como um grande mestre para você. A questão não é que você não saiba; a questão é: você está muito cheio de giberixe, você sabe demais. Devido ao seu conhecimento tomado emprestado e as palavras demais movendo-se dentro de si, você não pode ver a beleza da ausência de palavras, que somente pode ser experienciada no silêncio. Ouçam os bambus... e vocês descobrirão o que Hyakujo disse sem dizê-lo. O Zen não é um esforço intelectual para compreender a realidade. É uma abordagem intuitiva para se mergulhar no mistério da existência, para abrir as suas asas e fazê-lo voar como uma águia através do sol. A língua é um fenômeno muito pequeno. As estrelas não falam, nem as flores, mas ainda assim expressam-se, transmitem seu próprio ser sem nenhuma linguagem. O Zen é apenas uma flor silvestre, espalhando sua fragrância a quem quer que possa interessar. Aqueles que têm sensibilidade compreenderão isto. Nada está sendo dito e tudo é compreendido. Simplesmente inunde-se no “isto” da coisa, o tremendo silêncio do momento, e você se sentirá livre da mente. E esta é a única liberdade, “a primeira e a última liberdade”, liberdade da mente. É a sua própria mente que está encobrindo o seu ser como uma gaiola. Uma vez que a mente é deixada para trás e você é apenas um observador, bem distante, subitamente as portas de todos os mistérios se abrem. O Zen não fala sobre Deus, ele lhe dá Deus; ele não fala sobre o paraíso, ele o empurra para dentro do paraíso. Maneesha perguntou: Amado Osho, Por alguns minutos giberixar sons absurdos; alguns minutos mais de silêncio; e, então, apenas relaxar totalmente. Essa meditação, ou esse exercício simples, deixa-me num tal estado de alegria irracional, deliciosa, que por vários momentos me sinto completamente satisfeita, absolutamente feliz de ser eu mesma como sou, em um mundo
  • 27. exatamente como ele é. Isto é o que a maioria das pessoas persegue durante toda a vida. Presumivelmente, é por isto que as pessoas tomam drogas, têm casos de amor, casam-se e têm filhos; apenas por isto, que nós, os renegados, experienciamos aos pés do homem mais perigoso do mundo. Alguma coisa a dizer? (Osho abre ambos os braços e permanece silencioso.) Lembre-se das duas mãos de Hyakujo. Nada a dizer. O silêncio de vocês é bastante em si mesmo. Ele não precisa de nada mais. É mais do que você poderia ter alguma vez sonhado. A segunda história que Maneesha trouxe... Certo dia, Nansen estava trabalhando na montanha com uma foice. Nansen era um dos grandes. Eu o coloco junto com Gautama Buda, Mahakashyap, Bodhidharma, Joshu, Hyakujo... Tem havido milhares de mestres, mas, ainda assim, Nansen se sobressai com sua beleza própria, sua singularidade. Ele se tornou tão conhecido pelas pessoas, que a própria montanha, onde ele tinha um pequeno bangalô, agora é chamada de Monte Nansen. Certo dia, Nansen estava trabalhando na montanha, com uma foice. Um monge subiu o caminho da montanha e perguntou, sem saber com quem estava falando: “Como posso chegar ao mestre Nansen?” O mestre ergueu sua foice diante do monge e disse: “Paguei trinta centavos por esta foice”. O monge retrucou: Eu não perguntei nada sobre a foice”. “O que, então”, indagou o mestre, “você perguntou?” O monge repetiu: “Como posso chegar ao mestre Nansen?” O mestre disse: “Oh! Sim! Isto corta bem!” Vocês vêem o esforço de trazer o monge para o presente. Não importa o que seja, pode ser a foice, neste momento Nansen está tentando trazer o monge, o estranho, ao momento presente. Mas o monge continua perguntando por algo distante.
  • 28. O Zen não é uma filosofia para coisas distantes, ele é uma abordagem muito realística para o presente, e todos os meios e métodos estão sendo usados para trazer os buscadores para o momento. Comumente, intelectualmente, a história parecerá absurda, eis por que pessoas como Nansen e Hyakujo desapareceram do mundo. Nós nos tornamos muito intelectuais e eles eram não-intelectuais, inocentes, tremendamente presentes, integrados, mas sempre aqui. Você não pode empurrá-los para nenhum outro lugar. Você não pode tirá-los dos seus momentos. Ora, Nansen está trabalhando com a foice, você não pode fazê-lo falar acerca de mais nada além disto, nem sequer sobre ele mesmo. Espero que vocês compreendam o ponto. O monge perdeu. É fácil perder o Zen. É tão óbvio que se você simplesmente não der partida à sua mente apenas por um momento, ele está em suas mãos. Não é nem difícil, nem é simples. É apenas a situação, é o seu próprio ser. Você pode estar familiarizado com ele, ou não; ele está presente, exatamente como sua sombra. Mas a sombra é o exterior; seu ser é o seu centro interior. E, exceto estar presente, aqui e agora, não há nenhum jeito de alcançá-lo. Este é o único caminho que conduz ao si-mesmo. Maneesha está perguntando novamente: Amado Osho, Você fala tão altivamente dos mestres Zen, de seus métodos engenhosos e ainda assim simples; e da inocência da espécie de pessoa que poderia tornar-se realizada através deles!... Contudo, mesmo quando O vejo como um mestre Zen, eu não poderia dizer que a Sua abordagem tem a característica da deles. É assim porque a espécie de pessoa que Você tem é muito cerebral, é tão fora de contato com a inocência e a espontaneidade, ou é assim porque Você tem uma compreensão diferente do que é mais efetivo... ou ambos? Maneesha... (Osho abre os braços) ...ambos. Eu próprio sou uma categoria em si mesma. Não ficarei em nenhuma fila, nem mesmo com Gautama Buda. Amo minha solitude, minha espontaneidade própria. Isto faz uma diferença. Em segundo lugar, as pessoas com quem estou são totalmente diferentes das pessoas com as quais os mestres Zen tinham de lidar. Os mestres Zen, se presentes aqui, pareceriam simplesmente insanos para vocês. Estou tentando
  • 29. tornar a insanidade deles tão sã quanto possível, a fim de que vocês possam compreender. Vocês são diferentes, estão mais na cabeça do que as pessoas com as quais os mestres Zen lidavam. Assim, meu esforço é de, primeiro, levá-los ao coração e, somente então, posso ter um diálogo silencioso com vocês. Tenho de falar para criar silêncio em vocês. É um jeito muito contraditório. Mas antes de vocês caírem num silêncio mais profundo, palpitantes de alegria, paz, o contentamento de que Maneesha esteve falando, o qual não é somente experiência dela, pois é a experiência da maioria do meu povo aqui e ao redor do mundo, os bambus também ficarão felizes de ouvir vocês rirem um pouco. Simão está debruçado sobre o balcão de um barzinho quando entra Pedro com um olho roxo. “Ei, Pedro!”, diz Simão. “Que olho roxo bonito que você tem aí, cara! Quem bateu em você?” “Pra dizer a verdade”, diz Pedro, depois de pedir uma cerveja, “Fernando Reles me bateu.” “Meu Deus!”, diz Simão. “Com o quê?!” “Bem... pra dizer a verdade”, responde Pedro, “ele tinha um pedaço de madeira nas mãos dele.” “E suponho”, observou Simão, “que você não tinha nada na sua mão.” “Pra dizer a verdade”, diz Pedro, bebericando sua cerveja, “eu estava com as minhas mãos nos peitos da Cátia Reles, um objeto de grande beleza... mas inútil numa briga!” * Certo dia, um polaco entra no escritório administrativo do circo e diz: “Consegui um grande número para lhe mostrar. Posso dar um mergulho de trezentos metros de altura sobre o chão duro”. O administrador do circo fica cético, mas concorda em ver o número. Assim, vão para uma grande tenda e o polaco sobe pela escada, até o topo. Então ele faz um mergulho perfeito até o chão. Aterriza de cabeça, com um rangido terrificante. Mas, então, levanta-se, esfregando-se e gemendo baixinho. O gerente corre até ele e diz: “Foi espantoso! O número mais incrível que já vi! Eu lhe darei quinhentos dólares por noite!”
