SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 188
Baixar para ler offline
OSHO
Nem Água,
Nem Lua
Dez Discursos Sobre Histórias Zen
UNIVERSALISMO
Sumário
Introdução
Primeiro Discurso: Nem Água, Nem Lua
Segundo Discurso: Debate Por Um Alojamento
Terceiro Discurso: É Mesmo?
Quarto Discurso: A Resposta do Homem Morto
Quinto Discurso: O Dedo do Gutei
Sexto Discurso: Por Que Você Não Se Retira?
Sétimo Discurso: O Buda de Nariz Preto
Oitavo Discurso: Quem Dá é Que Deve Ficar Grato
Nono Discurso: Um Filósofo Interroga Buda
Décimo Discurso: A Passagem de Ninakawa
Introdução
Osho nos diz — de maneira delicada, agradável até, mas absolutamente sem
nenhum contra-senso — que balbúrdia nós somos!
Com a sabedoria dos anos e com a arguta percepção de nosso estado atual, nos
encaminha ao reconhecimento, à aceitação e à profunda conscientização dos
fatos.
Mediante a ajuda e orientação segura de Osho, tal processo nos leva à
compreensão de que a resposta está em nosso interior. Não será através de
lutas e esforços que nós progrediremos, mas sim pela aceitação, entrega e
compreensão — e isso, tanto interna como externamente.
A chave, o solvente universal, aquele que supera distinções, transcende
julgamentos, divergências e dogmas — é o amor. E Osho é a personificação da
verdade amorosa — às vezes áspero, às vezes impiedoso, mas nunca ofensivo.
Sua guerra se dirige tão-só às nossas mentes, nossos egos, não à nossa
verdadeira natureza.
É com infinita paciência que Osho, mediante as palavras, se apossa de nossas
mentes e as põe de lado, surgindo daí uma forma nova de comunicação — bem
além das palavras, no âmago do ser, da energia, do amor. Quando a cabeça se
esvai e o coração se abre, o interior sente fome, sente sede, e então comida e
bebida são servidas através de seu olhar, de seus gestos e de seu fecundo
silêncio.
Nesta coleção de discursos, você pode sentir-lhe o sabor. São, esses discursos,
baseados em histórias Zen, e a energia atômica neles contida é libertada por
Osho, para com ela arrancar-nos de nossas mentes e entregar-nos aos nossos
sentidos.
Experimente ficar aberto às suas palavras: sinta-as, viva-as sem pensar nelas.
Você verá que elas são a floração verbal de alguém que explodiu para uma outra
dimensão do ser.
MA YOGA ANURAG
Poona
PRIMEIRO DISCURSO
Nem Água, Nem Lua
Por anos e anos,
a monja Chiyono estudou
sem conseguir chegar à Iluminação.
Um noite,
estava ela a carregar
um velho pote cheio de água.
Enquanto caminhava,
ia observando a lua cheia
refletida na água do pote.
De repente,
as tiras de bambu
que seguravam o pote inteiro
partiram-se
e o pote despedaçou-se.
A água escorreu,
o reflexo da lua desapareceu —
E Chiyono Iluminou-se.
Ela escreveu estes versos:
De um modo ou de outro
tentei segurar o pote inteiro,
esperando que o frágil bambu
nunca se partisse.
De repente, o fundo caiu.
Não havia mais água;
Nem mais lua na água —
O vazio em minhas mãos.
A Iluminação é sempre repentina. Não existe nenhum processo gradual que
possa alcançá-la, porque todas as graduações pertencem à mente, e a
Iluminação não é mental. Todos os degraus pertencem à mente; e a Iluminação
está além da mente. Assim é impossível crescer em direção à Iluminação; pode-
se apenas saltar para dentro dela. É impossível mover-se passo a passo; não
existe nenhum passo. A Iluminação é como um abismo: ou você salta ou não
salta.
É impossível iluminar-se aos poucos, parcialmente. A Iluminação é uma
totalidade — ou você está ou não está. Não acontece em progressões graduais.
Lembre-se disto como algo básico: acontece sem fragmentos, completa, total. E
justamente por ser um todo é que a mente não pode nunca compreendê-la. A
mente só entende o que pode ser dividido, o que pode ser alcançado por etapas
porque é analítica, divisória, fragmentária. A mente pode entender as partes, mas
o todo sempre a ilude. Por isso, se ouvir a mente, você nunca chegará à
Iluminação.
Foi o que aconteceu com a monja Chiyono: ela estudou por anos a fio e nada
aconteceu. A mente pode estudar sobre Deus, sobre Iluminação, sobre o
Supremo. Pode até fingir que compreende tudo. Mas Deus não é algo que possa
ser compreendido. Mesmo que você saiba algo sobre Deus, isso não quer dizer
que O conheça. O conhecimento não é “sobre”. Enquanto estiver dizendo “sobre”
ainda estará do lado de fora, estará caminhando na periferia, não terá entrado
no círculo.
Quando alguém diz: “Eu conheço sobre Deus”, está dizendo que não conhece
absolutamente nada, porque como alguém pode conhecer algo sobre Deus?
Deus é o centro, não a periferia. Você pode conhecer sobre a matéria, mas não
sobre a consciência porque a matéria não tem nenhum centro em si mesma, é
apenas periferia. Não possui nenhum eu, nenhum ser em seu interior. A matéria
é apenas o exterior. Você pode conhecê-la. Ciência é conhecimento. A própria
palavra “ciência” significa conhecimento — conhecimento da periferia;
conhecimento de algo que não contém o centro. Enquanto estiver procurando o
centro através da periferia, você não o compreenderá.
É preciso transformar-se nele; esta é a única maneira de conhecê-lo. Nada pode
ser conhecido sobre Deus. É preciso ser. Apenas sendo é que o conhecimento
existe. Com o Supremo, sobre e sobre significa perder e perder. É preciso entrar
e unificar-se.
É por isso que Jesus diz: “Deus é amor” e não amoroso; ele diz amor. Você não
pode saber algo sobre o amor, ou pode? Você pode estudar e estudar, tornar-se
um grande erudito, mas desse modo nunca conseguirá tocá-lo, penetrá-lo. O
amor só pode ser conhecido quando você se torna um amante. Não apenas isso,
quando se transforma no amor. Porque então, até o amante desaparece; ele
também pertence ao exterior. No amor, duas pessoas tornam-se ausentes. Não
existem. Apenas o amor, o ritmo do amor, os dois pólos do ritmo estão presentes.
Algo do além entrou em seu interior e eles desapareceram.
O amor acontece quando você está vazio. A erudição existe quando você está
repleto. A erudição pertence ao ego e o ego não pode nunca penetrar no centro;
é periférico. A periferia só pode conhecer a periferia. Ninguém pode conhecer o
centro através do ego. O ego pode estudar, pode torná-lo um grande erudito,
pode até transformá-lo num erudito religioso, numa grande autoridade sobre o
assunto. Você pode saber tudo sobre os Vedas, os Upanishads, a Bíblia, o
Alcorão e, mesmo assim, não conhecer nada — porque o centro não pode ser
conhecido a partir do exterior. É algo que acontece quando você já entrou e
tornou-se um.
“Por anos e anos, a monja Chiyono estudou...”
Ela deve ter estudado por vidas. Você tem estudado por muitas vidas. Tem
estado caminhando em círculo. Mas quando alguém caminha em círculo, cria
uma grande ilusão; sente que está progredindo. Você está sempre caminhando
e, mesmo assim, não está indo a lugar algum porque seu movimento é circular.
Você apenas se repete. É por isso que os hindus chamam este mundo de
sangsar. Sangsar significa roda, círculo. Você anda, anda e nunca chega a lugar
algum, embora sempre sinta que está chegando: “Eu já andei tanto que agora a
meta deve estar mais perto!” Experimente andar em um círculo bem grande.
Será difícil perceber que é um círculo porque você estará vendo apenas uma
parte dele. Assim, parecerá sempre uma estrada, um caminho. Isto é o que tem
lhe acontecido durante muitas vidas.
“Chiyono estudou e estudou, sem conseguir chegar à Iluminação.” Não que a
Iluminação seja difícil, mas porque, estudando, você perde a totalidade, a
essência. Segue pela trilha errada. É como se alguém estivesse tentando entrar
nesta sala pela parede. Não que entrar nesta sala seja difícil, mas é preciso
entrar pela porta. Se você tentar entrar pela parede parecerá difícil, quase
impossível. Mas não é. Você é que está usando o meio errado. Ao iniciar a
jornada, muitas e muitas pessoas começam pelo estudo, pelo aprendizado, pela
instrução, informação, filosofia, pelos sistemas teológicos. Começam pelo
“sobre” e, então, estão batendo no muro.
Jesus disse: “Bata na porta e ela será aberta.” Mas, por favor, veja se está
batendo na porta ou não. Não continue batendo no muro; do contrário, nenhuma
porta será aberta. Na verdade, quando você bate à porta, quando você realmente
chega diante dela, descobre que ela sempre esteve aberta, que sempre esteve
esperando por você. A porta é um servo, é alguém que acolhe com prazer, é
uma recepcionista. A porta tem estado à sua espera, mas você continua batendo
no muro. O que é o muro? Quando você começa pela erudição e não pelo ser,
está batendo no muro.
Converta-se, seja! Não acumule informações. Se quiser conhecer o amor, seja
um amante. Se quiser conhecer Deus, seja meditação. Se quiser entrar no
Infinito, seja prece. Seja! Não colete instruções sobre a prece. Não tente
acumular o que os outros dizem a respeito. Aprender não ajuda. Pelo contrário,
só o desaprender é que auxilia. Abandone tudo o que sabe; só assim poderá
conhecer. Abandone todas as informações, todas as escrituras. Abandone todos
os Alcorões, Bíblias e Gitas — eles são as barreiras, os muros. Se você continuar
batendo no muro, as portas não se abrirão — porque não estão nele. As pessoas
batem no Alcorão, nos Vedas, na Bíblia e nenhuma porta é aberta. Elas
continuam estudando e malogrando como a monja Chiyono que “estudou por
anos e anos, sem conseguir chegar à Iluminação”.
O que é iluminar-se? É tornar-se consciente de si mesmo. Não é nada que diga
respeito ao mundo exterior. Não é nada que se possa fazer com que os outros
dizem. O que os outros dizem é irrelevante. Você está aqui! Para que ir consultar
a Bíblia, o Alcorão, o Gita? Feche seus olhos — e eis você em sua infinita glória.
Feche seus olhos e as portas se abrem. Você está aqui, não precisa ir perguntar
a ninguém. Se perguntar, não compreenderá. O próprio perguntar demonstra
que você pensa que está em algum outro lugar. O próprio perguntar demonstra
que você está pedindo por um mapa. Para o mundo interior não existe nenhum
mapa; não há necessidade, porque você não está caminhando para um destino
desconhecido.
Na realidade, você não está caminhando.
Você está aqui. Você é a meta. Não é o caminhante, é o Iluminado. O que é estar
Iluminado? Um estado: quando você procura no exterior, não está iluminado;
quando procura no interior, está. A única diferença está no enfoque. Ao enfocar
fora, não está iluminado; ao enfocar dentro, está. Assim, tudo depende de uma
mudança de direção.
A palavra cristã “conversão” é bela. Mas os cristãos a têm usado de um modo
horrível. Conversão não significa fazer de um hindu um cristão ou tornar um
cristão hindu. Conversão significa retorno. Conversão significa retornar à fonte,
voltar para o interior. Só quando isto acontece, você está convertido. Sua
consciência pode fluir em duas direções: para fora ou para dentro. Estes são os
dois leitos pelos quais a torrente da sua consciência pode fluir. Para fora, pode
fluir por muitas e muitas vidas, sem nunca encontrar a meta, pois a meta está na
fonte. O objetivo não está na frente, está atrás. O objetivo não está em algum
lugar ao qual você possa chegar. Está em algum ponto que você já deixou. A
meta é a fonte. Isto tem de ser entendido profundamente. Se você puder retornar
ao primeiro ponto do seu ser, terá encontrado o alvo.
Iluminar-se significa retornar à fonte e a fonte está em seu interior: a vida está
aí, fluindo, palpitando, continuamente batendo. Por que perguntar aos outros?
Estudar significa perguntar aos outros. Perguntar sobre si mesmo aos outros?
Isto é uma tolice por excelência. Isto é um absurdo total — perguntar sobre si
mesmo aos outros. O significado do estudo é este: procurar pela resposta. Mas
você é a resposta!
“Chiyono estudou por anos e anos sem chegar à Iluminação.” É natural, é óbvio.
Está certo. Ela estava olhando para fora, estudando.
Outro ponto a ser lembrado: seu ser é vida e nenhuma escritura pode estar viva.
As escrituras estão fadadas a morrer. As escrituras são cadáveres. E você
pergunta à morte sobre a vida. Não é possível! Krishna não será de muita ajuda,
nem Jesus — a menos que você se torne Krishna ou Jesus. A vida não pode ser
respondida pela morte. E se você pensar que encontrará a resposta, ficará cada
vez mais limitado pelas respostas, e a resposta permanecerá desconhecida. Isso
é o que acontece a um homem que estuda, que pensa, que filosofa. Fica cada
vez mais limitado pelos seus próprios esforços — palavras, palavras e palavras
— e se perde. Mas a resposta sempre esteve nele. Apenas um retorno era
necessário.
Não, ninguém pode responder. Não vá a nenhuma pessoa, vá a si mesmo!
Quando você encontra um Mestre, tudo o que ele pode fazer é auxiliá-lo a
encontrar a si mesmo; só isso. Nenhum mestre pode lhe dar a resposta. Nenhum
mestre pode lhe dar a chave. O mestre só pode auxiliá-lo a olhar para o seu
interior. Apenas isto. A chave está aí, o tesouro está aí, tudo está aí.
“Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água: Enquanto
caminhava, ia observando a lua refletida na água do pote. De repente, as tiras
de bambu, que mantinham o pote inteiro, partiram-se e o pote despedaçou-se.
A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono Iluminou-se.”
“Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água.”
Você também está carregando um antigo, um muito, muito velho pote cheio de
água. Ele é a sua mente repleta de pensamentos. É a coisa mais antiga que você
carrega, e está quase morta.
A mente é sempre velha. Nunca é nova.
Não pode ser por sua própria natureza porque mente significa memória. Como
pode a memória ser nova? Mente significa o conhecido. Como pode o conhecido
ser novo? Mente significa passado. Como pode o passado ser novo? Olhe para
a sua mente; tudo o que ela carrega é velho, morto. Quando você chega a
conhecer um momento, ele já passou. Quando você reconhece que sabe algo,
esse algo já se foi. Não está mais aqui e agora. Moveu-se para o mundo da
morte.
Portanto, a mente por sua própria natureza, tal como é, já é velha. É por isso que
nunca cria algo original. A mente não consegue ser original, só consegue repetir.
Ela pode repetir de mil maneiras, pode repetir cada vez com novas palavras, mas
o ponto permanece o mesmo. A mente não tem capacidade para conhecer, para
encontrar o frescor, a juventude, o novo. Para encontrar o novo, sua mente tem
de ser colocada de lado, pois só assim seus olhos não estarão tapados pelo
passado, pelas cinzas do passado; só assim seu espelho poderá refletir o que
está aqui e agora.
Tudo o que é novo nasce da consciência, não da mente. A consciência é a sua
mais profunda fonte. A mente é a poeira acumulada em cada uma das suas
jornadas. É como se você tivesse viajado muitas e muitas vezes, apanhando
lama e acumulando pó, sem nunca tomar um banho. E isto é o que lhe tem
acontecido. Sua mente nunca tomou um banho. Mas você se apega a ela, a toda
essa sujeira. Todos os métodos de meditação nada mais fazem do que lavar a
mente, dar um banho, um banho interior, para que a poeira escorra e a
consciência que está oculta venha à tona e encontre a realidade.
A realidade está aqui, você está aqui, mas o encontro não acontece porque a
mente se interpõe entre você e a realidade. Tudo o que você vê, vê através da
mente. Tudo o que você ouve, ouve através da mente. Por isso, está quase
surdo, quase cego. Jesus dizia sempre a seus discípulos: “Quem tiver ouvidos,
que ouça! Quem tiver olhos, que veja!” Todos eles tinham olhos como os seus.
Todos eles tinham ouvidos como os seus. Mas Jesus sabe, como eu sei, o
quanto você está surdo, o quanto está cego...
Quando uma pessoa ouve pela mente, na verdade, não está ouvindo porque a
mente interpreta, colore, muda, confunde a si mesma, e quando algo chega até
você já está velho. A mente já fez o seu truque. A mente já deu seu próprio
sentido, sua própria interpretação. A mente já fez a crítica.
É por isso que, a menos que você se torne um verdadeiro ouvinte, não
compreenderá. Ouvir corretamente significa ouvir sem a mente. Olhar
verdadeiramente significa olhar sem a mente, sem interpretar, sem julgar, sem
condenar, sem avaliar, sem dizer sim ou não. Quando eu converso com você,
vejo sua mente balançando afirmativa ou negativamente. Mesmo que o balançar
seja invisível, eu o vejo. Pode ser que você não esteja consciente disso, mas,
algumas vezes, ao dizer “sim”, sua mente já interpretou; já avaliou. E você
perdeu.
Ouça simplesmente, sem julgar, e de repente, perceberá que a mente tem
confundido tudo.
Lembre-se disto: a mente é velha, não pode nunca ser nova. Portanto, não pense
nunca que a sua mente é original. Nenhuma mente pode ser original. Todas as
mentes são velhas, repetitivas. É por isso que ela gosta tanto das repetições e
está sempre contra o novo. Por ter sido criada pela mente, a sociedade também
está sempre contra o novo. Por terem sido criados pela mente, o estado, a
civilização, a moral estão sempre contra o novo. Nada pode ser mais ortodoxo
do que a mente.
Com a mente, nenhuma revolução é possível. Se você é um revolucionário
através da mente, pare de enganar a si mesmo. Um comunista não pode ser
revolucionário porque nunca meditou. Seu comunismo é mental. Apenas trocou
de Bíblia: não acredita mais em Jesus, acredita em Marx ou em Mao, a última
edição de Marx. O comunista é tão ortodoxo quanto qualquer católico, hindu ou
maometano. Seu ortodoxismo é o mesmo porque a ortodoxia não depende do
que é acreditado. A ortodoxia depende de se acreditar através da mente. E a
mente é o elemento mais ortodoxo, mais conformista do mundo.
Qualquer coisa que a mente crie, nunca será nova, será sempre anti-
revolucionária. É por isso que a única revolução possível no mundo é a religiosa,
não pode haver outra. Apenas a religião pode ser revolucionária porque só ela
chega à própria fonte. Só ela abandona a mente, o velho. Assim, de repente,
tudo é novo, porque era a mente que estava tornando tudo velho através de suas
interpretações.
De repente, você volta a ser criança. Seus olhos são jovens, inocentes. Você
olha sem informações, sem ensinamentos. De repente, as árvores têm um novo
frescor, o verde mudou — já não é mais opaco; é vivo, brilhante. De repente, o
canto dos pássaros é totalmente diferente.
Isso é o que tem acontecido a muitas pessoas pelas drogas. Aldous Huxley ficou
intensamente fascinado pelas drogas por causa disso. Em todo o mundo, a nova
geração sente-se atraída pelas drogas. A razão disso é que a droga, por um
momento, por algum tempo, coloca sua mente de lado quimicamente. Você olha
para o mundo e, então, as cores ao seu redor são simplesmente miraculosas.
Você nunca viu algo assim! Uma flor comum transforma-se em toda a existência,
traz consigo toda a glória do Divino. Uma folha comum adquire tanta
profundidade que é como se estivesse revelando toda a Verdade. Todas as
coisas imediatamente mudam. A droga não pode mudar o mundo; o que ela faz
é colocar sua mente de lado por um processo químico.
Mas a pessoa pode tornar-se viciada; então, a mente terá absorvido a droga
também. Apenas no começo, nas primeiras duas ou três vezes, é que a mente
pode ser enganada quimicamente. Depois, pouco a pouco, a mente entra num
acordo com a droga e novamente toma as rédeas. O choque original é perdido.
Torna-se viciado pela droga. O comando volta a pertencer à mente. Pouco a
pouco, mesmo quimicamente, torna-se impossível colocar a mente de lado. Ela
continua presente. Então, você está viciado. As árvores voltam a ser velhas, as
cores já não são tão radiantes, tudo está novamente opaco. A droga o matou,
mas não a sua mente.
A droga pode dar apenas um tratamento de choque. Ela é um choque químico
para todo o corpo. Nesse choque, o velho ajustamento é quebrado. As brechas
aparecem e, através delas, você pode olhar. Mas isso não pode se tornar um
hábito. É impossível fazer da droga uma prática. Cedo ou tarde, ela fará parte da
mente, a mente assumirá a direção. E tudo voltará a ser velho.
Só a meditação pode matar a mente — nada mais. A meditação é o suicídio da
mente, é a mente cometendo suicídio. Sem qualquer química, sem qualquer
meio físico, você põe sua mente de lado. Torna-se o mestre. E quando você é o
mestre, tudo é novo. Desde a própria origem até o derradeiro final, tudo é novo,
jovem, inocente. A morte não existe, nunca ocorreu neste mundo. A vida é
eterna.
“Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água.” Você também
está carregando um velho pote cheio de água. A mente é o velho pote e os
pensamentos são a água. Você não pode jogar esse velho cesto fora porque,
então, o que acontecerá aos seus pensamentos? Você dá muito valor a eles,
apega-se a eles como se fossem a própria fonte da felicidade, a íntima fonte do
silêncio; como se através deles fosse possível encontrar a vida e seus tesouros
ocultos. Mas nunca nada assim foi encontrado pelos pensamentos. Essa é uma
esperança simplesmente inútil.
O que você tem alcançado pelos pensamentos? Nada mais que ansiedade,
tensão. Entretanto, continua apegado na esperança de que, um dia ou outro, em
algum lugar do futuro, a verdade seja alcançada através deles. Até agora, nada
assim aconteceu e nunca acontecerá. A verdade não tem nada a ver com os
pensamentos. Ela está aqui! Basta olhá-la. Não há necessidade de se pensar a
respeito. Pensar seria necessário se ela não estivesse aqui, se você estivesse
tateando no escuro. Mas, na existência, não existe nenhuma escuridão. A
existência é a luz absoluta. Não é preciso tatear. Você está com os olhos
fechados, por isso tateia desnecessariamente e pensa: “Se eu parar de tatear,
estarei perdido.” Pensar é tatear.
Meditar é abrir os olhos. Meditar é olhar. Os hindus chamam a meditação de
darshan, porque darshan significa olhar — olhar diretamente, sem pensar a
respeito. O próprio olhar transforma. Mas você carrega os pensamentos nesse
velho pote e vai remendando-o, tomando conta dele: se ele quebrar, o que
acontecerá a seus valiosos pensamentos? E, no entanto, eles não são
absolutamente valiosos.
Algum dia, faça esta pequena experiência: feche a porta de seu quarto, sente-
se e comece a escrever seus próprios pensamentos — tudo o que vier à sua
mente. Não os modifique porque você não precisará mostrar esse pedaço de
papel a ninguém. Por dez minutos, simplesmente escreva. Depois, olhe. Olhe o
que seus pensamentos são. Se você os olhar, pensará que algum maluco os
escreveu. Se mostrar esse papel ao seu amigo mais íntimo, ele olhará para você
e pensará: “Você ficou louco?” E a situação dele é idêntica à sua. Mas nós
continuamos escondendo a loucura. Temos máscaras atrás das quais
escondemos a nossa loucura.
Por que você valoriza tanto esses pensamentos? Eles são drogas, são química.
Observe bem: pensar é algo químico, é uma droga. Quando você começa a
pensar, entra num tipo de sono hipnótico. É por isso que se torna viciado — é
exatamente como o ópio. Com o pensar, você pode esquecer o mundo, os
problemas, as responsabilidades. Sonhando, pensando, pode criar um mundo
totalmente diferente dentro de si.
Aqueles que têm trabalhado por muito tempo com a ciência do sono dizem que
o sono é necessário para que a pessoa possa sonhar. E se você perguntar a
eles por que sonhar é necessário, eles lhe dirão que é para que você permaneça
são; porque nos sonhos você pode jogar toda a sua insanidade fora. A noite toda
é uma catarse. E, nos sonhos, a loucura é jogada fora. Assim, pela manhã, seu
comportamento pode ser saudável. Durante o dia todo, você pode agir de um
modo são porque teve a noite toda para portar-se como um louco.
Os cientistas dizem que se você for privado de sonhar e de dormir por alguns
dias ficará louco, porque a catarse não acontecerá e a loucura começará a entrar
em erupção. Explodirá. Durante a noite, você sonha — isso é uma catarse.
Durante o dia, você pensa — isso também é uma catarse que contribui para a
sua sonolência. É uma droga. Com os pensamentos, não é preciso preocupar-
se com o que está acontecendo. Basta fechar-se dentro deles. Os pensamentos
são sempre bem-vindos; com eles você se sente confortável: eles são seu
próprio lar, mesmo que estejam sujos e velhos. Depois de viver tanto tempo com
eles, você já se acostumou. Já se acostumou com sua prisão. Isso acontece com
os prisioneiros que ficam muito tempo encarcerados: ao sair, sentem medo,
sentem medo da liberdade: Sentem medo porque sabem que ela lhes trará novas
responsabilidades. E não existe nada como sair da mente — é a liberdade total.
Os hindus dão a esse estado o nome de moksha — liberdade total. Não existe
nada que se possa comparar a ele: é o estilhaçamento de todas as prisões.
Depois, simplesmente você, sob o céu infinito. O medo o agarra: você quer voltar
atrás, para sua casa, para o seu canto aconchegante, murado, protegido. No seu
canto, você não tem medo. Nele, o infinito não está presente.
O infinito assemelha-se sempre à morte. Você acostumou-se com o finito, com
os limites precisos, com as distinções bem delineadas. É por isso que não pode
jogar fora os pensamentos, não pode jogar fora o velho pote. Ao invés disso,
continua aumentando-o cada vez mais. E ele é exatamente como a sua barriga:
quanto mais pensamentos você coloca, mais ele se expande. A única diferença
é que a barriga pode arrebentar se você comer demais, mas a mente não.
Uma mente comum pode conter todas as livrarias do mundo. Em sua pequena
cabeça, existem setenta milhões de células e cada uma pode conter, pelo
menos, um milhão de informações. Nenhum computador foi desenvolvido ainda
que possa ser comparado com a sua mente. Em sua pequena cabeça, você
carrega o mundo inteiro. E ela continua se expandindo.
Chiyono estudou e estudou. Encheu o velho pote com mais e mais água. Ela não
conseguiu chegar à Iluminação. E “Uma noite, estava ela a carregar um velho
pote cheio de água. Enquanto caminhava, ia observando a lua cheia refletindo
na água do pote.” A lua cheia estava alta no céu e o seu reflexo aparecia na
água do pote Chiyono estava olhando para o reflexo.
Isso é o que está acontecendo com todos e com cada um. Isso não é uma
estória, não é um caso. É um fato — está lhe acontecendo. Você nunca olhou
para lua cheia. Você não pode. Está sempre olhando para a lua refletida em sua
água, em seus pensamentos. É por isso que os hindus — principalmente
Shankara — dizem: tudo o que você sabe é maya, ilusão. Você está olhando
para a lua refletida na água, para o reflexo, não para a verdadeira lua. E pensa
que o reflexo é a lua.
Tudo o que você vê, vê através dos reflexos. Seus olhos refletem; seus olhos
são exatamente como espelhos. Seus ouvidos refletem — todos os seus
sentidos são espelhos: refletem. E existe um que é o maior de todos os espelhos:
sua mente — ela reflete. Não apenas reflete, mas critica, interpreta. Lado a lado
com o reflexo vai fazendo a crítica, destorcendo.
Você já se olhou num desses espelhos que destorcem? Se não olhou, não vá a
lugar algum, você não precisa; ele já está dentro de você, é a sua mente
destorcendo tudo. Tudo o que você tem conhecido até agora não tem nada a ver
com a lua real no céu porque, com o velho pote cheio de água, como você pode
olhar para a lua real? Você continua olhando para o reflexo e o reflexo é ilusório.
Este é o significado de maya, ilusão. Tudo o que você conhece é maya, é apenas
aparência, não o real. O real só vem quando o pote se quebra — a água escorre,
o reflexo desaparece.
“De repente, as tiras de bambu que mantinham o pote coeso partiram-se e o pote
despedaçou-se.”
Aconteceu de repente, como um acidente. Tente entender esse fenômeno: a
Iluminação é sempre como um acidente porque é imprevisível, porque não é
possível planejá-la, não é possível providenciar para que aconteça, não é
possível provocá-la. Se fosse, não poderia estar além da mente. Se fosse, seria
apenas um truque da mente. Muitas pessoas tentam planejá-la. Fazem isso e
aquilo, apenas para criar uma causa; mas a Iluminação não é causal. Se você
pudesse induzi-la, ela não seria maior que você. Se você pudesse provocá-la,
ela seria absolutamente inútil. Ela acontece, mas não pode ser induzida. Não é
uma consequência da sua mente, e um descontínuo abismo. De repente, você
desaparece e ela surge. Como você pode preparar isso? Se preparar, você não
desaparecerá.
Quando Gautama Sidarta iluminou-se, tornou-se Buda; ainda era o mesmo
homem? Não! Iluminar-se e continuar sendo o mesmo homem... isso é
impossível. A continuidade é quebrada; o velho homem simplesmente
desaparece. Um homem totalmente novo surge. Sidarta Gautama, o príncipe, o
homem que deixou seu palácio, sua esposa, seu filho, não existe mais. O ego, a
mente, não existem mais. Aquele velho homem morreu — o velho pote partiu-
se. O que surgiu é um homem absolutamente novo, que nunca existiu! E por isso
lhe damos um novo nome; nós o chamamos de Buda. Abandonamos o velho
nome porque pertence a uma outra identidade, a uma outra personalidade. O
velho nome nunca pertenceu a este novo homem.
A Iluminação é um fenômeno descontínuo. Não pode ser contínuo. Se fosse,
seria apenas uma modificação do passado. Não seria novo, de modo algum,
porque o passado ainda estaria presente — modificado, um pouco diferente aqui
e ali, pintado, polido, mas presente. Seria uma melhora, mas ainda permaneceria
velho.
A Iluminação é como um acidente. Mas não me interprete mal! Quando eu digo
que a Iluminação é como um acidente não estou dizendo que não faça nada para
que aconteça! Não é esse o sentido. Se você não fizer nada, o acidente não
acontecerá. O acidente só ocorre para aqueles que têm feito muito para
consegui-lo. Entretanto, ele nunca acontece por causa do seu fazer. Este é o
problema: não acontece pelo seu fazer, mas nunca acontece sem o seu fazer. O
fazer nunca é a causa. Ele apenas cria condições propícias ao acidente. Apenas
isto!
Todas as suas meditações apenas criam as condições propícias ao acidente —
apenas isto. E é por isto que nem mesmo Buda é capaz de prever quando sua
Iluminação acontecerá.
As pessoas vêm a mim e perguntam: “Quando?” Eu respondo: “logo”. Isso não
significa nada. “Logo” pode ser o momento seguinte; “logo” pode demorar muitas
vidas. Um acidente nunca pode ser previsto. Se pudesse, não seria
absolutamente um acidente, seria uma consequência.
Mas não pare de agir! Não pense que se tiver de acontecer, acontecerá. Senão,
nunca virá. Você tem de estar pronto para quando o desconhecido chegar —
pronto, à espera, receptivo. Caso contrário, ele poderá vir, passar e você nem
perceber. Poderá bater à sua porta e você nem ouvir. Poderá encontrá-lo
profundamente adormecido ou conversando com alguém e você pensará que é
apenas o vento que está batendo à sua porta. Poderá pensar tantas coisas —
todo mundo é um grande pensador.
Esteja pronto para o acidente! E não se esqueça: todo o seu fazer não será a
causa, simplesmente criará condições propícias para que aconteça, será apenas
um convite. Existe nisto uma grande diferença. Se você pensar que o seu fazer
é a causa, começará a exigir. Começará a pensar: “Por que não está
acontecendo? Por que não aconteceu até agora?” Isto criará uma tensão interna
que impedirá o acidente. Você tem de ser pego de surpresa. É preciso que esteja
esperando, mas sem ansiedade — relaxado. Você deve convidá-lo, mas não
esteja certo de que o convidado virá.
Afinal, isso depende do convidado, não de você. Sem o convite, a visita nunca
acontecerá, isto é certo. Com seu convite, ele poderá não vir; mas sem o seu
convite, é certo que não virá. Assim, espere na porta, mas não fique ansioso,
nem esteja certo.
