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OSHO
Pepitas de
Ouro
Fragmentos de sabedoria em forma de pequenos textos
UNIVERSALISMO
Introdução
As palavras deste livro não precisam de introdução. Elas falam para todos nós:
pepitas de sabedoria sobre o amor, sobre a vida, sobre o mundo em que vivemos
— sobre você e eu. Uma olhadela em qualquer página nos leva para um mundo
novo, o mundo de Osho, o mais brilhante místico de nossa época.
O que precisa de uma introdução são as extraordinárias circunstâncias nas quais
este livro veio a existir.
Em outubro de 1985 Osho foi preso por quinze homens fortemente armados,
sem um mandado de prisão, e mantido sem permissão de fiança por doze dias.
O cristão fundamentalista Charles Turner, procurador-geral do governo
americano na questão, descrevendo Osho, disse: “Não gostava de olhar para o
sujeito. Ele era pequeno e sem atrativos, mas havia um certo magnetismo nele.
Seus olhos eram luminosos, quase com um brilho satânico. Havia uma sensação
de maldade em volta dele. Vários investigadores disseram-me que tiveram essa
sensação”. E concluiu: “Não encontrei nesse homem uma só característica que
o redimisse. Mesmo em um ladrão ou traficante eu encontraria alguma coisa”.
Pôncio Pilatos foi mais circunspecto.
Tendo arrastado Osho através dos Estados Unidos, em algemas e correntes, o
Departamento de Justiça daquele país justificou-se alegando que ele era
culpado de infringir as leis de imigração americanas. Expulsaram-no do país e o
multaram em quase meio milhão de dólares.
Isso começou uma das mais estranhas sagas dos tempos modernos. O longo
braço do poder americano alcançou todo o globo: nem bem o avião de Osho
aterrissava em um país e uma voz americana falava pelo telefone com as
autoridades locais. Vinte e um países “democráticos” se dobraram à pressão e
recusaram hospedagem a Osho.
A certa altura parecia que a Grécia, a terra de Sócrates, poderia ter aprendido
com aquele erro anterior e estaria preparada para permitir que ele ficasse.
Apesar de tudo, como descreve Platão, na época do envenenamento de
Sócrates pelo Departamento de Justiça de Atenas, vinte e cinco séculos atrás, a
horrível realidade por que passava esse homem começou a ser percebida.
Platão escreve: “Quando o funcionário da prisão entrou e caminhou até ele,
disse: ‘Sócrates, não encontrei nenhuma falta em você, como encontro nos
outros por ficarem com raiva de mim e me amaldiçoarem quando lhes digo para
beber o veneno — cumprindo ordens do governo.
‘Eu descobri, durante esse tempo, que você é o mais nobre, o mais gentil e o
mais bravo de todos os homens que passaram por aqui. Especialmente agora
estou certo de que você não está zangado comigo, mas com eles; porque você
sabe quem é responsável. Então agora — você sabe o que eu vim dizer —
adeus, e tente suportar o que tiver que ser, da maneira mais fácil que puder’.
Assim falando, começou a soluçar e voltando-se, foi embora”.
Mas não foi assim; aqueles funcionários da Grécia moderna, assim como seus
colegas americanos que estavam “cumprindo ordens do governo”, não
aprenderam nada. Da mesma maneira como sucedeu com Sócrates, os
sacerdotes e políticos conspiraram para acusar Osho de corromper a juventude
e ameaçar a moral social. Cercado de uma falange de policiais armados que o
estavam escoltando a seu avião, Osho perguntou à imprensa ali reunida: “Que
tipo de cultura é essa que após dois mil anos pode ser corrompida por um homem
que está com um visto de turista de apenas duas semanas?”
De um país a outro, de um aeroporto a outro, de um grupo de funcionários do
governo armados a outro, de uma prisão a outra, de uma recusa a outra, essa
extraordinária odisséia continuou. Onde quer que Osho fosse, as pessoas o
amavam e rapidamente se reuniam para ouvi-lo falar. Os discípulos, muitas
vezes, ficavam preocupados com o seu mestre, tantas eram as pessoas que
queriam se aproximar dele. O mais rápido possível, as autoridades tratavam de
isolá-lo. Ele passou a ser o homem que todos amavam, mas que ninguém queria.
E o que Osho fazia, enquanto os políticos e seus homens armados jogavam pela
janela cada noção de seus sagrados “direitos humanos”, na ansiedade de tirar
Osho da terra deles?
Ele estava, como sempre, o mais disponível possível àqueles que o amam, aos
discípulos que sentavam a seus pés sempre que podiam, no país ao qual
pudessem ir. Como refugiados internacionais, eles protegiam o Sócrates deles
o melhor que podiam e transcreviam suas palavras para o benefício de uma
época mais civilizada, de um mundo mais civilizado, que, esperavam, chegaria
um dia.
Enquanto funcionários hostis desempenhavam seus repulsivos papéis
históricos, Osho deu aproximadamente duzentos discursos, palavras de uma
paz e beleza sublimes — a ser publicados em meia dúzia de volumes.
Aqui está uma amostra dessas palestras. Aqui está uma amostra do homem que
sacerdotes e políticos de todo o mundo tornaram o inimigo público número um.
Aqui está uma amostra de Osho, o homem que as autoridades de todo o mundo
desesperadamente tentam impedir que você descubra por si mesmo. Lendo,
você vai descobrir o porquê.
Enquanto os representantes da humanidade e suas máquinas políticas
desempenhavam seus jogos sujos e tentavam atacar Osho com o odioso
comportamento deles, Osho em troca oferecia ao mundo apenas flores. Este
livro contém a fragrância dessas flores.
Swami Devaraj
Colônia
Alemanha Ocidental
Janeiro de 1988
Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado e
toda a sua vida se torna uma sequência de momentos dourados.
Uma pessoa assim nunca morre porque ela tem o toque de Midas: tudo o que
toca se torna dourado.
A única responsabilidade autêntica é com o seu próprio potencial, a sua
inteligência e consciência — e agir de acordo.
Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de
crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a
sua alegria, a sua realização.
Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a ver com dinheiro, nada
tem a ver com política.
Tem a ver totalmente com você: é um desenvolvimento individual.
Você tem de se tornar uma celebração em si mesmo.
O anseio por uma utopia é basicamente o anseio pela harmonia no indivíduo e
na sociedade.
A harmonia nunca existiu, sempre houve o caos.
A sociedade foi dividida em culturas diferentes, religiões diferentes, nações
diferentes — e todas baseadas em superstições.
Nenhuma das divisões é válida.
Essas divisões mostram, entretanto, que o homem está dividido internamente.
São projeções de seu próprio conflito interno.
Internamente ele não é um, por isso externamente não foi capaz de criar uma
sociedade una, uma humanidade una.
A causa não é externa.
O exterior é simplesmente o reflexo do homem interior.
Ninguém tem dado muita atenção ao indivíduo.
E isso é a raiz de todos os problemas.
Mas, porque o indivíduo parece ser tão pequeno e a sociedade parece ser tão
grande, as pessoas pensam que podemos mudar a sociedade e então os
indivíduos mudarão.
Não vai ser assim — porque “sociedade” é apenas uma palavra; existem
somente indivíduos, não existe sociedade.
A sociedade não tem alma, você não pode mudar nada nela.
Você pode mudar somente o indivíduo, por menor que ele pareça.
E, conhecendo a ciência de como mudar o indivíduo, pode-se aplicá-la a todos
os indivíduos, em todo lugar.
Sinto que um dia alcançaremos uma sociedade que será harmoniosa, que será
muito melhor que todas as idéias produzidas pelos utopistas durante milhares de
anos.
A realidade será muito mais bela.
Você nunca está completamente satisfeito com o que você é e com o que a
existência lhe deu porque você tem sido distraído.
Você tem sido dirigido para onde a natureza não tencionava colocá-lo.
Você não está se movendo em direção ao seu próprio potencial.
Você está tentando ser o que outros queriam que você fosse, mas isso não pode
ser satisfatório.
Quando não é satisfatório, a lógica diz: “Talvez não seja o suficiente — tenha
mais”.
E você vai em busca de mais e você começa a olhar em volta.
E todos estão usando uma máscara sorridente, aparentando felicidade, assim,
todos estão enganando aos outros.
Você também usa uma máscara, então os outros pensam que você é mais feliz;
você pensa que os outros são mais felizes.
Do outro lado da cerca, a grama parece mais verde.
Eles olham a sua grama e ela parece mais verde.
Parece realmente mais verde, mais espessa, melhor.
Essa é a ilusão que a distância cria.
Quando você chega perto começa então a ver que não é assim.
Mas as pessoas mantêm os outros a distância.
Mesmo amigos, mesmo amantes, mantêm distância entre si.
Muita proximidade será perigoso; os outros podem ver a sua realidade.
E você foi desencaminhado desde o princípio, assim, não importa o que faça,
você permanecerá infeliz.
Você vê alguém com muito dinheiro: talvez o dinheiro traga alegria, pensa você.
Olhe aquela pessoa... como parece feliz.
Então corra atrás do dinheiro.
Alguém tem mais saúde — corra atrás da saúde.
Alguém está fazendo alguma outra coisa e parece muito satisfeito — siga-o.
Mas são sempre os outros.
A sociedade fez uso disso para que você nunca pense sobre o seu próprio
potencial.
E todo o tormento é que você não está sendo você mesmo.
Simplesmente seja você mesmo e então não existe tormento, não existe
competição, não existe aborrecimento, porque outros têm mais, porque você tem
menos.
Se você gosta da grama mais verde, não há necessidade de olhar para o outro
lado da cerca; torne a grama mais verde no seu lado da cerca; é tão simples
tornar a grama mais verde.
O homem tem de estar enraizado em seu próprio potencial, seja ele qual for.
E o mundo ficará tão satisfeito que, você mal poderá acreditar.
Estar vivo significa ter senso de humor, ter uma profunda qualidade amorosa,
ter capacidade de brincar.
Sou totalmente contra todas as atitudes que negam a vida; e o respeito pelo
divino tem negado a vida.
Para torná-lo afirmativo da vida, a brincadeira, o senso de humor, o amor e o
respeito devem estar todos reunidos.
Reverência pela vida é o único respeito pelo divino, pois não há nada mais divino
do que a própria vida.
O homem nasce com imensos tesouros, mas também nasce com toda a
herança animal.
De algum modo temos de nos esvaziar da herança animal e criar um espaço
para que o tesouro venha à consciência e seja compartilhado — porque uma das
qualidades do tesouro é: quanto mais você compartilha, mais você tem.
Muitos de nossos problemas existem apenas porque nunca olhamos para eles,
nunca focamos nossos olhos neles para entender o que são.
Dê vida a coisas que são belas.
Não dê vida a coisas feias.
Você não tem muito tempo, muita energia para desperdiçar.
Com uma vida tão pequena, com uma fonte de energia tão pequena, é
simplesmente estúpido desperdiçá-la em tristeza, em raiva, em ódio, em ciúme.
Use-a em amor, use-a em alguma ação criativa, use-a em amizade, use-a em
meditação.
Faça, com sua energia, alguma coisa que o leve mais alto, e, quanto mais alto
você for, mais fontes de energia se tornam disponíveis para você.
Está em suas mãos.
Nenhum homem é uma ilha.
Isso deve ser lembrado como uma das verdades fundamentais da vida.
Estou enfatizando-a porque tendemos a esquecê-la.
Somos todos parte de uma única força vital — parte de uma única existência
oceânica.
Basicamente, porque nas profundezas de nossas raízes somos um só, a
possibilidade do amor aparece.
Se não fôssemos um, não haveria possibilidade de amor.
O homem continua carregando muitos dos instintos animais — sua raiva, seu
ódio, seu ciúme, sua possessividade, sua astúcia.
Tudo o que tem sido condenado no homem parece pertencer a um inconsciente
muito profundamente enraizado.
E todo o trabalho da alquimia espiritual está em como se livrar do passado
animal.
A menos que se livre do passado animal, o homem permanecerá dividido.
O passado animal e o lado humano não podem existir como uma unidade,
porque o lado humano tem exatamente qualidades opostas.
Então, tudo o que o homem pode fazer é tornar-se um hipócrita.
Com relação ao comportamento aparente ele segue os ideais do lado humano
— de amor e verdade, liberdade, não possessividade, compaixão.
Mas isso permanece apenas uma camada muito fina e a qualquer momento o
animal oculto pode vir à tona: qualquer acidente pode fazê-lo surgir.
E, ele vindo ou não à tona, a consciência interior está dividida.
Essa consciência dividida tem criado o anseio e a questão: como o indivíduo
pode se tornar um todo harmonioso?
E o mesmo é verdadeiro sobre a sociedade inteira: como podemos tornar a
sociedade um todo harmonioso — onde não existam guerra, conflito, classes;
não existam divisões de cor, casta, religião, nação?
Em vez de pensar em termos de revolução e mudança da sociedade, de sua
estrutura, deveríamos pensar mais em meditação e em mudar o indivíduo.
Essa é a única maneira possível de algum dia podermos abandonar todas as
divisões na sociedade.
Mas antes devem ser abandonadas no indivíduo — e podem ser abandonadas.
Não existe algo rotulado “VERDADE” — que você encontrará um dia, abrirá a
caixa, verá o conteúdo e dirá: “Genial!
Encontrei a verdade!”
Não existe tal caixa.
É evidente a razão pela qual as pessoas falam sobre a verdade enquanto
permanecem num mundo de mentiras.
Existe em seu coração um anseio pela verdade; as pessoas estão
envergonhadas frente a si mesmas por não estarem sendo verdadeiras, então
falam sobre a verdade.
Mas é mera conversa.
Viver de acordo com a verdade é muito perigoso, elas não podem correr o risco.
E é a mesma situação com a liberdade.
Todos querem a liberdade — enquanto se trata de palavras —, mas ninguém é
realmente livre.
E ninguém realmente quer ser livre porque liberdade traz responsabilidade, ela
não vem sozinha.
E ser dependente é simples; a responsabilidade não está em você, a
responsabilidade está na pessoa da qual você é dependente.
Assim, as pessoas construíram uma maneira de viver esquizofrênica.
Elas falam sobre a verdade, falam sobre a liberdade — e vivem em mentiras e
vivem em escravidão... vários tipos de escravidão, porque cada escravidão
liberta você de alguma responsabilidade.
Um homem que realmente quer ser livre tem de aceitar responsabilidades
imensas.
Ele não pode descarregar suas responsabilidades em ninguém mais.
Seja o que ele fizer, seja o que ele for, ele é responsável.
Uma pessoa verdadeiramente não-violenta é aquela que não mata ninguém,
que não fere ninguém, porque ela é contra o matar e contra o ferir.
Mesmo que alguém comece a feri-la, ainda assim, ela é contra o ferir.
Mesmo que alguém comece a matá-la, ainda assim ela é contra o matar; ela não
o permitirá.
Ela nunca iniciará qualquer violência, mas se a violência é iniciada contra ela,
então lutará com unhas e dentes.
Somente assim as pessoas não-violentas podem permanecer independentes; de
outro modo serão escravas e pobres e continuamente roubadas.
Ser você mesmo lhe dá tudo o que você precisa para sentir-se pleno, tudo o
que pode tornar sua vida significativa, com sentido.
Ser você mesmo e crescer de acordo com sua natureza lhe trará a realização de
seu destino.
Seja imprevisível e esteja em constante mudança.
Nunca pare de mudar e nunca pare de ser imprevisível; somente assim a vida
pode ser uma alegria.
No momento em que você se torna previsível, torna-se uma máquina.
Uma máquina é previsível.
Era a mesma ontem, é a mesma hoje, será a mesma amanhã.
É imutável.
Estar mudando a cada momento é prerrogativa apenas do homem.
No dia em que você pára de mudar, de uma maneira sutil, você morre.
Ponha tudo em jogo.
Seja um jogador!
Arrisque tudo porque o próximo momento não é certo.
Por que então se aborrecer?
Por que ficar preocupado?
Viva perigosamente, viva com alegria.
Viva sem medo, viva sem culpa.
Viva sem medo algum do inferno, sem ambição alguma pelo paraíso.
Simplesmente viva.
Cada erro é uma oportunidade para aprender.
Apenas não cometa o mesmo erro várias vezes — isso é estupidez.
Mas cometa tantos novos erros quanto você for capaz — não tenha medo,
porque essa é a única maneira pela qual a natureza lhe permite aprender.
Areligiosidade significa simplesmente um desafio para crescer, um desafio para
a semente chegar à sua expressão suprema, explodir em milhares de flores e
liberar a fragrância que estava escondida.
Essa fragrância eu chamo de religiosidade.
Todos são tão infelizes que querem encontrar algum motivo em algum lugar
para explicar a si mesmos por que são infelizes, por que ele é infeliz, por que ela
é infeliz.
E a sociedade deu-lhe uma boa estratégia: julgue.
Em primeiro lugar, naturalmente, você julga a si mesmo a respeito de tudo.
Não existe homem perfeito e homem nenhum jamais pode ser perfeito, perfeição
não existe — assim o julgamento é muito fácil.
Você é imperfeito, assim existem coisas que mostram sua imperfeição e então
você fica com raiva, com raiva de si mesmo, com raiva do mundo todo: “Por que
não sou perfeito?”.
E então você olha com uma única idéia — encontrar imperfeição em todos.
E então você quer abrir seu coração — naturalmente, porque, se não abrir seu
coração, não há celebração na sua vida, sua vida é quase morta.
Mas você não pode fazê-lo diretamente.
Você terá de destruir toda essa educação, desde as próprias raízes.
O primeiro passo então é: pare de julgar a si mesmo.
Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo.
Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo com todas as imperfeições, com
todas as fraquezas, todos os erros, todos os fracassos.
Não exija perfeição de si mesmo, isso é simplesmente pedir o impossível, e
então você ficará frustrado.
Apesar de tudo, você é um ser humano.
Olhe simplesmente para os animais, para os pássaros: nenhum deles está
preocupado, triste ou frustrado.
Você não vê um búfalo ficando maluco.
Ele está perfeitamente satisfeito mascando o mesmo pasto todo o dia.
Ele é quase iluminado!
Não existe tensão, existe uma harmonia enorme com a natureza, consigo
mesmo, com tudo da maneira que é.
Búfalos não formam partidos para revolucionar o mundo, para transformar
búfalos em superbúfalos, para tornar búfalos religiosos, virtuosos.
Nenhum animal tem a menor preocupação com as idéias humanas.
E eles devem estar todos rindo; “O que aconteceu com você?
Por que você não pode ser você mesmo do jeito que é?
Qual é a necessidade de ser outra pessoa?”
O primeiro passo, então, é uma profunda aceitação de si mesmos.
Não condene a sensualidade.
Ela tem sido condenada pelo mundo todo e, devido à sua condenação, a energia
que pode florescer na sensualidade dirige-se para as perversões, o ciúme, a
raiva, o ódio — um tipo de vida que é seco e sem sabor.
A sensualidade é uma das maiores bênçãos para a humanidade.
Ela é sua sensibilidade, é sua consciência.
Ela é sua consciência filtrando-se através do corpo.
Através dos tempos, os pais têm acreditado que os filhos lhes pertencem e
devem ser simplesmente suas cópias-carbono.
Uma cópia-carbono não é algo belo e a existência não acredita em cópias-
carbono — ela vibra na originalidade.
Você tem de ajudar os filhos a crescer além de você.
Você tem de ajudá-los a não o imitarem.
Essa é na verdade a obrigação dos pais: ajudar os filhos a não cair na imitação.
As crianças são imitadoras, e, naturalmente, quem elas vão imitar?
Os pais são as pessoas mais próximas.
Até agora os pais têm apreciado muito o fato de que seus filhos sejam iguais a
eles.
O pai sente-se orgulhoso porque seu filho é exatamente como ele.
Desse modo, uma vida é desperdiçada; então, o filho não é necessário, o pai
seria o bastante.
Devido a essa concepção errônea de orgulho com o fato de os filhos imitarem
os pais, nós criamos uma sociedade de imitadores.
A obediência não precisa de inteligência.
Todas as máquinas são obedientes.
Ninguém jamais ouviu dizer de uma máquina desobediente.
A obediência é também simples.
Tira-lhe o peso de qualquer responsabilidade.
Não é preciso reagir, você simplesmente tem de fazer o que está sendo dito.
A responsabilidade fica com a fonte de onde a ordem vem.
De certa maneira, você é muito livre: não pode ser condenado por sua ação.
Areligiosidade não é algo em que se acreditar, mas algo a ser vivido, algo a ser
experienciado... não uma crença em sua mente, mas o sabor de todo o seu ser.
A mente não pode deixar de julgar.
Se você a força a ser não-julgadora, surgirá um bloqueio em sua inteligência.
Então a mente não pode funcionar de maneira perfeita.
A ausência de julgamento não é algo que pertença à área da mente.
Apenas uma pessoa que foi além da mente pode deixar de julgar; caso contrário,
o que lhe parece ser fatual, uma afirmação válida, é simplesmente aparência.
Tudo o que a mente decide ou declara está poluído pelos seus condicionamentos
e seus preconceitos — é isso o que a torna julgadora.
Por exemplo, você vê um ladrão.
É fato que ele está roubando — nenhuma dúvida a respeito —, e você faz uma
afirmação sobre o ladrão.
E certamente roubar não é bom; assim, quando você chama um homem de
ladrão, sua mente diz: “Você está certo; sua afirmação é verdadeira”.
Mas por que um ladrão é mau?
E o que é maldade?
Por que ele foi forçado a roubar?
E a ação de roubar é uma ação isolada.
Com base em uma única ação você está fazendo um julgamento sobre o todo
do indivíduo.
Você o está chamando de ladrão.
Ele faz muitas outras coisas que não somente roubar.
Ele pode ser um bom pintor, pode ser um bom carpinteiro, pode ser um bom
cantor, um bom dançarino — pode ter mil e uma qualidades.
O homem inteiro é muito vasto e o roubar é uma ação isolada.
Com base em uma ação isolada você não pode fazer uma afirmação sobre a
pessoa inteira.
Você não conhece absolutamente a pessoa e você nem mesmo sabe em que
condições a ação aconteceu.
Talvez naquelas condições você também tivesse roubado.
Talvez naquelas condições o roubar não fosse mau... porque toda a ação é
subordinada a condições.
Se você olhar ao redor do mundo e observar os diferentes condicionamentos das
pessoas e suas idéias de bom e mau, certo e errado, pela primeira vez você será
capaz de perceber que sua mente é também parte de determinada parcela da
humanidade.
Ela não representa nada sobre a verdade; representa simplesmente aquela
determinada parcela.
E, através dessa mente, tudo o que você vê é visto com julgamento.
A existência é uma.
São milhões as suas expressões, mas o espírito expresso é o mesmo.
É uma divindade com uma infinita variedade de criações.
O dinheiro é uma coisa estranha.
Se você não o tem, a questão é simples — você não o tem, não existe
complicação.
Mas, se você o tem, então certamente ele cria complicações.
Um dos maiores problemas que o dinheiro cria é que você nunca sabe se você
é desejado ou se o seu dinheiro é desejado.
E é tão difícil resolver isso que a pessoa preferiria não ter dinheiro.
Pelo menos a vida seria simples.
Ora, algo como o dinheiro, que poderia ter sido um grande prazer, acabou
tornando-se uma agonia imensa.
Mas não é o dinheiro, é a sua mente.
O dinheiro é útil; não é pecado ter dinheiro, não é preciso sentir culpa.
É desse modo que a mente cria miséria.
Você tem dinheiro?
Desfrute-o!
Se alguém o ama, não pergunte se é a você ou a seu dinheiro que ele ama,
porque assim você o coloca numa situação realmente desagradável.