  • 30. O polaco balança a cabeça, dizendo não. Então, o gerente diz: “Tá bem, diga seu preço que eu pagarei!” “Sinto muito, responde o polaco, não quero fazer isto de novo. Eu não tinha nenhuma idéia que ia machucar tanto!” Agora, entremos no verdadeiro Zen. Primeiro bata o bumbo, Nivedano, e todo mundo entra no giberixe. Nivedano... Mantenham-se todos em absoluto silêncio, nenhum movimento. Reúnam a energia dentro de vocês. Olhem dentro. Isto é a resposta sem palavras de Hyakujo. E isto é a foice de Nansen que corta realmente bem. Nivedano... Relaxem Nivedano... Por favor, retornem. Ok, Maneesha? Sim, Osho.
  • 31. 4 A pulsação do universo Amado Osho, Um monge perguntou a Tozan: “Frio e calor abatem-se sobre nós. Como podemos evitá-los?” Tozan perguntou: “Por que vocês não vão aonde não haja calor ou frio?” O monge respondeu: “Onde fica o lugar onde não há nem frio, nem calor?” Tozan disse: “Quando frio, deixem ficar tão frio a ponto de lhes matar; quando quente, deixem ficar tão quente aponto de lhes matar”. Maneesha, esse é o próprio espaço que estou tentando ajudá-los a alcançar: Onde não haja nenhum frio, nenhum calor, onde haja somente consciência, um silêncio que transcenda a dualidade, frio e quente, dia e noite, vida e morte. Tudo que é dual é transcendido quando você não está na mente, mas no seu próprio centro, que não sente nem frio, nem calor, que é somente um simples espaço, puro espaço. Tozan está falando exatamente acerca do que vocês estão fazendo todos os dias. Um monge perguntou a Tozan: “Frio e calor abatem-se sobre nós. Como podemos evitá-los?” É uma pergunta simples, mas tem grande complexidade. Tome a palavra “evitar” e verá a complexidade. Eis o que todos estão tentando fazer: como evitar miséria, agonia, como evitar a dor, como evitar a vida. Eis o que todas as religiões vêm fazendo, evitar. Chamaram a isto de renúncia, embora não seja nada mais que puro escapismo covarde. Assim, a própria pergunta simples não é tão simples. Na própria palavra “evitar”, todas as religiões do mundo ficaram reduzidas aos seus elementos básicos, de um modo muito óbvio. Todo o esforço delas tem sido para escapar dos lugares, das pessoas, dos relacionamentos, partir do mundo para as montanhas e para as florestas. Mas elas não sabem... aonde quer que você vá, sua mente está
  • 32. com você. E a sua mente é o seu mundo. Você não pode renunciar ao chamado mundo exterior sem abandonar a mente e ser completamente silencioso. Mas isto pode ser feito em qualquer lugar. Você não tem de ir para o Himalaia, você tem de ir na direção interior. Nenhuma viagem exterior vai ajudar. Você pode renunciar à riqueza, pode renunciar aos reinos, pode renunciar à sua vida, ao seu marido, às suas crianças... Pode renunciar a tudo que é possível, mas você ainda está aí. Você não pode renunciar ao si-mesmo. É você que é o problema! “Evitar” é a palavra contra a qual estou. E a qualquer religião que ensine abstenção, eu chamo de covarde. Encontre a realidade — não há nenhum sentido em evitar. Encontre com intensidade e totalidade, e, subitamente, você vê que você alcançou um ponto dentro de si mesmo, onde não há calor, nem frio, onde não há amor, nem ódio, onde não há a assim chamada vida, nem a assim chamada morte. Dentro de você está o centro do universo. Ele está sempre aqui, você não tem de ir a algum outro lugar para encontrá-lo. Todo ir é ir para longe de si mesmo. Você tem de parar de ir embora, tem de começar a ir para o fundo. Nas palavras de Tozan..., e ele as expressou com tremenda beleza e grandeza, e na língua dos leões! Tozan perguntou: “Por que vocês não vão aonde não haja calor ou frio?” O monge respondeu: “Onde fica o lugar onde não há nem frio, nem calor?” Esta é a desolação que sempre aconteceu entre o mestre e o discípulo. O mestre está falando sobre o espaço interior e o discípulo fica ouvindo acerca de algum lugar... em algum lugar exterior. O mestre não lida com lugares, ele lida com espaços. Tozan disse: “Quando frio, deixem ficar tão frio a ponto de lhes matar; quando quente, deixem ficar tão quente a ponto de lhes matar”. Ele simplesmente está dizendo: “Seja total em cada situação, quer esteja frio ou quente; seja tão total que seu ego morra, que você não esteja mais”. Em outras palavras, no momento em que você é total, você não está, mas apenas um espaço puro, e essa é a sua autêntica realidade. O comentário de Setcho: Certa mão que ajuda, mas ainda assim, um extenso penhasco; Sho e Hem: nenhuma distinção arbitrária aqui.