A certeza é da mente: o esperar é da consciência. A mente é superficial; assim,
todas as certezas também o são. O acidente pode acontecer a qualquer
momento. Quando você estiver pronto para ver, para olhar, perceberá que ele
sempre esteve acontecendo justamente ao seu lado. Mas você não estava
olhando para ele, não estava olhando para o seu lado.
Ouvi contar que certa vez Mulla Nasrudin estava descansando em sua poltrona.
Sua mulher estava olhando para a rua e ele para a parede. Estavam sentados
um de costas para o outro como os maridos e esposas costumam sentar-se.
De repente, sua mulher lhe disse: “Nasrudin, olhe! O homem mais rico da cidade
morreu e milhares de pessoas estão indo lhe dar o último adeus.”
Nasrudin disse: “Que pena! Não estou olhando para esse lado.” Ele não olhou.
Apenas um virar de cabeça era necessário...
Mas isso é o que está lhe acontecendo. Que pena! Você não está olhando para
este lado onde o acidente está passando, onde o desconhecido está passando.
Todas as meditações existem apenas para auxiliá-lo a olhar na direção do
desconhecido, a olhar na direção do incomum, a olhar para o estranho. Elas o
tornam mais aberto. Mas você não pode obrigar o convidado a vir.
Mesmo que esteja pronto, é preciso esperar. Você não pode forçá-lo. Não pode
trazê-lo para si mesmo. Se fosse possível forçá-lo, a religião seria como a
ciência. Esta é a diferença básica entre ciência e religião: a ciência pode forçar
as transformações porque depende das causas, não dos convites. Quando a
ciência descobre uma causa, pode induzir a transformação. Uma vez que a
causa é descoberta, algo pode ser feito. A ciência sabe que se você esquentar
a água a 100°C ela evaporará. Esquentar a água a 100°C é uma causa. Você
pode ter certeza de que quando a temperatura chegar a 100°C a água começará
a evaporar. Você pode forçar a água a evaporar pelo aquecimento. Você pode
misturar oxigênio com hidrogênio e forçá-los a transformarem-se em água. Você
pode provocar isto. A ciência procura sempre pelas causas.
A religião é diferente, basicamente diferente. Nesse sentido, a religião nunca
poderá tornar-se ciência porque está à procura do não-causal. Está procurando
pelo descontínuo; está em busca da conversão absoluta. Uma conversão relativa
pode ser provocada, uma transformação parcial pode ser induzida. Mas, uma
absoluta? Sem nada do velho, com tudo completamente novo? Para isto, é
necessária uma brecha, um intervalo. O elo não pode existir. É preciso dar um
salto! Então, de repente, o velho desaparece e o novo entra na existência; eles
não se reúnem, existe um intervalo. Sidarta Gautama simplesmente
desaparece... e surge Gautama Buda — há um intervalo.
Esse intervalo tem de estar presente. É por isso que eu digo que a Iluminação é
como um acidente. Mas é preciso estar trabalhando continuadamente para que
aconteça. Este é o paradoxo. Ouça-me, não vá dormir. Ouça-me, não comece a
pensar e raciocinar assim: “Se é um acidente e eu não posso provocá-lo, então
para que meditar? Por que fazer isto ou aquilo? Agora, simplesmente esperarei!”
Não! Seu esperar não pode ser preguiçoso.
Seu esperar deve ser vivo! Seu esperar deve ter toda a energia à sua disposição;
não pode ser como o de um homem morto. Seu esperar deve ser jovem, novo,
vivo, vibrante! Só assim o desconhecido poderá acontecer. Só quando você
estiver no melhor da sua vida, no ponto máximo da sua capacidade, no auge da
vivacidade, quando você estiver no ápice — o acidente acontecerá. Só um pico
pode encontrar esse grande pico; só os picos, só os semelhantes podem se
encontrar.
Vá trabalhando o máximo que puder, mas não crie qualquer exigência. Não diga:
“Tenho feito tanto que agora deve acontecer.” Não existe nenhum dever a esse
respeito. Ele é um estranho. Vá escrevendo os convites, mas como Ele não tem
endereço você não pode colocá-lo no correio. Assim, vá jogando seus convites
ao vento, talvez eles cheguem, talvez não cheguem. Deus é sempre um “talvez”;
mas é bonito quando tudo é talvez. Quando as coisas são certas, a beleza se
perde.
Você já observou que na vida a única certeza é a morte? Que tudo o mais é
incerto? Tudo é incerto! Se o amor acontecerá ou não, ninguém o sabe. Se você
será capaz de cantar uma bela canção ou não, ninguém o sabe. Apenas uma
coisa é certa: a morte. A certeza sempre pertence à morte, nunca à vida. E se
você está em busca da Vida Eterna, viva no talvez. Viva aberto, esperando. Mas
lembre-se de que não pode provocar o acidente. Quando acontecer, você
desaparecerá.
Este é o significado deste belo acontecimento: “De repente, as tiras de bambu
que seguravam o pote inteiro partiram-se...” De repente, aconteceu. Mas ela
estava trabalhando, estudando, meditando. Ela era uma grande monja. Viveu
pelo menos trinta ou quarenta anos com o Mestre e trabalhou incrivelmente.
Preciso lhe contar algo sobre Chiyono. Ela era uma mulher muito bonita — de
uma beleza rara, única. Quando jovem, até o Imperador e o Príncipe a quiseram.
Mas ela recusou porque queria ser amante apenas do Divino; ninguém estava à
altura das suas expectativas, nenhum mortal era capaz de satisfazê-la.
Chiyono andou de um mosteiro a outro para receber sannyas, para tornar-se
uma monja. Mas até os grandes mestres a recusaram porque era tão bela que
poderia criar problemas. Havia tantos monges — e os monges, é claro, são
pessoas muito reprimidas. Ela era tão bela que eles poderiam esquecer-se de
Deus e tudo o mais. Chiyono era realmente bela; assim, em todos os lugares as
portas eram fechadas. Um mestre lhe disse: “Sua busca está certa, mas tenho
de olhar pelos meus seguidores também. Quinhentos sannyasins estão aqui.
Eles ficarão loucos. Esquecerão suas meditações, suas escrituras, tudo! Você
tornar-se-á Deus. Assim, Chiyono, não perturbe essa pobre gente. Vá embora!”
Então, o que fez Chiyono? Não encontrando nenhum outro meio, queimou sua
face, fez cicatrizes em toda sua face. Depois, foi a um mestre; este não pôde
nem reconhecer se ela era mulher ou homem. Assim, ela foi aceita como monja.
Ela estava pronta. Sua busca era autêntica: Ela era digna do acidente; realmente
o merecia. Mas estudou, meditou por mais trinta, quarenta anos continuamente.
Então, de repente, numa noite, o estranho veio à sua porta.
“De repente, as tiras de bambu que seguravam o pote inteiro partiram-se. O pote
despedaçou-se. A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono
Iluminou-se.”
Chiyono estava olhando para a lua — estava linda. Mesmo os reflexos são belos
— porque refletem a Beleza Absoluta. O mundo é tão belo porque é um reflexo
de Deus. Assim, como é possível dizer que o mundo é feio? Como pode um
reflexo ser feio quando está refletindo o Divino? Aqueles que dizem que o mundo
é feio e renunciam a ele, estão absolutamente errados porque, se você renuncia
a este mundo, no fundo, está renunciando ao Criador. Não renuncie! O rosto de
uma mulher é belo porque reflete. O rosto de um homem é belo, seu corpo é belo
porque reflete. As árvores, os pássaros são belos porque refletem. Se o reflexo
é tão belo, o que dizer do original?
Assim, um verdadeiro seguidor não é contra o mundo. Um real seguidor ama
tanto o mundo, ama tanto o reflexo que quer ver o original. Ama tanto o reflexo
que surge em seu interior a vontade de ver o original, de ver a lua cheia no céu.
Deixa este reflexo, mas não porque seja contra ele; abandona este reflexo
justamente para encontrar Aquele que está refletido. Não é contra o amor. Ele
tem conhecido tanta beleza que agora quer entrar mais a fundo “no amor”. Tem
conhecido tanto com o reflexo, tanta formosura, tanta fragrância, tanta
musicalidade, que agora um desejo de conhecer a fonte surgiu. Se o reflexo é
tão musical, que harmonia deve ser a fonte original!
O real seguidor nunca está contra nada. É sempre a favor, jamais contra. É a
favor de Deus, mas nunca contra o mundo porque, afinal, o mundo pertence a
Deus. Se vejo sua face no espelho, sua beleza, como posso estar contra o
espelho? Na realidade, fico agradecido porque ele reflete. Mas não me fixo no
espelho. Vou em busca de você que está refletido no espelho. Deixo o espelho,
mas não por estar contra ele. Viro meu rosto, deixo de olhar para o espelho. Mas
continuo agradecido porque ele refletiu algo tão belo que senti necessidade de
encontrar a fonte original!
“A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono Iluminou-se.”
Ela estava olhando para a lua refletida no pote. De repente, o pote caiu, a água
escorreu, a lua desapareceu — aconteceu o estalo.
Há sempre um estalo no ponto onde o velho desaparece, o novo surge e você
renasce.
De repente, a água escorreu e não havia mais lua. Assim, ela deve ter olhado
para cima — lá estava a lua real! Neste momento, aconteceu um paralelo entre
o mundo externo e o interno. O mesmo fenômeno aconteceu dentro: tudo havia
sido visto através da mente, do espelho. De repente, Chiyono tornou-se
consciente de que tudo havia sido reflexo, ilusão porque tinha sido visto pela
mente. De repente, a mente despedaçou-se, exatamente como o pote.
Ela estava pronta. Tudo o que poderia ser feito, tudo o que era possível fazer,
ela havia feito. Nada fora deixado para trás. Ela estava pronta. Ela merecia o
acontecimento. Por isso, esse comum incidente tornou-se um estalo para
Chiyono.
Mas lembre-se: não seja Chiyono! A Iluminação não acontecerá a você do
mesmo modo. Por saber a estória, você pode despedaçar o pote, a água
escorrer, o reflexo desaparecer — e nada lhe acontecer. É impossível fazer de
um acontecimento um ritual. Mas isto é o que a tola humanidade tem feito por
séculos e séculos. Os estalos são conhecidos, mas são sempre individuais,
únicos. Não podem ser repetidos. Ninguém pode ser novamente Chiyono.
O mundo nunca se repete. Deus é tão original que nunca repete nada. Chiyono
nasceu apenas uma vez, nunca mais nascerá — nunca, nunca mais! Assim, o
mesmo fenômeno não poderá se repetir porque você não é Chiyono. Mas você
pensa que pode porque a mente trabalha como um sistema lógico. Por ter
acontecido a Chiyono carregando o pote de água, você faz disso — de carregar
o pote, de deixar o pote cair e despedaçar-se, da água fluir, do reflexo
desaparecer — um ritual! Isso é o que está sendo feito nas igrejas, nas
mesquitas, nos templos — rituais!
Como aconteceu a Buda? Encontre uma árvore “Bodhi”, sente-se em baixo dela
com os olhos fechados, na mesma postura de Buda, exatamente igual a ele e
você será apenas um tolo. Você não se tornará Buda, será simplesmente
estúpido! Do contrário não estaria repetindo. Os rituais são repetidos apenas
pelos idiotas. Por isso, é preciso que você compreenda muito bem como
acontece: não é uma questão de sentar-se sob uma árvore Bodhi. Buda sofreu
uma longa preparação, passou por milhões de vidas — é uma personalidade
única. O momento da Iluminação foi o último estalo, foi a conclusão. Muitas e
muitas vidas de esforço e busca foram necessárias para atingir o clímax.
O clímax aconteceu quando ele estava sentado sob a árvore Bodhi, apenas
acidentalmente. Teria acontecido de qualquer modo. Se ele não estivesse
sentado lá, também teria acontecido. Se não houvesse nenhuma árvore,
também teria acontecido. Não era necessário que ele estivesse sentado. Poderia
estar caminhando e aconteceria do mesmo modo. Foi uma conclusão! Estar
sentado sob a árvore Bodhi em uma determinada postura foi apenas uma
coincidência. A postura não foi a causa, assim como a árvore também não o foi.
Se tivessem sido, então poderia haver repetições. Aqueça a água a 100°C e ela
evaporará. Sente-se sob uma árvore Bodhi, exatamente na mesma posição de
Buda, até mais perfeitamente que ele, e a Iluminação acontecerá.
Não! Este não é o meio. Não seja estúpido, não siga cegamente, não faça dos
acontecimentos um ritual. Compreender é necessário, fazer rituais não... É bom
sentar-se na posição de Buda, mas tenha presente que você não é Buda! O
mesmo estalo não irá funcionar para você. Será um outro! Mas se você continuar
seguindo Buda totalmente cego, poderá perder seu próprio estalo, o qual nunca
acontecerá pela repetição dos rituais. É preciso que você siga a si mesmo.
Receba auxílio de todos os Budas, mas não seja cego. Compreenda-os o mais
profundamente que puder porque eles já chegaram — mas nenhum caminho
existe.
A dimensão espiritual é exatamente como o céu: não deixa nenhum traço; é
impossível segui-la. Um pássaro voa; nenhum traço é deixado. O céu permanece
vazio, nenhum caminho é criado. Não é como na terra onde as pessoas passam
e formam um caminho que pode ser seguido. A dimensão espiritual é a mesma
do céu, é não-material, não-terrena, não deixa nenhum traço. Buda está voando,
olhe para o vôo, veja sua beleza, seu lampejo, sua luz, celebre-o, compreenda-
o! Mas não tente segui-lo, não seja cego! A cegueira não auxiliará.
O modo pelo qual Chiyono iluminou-se nunca aconteceu com ninguém mais.
Buda não estava carregando um cesto d’água, nem Mahavir, nem Krishna, nem
Lao Tzu, nem Zaratustra — ninguém mais estava carregando um cesto de água.
E, depois de Chiyono, muitos carregaram porque isso parece tão simples que
você pode planejar; nenhuma dificuldade é envolvida. A noite de lua cheia vem
todos os meses; você pode esperar por ela e fazer como Chiyono. Não seja
ritualístico! Ritual não é religião. Ritual é a coisa mais anti-religiosa do mundo.
Você é único, lembre-se! Algo único irá lhe acontecer, algo que nunca ocorreu
antes e nunca ocorrerá outra vez. Não apenas suas impressões digitais são
únicas, sua alma também é.
Eu estava justamente lendo uma pesquisa científica que prova que todas as
partes do corpo são únicas — não apenas as impressões digitais; seu fígado é
diferente de todos os outros fígados, assim como seu coração e seu estômago.
Nos livros escolares, existem figuras de estômagos que nunca serão
encontrados em lugar algum. São apenas a média, são imaginários. Se você
olhar para o estômago de pessoas reais, verá que são todos diferentes.
A média não é a verdade. É apenas uma aproximação matemática; não um fato.
O real é sempre único. Você tem um tipo diferente de ser que não se parece em
nada com os outros! Isto é bom; é belo que você seja diferente, não apenas uma
repetição como os carros Ford. Um milhão de carros exatamente iguais podem
ser produzidos. Mas você não é uma máquina, é um homem. E no que se
constitui seu humanismo, sua humanidade? No que você é diferente de uma
máquina? Na sua singularidade. As máquinas são repetitíveis. Você pode
substituir um carro Ford por outro carro Ford, não há problema. Mas nenhum
homem jamais poderá ser substituído. Nunca! Cada homem é um florescimento
único, acontece apenas uma vez.
Assim, não seja ritualístico. Compreenda! Deixe que a compreensão seja a lei,
a única lei a ser seguida.
Chiyono escreveu estes versos depois. Celebrou o fenômeno com versos, com
uma canção. Escreveu:
“De um modo ou de outro
tentei manter o pote coeso,
esperando que o frágil bambu
nunca se partisse.
“De repente, o fundo caiu
não havia mais água
nem lua na água —
O vazio em minhas mãos.”
“De um modo ou de outro, tentei manter o pote coeso”. Você tem tentado manter
o pote coeso de um modo ou de outro. Tem carregado sua mente de todos os
modos para segurá-la inteira. A mente é a barreira e você pensa que é a amiga.
A mente é a inimiga e você a suporta de todos os modos possíveis.
Estou lhe dizendo muitas coisas que são contra a mente. Você as colocará em
sua mente e fará delas um suporte. Tudo o que eu digo torna-se informação.
Quando você me deixar e for embora, estará mais instruído. Então, até o que foi
dito contra a mente converter-se-á em um suporte para a mente. Tudo o que eu
digo tornar-se-á ensinamento. Não faça das minhas palavras uma nova
aquisição para a sua velha mente!
“De um modo ou de outro
tentei manter o pote coeso,
esperando que o frágil bambu
nunca se partisse.”
É possível encontrar algo mais frágil do que a mente? Algo mais enevoado do
que os pensamentos? Algo mais impotente do que os pensamentos? Nada
acontece a partir deles. Nada surge deles. Os pensamentos são apenas
prolongamentos. São feitos do mesmo material dos sonhos — não têm nada de
realmente existencial. São apenas voragem no vazio do seu ser.
“De repente o fundo caiu.” — E Chiyono disse: “Não fui eu que provoquei. Eu
estava fazendo precisamente o contrário: mantendo o pote coeso de todos os
modos, esperando que o frágil bambu nunca se partisse. De repente, o fundo
caiu — não foi pelo que fiz.”
“De repente, o fundo caiu.”
Foi um acidente.
“Não havia mais água;
nem lua na água —
O vazio em minhas mãos.”
“A água desapareceu. O pote desapareceu. O vazio em minhas mãos.”
Buda é exatamente isto: “O vazio nas mãos.” Quando você tem o vazio nas
mãos, tem tudo. O vazio não é algo negativo. O vazio é o que há de mais positivo
porque tudo surge do nada. Tudo nasce do vazio. O vazio nas mãos significa a
fonte nas mãos:
Uma pequena semente dá origem a uma grande árvore. De onde vem a árvore?
Olhe a semente, quebre-a, tente encontrar a árvore. Se você quebrar, encontrará
apenas o vazio. Desse vazio é que surge a grande árvore. Do vazio surge todo
o universo. Do nada surge o ser.
O vazio em minhas mãos significa tudo em minhas mãos: a própria fonte de onde
tudo nasce e para onde tudo volta, retorna. O vazio em minhas mãos significa
tudo em minhas mãos.
“De repente, aconteceu. Não posso me congratular por isso. De repente,
aconteceu! Eu estava fazendo precisamente o contrário.”
É por isso que os santos, aqueles que crêem, aqueles que usam a terminologia
de Deus, dizem: “Aconteceu pela Sua Graça.” Chiyono e os budistas não
acreditam em nenhum Deus, eles não usam essa simbologia, Assim, Chiyono
não pode dizer: “Pela Sua Graça”. Eckhart diria: “Por Sua Graça — não pelo meu
merecimento, não pelo meu fazer.” Meera diria: “Pela Graça de Krishna”. Teresa
diria: “Por Jesus e Sua Graça”. Mas os budistas não acreditam em nenhum Deus
personalizado: estão além desses símbolos. Não são antropocêntricos. Por isso,
Chiyono não pôde dizer: “Graças”. Disse simplesmente: “De repente,
aconteceu”; mas o significado é o mesmo. “De repente, aconteceu. Eu estava
fazendo precisamente o contrário.”
“Tudo desapareceu: a água escorreu, a lua desapareceu — o vazio em minhas
mãos.”
Isto é Iluminação: o vazio em suas mãos: Acontece quando tudo está vazio,
quando ninguém existe, nem mesmo você — porque se você estiver, o pote, o
velho pote também estará. Se você não estiver, a casa estará vazia, seu ser não
terá nada, você tornar-se-á a fonte. Chegará na face original.
Este é o mais glorioso momento possível. Este momento eterniza-se, não tem
nenhum fim, torna-se eterno. Então, você não pode se modificar porque não
existe mais. Quem então ficará triste? Quem se lamentará? Quem se
decepcionará? Quem desejará e se sentirá frustrado? O vazio não pode estar
frustrado. O vazio não deseja. O vazio não espera nada. Permanece em sua
Glória Absoluta.
Se você é, está na miséria. Se você não é, nenhuma miséria existe. Assim, todo
o problema é: “Ser ou não ser?”
E Chiyono, de repente, descobriu que não era: “O vazio nas mãos.”
SEGUNDO DISCURSO
Debate Por Um Alojamento
Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge
errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo,
poderá pernoitar no templo. Caso contrário, terá de ir embora.
Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos.
O mais velho era muito culto
e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.
Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles.
O irmão mais velho estava muito cansado,
pois havia estudado por muitas horas;
assim, pediu ao mais novo que fosse debater:
“Solicite que o diálogo seja em silêncio”, disse o mais velho.
Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho:
“Que homem maravilhoso é seu irmão.
Venceu brilhantemente o debate.
Assim, devo ir-me embora. Boa noite.”
“Antes de partir”, disse o ancião,
“por favor, conte-me como foi o diálogo.”
“Bem”, disse o viajante,
“primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda.
Seu irmão levantou dois dedos
simbolizando Buda e seus ensinamentos.
Então, ergui três dedos
para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos.
Daí, seu inteligente irmão sacudiu o punho cerrado em minha frente,
indicando que todos os três vêm de uma única realização.”
Com isso, o viajante se foi.
Pouco depois, veio o irmão mais novo
parecendo muito aborrecido.
“Soube que você venceu o debate”, falou o mais velho.
“Que nada!”, disse o mais novo,
“esse viajante é um homem muito rude.”
“É?”, disse o mais velho,
“Conte-me qual foi o tema do debate.”
“Ora!”, exclamou o mais novo,
“no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-me,
indicando que tenho apenas um olho.
Mas por ser ele um estranho, achei que deveria ser polido.
Ergui dois dedos congratulando-o por ter dois olhos.
Nisto, o miserável mal-educado levantou três dedos
para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos.
Então, fiquei louco e ameacei lhe dar um soco no nariz — assim, ele se foi.”
O irmão mais velho riu.
Todos os debates são fúteis e estúpidos. O próprio debater é uma idiotice,
porque ninguém pode atingir a Verdade pela discussão e o debate. Você pode
conseguir, no máximo, abrigo por uma noite; mas isso é tudo. Vem daí a tradição.
A tradição é bela. Por muitos séculos, em qualquer mosteiro Zen do Japão, se
você pedisse abrigo, teria antes de debater. Se você vencesse o debate, poderia
permanecer por uma noite. Isto é muito simbólico: poderia ficar, mas apenas por
uma noite. Pela manhã, teria de ir embora. Isto indica que, pelo debate, pela
lógica, pelo raciocínio, você nunca consegue alcançar a meta; consegue, no
máximo, abrigo por uma noite. E não se iluda pensando que a noite de abrigo é
a meta. Pela manhã, será preciso caminhar outra vez.
Mas muitos têm-se iludido. Pensam que o que conseguiram pela lógica é o
objetivo. O abrigo noturno tornou-se a meta. Eles não estão caminhando e
muitas manhãs já se passaram. A lógica pode conduzi-lo para algo que está
próximo da verdade, mas nunca à verdade.
Lembre-se: o que está próximo da verdade também é mentira. O que isto
significa? Ou uma coisa é verdadeira ou não é; não existe meio termo. Ou algo
é verdadeiro ou não é. É impossível dizer que é meio verdadeiro. É como dizer
meio-círculo. O meio-círculo não existe porque a própria palavra “círculo”
significa completo. Se for “meio” não será um círculo.
Meias-verdades não existem. A verdade é total, você não pode obtê-la em
partes, fragmentada. Uma verdade aproximada é uma decepção, mas a lógica
só pode conduzi-lo a decepções. Com ela, e possível conseguir abrigo por uma
noite para descansar, relaxar, mas não faça dela seu lar. Pela manhã, você deve
caminhar novamente; a jornada não termina aí; ela recomeça todas as manhãs.
Relaxe na lógica, na razão, mas não se fixe, não fique estático. Lembre-se
sempre de que você tem de caminhar.
A tradição é bela. Mas é preciso que você entenda uma coisa a seu respeito e
sobre seu significado: ela é simbólica. Um segundo ponto a ser entendido: todas
as discussões são tolas porque provocam um clima no qual qualquer
entendimento entre duas pessoas se torna impossível; no qual qualquer coisa
dita é sempre mal-interpretada. Uma mente que está propensa a vencer, a
conquistar, não consegue compreender nada. Isto é impossível porque a
compreensão necessita de uma mente não-violenta. E quando você está lutando
pela vitória, você é violento.
Debater é um ato de violência. Através dele, você pode matar, mas não
ressuscitar. Através dele, a verdade pode ser assassinada, mas não
ressuscitada. O debate é sempre violento. Nele, sua própria atitude é violenta.
Na realidade, você não está em busca da verdade, está em busca da vitória.
Quando a vitória é a meta, a verdade é sacrificada. Quando a verdade é a meta,
você pode sacrificar a vitória.
Apenas a verdade pode ser a meta; a vitória não. Quando a vitória é a meta,
você se torna um político, não um homem religioso. Você fica agressivo, fica
tentando vencer o outro, fica tentando dominar e tiranizar de todos os modos
possíveis. A verdade não pode nunca se transformar em dominação, não pode
nunca destruir.
A verdade não pode ser uma vitória quando essa vitória significa derrotar
alguém. A verdade traz humildade, modéstia. Não é uma “viagem” de ego (ego-
trip) como o são todos os debates. O debate nunca conduz ao real; sempre
encaminha para o ilusório, para o não-verdadeiro porque a própria sensação de
vitória é tão estúpida! Verdade significa: nem “você”, nem “eu”. Na discussão, ou
você vence ou eu venço; a verdade nunca é a vencedora.
Aqueles que estão realmente na busca permitem que a verdade vença a ambos,
enquanto que os competidores pedem que a vitória pertença apenas a si
mesmos, não aos outros. Entretanto, na verdade, os outros não existem. Na
verdade, nós nos encontramos e nos tornamos um. Assim, quem pode ser o
vencedor? Quem pode ser o vencido? Na verdade, ninguém é vencido. Na
verdade, a VERDADE vence e nós somos vencidos. Na discussão, eu sou eu e
você é você. Não existe nenhuma ponte.
Como você pode entender o outro se está contra ele? O entendimento é
impossível. O entendimento necessita de simpatia, de participação. Entender
significa ouvir o outro totalmente: apenas desse modo acontece o florescimento.
Ao discutir, debater, argumentar, racionalizar, você não ouve o outro. Apenas
finge ouvir e, interiormente, fica se preparando. Por dentro, você está sempre se
preparando para a tacada seguinte, pronto para rebater quando o outro parar.
Você fica se preparando para refutar. Não ouve. Fica tramando como irá refutar
o outro.
Na discussão, no debate, a verdade não é significativa. Por isso, num debate, a
comunicação nunca acontece; é impossível atingir a comunhão. Você pode
argumentar e quanto mais argumentar mais se separará do outro. Quanto mais
argumentar, maior será a brecha — torna-se um abismo. Nenhum encontro
poderá acontecer. É por isso que os filósofos nunca se encontram. O mesmo
acontece com os eruditos. Eles são grandes polemistas — o abismo existe. Eles
não podem se encontrar. É impossível!
Apenas os amantes se encontram, mas amantes não debatem, comunicam-se.
É por isso que, no Oriente, existe tanta insistência sobre shraddha — verdade,
fé. Quando você argumenta com seu Mestre, a brecha se alarga. Neste caso, o
melhor é ir embora; o melhor é deixar que este Mestre seja apenas um abrigo
noturno e ir embora! Estar com ele não o levará a lugar algum, a brecha se
alongará. Se você estiver argumentando, não poderá haver uma ponte sobre o
abismo. Será impossível. Verdade significa simpatia; verdade significa não
argumentar. Você veio para ouvir, não para discutir. Você veio para entender,
não para debater. Você não veio para vencer; pelo contrário, está pronto para
perder.
Um discípulo verdadeiro está sempre em busca de ser derrotado pelo Mestre. O
maior momento na vida de um discípulo acontece quando ele é completamente
vencido, destruído. Não que o Mestre irá vencê-lo; ele é que se encaminhará
para a derrota; o discípulo é que se encaminha para a destruição. E quando o
discípulo não mais existe, quando está completamente derrotado, quando
desaparece, só então a ponte é atravessada. O abismo não mais existe e o
Mestre pode penetrá-lo.
Com Jesus aconteceu o seguinte: ele percorreu todo o seu país, mas todos os
discípulos que se reuniram a ele eram homens simples. Nem uma única pessoa
culta, nem um único erudito o seguiu. Não que lá não houvesse eruditos; havia
homens muito cultos nessa época. Os judeus estavam no pico de sua glória. Foi
por isso que puderam ter um filho como Jesus. Jesus foi o ápice, ele pôde
acontecer; isso mostra que os judeus realmente tocaram seu pico. Eles nunca
atingirão esse ponto outra vez. Havia grandes eruditos, grandes debates eram
marcados. A sinagoga judia era o centro da aprendizagem, uma verdadeira
universidade. De todas as partes do país vinham pessoas para debater,
argumentar, discutir, descobrir. Mas tudo isso não passava de um debate. Nem
um único letrado seguiu Jesus.
Na realidade, todos os letrados eram unânimes em dizer que esse homem devia
ser destruído. Todas as pessoas cultas, instruídas, estavam de acordo em matar
esse homem! Por quê? Porque esse homem era contra argumentos. Ele estava
solapando a própria base. Toda a estrutura poderia cair. Esse homem estava
falando contra a razão. Estava falando sobre fé, sobre amor; estava falando
sobre como criar uma ponte entre dois corações.
O debate ocorre entre duas mentes, duas cabeças. O amor, a comunicação a
confiança acontecem entre dois corações. Ele estava abrindo um novo caminho
— de amizade, de discipulado, de crescimento. Estava cogitando em termos de
uma dimensão totalmente diferente, de outra qualidade. Dizia: “Ponham suas
escrituras de lado! Suas Bíblias não são necessárias, são apenas palavras.” O
erudito, o culto, não poderia tolerar isso. Jesus foi crucificado.
Ele pôde encontrar apenas pessoas simples: pescadores, carpinteiros,
sapateiros — homens simples. Todos os seus discípulos, com exceção de
Judas, eram analfabetos. Apenas Judas era um homem realmente culto,
refinado, um “gentleman”. E vendeu Jesus por trinta peças de prata. Esse culto,
refinado Judas o traiu. E Jesus sabia disso. Sabia que se alguém poderia traí-lo,
esse alguém seria Judas. Por quê? Porque o coração só pode ser traído pela
cabeça. O amor só pode ser traído pela lógica. Nada mais pode traí-lo.
Este é o segundo ponto a ser lembrado antes de entrarmos na estória: pela
lógica, pela cabeça, pela argumentação, as pessoas tornam-se alheias umas às
outras, tornam-se estranhas; a ponte entre elas é perdida. Como você pode
achar a verdade se não consegue entender o outro, se não é capaz nem mesmo
de ouvi-lo, se a sua mente, por dentro, continua discutindo, brigando? Você é
violento, agressivo. Essa agressão não o ajudará. Todos os debates são fúteis,
nunca levam a nada. Mesmo que uma conclusão seja alcançada, essa conclusão
é forçada. Não vem através da discussão. Você pode silenciar o outro, mas a
convicção nunca chegará a partir disso, nunca! E eu digo isso categoricamente:
nunca! Se você tiver alguns truques lógicos, poderá silenciar o outro. Ele não
será capaz de lhe dar uma resposta. Você sentirá que sabe mais do que ele, que
conhece mais truques. Você poderá colocá-lo a nocaute pelas palavras e
racionalizações e ele será incapaz de responder. Mas, deste modo, você não
conseguirá convencê-lo. No íntimo, ele pensará: “Algum dia, encontrarei mais
truques e o colocarei em seu devido lugar. Por enquanto, não posso responder.
Está bem, eu aceito a derrota.” Assim ele é derrotado, mas não vencido.
E estas são duas situações diferentes. Quando você vence um coração, ele não
é derrotado — ele fica feliz. Ele se sente vitorioso com sua vitória, ele participa.
Esta não é uma vitória sua — a verdade venceu e ambos podem celebrar. Mas
quando você derrota uma pessoa, ela nunca é vencida. Permanece inimiga. No
íntimo, fica esperando pelo momento certo de reivindicar seus direitos.
Nenhum debate pode tornar-se uma convicção. E se a convicção não é
alcançada, o que dizer da conclusão? A conclusão é forçada, é prematura. É
justamente como um aborto, não é um nascimento natural. Você forçou — uma
criança morta ou uma criança aleijada, que permanecerá aleijada, fraca e morta
para sempre, nasceu.
Sócrates costumava dizer: “Eu sou uma parteira, auxilio o nascimento natural.”
Um Mestre é uma parteira. Ele não força, porque um nascimento forçado não