Se ele disser que o ama, você não acreditará; se ele disser que ama seu dinheiro,
você acreditará.
Mas, se ele ama seu dinheiro, o romance está acabado.
Bem no fundo você continuará suspeitando que ele ama seu dinheiro, e não
você.
Mas nada está errado: o dinheiro é seu, simplesmente como seu nariz é seu,
seus olhos são seus e seu cabelo é seu.
E essa pessoa ama você na sua totalidade.
O dinheiro também é parte de você.
Não o separe, assim não existe problema.
Tente viver uma vida com tão pouca complicação e tão poucos problemas quanto
for possível — e isso está em suas mãos.
Conhecer o mundo inteiro não é nada, comparado com o conhecimento de seu
próprio mistério interior de vida.
A própria idéia de comparação é absolutamente falsa.
Cada indivíduo é único, porque não há mais ninguém como ele.
Seria certo comparar, se todos os indivíduos fossem iguais — eles não são.
Mesmo gêmeos não são totalmente iguais.
É impossível encontrar outra pessoa que seja exatamente como você.
Assim, nós estamos comparando pessoas únicas, e isso cria todo o problema.
Uma das coisas mais difíceis da vida e das mais fundamentais é não dividi-la
entre coisas belas e coisas estúpidas — não dividir de modo algum.
Todas elas são parte de um todo.
É preciso simplesmente um pouco de senso de humor.
E, para mim, senso de humor é essencial para que uma pessoa seja total.
O que há de errado com coisas pequenas, idiotas?
Por que você não pode rir e desfrutá-las?
O tempo todo você está julgando o que é certo, o que é errado.
O tempo todo você está sentado na cadeira de um juiz — e isso o torna sério.
Então as flores são lindas, mas e os espinhos? — eles são parte da existência
das flores.
As flores não existirão sem os espinhos; os espinhos são uma proteção.
Eles têm uma função, um propósito, um significado.
Mas você divide — assim as flores são lindas e os espinhos se tornam feios.
Mas na própria planta a seiva é a mesma para a flor e para os espinhos.
Na existência da planta não há divisão, não há julgamento.
A flor não é favorecida e o espinho não é simplesmente tolerado; ambos são
totalmente aceitos.
E essa deveria ser a abordagem em nossa própria vida.
Existem coisas pequenas que, se você julgar, parecem estúpidas, tolas. Mas
isso é devido ao seu julgamento; elas também preenchem algo essencial.
Toda a função da mente é dividir continuamente.
A função do coração é perceber os vínculos sobre os quais a mente é
completamente cega.
A mente não pode entender aquilo que está além das palavras; ela pode
entender somente aquilo que é linguística e logicamente certo.
Ela não tem relação com a existência, com a vida, com a realidade.
A mente em si mesma é uma ficção.
Você pode viver sem mente.
Você não pode viver sem coração.
E, quanto mais profundamente você vive, uma parte maior de seu coração é
envolvida.
A vida está fluindo, é um rio, um fluxo constante.
As pessoas consideram-se estáticas.
Somente coisas são estáticas, somente a morte é imutável; a vida está
constantemente mudando.
Mais vida — e mais mudança.
Vida em abundância — e uma tremenda mudança a cada momento.
Ninguém é superior, ninguém é inferior e tampouco ninguém é igual.
Cada um é único.
A igualdade é errada do ponto de vista psicológico.
Todos não podem ser um Albert Einstein e todos não podem ser um
Rabindranath Tagore.
Mas isso não significa que Rabindranath Tagore é superior porque você não
pode ser ele.
Rabindranath tampouco pode ser você.
Meu enfoque é que cada um é uma manifestação única.
Assim, deveríamos destruir toda a idéia de superioridade e inferioridade, de
igualdade e desigualdade e substituí-la com um novo conceito de unicidade.
E cada indivíduo é único.
Olhe amorosamente e verá que cada indivíduo tem algo que ninguém mais tem.
Simplesmente faça aquilo que lhe dê prazer — prazer a você e prazer a seu
ambiente.
Simplesmente faça algo que lhe traga uma canção e crie um ritmo de celebração
a seu redor.
Essa vida eu chamo de uma vida religiosa.
Ela não tem princípios, não tem disciplina, não tem leis.
Tem somente uma única abordagem e esta é: viva inteligentemente.
A obediência tem uma simplicidade; a desobediência precisa de um tipo de
inteligência um pouco mais elevado.
Qualquer idiota pode ser obediente — na realidade, somente idiotas podem ser
obedientes.
A pessoa inteligente fatalmente perguntará: “Por quê?
Por que tenho de fazer isso?
E, a menos que eu saiba os motivos e as consequências disso, não me deixarei
envolver”.
Então ela está se tornando responsável.
É absolutamente impossível que um santo seja malandro.
Mas um malandro pode ser santo.
O ser humano ainda não aprendeu a conhecer as belezas da solitude.
Ele está sempre ansiando por algum relacionamento, ansiando por estar com
alguém — com um amigo, com um pai, com uma esposa, com um esposo, com
um filho... com alguém.
Ele criou sociedades, criou clubes — o “Lions Club”, o “Rotary Club”.
Ele criou partidos — políticos, ideológicos.
Criou religiões, igrejas.
Mas a necessidade fundamental de tudo isso é esquecer, de alguma maneira,
que você está só.
Associando-se com tantas multidões, você está tentando esquecer algo que é
de repente lembrado na escuridão — que você nasceu só, que você morrerá só,
que, não importa o que faça, você vive só.
A solitude é algo tão essencial a seu ser que não há maneira de evitá-la.
Todos os esforços dirigidos para evitar a solidão falharam e falharão, porque
são contrários aos fundamentos da vida.
O que é preciso não é algo com o qual você possa esquecer sua solidão; o que
é preciso é que você se torne consciente de sua solitude — a qual é uma
realidade.
E é tão lindo experienciá-la, senti-la, porque ela o liberta da multidão, do outro.
É a nossa libertação do medo de estarmos sós.
Apenas a palavra “só” imediatamente o lembra de que ela é como uma ferida: é
necessário cobri-la com alguma coisa.
É um vazio e dói.
É preciso colocar algo dentro dele.
“Solitude” — a própria palavra — não tem o mesmo sentido de uma ferida, de
um vazio que deve ser preenchido.
Solitude significa simplesmente ser completo.
Você é inteiro; não é preciso ninguém mais para completá-lo.
Assim, tente descobrir seu centro mais profundo, onde você está sempre só,
sempre esteve só.
Na vida, na morte, seja onde você estiver, você estará só.
Mas é tão pleno — não é vazio —, é tão pleno, tão completo e tão transbordante
com todas as seivas da vida, com todas as belezas e bênçãos da existência,
que, tendo provado sua solitude, a dor no coração desaparecerá.
Em seu lugar, um novo ritmo de imensa suavidade, paz, contentamento e bem-
aventurança estará presente.
Isso não significa que uma pessoa que está centrada em sua solitude, completa
em si mesma, não possa fazer amigos — na realidade, somente ela pode fazer
amigos, porque agora essa não é mais uma necessidade, é simplesmente um
compartilhar.
Ela tem tanto, ela pode compartilhar.
Nós somos parte de uma existência.
Não importa quem você esteja ferindo, no final das contas você está ferindo a si
mesmo.
Você pode não se dar conta disso hoje, mas um dia, quando você se tornar mais
consciente, você dirá: “Meu Deus!
Esta ferida foi causada por mim — em mim mesmo.
Você feriu outra pessoa pensando que as pessoas são diferentes.
Ninguém é diferente.
Esta existência inteira é uma unidade cósmica.
A não-violência resulta dessa compreensão.
Quando você está com raiva, você está se punindo.
Você está em brasas, você está destruindo seu coração e as mais elevadas
qualidades dele — e você está cheio de ódio.
O ser humano está preenchido se ele está em harmonia com o Universo.
Se ele não está em harmonia com o Universo, ele está então vazio,
completamente vazio; e desse vazio vem a cobiça.
A cobiça é para preencher o vazio — com dinheiro, com casas, com mobília, com
amigos, com amores, com qualquer coisa, porque você não pode viver como um
vazio.
É aterrorizante.
É uma vida fantasma.
Se você está vazio e não há nada dentro de você, é impossível viver.
Para ter a sensação de que você tem muito dentro de si, existem somente dois
caminhos.
Você entra em harmonia com o Universo... então você é preenchido com o todo,
com todas as flores e com todas as estrelas.
Esse é o verdadeiro preenchimento.
Mas, se você não fizer isso — e milhões de pessoas não estão fazendo —,
existirá apenas o caminho de encher-se com qualquer lixo.
A cobiça significa simplesmente que você está sentindo um profundo vazio e
quer preenchê-lo com qualquer coisa possível; não importa o quê.
Uma vez que você tenha compreendido isso, você não se importa com a cobiça.
Você se importa em chegar à comunhão com o todo, de modo que o vazio interior
desapareça.
Todo o passado da humanidade tem exaltado a pobreza, tornando-a
equivalente à espiritualidade, o que é um completo absurdo.
A espiritualidade é a maior riqueza que pode acontecer a uma pessoa.
Ela contém todas as outras riquezas.
Ela não é contrária a qualquer outra riqueza, é simplesmente contra todos os
tipos de pobreza.
Por um lado, as pessoas respeitam a pobreza e por outro lado dizem: “Ajude os
pobres”.
Estranho!
Se a pobreza é tão espiritual, então a coisa mais espiritual será tornar pobres
todos os ricos.
Ajude o rico a ser pobre para que ele possa tornar-se espiritual.
Por que ajudar os pobres?
Você quer destruir a espiritualidade deles?
Viver em abundância é a única espiritualidade no mundo.
Dinheiro é um assunto carregado pela simples razão de que não fomos capazes
de achar um sistema sadio, no qual o dinheiro possa ser um servo para toda a
humanidade, e não um mestre para poucas pessoas gananciosas.
Dinheiro é um assunto carregado porque a psicologia do homem é cheia de
cobiça.
Caso contrário, o dinheiro é um simples meio de trocar coisas, um meio perfeito;
não há nada de errado nele.
Mas a maneira como o fazemos funcionar parece ser totalmente errada.
Se você não tem dinheiro, você é condenado, toda sua vida é uma maldição.
E a vida inteira você fica tentando ter dinheiro por qualquer meio.
Se você tem dinheiro, isso não muda a coisa básica — você quer mais e não há
fim para o querer mais.
E quando finalmente tem tanto dinheiro — embora não seja o suficiente, nunca
é o suficiente, mas é mais do que tem qualquer outra pessoa — você começa a
se sentir culpado, porque os meios que usou para acumular dinheiro são feios,
desumanos, violentos.
Você explorou, sugou o sangue das pessoas, foi um parasita.
Então agora você tem o dinheiro, mas ele o faz lembrar-se de todos os crimes
que cometeu ao ganhá-lo.
Isso cria dois tipos de pessoa: o que começa a fazer doações para instituições
de caridade a fim de se livrar da culpa e o que se sente tão culpado que ou fica
louco ou se suicida.
Sua própria existência torna-se simplesmente angústia.
Cada respiração se torna pesada.
E o estranho é que ele trabalhou a vida inteira para conseguir todo esse dinheiro,
porque a sociedade provoca o desejo, a ambição de ser rico, de ser poderoso.
E o dinheiro traz poder; ele pode comprar tudo, exceto aquelas poucas coisas
que não podem ser compradas.
Mas ninguém se importa com aquelas coisas.
A meditação não pode ser comprada, nem o amor, nem a amizade, nem a
gratidão pode ser comprada — mas ninguém se preocupa com essas coisas.
Simplesmente olhe para a existência e sua abundância.
Qual é a necessidade de tantas flores no mundo?
Apenas rosas bastariam.
Mas a existência é farta — milhões e milhões de flores, milhões de pássaros,
milhões de animais — tudo em abundância.
A natureza não é ascética; ela está dançando em toda parte — no oceano, nas
árvores.
Está cantando em toda parte — no vento passando através dos pinheiros, nos
pássaros...
Qual é a necessidade de milhões de sistemas solares, de que cada sistema solar
tenha milhões de estrelas?
Parece que não há necessidade, exceto que a abundância é a própria natureza
da existência, que a riqueza é a sua própria essência, que a existência não
acredita em pobreza.
Não considero a cobiça um desejo.
Ela é uma enfermidade existencial.
Você não está em harmonia com o todo; e somente essa harmonia com o todo
pode torná-lo virtuoso.
Para mim a cobiça não é absolutamente um desejo, então você não precisa fazer
nada a respeito.
Você tem de compreender esse vazio que você está tentando preencher e fazer
a pergunta: Por que estou vazio?
A existência toda é tão repleta, por que estou vazio?
Talvez eu tenha me extraviado, não estou mais andando na mesma direção.
Não sou mais existencial — essa é a causa do meu vazio”.
Então seja existencial, flua e mova-se para mais perto da existência, em silêncio
e paz, em meditação.
E um dia você perceberá que está tão pleno, muitíssimo pleno, transbordando
de contentamento, de êxtase, de bênçãos.
Você tem tanto que pode dar para o mundo inteiro e mesmo assim não se
esgotará.
Nesse dia, pela primeira vez, você não sentirá nenhuma cobiça — por dinheiro,
por comida, por coisas — por nada.
Você viverá, não com uma ambição que não pode ser preenchida, com uma
ferida que não pode ser curada; você viverá com naturalidade e o que for preciso
você encontrará.
Todos se sentem inferiores, de uma maneira ou de outra.
E o motivo é que não aceitamos que cada um é único.
Não é uma questão de inferioridade ou superioridade.
Cada um é único à sua maneira — comparar não é o caso.
Nós não temos permitido às pessoas se aceitarem como são.
No momento em que você se aceita como é, sem nenhuma comparação, toda
inferioridade, toda superioridade desaparece.
Na aceitação total de si mesmo, você se livrará desses complexos de
inferioridade e superioridade.
Caso contrário, você sofrerá a sua vida inteira.
E eu não consigo imaginar uma pessoa que possa ter tudo neste mundo.
As pessoas tentaram e falharam totalmente.
Simplesmente seja você mesmo e isso é o bastante.
Você é aceito pelo Sol, você é aceito pela Lua, você é aceito pelas árvores, você
é aceito pelo oceano, você é aceito pela Terra.
O que mais você quer?
Você é aceito por todo este Universo.
Deleite-se nele.
Ser aprovado e ser reconhecido são necessidades de todos.
Toda a nossa vida é estruturada de tal maneira que, a menos que haja
reconhecimento, não somos ninguém, não temos valor.
Nosso trabalho não é importante, mas o reconhecimento sim.
E isso está colocando as coisas de cabeça para baixo.
Nosso trabalho deveria ser importante — uma alegria em si mesmo.
Você deveria trabalhar não para ser reconhecido, mas porque você sente prazer
em ser criativo.
Você aprecia o trabalho pelo próprio trabalho.
Você trabalha se você aprecia o trabalho.
Não espere o reconhecimento.
Se ele vier, não dê muita importância.
Se ele não vier, não pense a respeito.
Sua satisfação deveria ser com o próprio trabalho.
Se todos aprendessem esta simples arte — de gostar do seu trabalho, seja ele
qual for, divertindo-se com ele, sem esperar nenhum reconhecimento —,
teríamos um mundo mais lindo e celebrativo.
Não sendo assim, o mundo o prende a um padrão de miséria.
Aquilo que você está fazendo não é bom porque você gosta, porque você o faz
com perfeição, mas porque o mundo reconhece isso, recompensa-o, dá-lhe
medalhas de ouro, prêmios Nobel.
Todo o valor intrínseco da criatividade foi tirado e milhões de pessoas foram
destruídas — porque você não pode dar milhões de prêmios Nobel.
E você criou o desejo pelo reconhecimento em todos, assim ninguém pode
trabalhar em paz, silenciosamente, apreciando seja lá o que for que esteja
fazendo.
E a vida consiste de pequenas coisas.
Para essas pequenas coisas não há recompensas, títulos dados pelos governos,
graus honorários dados pelas universidades.
Qualquer pessoa que tenha algum senso de sua individualidade vive pelo seu
próprio amor, pelo seu próprio trabalho, sem se importar absolutamente com o
que os outros pensam disso.
O contentamento não está no fato de completar algo; o contentamento está no
fato de que você o desejou com tal intensidade que, enquanto o estava fazendo,
você esqueceu tudo, o mundo inteiro; ele era o único foco de todo o seu ser.
E aí estão seu êxtase e sua recompensa — não na conclusão, não na
permanência de qualquer coisa.
Nesse fluxo mutável da existência, temos de encontrar a cada momento sua
própria recompensa.
Seja o que fizemos, demos o melhor de nós, não fomos parciais.
Não estávamos segurando nada, mas colocando todo o nosso ser no ato.
É aí que está nosso êxtase.
É um fato que cada um é único e cada um tem certa individualidade.
Temos apenas de abandonar as idéias de como as pessoas deveriam ser e
substituí-las pela filosofia de que, sejam como forem, elas são lindas.
Não existe a questão do “deveria ser”, porque quem somos nós para impor
qualquer “deveria” em alguém?
Se a existência o aceita como você é, então quem sou eu para não aceitá-lo?
Assim, simplesmente uma mudança de atitude — e é uma coisa muito simples,
uma vez que faça parte de sua maneira de ver: cada um é único, cada um é da
maneira que é e deveria ser.
Não é preciso que ele seja outra pessoa para ser aceito; ele já é aceito.
A isso eu chamo respeito pela individualidade, respeito pelas pessoas — como
elas são.
A humanidade toda pode ser muito amorosa e alegre se pudermos aceitar as
pessoas como elas são.
Um comunismo que resulte do amor, da inteligência, da generosidade será
verdadeiro.
Um comunismo que vem através da força é falso.
Não há uma só pessoa no mundo, por mais pobre, que não tenha nada a
oferecer.
Por que não criar uma vida na qual o dinheiro não determine uma hierarquia,
mas simplesmente dê mais e mais oportunidades para todos?
As pessoas autoritárias são as pessoas que têm complexo de inferioridade.
Para esconder sua inferioridade, elas impõem sua superioridade.
Elas querem provar que são alguém, que a palavra delas é a lei.
Mas bem no fundo elas são seres muito inferiores.
A natureza certamente não tem hierarquia.
A hierarquia é um jogo da mente humana, porque sem ela o ego não se nutre;
ele morre.
Na natureza tudo tem uma oportunidade, um espaço e ninguém é o chefe.
Ninguém é mestre e ninguém é escravo.
A natureza funciona quase como uma unidade orgânica na qual a individualidade
não é perdida, mas na qual o ego não tem chance de desenvolver-se; por isso
as árvores não têm ego, os pássaros não têm ego, os animais de todas as
espécies não têm ego.
O problema surge com o ser humano.
Éum privilégio do ser humano — somente do ser humano — ser só, colocando-
se contra o mundo inteiro se ele sente que está com a verdade.
Se você sente que esse é o caminho que leva à liberdade, aceite então qualquer
tipo de responsabilidade.
Todas essas responsabilidades não vão ser uma carga para você.
Todas elas vão torná-lo mais maduro, mais centrado, mais enraizado, um
indivíduo mais lindo.
Você tem apenas um momento em suas mãos — o momento real. E você não
terá esse momento de volta. Ou você o vive ou o deixa sem viver.
Toda criança compreende que vê o mundo de maneira diferente da de seus
pais.
Isso está absolutamente certo no que se refere à percepção.
Seus valores são diferentes.
A criança pode estar pegando conchinhas na praia e seus pais dirão: “Jogue-as
fora.
Por que você está perdendo tempo?”
E para a criança as conchinhas eram tão lindas!
Ela pode perceber a diferença, pode perceber que seus valores são diferentes.
Os pais estão correndo atrás de dinheiro; ela quer colecionar borboletas.
Ela não consegue perceber por que eles estão tão interessados em dinheiro: “O
que vocês vão fazer com ele?”
E seus pais não conseguem perceber o que ela vai fazer com essas borboletas
ou com essas flores.
Toda criança fica sabendo disto, que existem diferenças.
O único problema é que ela tem medo de afirmar que está certa.
No que se refere à criança, ela deveria ser deixada em paz.
É uma questão de apenas um pouco de coragem — que tampouco está faltando
nas crianças, mas simplesmente toda a sociedade funciona de uma tal maneira
que mesmo uma linda qualidade como a coragem será condenada numa criança.
Se os pais amam verdadeiramente as crianças, eles as ajudarão a ser corajosas
— até corajosas contra eles.
Eles as ajudarão a ser corajosas contra os professores, contra a sociedade,
contra qualquer um que vá destruir sua individualidade.
Lembre-se de nunca fazer concessões.
Fazer concessões é absolutamente contra toda a minha visão.
Veja as pessoas — elas são infelizes porque fizeram concessões em todos os
pontos e não podem se perdoar por as terem feito.
Elas sabem que poderiam ter arriscado, mas se mostraram covardes, aos
próprios olhos elas caíram, perderam o auto-respeito.
É isso que o fazer concessões causa.
Por que deveríamos fazer concessões?
O que temos a perder?
Nesta pequena vida, viva tão totalmente quanto possível.
Não tenha medo de ir ao extremo.
Você não pode ser mais do que total — essa é a última linha.
E não faça concessões.
Toda a sua mente falará em favor das concessões, porque assim fomos
educados, condicionados.
“Fazer concessões” é uma das expressões mais feias em nossa linguagem.
Significa: “Eu dou metade, você dá metade; eu deixo por meio, você deixa por
meio”.
Mas por quê?
Quando você tem o todo, quando você pode comer o bolo e tê-lo também, por
que então fazer acordo?
Simplesmente um pouco de coragem, simplesmente um pouco de atrevimento
— e isso apenas no começo.
Uma vez que você tenha experienciado a beleza de não fazer concessões e a
dignidade, a integridade e a individualidade que isso traz, pela primeira vez você
sentirá que tem raízes, que vive a partir de um centro que é seu.
A pessoa infeliz é facilmente escravizada.
A pessoa alegre, a pessoa extática, não pode ser escravizada.
Por que não criar uma vida em que o sexo não traga experiências amargas,
ciúmes, fracassos; em que o sexo se torne simplesmente diversão — nada mais
do que qualquer outro jogo, simplesmente um jogo biológico?
Você joga tênis; isso não significa que por toda a sua vida você tenha de jogar
tênis com o mesmo parceiro.
A vida deveria ser mais rica.
Somente um pouco de compreensão é necessária e o amor não será um
problema, o sexo não será um tabu.
A mente é simplesmente uma coleção de memórias do passado e, a partir
dessas memórias, imaginações sobre o futuro.
Use toda a oportunidade na vida para elevar sua inteligência, sua consciência.
Em geral o que estamos fazendo é usar cada oportunidade para criar um inferno
para nós mesmos.
Somente você sofre e, devido a seu sofrimento, você faz os outros sofrer.
Quando muitas pessoas que estão vivendo juntas criam sofrimento umas em
relação às outras, ele vai se multiplicando.
Dessa maneira é que o mundo todo se tornou um inferno.
Isso pode ser mudado instantaneamente; simplesmente a coisa básica tem de
ser entendida: sem inteligência, não existe paraíso.
A função dos pais não é ajudar os filhos a crescer; eles crescerão sem você.
Sua função é apoiar, nutrir, ajudar o que já está crescendo.
Não dê direções e não dê ideais.
Não lhes diga o que está certo e o que está errado — deixe-os descobrir pela
própria experiência.
A idéia toda de que os filhos são sua propriedade está errada.
Eles nascem através de você, mas não pertencem a você.
Você tem um passado; eles têm somente um futuro.