  • 33. O antigo palácio de esmeraldas brilha no luar transparente. O hábil Kanro sobe os degraus e o encontra vazio. Algumas notas de rodapé serão úteis para se compreender o comentário de Setcho. A lenda fala de um cão ligeiro e inteligente, Kanro, que caçava uma lebre. Ambos comiam tão ligeiro que finalmente caíram mortos de exaustão. O monge que fez a pergunta está sendo comparado a Kanro. Seja tão total que a sua própria totalidade se torne um fogo em si mesma e queime tudo o que é falso, inventado, e deixe somente o antigo palácio de esmeraldas, brilhando na noite de lua cheia. Sho e Hen são referentes às cinco etapas de Tozan, o tratamento filosófico do relacionamento entre o real e o aparente. Os filósofos têm se interessado, durante séculos, pelo problema do que é o real e o que é o aparente. Até mesmo no começo deste século, dois filósofos, Bosanquet e Bradley, perderam suas vidas inteiras escrevendo tratados sobre o aparente e o real. Muito estranhamente, isto não foi feito somente por Bradley e Bosanquet; isto foi discutido na China por Sho e Hen, foi discutido na Índia por Shankara. O problema de “o que é real” e “o que é aparente” não pode ser decidido por discussão filosófica. Para os olhos, o que quer que apareça é aparência; e o real está escondido dentro de você, não aparece na superfície. Assim, todos esses filósofos, e o número deles é enorme... Um dos meus professores tinha um doutorado sobre Bradley e Shankara, comparando suas filosofias sobre o que é real e o que é somente aparente. O nome do professor era S. S. Roy. Ele ainda está vivo, aposentado... ele me amava muito. Eu lhe perguntei: “Você conseguiu um doutorado, mas você realmente sabe o que é o real e o que é o aparente? Se eu fosse o examinador do seu tratado, você teria fracassado!” Ele me olhou. Não podia acreditar que um estudante pudesse dizer a seu próprio professor... quando seu tratado tinha sido examinado pelos maiores professores vivos, na Índia e fora da Índia, e grandemente elogiado. Ele perguntou: “Mas você sabe o quanto o meu tratado tem sido elogiado?” Respondi: “Isto não importa absolutamente. O que importa é que você não sabe o que é o real. Você está somente discutindo, não é experiência própria. Você
  • 34. não é um meditador, não veio para o espaço do puro silêncio; todo o seu tratado é simplesmente verbosidade, talvez bem escrito, muito racionalmente escrito, mas ele não é sua experiência existencial”. Ele disse: “Meu Deus! Foi bom que você não tivesse sido um dos meus examinadores, caso contrário eu teria perdido meu doutorado”. Disse-lhe: “Se você é um homem de inteligência, você já o perdeu. Apenas o que estou dizendo é o bastante para liquidar com seu tratado, porque digo-lhe que você não conhece a si mesmo. Sei que você é um homem honesto e perceberá que estou apontando para o lugar certo, onde você perdeu”. O que Tozan está dizendo é que a menos que você queime sua mente que divide as coisas em duas... a mente é sempre uma dualidade, não pode viver com o não-dual. Tozan está dizendo: “Vá além do dual e encontrará o espaço onde não há calor nem frio, onde somente o puro nada prevalece. E esse é o nosso ser”. Com relação a Tozan, este não é o Tozan que aparece no Três libras de farinha de Tozan, mas é Tozan Ryokai, o fundador da seita Soto. Tozan visitou vários mestres. A propósito, há apenas alguns dias, recebi um convite da seita Soto, fundada por Tozan. Eles estavam celebrando em grande estilo uma tradição de mil anos. E o líder do Soto Zen deve ter lido meus livros. Ele também deve ter ouvido a história de que eu tinha aceitado que eu era o cumprimento da promessa de Gautama Buda, de que ele voltaria depois de vinte e cinco séculos e seu nome seria “amistosidade”, maitreya. O representante de Tozan e sua seita, há somente duas seitas do Zen, Soto é a mais antiga... e vocês ficarão felizes de saber que o líder do Soto Zen reconheceu que eu tinha a consciência e o conhecimento, que eu tinha efetivado a promessa. Ele perguntou se eu poderia ir à cerimônia deles. Se eu não pudesse ir, deveria pelo menos enviar minha túnica, esta é uma velha tradição Zen. Enviei uma das minhas túnicas — com minha mensagem — para a cerimônia deles. Dela participam quase um milhão de pessoas e mais de duzentos e cinquenta funcionários são delegados pelo governo do Japão para estar presentes. Disse a meus sannyasins para irem com minha túnica, meu recado e minha mensagem. O líder da seita apresentou minha túnica e minha mensagem a toda a audiência, com profundo amor e devoção. Ele me informou que virá aqui brevemente, para visitar-me e ver meu povo.
  • 35. Na verdade, esta é a única assembléia Zen viva. Naquele milhão de pessoas e duzentos e cinquenta representantes do governo, nem uma única pessoa conhece exatamente o espaço que vocês estão sentindo todos os dias. Uma historieta sobre Tozan: Quando Tozan estava com Nansen — um outro grande mestre — um dos discípulos de Baso... — Baso é o supremo no que concerne ao Zen. Nansen observava o aniversário da morte de Baso e perguntou à assembléia: “Baso voltará para nós?” Tozan disse: “Se houver companhia apropriada para ele, ele virá!” Nansen apreciou muito a resposta. ...Porque as palavras — Buda, Bodhidharma, Nansen ou Baso — são apenas nomes das formas. Todos representam o mesmo espaço; e quando houver pessoas que estejam prontas para receber, subitamente eles descem. Recebi muitas cartas dizendo que, nas meditações, uma estranha sensação acontece, como se alguma coisa estivesse baixando, um profundo silêncio do além, pesado, quase tangível. Nesse silêncio, Baso está presente, Buda está presente. Quando você está ausente, todos os acordados estão presentes em você. Então, essa assembléia se torna um fenômeno eterno. Nós sempre estivemos aqui, sempre. Uma vez ou outra vocês se esquecem de quem vocês são, mas isto é imaterial: Mais cedo ou mais tarde, você reconhece novamente; mais cedo ou mais tarde, você, novamente, vê seu ser claro e cristalino. Nem o tempo importa, nem o espaço, você é aquele que jamais vem e jamais vai, aquele que simplesmente é. ISTO! Quando Tozan estava estudando com Isan, ele perguntou a Isan sobre os Sermões das Criaturas Inanimadas de Chu Kukushi. Isan respondeu: “Sermões das criaturas inanimadas são dados aqui para nós, mas poucos podem ouvi-los”. Você ouve os bambus? São esses os sermões referidos, sermões vindos de seres inanimados. Uma vez que você esteja silencioso, até as rosas começam a falar com você. (Neste momento, o vento está soprando e os bambus começam a comentar com seus rangidos.) Você ouve o ruidoso falar dos bambus? Quanto mais profundo o seu silêncio, mais alto você será capaz de ouvi-los.
  • 36. Tozan disse: “Ainda não estou muito certo sobre eles; você poderia me ensinar, por favor?” Isan não disse nada, mas levantou seu bastão bem alto. Tozan perguntou: “Não compreendo. Poderia explicar para mim?” Isan disse: “Eu jamais deveria lhe falar sobre isto com a boca dada a mim pelos meus pais!” Esse era o seu modo de ensinar. Essa boca, dada pelos seus pais, não é capaz de dizê-lo; mas o ser não é dado a você pelos seus pais. Você veio através deles, eles foram veículos, mas você não é parte deles. Seu corpo é feito pelos seus pais, o templo é erguido por eles, mas a deidade no templo, o ser, vem da eternidade, não pode vir de corpos mortais. Isan, então, sugeriu que Tozan visitasse Ungan, a quem mais tarde Tozan sucedeu. Chegando até Ungan, Tozan perguntou: “Quem pode ouvir os sermões de criaturas inanimadas?” “As criaturas inanimadas podem ouvi-los”, respondeu Ungan. “Por que eu não posso ouvi-los”, pergunta Tozan. Ungan levantou seu bastão bem alto e disse: “Você ouve?” “Não, eu não”, respondeu Tozan. Ungan perguntou: “Conhece o sutra que diz: ‘Pássaros e árvores, todos meditam no Buda e no Dharma’?” Com isto, Tozan tornou-se subitamente iluminado. Ele escreveu os seguintes versos: Maravilha! Que maravilha! Sermões de criaturas inanimadas... Você fracassa, se escuta com seus ouvidos. (...) Eu repito: Você fracassa, se escuta com seus ouvidos. Escutando com os olhos, você os ouve. Por “olhos”, ele não quer dizer os olhos comuns, quer dizer os olhos de uma claridade acordada do seu ser. Se você puder ouvir no seu silêncio, se puder ver no seu silêncio, então, tudo no mundo está falando, dando sermões, cantando canções, dançando. Você não pode ver? Mas esses olhos e esses ouvidos não o farão. Você terá de cavar fundo dentro de si mesmo para encontrar a abordagem certa para ver a dança eterna da existência, para ouvir a música e ver a beleza dela.