pode ser um verdadeiro nascimento. É mais como a morte do que como a vida.
Assim, um Mestre nunca é argumentativo. Se algumas vezes ele parece sê-lo, é
apenas para gracejar com você — ele graceja por uma certa razão. Não tornar-
se uma vítima. Ele o faz por uma determinada razão: ele argumenta apenas para
descobrir se a sua argumentatividade pode ser despertada ou não. Se ela for
despertada, você perderá. Se você puder ouvir suas argumentações, sem tornar-
se argumentativo, ele não voltará a gracejar com você. Ele o está olhando por
dentro. Você pode estar ouvindo conscientemente e argumentando
inconscientemente. Então ele precisa trazer seu inconsciente à tona para que
você possa se conscientizar dele.
Algumas vezes, o Mestre olha como se estivesse com raiva, como se tivesse
resolvido derrotá-lo. Mas ele nunca derrota ninguém; ele quer apenas a derrota
do seu ego, não a sua; quer apenas destruir seu ego, não você. E lembre-se de
que o ego é o veneno, ele o está destruindo. Quando o veneno for destruído,
você ficará livre e vivo pela primeira vez. Uma abundância de luz lhe acontecerá
pela primeira vez. O Mestre destrói a doença, não você.
Algumas vezes ele tem de ser argumentativo. Existiram mestres que foram muito
argumentativos. Era impossível derrotá-los, impossível fazer o jogo das palavras
com eles. Entretanto, eles faziam isso apenas para auxiliá-lo a trazer sua
inconsciência à tona; apenas para que você pudesse se conscientizar, saber se
a sua fé era verdadeira ou não.
Isto aconteceu: um sufi, Junnaid, estava vivendo com seu Mestre. O Mestre era
tão argumentativo que qualquer coisa que você dissesse, ele negava
imediatamente. Se você dissesse: “É dia”, ele dizia “Não, é noite”; sendo que, na
realidade, era dia.
Qualquer coisa que Junnaid dissesse, ele já sabia que o Mestre iria negar. Mas
ele simplesmente abaixava a cabeça e dizia: “Sim, Mestre, é noite.”
Um dia o Mestre lhe disse: “Junnaid, você venceu. Eu não pude criar
argumentações em você. E eu estava tão obviamente falso que qualquer um que
nunca discutiu teria dito: Que tolice! É dia. Não há necessidade de discutir, é tão
óbvio.” E ainda assim você dizia: “Sim, Mestre. É noite.” Sua verdade é profunda.
Agora, nunca mais discutirei com você. Agora, posso lhe dizer a verdade porque
você está pronto.
Quando o coração diz: “Sim!” totalmente, então você está pronto para ouvir. E
apenas então a verdade pode lhe ser revelada. Se um não permanecer em seu
interior, por mais insignificante que seja, você não poderá receber a verdade
porque esse não destruirá tudo. O não, por menor que seja, é poderoso, muito
poderoso, se ele existir, a verdade poderá ser contada, mas a revelação não
acontecera. O não a esconderá outra vez.
É por isso que eu digo que todos os debates são fúteis. E é por isso que eu
continuo repetindo outra e outra vez que todo o esforço da filosofia tem sido inútil.
Ela não chegou a nenhuma conclusão — ela não pode.
Agora, contarei uma estória; depois, entraremos na estorieta Zen.
Certa vez, o Primeiro-Ministro de um grande rei morreu. Esse Primeiro-ministro
era uma pessoa rara, muito inteligente, quase um sábio; era esperto, sagaz, um
grande diplomata. Seria muito difícil encontrar alguém que pudesse substituí-lo.
Então, todo o reinado foi pesquisado. Todos os ministros foram enviados para
procurar por três homens. Um desses três seria escolhido pelo rei para ser o
Primeiro-Ministro.
Por meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os
recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas.
Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver
qualquer problema de matemática, e Matemática é realmente a única ciência
positiva; todas as outras ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele
se achava na base.
O outro era um grande filósofo, um grande criador de sistemas. Do nada ele
podia criar tudo. A partir apenas de palavras, ele podia criar sistemas
maravilhosos — era um milagre. Apenas os filósofos podem fazer isso. Eles não
têm nada em suas mãos; são grandes mágicos. Criam Deus, criam a teoria da
criação, criam tudo; e sem nada em suas mãos. São brilhantes artesãos de
palavras, combinam as palavras de tal modo que lhe dão a sensação de
substância. E isso sem nada!
O terceiro era um homem religioso, um homem de fé, de prece, de devoção. As
pessoas que estavam procurando esses três homens devem ter sido muito
sábias, porque encontraram os três.
Esses três homens representam as três dimensões da consciência. Elas são as
únicas possibilidades: ciência, filosofia e religião — formam a base. O homem
de ciência interessa-se por experimentos: a menos que algo seja provado pelos
experimentos, não está provado. Ele é empírico, experimental; sua verdade é a
verdade do experimento.
O homem de filosofia é o homem da lógica, não dos experimentos; experimentar
não é a questão. Apenas pela lógica ele prova e refuta. Ele é um homem puro,
mais puro do que o cientista, porque o cientista tem de carregar seus
experimentos, seu laboratório. Um homem de filosofia trabalha sem laboratórios
— apenas com a mente, com a lógica, com as matemáticas mentais. Todo o seu
laboratório está em sua mente. Ele pode provar e refutar apenas pelos
argumentos lógicos. Ele pode resolver ou criar qualquer tipo de enigma.
O terceiro homem está na dimensão da religião. A vida não é problema para um
homem religioso. Ela não existe para ser solucionada; existe para ser vivida.
O homem religioso é o homem da experiência; o cientista é o homem dos
experimentos; e o filósofo é o homem dos pensamentos. O homem religioso é o
homem da experiência: ele olha a vida como algo a ser vivido. Se existe uma
solução, ela vira pela experiência, virá pela vida. Nada pode ser decidido de
antemão pela lógica porque a vida é maior do que a lógica. A lógica é apenas
uma bolha no vasto oceano da vida. Assim, ela não pode explicar tudo. Os
experimentos podem ser feitos apenas quando você não participa, podem ser
feitos apenas com objetos.
A vida não é um objeto; é o próprio cerne da subjetividade. Quando você faz
experiências, é diferente. Quando você vive, unifica-se. Assim, o homem
religioso diz: “A menos que você se unifique com a vida, nunca poderá conhecê-
la.” Como poderá você conhecê-la do lado de fora? Você pode andar e rodear
de um lado para outro, mas nunca acertará no alvo. Assim, o homem de fé não
se atém nem em experimentos nem em pensamentos, mas na experiência, na
simplicidade, na confiança.
Os ministros pesquisaram e encontraram esses três homens que foram, então,
chamados à capital para a decisão final. O rei disse: “Por três dias descansem e
preparem-se. Na manhã do quarto dia o exame final será realizado. Um de vocês
será escolhido e se tornará meu Primeiro-Ministro: aquele que provar ser o mais
sábio.”
Eles começaram a trabalhar cada um à sua própria maneira. Três dias não eram
suficientes! O cientista teve de pensar em muitos experimentos e trabalhar neles.
Quem sabe que tipo de exame seria? Assim, não pôde dormir por três dias, não
havia tempo; além disso, teria toda a vida para dormir depois que fosse
escolhido. Então, por que se preocuparia em dormir? Ele não dormiu nem comeu
nada — não havia tempo suficiente. Muitas coisas tinham de ser feitas antes do
exame.
O filósofo começou a pensar; muitos problemas tinham de ser resolvidos: “Quem
sabe que tipo de problema será questionado?” Apenas o homem religioso
continuou à vontade. Ele comeu e comeu bem. Apenas um homem religioso
pode comer bem porque a comida é uma oferenda, é algo sagrado. Ele dormiu
bem. Ele orava, sentava-se no jardim, passeava, olhava as árvores e era grato
a Deus; porque, para um homem religioso, não existe nenhum futuro, nenhum
exame final. Todo o momento e o exame final, então como preparar-se para ele?
Se algo está no futuro, você pode se preparar. Mas se algo está aqui, agora,
como pode você preparar-se para isto? Você tem de enfrentar a situação. E não
existe nenhum futuro.
Algumas vezes o cientista dizia: “O que você está fazendo? Perdendo tempo —
comendo, dormindo, rezando. Você pode fazer suas preces depois.” Mas o
homem religioso ria e não respondia nada, ele não era um homem de
argumentos.
O filósofo dizia: “Você fica dormindo, sentando lá fora no jardim, olhando para as
árvores. Isso não irá ajudá-lo. O exame não é uma infantil brincadeira. Você tem
de se preparar para ele.” Mas o religioso ria. Ele acreditava mais no riso do que
na lógica.
Na manhã do quarto dia, a caminho do palácio para o exame final, o cientista
não estava nem mesmo em condições de andar. Estava tão cansado por causa
de seus experimentos que era como se toda a sua vida estivesse se esvaindo.
Ele estava morto de cansaço, como se a qualquer momento pudesse cair e
dormir. Seus olhos estavam sonolentos e sua mente perturbada. Estava quase
louco!
E o filósofo? Não estava tão cansado, mas sentia-se mais incerto que nunca. Ele
havia pensado, pensado; discutido, discutido; e nenhum argumento chegava a
qualquer conclusão. Ele estava confuso, perturbado, num caos. No dia em que
chegara poderia ter respondido a muitas questões, mas agora não. Até mesmo
suas respostas certas tinham-se tornado incertas. Quanto mais você pensa,
mais a filosofia se torna inútil. Apenas os tolos podem acreditar em certezas.
Quanto mais você pensa, mais inteligente fica, melhor vê que todos os
pensamentos são apenas palavras, sem nenhuma substância. Muitas vezes ele
quis voltar atrás porque isso não seria de nenhuma serventia. Ele não se sentia
em boas condições. Mas o cientista lhe disse: “Venha! Vamos tentar! O que você
irá perder? Se nós vencermos, tudo bem. Se não vencermos, tudo bem. Vamos
tentar. Não seja tão desanimado!”
Apenas o homem religioso caminhava feliz, cantando. Podia ouvir os
passarinhos nas árvores, podia ver o sol surgindo, podia ver os raios do sol nas
gotas de orvalho. A vida toda era um milagre! Ele não estava preocupado porque
não haveria nenhum exame. Ele iria e encararia a situação. Iria simplesmente e
veria o que acontecesse. Ele não estava esperando por nada, não tinha
expectativas; estava saudável, jovem, vivo — e isso é tudo. Só deste modo é
que uma pessoa pode se aproximar de Deus; não com fórmulas prontas, não
com teorias prontas, não com montanhas de trabalhos de pesquisa
experimental, não com títulos e títulos de doutoramento. Não, isso não auxilia.
As pessoas devem ir para o templo assim — cantando e dançando.
Se você estiver alerta, poderá responder qualquer coisa que vier, porque a
resposta virá através da vida, virá através do coração e o coração está preparado
quando você está cantando, quando está dançando.
Eles chegaram. O Rei havia arquitetado algo muito especial. Eles foram levados
a uma sala onde havia sido montada uma fechadura, um enigma matemático.
Havia muitas figuras na fechadura, mas não havia nenhuma chave. Aquelas
figuras tinham de ser dispostas de um certo modo. O segredo estava nisso, mas
a pessoa teria de procurar e encontrá-lo. Se aquelas figuras fossem dispostas
de um determinado modo, a porta se abriria. O Rei colocou-os dentro da sala e
disse: “Este é um enigma matemático, um dos maiores já conhecidos. Agora
vocês terão de encontrar o segredo. Não existe nenhuma chave. Se vocês
puderem encontrar o segredo, a resposta para este quebra-cabeça matemático,
a fechadura abrirá. E o primeiro a sair desta sala será o escolhido. Agora, podem
começar.” Ele fechou a porta e foi-se embora.
Imediatamente o cientista começou a trabalhar sobre o papel: muitos
experimentos, muitos cálculos, muitos problemas. Ele olhou, observou as figuras
no cadeado. Não havia tempo a perder, era uma questão de vida ou morte. O
filósofo fechou seus olhos e começou a pensar em termos matemáticos sobre o
que fazer, como decifrar o enigma. O enigma era totalmente novo.
Esse é o problema: com a mente, se algo é velho, a resposta pode ser
encontrada; mas se algo é absolutamente novo, como resolvê-lo através da
mente? A mente é muito eficiente com o velho, com o conhecido, com o rotineiro,
mas é totalmente incapaz diante do desconhecido.
O homem religioso nem se aproximou da fechadura. Que poderia ele fazer? Ele
não sabia matemática, não conhecia nenhuma ciência experimental. O que
poderia fazer? Ele apenas se sentou em um canto. Cantou um pouco, orou a
Deus, fechou seus olhos. Os dois outros pensaram: “Ele não é um concorrente.
De certo modo, isto até é bom porque a escolha terá de ser decidida entre nós
dois.” Então, de repente, os dois perceberam que ele havia deixado a sala. Ele
não estava lá. A porta estava aberta!
O rei veio e disse: “O que vocês estão esperando? Acabou! O terceiro homem já
saiu!”
Mas eles perguntaram: “Como? Ele não fez nada!”
Então, quiseram saber do homem religioso: “Como?”
Ele disse: “Eu estava apenas sentado. Comecei a rezar e então uma voz interior
me disse: ‘Que tolo! Vá até lá e olhe. A porta não está fechada.’ Então, fui até a
porta. Ela não estava fechada. Não havia nenhum problema para ser resolvido
e eu saí.”
A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolvê-la não a
compreenderá. A porta está aberta, nunca esteve fechada. Se a porta estivesse
fechada, os cientistas encontrariam a solução. Se a porta estivesse fechada, os
filósofos encontrariam um sistema pelo qual ela pudesse ser aberta. Mas a porta
não estava fechada. Assim, só a fé pode abri-la — sem qualquer solução, sem
qualquer resposta pré-fabricada. Empurre a porta e saia.
A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido. É um
profundo mistério confiar e permitir a si mesmo a entrada. Nenhum debate pode
ser de qualquer ajuda: nem com os outros, nem consigo mesmo — nenhum
debate. Todos os debates são fúteis e estúpidos.
Agora, entremos nesta bela estória: “Em alguns templos Zen japoneses, existe
uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges
residentes num debate sobre Budismo, poderá pernoitar no templo. Caso
contrário, terá de ir embora.”
Os argumentos podem lhe dar isto — um abrigo noturno; apenas isto.
“Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos. O mais velho
era muito culto, e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.”
Dois tipos de pessoas são necessários para dirigir um templo: o culto e o muito
tolo. É assim que todos os templos são dirigidos — por dois tipos: o instruído que
se tornou sacerdote e os tolos que o seguem. Deste modo é que todos os
templos são dirigidos.
Assim, estas estórias Zen não são apenas estórias, são indicações de fato
específicos. Se as pessoas tolas desaparecerem da terra, não existirão mais
templos. Se as pessoas instruídas desaparecerem dos templos, não haverá mais
templos. Uma dualidade é necessária para que um templo exista. É por isso que
você não pode encontrar Deus em um templo. Você não pode encontrá-Lo na
dualidade.
Esses templos são invenções de pessoas sabidas para explorar os tolos. Todos
os templos são invenções de pessoas astutas que estão explorando — elas
tornaram-se sacerdotes. Os sacerdotes são as pessoas mais sagazes, os
maiores exploradores que existem e o exploram de tal modo que você não pode
nem mesmo se revoltar contra eles. Eles o exploram para o seu próprio bem. Os
sacerdotes são muito hábeis porque conseguem tecer teorias a partir do nada:
todas as teologias, tudo o que eles criaram — é incrível!
A habilidade é necessária para a criação de teorias religiosas. E eles vão
construindo edifícios tão grandes que é quase impossível para o homem comum
entrar neles. Eles usam tantos jargões, usam tantos termos técnicos que você
não pode entender o que estão dizendo. E quando você não consegue entender,
pensa que eles são muito profundos. Quando você não consegue entender algo,
pensa que é muito profundo — que está além de você! Lembre-se disto: Buda
fala numa linguagem muito simples que pode ser entendida por qualquer pessoa:
Não é a linguagem de um sacerdote. Jesus fala por pequenas parábolas;
qualquer analfabeto pode entendê-las. Ele nunca usa qualquer jargão religioso.
Mahavir fala, transmite seus ensinamentos, na linguagem das pessoas simples,
as mais comuns.
Mahavir e Buda nunca usaram o sânscrito, nunca! Porque o sânscrito é a
linguagem dos sacerdotes, dos brâmanes. O sânscrito é a língua mais difícil que
há. Os sacerdotes a planejaram assim; eles a poliram, poliram e poliram. A
própria palavra “sanskrit” significa polimento, refinamento. Eles a refinaram a tal
grau que apenas as pessoas muito, muito instruídas podem compreendê-la; as
que não o são não podem compreendê-la.
Buda usou a linguagem do povo: pali. Pali é a língua do povo, dos aldeões.
Mahavir usou prakrit. Prakrit é a forma não-refinada, a forma natural do sânscrito:
com um mínimo de gramática. O erudito ainda não a burilou, não a refinou de
modo que as palavras se tornassem além do povo. Mas os sacerdotes têm usado
o sânscrito eles ainda o usam. Ninguém compreende o sânscrito agora, mas eles
continuam usando porque toda a profissão deles depende da criação de uma
brecha, não de uma ponte — da criação de um abismo. Se as pessoas comuns
não podem entender, apenas então os sacerdotes sobrevivem. Se as pessoas
comuns entenderem, eles estarão perdidos porque não dizem nada.
Certa vez Mulla Nasrudin foi ao médico — os médicos aprenderam o mesmo
truque dos padres. Eles escrevem em latim, em grego ou então escrevem de tal
modo que mesmo eles, se tiverem de ler o que escreveram, acharão difícil.
Ninguém pode entender o que eles escrevem. Assim, Mulla Nasrudin foi ao
médico e disse: “Ouça, seja franco. Diga-me apenas os fatos. Não use latim ou
grego.”
O médico disse: “Se você insiste e se me permite ser franco, você não está
doente de jeito nenhum. Você está apenas com preguiça.”
Nasrudin disse: “Está bem, obrigado. Agora escreva isto em grego ou latim para
que eu possa mostrar para a minha família.”
As pessoas astutas sempre exploraram as pessoas comuns. É por isso que
Buda, Jesus e Mahavir nunca foram respeitados pelos brâmanes, pelos eruditos,
pelas pessoas astutas, porque são elementos destrutivos, destroem todo o
negócio deles. Se o povo entender, então não haverá nenhuma necessidade dos
sacerdotes. Por quê? Porque o sacerdote é o mediador. Ele entende a língua de
Deus e a sua também. Traduz a sua língua para a de Deus. É por isso que eles
dizem que o sânscrito é dev-bhasa (a língua de Deus). “Você não sabe
sânscrito? — Eu sei, então serei o intermediário, serei o intérprete. Você me diz
o que quer e eu direi isso em sânscrito a Deus, porque Ele só entende sânscrito.”
E, é claro, você tem de pagar por isso.
Estes são os dois tipos necessários para um templo.
“Havia um templo assim... dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto
e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.”
Qual é o simbolismo de um olho nesta estória? Uma pessoa tola está sempre
dirigida para um ponto; nunca hesita, está sempre certa. Uma pessoa instruída
é sempre dual; hesita, divide-se em duas continuamente. Seu interior está
sempre argumentando, em contínuo diálogo. Ela conhece os dois lados.
Uma pessoa instruída é uma dualidade — tem dois olhos. Um tolo tem apenas
um — está sempre certo, não tem nenhuma dúvida, não é dividido. É por isso
que se você olhar para uma pessoa tola, verá que ela se parece mais com um
santo do que com um homem instruído. Se você olhar para um santo, verá nele
algo de semelhante ao tolo, ao bobo. A qualidade difere. Mas existe um ponto
em comum. O bobo está no primeiro degrau e o santo está no último; entretanto,
ambos estão na extremidade da escada. O tolo não conhece; é por isso que é
simples, tem só um olho. O santo conhece; é por isso que é simples. Ele também
tem apenas um olho o qual chama de terceiro olho. Os dois olhos
desapareceram no terceiro. Ele também tem um olho — um! Ele é a unidade
assim como o tolo também o é. Mas qual a diferença?
A ignorância tem uma inocência exatamente igual à da sabedoria. O instruído
está no meio: é ignorante e pensa que é sábio. Esta é a divisão do homem culto:
é ignorante e pensa que é sábio. Não está nem neste nível nem naquele — está
pendurado no meio. É por isso que está sempre tenso. Um homem ignorante é
relaxado; um homem sábio também o é. O ignorante ainda não começou sua
jornada, está em casa. O sábio já alcançou a meta, também está em casa. O
culto está no meio: procurando abrigo em algum mosteiro. Mesmo que seja por
uma noite — ele é um andarilho.
Os budistas bhikkhus têm sido andarilhos. Buda disse: “A menos que você atinja
a meta, seja um andarilho. Seja um errante. Não apenas por dentro, mas por fora
também. Seja um andarilho, a menos que alcance a meta. Quando você alcançá-
la, quando tornar-se um siddha, um Buda, então — poderá sentar-se.
A ignorância e a sabedoria têm uma qualidade em comum, e esta qualidade é a
inocência; nenhuma das duas é astuta. Por isso, algumas vezes acontece ser
um homem de Deus conhecido como um homem tolo, bobo — um tolo de Deus.
São Francisco é conhecido como o tolo de Deus. E ele era! Mas ser um bobo de
Deus é a maior sabedoria possível, porque o ego não mais existe. Você não diz
que sabe; então é tolo porque não proclama seus conhecimentos. Se você não
proclamar, quem acreditará que você é conhecedor? Mesmo quando você
proclama, ninguém o aceita. Você tem de martelar na cabeça dos outros. Você
tem de fazê-los silenciar, tem de argumentar! Quando eles não podem dizer algo,
então com muita má vontade aceitam que talvez, talvez você seja. Mas sempre
dirão: “Talvez”. Eles esperarão pela oportunidade de algum dia poderem negar
isso. Se você não proclamar, quem o aceitará? E se você disser a si mesmo:
“Sou ignorante, não sei nada”, quem poderá pensar que você é um sábio? Se
você disser “eu não sei”, as pessoas aceitarão imediatamente.
Elas aceitarão imediatamente. Elas dirão: “Nós já sabíamos disso. Nós
acreditamos em você. Estamos totalmente de acordo: você não sabe nada
mesmo.”
Tolo de Deus! Se você ler Dostoievsky — um dos maiores novelistas, — sentirá
o que significa tolo de Deus. Em muitas de suas novelas, Dostoievsky coloca um
personagem que é o tolo de Deus. Nos “Irmãos Karamazov” ele está presente.
Ele é inocente, você pode explorá-lo. Mas, mesmo quando você o explora, ele
confia em você. Você pode destruí-lo mas não pode destruir sua confiança —
esta é a beleza.
O que aconteceu com você? Se um homem o engana, toda a humanidade torna-
se impostora. Se um homem o ilude, você perde a confiança na humanidade —
não neste homem, mas em toda a humanidade. Se duas ou três pessoas o
enganam, você julga que nenhum homem merece a sua confiança. Toda sua
crença se vai.
O que eu penso é que você, desde o princípio, nunca quis confiar e estas duas
ou três pessoas foram apenas a desculpa. Caso contrario, você diria: “Este
homem não merece confiança — mas e o resto da humanidade? Não sei. A
menos que o contrário seja provado, eu confiarei.”
E se você for um homem realmente confiante dirá: “Este homem não merece
nenhuma confiança neste momento, este homem também não a mereceu um
momento atrás; mas daqui a pouco — quem sabe? Porque os santos tornam-se
pecadores e os pecadores tornam-se santos.”
A vida é um contínuo movimento. Nada nela é estático. Naquele momento, o
homem foi fraco; mas no momento seguinte ele poderá ganhar controle e não
enganar novamente. Assim, se ele vier no dia seguinte, você acreditará nele
outra vez porque esse será um novo dia, ele será um homem diferente. O
Ganges tem desaguado tanto; ele não é o mesmo rio.
Certa vez, aconteceu o seguinte: Um homem veio a Mulla Nasrudin e pediu
algum dinheiro. Nasrudin conhecia esse homem, sabia bem que esse dinheiro
não seria devolvido; mas era uma quantidade tão pequena que ele pensou:
“Deixe que ele leve o dinheiro. Mesmo que ele não o devolva, nada estará
perdido. Por uma quantia tão pequena não vale a pena dizer não.” Assim, ele lhe
deu o dinheiro.
Após três dias o homem voltou. Nasrudin ficou surpreso. Que incrível! Era um
milagre que esse homem tivesse devolvido o dinheiro. Após dois ou três dias o
homem veio novamente e pediu uma grande quantia. Nasrudin disse: “Agora
não! Na vez passada você me enganou! Agora não permitirei que isso aconteça
outra vez.”
O homem disse: “O que você está dizendo? Na última vez eu voltei com o
dinheiro.”
Nasrudin disse: “Eu sei. Você o devolveu mas me enganou porque eu nunca
acreditei que você iria devolvê-lo. Mas desta vez, não! Agora basta! Eu não lhe
darei o dinheiro.”
É assim que uma mente esperta funciona.
Alguém no templo era ignorante — um homem simples com um olho só, um
homem seguro. O outro era culto e um homem culto está sempre cansado
porque trabalha tanto com nada. Tão ocupado sem ocupação, ele está sempre
cansado.
“Uma noite, um monge andarilho foi pedir alojamento. O irmão mais velho estava
cansado porque havia estudado por muitas horas...”
Você não pode encontrar um homem culto que não esteja cansado.
Vá e olhe! Vá aos sábios de Kashi e olhe! Sempre cansados, sempre cansados.
Trabalhando tanto — com palavras.
Observe: um lavrador não fica tão cansado porque está trabalhando com a vida.
Quando você está trabalhando com palavras, com palavras fúteis, apenas com
a cabeça, você fica cansado. A vida é revigorante! A vida rejuvenesce! Se você
vai trabalhar num jardim, você transpira mas ganha mais energia, você não a
perde. Você vai caminhar e ganha mais energia porque está vivendo um
momento. Se você se fecha em seus estudos com palavras, você começa a
pensar, pensar — este processo é mortal; você fica cansado. Um homem culto
está sempre cansado. Um tolo está sempre saudável, um santo também. Eles
têm muitas qualidades em comum.
“...então ele pediu ao irmão mais novo que fosse fazer o debate: ‘Solicite para
que o debate seja silencioso’, disse o irmão mais velho.” — Porque ele sabia que
seu irmão era tolo. Se você é tolo, o silêncio é precioso. Se você é um santo, o
silêncio também é precioso. Se você conhece algo, você permanece silencioso.
Se não sabe nada, o melhor é permanecer em silêncio.
Um homem sábio torna-se silencioso porque sabe. E tudo o que ele sabe não
pode ser dito. Um tolo tem de ser silencioso porque com qualquer coisa que ele
diga, será descoberto. Um tolo pode enganar se ficar silencioso, mas se falar
isso não será possível porque tudo o que vier dele mostrará sua tolice. Esse
irmão culto sabia muito bem que seu irmão mais novo não era um homem de
palavras. Ele era um homem simples, inocente, ignorante. Assim, disse a ele:
“Solicite para que o diálogo seja em silêncio.”
“Pouco depois, o viajante veio ao irmão mais velho e disse: ‘Que homem
maravilhoso é seu irmão!’”
Esse outro homem também devia ser muito culto. Se um tolo fica em silêncio,
pode derrotar um homem culto. Se falar, será vencido porque então entrará no
mundo do homem instruído. Com palavras, é impossível vencê-lo.
Esse outro homem também era um homem culto, um homem de palavras. Deve
ter sido muito difícil para ele permanecer em silêncio e debater. Como iria
discutir? Se não lhe é permitido falar, se você usa apenas gestos, tudo se torna
bobo e toda a sua esperteza é perdida porque falar é sua única competência.
Assim, se um homem instruído permanece silencioso pode ser derrotado por um
tolo, porque perde toda sua eficiência — ela pertencia às palavras.
Em silêncio, ele é um tolo! Este é o significado. É por isso que os eruditos nunca
ficam silenciosos, estão sempre tagarelando. Se estão a sós tagarelam consigo
mesmos, não param de matraquear. Eles vão falando, falando, falando, por
dentro e por fora, porque pelo seu falar sua eficiência cresce cada vez mais, eles
se tornam cada vez mais competentes. Mas, se eles encontram silêncio, de
repente, toda a sua arte se vai. Eles são mais estúpidos do que um homem tolo.
Mesmo um idiota pode derrotá-los. Eles estão fora de seu mundo profissional,
estão simplesmente desconectados. O andarilho deve ter ficado em grande
dificuldade.
Ele disse: “Que maravilhoso homem é seu irmão. Venceu o debate
brilhantemente. Assim, devo ir-me embora. Boa noite!”
Se você encontrar um homem culto, permaneça silencioso. Enfrente-o com
gestos. Você o derrotará porque ele não sabe nada sobre gestos, ele não sabe
nada sobre silêncio. Na realidade, é muito difícil para ele permanecer sem
palavras. Ele imediatamente pensará que foi derrotado — irá embora para
procurar outro mosteiro antes que seja muito tarde, para procurar um outro
monge com quem possa debater com palavras, intelectualmente.
Os gestos são vivos. Quando você movimenta sua mão, todo o seu ser se
movimenta. Quando você olha, todo o seu ser flui através dos seus olhos.
Quando você caminha, seu caminhar é inteiro. Suas pernas não podem
caminhar por si mesmas. Mas sua cabeça pode. Ela vai tecendo e tecendo por
si mesma. A cabeça pode tornar-se autônoma. Nenhuma outra parte do corpo
pode tornar-se autônoma. Assim, se você quiser estudar um homem, não ouça
o que ele diz. Ao invés disso, olhe como ele se comporta, como entra numa sala,
como se senta, como caminha, como olha. Observe seus gestos: eles revelarão
a verdade!
As palavras são enganadoras. Nós não falamos para revelar, mas sempre para
esconder. Assim, fique silencioso e olhe para uma pessoa: como ela se levanta,
como se senta, como olha, que gestos está fazendo. A linguagem do corpo é
mais verdadeira que a da cabeça. A linguagem do corpo é muito, muito natural;
ela vem da própria fonte. Assim, é muito difícil enganar através dela. Você pode
dizer uma coisa, mas sua face dirá outra. Você pode estar dizendo que está
certo, mas seus olhos, seu próprio jeito, seu modo de se levantar, dizem que
você sabe que está errado. Você pode afirmar-se com palavras que está
confiante, mas todo o seu corpo treme e mostra que você não está.
Quando um ladrão entra, entra de um modo próprio. Quando um mentiroso
aparece, aparece de um jeito próprio. Quando um homem de confiança caminha,
seu caminhar é diferente. Ele não tem nada a esconder, não tem nenhuma razão
para enganar. Ele é verdadeiro, seu caminhar é inocente. Faça uma coisa que
você precisa esconder, e observe a si mesmo — você verá como tudo é
diferente. Mesmo enquanto você estiver caminhando estará escondendo algo:
seu estômago estará tenso, você estará alerta, seus olhos correrão para todos
os lados, observando se alguém está vendo ou não, se você será apanhado ou
não. Seus olhos estarão furtivos, não serão poços de inocência — serão astutos.
Observe os movimentos do seu corpo, eles lhe darão um quadro verdadeiro de
si mesmo. Não ouça as palavras.
Eu tenho de fazer isto continuamente. As pessoas vêm a mim com todo o tipo
de decepções. Eu tenho de olhar para seus gestos, não para o que elas dizem.
Elas podem estar tocando meus pés, mas todos os seus gestos mostram o ego,
de modo que o tocar nos pés é inútil. Elas estão manipulando isso. Elas não
estão enganando apenas a mim. Estão enganando a si mesmas. Todos seus
gestos dizem “Ego!” e todas as suas palavras dizem humildade.
Você não pode enganar pelo corpo. Seu corpo é mais verdadeiro do que sua
mente. E todas as religiões inventadas por sacerdotes lhe dizem: “Seja contra o
corpo. Esteja a favor da mente!” Porque os sacerdotes vivem pela mente,
exploram pela mente. Com o corpo é impossível explorar. O corpo é autêntico,
mostra claramente quem você é.
“‘Ele venceu o debate brilhantemente; assim, devo ir-me embora. Boa noite.’
‘Antes de partir’, disse o irmão mais velho, ‘por favor, conte-me como foi o
diálogo’.”
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono
Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono

Huberto Rohden - Orientando
Huberto Rohden - OrientandoHuberto Rohden - Orientando
Huberto Rohden - Orientandouniversalismo-7
 
Osho - A Divina Melodia.pdf
Osho - A Divina Melodia.pdfOsho - A Divina Melodia.pdf
Osho - A Divina Melodia.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Desvendando Mistérios.pdf
Osho - Desvendando Mistérios.pdfOsho - Desvendando Mistérios.pdf
Osho - Desvendando Mistérios.pdfHubertoRohden2
 
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...9876vf
 
A arte da meditação krishnamurti
A arte da meditação   krishnamurtiA arte da meditação   krishnamurti
A arte da meditação krishnamurtiRafael Lemes
 
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdf
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdfOsho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdf
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdfHubertoRohden2
 
Annie Besant - O Poder do Pensamento
Annie Besant - O Poder do PensamentoAnnie Besant - O Poder do Pensamento
Annie Besant - O Poder do Pensamentouniversalismo-7
 
Annie besant-o-poder-do-pensamento
Annie besant-o-poder-do-pensamentoAnnie besant-o-poder-do-pensamento
Annie besant-o-poder-do-pensamentoVeraBoff
 
A Mensagem Eterna dos Mestres
A Mensagem Eterna dos MestresA Mensagem Eterna dos Mestres
A Mensagem Eterna dos Mestresceudeagartha1
 
Osho - A Nova Alquimia.pdf
Osho - A Nova Alquimia.pdfOsho - A Nova Alquimia.pdf
Osho - A Nova Alquimia.pdfHubertoRohden2
 

Semelhante a Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono (17)

Huberto rohden orientando
Huberto rohden   orientandoHuberto rohden   orientando
Huberto rohden orientando
 
Huberto Rohden - Orientando
Huberto Rohden - OrientandoHuberto Rohden - Orientando
Huberto Rohden - Orientando
 
Osho - A Divina Melodia.pdf
Osho - A Divina Melodia.pdfOsho - A Divina Melodia.pdf
Osho - A Divina Melodia.pdf
 
Osho - Desvendando Mistérios.pdf
Osho - Desvendando Mistérios.pdfOsho - Desvendando Mistérios.pdf
Osho - Desvendando Mistérios.pdf
 
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXOSANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
 
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
 
A arte d ameditacao krishnamurti
A arte d ameditacao krishnamurtiA arte d ameditacao krishnamurti
A arte d ameditacao krishnamurti
 
A arte da meditação krishnamurti
A arte da meditação   krishnamurtiA arte da meditação   krishnamurti
A arte da meditação krishnamurti
 
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdf
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdfOsho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdf
Osho - Meditação - A Arte do Êxtase.pdf
 
Annie Besant - O Poder do Pensamento
Annie Besant - O Poder do PensamentoAnnie Besant - O Poder do Pensamento
Annie Besant - O Poder do Pensamento
 
Annie besant-o-poder-do-pensamento
Annie besant-o-poder-do-pensamentoAnnie besant-o-poder-do-pensamento
Annie besant-o-poder-do-pensamento
 