Eles não vão viver à sua maneira.
Viver à sua maneira será quase equivalente a não viver absolutamente.
Eles têm de viver de acordo com eles mesmos— em liberdade, em
responsabilidade, em perigo, em desafio.
Uma vez que você entenda que seus filhos não lhe pertencem, que eles
pertencem à existência e você foi simplesmente uma passagem, você tem de
ser grato à existência por havê-lo escolhido para ser uma passagem para umas
poucas crianças lindas.
Não interfira no crescimento delas, no seu potencial.
Não se imponha sobre elas.
Elas não vão viver nos mesmos tempos, não vão se defrontar com os mesmos
problemas.
Elas vão ser parte de um outro mundo.
Não as prepare para este mundo, esta sociedade, este tempo, porque então
você estará criando problemas para elas.
Elas se sentirão deslocadas, não qualificadas.
A crueldade é um mal-entendido.
Ela surge em nós devido ao medo da morte.
Nós não queremos morrer, assim, antes que outra pessoa o mate, você gostaria
de matá-la — porque o melhor método de defesa é o ataque.
E você não sabe quem vai atacá-lo.
No reino animal, no mundo humano, existe uma tremenda competição; então as
pessoas simplesmente seguem atacando, não interessando a quem atacam ou
se seriam realmente atacadas.
Mas não há um modo de descobrir — é melhor não se arriscar.
Quando você ataca alguém, seu coração vai se tornando, bem lentamente, cada
vez mais duro e você começa a ter prazer em atacar.
O fenômeno pode ser visto nos animais, devido à mesma competição por
comida, por poder...
A crueldade nada mais é do que um espírito competitivo para ser o primeiro.
Se isso significa violência, então que seja violência, mas a pessoa tem de ser a
primeira.
Isso ocorre nos animais, ocorre no homem.
Mas por que essa corrida para ser o primeiro?
A razão existencial é a morte.
A crueldade somente desaparece — e é desse modo que eu encontro pista
sobre por que existe crueldade — quando você sabe que a morte não existe.
Quando você experiencia algo imortal em você, toda a crueldade desaparece.
Então não tem importância; você não precisa correr, você pode deixar o outro ir
à sua frente, porque o pobre-coitado não sabe que o mundo é infinito, que a vida
é infinita.
Não há maneira de perder nada; se não acontecer hoje, acontecerá amanhã.
Mas você não pode perder nada, se você entender.
Na realidade, ao lutar e ser cruel e violento com o outro, você pode perder muito,
porque todo esse processo o endurecerá, fará de seu coração uma pedra.
E o coração, tornado pedra, vai perder tudo o que é grandioso, tudo o que é belo,
tudo o que é extático.
É difícil explicar aos animais.
Mas o verdadeiro problema é que também é difícil explicar aos seres humanos
que através da competição, da ambição violenta, chegando sempre em primeiro
lugar você está criando um mundo insano no qual ninguém desfruta nada e todos
permanecem pobres.
A única maneira de fazer as pessoas entender é ajudando-as a sentir o ser
imortal delas, e imediatamente toda a crueldade desaparecerá.
É a idéia de uma vida curta que está criando o problema.
Se você tem infinidade em ambos os extremos — passado e futuro —, não há
necessidade de ter pressa, nem necessidade de competir.
A vida é tamanha e tão completa... você não pode exauri-la.
Aqueles que querem apenas pensar sobre a vida, sobre o viver, sobre o amor
— para eles o passado e o futuro são perfeitamente belos, porque lhes dão uma
oportunidade perfeita.
Eles podem decorar seu passado, torná-lo tão lindo quanto queiram — embora
eles nunca o tenham vivido.
Quando ele estava presente, eles não estavam lá.
Essas são apenas sombras, reflexos.
Eles estavam correndo continuamente e, enquanto corriam, viram algumas
coisas que eles pensam que viveram.
No passado, somente a morte é a realidade, não a vida.
No futuro também, somente a morte é a realidade, não a vida.
Para preencher o vazio, aqueles que perderam o viver no passado começam
automaticamente a sonhar sobre o futuro.
O futuro deles é somente uma projeção resultante do passado.
Tudo o que eles perderam no passado, esperam encontrar no futuro; e entre
essas duas inexistências está o pequeno momento existente, que é a vida.
Considera-se que o tempo se divide em três partes — o passado, o presente e
o futuro —, o que está errado.
O tempo consiste somente de passado e futuro.
É a vida que consiste do presente.
Assim, para aqueles que querem viver, não existe outra maneira a não ser viver
este momento.
Somente o presente é existencial.
O passado é simplesmente uma coleção de memórias e o futuro nada é além de
sua imaginação, de seus sonhos.
A realidade está aqui e agora.
O presente não tem nada a ver com tempo.
Se você está simplesmente aqui neste momento, não existe o tempo.
Existe imenso silêncio, quietude, ausência de movimento; nada está passando,
tudo subitamente parou.
O presente lhe dá a oportunidade de mergulhar fundo na água da vida, ou de
voar alto no céu da vida.
Mas em ambos os lados existem perigos — “passado” e “futuro” são as palavras
mais perigosas na língua humana.
Entre o passado e o futuro, viver no presente é quase como caminhar numa
corda bamba; existe perigo em ambos os lados.
Mas, uma vez que você tenha saboreado os néctares do presente, você não se
importa com perigos.
Uma vez que você esteja em sintonia com a vida, então nada importa.
E, para mim, a vida é tudo o que existe.
Para aqueles que querem viver — não pensar a respeito, mas amar; não pensar
a respeito, mas ser; não filosofar a respeito —, não existe alternativa além de
beber o néctar do presente momento.
Beba-o completamente, porque ele não vai voltar.
Quando vai embora, vai-se para sempre.
A vida se estende por setenta, oitenta anos; a morte acontece em um único
momento.
Ela é tão condensada que, se você viveu sua vida corretamente, você será capaz
de penetrar no mistério da morte.
E o mistério da morte é que ela é apenas uma fachada; dentro está sua
imortalidade, sua vida eterna.
Não penso muito sobre o futuro porque o futuro nasce do presente.
Se pudermos cuidar do presente, estaremos cuidando do futuro.
O futuro não virá do nada; ele vai surgir deste momento.
Se este momento é belo, silencioso, extático, o próximo momento será
necessariamente mais silencioso, mais extático.
Para mim, a seriedade é uma doença; e o senso de humor torna você mais
humano, mais humilde.
O senso de humor, a meu ver, é uma das partes mais essenciais da
religiosidade.
O ser humano não precisa transcender a natureza.
Eu digo a você: ele tem de realizar a natureza — o que nenhum animal pode
fazer.
Essa é a diferença.
Você nasce como um ser natural.
Você não pode ir acima de você mesmo.
É como puxá-lo para cima puxando-o pelas pernas.
Talvez você possa saltar um pouco, mas, mais cedo ou mais tarde, você vai cair
no chão e talvez tenha algumas fraturas.
Você não pode voar.
E isso é o que tem sido feito: as pessoas têm tentado elevar-se acima da
natureza, o que significa acima delas mesmas.
Mas elas não são separadas da natureza.
O ser humano tem a capacidade, a inteligência, a liberdade para vivenciar — se
você vivenciou totalmente a natureza, você chegou em casa.
A natureza é a sua casa.
Uma das leis básicas da vida é que tudo o que é mais elevado é muito
vulnerável.
As raízes de uma árvore são muito fortes, mas as flores não são.
As flores são muito vulneráveis — simplesmente uma brisa forte e a flor pode ser
destruída.
O mesmo é verdadeiro a respeito da consciência humana.
O ódio é muito forte, mas não o amor.
O amor é exatamente como uma flor — facilmente esmagada por qualquer
pedra, destruída por qualquer animal.
Os valores mais elevados da vida devem ser protegidos.
Os valores mais baixos têm uma certa proteção própria.
Uma pedra não precisa ser protegida, mas, bem a seu lado, a rosa na roseira
tem de ser protegida.
A pedra é morta, não pode tornar-se mais morta.
Ela não precisa de proteção.
Mas a rosa é tão viva, tão linda, tão colorida, tão atraente.
Esse é o perigo — é a sua força, mas é também um convite ao perigo.
Alguém pode colhê-la.
Ninguém apanhará a pedra, mas a rosa pode ser colhida.
O amor deveria ser feito no ápice e isso requer certa disciplina.
As pessoas têm usado disciplina para não fazer amor.
Eu ensino disciplina para fazer amor da maneira certa, de modo que seu amor
não seja apenas algo biológico que nunca alcança o seu mundo psicológico.
O amor tem potencial para alcançar até mesmo o seu mundo espiritual e, no seu
ápice, ele irá alcançar o seu mundo espiritual.
O orgasmo não é algo necessário à reprodução.
É algo que abre uma janela à evolução superior da consciência.
A experiência do orgasmo é sempre não-sexual.
Mesmo que você a tenha alcançado através do sexo, o orgasmo em si não tem
sexualidade.
Isso dá o insight de que pode haver possibilidades de alcançá-lo através de
meios não-sexuais, porque o orgasmo em si não é sexual, e assim a sexualidade
não é necessariamente o único caminho.
Quem pela primeira vez experienciou isso deve ter concluído que podem existir
outras maneiras de alcançar o orgasmo — porque o sexo não é necessariamente
uma parte nele.
Ele não deixa nenhuma cor, nenhuma impressão de sexo em si.
Ele deve ter observado como o orgasmo acontece e então as coisas ficam muito
claras: no momento em que o orgasmo acontece, o tempo pára, você esquece
o tempo.
Sua mente pára, você deixa de pensar.
Existe uma imensa tranquilidade e uma enorme consciência.
Qualquer observador passando pela experiência naturalmente pensará: “Se
estas coisas podem ser obtidas sem sexo — consciência, ausência de
pensamento, ausência de tempo —, você alcançará o estado orgásmico
desviando-se da sexualidade”.
E é assim que eu entendo: essa é a maneira pela qual o ser humano deve ter
descoberto pela primeira vez a meditação.
A liberdade simplesmente o torna absolutamente responsável por tudo o que
você é e o que você vai vir a ser.
Existem pessoas que ficam com raiva; essas são as pessoas que criam
revoluções, mudanças na sociedade, no Estado.
Mas todas as suas revoluções fracassaram, porque qualquer coisa que resulte
da raiva está vindo da ignorância.
Isso não vai criar uma mudança autêntica.
Mudar para melhor a partir da raiva é impossível.
Eu quero que você se lembre de uma coisa — de que a tristeza é simplesmente
a raiva de cabeça para baixo.
Ela não é diferente; é a raiva reprimida.
Se você a analisar, você verá então o fato.
A tristeza pode mudar para a raiva muito facilmente; a raiva pode mudar para a
tristeza da mesma maneira.
Elas não são duas coisas... talvez dois lados da mesma moeda.
O mundo está triste, está em miséria.
Existe enorme sofrimento no coração das pessoas.
Mas você não precisa ficar triste com isso, pela simples razão de que ficando
triste você se junta a elas, cria mais tristeza.
Isso não é uma ajuda.
É simplesmente como se as pessoas estivessem doentes e você visse a doença
delas e também ficasse doente.
Sua doença não vai torná-las saudáveis; está simplesmente criando mais
doença.
Sensibilizar-se com a doença delas significa buscar as causas, buscar o que está
criando todo o sofrimento e miséria e ajudá-las a remover essas causas.
E, ao mesmo tempo, você tem de permanecer o mais alegre possível, porque
sua alegria vai ajudá-las, não sua tristeza.
Você tem de estar alegre.
Elas precisam saber que existe uma possibilidade de se estar feliz neste mundo
triste...
A raiva é sempre um sinal de fraqueza.
As épocas de catástrofes tornam você consciente da realidade tal como ela é.
Ela é sempre frágil, todos estão sempre em perigo.
Só que nas épocas comuns você está profundamente adormecido, então não
percebe isso.
Você fica sonhando, imaginando lindas coisas para os dias que virão, para o
futuro.
E nos momentos em que o perigo é iminente você então subitamente se torna
consciente de que talvez não haja futuro, não haja manhã, de que este é o único
momento que você tem.
As épocas de catástrofes são muito reveladoras.
Elas não trazem nada de novo ao mundo, simplesmente o tornam consciente do
mundo como ele é.
Elas despertam você.
Se você não compreender isso, você pode ficar louco; se você compreender
isso, você pode acordar.
Ficar preocupado não tem razão de ser, porque você estará apenas perdendo
esse momento e não ajudará ninguém.
Assim, este é o segredo de como transcender o perigo: comece a viver mais
completa e totalmente, com mais atenção, de modo que você possa encontrar
dentro de você algo que é intocável pela morte.
Esse é o único abrigo, a única segurança, a única garantia.
Então é somente uma questão de como usar tudo.
Seja o que for, use-o corretamente.
O desastre é enorme, o perigo é enorme, mas enorme também é a oportunidade.
Nenhuma ilusão pode sustentar-se contra a realidade.
A realidade vai esmagá-la mais cedo ou mais tarde.
A função de um pai ou de uma mãe é grandiosa, porque eles estão trazendo
um novo convidado para este mundo — que nada sabe, mas traz algum potencial
com ele. A menos que seu potencial se desenvolva, ele ficará infeliz; e nenhum
pai ou mãe pode conceber que seus filhos fiquem infelizes.
Os pais querem que seus filhos sejam felizes — só que seu modo de pensar está
errado.
Eles pensam que se seus filhos se tornarem doutores, se eles se tornarem
professores, engenheiros, cientistas, então eles serão felizes.
Eles não sabem.
Seus filhos somente podem ser felizes se eles se tornarem aquilo a que vieram
para se tornar.
Eles apenas podem se tornar a semente que estão carregando dentro de si.
Julgamentos são feios — ferem as pessoas.
Por um lado você as continua ferindo, machucando e por outro lado você quer o
amor delas, o respeito delas.
Isso é impossível.
Ame-as, respeite-as e talvez seu amor e respeito possam ajudá-las a mudar
muitas das suas fraquezas, muitas das suas falhas, porque o amor dará a elas
uma nova energia, um novo significado, uma nova força.
O amor dará a elas novas raízes para que se mantenham em pé contra o vento
forte, o sol quente, as chuvas pesadas.
Sempre que houver uma questão de escolha, a cabeça não pode ser escolhida
contra o coração.
O coração é o seu relacionamento com a existência e a cabeça é o seu
relacionamento com a sociedade.
Se você está triste, você está errado; se você está alegre, você está certo.
Quando digo: seja animado, seja feliz, alegre-se com o fato de que você não
está na posição de ser miserável e estar sofrendo, tenho um determinado
propósito por detrás disso.
O propósito é que você tem de se tornar um exemplo para aquelas pessoas que
esqueceram completamente que a vida pode também ser uma celebração.
Apesar de toda a escuridão, você ainda pode se livrar dela, você ainda pode
dançar.
A escuridão não pode impedir sua dança; ela não tem força para impedi-lo.
Para mim, esse é o verdadeiro servir.
A mente deveria ser treinada para ser uma serva do coração.
A lógica deveria servir o amor.
E então a vida pode tornar-se um festival de luzes.
O antigo ditado “Como acima, assim abaixo”, ou vice-versa, contém uma das
verdades mais básicas sobre o misticismo.
Significa que não existe acima, não existe abaixo, que a existência é una.
As divisões são criadas pela mente.
A existência é indivisível.
As divisões são nossas projeções e nós ficamos tão identificados com elas que
perdemos o contato com o todo.
Nossa mente é simplesmente uma pequena janela abrindo-se para o vasto
universo, mas, quando você olha sempre da janela, a esquadria emoldura o céu
lá fora.
Embora não exista moldura no céu — ele é imoldurável —, para a sua percepção
a esquadria da janela torna-se a moldura da existência.
É como acontece de vez em quando com as pessoas que usam óculos,
procurando por eles tendo-os no nariz.
Elas até mesmo esqueceram que não podem ver sem os óculos, e, se estão
olhando e vendo, isso é a certeza absoluta de que os óculos estão no lugar.
Mas se você usa óculos durante anos, aos poucos, lentamente, eles se tornam
parte de você, tornam-se seus olhos.
Você não pensa neles como algo separado de você.
Mas cada par de óculos pode dar sua própria cor às coisas.
Você é quem vê por detrás — os óculos não podem ver por si mesmos.
As coisas fora não têm a cor que os óculos estão impondo sobre elas, mas você
se tornou tão identificado com os óculos...
A mente do ser humano é também apenas um instrumento.
Os óculos estão fora do esqueleto, a mente está dentro do esqueleto, de modo
que você não pode tirá-la todo o dia.
E você está tão perto dela, lá dentro, que a própria proximidade se tornou a
identificação.
Assim, tudo aquilo que a mente vê é julgado como sendo a realidade.
E a mente não pode ver a realidade; a mente pode ver apenas seus próprios
preconceitos.
Ela pode ver suas próprias projeções exibidas na tela do mundo.
No mundo, o maior inimigo da verdade é a pessoa erudita — e o maior amigo
é aquele que sabe que nada sabe.
Nós fomos mandados, ensinados, programados de tal maneira que mesmo algo
como o amor tem de ser mental.
O amor é basicamente do coração, mas toda a nossa sociedade tem tentado
desviar-se do coração, porque ele não é lógico, não é racional.
Para a nossa mente, que foi treinada através da educação, qualquer coisa ilógica
está errada, qualquer coisa irracional está errada; somente algo lógico está certo.
E na nossa programação educacional não existe lugar para o coração; apenas
para a mente.
O coração foi praticamente removido da nossa existência, silenciado.
Nunca lhe foi dada uma chance para crescer, para que seu potencial se realize.
Assim, a mente está dominando.
A mente é boa no que se refere ao dinheiro, a mente é boa no que se refere à
guerra, a mente é boa no que se refere às ambições; mas a mente é
absolutamente inútil no que se refere ao amor.
Dinheiro, guerra, desejo, ambições — você não pode colocar o amor na mesma
categoria.
O amor tem uma nascente separada em seu ser, na qual não existe contradição.
Uma educação autêntica não ensinará apenas à sua mente — porque a mente
pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas não uma vida boa.
O coração não pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas pode dar-
lhe uma boa vida.
E não há razão para escolher entre ambos: use a mente para o que ela é feita e
use o coração para o que ele é feito.
As religiões, os políticos, os negociantes, os soldados — todos querem que a
mente seja treinada.
E o coração pode ser uma perturbação, ele vai ser uma perturbação.
Se você é um soldado e tem coração, você não pode matar o inimigo.
No momento em que você pega em sua arma para matar alguém, seu coração
dirá: “Assim como você tem uma esposa à sua espera — seus filhos, sua velha
mãe e seu velho pai —, a mulher deste pobre homem deve estar esperando
também; seus filhos, sua velha mãe e seu velho pai devem estar esperando que
ele volte para casa”.
Ele não lhe fez nada e você vai matá-lo.
Para quê?
Para ganhar uma condecoração da academia militar?
Para ser promovido?
Se você imagina a sociedade tornando-se uma sociedade ideal, um paraíso,
parece ser impossível; existem tantos conflitos e parece não haver maneira de
harmonizá-los.
Uma sociedade humana harmoniosa é possível, deveria ser possível, porque
será a melhor oportunidade para todos crescerem, a melhor oportunidade para
cada um ser ele mesmo.
As mais fecundas possibilidades estarão à disposição de todos.
Então parece que da maneira que está a sociedade é absolutamente estúpida.
Os utopistas não são sonhadores, mas os seus assim chamados realistas, que
condenam os utopistas, são estúpidos.
Ambos, porém, estão de acordo em um ponto — que alguma coisa precisa ser
feita na sociedade.
Todos eles estão preocupados com a sociedade — e essa é a falha deles.
Como eu a vejo, a utopia não é algo que não vai acontecer — é algo que é
possível, mas deveríamos ir às causas, não aos sintomas.
E as causas estão nos indivíduos, não na sociedade.
O ser humano esqueceu quem ele verdadeiramente é.
Praticamente tornou-se auto-hipnotizado com uma determinada idéia sobre si
mesmo e carrega essa idéia por toda sua vida, sem saber que isso não é ele,
mas somente uma sombra.
E você não pode realizar sua sombra.
Não há necessidade de nenhuma guerra, de nenhuma luta, não há necessidade
de ciúme, de ódio.
A vida é tão curta e o amor é tão precioso.
E quando você pode preencher sua vida com amor, com harmonia, com alegria,
quando você pode tornar sua vida uma poesia em si mesma...
Se você não o faz, somente você é responsável por isso, ninguém mais.
É apenas uma questão de compreensão; é necessário um simples insight para
não ser arrastado para baixo pelas forças da escuridão, da negatividade, da
destruição.
Simplesmente um pouco de atenção é necessária para devotar-se à criatividade,
ao amor, à sensibilidade e tornar esta pequena vida em uma série de canções
— de modo que você dance em sua vida e sua morte seja o crescendo de sua
dança; de modo que você viva totalmente e morra totalmente, sem queixas, mas
com agradecimento, com gratidão à existência.
Todos querem ser amados.
Esse é um começo errado.
E ele começa porque a criança, a pequena criança, não pode amar, não pode
dizer nada, não pode fazer nada — pode apenas receber.
A experiência de amor de uma criança pequena é a de receber — receber da
mãe, receber do pai, receber dos irmãos, irmãs, receber dos hóspedes, dos
estranhos, mas sempre receber.
Assim a primeira experiência se instala no fundo de seu inconsciente — de que
ela tem de receber amor.
Mas o problema surge porque todos foram crianças e todos têm a mesma ânsia
de receber amor; e ninguém nasce de uma maneira diferente.
Então todos estão pedindo: “Dê-nos amor” e não há ninguém para dar, porque a
outra pessoa foi também educada da mesma maneira.
Então é preciso estar alerta e consciente de que uma simples circunstância de
nascimento não deveria permanecer um constante estado predominante de sua
mente.
Em vez de pedir: “Dê-me amor”, comece a dar amor.
Esqueça sobre receber, simplesmente dê; e, eu lhe garanto, você receberá
muito.
A evolução funciona através de polaridades.
Assim como você não pode caminhar com uma só perna — você necessita de
duas pernas para caminhar —, a existência necessita de pólos opostos —
homem e mulher, vida e morte, amor e ódio — para criar o impulso; do contrário,
haverá silêncio.
O oposto por um lado o atrai e por outro lado faz você sentir-se dependente.
E ninguém quer ser dependente; por isso existe uma luta constante entre os
amantes.
Eles estão tentando dominar um ao outro.
O nome é amor, mas o jogo é política.
O esforço do homem é para dominar a mulher, para reduzi-la a um status inferior,
não permitir que ela cresça, de tal modo que ela sempre permaneça retardada.
A liberdade da mulher da escravidão pelo homem será também uma liberdade
que o homem vai experienciar.
Assim, eu digo que o movimento de liberação da mulher é não apenas de
liberação da mulher, mas também o movimento de liberação do homem; ambos
serão liberados.
A escravidão está amarrando a ambos e existe uma contínua luta.
A mulher encontrou suas estratégias próprias para atormentar o marido, para
ralhar com ele, para rebaixá-lo; e o homem tem sua própria estratégia.
E no meio desses dois campos de batalha estamos esperando que o amor
aconteça.
Passaram-se séculos — o amor não aconteceu, ou aconteceu apenas
raramente.
Esta é a situação do amor comum, que é apenas amor no nome, não uma
realidade.
Se você pergunta qual a minha visão do amor... não é mais uma questão de
dialética, de oposição.
O homem e a mulher são diferentes e complementares.
O homem sozinho é meio, assim como a mulher.