  • 37. Tozan continuou praticando Zazen e ficou alerta para sempre. Certo dia, enquanto ele estava nadando num riacho, viu sua sombra lançada sobre a água e experienciou sua grande iluminação. Seu verso, nessa ocasião, foi: Muito tempo procurando através dos outros, Estava longe de alcançar. Agora, vou por mim mesmo; Encontro em todo lugar. É apenas eu-mesmo, e eu não sou ele-mesmo. Compreendendo dessa maneira, Posso ser como sou. Tozan falou sobre duas iluminações. A segunda, ele chama de “a grande iluminação”. A primeira foi após ouvir o sutra de Gautama Buda, que seres inanimados não são inanimados; eles também estão vivendo, amando; também estão cantando, dando sermões. E ele se iluminou — esse sutra penetrou seu próprio ser. Mas ele chama isto simplesmente de iluminação. A “grande iluminação” aconteceu quando ele viu sua própria sombra no rio e, subitamente, ficou consciente de que: Onde quer que você vá buscar, para encontrar a verdade, você está indo para longe. Seu ser está com você assim como a sua sombra. Você não tem de ir a lugar nenhum, tem apenas de olhar no espelho do seu ser. Naturalmente ele a chama de uma “iluminação maior”, porque ela não tem mais nada a ver com qualquer outra pessoa. É autenticamente dele. Maneesha perguntou: Amado Osho, Compreendo Tozan estar dizendo que nada é para ser evitado, ao contrário, para se encontrar tudo de frente. E que totalidade é transcendência. Comparadas ao Zen, as outras, as religiões formais, tais como o Cristianismo e Hinduísmo, parecem ser tão infantis nas suas compreensões da vida, com seus deuses e toda a parafernália psicológica que segue com a devoção-a-Deus, e tão insensíveis ao sutil e ao poético. Na verdade, parece que ou o Zen é uma religião e as outras não são, ou o Zen pertence a uma categoria própria, apenas dele. Poderia comentar, por favor?
  • 38. Não há necessidade de qualquer comentário. Vocês estão todos experienciando o Zen. Não é uma religião na qual você tem de acreditar. É uma experiência, como o amor, que você tem de viver, que você tem de experienciar. Em outras palavras, o Zen é a religião mais essencial, sem nada desnecessário. Apenas o âmago, o essencial. Você pode chamá-lo de religião, pode chamá-lo de ciência, não importa qual o nome que você lhe dê. Na sua pura simplicidade, é experienciar seu próprio ser. E no momento em que você experiencia seu próprio ser, você experienciou o ser de todo o universo, porque sua pulsação faz parte da pulsação do universo. Apenas permaneça silenciosamente consciente, e você se preencherá de Zen, por dentro e por fora. Ele não é uma religião formal como o Cristianismo e o Hinduísmo. Ele é muito individual, único, uma categoria em si mesma. É somente para pessoas excêntricas, para os muito inteligentes. Não é para os medíocres, para a multidão. É somente para o indivíduo que tem entranhas para ficar de pé sozinho e ouvir seu próprio ser, sem ficar incomodado com o que os outros estão dizendo, crendo ou adorando. O Zen não é um argumento, não é uma crença. É uma experiência pura, assim como o amor, a beleza ou o silêncio. É anônimo. Antes de entrarmos no Zen, embora vocês já estejam parados nos degraus da porta do templo, gostaria que dessem algumas risadas. Porque quero que entrem no templo rindo e dançando, com alegria. Ronald Reagan está no hospital para uma pequena operação e Nancy Reagan está parada lá, observando cada movimento que o médico faz. Um dos médicos se aproxima de Reagan com sua seringa. “O que é isto?” pergunta Nancy. “Isto é um anestésico”, responde o médico. “Depois de tomar isto, ele não saberá de nada.” “Economize tempo, doutor!”, Nancy deixa escapar. “Ele já não sabe de nada mesmo!” * Jacó Finkelstein, o advogado, está recostado na sua poltrona, no escritório novo que ele acabou de abrir. A porta range ao abrir-se e um homem entra. “Ah!” pensa Jacó, “um cliente! Devo tentar impressioná-lo.” Jacó tira o telefone do gancho e começa a falar:
  • 39. “Não. Sinto extremamente, mas estou ocupado demais”, diz ele ao telefone. “Talvez não possa pegar o caso. Não, nem mesmo por mil dólares.” Colocou o telefone no gancho e olhou expectante para o homem que tinha acabado de entrar. “E agora”, diz Jacó, “em que posso ajudá-lo?” “Em nada”, responde o homem. “Eu apenas entrei para ligar seu telefone.” * O papa fica seriamente doente e Pedro, Simão e João estão bêbados no botequim, discutindo quem será o novo papa. “Eu sei quem será o próximo papa...”, diz Simão, “vai ser o Cardeal Ratzoff da Rússia.” “Bobagem!”, diz João. “O próximo papa será o Cardeal Chong da China.” “Vai ser Ratzoff da Rússia!”, insiste Simão. “Nenhuma chance!”, diz João. “Cardeal Chong da China!” “Ratzoff!”, grita Simão. “Chong”, grita João. Pedro tinha ficado calmamente sentado, olhando para sua cerveja. “Nenhum de vocês sabe do que está falando”, diz ele. “O próximo papa vai ser o Rabino Nussbaum de Nova Iorque.” “Não seja tolo!”, corta Simão. “Ele nem mesmo é católico.” “Ah!...” diz Pedro, “não quero nem conversa com você, se vai meter religião no meio.” * O Anjo da Morte se encontra com Rufus Rothschild e o libera para os Portões Perolados. “Mister Rothschild...”, diz São Pedro, olhando para o seu arquivo, “você fez algum bem ao mundo?” “Bem...”, responde Rothschild, “certa vez dei um dólar para um pobre.” “Sei...”, diz São Pedro, escrevendo algo nos seus papéis. “Alguma coisa mais?” “Sim”, responde Rothschild, pensando com afinco. “Certa vez, dei cinquenta centavos a um cego.”
  • 40. “Há algum outro ato virtuoso na sua vida?”, pergunta São Pedro. “Não, responde Rothschild, isto é tudo.” “Tá bem”, diz São Pedro, virando-se para o anjo. “Dê a esse cara seu dólar e meio de volta e diga-lhe que vá pro inferno!” Agora podemos ser... Nivedano, bata o bumbo... E vocês, comecem a dizer bobagens. Comecem! Nivedano... Fiquem silenciosos, completamente silenciosos, nenhum movimento. Isto... Isto... Nivedano... Relaxem... Nivedano... Voltem.
  • 42. 5 A liberdade é o meu Deus Amado Osho, Uma vez houve um mestre Zen chamado Sekito, que quer dizer cabeça- dura, assim chamado porque ele construíra uma cabana numa pedra grande e plana que ele encontrara na montanha, e passou a viver lá. Certo dia, um jovem monge em treinamento veio vê-lo. Sekito perguntou: “De onde você vem?” O monge respondeu: “De Kosei, mestre”. Sekito, então, disse: “Em Kosei, o famoso mestre Zen, Baso, vive. Você o viu alguma vez?” “Vi sim”, respondeu o monge. O mestre, apontando para uma grande acha de lenha próxima, fez então uma extraordinária pergunta: “Mestre Baso se parece com isto?” Desafortunadamente, o monge, fosse qual fosse a habilidade Zen que ele pudesse ter tido, não era páreo para Sekito. Piscou os olhos e não pôde dizer uma palavra. O atônito monge fez todo o caminho de volta até Kosei, encontrou o grande professor Baso e contou-lhe a história. Ouvindo aquilo, Baso perguntou: “A acha que você viu era grande ou pequena?” “Era muito grande”, respondeu o monge. “Você é um homem de grande força”, foi a resposta inesperada de Baso. “Por que, mestre?”, interrogou o monge, perplexo, sem saber o que fazer. Baso, então, disse: “Você trouxe uma acha de lenha tão grande de Sekito até aqui! Você certamente é um homem de grande força, não é?” Maneesha, antes de discutir a historieta a respeito de um mestre Zen chamado Sekito, que quer dizer cabeça-dura, tenho de responder à revista Quick, da Alemanha. No que diz respeito ao cabeça-dura, ele está de pé atrás de você: o mestre Zen Niskriya. Você pode encontrar um cabeça-dura maior?