Segunda parte do porque tantas igrejas
Segunda parte do porque tantas igrejasSegunda parte do porque tantas igrejas
Segunda parte do porque tantas igrejas
 
Tao
TaoTao
Tao
 
A Mensagem Eterna dos Mestres
A Mensagem Eterna dos MestresA Mensagem Eterna dos Mestres
A Mensagem Eterna dos Mestres
 
Osho - A Nova Alquimia.pdf
Osho - A Nova Alquimia.pdfOsho - A Nova Alquimia.pdf
Osho - A Nova Alquimia.pdf
 
A casa do amor
A casa do amorA casa do amor
A casa do amor
 
Como ouvir pessoas
Como ouvir pessoasComo ouvir pessoas
Como ouvir pessoas
 

Mais de HubertoRohden2

Osho - Guerra e Paz Interior.pdf
Osho - Guerra e Paz Interior.pdfOsho - Guerra e Paz Interior.pdf
Osho - Guerra e Paz Interior.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 3.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdfHubertoRohden2
 
Osho - O Cipreste no Jardim.pdf
Osho - O Cipreste no Jardim.pdfOsho - O Cipreste no Jardim.pdf
Osho - O Cipreste no Jardim.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdf
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdfOsho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdf
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Pepitas de Ouro.pdf
Osho - Pepitas de Ouro.pdfOsho - Pepitas de Ouro.pdf
Osho - Pepitas de Ouro.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Vá Com Calma.pdf
Osho - Vá Com Calma.pdfOsho - Vá Com Calma.pdf
Osho - Vá Com Calma.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdf
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdfOsho - Dimensões Além do Conhecido.pdf
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Antes Que Você Morra.pdf
Osho - Antes Que Você Morra.pdfOsho - Antes Que Você Morra.pdf
Osho - Antes Que Você Morra.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdf
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdfOsho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdf
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Psicologia do Esotérico.pdf
Osho - Psicologia do Esotérico.pdfOsho - Psicologia do Esotérico.pdf
Osho - Psicologia do Esotérico.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdf
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdfOsho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdf
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdf
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdfOsho - Morte a Maior das Ilusões.pdf
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdfHubertoRohden2
 
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdf
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdfOsho - Além das Fronteiras da Mente.pdf
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdfHubertoRohden2
 
Osho - A Semente de Mostarda.pdf
Osho - A Semente de Mostarda.pdfOsho - A Semente de Mostarda.pdf
Osho - A Semente de Mostarda.pdfHubertoRohden2
 
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdf
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdfKrishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdf
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdfHubertoRohden2
 
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdf
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdfJiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdf
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdfHubertoRohden2
 

Mais de HubertoRohden2 (20)

Osho - Guerra e Paz Interior.pdf
Osho - Guerra e Paz Interior.pdfOsho - Guerra e Paz Interior.pdf
Osho - Guerra e Paz Interior.pdf
 
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 3.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 3.pdf
 
Osho - O Cipreste no Jardim.pdf
Osho - O Cipreste no Jardim.pdfOsho - O Cipreste no Jardim.pdf
Osho - O Cipreste no Jardim.pdf
 
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
 
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdf
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdfOsho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdf
Osho - Religiosidade é Diferente de Religião.pdf
 
Osho - Pepitas de Ouro.pdf
Osho - Pepitas de Ouro.pdfOsho - Pepitas de Ouro.pdf
Osho - Pepitas de Ouro.pdf
 
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Zen Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
 
Osho - Vá Com Calma.pdf
Osho - Vá Com Calma.pdfOsho - Vá Com Calma.pdf
Osho - Vá Com Calma.pdf
 
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Tao - Sua História e Seus Ensinamentos.pdf
 
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdf
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdfOsho - Dimensões Além do Conhecido.pdf
Osho - Dimensões Além do Conhecido.pdf
 
Osho - Antes Que Você Morra.pdf
Osho - Antes Que Você Morra.pdfOsho - Antes Que Você Morra.pdf
Osho - Antes Que Você Morra.pdf
 
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdf
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdfOsho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdf
Osho - Isto Isto Mil Vezes Isto.pdf
 
Osho - Psicologia do Esotérico.pdf
Osho - Psicologia do Esotérico.pdfOsho - Psicologia do Esotérico.pdf
Osho - Psicologia do Esotérico.pdf
 
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdf
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdfOsho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdf
Osho - Êxtase a Linguagem Esquecida.pdf
 
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdf
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdfOsho - Morte a Maior das Ilusões.pdf
Osho - Morte a Maior das Ilusões.pdf
 
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdfOsho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdf
Osho - Buda - Sua Vida e Seus Ensinamentos.pdf
 
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdf
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdfOsho - Além das Fronteiras da Mente.pdf
Osho - Além das Fronteiras da Mente.pdf
 
Osho - A Semente de Mostarda.pdf
Osho - A Semente de Mostarda.pdfOsho - A Semente de Mostarda.pdf
Osho - A Semente de Mostarda.pdf
 
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdf
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdfKrishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdf
Krishnamurti - Palestras com Estudantes Americanos.docx.pdf
 
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdf
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdfJiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdf
Jiddu Krishnamurti - Ensinar e Aprender.pdf
 

Último

Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfAgnaldo Fernandes
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPIB Penha
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoRicardo Azevedo
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfmhribas
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...PIB Penha
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)natzarimdonorte
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresNilson Almeida
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxCelso Napoleon
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealizaçãocorpusclinic
 

Último (15)

VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdfTabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
Tabela bíblica Periódica - Livros da Bíblia.pdf
 
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmoAprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
 
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingoPaulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
Paulo é vítima de fake news e o primeiro culto num domingo
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
Centros de Força do Perispírito (plexos, chacras)
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudoSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 132 - Em tudo
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdfO Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
O Livro dos Mortos do Antigo Egito_240402_210013.pdf
 
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA  AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
 
As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)As violações das leis do Criador (material em pdf)
As violações das leis do Criador (material em pdf)
 
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos PobresOração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
Oração A Bem-Aventurada Irmã Dulce Dos Pobres
 
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptxLição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
Lição 5 - Os Inimigos do Cristão - EBD.pptx
 
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da AutorrealizaçãoDar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
Dar valor ao Nada! No Caminho da Autorrealização
 