Somente juntos, num profundo sentimento de unicidade, eles sentem totalidade,
perfeição, pela primeira vez.
O que o homem tem feito à mulher, há milhares de anos, é simplesmente
monstruoso.
Ela não pode pensar em si mesma como igual ao homem.
E ela foi tão profundamente condicionada que, mesmo que você diga que ela é
igual, ela não vai acreditar.
Isso tornou-se quase a sua mente, o condicionamento de que ela é menos em
tudo — força física, qualidades intelectuais — tornou-se a sua mente.
E o homem que reduziu a mulher a tal estado também não pode amá-la.
O amor pode existir apenas em igualdade, em amizade.
Se você pode amar sem ciúme, se você pode amar sem apego, se você pode
amar tanto uma pessoa que a felicidade dela seja a sua felicidade — mesmo que
ela esteja com outra pessoa e seja feliz, isso faz você feliz, porque você a ama
tanto... a felicidade dela é a sua felicidade.
Você ficará feliz porque ela está feliz e você será grata à pessoa que tornou feliz
a pessoa que você ama — você não ficará com ciúme.
Então o amor chegou a uma pureza.
Esse amor não pode criar nenhum cativeiro.
E esse amor é simplesmente o abrir do coração a todos os ventos, ao céu inteiro.
O ciúme é muito complicado.
Existem muitos ingredientes nele.
Covardia é um deles; atitudes egoístas é outro; desejo monopolista — não uma
experiência de amor, mas somente de possessividade; uma tendência a ser
competitivo; um medo profundamente enraizado de ser inferior.
Tantas coisas estão envolvidas no ciúme.
Orisco deveria ser um dos fundamentos básicos de um verdadeiro ser humano.
No momento em que você vê que as coisas estão ficando estáveis, mova-as.
Você é uma turba, uma multidão.
Você simplesmente tem de olhar mais de perto, mais profundamente e
encontrará muitas pessoas dentro de você.
E todas elas, em algum momento, fingem ser você.
Quando está com raiva, uma determinada personalidade o possui e finge ser
você.
Quando está amando, então outra personalidade o possui e finge ser você.
Isso não é apenas confuso para você, mas também para todos que entram em
contato com você, porque eles não podem entender.
Eles mesmos são uma multidão.
E em cada relacionamento não são duas pessoas se casando, mas duas
multidões se casando.
Vai haver continuamente uma guerra, porque raramente acontecerá — apenas
por acidente — de a sua pessoa amorosa estar no comando e a pessoa amorosa
do outro estar no comando.
Se não for assim, vocês continuam se desencontrando.
Você está amoroso, mas o outro está triste, ou zangado, ou preocupado.
E quando ele está num estado amoroso você não está.
E não há maneira de provocar essas personalidades, elas se movem por conta
própria.
Existe uma determinada rotação dentro de você — se ficar observando, não
interfira com essas personalidades, porque isso criará mais bagunça, mais
confusão...
Simplesmente observe, porque, observando-as, você vai se tornar alerta de que
existe também um observador, que não é uma personalidade, diante do qual
essas personalidades vêm e vão.
E essa não é outra personalidade, porque uma personalidade não pode observar
outra personalidade.
Isso é algo muito interessante e muito básico: uma personalidade não pode
observar outra personalidade, porque elas não têm nenhuma alma.
É como suas roupas.
Você pode mudar suas roupas, mas suas roupas não conseguem saber que
estão sendo trocadas, que agora outra peça de roupa está sendo usada.
Você não é as roupas, então você pode mudá-las.
Você não é uma personalidade — por isso você pode tornar-se consciente
dessas inúmeras personalidades.
Mas isso também deixa muito claro um ponto: existe algo que fica observando
todo esse jogo de personalidades ao seu redor.
E esse algo é você.
Assim, observe essas personalidades, mas lembre-se de que seu estado de
alerta é sua realidade.
Se você pode permanecer alerta da personalidade, essas personalidades
começarão a desaparecer; elas não conseguem viver.
Elas precisam de identificação para permanecer vivas.
Se você está com raiva, é por que está se esquecendo de observar e está se
identificando com ela — se você observa então a raiva não tem vida; já está
morta, morrendo, desaparecendo.
Permaneça então cada vez mais concentrado em sua observação e todas essas
personalidades desaparecerão.
Quando não sobrar nenhuma personalidade, então a sua realidade — o mestre
— chegou em casa.
Então você se comporta sinceramente, autenticamente.
Então tudo o que fizer você faz totalmente, completamente — você nunca se
arrepende.
Você está sempre num humor festivo.
Muitos dos nossos problemas — talvez a maioria de nossos problemas —
existem porque nunca os olhamos face a face, nunca os enfrentamos.
E não olhar para eles está lhes dando energia, ter medo deles está lhes dando
energia, estar sempre tentando evitá-los está lhes dando energia — porque você
os está aceitando.
A sua própria aceitação é a existência deles.
A não ser com a sua aceitação, eles não existem.
Você tem a fonte da energia.
Tudo o que acontece em sua vida necessita da sua energia.
Se você corta a fonte da energia e — em outras palavras isso é o que eu chamo
identificação —, se você não se identifica com nada, imediatamente aquilo se
torna morto, não tem energia própria.
E a não-identificação é o outro lado do estar alerta.
O hábito é fácil, a consciência é difícil — mas apenas no começo.
Nunca nos preocupamos com as raízes do amor e falamos somente sobre as
flores.
Dizemos às pessoas para serem não-violentas, para serem compassivas, para
serem amorosas — de tal maneira que você possa amar seu vizinho, de tal
maneira que você possa amar até seu inimigo.
Falamos sobre as flores, mas ninguém está interessado nas raízes.
A questão é: por que não somos seres amorosos?
Não é uma questão de ser amoroso com esta pessoa ou com aquela pessoa,
com o amigo ou com o inimigo; a questão é se você é amoroso ou não.
Você ama o próprio corpo?
Você já se importou em tocar o próprio corpo carinhosamente?
Você se ama?
Você está errado e tem de se corrigir.
Você é um pecador e tem de se tornar um santo.
Como você pode se amar? — você nem consegue se aceitar.
E essas são as raízes!
As flores plásticas são permanentes — o amor plástico será permanente.
A flor de verdade não é permanente, está mudando a cada momento.
Hoje ela está ali, dançando ao vento e ao sol e na chuva.
Amanhã você não será capaz de encontrá-la.
Ela desapareceu tão misteriosamente como havia aparecido.
O verdadeiro amor é como uma flor verdadeira.
O coração nada sabe do passado, nada sabe do futuro, sabe apenas do
presente.
O coração não tem o conceito de tempo.
Entenda que o passado e o futuro são ambos não-existenciais.
Tudo o que você tem é um instante muito pequeno: este próprio instante.
Você nem mesmo consegue outro instante.
Você sempre tem apenas um instante em suas mãos; e ele é tão pequeno e tão
fugaz que se você estiver pensando no passado e no futuro você o perderá.
E esta é a única vida e a única realidade que existe.
A política é uma doença e deveria ser tratada exatamente como tal.
E ela é mais perigosa do que o câncer.
Mas a política é basicamente suja.
E tem de ser, porque, para um posto, existem milhares de pessoas cobiçando,
almejando.
Então naturalmente elas lutarão, elas matarão, farão qualquer coisa.
Toda a programação da nossa mente está muito errada, pois fomos
programados para ser ambiciosos — e é aí que está a política.
Não é somente no mundo corrente da política; ela polui até mesmo a sua vida
cotidiana.
Mesmo uma criança pequena começa a sorrir para a mãe, para o pai, com um
sorriso falso.
Não existe profundidade atrás dele; ela sabe que sempre que sorri é
recompensada.
Ela aprendeu a primeira regra para ser um político.
Ela ainda está no berço e você lhe ensinou a política.
E então, nos relacionamentos humanos, em todo lugar, a política está presente.
O homem mutilou a mulher.
Isso é política.
A mulher constitui metade da humanidade e o homem não tem o direito de
mutilá-la; mas há séculos ele a vem mutilando.
Ele não lhe tem permitido educação, ele nem mesmo tem permitido que ela ouça
as sagradas escrituras.
Em muitas religiões ele não tem permitido que ela entre no templo; ou, se ele
permitir, ela tem uma seção separada.
Ela não pode estar em igualdade com o homem mesmo diante de Deus.
O homem tentou cortar a liberdade da mulher de todas as maneiras.
Isso é política, não é amor.
Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade.
Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade?
Você a engaiola como a um papagaio.
Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não percebe: você está matando
o papagaio.
Você tirou do papagaio todo o seu céu e lhe deu apenas uma gaiola.
A gaiola pode ser feita de ouro, mas mesmo uma gaiola de ouro não é nada
comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de árvore em
árvore, cantando seu canto — não o que você quer forçá-los a cantar, mas o que
é natural para eles, o que é autêntico para eles.
Metade da humanidade em todos os países, em todas as civilizações, tem sido
destruída pela política da família, que não deixa de ser política.
Sempre que houver a ânsia de se ter poder sobre outra pessoa, isso é política.
O poder é sempre político, mesmo sobre crianças pequenas.
Os pais pensam que amam, mas é apenas em suas mentes, tanto é assim que
eles querem que as crianças sejam obedientes.
E o que significa obediência?
Significa que todo o poder está nas mãos dos pais.
Se a obediência é uma qualidade tão grandiosa, por que não deveriam os pais
obedecer aos filhos?
Se é algo tão religioso, os pais deveriam obedecer aos filhos.
O poder nada tem a ver com a religião.
Tudo o que o poder tem a ver com a religião é que ele esconde a política numa
bonita palavra.
O ser humano necessita expor todos os pontos em que a política entrou — e ela
entrou em todo lugar, em todos os relacionamentos.
Ela contaminou toda a vida e a está continuamente contaminando.
A ambição criada é a de que você deve se tornar alguém no mundo, de que
você deve provar que não é uma pessoa comum, que é extraordinário.
Mas para quê?
A que propósito isso serve?
Serve apenas a um propósito: você se torna poderoso, outros se tornam
subservientes a você.
Você castrou a humanidade toda de diferentes maneiras— e essa castração é
bem política.
As pessoas amam a liberdade — mas ninguém quer a responsabilidade. E elas
vêm juntas, são inseparáveis.
Por que você deveria se preocupar com o reconhecimento?
A preocupação com o reconhecimento tem significado somente se você não ama
o seu trabalho; então ele é significativo, então ele parece ser um substituto.
Você odeia o trabalho, não gosta dele, mas você o está fazendo porque haverá
reconhecimento; você será apreciado, aceito.
Em vez de pensar sobre reconhecimento, reconsidere seu trabalho.
Você gosta dele?
Então esse é o objetivo em si mesmo.
Se você não gosta dele, mude-o então.
Os pais, os professores estão sempre insistindo que você deveria ser
reconhecido, que você deveria ser aceito.
Essa é uma estratégia muito astuta para manter as pessoas sob controle.
Aprenda uma coisa básica.
Faça o que você quer fazer, o que você gosta de fazer e nunca espere
reconhecimento.
Isso é mendigar.
Por que alguém deveria esperar reconhecimento?
Por que alguém deveria ansiar por aceitação?
Olhe profundamente dentro de você.
Talvez você não goste do que está fazendo.
Talvez você esteja com medo de estar no caminho errado.
A aceitação o ajudará a sentir que você está certo.
O reconhecimento fará com que você sinta que está indo em direção ao objetivo
certo.
A questão tem a ver com os seus próprios sentimentos internos, nada tem a ver
com o mundo exterior.
Por que depender dos outros?
E todas essas coisas dependem dos outros; você mesmo está se tornando
dependente.
Quando você evita essa dependência, você se torna um indivíduo — e ser um
indivíduo, vivendo em total liberdade sobre seus próprios pés, bebendo de sua
própria fonte, é o que torna uma pessoa verdadeiramente centrada, enraizada.
E esse é o começo de seu florescimento supremo.
Se a inteligência permanece inocente, é a coisa mais linda possível.
Mas, se a inteligência é contra a inocência, então ela é simplesmente esperteza
e nada mais; não é inteligência.
No momento em que a inocência desaparece, a alma da inteligência se foi, ela
é um cadáver.
É melhor chamá-la simplesmente de “intelecto”.
Ele pode torná-lo um intelectual notável, mas não transformará a sua vida e não
o tornará aberto aos mistérios da existência.
Esses mistérios estão abertos somente à criança inteligente.
E a pessoa verdadeiramente inteligente mantém a sua meninice até o seu último
suspiro.
Ela nunca a perde — a admiração que a criança sente olhando para os pássaros,
olhando para as flores, olhando para o céu...
A inteligência também tem de ser, de certa maneira, infantil.
É uma coisa estranha que a verdade não seja democrática.
O que é verdadeiro não é para ser decidido por votos, pois, assim, jamais
chegaríamos a qualquer verdade.
As pessoas votarão no que é confortável — e mentiras são muito confortáveis,
porque você não precisa fazer nada a respeito delas, você somente precisa
acreditar nelas.
A verdade necessita de grande esforço, descoberta, risco, e é preciso que você
caminhe sozinho por um caminho no qual ninguém antes caminhou.
As qualidades de uma pessoa madura são muito estranhas.
Primeiro, ela não é uma pessoa, ela não é mais um “self”.
Ela tem uma presença, mas não é uma pessoa.
Segundo, ela é mais como uma criança — simples e inocente.
É por isso que eu disse que as qualidades de uma pessoa madura são muito
estranhas, porque “maturidade” dá o sentido de experiente, de idosa, de velha.
Fisicamente ela pode ser velha, mas espiritualmente é uma criança inocente.
Sua maturidade não é simplesmente experiência ganha através da vida — então
ela não seria uma criança, não seria uma presença.
Ela seria uma pessoa experiente, culta, mas não madura.
A maturidade nada tem a ver com suas experiências de vida.
Tem algo a ver com a sua jornada interior, com as suas experiências interiores.
Quanto mais uma pessoa entra fundo dentro de si mesma, mais madura ela se
torna.
Quando ela alcança o próprio centro de seu ser, ela se torna perfeitamente
madura.
Mas nesse momento a pessoa desaparece, permanece somente uma presença;
o “self” desaparece, permanece somente o silêncio; o conhecimento
desaparece, permanece somente a inocência.
Para mim, maturidade é outro nome para realização.
Você chegou à efetivação de seu potencial.
Ele tornou-se real.
A semente fez a longa viagem e floresceu.
A maturidade tem uma fragrância.
Ela dá uma beleza extraordinária ao indivíduo.
Ela dá inteligência, a inteligência mais aguçada possível.
Torna-o somente amor.
Sua ação é amor, sua não-ação é amor.
Sua vida é amor, sua morte é amor.
Ele é simplesmente uma flor de amor.
A música moderna perdeu o encanto porque esqueceu seu propósito básico.
Esqueceu sua origem.
Ela não sabe que tem relação com a meditação.
E o mesmo é verdadeiro a respeito das outras artes.
Todas elas se tornaram não-meditativas e todas elas estão levando as pessoas
à loucura.
O artista está criando um perigo para si mesmo e também para aqueles que
serão a sua audiência.
Ele pode ser um pintor, mas sua pintura é maluca; não é resultado de um estado
meditativo.
Toda a função da mente é dividir continuamente.
A função do coração é perceber o vínculo de união sobre o qual a mente é
completamente cega.
As mentes medíocres não podem ficar loucas.
O pensamento de quietude e silêncio não excita ninguém.
Mas esse não é seu problema pessoal, é o problema da mente humana como
tal, porque estar quieto, estar silencioso significa estar em um estado de não-
mente.
A mente não pode ficar quieta.
Ela necessita estar continuamente pensando, preocupando-se.
A mente funciona como uma bicicleta: se você segue pedalando, ela continua;
no momento em que você pára de pedalar, você vai cair.
A mente é um veículo de duas rodas, exatamente como uma bicicleta; e o seu
pensar é um constante pedalar.
Mesmo que algumas vezes você esteja um pouco silencioso, imediatamente
você começa a se preocupar: “Por que estou silencioso?”
Qualquer coisa servirá para criar preocupação, pensamento, porque a mente só
pode existir de uma maneira — correndo, sempre correndo atrás de alguma
coisa ou correndo de alguma coisa, mas sempre correndo.
Na corrida está a mente.
No momento em que você pára, a mente desaparece.
Tentamos de todas as maneiras nos livrar do sentimento de sermos estranhos.
É por isso que criamos todos os tipos de rituais.
Um homem casa com uma mulher; e o que é o casamento? — apenas um ritual.
Mas por quê?
Porque eles querem se livrar daquela sensação de estranheza e de algum modo
criar uma ponte.
A ponte nunca é criada; eles apenas imaginam que agora um é o marido e a
outra é a esposa, mas eles permanecem estranhos.
Eles viverão juntos a vida toda, mas não serão outra coisa senão estranhos,
porque ninguém pode penetrar na solitude do outro.
Você somente pode deixar de ser um estranho se puder penetrar em minha
solitude, ou eu puder penetrar em sua solitude — o que não é possível, não é
existencialmente possível.
Podemos chegar o mais próximo possível, mas, quanto mais próximos nos
tornamos, mais nos tornamos conscientes de nossa estranheza, porque
seremos capazes de perceber melhor: “O outro é desconhecido para mim e
talvez incognoscível”.
Todos têm um tipo de armadura.
Existem razões para isso.
Primeiramente, a criança nasce completamente desprotegida em um mundo do
qual ela nada sabe.
Naturalmente ela tem medo do desconhecido que está à sua frente.
Ela ainda não esqueceu aqueles nove meses de absoluta segurança e proteção
— não havia problema, responsabilidade, preocupação com o amanhã.
Para nós, aqueles são nove meses, mas para a criança é uma eternidade.
Ela nada sabe sobre o calendário, nada sabe sobre minutos, horas, dias, meses.
Ela viveu uma eternidade em segurança e proteção absolutas, sem nenhuma
responsabilidade.
E então, subitamente, ela é jogada num mundo desconhecido, no qual depende
dos outros para tudo.
É natural que sinta medo.
Todos são maiores e poderosos e ela não pode viver sem a ajuda dos outros.
Ela sabe que é dependente; ela perdeu sua independência, sua liberdade.
Numa determinada altura, a armadura pode ser uma necessidade, mas
conforme você cresce, se não estiver apenas ficando velho, mas também ficando
adulto — crescendo em maturidade —, então começará a perceber o que está
carregando com você.
Olhe de perto e encontrará medo por trás da armadura.
Uma pessoa madura deveria livrar-se de tudo aquilo que esteja conectado com
o medo.
É assim que a maturidade chega.
Simplesmente observe todos os seus atos, todas as suas crenças e descubra se
eles têm base na realidade, na experiência, ou se têm base no medo.
E qualquer coisa baseada no medo tem de ser abandonada imediatamente, sem
pensar duas vezes.
Ela é a sua armadura.
Sua armadura psicológica não pode ser tirada de você — você lutará por ela.
Somente você pode fazer alguma coisa para abandoná-la e isso quer dizer: olhar
para cada parte dela, para todas as partes dela.
Se está baseada no medo, abandone-a então.
Se está baseada na razão, na experiência, na compreensão, então não é algo
para abandonar, mas algo para se tornar parte de seu ser.
Mas você não encontrará uma única coisa na sua armadura que tenha base na
experiência.
Tudo é medo, de A a Z.
E seguimos vivendo a partir do medo; por isso vamos envenenando todas as
experiências.
Amamos alguém, mas a partir do medo.
Isso estraga, envenena.
Buscamos a verdade, mas se é a partir do medo, então você não vai encontrá-
la.
Não importa o que você faça, lembre-se de uma coisa: a partir do medo você
não vai crescer, apenas encolherá e morrerá.
O medo está a serviço da morte.
Uma pessoa destemida tem tudo o que a vida deseja dar a ela como dádiva.
Agora não existem barreiras; você será banhado com dádivas e, não importa o
que esteja fazendo, você terá uma força, um poder, uma certeza, um formidável
sentimento de autoridade.
O que você precisa entender é o processo de identificação, como se pode ficar
identificado com o que não se é.
Neste momento você está identificado com a mente, pensa que é ela.
Daí o medo.
Se você está identificado com a mente, então, é claro, se a mente parar, você
se acabará, você deixará de ser.
E você não conhece nada além da mente.
A realidade é que você não é a mente, você é algo além da mente; assim sendo,
é absolutamente necessário que a mente pare, de modo que, pela primeira vez,
você possa saber que você não é a mente — porque você continua presente.
A mente se foi, você continua presente, e com maior contentamento, maior
glória, mais luz, mais consciência, um ser mais grandioso.
Arealidade é que somos sós, somos estranhos — e o mundo será muito melhor
se aceitarmos a verdade básica de que somos estranhos.
E o que há de errado em apaixonar-se por um estranho?
Qual a necessidade de primeiro ter de destruir a sensação de estranheza para,
então, se apaixonar?
Uma das belezas da vida é sermos todos estranhos e não há maneira de mudar
essa realidade.
É lindo ter estranhos que o amam, ter estranhos como seus amigos, ter
estranhos pelo mundo todo.
Então o mundo todo torna-se um mistério — e ele é um mistério.
É um fato conhecido: você se apaixona por uma pessoa; você não se apaixona
pela pessoa real, você se apaixona pela pessoa de sua imaginação.
Enquanto vocês não estão juntos e você a vê de seu terraço, ou encontra a
pessoa na praia por alguns minutos, ou ficam de mãos dadas no cinema, você
começa a sentir: “Fomos feitos um para o outro”.
Mas ninguém é feito para o outro.
Você projeta cada vez mais imaginação em cima da pessoa, inconscientemente.
Você cria certa aura em volta dela; ela cria certa aura em volta de você.
Tudo parece lindo porque você está fazendo isso lindo, porque você está
sonhando isso, evitando a realidade.
E ambos estão tentando de todas as maneiras não perturbar a imaginação do
outro.
Assim a mulher está se comportando da maneira que o homem deseja que ela
se comporte; o homem está se comportando da maneira que a mulher deseja
que ele se comporte.
Mas você pode fazer isso somente por poucos minutos ou por poucas horas, no
máximo.
Uma vez que você tenha se casado e tenha de viver junto vinte e quatro horas
por dia, torna-se uma carga pesada seguir fingindo algo que você não é.
Apenas para corresponder à imaginação do homem ou da mulher, quanto tempo
você pode seguir representando?
Mais cedo ou mais tarde isso se torna uma carga e você começa a se vingar.
Você começa a destruir toda aquela imaginação que o homem criou à sua volta,
porque você não quer ser aprisionada nela; você quer ser livre e ser
simplesmente você mesma.
E é a mesma situação com o homem: ele quer ser livre e ser simplesmente ele
mesmo.
E esse é o conflito constante entre todos os amantes, todas as relações.
O amor permite liberdade.
O amor permite que qualquer coisa que o outro queira fazer, ele possa fazer.
Tudo o que ele quiser — se o deixa em êxtase, a escolha é dele.
Se você ama a pessoa, então não interfere na privacidade dela.
Você deixa intocada a privacidade da pessoa, não tenta invadir seu ser interior.
A exigência básica do amor é: “Eu aceito a outra pessoa como ela é”.
E o amor nunca tenta mudar a pessoa em função da própria idéia que se tem do
outro.
Você não tenta cortar a pessoa aqui e ali e deixá-la do tamanho certo — o que
tem sido feito em todos os lugares no mundo inteiro...
Se você ama, não existem condições.
Se você não ama, então quem é você para impor condições?
Ambas as situações são claras.
Se você ama, então impor condições não é o caso.
Você o ama como ele é.
Se você não ama, então também não há problema.
Ele não é ninguém para você; impor condições não é o caso.