  • 43. (Niskriya mantém-se olhando através da câmera; timidamente, olha por cima, por um segundo, e volta à sua câmera.) A revista Quick 1 precisa de uma resposta rápida. Uma vez que eu tenho estado falando acerca de um mundo, uma humanidade, eu sabia que algum idiota iria levantar essa questão. A revista Quick questionou: “Se você se oferecesse para ser pessoalmente o imperador do mundo... com dezoito horas de sono por dia, você poderia governar, mas isto seria num sonho”. 1. Quick significa “rápido”. Isto levanta muitas questões. Tenho falado acerca de um mundo, mas eu jamais quis dizer que seria o imperador desse mundo insano. Jesus já respondeu por mim: “Meu reino não é deste mundo”. Há um vasto universo além da mente pequena dos políticos, e aqueles que se tornam eles-mesmos, também se tornam imperadores do universo. Não há nenhuma competição entre Baso e Buda. No pico mais alto da consciência, não há nenhuma competição, todo mundo é um imperador. Assim, primeiramente, quero lembrar à Quick e seus leitores que eu já sou o imperador da minha própria consciência. Não quero descer dos meus picos para o vale escuro da sua inconsciência. Mas posso apontar o caminho, a fim de que vocês também se tornem imperadores. Para ser um imperador, um império não é necessário, apenas iluminação. Esse é o único império que permanece. Todos os outros impérios são feitos da mesma matéria que os sonhos. No que me diz respeito, mesmo nos meus sonhos, eu não aceitaria ser o imperador desse asilo insano que vocês chamam de mundo. Em segundo lugar, tem de ser compreendido que as minhas dezoito horas de sono não são da mesma qualidade das horas de sono de vocês, bem como minhas horas de vigília não são da mesma qualidade das suas. Eu estou acordado até no meu sono, vocês estão profundamente adormecidos até nas horas de vigília. Não se esqueçam disto! Minha declaração por uma humanidade, por um mundo, não implica um imperador. O mundo tem sido torturado por pessoas que queriam ser imperadores — Alexandre, Gengis Khan, Tamerlão, Adolf Hitler... É hora de compreender que o mundo somente pode ser um nas mãos de alguma coisa como a ONU, na qual cada parte da Terra pode ser representada. As pessoas mais inteligentes podem ser escolhidas, das diferentes subdivisões da humanidade, para darem-se as mãos; não para escolher um imperador, mas para criar um comitê inteligente, no qual pode haver artistas, cientistas, poetas, apenas não incluindo os políticos.
  • 44. As pessoas criativas não estão interessadas em dominar; elas querem criar. Seja qual for sua dimensão de criação, pode ser a ciência, a pintura, a música, a poesia. Pode ser qualquer coisa que embeleze e faça o mundo mais rico, mais sadio, mais inteligente, mais confortável, mais rico de todo modo possível. Os dias dos indivíduos tornarem-se imperadores já passaram. Somente um comitê de diferentes inteligências criativas pode servir ao mundo. Até mesmo usar a palavra “governar” não é necessário. A ONU, ou qualquer outro nome que vocês dêem, se dados a ela todos os exércitos do mundo, naturalmente ela teria de dissolvê-los, porque para quem você iria manter tão vasto exército? Milhões de pessoas, desnecessariamente, fazendo “esquerda, direita”. Para quem você continuaria acumulando armas nucleares? Em minha concepção de um mundo, não há lugar para um imperador. Rejeitarei, absoluta e categoricamente, a própria idéia de uma pessoa ser o governador do mundo, eu inclusive. Ninguém tem o direito de governar ninguém. Sim, você pode servir. E eu estou servindo do meu próprio modo. Consegui o meu império próprio, meu povo próprio, que está tentando de todo modo possível alcançar os picos do Himalaia da consciência. Talvez o pobre jornalista que escreveu esta questão na Quick não seja capaz de compreender. Os dias dos impérios pessoais e dos imperadores já passaram. O mundo precisa que todas as espécies de pessoas criativas se juntem; esqueça- se da própria idéia de um imperador do mundo. Toda a história tem sido assassina, cheia de guerras devido a esse insano desejo de dominar. Todo o meu ensinamento é: apenas seja você mesmo, jamais interfira na liberdade de qualquer outra pessoa. A liberdade é o meu supremo valor, o meu deus. Agora, sobre o mestre Zen Sekito, que quer dizer cabeça-dura... Niskriya, por que você se sentou? Levante-se, deixe todo mundo ver o que significa ter uma cabeça dura! (Niskriya se levanta, dá uma voltinha para a assembléia, que, entusiasticamente, aplaude a sua cabeça pelada.) Está bem... sente-se. Uma vez houve um mestre Zen chamado Sekito, que quer dizer cabeça- dura, assim chamado porque ele construíra uma cabana numa pedra grande e plana que ele encontrara na montanha, e passou a viver lá. Certo
  • 45. dia, um jovem monge em treinamento veio vê-lo. Sekito perguntou: “De onde você vem?” O monge respondeu: “De Kosei, mestre”. Sekito, então, disse: “Em Kosei, o famoso mestre Zen, Baso, vive. Você o viu alguma vez?” “Vi sim”, respondeu o monge. O mestre, apontando para uma grande acha de lenha próxima, fez então uma extraordinária pergunta: “Mestre Baso se parece com isto?” Desafortunadamente, o monge, fosse qual fosse a habilidade Zen que ele pudesse ter tido, não era páreo para Sekito. Piscou os olhos e não pôde dizer uma palavra. O atônito monge fez todo o caminho de volta até Kosei, encontrou o grande professor Baso e contou-lhe a história. Ouvindo aquilo, Baso perguntou: “A acha que você viu era grande ou pequena?” “Era muito grande”, respondeu o monge. “Você é um homem de grande força”, foi a resposta inesperada de Baso. “Por que, mestre?”, interrogou o monge, perplexo, sem saber o que fazer. Baso, então, disse: “Você trouxe uma acha de lenha tão grande de Sekito até aqui! Você certamente é um homem de grande força, não é?” Baso não está dizendo nada sobre a acha de lenha. Ele está falando sobre o pensamento que o pobre monge carregou de uma montanha a outra. Sekito não estava se referindo à acha de lenha. Ele simplesmente quis dizer: Isto. Foi apenas por acaso que havia uma pilha de achas de madeira. Mas ele estava apontando para isto, não para as achas de lenha. O monge perdeu o ponto: ele pensou que, talvez, Baso pudesse ser capaz de explicar. Mas, novamente, ele perdeu. Porque Baso não disse nada sobre a acha de madeira, nada sobre Sekito, mas sobre a força do monge, que parecia ser absolutamente irrelevante. Mas Baso está certo. Ele está dizendo: “Você carregou um tal peso desnecessariamente, de montanha para montanha...” Sekito não tinha apontado para a acha de lenha, ele estava apontando para o isto das coisas, para a exatidão das coisas. O todo do Zen está relacionado a isto... Uma nota de rodapé: Baso, também chamado Ma Tsu, dizia-se, era um homem de aparência esquisita. “Ele andava como uma vaca e olhava ao redor como um tigre. Podia tocar o nariz com a língua e tinha dois anéis nas solas dos pés.”