Osho - Iluminação repentina da monja Chiyono

  • 1. OSHO Nem Água, Nem Lua Dez Discursos Sobre Histórias Zen UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Introdução Primeiro Discurso: Nem Água, Nem Lua Segundo Discurso: Debate Por Um Alojamento Terceiro Discurso: É Mesmo? Quarto Discurso: A Resposta do Homem Morto Quinto Discurso: O Dedo do Gutei Sexto Discurso: Por Que Você Não Se Retira? Sétimo Discurso: O Buda de Nariz Preto Oitavo Discurso: Quem Dá é Que Deve Ficar Grato Nono Discurso: Um Filósofo Interroga Buda Décimo Discurso: A Passagem de Ninakawa
  • 3. Introdução Osho nos diz — de maneira delicada, agradável até, mas absolutamente sem nenhum contra-senso — que balbúrdia nós somos! Com a sabedoria dos anos e com a arguta percepção de nosso estado atual, nos encaminha ao reconhecimento, à aceitação e à profunda conscientização dos fatos. Mediante a ajuda e orientação segura de Osho, tal processo nos leva à compreensão de que a resposta está em nosso interior. Não será através de lutas e esforços que nós progrediremos, mas sim pela aceitação, entrega e compreensão — e isso, tanto interna como externamente. A chave, o solvente universal, aquele que supera distinções, transcende julgamentos, divergências e dogmas — é o amor. E Osho é a personificação da verdade amorosa — às vezes áspero, às vezes impiedoso, mas nunca ofensivo. Sua guerra se dirige tão-só às nossas mentes, nossos egos, não à nossa verdadeira natureza. É com infinita paciência que Osho, mediante as palavras, se apossa de nossas mentes e as põe de lado, surgindo daí uma forma nova de comunicação — bem além das palavras, no âmago do ser, da energia, do amor. Quando a cabeça se esvai e o coração se abre, o interior sente fome, sente sede, e então comida e bebida são servidas através de seu olhar, de seus gestos e de seu fecundo silêncio. Nesta coleção de discursos, você pode sentir-lhe o sabor. São, esses discursos, baseados em histórias Zen, e a energia atômica neles contida é libertada por Osho, para com ela arrancar-nos de nossas mentes e entregar-nos aos nossos sentidos. Experimente ficar aberto às suas palavras: sinta-as, viva-as sem pensar nelas. Você verá que elas são a floração verbal de alguém que explodiu para uma outra dimensão do ser. MA YOGA ANURAG Poona
  • 4. PRIMEIRO DISCURSO Nem Água, Nem Lua Por anos e anos, a monja Chiyono estudou sem conseguir chegar à Iluminação. Um noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água. Enquanto caminhava, ia observando a lua cheia refletida na água do pote. De repente, as tiras de bambu que seguravam o pote inteiro partiram-se e o pote despedaçou-se. A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — E Chiyono Iluminou-se. Ela escreveu estes versos: De um modo ou de outro tentei segurar o pote inteiro, esperando que o frágil bambu nunca se partisse. De repente, o fundo caiu. Não havia mais água; Nem mais lua na água — O vazio em minhas mãos.
  • 5. A Iluminação é sempre repentina. Não existe nenhum processo gradual que possa alcançá-la, porque todas as graduações pertencem à mente, e a Iluminação não é mental. Todos os degraus pertencem à mente; e a Iluminação está além da mente. Assim é impossível crescer em direção à Iluminação; pode- se apenas saltar para dentro dela. É impossível mover-se passo a passo; não existe nenhum passo. A Iluminação é como um abismo: ou você salta ou não salta. É impossível iluminar-se aos poucos, parcialmente. A Iluminação é uma totalidade — ou você está ou não está. Não acontece em progressões graduais. Lembre-se disto como algo básico: acontece sem fragmentos, completa, total. E justamente por ser um todo é que a mente não pode nunca compreendê-la. A mente só entende o que pode ser dividido, o que pode ser alcançado por etapas porque é analítica, divisória, fragmentária. A mente pode entender as partes, mas o todo sempre a ilude. Por isso, se ouvir a mente, você nunca chegará à Iluminação. Foi o que aconteceu com a monja Chiyono: ela estudou por anos a fio e nada aconteceu. A mente pode estudar sobre Deus, sobre Iluminação, sobre o Supremo. Pode até fingir que compreende tudo. Mas Deus não é algo que possa ser compreendido. Mesmo que você saiba algo sobre Deus, isso não quer dizer que O conheça. O conhecimento não é “sobre”. Enquanto estiver dizendo “sobre” ainda estará do lado de fora, estará caminhando na periferia, não terá entrado no círculo. Quando alguém diz: “Eu conheço sobre Deus”, está dizendo que não conhece absolutamente nada, porque como alguém pode conhecer algo sobre Deus? Deus é o centro, não a periferia. Você pode conhecer sobre a matéria, mas não sobre a consciência porque a matéria não tem nenhum centro em si mesma, é apenas periferia. Não possui nenhum eu, nenhum ser em seu interior. A matéria é apenas o exterior. Você pode conhecê-la. Ciência é conhecimento. A própria palavra “ciência” significa conhecimento — conhecimento da periferia; conhecimento de algo que não contém o centro. Enquanto estiver procurando o centro através da periferia, você não o compreenderá. É preciso transformar-se nele; esta é a única maneira de conhecê-lo. Nada pode ser conhecido sobre Deus. É preciso ser. Apenas sendo é que o conhecimento existe. Com o Supremo, sobre e sobre significa perder e perder. É preciso entrar e unificar-se. É por isso que Jesus diz: “Deus é amor” e não amoroso; ele diz amor. Você não pode saber algo sobre o amor, ou pode? Você pode estudar e estudar, tornar-se um grande erudito, mas desse modo nunca conseguirá tocá-lo, penetrá-lo. O amor só pode ser conhecido quando você se torna um amante. Não apenas isso, quando se transforma no amor. Porque então, até o amante desaparece; ele também pertence ao exterior. No amor, duas pessoas tornam-se ausentes. Não
  • 6. existem. Apenas o amor, o ritmo do amor, os dois pólos do ritmo estão presentes. Algo do além entrou em seu interior e eles desapareceram. O amor acontece quando você está vazio. A erudição existe quando você está repleto. A erudição pertence ao ego e o ego não pode nunca penetrar no centro; é periférico. A periferia só pode conhecer a periferia. Ninguém pode conhecer o centro através do ego. O ego pode estudar, pode torná-lo um grande erudito, pode até transformá-lo num erudito religioso, numa grande autoridade sobre o assunto. Você pode saber tudo sobre os Vedas, os Upanishads, a Bíblia, o Alcorão e, mesmo assim, não conhecer nada — porque o centro não pode ser conhecido a partir do exterior. É algo que acontece quando você já entrou e tornou-se um. “Por anos e anos, a monja Chiyono estudou...” Ela deve ter estudado por vidas. Você tem estudado por muitas vidas. Tem estado caminhando em círculo. Mas quando alguém caminha em círculo, cria uma grande ilusão; sente que está progredindo. Você está sempre caminhando e, mesmo assim, não está indo a lugar algum porque seu movimento é circular. Você apenas se repete. É por isso que os hindus chamam este mundo de sangsar. Sangsar significa roda, círculo. Você anda, anda e nunca chega a lugar algum, embora sempre sinta que está chegando: “Eu já andei tanto que agora a meta deve estar mais perto!” Experimente andar em um círculo bem grande. Será difícil perceber que é um círculo porque você estará vendo apenas uma parte dele. Assim, parecerá sempre uma estrada, um caminho. Isto é o que tem lhe acontecido durante muitas vidas. “Chiyono estudou e estudou, sem conseguir chegar à Iluminação.” Não que a Iluminação seja difícil, mas porque, estudando, você perde a totalidade, a essência. Segue pela trilha errada. É como se alguém estivesse tentando entrar nesta sala pela parede. Não que entrar nesta sala seja difícil, mas é preciso entrar pela porta. Se você tentar entrar pela parede parecerá difícil, quase impossível. Mas não é. Você é que está usando o meio errado. Ao iniciar a jornada, muitas e muitas pessoas começam pelo estudo, pelo aprendizado, pela instrução, informação, filosofia, pelos sistemas teológicos. Começam pelo “sobre” e, então, estão batendo no muro. Jesus disse: “Bata na porta e ela será aberta.” Mas, por favor, veja se está batendo na porta ou não. Não continue batendo no muro; do contrário, nenhuma porta será aberta. Na verdade, quando você bate à porta, quando você realmente chega diante dela, descobre que ela sempre esteve aberta, que sempre esteve esperando por você. A porta é um servo, é alguém que acolhe com prazer, é uma recepcionista. A porta tem estado à sua espera, mas você continua batendo no muro. O que é o muro? Quando você começa pela erudição e não pelo ser, está batendo no muro.
  • 7. Converta-se, seja! Não acumule informações. Se quiser conhecer o amor, seja um amante. Se quiser conhecer Deus, seja meditação. Se quiser entrar no Infinito, seja prece. Seja! Não colete instruções sobre a prece. Não tente acumular o que os outros dizem a respeito. Aprender não ajuda. Pelo contrário, só o desaprender é que auxilia. Abandone tudo o que sabe; só assim poderá conhecer. Abandone todas as informações, todas as escrituras. Abandone todos os Alcorões, Bíblias e Gitas — eles são as barreiras, os muros. Se você continuar batendo no muro, as portas não se abrirão — porque não estão nele. As pessoas batem no Alcorão, nos Vedas, na Bíblia e nenhuma porta é aberta. Elas continuam estudando e malogrando como a monja Chiyono que “estudou por anos e anos, sem conseguir chegar à Iluminação”. O que é iluminar-se? É tornar-se consciente de si mesmo. Não é nada que diga respeito ao mundo exterior. Não é nada que se possa fazer com que os outros dizem. O que os outros dizem é irrelevante. Você está aqui! Para que ir consultar a Bíblia, o Alcorão, o Gita? Feche seus olhos — e eis você em sua infinita glória. Feche seus olhos e as portas se abrem. Você está aqui, não precisa ir perguntar a ninguém. Se perguntar, não compreenderá. O próprio perguntar demonstra que você pensa que está em algum outro lugar. O próprio perguntar demonstra que você está pedindo por um mapa. Para o mundo interior não existe nenhum mapa; não há necessidade, porque você não está caminhando para um destino desconhecido. Na realidade, você não está caminhando. Você está aqui. Você é a meta. Não é o caminhante, é o Iluminado. O que é estar Iluminado? Um estado: quando você procura no exterior, não está iluminado; quando procura no interior, está. A única diferença está no enfoque. Ao enfocar fora, não está iluminado; ao enfocar dentro, está. Assim, tudo depende de uma mudança de direção. A palavra cristã “conversão” é bela. Mas os cristãos a têm usado de um modo horrível. Conversão não significa fazer de um hindu um cristão ou tornar um cristão hindu. Conversão significa retorno. Conversão significa retornar à fonte, voltar para o interior. Só quando isto acontece, você está convertido. Sua consciência pode fluir em duas direções: para fora ou para dentro. Estes são os dois leitos pelos quais a torrente da sua consciência pode fluir. Para fora, pode fluir por muitas e muitas vidas, sem nunca encontrar a meta, pois a meta está na fonte. O objetivo não está na frente, está atrás. O objetivo não está em algum lugar ao qual você possa chegar. Está em algum ponto que você já deixou. A meta é a fonte. Isto tem de ser entendido profundamente. Se você puder retornar ao primeiro ponto do seu ser, terá encontrado o alvo. Iluminar-se significa retornar à fonte e a fonte está em seu interior: a vida está aí, fluindo, palpitando, continuamente batendo. Por que perguntar aos outros? Estudar significa perguntar aos outros. Perguntar sobre si mesmo aos outros?
  • 8. Isto é uma tolice por excelência. Isto é um absurdo total — perguntar sobre si mesmo aos outros. O significado do estudo é este: procurar pela resposta. Mas você é a resposta! “Chiyono estudou por anos e anos sem chegar à Iluminação.” É natural, é óbvio. Está certo. Ela estava olhando para fora, estudando. Outro ponto a ser lembrado: seu ser é vida e nenhuma escritura pode estar viva. As escrituras estão fadadas a morrer. As escrituras são cadáveres. E você pergunta à morte sobre a vida. Não é possível! Krishna não será de muita ajuda, nem Jesus — a menos que você se torne Krishna ou Jesus. A vida não pode ser respondida pela morte. E se você pensar que encontrará a resposta, ficará cada vez mais limitado pelas respostas, e a resposta permanecerá desconhecida. Isso é o que acontece a um homem que estuda, que pensa, que filosofa. Fica cada vez mais limitado pelos seus próprios esforços — palavras, palavras e palavras — e se perde. Mas a resposta sempre esteve nele. Apenas um retorno era necessário. Não, ninguém pode responder. Não vá a nenhuma pessoa, vá a si mesmo! Quando você encontra um Mestre, tudo o que ele pode fazer é auxiliá-lo a encontrar a si mesmo; só isso. Nenhum mestre pode lhe dar a resposta. Nenhum mestre pode lhe dar a chave. O mestre só pode auxiliá-lo a olhar para o seu interior. Apenas isto. A chave está aí, o tesouro está aí, tudo está aí. “Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água: Enquanto caminhava, ia observando a lua refletida na água do pote. De repente, as tiras de bambu, que mantinham o pote inteiro, partiram-se e o pote despedaçou-se. A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono Iluminou-se.” “Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água.” Você também está carregando um antigo, um muito, muito velho pote cheio de água. Ele é a sua mente repleta de pensamentos. É a coisa mais antiga que você carrega, e está quase morta. A mente é sempre velha. Nunca é nova. Não pode ser por sua própria natureza porque mente significa memória. Como pode a memória ser nova? Mente significa o conhecido. Como pode o conhecido ser novo? Mente significa passado. Como pode o passado ser novo? Olhe para a sua mente; tudo o que ela carrega é velho, morto. Quando você chega a conhecer um momento, ele já passou. Quando você reconhece que sabe algo, esse algo já se foi. Não está mais aqui e agora. Moveu-se para o mundo da morte. Portanto, a mente por sua própria natureza, tal como é, já é velha. É por isso que nunca cria algo original. A mente não consegue ser original, só consegue repetir.
  • 9. Ela pode repetir de mil maneiras, pode repetir cada vez com novas palavras, mas o ponto permanece o mesmo. A mente não tem capacidade para conhecer, para encontrar o frescor, a juventude, o novo. Para encontrar o novo, sua mente tem de ser colocada de lado, pois só assim seus olhos não estarão tapados pelo passado, pelas cinzas do passado; só assim seu espelho poderá refletir o que está aqui e agora. Tudo o que é novo nasce da consciência, não da mente. A consciência é a sua mais profunda fonte. A mente é a poeira acumulada em cada uma das suas jornadas. É como se você tivesse viajado muitas e muitas vezes, apanhando lama e acumulando pó, sem nunca tomar um banho. E isto é o que lhe tem acontecido. Sua mente nunca tomou um banho. Mas você se apega a ela, a toda essa sujeira. Todos os métodos de meditação nada mais fazem do que lavar a mente, dar um banho, um banho interior, para que a poeira escorra e a consciência que está oculta venha à tona e encontre a realidade. A realidade está aqui, você está aqui, mas o encontro não acontece porque a mente se interpõe entre você e a realidade. Tudo o que você vê, vê através da mente. Tudo o que você ouve, ouve através da mente. Por isso, está quase surdo, quase cego. Jesus dizia sempre a seus discípulos: “Quem tiver ouvidos, que ouça! Quem tiver olhos, que veja!” Todos eles tinham olhos como os seus. Todos eles tinham ouvidos como os seus. Mas Jesus sabe, como eu sei, o quanto você está surdo, o quanto está cego... Quando uma pessoa ouve pela mente, na verdade, não está ouvindo porque a mente interpreta, colore, muda, confunde a si mesma, e quando algo chega até você já está velho. A mente já fez o seu truque. A mente já deu seu próprio sentido, sua própria interpretação. A mente já fez a crítica. É por isso que, a menos que você se torne um verdadeiro ouvinte, não compreenderá. Ouvir corretamente significa ouvir sem a mente. Olhar verdadeiramente significa olhar sem a mente, sem interpretar, sem julgar, sem condenar, sem avaliar, sem dizer sim ou não. Quando eu converso com você, vejo sua mente balançando afirmativa ou negativamente. Mesmo que o balançar seja invisível, eu o vejo. Pode ser que você não esteja consciente disso, mas, algumas vezes, ao dizer “sim”, sua mente já interpretou; já avaliou. E você perdeu. Ouça simplesmente, sem julgar, e de repente, perceberá que a mente tem confundido tudo. Lembre-se disto: a mente é velha, não pode nunca ser nova. Portanto, não pense nunca que a sua mente é original. Nenhuma mente pode ser original. Todas as mentes são velhas, repetitivas. É por isso que ela gosta tanto das repetições e está sempre contra o novo. Por ter sido criada pela mente, a sociedade também está sempre contra o novo. Por terem sido criados pela mente, o estado, a
  • 10. civilização, a moral estão sempre contra o novo. Nada pode ser mais ortodoxo do que a mente. Com a mente, nenhuma revolução é possível. Se você é um revolucionário através da mente, pare de enganar a si mesmo. Um comunista não pode ser revolucionário porque nunca meditou. Seu comunismo é mental. Apenas trocou de Bíblia: não acredita mais em Jesus, acredita em Marx ou em Mao, a última edição de Marx. O comunista é tão ortodoxo quanto qualquer católico, hindu ou maometano. Seu ortodoxismo é o mesmo porque a ortodoxia não depende do que é acreditado. A ortodoxia depende de se acreditar através da mente. E a mente é o elemento mais ortodoxo, mais conformista do mundo. Qualquer coisa que a mente crie, nunca será nova, será sempre anti- revolucionária. É por isso que a única revolução possível no mundo é a religiosa, não pode haver outra. Apenas a religião pode ser revolucionária porque só ela chega à própria fonte. Só ela abandona a mente, o velho. Assim, de repente, tudo é novo, porque era a mente que estava tornando tudo velho através de suas interpretações. De repente, você volta a ser criança. Seus olhos são jovens, inocentes. Você olha sem informações, sem ensinamentos. De repente, as árvores têm um novo frescor, o verde mudou — já não é mais opaco; é vivo, brilhante. De repente, o canto dos pássaros é totalmente diferente. Isso é o que tem acontecido a muitas pessoas pelas drogas. Aldous Huxley ficou intensamente fascinado pelas drogas por causa disso. Em todo o mundo, a nova geração sente-se atraída pelas drogas. A razão disso é que a droga, por um momento, por algum tempo, coloca sua mente de lado quimicamente. Você olha para o mundo e, então, as cores ao seu redor são simplesmente miraculosas. Você nunca viu algo assim! Uma flor comum transforma-se em toda a existência, traz consigo toda a glória do Divino. Uma folha comum adquire tanta profundidade que é como se estivesse revelando toda a Verdade. Todas as coisas imediatamente mudam. A droga não pode mudar o mundo; o que ela faz é colocar sua mente de lado por um processo químico. Mas a pessoa pode tornar-se viciada; então, a mente terá absorvido a droga também. Apenas no começo, nas primeiras duas ou três vezes, é que a mente pode ser enganada quimicamente. Depois, pouco a pouco, a mente entra num acordo com a droga e novamente toma as rédeas. O choque original é perdido. Torna-se viciado pela droga. O comando volta a pertencer à mente. Pouco a pouco, mesmo quimicamente, torna-se impossível colocar a mente de lado. Ela continua presente. Então, você está viciado. As árvores voltam a ser velhas, as cores já não são tão radiantes, tudo está novamente opaco. A droga o matou, mas não a sua mente.
  • 11. A droga pode dar apenas um tratamento de choque. Ela é um choque químico para todo o corpo. Nesse choque, o velho ajustamento é quebrado. As brechas aparecem e, através delas, você pode olhar. Mas isso não pode se tornar um hábito. É impossível fazer da droga uma prática. Cedo ou tarde, ela fará parte da mente, a mente assumirá a direção. E tudo voltará a ser velho. Só a meditação pode matar a mente — nada mais. A meditação é o suicídio da mente, é a mente cometendo suicídio. Sem qualquer química, sem qualquer meio físico, você põe sua mente de lado. Torna-se o mestre. E quando você é o mestre, tudo é novo. Desde a própria origem até o derradeiro final, tudo é novo, jovem, inocente. A morte não existe, nunca ocorreu neste mundo. A vida é eterna. “Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água.” Você também está carregando um velho pote cheio de água. A mente é o velho pote e os pensamentos são a água. Você não pode jogar esse velho cesto fora porque, então, o que acontecerá aos seus pensamentos? Você dá muito valor a eles, apega-se a eles como se fossem a própria fonte da felicidade, a íntima fonte do silêncio; como se através deles fosse possível encontrar a vida e seus tesouros ocultos. Mas nunca nada assim foi encontrado pelos pensamentos. Essa é uma esperança simplesmente inútil. O que você tem alcançado pelos pensamentos? Nada mais que ansiedade, tensão. Entretanto, continua apegado na esperança de que, um dia ou outro, em algum lugar do futuro, a verdade seja alcançada através deles. Até agora, nada assim aconteceu e nunca acontecerá. A verdade não tem nada a ver com os pensamentos. Ela está aqui! Basta olhá-la. Não há necessidade de se pensar a respeito. Pensar seria necessário se ela não estivesse aqui, se você estivesse tateando no escuro. Mas, na existência, não existe nenhuma escuridão. A existência é a luz absoluta. Não é preciso tatear. Você está com os olhos fechados, por isso tateia desnecessariamente e pensa: “Se eu parar de tatear, estarei perdido.” Pensar é tatear. Meditar é abrir os olhos. Meditar é olhar. Os hindus chamam a meditação de darshan, porque darshan significa olhar — olhar diretamente, sem pensar a respeito. O próprio olhar transforma. Mas você carrega os pensamentos nesse velho pote e vai remendando-o, tomando conta dele: se ele quebrar, o que acontecerá a seus valiosos pensamentos? E, no entanto, eles não são absolutamente valiosos. Algum dia, faça esta pequena experiência: feche a porta de seu quarto, sente- se e comece a escrever seus próprios pensamentos — tudo o que vier à sua mente. Não os modifique porque você não precisará mostrar esse pedaço de papel a ninguém. Por dez minutos, simplesmente escreva. Depois, olhe. Olhe o que seus pensamentos são. Se você os olhar, pensará que algum maluco os escreveu. Se mostrar esse papel ao seu amigo mais íntimo, ele olhará para você
  • 12. e pensará: “Você ficou louco?” E a situação dele é idêntica à sua. Mas nós continuamos escondendo a loucura. Temos máscaras atrás das quais escondemos a nossa loucura. Por que você valoriza tanto esses pensamentos? Eles são drogas, são química. Observe bem: pensar é algo químico, é uma droga. Quando você começa a pensar, entra num tipo de sono hipnótico. É por isso que se torna viciado — é exatamente como o ópio. Com o pensar, você pode esquecer o mundo, os problemas, as responsabilidades. Sonhando, pensando, pode criar um mundo totalmente diferente dentro de si. Aqueles que têm trabalhado por muito tempo com a ciência do sono dizem que o sono é necessário para que a pessoa possa sonhar. E se você perguntar a eles por que sonhar é necessário, eles lhe dirão que é para que você permaneça são; porque nos sonhos você pode jogar toda a sua insanidade fora. A noite toda é uma catarse. E, nos sonhos, a loucura é jogada fora. Assim, pela manhã, seu comportamento pode ser saudável. Durante o dia todo, você pode agir de um modo são porque teve a noite toda para portar-se como um louco. Os cientistas dizem que se você for privado de sonhar e de dormir por alguns dias ficará louco, porque a catarse não acontecerá e a loucura começará a entrar em erupção. Explodirá. Durante a noite, você sonha — isso é uma catarse. Durante o dia, você pensa — isso também é uma catarse que contribui para a sua sonolência. É uma droga. Com os pensamentos, não é preciso preocupar- se com o que está acontecendo. Basta fechar-se dentro deles. Os pensamentos são sempre bem-vindos; com eles você se sente confortável: eles são seu próprio lar, mesmo que estejam sujos e velhos. Depois de viver tanto tempo com eles, você já se acostumou. Já se acostumou com sua prisão. Isso acontece com os prisioneiros que ficam muito tempo encarcerados: ao sair, sentem medo, sentem medo da liberdade: Sentem medo porque sabem que ela lhes trará novas responsabilidades. E não existe nada como sair da mente — é a liberdade total. Os hindus dão a esse estado o nome de moksha — liberdade total. Não existe nada que se possa comparar a ele: é o estilhaçamento de todas as prisões. Depois, simplesmente você, sob o céu infinito. O medo o agarra: você quer voltar atrás, para sua casa, para o seu canto aconchegante, murado, protegido. No seu canto, você não tem medo. Nele, o infinito não está presente. O infinito assemelha-se sempre à morte. Você acostumou-se com o finito, com os limites precisos, com as distinções bem delineadas. É por isso que não pode jogar fora os pensamentos, não pode jogar fora o velho pote. Ao invés disso, continua aumentando-o cada vez mais. E ele é exatamente como a sua barriga: quanto mais pensamentos você coloca, mais ele se expande. A única diferença é que a barriga pode arrebentar se você comer demais, mas a mente não.
  • 13. Uma mente comum pode conter todas as livrarias do mundo. Em sua pequena cabeça, existem setenta milhões de células e cada uma pode conter, pelo menos, um milhão de informações. Nenhum computador foi desenvolvido ainda que possa ser comparado com a sua mente. Em sua pequena cabeça, você carrega o mundo inteiro. E ela continua se expandindo. Chiyono estudou e estudou. Encheu o velho pote com mais e mais água. Ela não conseguiu chegar à Iluminação. E “Uma noite, estava ela a carregar um velho pote cheio de água. Enquanto caminhava, ia observando a lua cheia refletindo na água do pote.” A lua cheia estava alta no céu e o seu reflexo aparecia na água do pote Chiyono estava olhando para o reflexo. Isso é o que está acontecendo com todos e com cada um. Isso não é uma estória, não é um caso. É um fato — está lhe acontecendo. Você nunca olhou para lua cheia. Você não pode. Está sempre olhando para a lua refletida em sua água, em seus pensamentos. É por isso que os hindus — principalmente Shankara — dizem: tudo o que você sabe é maya, ilusão. Você está olhando para a lua refletida na água, para o reflexo, não para a verdadeira lua. E pensa que o reflexo é a lua. Tudo o que você vê, vê através dos reflexos. Seus olhos refletem; seus olhos são exatamente como espelhos. Seus ouvidos refletem — todos os seus sentidos são espelhos: refletem. E existe um que é o maior de todos os espelhos: sua mente — ela reflete. Não apenas reflete, mas critica, interpreta. Lado a lado com o reflexo vai fazendo a crítica, destorcendo. Você já se olhou num desses espelhos que destorcem? Se não olhou, não vá a lugar algum, você não precisa; ele já está dentro de você, é a sua mente destorcendo tudo. Tudo o que você tem conhecido até agora não tem nada a ver com a lua real no céu porque, com o velho pote cheio de água, como você pode olhar para a lua real? Você continua olhando para o reflexo e o reflexo é ilusório. Este é o significado de maya, ilusão. Tudo o que você conhece é maya, é apenas aparência, não o real. O real só vem quando o pote se quebra — a água escorre, o reflexo desaparece. “De repente, as tiras de bambu que mantinham o pote coeso partiram-se e o pote despedaçou-se.” Aconteceu de repente, como um acidente. Tente entender esse fenômeno: a Iluminação é sempre como um acidente porque é imprevisível, porque não é possível planejá-la, não é possível providenciar para que aconteça, não é possível provocá-la. Se fosse, não poderia estar além da mente. Se fosse, seria apenas um truque da mente. Muitas pessoas tentam planejá-la. Fazem isso e aquilo, apenas para criar uma causa; mas a Iluminação não é causal. Se você pudesse induzi-la, ela não seria maior que você. Se você pudesse provocá-la, ela seria absolutamente inútil. Ela acontece, mas não pode ser induzida. Não é
  • 14. uma consequência da sua mente, e um descontínuo abismo. De repente, você desaparece e ela surge. Como você pode preparar isso? Se preparar, você não desaparecerá. Quando Gautama Sidarta iluminou-se, tornou-se Buda; ainda era o mesmo homem? Não! Iluminar-se e continuar sendo o mesmo homem... isso é impossível. A continuidade é quebrada; o velho homem simplesmente desaparece. Um homem totalmente novo surge. Sidarta Gautama, o príncipe, o homem que deixou seu palácio, sua esposa, seu filho, não existe mais. O ego, a mente, não existem mais. Aquele velho homem morreu — o velho pote partiu- se. O que surgiu é um homem absolutamente novo, que nunca existiu! E por isso lhe damos um novo nome; nós o chamamos de Buda. Abandonamos o velho nome porque pertence a uma outra identidade, a uma outra personalidade. O velho nome nunca pertenceu a este novo homem. A Iluminação é um fenômeno descontínuo. Não pode ser contínuo. Se fosse, seria apenas uma modificação do passado. Não seria novo, de modo algum, porque o passado ainda estaria presente — modificado, um pouco diferente aqui e ali, pintado, polido, mas presente. Seria uma melhora, mas ainda permaneceria velho. A Iluminação é como um acidente. Mas não me interprete mal! Quando eu digo que a Iluminação é como um acidente não estou dizendo que não faça nada para que aconteça! Não é esse o sentido. Se você não fizer nada, o acidente não acontecerá. O acidente só ocorre para aqueles que têm feito muito para consegui-lo. Entretanto, ele nunca acontece por causa do seu fazer. Este é o problema: não acontece pelo seu fazer, mas nunca acontece sem o seu fazer. O fazer nunca é a causa. Ele apenas cria condições propícias ao acidente. Apenas isto! Todas as suas meditações apenas criam as condições propícias ao acidente — apenas isto. E é por isto que nem mesmo Buda é capaz de prever quando sua Iluminação acontecerá. As pessoas vêm a mim e perguntam: “Quando?” Eu respondo: “logo”. Isso não significa nada. “Logo” pode ser o momento seguinte; “logo” pode demorar muitas vidas. Um acidente nunca pode ser previsto. Se pudesse, não seria absolutamente um acidente, seria uma consequência. Mas não pare de agir! Não pense que se tiver de acontecer, acontecerá. Senão, nunca virá. Você tem de estar pronto para quando o desconhecido chegar — pronto, à espera, receptivo. Caso contrário, ele poderá vir, passar e você nem perceber. Poderá bater à sua porta e você nem ouvir. Poderá encontrá-lo profundamente adormecido ou conversando com alguém e você pensará que é apenas o vento que está batendo à sua porta. Poderá pensar tantas coisas — todo mundo é um grande pensador.