Ele pode fazer tudo o que quiser fazer.
Se o ciúme desaparece e o amor ainda permanece, então você tem algo sólido
em sua vida, o qual vale a pena possuir.
Quando você está compartilhando seu contentamento, não cria uma prisão
para ninguém; você simplesmente dá.
Você nem mesmo espera gratidão ou agradecimento, porque está dando não
para conseguir alguma coisa, nem mesmo gratidão.
Você está dando porque está tão repleto... você precisa dar.
Assim, se alguém está grato, é você quem está grato à pessoa que aceitou seu
amor, que aceitou seu presente.
Ela o aliviou, permitiu a você que a banhasse.
E, quanto mais você compartilha e mais dá, mais você tem.
Então isso não o torna um avarento, não cria um novo medo, o de que “eu posso
perder isso”.
Na realidade, quanto mais você o perde, mais águas frescas fluem, vindas de
nascentes sobre as quais você não estava consciente anteriormente.
Se a existência toda é una e se a existência toma conta das árvores, dos
animais, das montanhas, dos oceanos — desde a menor folhinha de grama até
a maior estrela —, então ela também tomará conta de você.
Por que ser possessivo?
A possessividade mostra simplesmente uma coisa — que você não consegue
confiar na existência.
Você tem de conseguir uma segurança pessoal separada.
Você não pode confiar na existência.
A não-possessividade é basicamente confiança na existência.
Não há necessidade de possuir, porque o todo já é nosso.
Abandone a idéia de que o apego e o amor são uma coisa só.
Eles são inimigos.
É o apego que destrói todo o amor.
Se você alimenta e nutre o apego, o amor será destruído; se você alimenta e
nutre o amor, o apego desaparecerá por si mesmo.
O amor e o apego não são um; são duas entidades separadas e antagônicas
entre si.
E lembre-se sempre da regra básica da vida: se você idolatra alguém, um dia
você se vingará.
Você tem de estar alerta para não ser manipulado por ninguém, não importa
quão boas sejam as intenções da pessoa.
Você tem de salvar a si mesmo de tantas pessoas bem-intencionadas,
benfeitoras, que constantemente o aconselham a ser isso, a ser aquilo.
Ouça-as e agradeça-lhes.
Elas não querem fazer nenhum mal — mas mal é o que acontece.
Simplesmente ouça seu coração.
Esse é o seu único professor.
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Osho - Pepitas de Ouro.pdf

  • 1. OSHO Pepitas de Ouro Fragmentos de sabedoria em forma de pequenos textos UNIVERSALISMO
  • 2. Introdução As palavras deste livro não precisam de introdução. Elas falam para todos nós: pepitas de sabedoria sobre o amor, sobre a vida, sobre o mundo em que vivemos — sobre você e eu. Uma olhadela em qualquer página nos leva para um mundo novo, o mundo de Osho, o mais brilhante místico de nossa época. O que precisa de uma introdução são as extraordinárias circunstâncias nas quais este livro veio a existir. Em outubro de 1985 Osho foi preso por quinze homens fortemente armados, sem um mandado de prisão, e mantido sem permissão de fiança por doze dias. O cristão fundamentalista Charles Turner, procurador-geral do governo americano na questão, descrevendo Osho, disse: “Não gostava de olhar para o sujeito. Ele era pequeno e sem atrativos, mas havia um certo magnetismo nele. Seus olhos eram luminosos, quase com um brilho satânico. Havia uma sensação de maldade em volta dele. Vários investigadores disseram-me que tiveram essa sensação”. E concluiu: “Não encontrei nesse homem uma só característica que o redimisse. Mesmo em um ladrão ou traficante eu encontraria alguma coisa”. Pôncio Pilatos foi mais circunspecto. Tendo arrastado Osho através dos Estados Unidos, em algemas e correntes, o Departamento de Justiça daquele país justificou-se alegando que ele era culpado de infringir as leis de imigração americanas. Expulsaram-no do país e o multaram em quase meio milhão de dólares. Isso começou uma das mais estranhas sagas dos tempos modernos. O longo braço do poder americano alcançou todo o globo: nem bem o avião de Osho aterrissava em um país e uma voz americana falava pelo telefone com as autoridades locais. Vinte e um países “democráticos” se dobraram à pressão e recusaram hospedagem a Osho. A certa altura parecia que a Grécia, a terra de Sócrates, poderia ter aprendido com aquele erro anterior e estaria preparada para permitir que ele ficasse. Apesar de tudo, como descreve Platão, na época do envenenamento de Sócrates pelo Departamento de Justiça de Atenas, vinte e cinco séculos atrás, a horrível realidade por que passava esse homem começou a ser percebida. Platão escreve: “Quando o funcionário da prisão entrou e caminhou até ele, disse: ‘Sócrates, não encontrei nenhuma falta em você, como encontro nos
  • 3. outros por ficarem com raiva de mim e me amaldiçoarem quando lhes digo para beber o veneno — cumprindo ordens do governo. ‘Eu descobri, durante esse tempo, que você é o mais nobre, o mais gentil e o mais bravo de todos os homens que passaram por aqui. Especialmente agora estou certo de que você não está zangado comigo, mas com eles; porque você sabe quem é responsável. Então agora — você sabe o que eu vim dizer — adeus, e tente suportar o que tiver que ser, da maneira mais fácil que puder’. Assim falando, começou a soluçar e voltando-se, foi embora”. Mas não foi assim; aqueles funcionários da Grécia moderna, assim como seus colegas americanos que estavam “cumprindo ordens do governo”, não aprenderam nada. Da mesma maneira como sucedeu com Sócrates, os sacerdotes e políticos conspiraram para acusar Osho de corromper a juventude e ameaçar a moral social. Cercado de uma falange de policiais armados que o estavam escoltando a seu avião, Osho perguntou à imprensa ali reunida: “Que tipo de cultura é essa que após dois mil anos pode ser corrompida por um homem que está com um visto de turista de apenas duas semanas?” De um país a outro, de um aeroporto a outro, de um grupo de funcionários do governo armados a outro, de uma prisão a outra, de uma recusa a outra, essa extraordinária odisséia continuou. Onde quer que Osho fosse, as pessoas o amavam e rapidamente se reuniam para ouvi-lo falar. Os discípulos, muitas vezes, ficavam preocupados com o seu mestre, tantas eram as pessoas que queriam se aproximar dele. O mais rápido possível, as autoridades tratavam de isolá-lo. Ele passou a ser o homem que todos amavam, mas que ninguém queria. E o que Osho fazia, enquanto os políticos e seus homens armados jogavam pela janela cada noção de seus sagrados “direitos humanos”, na ansiedade de tirar Osho da terra deles? Ele estava, como sempre, o mais disponível possível àqueles que o amam, aos discípulos que sentavam a seus pés sempre que podiam, no país ao qual pudessem ir. Como refugiados internacionais, eles protegiam o Sócrates deles o melhor que podiam e transcreviam suas palavras para o benefício de uma época mais civilizada, de um mundo mais civilizado, que, esperavam, chegaria um dia. Enquanto funcionários hostis desempenhavam seus repulsivos papéis históricos, Osho deu aproximadamente duzentos discursos, palavras de uma paz e beleza sublimes — a ser publicados em meia dúzia de volumes. Aqui está uma amostra dessas palestras. Aqui está uma amostra do homem que sacerdotes e políticos de todo o mundo tornaram o inimigo público número um. Aqui está uma amostra de Osho, o homem que as autoridades de todo o mundo
  • 4. desesperadamente tentam impedir que você descubra por si mesmo. Lendo, você vai descobrir o porquê. Enquanto os representantes da humanidade e suas máquinas políticas desempenhavam seus jogos sujos e tentavam atacar Osho com o odioso comportamento deles, Osho em troca oferecia ao mundo apenas flores. Este livro contém a fragrância dessas flores. Swami Devaraj Colônia Alemanha Ocidental Janeiro de 1988
  • 5. Viva totalmente e viva intensamente, então cada momento se torna dourado e toda a sua vida se torna uma sequência de momentos dourados. Uma pessoa assim nunca morre porque ela tem o toque de Midas: tudo o que toca se torna dourado. A única responsabilidade autêntica é com o seu próprio potencial, a sua inteligência e consciência — e agir de acordo. Ao nascer, você não é uma árvore, você é apenas uma semente, você tem de crescer até chegar ao ponto de seu florescimento, e este florescimento será a sua alegria, a sua realização. Este florescimento nada tem a ver com poder, nada tem a ver com dinheiro, nada tem a ver com política. Tem a ver totalmente com você: é um desenvolvimento individual. Você tem de se tornar uma celebração em si mesmo. O anseio por uma utopia é basicamente o anseio pela harmonia no indivíduo e na sociedade. A harmonia nunca existiu, sempre houve o caos. A sociedade foi dividida em culturas diferentes, religiões diferentes, nações diferentes — e todas baseadas em superstições. Nenhuma das divisões é válida. Essas divisões mostram, entretanto, que o homem está dividido internamente. São projeções de seu próprio conflito interno. Internamente ele não é um, por isso externamente não foi capaz de criar uma sociedade una, uma humanidade una.
  • 6. A causa não é externa. O exterior é simplesmente o reflexo do homem interior. Ninguém tem dado muita atenção ao indivíduo. E isso é a raiz de todos os problemas. Mas, porque o indivíduo parece ser tão pequeno e a sociedade parece ser tão grande, as pessoas pensam que podemos mudar a sociedade e então os indivíduos mudarão. Não vai ser assim — porque “sociedade” é apenas uma palavra; existem somente indivíduos, não existe sociedade. A sociedade não tem alma, você não pode mudar nada nela. Você pode mudar somente o indivíduo, por menor que ele pareça. E, conhecendo a ciência de como mudar o indivíduo, pode-se aplicá-la a todos os indivíduos, em todo lugar. Sinto que um dia alcançaremos uma sociedade que será harmoniosa, que será muito melhor que todas as idéias produzidas pelos utopistas durante milhares de anos. A realidade será muito mais bela. Você nunca está completamente satisfeito com o que você é e com o que a existência lhe deu porque você tem sido distraído. Você tem sido dirigido para onde a natureza não tencionava colocá-lo. Você não está se movendo em direção ao seu próprio potencial. Você está tentando ser o que outros queriam que você fosse, mas isso não pode ser satisfatório. Quando não é satisfatório, a lógica diz: “Talvez não seja o suficiente — tenha mais”. E você vai em busca de mais e você começa a olhar em volta. E todos estão usando uma máscara sorridente, aparentando felicidade, assim, todos estão enganando aos outros.
  • 7. Você também usa uma máscara, então os outros pensam que você é mais feliz; você pensa que os outros são mais felizes. Do outro lado da cerca, a grama parece mais verde. Eles olham a sua grama e ela parece mais verde. Parece realmente mais verde, mais espessa, melhor. Essa é a ilusão que a distância cria. Quando você chega perto começa então a ver que não é assim. Mas as pessoas mantêm os outros a distância. Mesmo amigos, mesmo amantes, mantêm distância entre si. Muita proximidade será perigoso; os outros podem ver a sua realidade. E você foi desencaminhado desde o princípio, assim, não importa o que faça, você permanecerá infeliz. Você vê alguém com muito dinheiro: talvez o dinheiro traga alegria, pensa você. Olhe aquela pessoa... como parece feliz. Então corra atrás do dinheiro. Alguém tem mais saúde — corra atrás da saúde. Alguém está fazendo alguma outra coisa e parece muito satisfeito — siga-o. Mas são sempre os outros. A sociedade fez uso disso para que você nunca pense sobre o seu próprio potencial. E todo o tormento é que você não está sendo você mesmo. Simplesmente seja você mesmo e então não existe tormento, não existe competição, não existe aborrecimento, porque outros têm mais, porque você tem menos. Se você gosta da grama mais verde, não há necessidade de olhar para o outro lado da cerca; torne a grama mais verde no seu lado da cerca; é tão simples tornar a grama mais verde. O homem tem de estar enraizado em seu próprio potencial, seja ele qual for.
  • 8. E o mundo ficará tão satisfeito que, você mal poderá acreditar. Estar vivo significa ter senso de humor, ter uma profunda qualidade amorosa, ter capacidade de brincar. Sou totalmente contra todas as atitudes que negam a vida; e o respeito pelo divino tem negado a vida. Para torná-lo afirmativo da vida, a brincadeira, o senso de humor, o amor e o respeito devem estar todos reunidos. Reverência pela vida é o único respeito pelo divino, pois não há nada mais divino do que a própria vida. O homem nasce com imensos tesouros, mas também nasce com toda a herança animal. De algum modo temos de nos esvaziar da herança animal e criar um espaço para que o tesouro venha à consciência e seja compartilhado — porque uma das qualidades do tesouro é: quanto mais você compartilha, mais você tem. Muitos de nossos problemas existem apenas porque nunca olhamos para eles, nunca focamos nossos olhos neles para entender o que são. Dê vida a coisas que são belas. Não dê vida a coisas feias. Você não tem muito tempo, muita energia para desperdiçar. Com uma vida tão pequena, com uma fonte de energia tão pequena, é simplesmente estúpido desperdiçá-la em tristeza, em raiva, em ódio, em ciúme. Use-a em amor, use-a em alguma ação criativa, use-a em amizade, use-a em meditação. Faça, com sua energia, alguma coisa que o leve mais alto, e, quanto mais alto você for, mais fontes de energia se tornam disponíveis para você. Está em suas mãos. Nenhum homem é uma ilha.
  • 9. Isso deve ser lembrado como uma das verdades fundamentais da vida. Estou enfatizando-a porque tendemos a esquecê-la. Somos todos parte de uma única força vital — parte de uma única existência oceânica. Basicamente, porque nas profundezas de nossas raízes somos um só, a possibilidade do amor aparece. Se não fôssemos um, não haveria possibilidade de amor. O homem continua carregando muitos dos instintos animais — sua raiva, seu ódio, seu ciúme, sua possessividade, sua astúcia. Tudo o que tem sido condenado no homem parece pertencer a um inconsciente muito profundamente enraizado. E todo o trabalho da alquimia espiritual está em como se livrar do passado animal. A menos que se livre do passado animal, o homem permanecerá dividido. O passado animal e o lado humano não podem existir como uma unidade, porque o lado humano tem exatamente qualidades opostas. Então, tudo o que o homem pode fazer é tornar-se um hipócrita. Com relação ao comportamento aparente ele segue os ideais do lado humano — de amor e verdade, liberdade, não possessividade, compaixão. Mas isso permanece apenas uma camada muito fina e a qualquer momento o animal oculto pode vir à tona: qualquer acidente pode fazê-lo surgir. E, ele vindo ou não à tona, a consciência interior está dividida. Essa consciência dividida tem criado o anseio e a questão: como o indivíduo pode se tornar um todo harmonioso? E o mesmo é verdadeiro sobre a sociedade inteira: como podemos tornar a sociedade um todo harmonioso — onde não existam guerra, conflito, classes; não existam divisões de cor, casta, religião, nação? Em vez de pensar em termos de revolução e mudança da sociedade, de sua estrutura, deveríamos pensar mais em meditação e em mudar o indivíduo. Essa é a única maneira possível de algum dia podermos abandonar todas as divisões na sociedade.
  • 10. Mas antes devem ser abandonadas no indivíduo — e podem ser abandonadas. Não existe algo rotulado “VERDADE” — que você encontrará um dia, abrirá a caixa, verá o conteúdo e dirá: “Genial! Encontrei a verdade!” Não existe tal caixa. É evidente a razão pela qual as pessoas falam sobre a verdade enquanto permanecem num mundo de mentiras. Existe em seu coração um anseio pela verdade; as pessoas estão envergonhadas frente a si mesmas por não estarem sendo verdadeiras, então falam sobre a verdade. Mas é mera conversa. Viver de acordo com a verdade é muito perigoso, elas não podem correr o risco. E é a mesma situação com a liberdade. Todos querem a liberdade — enquanto se trata de palavras —, mas ninguém é realmente livre. E ninguém realmente quer ser livre porque liberdade traz responsabilidade, ela não vem sozinha. E ser dependente é simples; a responsabilidade não está em você, a responsabilidade está na pessoa da qual você é dependente. Assim, as pessoas construíram uma maneira de viver esquizofrênica. Elas falam sobre a verdade, falam sobre a liberdade — e vivem em mentiras e vivem em escravidão... vários tipos de escravidão, porque cada escravidão liberta você de alguma responsabilidade. Um homem que realmente quer ser livre tem de aceitar responsabilidades imensas. Ele não pode descarregar suas responsabilidades em ninguém mais. Seja o que ele fizer, seja o que ele for, ele é responsável.
  • 11. Uma pessoa verdadeiramente não-violenta é aquela que não mata ninguém, que não fere ninguém, porque ela é contra o matar e contra o ferir. Mesmo que alguém comece a feri-la, ainda assim, ela é contra o ferir. Mesmo que alguém comece a matá-la, ainda assim ela é contra o matar; ela não o permitirá. Ela nunca iniciará qualquer violência, mas se a violência é iniciada contra ela, então lutará com unhas e dentes. Somente assim as pessoas não-violentas podem permanecer independentes; de outro modo serão escravas e pobres e continuamente roubadas. Ser você mesmo lhe dá tudo o que você precisa para sentir-se pleno, tudo o que pode tornar sua vida significativa, com sentido. Ser você mesmo e crescer de acordo com sua natureza lhe trará a realização de seu destino. Seja imprevisível e esteja em constante mudança. Nunca pare de mudar e nunca pare de ser imprevisível; somente assim a vida pode ser uma alegria. No momento em que você se torna previsível, torna-se uma máquina. Uma máquina é previsível. Era a mesma ontem, é a mesma hoje, será a mesma amanhã. É imutável. Estar mudando a cada momento é prerrogativa apenas do homem. No dia em que você pára de mudar, de uma maneira sutil, você morre. Ponha tudo em jogo. Seja um jogador! Arrisque tudo porque o próximo momento não é certo.
  • 12. Por que então se aborrecer? Por que ficar preocupado? Viva perigosamente, viva com alegria. Viva sem medo, viva sem culpa. Viva sem medo algum do inferno, sem ambição alguma pelo paraíso. Simplesmente viva. Cada erro é uma oportunidade para aprender. Apenas não cometa o mesmo erro várias vezes — isso é estupidez. Mas cometa tantos novos erros quanto você for capaz — não tenha medo, porque essa é a única maneira pela qual a natureza lhe permite aprender. Areligiosidade significa simplesmente um desafio para crescer, um desafio para a semente chegar à sua expressão suprema, explodir em milhares de flores e liberar a fragrância que estava escondida. Essa fragrância eu chamo de religiosidade. Todos são tão infelizes que querem encontrar algum motivo em algum lugar para explicar a si mesmos por que são infelizes, por que ele é infeliz, por que ela é infeliz. E a sociedade deu-lhe uma boa estratégia: julgue. Em primeiro lugar, naturalmente, você julga a si mesmo a respeito de tudo. Não existe homem perfeito e homem nenhum jamais pode ser perfeito, perfeição não existe — assim o julgamento é muito fácil. Você é imperfeito, assim existem coisas que mostram sua imperfeição e então você fica com raiva, com raiva de si mesmo, com raiva do mundo todo: “Por que não sou perfeito?”. E então você olha com uma única idéia — encontrar imperfeição em todos.
  • 13. E então você quer abrir seu coração — naturalmente, porque, se não abrir seu coração, não há celebração na sua vida, sua vida é quase morta. Mas você não pode fazê-lo diretamente. Você terá de destruir toda essa educação, desde as próprias raízes. O primeiro passo então é: pare de julgar a si mesmo. Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo. Em vez de julgar, comece a aceitar a si mesmo com todas as imperfeições, com todas as fraquezas, todos os erros, todos os fracassos. Não exija perfeição de si mesmo, isso é simplesmente pedir o impossível, e então você ficará frustrado. Apesar de tudo, você é um ser humano. Olhe simplesmente para os animais, para os pássaros: nenhum deles está preocupado, triste ou frustrado. Você não vê um búfalo ficando maluco. Ele está perfeitamente satisfeito mascando o mesmo pasto todo o dia. Ele é quase iluminado! Não existe tensão, existe uma harmonia enorme com a natureza, consigo mesmo, com tudo da maneira que é. Búfalos não formam partidos para revolucionar o mundo, para transformar búfalos em superbúfalos, para tornar búfalos religiosos, virtuosos. Nenhum animal tem a menor preocupação com as idéias humanas. E eles devem estar todos rindo; “O que aconteceu com você? Por que você não pode ser você mesmo do jeito que é? Qual é a necessidade de ser outra pessoa?” O primeiro passo, então, é uma profunda aceitação de si mesmos. Não condene a sensualidade.
  • 14. Ela tem sido condenada pelo mundo todo e, devido à sua condenação, a energia que pode florescer na sensualidade dirige-se para as perversões, o ciúme, a raiva, o ódio — um tipo de vida que é seco e sem sabor. A sensualidade é uma das maiores bênçãos para a humanidade. Ela é sua sensibilidade, é sua consciência. Ela é sua consciência filtrando-se através do corpo. Através dos tempos, os pais têm acreditado que os filhos lhes pertencem e devem ser simplesmente suas cópias-carbono. Uma cópia-carbono não é algo belo e a existência não acredita em cópias- carbono — ela vibra na originalidade. Você tem de ajudar os filhos a crescer além de você. Você tem de ajudá-los a não o imitarem. Essa é na verdade a obrigação dos pais: ajudar os filhos a não cair na imitação. As crianças são imitadoras, e, naturalmente, quem elas vão imitar? Os pais são as pessoas mais próximas. Até agora os pais têm apreciado muito o fato de que seus filhos sejam iguais a eles. O pai sente-se orgulhoso porque seu filho é exatamente como ele. Desse modo, uma vida é desperdiçada; então, o filho não é necessário, o pai seria o bastante. Devido a essa concepção errônea de orgulho com o fato de os filhos imitarem os pais, nós criamos uma sociedade de imitadores. A obediência não precisa de inteligência. Todas as máquinas são obedientes. Ninguém jamais ouviu dizer de uma máquina desobediente. A obediência é também simples. Tira-lhe o peso de qualquer responsabilidade.
  • 15. Não é preciso reagir, você simplesmente tem de fazer o que está sendo dito. A responsabilidade fica com a fonte de onde a ordem vem. De certa maneira, você é muito livre: não pode ser condenado por sua ação. Areligiosidade não é algo em que se acreditar, mas algo a ser vivido, algo a ser experienciado... não uma crença em sua mente, mas o sabor de todo o seu ser. A mente não pode deixar de julgar. Se você a força a ser não-julgadora, surgirá um bloqueio em sua inteligência. Então a mente não pode funcionar de maneira perfeita. A ausência de julgamento não é algo que pertença à área da mente. Apenas uma pessoa que foi além da mente pode deixar de julgar; caso contrário, o que lhe parece ser fatual, uma afirmação válida, é simplesmente aparência. Tudo o que a mente decide ou declara está poluído pelos seus condicionamentos e seus preconceitos — é isso o que a torna julgadora. Por exemplo, você vê um ladrão. É fato que ele está roubando — nenhuma dúvida a respeito —, e você faz uma afirmação sobre o ladrão. E certamente roubar não é bom; assim, quando você chama um homem de ladrão, sua mente diz: “Você está certo; sua afirmação é verdadeira”. Mas por que um ladrão é mau? E o que é maldade? Por que ele foi forçado a roubar? E a ação de roubar é uma ação isolada. Com base em uma única ação você está fazendo um julgamento sobre o todo do indivíduo. Você o está chamando de ladrão. Ele faz muitas outras coisas que não somente roubar.