  • 46. Seus discípulos-chefes eram Hyakujo — falamos dele ontem — e Nansen — também falamos dele. Seus discípulos eram ao todo mais de cem. Cem pessoas ficaram iluminadas sob os cuidados de Baso. Ele derrotou até Gautama Buda. Derrotou até mesmo Bodhidharma. Mas seu método era tão único quanto seu estilo. Vocês não viram que ele andava como um animal, significando o natural, o inocente?; significando nenhuma cabeça, nada da cabeça, mas apenas um coração que pode compreender sem nada ter sido dito, que pode compreender sem uma única palavra ter sido dita. Ele era certamente um dos mestres mais esquisitos dentre os que andaram sobre a Terra. Ninguém tinha andado como uma vaca; nem mesmo em dez mil anos, nenhum hindu — que adora as vacas — tentou andar como uma vaca. Mas não se enganem sobre o seu “andar como uma vaca”. Isto mostra sua delicadeza, mostra sua maternalidade, mostra sua receptividade feminina. Mas ele também “olhava ao redor como um tigre”. Ele era delicado para aqueles que podiam compreender a delicadeza, e era duro para aqueles que podiam compreender apenas a dureza. Era mestre de muitos, apenas por essa razão. Baso era apenas uma vaca. Bodhidharma era apenas um tigre. Baso tinha o coração de uma vaca, tão delicado, que ele escreveu a melhor poesia que há no mundo. Suas pinturas são de imensa beleza. Suas declarações contêm a própria verdade. Mas se você quisesse ser um discípulo e estivesse buscando alguém para talhar sua cabeça, Baso era a pessoa perfeita. Para mostrar sua esquisitice, a história diz: podia tocar o nariz com a língua. É muito difícil. Conheço só um homem — e eu viajei ao redor do mundo inteiro — que pode mexer os lóbulos da orelha. Vocês já tentaram? É absolutamente impossível, devido a não haver sistema de nervos que alcance os lóbulos da orelha. Você não pode fazer nada, é assim mesmo. Os burros podem fazê-lo, mas vocês não. Esse homem era um dos meus companheiros na universidade. Ele ficou famoso apenas pelo fato de poder mexer as orelhas conforme seu desejo. Quando ele foi apresentado a mim, eu disse: “Isto não é nada, porque tenho visto muitos burros fazer isto. Isto não vale nada. Pode parar”. Ele respondeu: “Você é o primeiro homem... Em vez de apreciar, está me chamando de burro”. Eu disse: “Essa é minha apreciação. Porque os burros têm orelhas tão grandes e as movem tão facilmente!...” Tenho visto algumas pessoas que podem tocar o nariz com a língua; especialmente aqueles que pertencem a alguma escola iogue. Há uma idéia
  • 47. estúpida de que se você puder tocar o seu nariz com a língua, você se tornará imortal. E alguns idiotas tentam, durante anos, espichar a língua, pendurando pesos nela. Tenho até visto pessoas que cortaram a língua por dentro, onde ela é presa, de modo que ela fique mais solta e possa tocar o nariz. Mas, por tocar o nariz, você não tocará a eternidade. Qualquer pessoa pode tocar o nariz. Agora mesmo, ao entrar, toquei o nariz de Avirbhava. Qualquer um pode puxar o nariz do outro. O nariz não é imortalidade. Mas Baso, só de brincadeira, costumava tocar o nariz com a língua, dizendo: “Não leve a religião a sério. Leve- a tão jocosamente quanto possível”. Um monge perguntou a Baso: “O que é o Buda?” Baso respondeu: “A mente é o Buda”. O monge preguntou: “Qual é o caminho?” “A não-mente é o caminho”, respondeu Baso. Que ótima e linda resposta! Porque até mesmo “Buda” é um pensamento na sua mente. Buda mesmo disse: “Se eu entrar no caminho da sua meditação, simplesmente corte a minha cabeça imediatamente, remova-me”. É isto que Baso está dizendo: Buda é mente; a não-mente é o caminho. O monge, então, perguntou: “O Buda e o caminho são algo diferente?” Baso replicou: “O Buda é como abrir as mãos; o caminho é como cerrar os punhos”. Abrir ou fechar a mão não são duas coisas, embora pareçam duas. Apenas deixe sua mente ficar silenciosa e estável, e você entrou na não-mente. Não há nenhuma diferença. A diferença é apenas a da mão aberta e de um punho. Não muita diferença, não uma diferença que possa ser chamada de diferença. E, contudo, aparentemente é diferente. Mas apenas aparentemente. Maneesha está perguntando: Amado Osho, Mais que qualquer outra compreensão da vida, o Zen é descompromissado. Não há recurso para explicações interessantes vindas da cabeça, ou para expressões mutáveis vindas do coração: ou você tem a experiência, ou não. Não há meio caminho. Poderia comentar, por favor? Maneesha, não há nenhum caminho, nem meio caminho, nem extremo.
  • 48. Caminho significa distância. E você já está aí. Eu lhe ensino o não-caminho, apenas relaxe e você já está aí. Você não dá nem um único passo em qualquer caminho. Antes de entrarmos “no isto”, os bambus estão pedindo algumas risadas. Vocês não podem ser duros com os pobres bambus... A velha Margarida da Silva morre e se apresenta nos Portões Perolados. São Pedro deixa-a entrar: “Pode acomodar-se em qualquer lugar que queira”, diz ele. “Bem...”, diz Margarida, “gostaria de ficar com meu marido que morreu há muitos anos.” “Tá bem...”, responde Pedro. “Qual é o nome dele?” “João”, diz ela. “Ih! Meu Deus!”, lamenta-se Pedro. “Temos aqui centenas de Joões da Silva. Há algo nele que possa identificá-lo?” Margarida pensa por um momento e então diz: “Sim, há. Ele me disse antes de morrer que sempre que eu fosse infiel a ele, ele se viraria na sepultura.” “Aha!...” diz Pedro. “Eu o conheço... Ele é aquele que nós chamamos de ‘João do Giro’.” * O polaco Kowalski consegue um trabalho numa grande serraria, mas na primeira manhã ele chama o capataz e diz: “Chefe, um dos meus dedos se foi na serra.” “Bem...”, inquire o capataz, “o que você fez de errado?” “Não sei!”, admite o polaco. “Eu apenas toquei nela assim... Merda! Lá se foi um outro!...” * Kowalski, o polaco, inesperadamente chegou em casa, do trabalho, e subiu as escadas até o quarto. Lá, encontrou sua esposa, Gertrudes, deitada nua sobre a cama, muito ruborizada, com a mão no coração. “Meu Deus!”, grita Kowalski, “o que houve?!”
  • 49. “Oh!...”, suspira Gertrudes, “telefone pro médico! Acho que estou tendo um ataque do coração!” “O quê?!...” grita Kowalski. Ele se vira e corre escada abaixo até o telefone e disca para o Dr. Ossadas. Só então sua filhinha chega até ele e puxa-lhe a manga: “Paaai...”, diz ela. “Tem um homem nu no armário do quarto.” “O quê?!...”, grita Kowalski, largando o telefone e correndo de volta ao quarto. Ele abre a porta do armário e encontra seu melhor amigo parado lá, sem nenhuma roupa no corpo. “Jorge”, grita Kowalski. “Você deveria ter vergonha de si mesmo! Minha mulher está tendo um ataque do coração e você aqui, assustando as criancinhas!” Agora, Nivedano, dê sua primeira batida para todo mundo ficar absolutamente louco no giberixe. Nivedano... Todo mundo entrando em absoluto silêncio. Reúnam sua energia no interior de vocês. Fechem os olhos, nenhum movimento. Isto. Isto. Mil vezes Isto. Nivedano...
  • 50. Relaxem... Fiquem assim. Nivedano... Voltem à vida. Até os bambus estão silenciosos. Ok, Maneesha? Sim, Osho.