  • 15. Esteja pronto para o acidente! E não se esqueça: todo o seu fazer não será a causa, simplesmente criará condições propícias para que aconteça, será apenas um convite. Existe nisto uma grande diferença. Se você pensar que o seu fazer é a causa, começará a exigir. Começará a pensar: “Por que não está acontecendo? Por que não aconteceu até agora?” Isto criará uma tensão interna que impedirá o acidente. Você tem de ser pego de surpresa. É preciso que esteja esperando, mas sem ansiedade — relaxado. Você deve convidá-lo, mas não esteja certo de que o convidado virá. Afinal, isso depende do convidado, não de você. Sem o convite, a visita nunca acontecerá, isto é certo. Com seu convite, ele poderá não vir; mas sem o seu convite, é certo que não virá. Assim, espere na porta, mas não fique ansioso, nem esteja certo. A certeza é da mente: o esperar é da consciência. A mente é superficial; assim, todas as certezas também o são. O acidente pode acontecer a qualquer momento. Quando você estiver pronto para ver, para olhar, perceberá que ele sempre esteve acontecendo justamente ao seu lado. Mas você não estava olhando para ele, não estava olhando para o seu lado. Ouvi contar que certa vez Mulla Nasrudin estava descansando em sua poltrona. Sua mulher estava olhando para a rua e ele para a parede. Estavam sentados um de costas para o outro como os maridos e esposas costumam sentar-se. De repente, sua mulher lhe disse: “Nasrudin, olhe! O homem mais rico da cidade morreu e milhares de pessoas estão indo lhe dar o último adeus.” Nasrudin disse: “Que pena! Não estou olhando para esse lado.” Ele não olhou. Apenas um virar de cabeça era necessário... Mas isso é o que está lhe acontecendo. Que pena! Você não está olhando para este lado onde o acidente está passando, onde o desconhecido está passando. Todas as meditações existem apenas para auxiliá-lo a olhar na direção do desconhecido, a olhar na direção do incomum, a olhar para o estranho. Elas o tornam mais aberto. Mas você não pode obrigar o convidado a vir. Mesmo que esteja pronto, é preciso esperar. Você não pode forçá-lo. Não pode trazê-lo para si mesmo. Se fosse possível forçá-lo, a religião seria como a ciência. Esta é a diferença básica entre ciência e religião: a ciência pode forçar as transformações porque depende das causas, não dos convites. Quando a ciência descobre uma causa, pode induzir a transformação. Uma vez que a causa é descoberta, algo pode ser feito. A ciência sabe que se você esquentar a água a 100°C ela evaporará. Esquentar a água a 100°C é uma causa. Você pode ter certeza de que quando a temperatura chegar a 100°C a água começará a evaporar. Você pode forçar a água a evaporar pelo aquecimento. Você pode
  • 16. misturar oxigênio com hidrogênio e forçá-los a transformarem-se em água. Você pode provocar isto. A ciência procura sempre pelas causas. A religião é diferente, basicamente diferente. Nesse sentido, a religião nunca poderá tornar-se ciência porque está à procura do não-causal. Está procurando pelo descontínuo; está em busca da conversão absoluta. Uma conversão relativa pode ser provocada, uma transformação parcial pode ser induzida. Mas, uma absoluta? Sem nada do velho, com tudo completamente novo? Para isto, é necessária uma brecha, um intervalo. O elo não pode existir. É preciso dar um salto! Então, de repente, o velho desaparece e o novo entra na existência; eles não se reúnem, existe um intervalo. Sidarta Gautama simplesmente desaparece... e surge Gautama Buda — há um intervalo. Esse intervalo tem de estar presente. É por isso que eu digo que a Iluminação é como um acidente. Mas é preciso estar trabalhando continuadamente para que aconteça. Este é o paradoxo. Ouça-me, não vá dormir. Ouça-me, não comece a pensar e raciocinar assim: “Se é um acidente e eu não posso provocá-lo, então para que meditar? Por que fazer isto ou aquilo? Agora, simplesmente esperarei!” Não! Seu esperar não pode ser preguiçoso. Seu esperar deve ser vivo! Seu esperar deve ter toda a energia à sua disposição; não pode ser como o de um homem morto. Seu esperar deve ser jovem, novo, vivo, vibrante! Só assim o desconhecido poderá acontecer. Só quando você estiver no melhor da sua vida, no ponto máximo da sua capacidade, no auge da vivacidade, quando você estiver no ápice — o acidente acontecerá. Só um pico pode encontrar esse grande pico; só os picos, só os semelhantes podem se encontrar. Vá trabalhando o máximo que puder, mas não crie qualquer exigência. Não diga: “Tenho feito tanto que agora deve acontecer.” Não existe nenhum dever a esse respeito. Ele é um estranho. Vá escrevendo os convites, mas como Ele não tem endereço você não pode colocá-lo no correio. Assim, vá jogando seus convites ao vento, talvez eles cheguem, talvez não cheguem. Deus é sempre um “talvez”; mas é bonito quando tudo é talvez. Quando as coisas são certas, a beleza se perde. Você já observou que na vida a única certeza é a morte? Que tudo o mais é incerto? Tudo é incerto! Se o amor acontecerá ou não, ninguém o sabe. Se você será capaz de cantar uma bela canção ou não, ninguém o sabe. Apenas uma coisa é certa: a morte. A certeza sempre pertence à morte, nunca à vida. E se você está em busca da Vida Eterna, viva no talvez. Viva aberto, esperando. Mas lembre-se de que não pode provocar o acidente. Quando acontecer, você desaparecerá. Este é o significado deste belo acontecimento: “De repente, as tiras de bambu que seguravam o pote inteiro partiram-se...” De repente, aconteceu. Mas ela
  • 17. estava trabalhando, estudando, meditando. Ela era uma grande monja. Viveu pelo menos trinta ou quarenta anos com o Mestre e trabalhou incrivelmente. Preciso lhe contar algo sobre Chiyono. Ela era uma mulher muito bonita — de uma beleza rara, única. Quando jovem, até o Imperador e o Príncipe a quiseram. Mas ela recusou porque queria ser amante apenas do Divino; ninguém estava à altura das suas expectativas, nenhum mortal era capaz de satisfazê-la. Chiyono andou de um mosteiro a outro para receber sannyas, para tornar-se uma monja. Mas até os grandes mestres a recusaram porque era tão bela que poderia criar problemas. Havia tantos monges — e os monges, é claro, são pessoas muito reprimidas. Ela era tão bela que eles poderiam esquecer-se de Deus e tudo o mais. Chiyono era realmente bela; assim, em todos os lugares as portas eram fechadas. Um mestre lhe disse: “Sua busca está certa, mas tenho de olhar pelos meus seguidores também. Quinhentos sannyasins estão aqui. Eles ficarão loucos. Esquecerão suas meditações, suas escrituras, tudo! Você tornar-se-á Deus. Assim, Chiyono, não perturbe essa pobre gente. Vá embora!” Então, o que fez Chiyono? Não encontrando nenhum outro meio, queimou sua face, fez cicatrizes em toda sua face. Depois, foi a um mestre; este não pôde nem reconhecer se ela era mulher ou homem. Assim, ela foi aceita como monja. Ela estava pronta. Sua busca era autêntica: Ela era digna do acidente; realmente o merecia. Mas estudou, meditou por mais trinta, quarenta anos continuamente. Então, de repente, numa noite, o estranho veio à sua porta. “De repente, as tiras de bambu que seguravam o pote inteiro partiram-se. O pote despedaçou-se. A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono Iluminou-se.” Chiyono estava olhando para a lua — estava linda. Mesmo os reflexos são belos — porque refletem a Beleza Absoluta. O mundo é tão belo porque é um reflexo de Deus. Assim, como é possível dizer que o mundo é feio? Como pode um reflexo ser feio quando está refletindo o Divino? Aqueles que dizem que o mundo é feio e renunciam a ele, estão absolutamente errados porque, se você renuncia a este mundo, no fundo, está renunciando ao Criador. Não renuncie! O rosto de uma mulher é belo porque reflete. O rosto de um homem é belo, seu corpo é belo porque reflete. As árvores, os pássaros são belos porque refletem. Se o reflexo é tão belo, o que dizer do original? Assim, um verdadeiro seguidor não é contra o mundo. Um real seguidor ama tanto o mundo, ama tanto o reflexo que quer ver o original. Ama tanto o reflexo que surge em seu interior a vontade de ver o original, de ver a lua cheia no céu. Deixa este reflexo, mas não porque seja contra ele; abandona este reflexo justamente para encontrar Aquele que está refletido. Não é contra o amor. Ele tem conhecido tanta beleza que agora quer entrar mais a fundo “no amor”. Tem
  • 18. conhecido tanto com o reflexo, tanta formosura, tanta fragrância, tanta musicalidade, que agora um desejo de conhecer a fonte surgiu. Se o reflexo é tão musical, que harmonia deve ser a fonte original! O real seguidor nunca está contra nada. É sempre a favor, jamais contra. É a favor de Deus, mas nunca contra o mundo porque, afinal, o mundo pertence a Deus. Se vejo sua face no espelho, sua beleza, como posso estar contra o espelho? Na realidade, fico agradecido porque ele reflete. Mas não me fixo no espelho. Vou em busca de você que está refletido no espelho. Deixo o espelho, mas não por estar contra ele. Viro meu rosto, deixo de olhar para o espelho. Mas continuo agradecido porque ele refletiu algo tão belo que senti necessidade de encontrar a fonte original! “A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu — e Chiyono Iluminou-se.” Ela estava olhando para a lua refletida no pote. De repente, o pote caiu, a água escorreu, a lua desapareceu — aconteceu o estalo. Há sempre um estalo no ponto onde o velho desaparece, o novo surge e você renasce. De repente, a água escorreu e não havia mais lua. Assim, ela deve ter olhado para cima — lá estava a lua real! Neste momento, aconteceu um paralelo entre o mundo externo e o interno. O mesmo fenômeno aconteceu dentro: tudo havia sido visto através da mente, do espelho. De repente, Chiyono tornou-se consciente de que tudo havia sido reflexo, ilusão porque tinha sido visto pela mente. De repente, a mente despedaçou-se, exatamente como o pote. Ela estava pronta. Tudo o que poderia ser feito, tudo o que era possível fazer, ela havia feito. Nada fora deixado para trás. Ela estava pronta. Ela merecia o acontecimento. Por isso, esse comum incidente tornou-se um estalo para Chiyono. Mas lembre-se: não seja Chiyono! A Iluminação não acontecerá a você do mesmo modo. Por saber a estória, você pode despedaçar o pote, a água escorrer, o reflexo desaparecer — e nada lhe acontecer. É impossível fazer de um acontecimento um ritual. Mas isto é o que a tola humanidade tem feito por séculos e séculos. Os estalos são conhecidos, mas são sempre individuais, únicos. Não podem ser repetidos. Ninguém pode ser novamente Chiyono. O mundo nunca se repete. Deus é tão original que nunca repete nada. Chiyono nasceu apenas uma vez, nunca mais nascerá — nunca, nunca mais! Assim, o mesmo fenômeno não poderá se repetir porque você não é Chiyono. Mas você pensa que pode porque a mente trabalha como um sistema lógico. Por ter acontecido a Chiyono carregando o pote de água, você faz disso — de carregar o pote, de deixar o pote cair e despedaçar-se, da água fluir, do reflexo
  • 19. desaparecer — um ritual! Isso é o que está sendo feito nas igrejas, nas mesquitas, nos templos — rituais! Como aconteceu a Buda? Encontre uma árvore “Bodhi”, sente-se em baixo dela com os olhos fechados, na mesma postura de Buda, exatamente igual a ele e você será apenas um tolo. Você não se tornará Buda, será simplesmente estúpido! Do contrário não estaria repetindo. Os rituais são repetidos apenas pelos idiotas. Por isso, é preciso que você compreenda muito bem como acontece: não é uma questão de sentar-se sob uma árvore Bodhi. Buda sofreu uma longa preparação, passou por milhões de vidas — é uma personalidade única. O momento da Iluminação foi o último estalo, foi a conclusão. Muitas e muitas vidas de esforço e busca foram necessárias para atingir o clímax. O clímax aconteceu quando ele estava sentado sob a árvore Bodhi, apenas acidentalmente. Teria acontecido de qualquer modo. Se ele não estivesse sentado lá, também teria acontecido. Se não houvesse nenhuma árvore, também teria acontecido. Não era necessário que ele estivesse sentado. Poderia estar caminhando e aconteceria do mesmo modo. Foi uma conclusão! Estar sentado sob a árvore Bodhi em uma determinada postura foi apenas uma coincidência. A postura não foi a causa, assim como a árvore também não o foi. Se tivessem sido, então poderia haver repetições. Aqueça a água a 100°C e ela evaporará. Sente-se sob uma árvore Bodhi, exatamente na mesma posição de Buda, até mais perfeitamente que ele, e a Iluminação acontecerá. Não! Este não é o meio. Não seja estúpido, não siga cegamente, não faça dos acontecimentos um ritual. Compreender é necessário, fazer rituais não... É bom sentar-se na posição de Buda, mas tenha presente que você não é Buda! O mesmo estalo não irá funcionar para você. Será um outro! Mas se você continuar seguindo Buda totalmente cego, poderá perder seu próprio estalo, o qual nunca acontecerá pela repetição dos rituais. É preciso que você siga a si mesmo. Receba auxílio de todos os Budas, mas não seja cego. Compreenda-os o mais profundamente que puder porque eles já chegaram — mas nenhum caminho existe. A dimensão espiritual é exatamente como o céu: não deixa nenhum traço; é impossível segui-la. Um pássaro voa; nenhum traço é deixado. O céu permanece vazio, nenhum caminho é criado. Não é como na terra onde as pessoas passam e formam um caminho que pode ser seguido. A dimensão espiritual é a mesma do céu, é não-material, não-terrena, não deixa nenhum traço. Buda está voando, olhe para o vôo, veja sua beleza, seu lampejo, sua luz, celebre-o, compreenda- o! Mas não tente segui-lo, não seja cego! A cegueira não auxiliará. O modo pelo qual Chiyono iluminou-se nunca aconteceu com ninguém mais. Buda não estava carregando um cesto d’água, nem Mahavir, nem Krishna, nem Lao Tzu, nem Zaratustra — ninguém mais estava carregando um cesto de água. E, depois de Chiyono, muitos carregaram porque isso parece tão simples que
  • 20. você pode planejar; nenhuma dificuldade é envolvida. A noite de lua cheia vem todos os meses; você pode esperar por ela e fazer como Chiyono. Não seja ritualístico! Ritual não é religião. Ritual é a coisa mais anti-religiosa do mundo. Você é único, lembre-se! Algo único irá lhe acontecer, algo que nunca ocorreu antes e nunca ocorrerá outra vez. Não apenas suas impressões digitais são únicas, sua alma também é. Eu estava justamente lendo uma pesquisa científica que prova que todas as partes do corpo são únicas — não apenas as impressões digitais; seu fígado é diferente de todos os outros fígados, assim como seu coração e seu estômago. Nos livros escolares, existem figuras de estômagos que nunca serão encontrados em lugar algum. São apenas a média, são imaginários. Se você olhar para o estômago de pessoas reais, verá que são todos diferentes. A média não é a verdade. É apenas uma aproximação matemática; não um fato. O real é sempre único. Você tem um tipo diferente de ser que não se parece em nada com os outros! Isto é bom; é belo que você seja diferente, não apenas uma repetição como os carros Ford. Um milhão de carros exatamente iguais podem ser produzidos. Mas você não é uma máquina, é um homem. E no que se constitui seu humanismo, sua humanidade? No que você é diferente de uma máquina? Na sua singularidade. As máquinas são repetitíveis. Você pode substituir um carro Ford por outro carro Ford, não há problema. Mas nenhum homem jamais poderá ser substituído. Nunca! Cada homem é um florescimento único, acontece apenas uma vez. Assim, não seja ritualístico. Compreenda! Deixe que a compreensão seja a lei, a única lei a ser seguida. Chiyono escreveu estes versos depois. Celebrou o fenômeno com versos, com uma canção. Escreveu: “De um modo ou de outro tentei manter o pote coeso, esperando que o frágil bambu nunca se partisse. “De repente, o fundo caiu não havia mais água nem lua na água — O vazio em minhas mãos.” “De um modo ou de outro, tentei manter o pote coeso”. Você tem tentado manter o pote coeso de um modo ou de outro. Tem carregado sua mente de todos os modos para segurá-la inteira. A mente é a barreira e você pensa que é a amiga. A mente é a inimiga e você a suporta de todos os modos possíveis.
  • 21. Estou lhe dizendo muitas coisas que são contra a mente. Você as colocará em sua mente e fará delas um suporte. Tudo o que eu digo torna-se informação. Quando você me deixar e for embora, estará mais instruído. Então, até o que foi dito contra a mente converter-se-á em um suporte para a mente. Tudo o que eu digo tornar-se-á ensinamento. Não faça das minhas palavras uma nova aquisição para a sua velha mente! “De um modo ou de outro tentei manter o pote coeso, esperando que o frágil bambu nunca se partisse.” É possível encontrar algo mais frágil do que a mente? Algo mais enevoado do que os pensamentos? Algo mais impotente do que os pensamentos? Nada acontece a partir deles. Nada surge deles. Os pensamentos são apenas prolongamentos. São feitos do mesmo material dos sonhos — não têm nada de realmente existencial. São apenas voragem no vazio do seu ser. “De repente o fundo caiu.” — E Chiyono disse: “Não fui eu que provoquei. Eu estava fazendo precisamente o contrário: mantendo o pote coeso de todos os modos, esperando que o frágil bambu nunca se partisse. De repente, o fundo caiu — não foi pelo que fiz.” “De repente, o fundo caiu.” Foi um acidente. “Não havia mais água; nem lua na água — O vazio em minhas mãos.” “A água desapareceu. O pote desapareceu. O vazio em minhas mãos.” Buda é exatamente isto: “O vazio nas mãos.” Quando você tem o vazio nas mãos, tem tudo. O vazio não é algo negativo. O vazio é o que há de mais positivo porque tudo surge do nada. Tudo nasce do vazio. O vazio nas mãos significa a fonte nas mãos: Uma pequena semente dá origem a uma grande árvore. De onde vem a árvore? Olhe a semente, quebre-a, tente encontrar a árvore. Se você quebrar, encontrará apenas o vazio. Desse vazio é que surge a grande árvore. Do vazio surge todo o universo. Do nada surge o ser. O vazio em minhas mãos significa tudo em minhas mãos: a própria fonte de onde tudo nasce e para onde tudo volta, retorna. O vazio em minhas mãos significa tudo em minhas mãos.
  • 22. “De repente, aconteceu. Não posso me congratular por isso. De repente, aconteceu! Eu estava fazendo precisamente o contrário.” É por isso que os santos, aqueles que crêem, aqueles que usam a terminologia de Deus, dizem: “Aconteceu pela Sua Graça.” Chiyono e os budistas não acreditam em nenhum Deus, eles não usam essa simbologia, Assim, Chiyono não pode dizer: “Pela Sua Graça”. Eckhart diria: “Por Sua Graça — não pelo meu merecimento, não pelo meu fazer.” Meera diria: “Pela Graça de Krishna”. Teresa diria: “Por Jesus e Sua Graça”. Mas os budistas não acreditam em nenhum Deus personalizado: estão além desses símbolos. Não são antropocêntricos. Por isso, Chiyono não pôde dizer: “Graças”. Disse simplesmente: “De repente, aconteceu”; mas o significado é o mesmo. “De repente, aconteceu. Eu estava fazendo precisamente o contrário.” “Tudo desapareceu: a água escorreu, a lua desapareceu — o vazio em minhas mãos.” Isto é Iluminação: o vazio em suas mãos: Acontece quando tudo está vazio, quando ninguém existe, nem mesmo você — porque se você estiver, o pote, o velho pote também estará. Se você não estiver, a casa estará vazia, seu ser não terá nada, você tornar-se-á a fonte. Chegará na face original. Este é o mais glorioso momento possível. Este momento eterniza-se, não tem nenhum fim, torna-se eterno. Então, você não pode se modificar porque não existe mais. Quem então ficará triste? Quem se lamentará? Quem se decepcionará? Quem desejará e se sentirá frustrado? O vazio não pode estar frustrado. O vazio não deseja. O vazio não espera nada. Permanece em sua Glória Absoluta. Se você é, está na miséria. Se você não é, nenhuma miséria existe. Assim, todo o problema é: “Ser ou não ser?” E Chiyono, de repente, descobriu que não era: “O vazio nas mãos.”
  • 23. SEGUNDO DISCURSO Debate Por Um Alojamento Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário, terá de ir embora. Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho. Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles. O irmão mais velho estava muito cansado, pois havia estudado por muitas horas; assim, pediu ao mais novo que fosse debater: “Solicite que o diálogo seja em silêncio”, disse o mais velho. Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho: “Que homem maravilhoso é seu irmão. Venceu brilhantemente o debate. Assim, devo ir-me embora. Boa noite.” “Antes de partir”, disse o ancião, “por favor, conte-me como foi o diálogo.” “Bem”, disse o viajante, “primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda. Seu irmão levantou dois dedos simbolizando Buda e seus ensinamentos. Então, ergui três dedos para representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos. Daí, seu inteligente irmão sacudiu o punho cerrado em minha frente, indicando que todos os três vêm de uma única realização.” Com isso, o viajante se foi.
  • 24. Pouco depois, veio o irmão mais novo parecendo muito aborrecido. “Soube que você venceu o debate”, falou o mais velho. “Que nada!”, disse o mais novo, “esse viajante é um homem muito rude.” “É?”, disse o mais velho, “Conte-me qual foi o tema do debate.” “Ora!”, exclamou o mais novo, “no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-me, indicando que tenho apenas um olho. Mas por ser ele um estranho, achei que deveria ser polido. Ergui dois dedos congratulando-o por ter dois olhos. Nisto, o miserável mal-educado levantou três dedos para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos. Então, fiquei louco e ameacei lhe dar um soco no nariz — assim, ele se foi.” O irmão mais velho riu. Todos os debates são fúteis e estúpidos. O próprio debater é uma idiotice, porque ninguém pode atingir a Verdade pela discussão e o debate. Você pode conseguir, no máximo, abrigo por uma noite; mas isso é tudo. Vem daí a tradição. A tradição é bela. Por muitos séculos, em qualquer mosteiro Zen do Japão, se você pedisse abrigo, teria antes de debater. Se você vencesse o debate, poderia permanecer por uma noite. Isto é muito simbólico: poderia ficar, mas apenas por uma noite. Pela manhã, teria de ir embora. Isto indica que, pelo debate, pela lógica, pelo raciocínio, você nunca consegue alcançar a meta; consegue, no máximo, abrigo por uma noite. E não se iluda pensando que a noite de abrigo é a meta. Pela manhã, será preciso caminhar outra vez. Mas muitos têm-se iludido. Pensam que o que conseguiram pela lógica é o objetivo. O abrigo noturno tornou-se a meta. Eles não estão caminhando e muitas manhãs já se passaram. A lógica pode conduzi-lo para algo que está próximo da verdade, mas nunca à verdade. Lembre-se: o que está próximo da verdade também é mentira. O que isto significa? Ou uma coisa é verdadeira ou não é; não existe meio termo. Ou algo é verdadeiro ou não é. É impossível dizer que é meio verdadeiro. É como dizer meio-círculo. O meio-círculo não existe porque a própria palavra “círculo” significa completo. Se for “meio” não será um círculo. Meias-verdades não existem. A verdade é total, você não pode obtê-la em partes, fragmentada. Uma verdade aproximada é uma decepção, mas a lógica só pode conduzi-lo a decepções. Com ela, e possível conseguir abrigo por uma
  • 25. noite para descansar, relaxar, mas não faça dela seu lar. Pela manhã, você deve caminhar novamente; a jornada não termina aí; ela recomeça todas as manhãs. Relaxe na lógica, na razão, mas não se fixe, não fique estático. Lembre-se sempre de que você tem de caminhar. A tradição é bela. Mas é preciso que você entenda uma coisa a seu respeito e sobre seu significado: ela é simbólica. Um segundo ponto a ser entendido: todas as discussões são tolas porque provocam um clima no qual qualquer entendimento entre duas pessoas se torna impossível; no qual qualquer coisa dita é sempre mal-interpretada. Uma mente que está propensa a vencer, a conquistar, não consegue compreender nada. Isto é impossível porque a compreensão necessita de uma mente não-violenta. E quando você está lutando pela vitória, você é violento. Debater é um ato de violência. Através dele, você pode matar, mas não ressuscitar. Através dele, a verdade pode ser assassinada, mas não ressuscitada. O debate é sempre violento. Nele, sua própria atitude é violenta. Na realidade, você não está em busca da verdade, está em busca da vitória. Quando a vitória é a meta, a verdade é sacrificada. Quando a verdade é a meta, você pode sacrificar a vitória. Apenas a verdade pode ser a meta; a vitória não. Quando a vitória é a meta, você se torna um político, não um homem religioso. Você fica agressivo, fica tentando vencer o outro, fica tentando dominar e tiranizar de todos os modos possíveis. A verdade não pode nunca se transformar em dominação, não pode nunca destruir. A verdade não pode ser uma vitória quando essa vitória significa derrotar alguém. A verdade traz humildade, modéstia. Não é uma “viagem” de ego (ego- trip) como o são todos os debates. O debate nunca conduz ao real; sempre encaminha para o ilusório, para o não-verdadeiro porque a própria sensação de vitória é tão estúpida! Verdade significa: nem “você”, nem “eu”. Na discussão, ou você vence ou eu venço; a verdade nunca é a vencedora. Aqueles que estão realmente na busca permitem que a verdade vença a ambos, enquanto que os competidores pedem que a vitória pertença apenas a si mesmos, não aos outros. Entretanto, na verdade, os outros não existem. Na verdade, nós nos encontramos e nos tornamos um. Assim, quem pode ser o vencedor? Quem pode ser o vencido? Na verdade, ninguém é vencido. Na verdade, a VERDADE vence e nós somos vencidos. Na discussão, eu sou eu e você é você. Não existe nenhuma ponte. Como você pode entender o outro se está contra ele? O entendimento é impossível. O entendimento necessita de simpatia, de participação. Entender significa ouvir o outro totalmente: apenas desse modo acontece o florescimento. Ao discutir, debater, argumentar, racionalizar, você não ouve o outro. Apenas
  • 26. finge ouvir e, interiormente, fica se preparando. Por dentro, você está sempre se preparando para a tacada seguinte, pronto para rebater quando o outro parar. Você fica se preparando para refutar. Não ouve. Fica tramando como irá refutar o outro. Na discussão, no debate, a verdade não é significativa. Por isso, num debate, a comunicação nunca acontece; é impossível atingir a comunhão. Você pode argumentar e quanto mais argumentar mais se separará do outro. Quanto mais argumentar, maior será a brecha — torna-se um abismo. Nenhum encontro poderá acontecer. É por isso que os filósofos nunca se encontram. O mesmo acontece com os eruditos. Eles são grandes polemistas — o abismo existe. Eles não podem se encontrar. É impossível! Apenas os amantes se encontram, mas amantes não debatem, comunicam-se. É por isso que, no Oriente, existe tanta insistência sobre shraddha — verdade, fé. Quando você argumenta com seu Mestre, a brecha se alarga. Neste caso, o melhor é ir embora; o melhor é deixar que este Mestre seja apenas um abrigo noturno e ir embora! Estar com ele não o levará a lugar algum, a brecha se alongará. Se você estiver argumentando, não poderá haver uma ponte sobre o abismo. Será impossível. Verdade significa simpatia; verdade significa não argumentar. Você veio para ouvir, não para discutir. Você veio para entender, não para debater. Você não veio para vencer; pelo contrário, está pronto para perder. Um discípulo verdadeiro está sempre em busca de ser derrotado pelo Mestre. O maior momento na vida de um discípulo acontece quando ele é completamente vencido, destruído. Não que o Mestre irá vencê-lo; ele é que se encaminhará para a derrota; o discípulo é que se encaminha para a destruição. E quando o discípulo não mais existe, quando está completamente derrotado, quando desaparece, só então a ponte é atravessada. O abismo não mais existe e o Mestre pode penetrá-lo. Com Jesus aconteceu o seguinte: ele percorreu todo o seu país, mas todos os discípulos que se reuniram a ele eram homens simples. Nem uma única pessoa culta, nem um único erudito o seguiu. Não que lá não houvesse eruditos; havia homens muito cultos nessa época. Os judeus estavam no pico de sua glória. Foi por isso que puderam ter um filho como Jesus. Jesus foi o ápice, ele pôde acontecer; isso mostra que os judeus realmente tocaram seu pico. Eles nunca atingirão esse ponto outra vez. Havia grandes eruditos, grandes debates eram marcados. A sinagoga judia era o centro da aprendizagem, uma verdadeira universidade. De todas as partes do país vinham pessoas para debater, argumentar, discutir, descobrir. Mas tudo isso não passava de um debate. Nem um único letrado seguiu Jesus. Na realidade, todos os letrados eram unânimes em dizer que esse homem devia ser destruído. Todas as pessoas cultas, instruídas, estavam de acordo em matar
  • 27. esse homem! Por quê? Porque esse homem era contra argumentos. Ele estava solapando a própria base. Toda a estrutura poderia cair. Esse homem estava falando contra a razão. Estava falando sobre fé, sobre amor; estava falando sobre como criar uma ponte entre dois corações. O debate ocorre entre duas mentes, duas cabeças. O amor, a comunicação a confiança acontecem entre dois corações. Ele estava abrindo um novo caminho — de amizade, de discipulado, de crescimento. Estava cogitando em termos de uma dimensão totalmente diferente, de outra qualidade. Dizia: “Ponham suas escrituras de lado! Suas Bíblias não são necessárias, são apenas palavras.” O erudito, o culto, não poderia tolerar isso. Jesus foi crucificado. Ele pôde encontrar apenas pessoas simples: pescadores, carpinteiros, sapateiros — homens simples. Todos os seus discípulos, com exceção de Judas, eram analfabetos. Apenas Judas era um homem realmente culto, refinado, um “gentleman”. E vendeu Jesus por trinta peças de prata. Esse culto, refinado Judas o traiu. E Jesus sabia disso. Sabia que se alguém poderia traí-lo, esse alguém seria Judas. Por quê? Porque o coração só pode ser traído pela cabeça. O amor só pode ser traído pela lógica. Nada mais pode traí-lo. Este é o segundo ponto a ser lembrado antes de entrarmos na estória: pela lógica, pela cabeça, pela argumentação, as pessoas tornam-se alheias umas às outras, tornam-se estranhas; a ponte entre elas é perdida. Como você pode achar a verdade se não consegue entender o outro, se não é capaz nem mesmo de ouvi-lo, se a sua mente, por dentro, continua discutindo, brigando? Você é violento, agressivo. Essa agressão não o ajudará. Todos os debates são fúteis, nunca levam a nada. Mesmo que uma conclusão seja alcançada, essa conclusão é forçada. Não vem através da discussão. Você pode silenciar o outro, mas a convicção nunca chegará a partir disso, nunca! E eu digo isso categoricamente: nunca! Se você tiver alguns truques lógicos, poderá silenciar o outro. Ele não será capaz de lhe dar uma resposta. Você sentirá que sabe mais do que ele, que conhece mais truques. Você poderá colocá-lo a nocaute pelas palavras e racionalizações e ele será incapaz de responder. Mas, deste modo, você não conseguirá convencê-lo. No íntimo, ele pensará: “Algum dia, encontrarei mais truques e o colocarei em seu devido lugar. Por enquanto, não posso responder. Está bem, eu aceito a derrota.” Assim ele é derrotado, mas não vencido. E estas são duas situações diferentes. Quando você vence um coração, ele não é derrotado — ele fica feliz. Ele se sente vitorioso com sua vitória, ele participa. Esta não é uma vitória sua — a verdade venceu e ambos podem celebrar. Mas quando você derrota uma pessoa, ela nunca é vencida. Permanece inimiga. No íntimo, fica esperando pelo momento certo de reivindicar seus direitos. Nenhum debate pode tornar-se uma convicção. E se a convicção não é alcançada, o que dizer da conclusão? A conclusão é forçada, é prematura. É justamente como um aborto, não é um nascimento natural. Você forçou — uma