  • 16. Ele pode ser um bom pintor, pode ser um bom carpinteiro, pode ser um bom cantor, um bom dançarino — pode ter mil e uma qualidades. O homem inteiro é muito vasto e o roubar é uma ação isolada. Com base em uma ação isolada você não pode fazer uma afirmação sobre a pessoa inteira. Você não conhece absolutamente a pessoa e você nem mesmo sabe em que condições a ação aconteceu. Talvez naquelas condições você também tivesse roubado. Talvez naquelas condições o roubar não fosse mau... porque toda a ação é subordinada a condições. Se você olhar ao redor do mundo e observar os diferentes condicionamentos das pessoas e suas idéias de bom e mau, certo e errado, pela primeira vez você será capaz de perceber que sua mente é também parte de determinada parcela da humanidade. Ela não representa nada sobre a verdade; representa simplesmente aquela determinada parcela. E, através dessa mente, tudo o que você vê é visto com julgamento. A existência é uma. São milhões as suas expressões, mas o espírito expresso é o mesmo. É uma divindade com uma infinita variedade de criações. O dinheiro é uma coisa estranha. Se você não o tem, a questão é simples — você não o tem, não existe complicação. Mas, se você o tem, então certamente ele cria complicações. Um dos maiores problemas que o dinheiro cria é que você nunca sabe se você é desejado ou se o seu dinheiro é desejado. E é tão difícil resolver isso que a pessoa preferiria não ter dinheiro. Pelo menos a vida seria simples.
  • 17. Ora, algo como o dinheiro, que poderia ter sido um grande prazer, acabou tornando-se uma agonia imensa. Mas não é o dinheiro, é a sua mente. O dinheiro é útil; não é pecado ter dinheiro, não é preciso sentir culpa. É desse modo que a mente cria miséria. Você tem dinheiro? Desfrute-o! Se alguém o ama, não pergunte se é a você ou a seu dinheiro que ele ama, porque assim você o coloca numa situação realmente desagradável. Se ele disser que o ama, você não acreditará; se ele disser que ama seu dinheiro, você acreditará. Mas, se ele ama seu dinheiro, o romance está acabado. Bem no fundo você continuará suspeitando que ele ama seu dinheiro, e não você. Mas nada está errado: o dinheiro é seu, simplesmente como seu nariz é seu, seus olhos são seus e seu cabelo é seu. E essa pessoa ama você na sua totalidade. O dinheiro também é parte de você. Não o separe, assim não existe problema. Tente viver uma vida com tão pouca complicação e tão poucos problemas quanto for possível — e isso está em suas mãos. Conhecer o mundo inteiro não é nada, comparado com o conhecimento de seu próprio mistério interior de vida. A própria idéia de comparação é absolutamente falsa. Cada indivíduo é único, porque não há mais ninguém como ele. Seria certo comparar, se todos os indivíduos fossem iguais — eles não são.
  • 18. Mesmo gêmeos não são totalmente iguais. É impossível encontrar outra pessoa que seja exatamente como você. Assim, nós estamos comparando pessoas únicas, e isso cria todo o problema. Uma das coisas mais difíceis da vida e das mais fundamentais é não dividi-la entre coisas belas e coisas estúpidas — não dividir de modo algum. Todas elas são parte de um todo. É preciso simplesmente um pouco de senso de humor. E, para mim, senso de humor é essencial para que uma pessoa seja total. O que há de errado com coisas pequenas, idiotas? Por que você não pode rir e desfrutá-las? O tempo todo você está julgando o que é certo, o que é errado. O tempo todo você está sentado na cadeira de um juiz — e isso o torna sério. Então as flores são lindas, mas e os espinhos? — eles são parte da existência das flores. As flores não existirão sem os espinhos; os espinhos são uma proteção. Eles têm uma função, um propósito, um significado. Mas você divide — assim as flores são lindas e os espinhos se tornam feios. Mas na própria planta a seiva é a mesma para a flor e para os espinhos. Na existência da planta não há divisão, não há julgamento. A flor não é favorecida e o espinho não é simplesmente tolerado; ambos são totalmente aceitos. E essa deveria ser a abordagem em nossa própria vida. Existem coisas pequenas que, se você julgar, parecem estúpidas, tolas. Mas isso é devido ao seu julgamento; elas também preenchem algo essencial. Toda a função da mente é dividir continuamente.
  • 19. A função do coração é perceber os vínculos sobre os quais a mente é completamente cega. A mente não pode entender aquilo que está além das palavras; ela pode entender somente aquilo que é linguística e logicamente certo. Ela não tem relação com a existência, com a vida, com a realidade. A mente em si mesma é uma ficção. Você pode viver sem mente. Você não pode viver sem coração. E, quanto mais profundamente você vive, uma parte maior de seu coração é envolvida. A vida está fluindo, é um rio, um fluxo constante. As pessoas consideram-se estáticas. Somente coisas são estáticas, somente a morte é imutável; a vida está constantemente mudando. Mais vida — e mais mudança. Vida em abundância — e uma tremenda mudança a cada momento. Ninguém é superior, ninguém é inferior e tampouco ninguém é igual. Cada um é único. A igualdade é errada do ponto de vista psicológico. Todos não podem ser um Albert Einstein e todos não podem ser um Rabindranath Tagore. Mas isso não significa que Rabindranath Tagore é superior porque você não pode ser ele. Rabindranath tampouco pode ser você. Meu enfoque é que cada um é uma manifestação única. Assim, deveríamos destruir toda a idéia de superioridade e inferioridade, de igualdade e desigualdade e substituí-la com um novo conceito de unicidade.
  • 20. E cada indivíduo é único. Olhe amorosamente e verá que cada indivíduo tem algo que ninguém mais tem. Simplesmente faça aquilo que lhe dê prazer — prazer a você e prazer a seu ambiente. Simplesmente faça algo que lhe traga uma canção e crie um ritmo de celebração a seu redor. Essa vida eu chamo de uma vida religiosa. Ela não tem princípios, não tem disciplina, não tem leis. Tem somente uma única abordagem e esta é: viva inteligentemente. A obediência tem uma simplicidade; a desobediência precisa de um tipo de inteligência um pouco mais elevado. Qualquer idiota pode ser obediente — na realidade, somente idiotas podem ser obedientes. A pessoa inteligente fatalmente perguntará: “Por quê? Por que tenho de fazer isso? E, a menos que eu saiba os motivos e as consequências disso, não me deixarei envolver”. Então ela está se tornando responsável. É absolutamente impossível que um santo seja malandro. Mas um malandro pode ser santo. O ser humano ainda não aprendeu a conhecer as belezas da solitude. Ele está sempre ansiando por algum relacionamento, ansiando por estar com alguém — com um amigo, com um pai, com uma esposa, com um esposo, com um filho... com alguém. Ele criou sociedades, criou clubes — o “Lions Club”, o “Rotary Club”. Ele criou partidos — políticos, ideológicos.
  • 21. Criou religiões, igrejas. Mas a necessidade fundamental de tudo isso é esquecer, de alguma maneira, que você está só. Associando-se com tantas multidões, você está tentando esquecer algo que é de repente lembrado na escuridão — que você nasceu só, que você morrerá só, que, não importa o que faça, você vive só. A solitude é algo tão essencial a seu ser que não há maneira de evitá-la. Todos os esforços dirigidos para evitar a solidão falharam e falharão, porque são contrários aos fundamentos da vida. O que é preciso não é algo com o qual você possa esquecer sua solidão; o que é preciso é que você se torne consciente de sua solitude — a qual é uma realidade. E é tão lindo experienciá-la, senti-la, porque ela o liberta da multidão, do outro. É a nossa libertação do medo de estarmos sós. Apenas a palavra “só” imediatamente o lembra de que ela é como uma ferida: é necessário cobri-la com alguma coisa. É um vazio e dói. É preciso colocar algo dentro dele. “Solitude” — a própria palavra — não tem o mesmo sentido de uma ferida, de um vazio que deve ser preenchido. Solitude significa simplesmente ser completo. Você é inteiro; não é preciso ninguém mais para completá-lo. Assim, tente descobrir seu centro mais profundo, onde você está sempre só, sempre esteve só. Na vida, na morte, seja onde você estiver, você estará só. Mas é tão pleno — não é vazio —, é tão pleno, tão completo e tão transbordante com todas as seivas da vida, com todas as belezas e bênçãos da existência, que, tendo provado sua solitude, a dor no coração desaparecerá. Em seu lugar, um novo ritmo de imensa suavidade, paz, contentamento e bem- aventurança estará presente.
  • 22. Isso não significa que uma pessoa que está centrada em sua solitude, completa em si mesma, não possa fazer amigos — na realidade, somente ela pode fazer amigos, porque agora essa não é mais uma necessidade, é simplesmente um compartilhar. Ela tem tanto, ela pode compartilhar. Nós somos parte de uma existência. Não importa quem você esteja ferindo, no final das contas você está ferindo a si mesmo. Você pode não se dar conta disso hoje, mas um dia, quando você se tornar mais consciente, você dirá: “Meu Deus! Esta ferida foi causada por mim — em mim mesmo. Você feriu outra pessoa pensando que as pessoas são diferentes. Ninguém é diferente. Esta existência inteira é uma unidade cósmica. A não-violência resulta dessa compreensão. Quando você está com raiva, você está se punindo. Você está em brasas, você está destruindo seu coração e as mais elevadas qualidades dele — e você está cheio de ódio. O ser humano está preenchido se ele está em harmonia com o Universo. Se ele não está em harmonia com o Universo, ele está então vazio, completamente vazio; e desse vazio vem a cobiça. A cobiça é para preencher o vazio — com dinheiro, com casas, com mobília, com amigos, com amores, com qualquer coisa, porque você não pode viver como um vazio. É aterrorizante. É uma vida fantasma.
  • 23. Se você está vazio e não há nada dentro de você, é impossível viver. Para ter a sensação de que você tem muito dentro de si, existem somente dois caminhos. Você entra em harmonia com o Universo... então você é preenchido com o todo, com todas as flores e com todas as estrelas. Esse é o verdadeiro preenchimento. Mas, se você não fizer isso — e milhões de pessoas não estão fazendo —, existirá apenas o caminho de encher-se com qualquer lixo. A cobiça significa simplesmente que você está sentindo um profundo vazio e quer preenchê-lo com qualquer coisa possível; não importa o quê. Uma vez que você tenha compreendido isso, você não se importa com a cobiça. Você se importa em chegar à comunhão com o todo, de modo que o vazio interior desapareça. Todo o passado da humanidade tem exaltado a pobreza, tornando-a equivalente à espiritualidade, o que é um completo absurdo. A espiritualidade é a maior riqueza que pode acontecer a uma pessoa. Ela contém todas as outras riquezas. Ela não é contrária a qualquer outra riqueza, é simplesmente contra todos os tipos de pobreza. Por um lado, as pessoas respeitam a pobreza e por outro lado dizem: “Ajude os pobres”. Estranho! Se a pobreza é tão espiritual, então a coisa mais espiritual será tornar pobres todos os ricos. Ajude o rico a ser pobre para que ele possa tornar-se espiritual. Por que ajudar os pobres? Você quer destruir a espiritualidade deles? Viver em abundância é a única espiritualidade no mundo.
  • 24. Dinheiro é um assunto carregado pela simples razão de que não fomos capazes de achar um sistema sadio, no qual o dinheiro possa ser um servo para toda a humanidade, e não um mestre para poucas pessoas gananciosas. Dinheiro é um assunto carregado porque a psicologia do homem é cheia de cobiça. Caso contrário, o dinheiro é um simples meio de trocar coisas, um meio perfeito; não há nada de errado nele. Mas a maneira como o fazemos funcionar parece ser totalmente errada. Se você não tem dinheiro, você é condenado, toda sua vida é uma maldição. E a vida inteira você fica tentando ter dinheiro por qualquer meio. Se você tem dinheiro, isso não muda a coisa básica — você quer mais e não há fim para o querer mais. E quando finalmente tem tanto dinheiro — embora não seja o suficiente, nunca é o suficiente, mas é mais do que tem qualquer outra pessoa — você começa a se sentir culpado, porque os meios que usou para acumular dinheiro são feios, desumanos, violentos. Você explorou, sugou o sangue das pessoas, foi um parasita. Então agora você tem o dinheiro, mas ele o faz lembrar-se de todos os crimes que cometeu ao ganhá-lo. Isso cria dois tipos de pessoa: o que começa a fazer doações para instituições de caridade a fim de se livrar da culpa e o que se sente tão culpado que ou fica louco ou se suicida. Sua própria existência torna-se simplesmente angústia. Cada respiração se torna pesada. E o estranho é que ele trabalhou a vida inteira para conseguir todo esse dinheiro, porque a sociedade provoca o desejo, a ambição de ser rico, de ser poderoso. E o dinheiro traz poder; ele pode comprar tudo, exceto aquelas poucas coisas que não podem ser compradas. Mas ninguém se importa com aquelas coisas. A meditação não pode ser comprada, nem o amor, nem a amizade, nem a gratidão pode ser comprada — mas ninguém se preocupa com essas coisas.
  • 25. Simplesmente olhe para a existência e sua abundância. Qual é a necessidade de tantas flores no mundo? Apenas rosas bastariam. Mas a existência é farta — milhões e milhões de flores, milhões de pássaros, milhões de animais — tudo em abundância. A natureza não é ascética; ela está dançando em toda parte — no oceano, nas árvores. Está cantando em toda parte — no vento passando através dos pinheiros, nos pássaros... Qual é a necessidade de milhões de sistemas solares, de que cada sistema solar tenha milhões de estrelas? Parece que não há necessidade, exceto que a abundância é a própria natureza da existência, que a riqueza é a sua própria essência, que a existência não acredita em pobreza. Não considero a cobiça um desejo. Ela é uma enfermidade existencial. Você não está em harmonia com o todo; e somente essa harmonia com o todo pode torná-lo virtuoso. Para mim a cobiça não é absolutamente um desejo, então você não precisa fazer nada a respeito. Você tem de compreender esse vazio que você está tentando preencher e fazer a pergunta: Por que estou vazio? A existência toda é tão repleta, por que estou vazio? Talvez eu tenha me extraviado, não estou mais andando na mesma direção. Não sou mais existencial — essa é a causa do meu vazio”. Então seja existencial, flua e mova-se para mais perto da existência, em silêncio e paz, em meditação. E um dia você perceberá que está tão pleno, muitíssimo pleno, transbordando de contentamento, de êxtase, de bênçãos.
  • 26. Você tem tanto que pode dar para o mundo inteiro e mesmo assim não se esgotará. Nesse dia, pela primeira vez, você não sentirá nenhuma cobiça — por dinheiro, por comida, por coisas — por nada. Você viverá, não com uma ambição que não pode ser preenchida, com uma ferida que não pode ser curada; você viverá com naturalidade e o que for preciso você encontrará. Todos se sentem inferiores, de uma maneira ou de outra. E o motivo é que não aceitamos que cada um é único. Não é uma questão de inferioridade ou superioridade. Cada um é único à sua maneira — comparar não é o caso. Nós não temos permitido às pessoas se aceitarem como são. No momento em que você se aceita como é, sem nenhuma comparação, toda inferioridade, toda superioridade desaparece. Na aceitação total de si mesmo, você se livrará desses complexos de inferioridade e superioridade. Caso contrário, você sofrerá a sua vida inteira. E eu não consigo imaginar uma pessoa que possa ter tudo neste mundo. As pessoas tentaram e falharam totalmente. Simplesmente seja você mesmo e isso é o bastante. Você é aceito pelo Sol, você é aceito pela Lua, você é aceito pelas árvores, você é aceito pelo oceano, você é aceito pela Terra. O que mais você quer? Você é aceito por todo este Universo. Deleite-se nele. Ser aprovado e ser reconhecido são necessidades de todos.
  • 27. Toda a nossa vida é estruturada de tal maneira que, a menos que haja reconhecimento, não somos ninguém, não temos valor. Nosso trabalho não é importante, mas o reconhecimento sim. E isso está colocando as coisas de cabeça para baixo. Nosso trabalho deveria ser importante — uma alegria em si mesmo. Você deveria trabalhar não para ser reconhecido, mas porque você sente prazer em ser criativo. Você aprecia o trabalho pelo próprio trabalho. Você trabalha se você aprecia o trabalho. Não espere o reconhecimento. Se ele vier, não dê muita importância. Se ele não vier, não pense a respeito. Sua satisfação deveria ser com o próprio trabalho. Se todos aprendessem esta simples arte — de gostar do seu trabalho, seja ele qual for, divertindo-se com ele, sem esperar nenhum reconhecimento —, teríamos um mundo mais lindo e celebrativo. Não sendo assim, o mundo o prende a um padrão de miséria. Aquilo que você está fazendo não é bom porque você gosta, porque você o faz com perfeição, mas porque o mundo reconhece isso, recompensa-o, dá-lhe medalhas de ouro, prêmios Nobel. Todo o valor intrínseco da criatividade foi tirado e milhões de pessoas foram destruídas — porque você não pode dar milhões de prêmios Nobel. E você criou o desejo pelo reconhecimento em todos, assim ninguém pode trabalhar em paz, silenciosamente, apreciando seja lá o que for que esteja fazendo. E a vida consiste de pequenas coisas. Para essas pequenas coisas não há recompensas, títulos dados pelos governos, graus honorários dados pelas universidades.
  • 28. Qualquer pessoa que tenha algum senso de sua individualidade vive pelo seu próprio amor, pelo seu próprio trabalho, sem se importar absolutamente com o que os outros pensam disso. O contentamento não está no fato de completar algo; o contentamento está no fato de que você o desejou com tal intensidade que, enquanto o estava fazendo, você esqueceu tudo, o mundo inteiro; ele era o único foco de todo o seu ser. E aí estão seu êxtase e sua recompensa — não na conclusão, não na permanência de qualquer coisa. Nesse fluxo mutável da existência, temos de encontrar a cada momento sua própria recompensa. Seja o que fizemos, demos o melhor de nós, não fomos parciais. Não estávamos segurando nada, mas colocando todo o nosso ser no ato. É aí que está nosso êxtase. É um fato que cada um é único e cada um tem certa individualidade. Temos apenas de abandonar as idéias de como as pessoas deveriam ser e substituí-las pela filosofia de que, sejam como forem, elas são lindas. Não existe a questão do “deveria ser”, porque quem somos nós para impor qualquer “deveria” em alguém? Se a existência o aceita como você é, então quem sou eu para não aceitá-lo? Assim, simplesmente uma mudança de atitude — e é uma coisa muito simples, uma vez que faça parte de sua maneira de ver: cada um é único, cada um é da maneira que é e deveria ser. Não é preciso que ele seja outra pessoa para ser aceito; ele já é aceito. A isso eu chamo respeito pela individualidade, respeito pelas pessoas — como elas são. A humanidade toda pode ser muito amorosa e alegre se pudermos aceitar as pessoas como elas são.
  • 29. Um comunismo que resulte do amor, da inteligência, da generosidade será verdadeiro. Um comunismo que vem através da força é falso. Não há uma só pessoa no mundo, por mais pobre, que não tenha nada a oferecer. Por que não criar uma vida na qual o dinheiro não determine uma hierarquia, mas simplesmente dê mais e mais oportunidades para todos? As pessoas autoritárias são as pessoas que têm complexo de inferioridade. Para esconder sua inferioridade, elas impõem sua superioridade. Elas querem provar que são alguém, que a palavra delas é a lei. Mas bem no fundo elas são seres muito inferiores. A natureza certamente não tem hierarquia. A hierarquia é um jogo da mente humana, porque sem ela o ego não se nutre; ele morre. Na natureza tudo tem uma oportunidade, um espaço e ninguém é o chefe. Ninguém é mestre e ninguém é escravo. A natureza funciona quase como uma unidade orgânica na qual a individualidade não é perdida, mas na qual o ego não tem chance de desenvolver-se; por isso as árvores não têm ego, os pássaros não têm ego, os animais de todas as espécies não têm ego. O problema surge com o ser humano. Éum privilégio do ser humano — somente do ser humano — ser só, colocando- se contra o mundo inteiro se ele sente que está com a verdade.
  • 30. Se você sente que esse é o caminho que leva à liberdade, aceite então qualquer tipo de responsabilidade. Todas essas responsabilidades não vão ser uma carga para você. Todas elas vão torná-lo mais maduro, mais centrado, mais enraizado, um indivíduo mais lindo. Você tem apenas um momento em suas mãos — o momento real. E você não terá esse momento de volta. Ou você o vive ou o deixa sem viver. Toda criança compreende que vê o mundo de maneira diferente da de seus pais. Isso está absolutamente certo no que se refere à percepção. Seus valores são diferentes. A criança pode estar pegando conchinhas na praia e seus pais dirão: “Jogue-as fora. Por que você está perdendo tempo?” E para a criança as conchinhas eram tão lindas! Ela pode perceber a diferença, pode perceber que seus valores são diferentes. Os pais estão correndo atrás de dinheiro; ela quer colecionar borboletas. Ela não consegue perceber por que eles estão tão interessados em dinheiro: “O que vocês vão fazer com ele?” E seus pais não conseguem perceber o que ela vai fazer com essas borboletas ou com essas flores. Toda criança fica sabendo disto, que existem diferenças. O único problema é que ela tem medo de afirmar que está certa. No que se refere à criança, ela deveria ser deixada em paz. É uma questão de apenas um pouco de coragem — que tampouco está faltando nas crianças, mas simplesmente toda a sociedade funciona de uma tal maneira que mesmo uma linda qualidade como a coragem será condenada numa criança.
  • 31. Se os pais amam verdadeiramente as crianças, eles as ajudarão a ser corajosas — até corajosas contra eles. Eles as ajudarão a ser corajosas contra os professores, contra a sociedade, contra qualquer um que vá destruir sua individualidade. Lembre-se de nunca fazer concessões. Fazer concessões é absolutamente contra toda a minha visão. Veja as pessoas — elas são infelizes porque fizeram concessões em todos os pontos e não podem se perdoar por as terem feito. Elas sabem que poderiam ter arriscado, mas se mostraram covardes, aos próprios olhos elas caíram, perderam o auto-respeito. É isso que o fazer concessões causa. Por que deveríamos fazer concessões? O que temos a perder? Nesta pequena vida, viva tão totalmente quanto possível. Não tenha medo de ir ao extremo. Você não pode ser mais do que total — essa é a última linha. E não faça concessões. Toda a sua mente falará em favor das concessões, porque assim fomos educados, condicionados. “Fazer concessões” é uma das expressões mais feias em nossa linguagem. Significa: “Eu dou metade, você dá metade; eu deixo por meio, você deixa por meio”. Mas por quê? Quando você tem o todo, quando você pode comer o bolo e tê-lo também, por que então fazer acordo? Simplesmente um pouco de coragem, simplesmente um pouco de atrevimento — e isso apenas no começo.
  • 32. Uma vez que você tenha experienciado a beleza de não fazer concessões e a dignidade, a integridade e a individualidade que isso traz, pela primeira vez você sentirá que tem raízes, que vive a partir de um centro que é seu. A pessoa infeliz é facilmente escravizada. A pessoa alegre, a pessoa extática, não pode ser escravizada. Por que não criar uma vida em que o sexo não traga experiências amargas, ciúmes, fracassos; em que o sexo se torne simplesmente diversão — nada mais do que qualquer outro jogo, simplesmente um jogo biológico? Você joga tênis; isso não significa que por toda a sua vida você tenha de jogar tênis com o mesmo parceiro. A vida deveria ser mais rica. Somente um pouco de compreensão é necessária e o amor não será um problema, o sexo não será um tabu. A mente é simplesmente uma coleção de memórias do passado e, a partir dessas memórias, imaginações sobre o futuro. Use toda a oportunidade na vida para elevar sua inteligência, sua consciência. Em geral o que estamos fazendo é usar cada oportunidade para criar um inferno para nós mesmos. Somente você sofre e, devido a seu sofrimento, você faz os outros sofrer. Quando muitas pessoas que estão vivendo juntas criam sofrimento umas em relação às outras, ele vai se multiplicando. Dessa maneira é que o mundo todo se tornou um inferno. Isso pode ser mudado instantaneamente; simplesmente a coisa básica tem de ser entendida: sem inteligência, não existe paraíso.