  • 51. 6 O dedo apontado para o nada Amado Osho, Nos velhos tempos, havia dezesseis Bodhisattvas. Na hora do banho dos monges, seguindo a regra, eles tomavam banhos. Subitamente, experienciaram a realização através do toque da água. Vocês, reverendos estudantes do Zen, compreendem suas palavras? “Nós experienciamos o toque sutil e claro, atingimos o Estado-de-Buda, e ainda o retemos. Vocês serão capazes de atingir esse estado depois de penetrarem sete vezes e abrirem caminho oito vezes.” Maneesha, antes de tratar dessa historieta, tenho de lhes dar o fundo de cena. Primeiro, o estado-de-buda é sua natureza. Se você for bastante sensível, poderá tomar conhecimento dele através de qualquer sentido: através do toque, do sabor, dos olhos, dos ouvidos. Porque ele não é exterior a você; é apenas uma questão de concentração profunda; então, qualquer sentido que seja predominante em você se tornará a revelação. Lembre-se, todo mundo tem os diferentes sentidos em intensidade diferente. Alguém pode ver mais; só então pode se tornar um pintor. Alguns têm ouvido para música; nem todo mundo tem. Quanto mais sutil a música, maior sensibilidade será necessária para ouvi-la. Estou me lembrando de um grande dançarino, Nijinsky, que na sua dança costumava pular a alturas que são cientificamente impossíveis. Vão contra a gravidade. Você pode pular apenas dentro de certo limite. Era um milagre ver Nijinsky pulando, como se estivesse além da gravidade, como se tivesse ficado tão leve, que estivesse livre da gravidade. Muito mais miraculosa era sua volta à terra. Se qualquer coisa vem na direção da terra, vem com força, a gravidade a puxa. Você não pode hesitar, não pode demorar ou adiar, não está em suas mãos. Se você cai de uma altura, não está
  • 52. em suas mãos ir com menor ou maior velocidade. Não há nenhum velocímetro em suas mãos. Mas Nijinsky caía exatamente como uma pena, mostrando novamente que a gravidade fora transcendida. Obviamente, ele era inquirido repetidamente: “Qual é o segredo?” E ele dizia: “Não me perguntem, porque quando ‘eu’ tento, fracasso. Eu não posso pular essa altura, nem posso cair como uma pena. Mas dançando, uma vez ou outra esqueço-me de mim mesmo e, subitamente, acontece. No momento em que não estou, o milagre! Não posso lhes dar o segredo, porque não há segredo em minhas mãos”. Nijinsky não era um místico, mas estava experienciando um estado místico. Ele não era um filósofo; desse modo, não podia nem mesmo dar uma explicação. Ele simplesmente dizia da maneira mais autêntica, sincera, que: “Chega um momento em minha dança em que não encontro a mim mesmo em nenhum lugar. Nesse estado, o que quer que aconteça não é meu fazer”. Você pode experienciar o estado-de-buda apenas por ficar silencioso, ou apenas por ficar tão amoroso, que suas mãos se fundam no amor; ou por ser tão total em qualquer ato, que seu “eu” desapareça e somente o é permaneça. O é é um outro nome do estado-de-buda. Está sempre dentro de você; a questão é por qual porta você vai entrar nele. Esta historieta diz: Nos velhos tempos, havia dezesseis Bodhisattvas. Na hora do banho dos monges, seguindo a regra, eles tomavam banhos. Subitamente, experienciaram a realização através do toque da água... Não pense que é apenas uma história. Se você está realmente vivo e o seu toque é total, você pode ficar iluminado até debaixo do seu próprio chuveiro. Esta historieta está sendo contada por algum professor a alguns discípulos. Ele diz: “Vocês, reverendos estudantes...”. Naturalmente, não é um diálogo entre dois mestres, é uma conversa entre um professor e alguns estudantes. “Nós experienciamos o toque sutil e claro, atingimos o Estado-de-Buda, e ainda o retemos. Vocês serão capazes de atingir esse estado depois de penetrarem sete vezes e abrirem caminho oito vezes.” “Penetrar sete vezes” significa ir através de todas as suas camadas, que são contadas como sete. Só então você pode alcançar o seu centro. E você terá de
  • 53. fazê-lo oito vezes! Não é uma questão de “por que oito?”, é simplesmente a experiência de que, a menos que você vá oito vezes, perfurando as sete camadas da sua mente, você não saberá o que é o âmago do seu ser mais interior. Ainda hoje recebi um estudo de pesquisa científica que pasmou os cientistas, pasmará qualquer um. O estudo era sobre estudantes, para averiguar suas inteligências. Durante o teste, havia máquinas detectando a atividade contínua dentro do cérebro. A espantosa conclusão foi de que quanto menos atividade mostrada, tanto mais inteligência havia. Isto foi absolutamente contra a idéia tradicional: uma mente mais ativa tem de ser mais inteligente. Essa tem sido a superstição até agora, mesmo aos olhos da ciência. Mas esse estudo confirma algo que os místicos têm dito sempre: não-mente é inteligência. Olhando o estudo você pode ver duas coisas: menos atividade, mais inteligência. A conclusão natural será: nenhuma atividade, absoluta inteligência. Mas até mesmo os cientistas que estiveram fazendo esse estudo não concluíram isto do modo como estou concluindo. Não-mente significa inteligência; mente significa giberixe, não-inteligência. E quando estou lhes pedindo o giberixe, estou simplesmente pedindo-lhes para jogarem fora a mente e todas as suas atividades, assim, você permanece por trás, puro, claro, transparente, perceptivo. Um outro relatório que recebi é de um instituto nos Estados Unidos. O instituto treina atores para o cinema. O diretor deve ter lido meus livros, porque ele obriga todo estudante no instituto a fazer a Meditação Dinâmica, Kundalini e giberixe. E mesmo aquelas pessoas que tinham ido apenas para aprender a arte de atuar tinham, estranhamente, sentido uma tremenda abertura através do giberixe, um silêncio vindo do desconhecido, baixando e envolvendo-as. Comentário de Setcho: O iluminado é mestre de uma única coisa: do espichar-se à vontade na cama. Se, em um sonho, os antigos dissessem que eram iluminados, Deixem-nos emergirem da água perfumada, e eu cuspiria neles! A intelectualidade de Setcho é demasiada. Ele não pode compreender, é como um cego comentando sobre a luz. Algumas notas de rodapé: Dezesseis Bodhisattvas... No sutra Surangama — uma escritura budista ancestral há um episódio no qual vinte e cinco Bodhisattvas relatam suas experiências ao atingirem
  • 54. a realização. Primeiro, Kyochinnyo e quatro outros, os cinco primeiros discípulos de Buda, levantaram-se e descreveram seus caminhos para a realização. Kyochinnyo diz: “Quanto à minha realização, a visão de algo foi a causa dela”. Se você puder ver realmente uma linda rosa, ou um lindo pôr-do-sol, com sua totalidade, não há nenhuma necessidade de nenhuma outra disciplina para se tornar um Buda. Mas o ver tem de ser total, supremo e incondicional. Segundo, Kyogon Doji diz: “Cheirar um perfume foi a causa da minha realização”. Terceiro, Yakuo e Yakujo citam o paladar como a causa de suas realizações. Quarto, Baddabara e os quinze outros Bodhisattvas nessa historieta levantam-se, fazem reverência a Buda, e Baddabara diz: “Nós, anteriormente, ouvimos a pregação de Ion-o, o primeiro Buda, e nos tornamos monges. À hora do banho dos monges, seguindo a regra, entramos no banheiro. Subitamente, experienciamos a realização através do toque da água. Nós não lavávamos a sujeira, não lavávamos o corpo. Alcançamos a paz da mente e obtivemos o estado de não-possessão. O supracitado Buda deu-me o nome de Baddabara, dizendo: ‘Você experienciou o toque sutil e claro e atingiu o estado-de-buda, e o reteve’. A resposta à sua pergunta, portanto, é que o toque foi a causa primeira da nossa realização”. Outros Bodhisattvas à volta contaram suas experiências e, finalmente, o Bodhisattva Kannon cita a importância, no seu caso, de “ouvir o som”. Todos os seus sentidos são portas; e lembrem-se: a mesma porta pode se abrir para fora e também pode se abrir para dentro. É com o mesmo sentido que você usa para ouvir música exterior, que você pode ouvir a música do seu próprio ser. A questão simplesmente é: ou se vai na direção do interior, ou se vai na direção do exterior; a porta é a mesma. Maneesha está perguntando: Amado Osho,