  • 28. criança morta ou uma criança aleijada, que permanecerá aleijada, fraca e morta para sempre, nasceu. Sócrates costumava dizer: “Eu sou uma parteira, auxilio o nascimento natural.” Um Mestre é uma parteira. Ele não força, porque um nascimento forçado não pode ser um verdadeiro nascimento. É mais como a morte do que como a vida. Assim, um Mestre nunca é argumentativo. Se algumas vezes ele parece sê-lo, é apenas para gracejar com você — ele graceja por uma certa razão. Não tornar- se uma vítima. Ele o faz por uma determinada razão: ele argumenta apenas para descobrir se a sua argumentatividade pode ser despertada ou não. Se ela for despertada, você perderá. Se você puder ouvir suas argumentações, sem tornar- se argumentativo, ele não voltará a gracejar com você. Ele o está olhando por dentro. Você pode estar ouvindo conscientemente e argumentando inconscientemente. Então ele precisa trazer seu inconsciente à tona para que você possa se conscientizar dele. Algumas vezes, o Mestre olha como se estivesse com raiva, como se tivesse resolvido derrotá-lo. Mas ele nunca derrota ninguém; ele quer apenas a derrota do seu ego, não a sua; quer apenas destruir seu ego, não você. E lembre-se de que o ego é o veneno, ele o está destruindo. Quando o veneno for destruído, você ficará livre e vivo pela primeira vez. Uma abundância de luz lhe acontecerá pela primeira vez. O Mestre destrói a doença, não você. Algumas vezes ele tem de ser argumentativo. Existiram mestres que foram muito argumentativos. Era impossível derrotá-los, impossível fazer o jogo das palavras com eles. Entretanto, eles faziam isso apenas para auxiliá-lo a trazer sua inconsciência à tona; apenas para que você pudesse se conscientizar, saber se a sua fé era verdadeira ou não. Isto aconteceu: um sufi, Junnaid, estava vivendo com seu Mestre. O Mestre era tão argumentativo que qualquer coisa que você dissesse, ele negava imediatamente. Se você dissesse: “É dia”, ele dizia “Não, é noite”; sendo que, na realidade, era dia. Qualquer coisa que Junnaid dissesse, ele já sabia que o Mestre iria negar. Mas ele simplesmente abaixava a cabeça e dizia: “Sim, Mestre, é noite.” Um dia o Mestre lhe disse: “Junnaid, você venceu. Eu não pude criar argumentações em você. E eu estava tão obviamente falso que qualquer um que nunca discutiu teria dito: Que tolice! É dia. Não há necessidade de discutir, é tão óbvio.” E ainda assim você dizia: “Sim, Mestre. É noite.” Sua verdade é profunda. Agora, nunca mais discutirei com você. Agora, posso lhe dizer a verdade porque você está pronto. Quando o coração diz: “Sim!” totalmente, então você está pronto para ouvir. E apenas então a verdade pode lhe ser revelada. Se um não permanecer em seu
  • 29. interior, por mais insignificante que seja, você não poderá receber a verdade porque esse não destruirá tudo. O não, por menor que seja, é poderoso, muito poderoso, se ele existir, a verdade poderá ser contada, mas a revelação não acontecera. O não a esconderá outra vez. É por isso que eu digo que todos os debates são fúteis. E é por isso que eu continuo repetindo outra e outra vez que todo o esforço da filosofia tem sido inútil. Ela não chegou a nenhuma conclusão — ela não pode. Agora, contarei uma estória; depois, entraremos na estorieta Zen. Certa vez, o Primeiro-Ministro de um grande rei morreu. Esse Primeiro-ministro era uma pessoa rara, muito inteligente, quase um sábio; era esperto, sagaz, um grande diplomata. Seria muito difícil encontrar alguém que pudesse substituí-lo. Então, todo o reinado foi pesquisado. Todos os ministros foram enviados para procurar por três homens. Um desses três seria escolhido pelo rei para ser o Primeiro-Ministro. Por meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas. Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver qualquer problema de matemática, e Matemática é realmente a única ciência positiva; todas as outras ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele se achava na base. O outro era um grande filósofo, um grande criador de sistemas. Do nada ele podia criar tudo. A partir apenas de palavras, ele podia criar sistemas maravilhosos — era um milagre. Apenas os filósofos podem fazer isso. Eles não têm nada em suas mãos; são grandes mágicos. Criam Deus, criam a teoria da criação, criam tudo; e sem nada em suas mãos. São brilhantes artesãos de palavras, combinam as palavras de tal modo que lhe dão a sensação de substância. E isso sem nada! O terceiro era um homem religioso, um homem de fé, de prece, de devoção. As pessoas que estavam procurando esses três homens devem ter sido muito sábias, porque encontraram os três. Esses três homens representam as três dimensões da consciência. Elas são as únicas possibilidades: ciência, filosofia e religião — formam a base. O homem de ciência interessa-se por experimentos: a menos que algo seja provado pelos experimentos, não está provado. Ele é empírico, experimental; sua verdade é a verdade do experimento. O homem de filosofia é o homem da lógica, não dos experimentos; experimentar não é a questão. Apenas pela lógica ele prova e refuta. Ele é um homem puro, mais puro do que o cientista, porque o cientista tem de carregar seus experimentos, seu laboratório. Um homem de filosofia trabalha sem laboratórios
  • 30. — apenas com a mente, com a lógica, com as matemáticas mentais. Todo o seu laboratório está em sua mente. Ele pode provar e refutar apenas pelos argumentos lógicos. Ele pode resolver ou criar qualquer tipo de enigma. O terceiro homem está na dimensão da religião. A vida não é problema para um homem religioso. Ela não existe para ser solucionada; existe para ser vivida. O homem religioso é o homem da experiência; o cientista é o homem dos experimentos; e o filósofo é o homem dos pensamentos. O homem religioso é o homem da experiência: ele olha a vida como algo a ser vivido. Se existe uma solução, ela vira pela experiência, virá pela vida. Nada pode ser decidido de antemão pela lógica porque a vida é maior do que a lógica. A lógica é apenas uma bolha no vasto oceano da vida. Assim, ela não pode explicar tudo. Os experimentos podem ser feitos apenas quando você não participa, podem ser feitos apenas com objetos. A vida não é um objeto; é o próprio cerne da subjetividade. Quando você faz experiências, é diferente. Quando você vive, unifica-se. Assim, o homem religioso diz: “A menos que você se unifique com a vida, nunca poderá conhecê- la.” Como poderá você conhecê-la do lado de fora? Você pode andar e rodear de um lado para outro, mas nunca acertará no alvo. Assim, o homem de fé não se atém nem em experimentos nem em pensamentos, mas na experiência, na simplicidade, na confiança. Os ministros pesquisaram e encontraram esses três homens que foram, então, chamados à capital para a decisão final. O rei disse: “Por três dias descansem e preparem-se. Na manhã do quarto dia o exame final será realizado. Um de vocês será escolhido e se tornará meu Primeiro-Ministro: aquele que provar ser o mais sábio.” Eles começaram a trabalhar cada um à sua própria maneira. Três dias não eram suficientes! O cientista teve de pensar em muitos experimentos e trabalhar neles. Quem sabe que tipo de exame seria? Assim, não pôde dormir por três dias, não havia tempo; além disso, teria toda a vida para dormir depois que fosse escolhido. Então, por que se preocuparia em dormir? Ele não dormiu nem comeu nada — não havia tempo suficiente. Muitas coisas tinham de ser feitas antes do exame. O filósofo começou a pensar; muitos problemas tinham de ser resolvidos: “Quem sabe que tipo de problema será questionado?” Apenas o homem religioso continuou à vontade. Ele comeu e comeu bem. Apenas um homem religioso pode comer bem porque a comida é uma oferenda, é algo sagrado. Ele dormiu bem. Ele orava, sentava-se no jardim, passeava, olhava as árvores e era grato a Deus; porque, para um homem religioso, não existe nenhum futuro, nenhum exame final. Todo o momento e o exame final, então como preparar-se para ele? Se algo está no futuro, você pode se preparar. Mas se algo está aqui, agora,
  • 31. como pode você preparar-se para isto? Você tem de enfrentar a situação. E não existe nenhum futuro. Algumas vezes o cientista dizia: “O que você está fazendo? Perdendo tempo — comendo, dormindo, rezando. Você pode fazer suas preces depois.” Mas o homem religioso ria e não respondia nada, ele não era um homem de argumentos. O filósofo dizia: “Você fica dormindo, sentando lá fora no jardim, olhando para as árvores. Isso não irá ajudá-lo. O exame não é uma infantil brincadeira. Você tem de se preparar para ele.” Mas o religioso ria. Ele acreditava mais no riso do que na lógica. Na manhã do quarto dia, a caminho do palácio para o exame final, o cientista não estava nem mesmo em condições de andar. Estava tão cansado por causa de seus experimentos que era como se toda a sua vida estivesse se esvaindo. Ele estava morto de cansaço, como se a qualquer momento pudesse cair e dormir. Seus olhos estavam sonolentos e sua mente perturbada. Estava quase louco! E o filósofo? Não estava tão cansado, mas sentia-se mais incerto que nunca. Ele havia pensado, pensado; discutido, discutido; e nenhum argumento chegava a qualquer conclusão. Ele estava confuso, perturbado, num caos. No dia em que chegara poderia ter respondido a muitas questões, mas agora não. Até mesmo suas respostas certas tinham-se tornado incertas. Quanto mais você pensa, mais a filosofia se torna inútil. Apenas os tolos podem acreditar em certezas. Quanto mais você pensa, mais inteligente fica, melhor vê que todos os pensamentos são apenas palavras, sem nenhuma substância. Muitas vezes ele quis voltar atrás porque isso não seria de nenhuma serventia. Ele não se sentia em boas condições. Mas o cientista lhe disse: “Venha! Vamos tentar! O que você irá perder? Se nós vencermos, tudo bem. Se não vencermos, tudo bem. Vamos tentar. Não seja tão desanimado!” Apenas o homem religioso caminhava feliz, cantando. Podia ouvir os passarinhos nas árvores, podia ver o sol surgindo, podia ver os raios do sol nas gotas de orvalho. A vida toda era um milagre! Ele não estava preocupado porque não haveria nenhum exame. Ele iria e encararia a situação. Iria simplesmente e veria o que acontecesse. Ele não estava esperando por nada, não tinha expectativas; estava saudável, jovem, vivo — e isso é tudo. Só deste modo é que uma pessoa pode se aproximar de Deus; não com fórmulas prontas, não com teorias prontas, não com montanhas de trabalhos de pesquisa experimental, não com títulos e títulos de doutoramento. Não, isso não auxilia. As pessoas devem ir para o templo assim — cantando e dançando.
  • 32. Se você estiver alerta, poderá responder qualquer coisa que vier, porque a resposta virá através da vida, virá através do coração e o coração está preparado quando você está cantando, quando está dançando. Eles chegaram. O Rei havia arquitetado algo muito especial. Eles foram levados a uma sala onde havia sido montada uma fechadura, um enigma matemático. Havia muitas figuras na fechadura, mas não havia nenhuma chave. Aquelas figuras tinham de ser dispostas de um certo modo. O segredo estava nisso, mas a pessoa teria de procurar e encontrá-lo. Se aquelas figuras fossem dispostas de um determinado modo, a porta se abriria. O Rei colocou-os dentro da sala e disse: “Este é um enigma matemático, um dos maiores já conhecidos. Agora vocês terão de encontrar o segredo. Não existe nenhuma chave. Se vocês puderem encontrar o segredo, a resposta para este quebra-cabeça matemático, a fechadura abrirá. E o primeiro a sair desta sala será o escolhido. Agora, podem começar.” Ele fechou a porta e foi-se embora. Imediatamente o cientista começou a trabalhar sobre o papel: muitos experimentos, muitos cálculos, muitos problemas. Ele olhou, observou as figuras no cadeado. Não havia tempo a perder, era uma questão de vida ou morte. O filósofo fechou seus olhos e começou a pensar em termos matemáticos sobre o que fazer, como decifrar o enigma. O enigma era totalmente novo. Esse é o problema: com a mente, se algo é velho, a resposta pode ser encontrada; mas se algo é absolutamente novo, como resolvê-lo através da mente? A mente é muito eficiente com o velho, com o conhecido, com o rotineiro, mas é totalmente incapaz diante do desconhecido. O homem religioso nem se aproximou da fechadura. Que poderia ele fazer? Ele não sabia matemática, não conhecia nenhuma ciência experimental. O que poderia fazer? Ele apenas se sentou em um canto. Cantou um pouco, orou a Deus, fechou seus olhos. Os dois outros pensaram: “Ele não é um concorrente. De certo modo, isto até é bom porque a escolha terá de ser decidida entre nós dois.” Então, de repente, os dois perceberam que ele havia deixado a sala. Ele não estava lá. A porta estava aberta! O rei veio e disse: “O que vocês estão esperando? Acabou! O terceiro homem já saiu!” Mas eles perguntaram: “Como? Ele não fez nada!” Então, quiseram saber do homem religioso: “Como?” Ele disse: “Eu estava apenas sentado. Comecei a rezar e então uma voz interior me disse: ‘Que tolo! Vá até lá e olhe. A porta não está fechada.’ Então, fui até a porta. Ela não estava fechada. Não havia nenhum problema para ser resolvido e eu saí.”
  • 33. A vida não é um problema. Se você estiver tentando resolvê-la não a compreenderá. A porta está aberta, nunca esteve fechada. Se a porta estivesse fechada, os cientistas encontrariam a solução. Se a porta estivesse fechada, os filósofos encontrariam um sistema pelo qual ela pudesse ser aberta. Mas a porta não estava fechada. Assim, só a fé pode abri-la — sem qualquer solução, sem qualquer resposta pré-fabricada. Empurre a porta e saia. A vida não é um enigma para ser resolvido, é um mistério para ser vivido. É um profundo mistério confiar e permitir a si mesmo a entrada. Nenhum debate pode ser de qualquer ajuda: nem com os outros, nem consigo mesmo — nenhum debate. Todos os debates são fúteis e estúpidos. Agora, entremos nesta bela estória: “Em alguns templos Zen japoneses, existe uma antiga tradição: se um monge errante conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre Budismo, poderá pernoitar no templo. Caso contrário, terá de ir embora.” Os argumentos podem lhe dar isto — um abrigo noturno; apenas isto. “Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto, e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.” Dois tipos de pessoas são necessários para dirigir um templo: o culto e o muito tolo. É assim que todos os templos são dirigidos — por dois tipos: o instruído que se tornou sacerdote e os tolos que o seguem. Deste modo é que todos os templos são dirigidos. Assim, estas estórias Zen não são apenas estórias, são indicações de fato específicos. Se as pessoas tolas desaparecerem da terra, não existirão mais templos. Se as pessoas instruídas desaparecerem dos templos, não haverá mais templos. Uma dualidade é necessária para que um templo exista. É por isso que você não pode encontrar Deus em um templo. Você não pode encontrá-Lo na dualidade. Esses templos são invenções de pessoas sabidas para explorar os tolos. Todos os templos são invenções de pessoas astutas que estão explorando — elas tornaram-se sacerdotes. Os sacerdotes são as pessoas mais sagazes, os maiores exploradores que existem e o exploram de tal modo que você não pode nem mesmo se revoltar contra eles. Eles o exploram para o seu próprio bem. Os sacerdotes são muito hábeis porque conseguem tecer teorias a partir do nada: todas as teologias, tudo o que eles criaram — é incrível! A habilidade é necessária para a criação de teorias religiosas. E eles vão construindo edifícios tão grandes que é quase impossível para o homem comum entrar neles. Eles usam tantos jargões, usam tantos termos técnicos que você não pode entender o que estão dizendo. E quando você não consegue entender, pensa que eles são muito profundos. Quando você não consegue entender algo,
  • 34. pensa que é muito profundo — que está além de você! Lembre-se disto: Buda fala numa linguagem muito simples que pode ser entendida por qualquer pessoa: Não é a linguagem de um sacerdote. Jesus fala por pequenas parábolas; qualquer analfabeto pode entendê-las. Ele nunca usa qualquer jargão religioso. Mahavir fala, transmite seus ensinamentos, na linguagem das pessoas simples, as mais comuns. Mahavir e Buda nunca usaram o sânscrito, nunca! Porque o sânscrito é a linguagem dos sacerdotes, dos brâmanes. O sânscrito é a língua mais difícil que há. Os sacerdotes a planejaram assim; eles a poliram, poliram e poliram. A própria palavra “sanskrit” significa polimento, refinamento. Eles a refinaram a tal grau que apenas as pessoas muito, muito instruídas podem compreendê-la; as que não o são não podem compreendê-la. Buda usou a linguagem do povo: pali. Pali é a língua do povo, dos aldeões. Mahavir usou prakrit. Prakrit é a forma não-refinada, a forma natural do sânscrito: com um mínimo de gramática. O erudito ainda não a burilou, não a refinou de modo que as palavras se tornassem além do povo. Mas os sacerdotes têm usado o sânscrito eles ainda o usam. Ninguém compreende o sânscrito agora, mas eles continuam usando porque toda a profissão deles depende da criação de uma brecha, não de uma ponte — da criação de um abismo. Se as pessoas comuns não podem entender, apenas então os sacerdotes sobrevivem. Se as pessoas comuns entenderem, eles estarão perdidos porque não dizem nada. Certa vez Mulla Nasrudin foi ao médico — os médicos aprenderam o mesmo truque dos padres. Eles escrevem em latim, em grego ou então escrevem de tal modo que mesmo eles, se tiverem de ler o que escreveram, acharão difícil. Ninguém pode entender o que eles escrevem. Assim, Mulla Nasrudin foi ao médico e disse: “Ouça, seja franco. Diga-me apenas os fatos. Não use latim ou grego.” O médico disse: “Se você insiste e se me permite ser franco, você não está doente de jeito nenhum. Você está apenas com preguiça.” Nasrudin disse: “Está bem, obrigado. Agora escreva isto em grego ou latim para que eu possa mostrar para a minha família.” As pessoas astutas sempre exploraram as pessoas comuns. É por isso que Buda, Jesus e Mahavir nunca foram respeitados pelos brâmanes, pelos eruditos, pelas pessoas astutas, porque são elementos destrutivos, destroem todo o negócio deles. Se o povo entender, então não haverá nenhuma necessidade dos sacerdotes. Por quê? Porque o sacerdote é o mediador. Ele entende a língua de Deus e a sua também. Traduz a sua língua para a de Deus. É por isso que eles dizem que o sânscrito é dev-bhasa (a língua de Deus). “Você não sabe sânscrito? — Eu sei, então serei o intermediário, serei o intérprete. Você me diz
  • 35. o que quer e eu direi isso em sânscrito a Deus, porque Ele só entende sânscrito.” E, é claro, você tem de pagar por isso. Estes são os dois tipos necessários para um templo. “Havia um templo assim... dirigido por dois irmãos. O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.” Qual é o simbolismo de um olho nesta estória? Uma pessoa tola está sempre dirigida para um ponto; nunca hesita, está sempre certa. Uma pessoa instruída é sempre dual; hesita, divide-se em duas continuamente. Seu interior está sempre argumentando, em contínuo diálogo. Ela conhece os dois lados. Uma pessoa instruída é uma dualidade — tem dois olhos. Um tolo tem apenas um — está sempre certo, não tem nenhuma dúvida, não é dividido. É por isso que se você olhar para uma pessoa tola, verá que ela se parece mais com um santo do que com um homem instruído. Se você olhar para um santo, verá nele algo de semelhante ao tolo, ao bobo. A qualidade difere. Mas existe um ponto em comum. O bobo está no primeiro degrau e o santo está no último; entretanto, ambos estão na extremidade da escada. O tolo não conhece; é por isso que é simples, tem só um olho. O santo conhece; é por isso que é simples. Ele também tem apenas um olho o qual chama de terceiro olho. Os dois olhos desapareceram no terceiro. Ele também tem um olho — um! Ele é a unidade assim como o tolo também o é. Mas qual a diferença? A ignorância tem uma inocência exatamente igual à da sabedoria. O instruído está no meio: é ignorante e pensa que é sábio. Esta é a divisão do homem culto: é ignorante e pensa que é sábio. Não está nem neste nível nem naquele — está pendurado no meio. É por isso que está sempre tenso. Um homem ignorante é relaxado; um homem sábio também o é. O ignorante ainda não começou sua jornada, está em casa. O sábio já alcançou a meta, também está em casa. O culto está no meio: procurando abrigo em algum mosteiro. Mesmo que seja por uma noite — ele é um andarilho. Os budistas bhikkhus têm sido andarilhos. Buda disse: “A menos que você atinja a meta, seja um andarilho. Seja um errante. Não apenas por dentro, mas por fora também. Seja um andarilho, a menos que alcance a meta. Quando você alcançá- la, quando tornar-se um siddha, um Buda, então — poderá sentar-se. A ignorância e a sabedoria têm uma qualidade em comum, e esta qualidade é a inocência; nenhuma das duas é astuta. Por isso, algumas vezes acontece ser um homem de Deus conhecido como um homem tolo, bobo — um tolo de Deus. São Francisco é conhecido como o tolo de Deus. E ele era! Mas ser um bobo de Deus é a maior sabedoria possível, porque o ego não mais existe. Você não diz que sabe; então é tolo porque não proclama seus conhecimentos. Se você não proclamar, quem acreditará que você é conhecedor? Mesmo quando você
  • 36. proclama, ninguém o aceita. Você tem de martelar na cabeça dos outros. Você tem de fazê-los silenciar, tem de argumentar! Quando eles não podem dizer algo, então com muita má vontade aceitam que talvez, talvez você seja. Mas sempre dirão: “Talvez”. Eles esperarão pela oportunidade de algum dia poderem negar isso. Se você não proclamar, quem o aceitará? E se você disser a si mesmo: “Sou ignorante, não sei nada”, quem poderá pensar que você é um sábio? Se você disser “eu não sei”, as pessoas aceitarão imediatamente. Elas aceitarão imediatamente. Elas dirão: “Nós já sabíamos disso. Nós acreditamos em você. Estamos totalmente de acordo: você não sabe nada mesmo.” Tolo de Deus! Se você ler Dostoievsky — um dos maiores novelistas, — sentirá o que significa tolo de Deus. Em muitas de suas novelas, Dostoievsky coloca um personagem que é o tolo de Deus. Nos “Irmãos Karamazov” ele está presente. Ele é inocente, você pode explorá-lo. Mas, mesmo quando você o explora, ele confia em você. Você pode destruí-lo mas não pode destruir sua confiança — esta é a beleza. O que aconteceu com você? Se um homem o engana, toda a humanidade torna- se impostora. Se um homem o ilude, você perde a confiança na humanidade — não neste homem, mas em toda a humanidade. Se duas ou três pessoas o enganam, você julga que nenhum homem merece a sua confiança. Toda sua crença se vai. O que eu penso é que você, desde o princípio, nunca quis confiar e estas duas ou três pessoas foram apenas a desculpa. Caso contrario, você diria: “Este homem não merece confiança — mas e o resto da humanidade? Não sei. A menos que o contrário seja provado, eu confiarei.” E se você for um homem realmente confiante dirá: “Este homem não merece nenhuma confiança neste momento, este homem também não a mereceu um momento atrás; mas daqui a pouco — quem sabe? Porque os santos tornam-se pecadores e os pecadores tornam-se santos.” A vida é um contínuo movimento. Nada nela é estático. Naquele momento, o homem foi fraco; mas no momento seguinte ele poderá ganhar controle e não enganar novamente. Assim, se ele vier no dia seguinte, você acreditará nele outra vez porque esse será um novo dia, ele será um homem diferente. O Ganges tem desaguado tanto; ele não é o mesmo rio. Certa vez, aconteceu o seguinte: Um homem veio a Mulla Nasrudin e pediu algum dinheiro. Nasrudin conhecia esse homem, sabia bem que esse dinheiro não seria devolvido; mas era uma quantidade tão pequena que ele pensou: “Deixe que ele leve o dinheiro. Mesmo que ele não o devolva, nada estará
  • 37. perdido. Por uma quantia tão pequena não vale a pena dizer não.” Assim, ele lhe deu o dinheiro. Após três dias o homem voltou. Nasrudin ficou surpreso. Que incrível! Era um milagre que esse homem tivesse devolvido o dinheiro. Após dois ou três dias o homem veio novamente e pediu uma grande quantia. Nasrudin disse: “Agora não! Na vez passada você me enganou! Agora não permitirei que isso aconteça outra vez.” O homem disse: “O que você está dizendo? Na última vez eu voltei com o dinheiro.” Nasrudin disse: “Eu sei. Você o devolveu mas me enganou porque eu nunca acreditei que você iria devolvê-lo. Mas desta vez, não! Agora basta! Eu não lhe darei o dinheiro.” É assim que uma mente esperta funciona. Alguém no templo era ignorante — um homem simples com um olho só, um homem seguro. O outro era culto e um homem culto está sempre cansado porque trabalha tanto com nada. Tão ocupado sem ocupação, ele está sempre cansado. “Uma noite, um monge andarilho foi pedir alojamento. O irmão mais velho estava cansado porque havia estudado por muitas horas...” Você não pode encontrar um homem culto que não esteja cansado. Vá e olhe! Vá aos sábios de Kashi e olhe! Sempre cansados, sempre cansados. Trabalhando tanto — com palavras. Observe: um lavrador não fica tão cansado porque está trabalhando com a vida. Quando você está trabalhando com palavras, com palavras fúteis, apenas com a cabeça, você fica cansado. A vida é revigorante! A vida rejuvenesce! Se você vai trabalhar num jardim, você transpira mas ganha mais energia, você não a perde. Você vai caminhar e ganha mais energia porque está vivendo um momento. Se você se fecha em seus estudos com palavras, você começa a pensar, pensar — este processo é mortal; você fica cansado. Um homem culto está sempre cansado. Um tolo está sempre saudável, um santo também. Eles têm muitas qualidades em comum. “...então ele pediu ao irmão mais novo que fosse fazer o debate: ‘Solicite para que o debate seja silencioso’, disse o irmão mais velho.” — Porque ele sabia que seu irmão era tolo. Se você é tolo, o silêncio é precioso. Se você é um santo, o silêncio também é precioso. Se você conhece algo, você permanece silencioso. Se não sabe nada, o melhor é permanecer em silêncio.
  • 38. Um homem sábio torna-se silencioso porque sabe. E tudo o que ele sabe não pode ser dito. Um tolo tem de ser silencioso porque com qualquer coisa que ele diga, será descoberto. Um tolo pode enganar se ficar silencioso, mas se falar isso não será possível porque tudo o que vier dele mostrará sua tolice. Esse irmão culto sabia muito bem que seu irmão mais novo não era um homem de palavras. Ele era um homem simples, inocente, ignorante. Assim, disse a ele: “Solicite para que o diálogo seja em silêncio.” “Pouco depois, o viajante veio ao irmão mais velho e disse: ‘Que homem maravilhoso é seu irmão!’” Esse outro homem também devia ser muito culto. Se um tolo fica em silêncio, pode derrotar um homem culto. Se falar, será vencido porque então entrará no mundo do homem instruído. Com palavras, é impossível vencê-lo. Esse outro homem também era um homem culto, um homem de palavras. Deve ter sido muito difícil para ele permanecer em silêncio e debater. Como iria discutir? Se não lhe é permitido falar, se você usa apenas gestos, tudo se torna bobo e toda a sua esperteza é perdida porque falar é sua única competência. Assim, se um homem instruído permanece silencioso pode ser derrotado por um tolo, porque perde toda sua eficiência — ela pertencia às palavras. Em silêncio, ele é um tolo! Este é o significado. É por isso que os eruditos nunca ficam silenciosos, estão sempre tagarelando. Se estão a sós tagarelam consigo mesmos, não param de matraquear. Eles vão falando, falando, falando, por dentro e por fora, porque pelo seu falar sua eficiência cresce cada vez mais, eles se tornam cada vez mais competentes. Mas, se eles encontram silêncio, de repente, toda a sua arte se vai. Eles são mais estúpidos do que um homem tolo. Mesmo um idiota pode derrotá-los. Eles estão fora de seu mundo profissional, estão simplesmente desconectados. O andarilho deve ter ficado em grande dificuldade. Ele disse: “Que maravilhoso homem é seu irmão. Venceu o debate brilhantemente. Assim, devo ir-me embora. Boa noite!” Se você encontrar um homem culto, permaneça silencioso. Enfrente-o com gestos. Você o derrotará porque ele não sabe nada sobre gestos, ele não sabe nada sobre silêncio. Na realidade, é muito difícil para ele permanecer sem palavras. Ele imediatamente pensará que foi derrotado — irá embora para procurar outro mosteiro antes que seja muito tarde, para procurar um outro monge com quem possa debater com palavras, intelectualmente. Os gestos são vivos. Quando você movimenta sua mão, todo o seu ser se movimenta. Quando você olha, todo o seu ser flui através dos seus olhos. Quando você caminha, seu caminhar é inteiro. Suas pernas não podem caminhar por si mesmas. Mas sua cabeça pode. Ela vai tecendo e tecendo por
  • 39. si mesma. A cabeça pode tornar-se autônoma. Nenhuma outra parte do corpo pode tornar-se autônoma. Assim, se você quiser estudar um homem, não ouça o que ele diz. Ao invés disso, olhe como ele se comporta, como entra numa sala, como se senta, como caminha, como olha. Observe seus gestos: eles revelarão a verdade! As palavras são enganadoras. Nós não falamos para revelar, mas sempre para esconder. Assim, fique silencioso e olhe para uma pessoa: como ela se levanta, como se senta, como olha, que gestos está fazendo. A linguagem do corpo é mais verdadeira que a da cabeça. A linguagem do corpo é muito, muito natural; ela vem da própria fonte. Assim, é muito difícil enganar através dela. Você pode dizer uma coisa, mas sua face dirá outra. Você pode estar dizendo que está certo, mas seus olhos, seu próprio jeito, seu modo de se levantar, dizem que você sabe que está errado. Você pode afirmar-se com palavras que está confiante, mas todo o seu corpo treme e mostra que você não está. Quando um ladrão entra, entra de um modo próprio. Quando um mentiroso aparece, aparece de um jeito próprio. Quando um homem de confiança caminha, seu caminhar é diferente. Ele não tem nada a esconder, não tem nenhuma razão para enganar. Ele é verdadeiro, seu caminhar é inocente. Faça uma coisa que você precisa esconder, e observe a si mesmo — você verá como tudo é diferente. Mesmo enquanto você estiver caminhando estará escondendo algo: seu estômago estará tenso, você estará alerta, seus olhos correrão para todos os lados, observando se alguém está vendo ou não, se você será apanhado ou não. Seus olhos estarão furtivos, não serão poços de inocência — serão astutos. Observe os movimentos do seu corpo, eles lhe darão um quadro verdadeiro de si mesmo. Não ouça as palavras. Eu tenho de fazer isto continuamente. As pessoas vêm a mim com todo o tipo de decepções. Eu tenho de olhar para seus gestos, não para o que elas dizem. Elas podem estar tocando meus pés, mas todos os seus gestos mostram o ego, de modo que o tocar nos pés é inútil. Elas estão manipulando isso. Elas não estão enganando apenas a mim. Estão enganando a si mesmas. Todos seus gestos dizem “Ego!” e todas as suas palavras dizem humildade. Você não pode enganar pelo corpo. Seu corpo é mais verdadeiro do que sua mente. E todas as religiões inventadas por sacerdotes lhe dizem: “Seja contra o corpo. Esteja a favor da mente!” Porque os sacerdotes vivem pela mente, exploram pela mente. Com o corpo é impossível explorar. O corpo é autêntico, mostra claramente quem você é. “‘Ele venceu o debate brilhantemente; assim, devo ir-me embora. Boa noite.’ ‘Antes de partir’, disse o irmão mais velho, ‘por favor, conte-me como foi o diálogo’.”