  • 33. A função dos pais não é ajudar os filhos a crescer; eles crescerão sem você. Sua função é apoiar, nutrir, ajudar o que já está crescendo. Não dê direções e não dê ideais. Não lhes diga o que está certo e o que está errado — deixe-os descobrir pela própria experiência. A idéia toda de que os filhos são sua propriedade está errada. Eles nascem através de você, mas não pertencem a você. Você tem um passado; eles têm somente um futuro. Eles não vão viver à sua maneira. Viver à sua maneira será quase equivalente a não viver absolutamente. Eles têm de viver de acordo com eles mesmos— em liberdade, em responsabilidade, em perigo, em desafio. Uma vez que você entenda que seus filhos não lhe pertencem, que eles pertencem à existência e você foi simplesmente uma passagem, você tem de ser grato à existência por havê-lo escolhido para ser uma passagem para umas poucas crianças lindas. Não interfira no crescimento delas, no seu potencial. Não se imponha sobre elas. Elas não vão viver nos mesmos tempos, não vão se defrontar com os mesmos problemas. Elas vão ser parte de um outro mundo. Não as prepare para este mundo, esta sociedade, este tempo, porque então você estará criando problemas para elas. Elas se sentirão deslocadas, não qualificadas. A crueldade é um mal-entendido.
  • 34. Ela surge em nós devido ao medo da morte. Nós não queremos morrer, assim, antes que outra pessoa o mate, você gostaria de matá-la — porque o melhor método de defesa é o ataque. E você não sabe quem vai atacá-lo. No reino animal, no mundo humano, existe uma tremenda competição; então as pessoas simplesmente seguem atacando, não interessando a quem atacam ou se seriam realmente atacadas. Mas não há um modo de descobrir — é melhor não se arriscar. Quando você ataca alguém, seu coração vai se tornando, bem lentamente, cada vez mais duro e você começa a ter prazer em atacar. O fenômeno pode ser visto nos animais, devido à mesma competição por comida, por poder... A crueldade nada mais é do que um espírito competitivo para ser o primeiro. Se isso significa violência, então que seja violência, mas a pessoa tem de ser a primeira. Isso ocorre nos animais, ocorre no homem. Mas por que essa corrida para ser o primeiro? A razão existencial é a morte. A crueldade somente desaparece — e é desse modo que eu encontro pista sobre por que existe crueldade — quando você sabe que a morte não existe. Quando você experiencia algo imortal em você, toda a crueldade desaparece. Então não tem importância; você não precisa correr, você pode deixar o outro ir à sua frente, porque o pobre-coitado não sabe que o mundo é infinito, que a vida é infinita. Não há maneira de perder nada; se não acontecer hoje, acontecerá amanhã. Mas você não pode perder nada, se você entender. Na realidade, ao lutar e ser cruel e violento com o outro, você pode perder muito, porque todo esse processo o endurecerá, fará de seu coração uma pedra.
  • 35. E o coração, tornado pedra, vai perder tudo o que é grandioso, tudo o que é belo, tudo o que é extático. É difícil explicar aos animais. Mas o verdadeiro problema é que também é difícil explicar aos seres humanos que através da competição, da ambição violenta, chegando sempre em primeiro lugar você está criando um mundo insano no qual ninguém desfruta nada e todos permanecem pobres. A única maneira de fazer as pessoas entender é ajudando-as a sentir o ser imortal delas, e imediatamente toda a crueldade desaparecerá. É a idéia de uma vida curta que está criando o problema. Se você tem infinidade em ambos os extremos — passado e futuro —, não há necessidade de ter pressa, nem necessidade de competir. A vida é tamanha e tão completa... você não pode exauri-la. Aqueles que querem apenas pensar sobre a vida, sobre o viver, sobre o amor — para eles o passado e o futuro são perfeitamente belos, porque lhes dão uma oportunidade perfeita. Eles podem decorar seu passado, torná-lo tão lindo quanto queiram — embora eles nunca o tenham vivido. Quando ele estava presente, eles não estavam lá. Essas são apenas sombras, reflexos. Eles estavam correndo continuamente e, enquanto corriam, viram algumas coisas que eles pensam que viveram. No passado, somente a morte é a realidade, não a vida. No futuro também, somente a morte é a realidade, não a vida. Para preencher o vazio, aqueles que perderam o viver no passado começam automaticamente a sonhar sobre o futuro. O futuro deles é somente uma projeção resultante do passado. Tudo o que eles perderam no passado, esperam encontrar no futuro; e entre essas duas inexistências está o pequeno momento existente, que é a vida.
  • 36. Considera-se que o tempo se divide em três partes — o passado, o presente e o futuro —, o que está errado. O tempo consiste somente de passado e futuro. É a vida que consiste do presente. Assim, para aqueles que querem viver, não existe outra maneira a não ser viver este momento. Somente o presente é existencial. O passado é simplesmente uma coleção de memórias e o futuro nada é além de sua imaginação, de seus sonhos. A realidade está aqui e agora. O presente não tem nada a ver com tempo. Se você está simplesmente aqui neste momento, não existe o tempo. Existe imenso silêncio, quietude, ausência de movimento; nada está passando, tudo subitamente parou. O presente lhe dá a oportunidade de mergulhar fundo na água da vida, ou de voar alto no céu da vida. Mas em ambos os lados existem perigos — “passado” e “futuro” são as palavras mais perigosas na língua humana. Entre o passado e o futuro, viver no presente é quase como caminhar numa corda bamba; existe perigo em ambos os lados. Mas, uma vez que você tenha saboreado os néctares do presente, você não se importa com perigos. Uma vez que você esteja em sintonia com a vida, então nada importa. E, para mim, a vida é tudo o que existe. Para aqueles que querem viver — não pensar a respeito, mas amar; não pensar a respeito, mas ser; não filosofar a respeito —, não existe alternativa além de beber o néctar do presente momento. Beba-o completamente, porque ele não vai voltar.
  • 37. Quando vai embora, vai-se para sempre. A vida se estende por setenta, oitenta anos; a morte acontece em um único momento. Ela é tão condensada que, se você viveu sua vida corretamente, você será capaz de penetrar no mistério da morte. E o mistério da morte é que ela é apenas uma fachada; dentro está sua imortalidade, sua vida eterna. Não penso muito sobre o futuro porque o futuro nasce do presente. Se pudermos cuidar do presente, estaremos cuidando do futuro. O futuro não virá do nada; ele vai surgir deste momento. Se este momento é belo, silencioso, extático, o próximo momento será necessariamente mais silencioso, mais extático. Para mim, a seriedade é uma doença; e o senso de humor torna você mais humano, mais humilde. O senso de humor, a meu ver, é uma das partes mais essenciais da religiosidade. O ser humano não precisa transcender a natureza. Eu digo a você: ele tem de realizar a natureza — o que nenhum animal pode fazer. Essa é a diferença. Você nasce como um ser natural. Você não pode ir acima de você mesmo. É como puxá-lo para cima puxando-o pelas pernas.
  • 38. Talvez você possa saltar um pouco, mas, mais cedo ou mais tarde, você vai cair no chão e talvez tenha algumas fraturas. Você não pode voar. E isso é o que tem sido feito: as pessoas têm tentado elevar-se acima da natureza, o que significa acima delas mesmas. Mas elas não são separadas da natureza. O ser humano tem a capacidade, a inteligência, a liberdade para vivenciar — se você vivenciou totalmente a natureza, você chegou em casa. A natureza é a sua casa. Uma das leis básicas da vida é que tudo o que é mais elevado é muito vulnerável. As raízes de uma árvore são muito fortes, mas as flores não são. As flores são muito vulneráveis — simplesmente uma brisa forte e a flor pode ser destruída. O mesmo é verdadeiro a respeito da consciência humana. O ódio é muito forte, mas não o amor. O amor é exatamente como uma flor — facilmente esmagada por qualquer pedra, destruída por qualquer animal. Os valores mais elevados da vida devem ser protegidos. Os valores mais baixos têm uma certa proteção própria. Uma pedra não precisa ser protegida, mas, bem a seu lado, a rosa na roseira tem de ser protegida. A pedra é morta, não pode tornar-se mais morta. Ela não precisa de proteção. Mas a rosa é tão viva, tão linda, tão colorida, tão atraente. Esse é o perigo — é a sua força, mas é também um convite ao perigo. Alguém pode colhê-la. Ninguém apanhará a pedra, mas a rosa pode ser colhida.
  • 39. O amor deveria ser feito no ápice e isso requer certa disciplina. As pessoas têm usado disciplina para não fazer amor. Eu ensino disciplina para fazer amor da maneira certa, de modo que seu amor não seja apenas algo biológico que nunca alcança o seu mundo psicológico. O amor tem potencial para alcançar até mesmo o seu mundo espiritual e, no seu ápice, ele irá alcançar o seu mundo espiritual. O orgasmo não é algo necessário à reprodução. É algo que abre uma janela à evolução superior da consciência. A experiência do orgasmo é sempre não-sexual. Mesmo que você a tenha alcançado através do sexo, o orgasmo em si não tem sexualidade. Isso dá o insight de que pode haver possibilidades de alcançá-lo através de meios não-sexuais, porque o orgasmo em si não é sexual, e assim a sexualidade não é necessariamente o único caminho. Quem pela primeira vez experienciou isso deve ter concluído que podem existir outras maneiras de alcançar o orgasmo — porque o sexo não é necessariamente uma parte nele. Ele não deixa nenhuma cor, nenhuma impressão de sexo em si. Ele deve ter observado como o orgasmo acontece e então as coisas ficam muito claras: no momento em que o orgasmo acontece, o tempo pára, você esquece o tempo. Sua mente pára, você deixa de pensar. Existe uma imensa tranquilidade e uma enorme consciência. Qualquer observador passando pela experiência naturalmente pensará: “Se estas coisas podem ser obtidas sem sexo — consciência, ausência de pensamento, ausência de tempo —, você alcançará o estado orgásmico desviando-se da sexualidade”. E é assim que eu entendo: essa é a maneira pela qual o ser humano deve ter descoberto pela primeira vez a meditação.
  • 40. A liberdade simplesmente o torna absolutamente responsável por tudo o que você é e o que você vai vir a ser. Existem pessoas que ficam com raiva; essas são as pessoas que criam revoluções, mudanças na sociedade, no Estado. Mas todas as suas revoluções fracassaram, porque qualquer coisa que resulte da raiva está vindo da ignorância. Isso não vai criar uma mudança autêntica. Mudar para melhor a partir da raiva é impossível. Eu quero que você se lembre de uma coisa — de que a tristeza é simplesmente a raiva de cabeça para baixo. Ela não é diferente; é a raiva reprimida. Se você a analisar, você verá então o fato. A tristeza pode mudar para a raiva muito facilmente; a raiva pode mudar para a tristeza da mesma maneira. Elas não são duas coisas... talvez dois lados da mesma moeda. O mundo está triste, está em miséria. Existe enorme sofrimento no coração das pessoas. Mas você não precisa ficar triste com isso, pela simples razão de que ficando triste você se junta a elas, cria mais tristeza. Isso não é uma ajuda. É simplesmente como se as pessoas estivessem doentes e você visse a doença delas e também ficasse doente. Sua doença não vai torná-las saudáveis; está simplesmente criando mais doença. Sensibilizar-se com a doença delas significa buscar as causas, buscar o que está criando todo o sofrimento e miséria e ajudá-las a remover essas causas.
  • 41. E, ao mesmo tempo, você tem de permanecer o mais alegre possível, porque sua alegria vai ajudá-las, não sua tristeza. Você tem de estar alegre. Elas precisam saber que existe uma possibilidade de se estar feliz neste mundo triste... A raiva é sempre um sinal de fraqueza. As épocas de catástrofes tornam você consciente da realidade tal como ela é. Ela é sempre frágil, todos estão sempre em perigo. Só que nas épocas comuns você está profundamente adormecido, então não percebe isso. Você fica sonhando, imaginando lindas coisas para os dias que virão, para o futuro. E nos momentos em que o perigo é iminente você então subitamente se torna consciente de que talvez não haja futuro, não haja manhã, de que este é o único momento que você tem. As épocas de catástrofes são muito reveladoras. Elas não trazem nada de novo ao mundo, simplesmente o tornam consciente do mundo como ele é. Elas despertam você. Se você não compreender isso, você pode ficar louco; se você compreender isso, você pode acordar. Ficar preocupado não tem razão de ser, porque você estará apenas perdendo esse momento e não ajudará ninguém. Assim, este é o segredo de como transcender o perigo: comece a viver mais completa e totalmente, com mais atenção, de modo que você possa encontrar dentro de você algo que é intocável pela morte. Esse é o único abrigo, a única segurança, a única garantia. Então é somente uma questão de como usar tudo.
  • 42. Seja o que for, use-o corretamente. O desastre é enorme, o perigo é enorme, mas enorme também é a oportunidade. Nenhuma ilusão pode sustentar-se contra a realidade. A realidade vai esmagá-la mais cedo ou mais tarde. A função de um pai ou de uma mãe é grandiosa, porque eles estão trazendo um novo convidado para este mundo — que nada sabe, mas traz algum potencial com ele. A menos que seu potencial se desenvolva, ele ficará infeliz; e nenhum pai ou mãe pode conceber que seus filhos fiquem infelizes. Os pais querem que seus filhos sejam felizes — só que seu modo de pensar está errado. Eles pensam que se seus filhos se tornarem doutores, se eles se tornarem professores, engenheiros, cientistas, então eles serão felizes. Eles não sabem. Seus filhos somente podem ser felizes se eles se tornarem aquilo a que vieram para se tornar. Eles apenas podem se tornar a semente que estão carregando dentro de si. Julgamentos são feios — ferem as pessoas. Por um lado você as continua ferindo, machucando e por outro lado você quer o amor delas, o respeito delas. Isso é impossível. Ame-as, respeite-as e talvez seu amor e respeito possam ajudá-las a mudar muitas das suas fraquezas, muitas das suas falhas, porque o amor dará a elas uma nova energia, um novo significado, uma nova força. O amor dará a elas novas raízes para que se mantenham em pé contra o vento forte, o sol quente, as chuvas pesadas.
  • 43. Sempre que houver uma questão de escolha, a cabeça não pode ser escolhida contra o coração. O coração é o seu relacionamento com a existência e a cabeça é o seu relacionamento com a sociedade. Se você está triste, você está errado; se você está alegre, você está certo. Quando digo: seja animado, seja feliz, alegre-se com o fato de que você não está na posição de ser miserável e estar sofrendo, tenho um determinado propósito por detrás disso. O propósito é que você tem de se tornar um exemplo para aquelas pessoas que esqueceram completamente que a vida pode também ser uma celebração. Apesar de toda a escuridão, você ainda pode se livrar dela, você ainda pode dançar. A escuridão não pode impedir sua dança; ela não tem força para impedi-lo. Para mim, esse é o verdadeiro servir. A mente deveria ser treinada para ser uma serva do coração. A lógica deveria servir o amor. E então a vida pode tornar-se um festival de luzes. O antigo ditado “Como acima, assim abaixo”, ou vice-versa, contém uma das verdades mais básicas sobre o misticismo. Significa que não existe acima, não existe abaixo, que a existência é una. As divisões são criadas pela mente. A existência é indivisível. As divisões são nossas projeções e nós ficamos tão identificados com elas que perdemos o contato com o todo.
  • 44. Nossa mente é simplesmente uma pequena janela abrindo-se para o vasto universo, mas, quando você olha sempre da janela, a esquadria emoldura o céu lá fora. Embora não exista moldura no céu — ele é imoldurável —, para a sua percepção a esquadria da janela torna-se a moldura da existência. É como acontece de vez em quando com as pessoas que usam óculos, procurando por eles tendo-os no nariz. Elas até mesmo esqueceram que não podem ver sem os óculos, e, se estão olhando e vendo, isso é a certeza absoluta de que os óculos estão no lugar. Mas se você usa óculos durante anos, aos poucos, lentamente, eles se tornam parte de você, tornam-se seus olhos. Você não pensa neles como algo separado de você. Mas cada par de óculos pode dar sua própria cor às coisas. Você é quem vê por detrás — os óculos não podem ver por si mesmos. As coisas fora não têm a cor que os óculos estão impondo sobre elas, mas você se tornou tão identificado com os óculos... A mente do ser humano é também apenas um instrumento. Os óculos estão fora do esqueleto, a mente está dentro do esqueleto, de modo que você não pode tirá-la todo o dia. E você está tão perto dela, lá dentro, que a própria proximidade se tornou a identificação. Assim, tudo aquilo que a mente vê é julgado como sendo a realidade. E a mente não pode ver a realidade; a mente pode ver apenas seus próprios preconceitos. Ela pode ver suas próprias projeções exibidas na tela do mundo. No mundo, o maior inimigo da verdade é a pessoa erudita — e o maior amigo é aquele que sabe que nada sabe.
  • 45. Nós fomos mandados, ensinados, programados de tal maneira que mesmo algo como o amor tem de ser mental. O amor é basicamente do coração, mas toda a nossa sociedade tem tentado desviar-se do coração, porque ele não é lógico, não é racional. Para a nossa mente, que foi treinada através da educação, qualquer coisa ilógica está errada, qualquer coisa irracional está errada; somente algo lógico está certo. E na nossa programação educacional não existe lugar para o coração; apenas para a mente. O coração foi praticamente removido da nossa existência, silenciado. Nunca lhe foi dada uma chance para crescer, para que seu potencial se realize. Assim, a mente está dominando. A mente é boa no que se refere ao dinheiro, a mente é boa no que se refere à guerra, a mente é boa no que se refere às ambições; mas a mente é absolutamente inútil no que se refere ao amor. Dinheiro, guerra, desejo, ambições — você não pode colocar o amor na mesma categoria. O amor tem uma nascente separada em seu ser, na qual não existe contradição. Uma educação autêntica não ensinará apenas à sua mente — porque a mente pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas não uma vida boa. O coração não pode lhe dar uma boa maneira de ganhar a vida, mas pode dar- lhe uma boa vida. E não há razão para escolher entre ambos: use a mente para o que ela é feita e use o coração para o que ele é feito. As religiões, os políticos, os negociantes, os soldados — todos querem que a mente seja treinada. E o coração pode ser uma perturbação, ele vai ser uma perturbação. Se você é um soldado e tem coração, você não pode matar o inimigo.
  • 46. No momento em que você pega em sua arma para matar alguém, seu coração dirá: “Assim como você tem uma esposa à sua espera — seus filhos, sua velha mãe e seu velho pai —, a mulher deste pobre homem deve estar esperando também; seus filhos, sua velha mãe e seu velho pai devem estar esperando que ele volte para casa”. Ele não lhe fez nada e você vai matá-lo. Para quê? Para ganhar uma condecoração da academia militar? Para ser promovido? Se você imagina a sociedade tornando-se uma sociedade ideal, um paraíso, parece ser impossível; existem tantos conflitos e parece não haver maneira de harmonizá-los. Uma sociedade humana harmoniosa é possível, deveria ser possível, porque será a melhor oportunidade para todos crescerem, a melhor oportunidade para cada um ser ele mesmo. As mais fecundas possibilidades estarão à disposição de todos. Então parece que da maneira que está a sociedade é absolutamente estúpida. Os utopistas não são sonhadores, mas os seus assim chamados realistas, que condenam os utopistas, são estúpidos. Ambos, porém, estão de acordo em um ponto — que alguma coisa precisa ser feita na sociedade. Todos eles estão preocupados com a sociedade — e essa é a falha deles. Como eu a vejo, a utopia não é algo que não vai acontecer — é algo que é possível, mas deveríamos ir às causas, não aos sintomas. E as causas estão nos indivíduos, não na sociedade. O ser humano esqueceu quem ele verdadeiramente é. Praticamente tornou-se auto-hipnotizado com uma determinada idéia sobre si mesmo e carrega essa idéia por toda sua vida, sem saber que isso não é ele, mas somente uma sombra.
  • 47. E você não pode realizar sua sombra. Não há necessidade de nenhuma guerra, de nenhuma luta, não há necessidade de ciúme, de ódio. A vida é tão curta e o amor é tão precioso. E quando você pode preencher sua vida com amor, com harmonia, com alegria, quando você pode tornar sua vida uma poesia em si mesma... Se você não o faz, somente você é responsável por isso, ninguém mais. É apenas uma questão de compreensão; é necessário um simples insight para não ser arrastado para baixo pelas forças da escuridão, da negatividade, da destruição. Simplesmente um pouco de atenção é necessária para devotar-se à criatividade, ao amor, à sensibilidade e tornar esta pequena vida em uma série de canções — de modo que você dance em sua vida e sua morte seja o crescendo de sua dança; de modo que você viva totalmente e morra totalmente, sem queixas, mas com agradecimento, com gratidão à existência. Todos querem ser amados. Esse é um começo errado. E ele começa porque a criança, a pequena criança, não pode amar, não pode dizer nada, não pode fazer nada — pode apenas receber. A experiência de amor de uma criança pequena é a de receber — receber da mãe, receber do pai, receber dos irmãos, irmãs, receber dos hóspedes, dos estranhos, mas sempre receber. Assim a primeira experiência se instala no fundo de seu inconsciente — de que ela tem de receber amor. Mas o problema surge porque todos foram crianças e todos têm a mesma ânsia de receber amor; e ninguém nasce de uma maneira diferente. Então todos estão pedindo: “Dê-nos amor” e não há ninguém para dar, porque a outra pessoa foi também educada da mesma maneira.
  • 48. Então é preciso estar alerta e consciente de que uma simples circunstância de nascimento não deveria permanecer um constante estado predominante de sua mente. Em vez de pedir: “Dê-me amor”, comece a dar amor. Esqueça sobre receber, simplesmente dê; e, eu lhe garanto, você receberá muito. A evolução funciona através de polaridades. Assim como você não pode caminhar com uma só perna — você necessita de duas pernas para caminhar —, a existência necessita de pólos opostos — homem e mulher, vida e morte, amor e ódio — para criar o impulso; do contrário, haverá silêncio. O oposto por um lado o atrai e por outro lado faz você sentir-se dependente. E ninguém quer ser dependente; por isso existe uma luta constante entre os amantes. Eles estão tentando dominar um ao outro. O nome é amor, mas o jogo é política. O esforço do homem é para dominar a mulher, para reduzi-la a um status inferior, não permitir que ela cresça, de tal modo que ela sempre permaneça retardada. A liberdade da mulher da escravidão pelo homem será também uma liberdade que o homem vai experienciar. Assim, eu digo que o movimento de liberação da mulher é não apenas de liberação da mulher, mas também o movimento de liberação do homem; ambos serão liberados. A escravidão está amarrando a ambos e existe uma contínua luta. A mulher encontrou suas estratégias próprias para atormentar o marido, para ralhar com ele, para rebaixá-lo; e o homem tem sua própria estratégia. E no meio desses dois campos de batalha estamos esperando que o amor aconteça. Passaram-se séculos — o amor não aconteceu, ou aconteceu apenas raramente.