  • 55. Embora eu não esteja nem mesmo certa do que seja intuição, suspeito que há uma conexão entre a intuição e o Zen. É assim mesmo? E, se é, pode a intuição ser impulsionada através de qualquer sentido, até mesmo do pensamento? Não, Maneesha. O pensamento não é capaz de impulsionar a intuição. Intuição... a própria palavra está contra “tuição”. “Tuição” vem do lado de fora, intuição floresce como uma flor do seu âmago mais interior. Pensar não pode fazê-lo, mas esses bambus podem, este dedo apontado para o nada, pode, este silêncio, permeando aqui, pode. O pensamento é um obstáculo, não pode impulsionar seu ser mais interior. Na verdade, ele impede o impulsionamento. Quando você vê um lindo pôr-do-sol, imediatamente o pensamento vem e obstaculiza. Ele diz: “Que lindo dia! Que lindo pôr-do-sol!”, e isto impede o pôr- do-sol de atingir e golpear o seu verdadeiro ser. Se você puder ouvir esses pobres bambus sem uma única palavra aparecer, você chegou em casa. Maneesha está perguntando: Pode o “clarão intuitivo” ser um salto quântico cognitivo, e a iluminação, um salto quântico do ser? Intuição e iluminação não são duas coisas. Seu centro mais profundo é a sua iluminação. Não é que você se torne iluminado, você é iluminado, mas os seus pensamentos lhe impedem de reconhecê-lo. O salto quântico é necessário: do pensamento para o não-pensamento, da mente para a não-mente, do fora para o dentro, do lá para o aqui, do então para o agora. Antes de entrarmos no salto quântico, os bambus estão pedindo algumas risadas. Uma demonstração de estudantes transformou-se num tumulto. De repente, um homem saiu cambaleante da multidão, carregando uma jovem desfalecida nos braços. “Aqui”, grita um guarda, correndo para o homem. “Dê-me ela, vou tirá-la disto!” “Vá pro inferno”, retruca o homem. “Vá e encontre uma você mesmo!” *
  • 56. Um homem com problema de peso vai procurar seu médico. “Quero perder peso”, diz ele, “mas não é bom me dar uma dieta. Já tentei antes e elas nunca funcionaram.” “A única coisa que posso sugerir”, diz Dr. Ossadas, coçando o nariz, “é uma técnica indiana um pouco incomum, usando somente exercícios. Nenhuma dieta. Assim, você pode comer tudo que você gosta. Mas você tem de fazer sexo apaixonado, pelo menos quatro vezes por noite. Certo? Pode ir e volte daqui um mês.” Passa um mês e o paciente volta. “Quantos quilos você perdeu?” “Cerca de um quilo”, diz o homem. “E quantas vezes você fez sexo nesse mês?”, prossegue Ossadas. “Quinze vezes”, responde o homem. “Meu Deus!”, reclama Ossadas, “isto não é bom o suficiente!” “Talvez não, retruca o homem, mas é bem razoável para um padre católico, numa cidade pequena!” * Muitas pessoas têm uma compreensão confusa do que seja um milagre. Pedro é uma dessas pessoas e muito embora Padre Murce tenha explicado o assunto muitas vezes, e detalhadamente, Pedro ainda não está satisfeito. “Padre”, diz Pedro, “talvez você possa me dar um exemplo de um milagre.” “Está certo, Pedro”, diz o padre. “Vire-se de costas.” Pedro vira-se de costas e Padre Murce lhe dá um pontapé no traseiro. “Agora”, Pedro, pergunta o padre, “você sentiu isto?” “Certamente que eu senti!”, retruca Pedro, esfregando as nádegas. “Bem, Pedro”, continua Padre Murce, “teria sido um milagre se você não tivesse sentido...” * Um jovem marinheiro é levado pelas águas às terras de uma ilha habitada por canibais.
  • 57. Visto que a tribo de canibais está faminta há um mês, o chefe anuncia que a vida do marinheiro será poupada se ele passar no teste das três tendas. “Na primeira tenda”, diz o chefe, “há uma jarra cheia de licor forte. Você deve bebê-lo todo.” “Na segunda tenda”, continuou, “está um leão com dor de dente. Você deve tirar o dente dolorido dele.” “Na terceira tenda”, arrematou, “está uma ninfomaníaca. Ela já exauriu dois maridos que estavam tentando suprir suas necessidades. Você deve satisfazê- la duas vezes!” O marinheiro dá de ombros e entra na primeira tenda. Depois de cinco minutos de silêncio, ele cambaleia para fora e entra na segunda tenda. Há gritos e gemidos e, finalmente ele engatinha para fora, coberto de arranhões e contusões. Levantando-se, ele olha ao redor e pergunta: “Agora, onde está a tal garota com o dente dolorido?” Agora, Nivedano, dê o primeiro bumbo e todos entrem em absoluto giberixe. Todos entrem em absoluto silêncio. Apenas reúnam sua energia interior, fechem os olhos... Isto, isto, mil vezes isto! Até os bambus ficaram silenciosos. (Alguns bambus ainda continuam fazendo barulho) Apenas alguns deles, Setchos, estão ainda fazendo comentários.
  • 58. (Até mesmo os bambus tornam-se absolutamente silenciosos.) Nivedano... Relaxem. Relaxem como se estivessem mortos. Nivedano... Agora, retornem da morte. Todo mundo voltou à vida? Ok, Maneesha? Sim, Osho.
  • 59. 7 Por que ser um mendigo? Amado Osho, Havia um monge em treinamento com Dogo, chamado Soshin. Ele era um jovem monge sincero, digno do seu nome, que significava: “reverenciar e acreditar”. Ele havia se tornado angustiado, e sentiu que a situação já estava para além do suportável: desde o momento em que ele havia chegado ao mosteiro para treinamento, seu professor, Dogo, não lhe tinha dado, nem mesmo uma vez, qualquer sermão instrutivo ou uma direção apropriada. Certo dia, Soshin, não conseguindo esperar mais, foi até seu professor, Dogo e perguntou: “Até hoje, desde que vim para este mosteiro, você não me deu, nem mesmo uma vez, seu ensinamento generoso. Qual poderia ser a razão disto!?” O mestre deu a resposta menos esperada, dizendo: “Ora essa, desde que você veio para este mosteiro, nem mesmo por um momento negligenciei ensinar-lhe”. “Que espécie de ensinamento você me deu, mestre?”, perguntou Soshin. “Bem, bem! Se você me traz uma xícara de chá, eu não recebo a xícara? Se você me serve alimentos, eu não os como? Se você me saúda de mãos postas, eu não retribuo sua mesura? Como é que eu sempre negligenciei dar-lhe uma direção!?” Soshin, ouvindo isto, pendeu gravemente a cabeça e, por um momento, não pôde pronunciar nem uma palavra. Subitamente, o brado estrondoso do mestre, como se fosse um maltrato, caiu sobre todo o ser de Soshin. Dogo disse: “Quando você vir, veja diretamente! Se um pensamento passa, vai tudo embora!” Aí, Soshin soltou um lamento não intencional, “Oh!”, e prostrou-se diante do professor, em lágrimas, se de alegria ou de tristeza, ele mesmo não sabia.