  • 49. Esta é a situação do amor comum, que é apenas amor no nome, não uma realidade. Se você pergunta qual a minha visão do amor... não é mais uma questão de dialética, de oposição. O homem e a mulher são diferentes e complementares. O homem sozinho é meio, assim como a mulher. Somente juntos, num profundo sentimento de unicidade, eles sentem totalidade, perfeição, pela primeira vez. O que o homem tem feito à mulher, há milhares de anos, é simplesmente monstruoso. Ela não pode pensar em si mesma como igual ao homem. E ela foi tão profundamente condicionada que, mesmo que você diga que ela é igual, ela não vai acreditar. Isso tornou-se quase a sua mente, o condicionamento de que ela é menos em tudo — força física, qualidades intelectuais — tornou-se a sua mente. E o homem que reduziu a mulher a tal estado também não pode amá-la. O amor pode existir apenas em igualdade, em amizade. Se você pode amar sem ciúme, se você pode amar sem apego, se você pode amar tanto uma pessoa que a felicidade dela seja a sua felicidade — mesmo que ela esteja com outra pessoa e seja feliz, isso faz você feliz, porque você a ama tanto... a felicidade dela é a sua felicidade. Você ficará feliz porque ela está feliz e você será grata à pessoa que tornou feliz a pessoa que você ama — você não ficará com ciúme. Então o amor chegou a uma pureza. Esse amor não pode criar nenhum cativeiro. E esse amor é simplesmente o abrir do coração a todos os ventos, ao céu inteiro.
  • 50. O ciúme é muito complicado. Existem muitos ingredientes nele. Covardia é um deles; atitudes egoístas é outro; desejo monopolista — não uma experiência de amor, mas somente de possessividade; uma tendência a ser competitivo; um medo profundamente enraizado de ser inferior. Tantas coisas estão envolvidas no ciúme. Orisco deveria ser um dos fundamentos básicos de um verdadeiro ser humano. No momento em que você vê que as coisas estão ficando estáveis, mova-as. Você é uma turba, uma multidão. Você simplesmente tem de olhar mais de perto, mais profundamente e encontrará muitas pessoas dentro de você. E todas elas, em algum momento, fingem ser você. Quando está com raiva, uma determinada personalidade o possui e finge ser você. Quando está amando, então outra personalidade o possui e finge ser você. Isso não é apenas confuso para você, mas também para todos que entram em contato com você, porque eles não podem entender. Eles mesmos são uma multidão. E em cada relacionamento não são duas pessoas se casando, mas duas multidões se casando. Vai haver continuamente uma guerra, porque raramente acontecerá — apenas por acidente — de a sua pessoa amorosa estar no comando e a pessoa amorosa do outro estar no comando. Se não for assim, vocês continuam se desencontrando. Você está amoroso, mas o outro está triste, ou zangado, ou preocupado. E quando ele está num estado amoroso você não está.
  • 51. E não há maneira de provocar essas personalidades, elas se movem por conta própria. Existe uma determinada rotação dentro de você — se ficar observando, não interfira com essas personalidades, porque isso criará mais bagunça, mais confusão... Simplesmente observe, porque, observando-as, você vai se tornar alerta de que existe também um observador, que não é uma personalidade, diante do qual essas personalidades vêm e vão. E essa não é outra personalidade, porque uma personalidade não pode observar outra personalidade. Isso é algo muito interessante e muito básico: uma personalidade não pode observar outra personalidade, porque elas não têm nenhuma alma. É como suas roupas. Você pode mudar suas roupas, mas suas roupas não conseguem saber que estão sendo trocadas, que agora outra peça de roupa está sendo usada. Você não é as roupas, então você pode mudá-las. Você não é uma personalidade — por isso você pode tornar-se consciente dessas inúmeras personalidades. Mas isso também deixa muito claro um ponto: existe algo que fica observando todo esse jogo de personalidades ao seu redor. E esse algo é você. Assim, observe essas personalidades, mas lembre-se de que seu estado de alerta é sua realidade. Se você pode permanecer alerta da personalidade, essas personalidades começarão a desaparecer; elas não conseguem viver. Elas precisam de identificação para permanecer vivas. Se você está com raiva, é por que está se esquecendo de observar e está se identificando com ela — se você observa então a raiva não tem vida; já está morta, morrendo, desaparecendo.
  • 52. Permaneça então cada vez mais concentrado em sua observação e todas essas personalidades desaparecerão. Quando não sobrar nenhuma personalidade, então a sua realidade — o mestre — chegou em casa. Então você se comporta sinceramente, autenticamente. Então tudo o que fizer você faz totalmente, completamente — você nunca se arrepende. Você está sempre num humor festivo. Muitos dos nossos problemas — talvez a maioria de nossos problemas — existem porque nunca os olhamos face a face, nunca os enfrentamos. E não olhar para eles está lhes dando energia, ter medo deles está lhes dando energia, estar sempre tentando evitá-los está lhes dando energia — porque você os está aceitando. A sua própria aceitação é a existência deles. A não ser com a sua aceitação, eles não existem. Você tem a fonte da energia. Tudo o que acontece em sua vida necessita da sua energia. Se você corta a fonte da energia e — em outras palavras isso é o que eu chamo identificação —, se você não se identifica com nada, imediatamente aquilo se torna morto, não tem energia própria. E a não-identificação é o outro lado do estar alerta. O hábito é fácil, a consciência é difícil — mas apenas no começo. Nunca nos preocupamos com as raízes do amor e falamos somente sobre as flores. Dizemos às pessoas para serem não-violentas, para serem compassivas, para serem amorosas — de tal maneira que você possa amar seu vizinho, de tal maneira que você possa amar até seu inimigo.
  • 53. Falamos sobre as flores, mas ninguém está interessado nas raízes. A questão é: por que não somos seres amorosos? Não é uma questão de ser amoroso com esta pessoa ou com aquela pessoa, com o amigo ou com o inimigo; a questão é se você é amoroso ou não. Você ama o próprio corpo? Você já se importou em tocar o próprio corpo carinhosamente? Você se ama? Você está errado e tem de se corrigir. Você é um pecador e tem de se tornar um santo. Como você pode se amar? — você nem consegue se aceitar. E essas são as raízes! As flores plásticas são permanentes — o amor plástico será permanente. A flor de verdade não é permanente, está mudando a cada momento. Hoje ela está ali, dançando ao vento e ao sol e na chuva. Amanhã você não será capaz de encontrá-la. Ela desapareceu tão misteriosamente como havia aparecido. O verdadeiro amor é como uma flor verdadeira. O coração nada sabe do passado, nada sabe do futuro, sabe apenas do presente. O coração não tem o conceito de tempo. Entenda que o passado e o futuro são ambos não-existenciais. Tudo o que você tem é um instante muito pequeno: este próprio instante. Você nem mesmo consegue outro instante. Você sempre tem apenas um instante em suas mãos; e ele é tão pequeno e tão fugaz que se você estiver pensando no passado e no futuro você o perderá.
  • 54. E esta é a única vida e a única realidade que existe. A política é uma doença e deveria ser tratada exatamente como tal. E ela é mais perigosa do que o câncer. Mas a política é basicamente suja. E tem de ser, porque, para um posto, existem milhares de pessoas cobiçando, almejando. Então naturalmente elas lutarão, elas matarão, farão qualquer coisa. Toda a programação da nossa mente está muito errada, pois fomos programados para ser ambiciosos — e é aí que está a política. Não é somente no mundo corrente da política; ela polui até mesmo a sua vida cotidiana. Mesmo uma criança pequena começa a sorrir para a mãe, para o pai, com um sorriso falso. Não existe profundidade atrás dele; ela sabe que sempre que sorri é recompensada. Ela aprendeu a primeira regra para ser um político. Ela ainda está no berço e você lhe ensinou a política. E então, nos relacionamentos humanos, em todo lugar, a política está presente. O homem mutilou a mulher. Isso é política. A mulher constitui metade da humanidade e o homem não tem o direito de mutilá-la; mas há séculos ele a vem mutilando. Ele não lhe tem permitido educação, ele nem mesmo tem permitido que ela ouça as sagradas escrituras. Em muitas religiões ele não tem permitido que ela entre no templo; ou, se ele permitir, ela tem uma seção separada. Ela não pode estar em igualdade com o homem mesmo diante de Deus.
  • 55. O homem tentou cortar a liberdade da mulher de todas as maneiras. Isso é política, não é amor. Você ama uma mulher, mas não lhe dá liberdade. Que tipo de amor é este, que tem medo de dar liberdade? Você a engaiola como a um papagaio. Você pode dizer que ama o papagaio, mas você não percebe: você está matando o papagaio. Você tirou do papagaio todo o seu céu e lhe deu apenas uma gaiola. A gaiola pode ser feita de ouro, mas mesmo uma gaiola de ouro não é nada comparada com a liberdade dos papagaios no céu, movendo-se de árvore em árvore, cantando seu canto — não o que você quer forçá-los a cantar, mas o que é natural para eles, o que é autêntico para eles. Metade da humanidade em todos os países, em todas as civilizações, tem sido destruída pela política da família, que não deixa de ser política. Sempre que houver a ânsia de se ter poder sobre outra pessoa, isso é política. O poder é sempre político, mesmo sobre crianças pequenas. Os pais pensam que amam, mas é apenas em suas mentes, tanto é assim que eles querem que as crianças sejam obedientes. E o que significa obediência? Significa que todo o poder está nas mãos dos pais. Se a obediência é uma qualidade tão grandiosa, por que não deveriam os pais obedecer aos filhos? Se é algo tão religioso, os pais deveriam obedecer aos filhos. O poder nada tem a ver com a religião. Tudo o que o poder tem a ver com a religião é que ele esconde a política numa bonita palavra. O ser humano necessita expor todos os pontos em que a política entrou — e ela entrou em todo lugar, em todos os relacionamentos. Ela contaminou toda a vida e a está continuamente contaminando.
  • 56. A ambição criada é a de que você deve se tornar alguém no mundo, de que você deve provar que não é uma pessoa comum, que é extraordinário. Mas para quê? A que propósito isso serve? Serve apenas a um propósito: você se torna poderoso, outros se tornam subservientes a você. Você castrou a humanidade toda de diferentes maneiras— e essa castração é bem política. As pessoas amam a liberdade — mas ninguém quer a responsabilidade. E elas vêm juntas, são inseparáveis. Por que você deveria se preocupar com o reconhecimento? A preocupação com o reconhecimento tem significado somente se você não ama o seu trabalho; então ele é significativo, então ele parece ser um substituto. Você odeia o trabalho, não gosta dele, mas você o está fazendo porque haverá reconhecimento; você será apreciado, aceito. Em vez de pensar sobre reconhecimento, reconsidere seu trabalho. Você gosta dele? Então esse é o objetivo em si mesmo. Se você não gosta dele, mude-o então. Os pais, os professores estão sempre insistindo que você deveria ser reconhecido, que você deveria ser aceito. Essa é uma estratégia muito astuta para manter as pessoas sob controle. Aprenda uma coisa básica. Faça o que você quer fazer, o que você gosta de fazer e nunca espere reconhecimento. Isso é mendigar. Por que alguém deveria esperar reconhecimento?
  • 57. Por que alguém deveria ansiar por aceitação? Olhe profundamente dentro de você. Talvez você não goste do que está fazendo. Talvez você esteja com medo de estar no caminho errado. A aceitação o ajudará a sentir que você está certo. O reconhecimento fará com que você sinta que está indo em direção ao objetivo certo. A questão tem a ver com os seus próprios sentimentos internos, nada tem a ver com o mundo exterior. Por que depender dos outros? E todas essas coisas dependem dos outros; você mesmo está se tornando dependente. Quando você evita essa dependência, você se torna um indivíduo — e ser um indivíduo, vivendo em total liberdade sobre seus próprios pés, bebendo de sua própria fonte, é o que torna uma pessoa verdadeiramente centrada, enraizada. E esse é o começo de seu florescimento supremo. Se a inteligência permanece inocente, é a coisa mais linda possível. Mas, se a inteligência é contra a inocência, então ela é simplesmente esperteza e nada mais; não é inteligência. No momento em que a inocência desaparece, a alma da inteligência se foi, ela é um cadáver. É melhor chamá-la simplesmente de “intelecto”. Ele pode torná-lo um intelectual notável, mas não transformará a sua vida e não o tornará aberto aos mistérios da existência. Esses mistérios estão abertos somente à criança inteligente. E a pessoa verdadeiramente inteligente mantém a sua meninice até o seu último suspiro. Ela nunca a perde — a admiração que a criança sente olhando para os pássaros, olhando para as flores, olhando para o céu...
  • 58. A inteligência também tem de ser, de certa maneira, infantil. É uma coisa estranha que a verdade não seja democrática. O que é verdadeiro não é para ser decidido por votos, pois, assim, jamais chegaríamos a qualquer verdade. As pessoas votarão no que é confortável — e mentiras são muito confortáveis, porque você não precisa fazer nada a respeito delas, você somente precisa acreditar nelas. A verdade necessita de grande esforço, descoberta, risco, e é preciso que você caminhe sozinho por um caminho no qual ninguém antes caminhou. As qualidades de uma pessoa madura são muito estranhas. Primeiro, ela não é uma pessoa, ela não é mais um “self”. Ela tem uma presença, mas não é uma pessoa. Segundo, ela é mais como uma criança — simples e inocente. É por isso que eu disse que as qualidades de uma pessoa madura são muito estranhas, porque “maturidade” dá o sentido de experiente, de idosa, de velha. Fisicamente ela pode ser velha, mas espiritualmente é uma criança inocente. Sua maturidade não é simplesmente experiência ganha através da vida — então ela não seria uma criança, não seria uma presença. Ela seria uma pessoa experiente, culta, mas não madura. A maturidade nada tem a ver com suas experiências de vida. Tem algo a ver com a sua jornada interior, com as suas experiências interiores. Quanto mais uma pessoa entra fundo dentro de si mesma, mais madura ela se torna. Quando ela alcança o próprio centro de seu ser, ela se torna perfeitamente madura.
  • 59. Mas nesse momento a pessoa desaparece, permanece somente uma presença; o “self” desaparece, permanece somente o silêncio; o conhecimento desaparece, permanece somente a inocência. Para mim, maturidade é outro nome para realização. Você chegou à efetivação de seu potencial. Ele tornou-se real. A semente fez a longa viagem e floresceu. A maturidade tem uma fragrância. Ela dá uma beleza extraordinária ao indivíduo. Ela dá inteligência, a inteligência mais aguçada possível. Torna-o somente amor. Sua ação é amor, sua não-ação é amor. Sua vida é amor, sua morte é amor. Ele é simplesmente uma flor de amor. A música moderna perdeu o encanto porque esqueceu seu propósito básico. Esqueceu sua origem. Ela não sabe que tem relação com a meditação. E o mesmo é verdadeiro a respeito das outras artes. Todas elas se tornaram não-meditativas e todas elas estão levando as pessoas à loucura. O artista está criando um perigo para si mesmo e também para aqueles que serão a sua audiência. Ele pode ser um pintor, mas sua pintura é maluca; não é resultado de um estado meditativo. Toda a função da mente é dividir continuamente. A função do coração é perceber o vínculo de união sobre o qual a mente é completamente cega.
  • 60. As mentes medíocres não podem ficar loucas. O pensamento de quietude e silêncio não excita ninguém. Mas esse não é seu problema pessoal, é o problema da mente humana como tal, porque estar quieto, estar silencioso significa estar em um estado de não- mente. A mente não pode ficar quieta. Ela necessita estar continuamente pensando, preocupando-se. A mente funciona como uma bicicleta: se você segue pedalando, ela continua; no momento em que você pára de pedalar, você vai cair. A mente é um veículo de duas rodas, exatamente como uma bicicleta; e o seu pensar é um constante pedalar. Mesmo que algumas vezes você esteja um pouco silencioso, imediatamente você começa a se preocupar: “Por que estou silencioso?” Qualquer coisa servirá para criar preocupação, pensamento, porque a mente só pode existir de uma maneira — correndo, sempre correndo atrás de alguma coisa ou correndo de alguma coisa, mas sempre correndo. Na corrida está a mente. No momento em que você pára, a mente desaparece. Tentamos de todas as maneiras nos livrar do sentimento de sermos estranhos. É por isso que criamos todos os tipos de rituais. Um homem casa com uma mulher; e o que é o casamento? — apenas um ritual. Mas por quê? Porque eles querem se livrar daquela sensação de estranheza e de algum modo criar uma ponte. A ponte nunca é criada; eles apenas imaginam que agora um é o marido e a outra é a esposa, mas eles permanecem estranhos. Eles viverão juntos a vida toda, mas não serão outra coisa senão estranhos, porque ninguém pode penetrar na solitude do outro.
  • 61. Você somente pode deixar de ser um estranho se puder penetrar em minha solitude, ou eu puder penetrar em sua solitude — o que não é possível, não é existencialmente possível. Podemos chegar o mais próximo possível, mas, quanto mais próximos nos tornamos, mais nos tornamos conscientes de nossa estranheza, porque seremos capazes de perceber melhor: “O outro é desconhecido para mim e talvez incognoscível”. Todos têm um tipo de armadura. Existem razões para isso. Primeiramente, a criança nasce completamente desprotegida em um mundo do qual ela nada sabe. Naturalmente ela tem medo do desconhecido que está à sua frente. Ela ainda não esqueceu aqueles nove meses de absoluta segurança e proteção — não havia problema, responsabilidade, preocupação com o amanhã. Para nós, aqueles são nove meses, mas para a criança é uma eternidade. Ela nada sabe sobre o calendário, nada sabe sobre minutos, horas, dias, meses. Ela viveu uma eternidade em segurança e proteção absolutas, sem nenhuma responsabilidade. E então, subitamente, ela é jogada num mundo desconhecido, no qual depende dos outros para tudo. É natural que sinta medo. Todos são maiores e poderosos e ela não pode viver sem a ajuda dos outros. Ela sabe que é dependente; ela perdeu sua independência, sua liberdade. Numa determinada altura, a armadura pode ser uma necessidade, mas conforme você cresce, se não estiver apenas ficando velho, mas também ficando adulto — crescendo em maturidade —, então começará a perceber o que está carregando com você. Olhe de perto e encontrará medo por trás da armadura. Uma pessoa madura deveria livrar-se de tudo aquilo que esteja conectado com o medo. É assim que a maturidade chega.
  • 62. Simplesmente observe todos os seus atos, todas as suas crenças e descubra se eles têm base na realidade, na experiência, ou se têm base no medo. E qualquer coisa baseada no medo tem de ser abandonada imediatamente, sem pensar duas vezes. Ela é a sua armadura. Sua armadura psicológica não pode ser tirada de você — você lutará por ela. Somente você pode fazer alguma coisa para abandoná-la e isso quer dizer: olhar para cada parte dela, para todas as partes dela. Se está baseada no medo, abandone-a então. Se está baseada na razão, na experiência, na compreensão, então não é algo para abandonar, mas algo para se tornar parte de seu ser. Mas você não encontrará uma única coisa na sua armadura que tenha base na experiência. Tudo é medo, de A a Z. E seguimos vivendo a partir do medo; por isso vamos envenenando todas as experiências. Amamos alguém, mas a partir do medo. Isso estraga, envenena. Buscamos a verdade, mas se é a partir do medo, então você não vai encontrá- la. Não importa o que você faça, lembre-se de uma coisa: a partir do medo você não vai crescer, apenas encolherá e morrerá. O medo está a serviço da morte. Uma pessoa destemida tem tudo o que a vida deseja dar a ela como dádiva. Agora não existem barreiras; você será banhado com dádivas e, não importa o que esteja fazendo, você terá uma força, um poder, uma certeza, um formidável sentimento de autoridade.
  • 63. O que você precisa entender é o processo de identificação, como se pode ficar identificado com o que não se é. Neste momento você está identificado com a mente, pensa que é ela. Daí o medo. Se você está identificado com a mente, então, é claro, se a mente parar, você se acabará, você deixará de ser. E você não conhece nada além da mente. A realidade é que você não é a mente, você é algo além da mente; assim sendo, é absolutamente necessário que a mente pare, de modo que, pela primeira vez, você possa saber que você não é a mente — porque você continua presente. A mente se foi, você continua presente, e com maior contentamento, maior glória, mais luz, mais consciência, um ser mais grandioso. Arealidade é que somos sós, somos estranhos — e o mundo será muito melhor se aceitarmos a verdade básica de que somos estranhos. E o que há de errado em apaixonar-se por um estranho? Qual a necessidade de primeiro ter de destruir a sensação de estranheza para, então, se apaixonar? Uma das belezas da vida é sermos todos estranhos e não há maneira de mudar essa realidade. É lindo ter estranhos que o amam, ter estranhos como seus amigos, ter estranhos pelo mundo todo. Então o mundo todo torna-se um mistério — e ele é um mistério. É um fato conhecido: você se apaixona por uma pessoa; você não se apaixona pela pessoa real, você se apaixona pela pessoa de sua imaginação. Enquanto vocês não estão juntos e você a vê de seu terraço, ou encontra a pessoa na praia por alguns minutos, ou ficam de mãos dadas no cinema, você começa a sentir: “Fomos feitos um para o outro”. Mas ninguém é feito para o outro.
  • 64. Você projeta cada vez mais imaginação em cima da pessoa, inconscientemente. Você cria certa aura em volta dela; ela cria certa aura em volta de você. Tudo parece lindo porque você está fazendo isso lindo, porque você está sonhando isso, evitando a realidade. E ambos estão tentando de todas as maneiras não perturbar a imaginação do outro. Assim a mulher está se comportando da maneira que o homem deseja que ela se comporte; o homem está se comportando da maneira que a mulher deseja que ele se comporte. Mas você pode fazer isso somente por poucos minutos ou por poucas horas, no máximo. Uma vez que você tenha se casado e tenha de viver junto vinte e quatro horas por dia, torna-se uma carga pesada seguir fingindo algo que você não é. Apenas para corresponder à imaginação do homem ou da mulher, quanto tempo você pode seguir representando? Mais cedo ou mais tarde isso se torna uma carga e você começa a se vingar. Você começa a destruir toda aquela imaginação que o homem criou à sua volta, porque você não quer ser aprisionada nela; você quer ser livre e ser simplesmente você mesma. E é a mesma situação com o homem: ele quer ser livre e ser simplesmente ele mesmo. E esse é o conflito constante entre todos os amantes, todas as relações. O amor permite liberdade. O amor permite que qualquer coisa que o outro queira fazer, ele possa fazer. Tudo o que ele quiser — se o deixa em êxtase, a escolha é dele. Se você ama a pessoa, então não interfere na privacidade dela. Você deixa intocada a privacidade da pessoa, não tenta invadir seu ser interior. A exigência básica do amor é: “Eu aceito a outra pessoa como ela é”. E o amor nunca tenta mudar a pessoa em função da própria idéia que se tem do outro.
  • 65. Você não tenta cortar a pessoa aqui e ali e deixá-la do tamanho certo — o que tem sido feito em todos os lugares no mundo inteiro... Se você ama, não existem condições. Se você não ama, então quem é você para impor condições? Ambas as situações são claras. Se você ama, então impor condições não é o caso. Você o ama como ele é. Se você não ama, então também não há problema. Ele não é ninguém para você; impor condições não é o caso. Ele pode fazer tudo o que quiser fazer. Se o ciúme desaparece e o amor ainda permanece, então você tem algo sólido em sua vida, o qual vale a pena possuir. Quando você está compartilhando seu contentamento, não cria uma prisão para ninguém; você simplesmente dá. Você nem mesmo espera gratidão ou agradecimento, porque está dando não para conseguir alguma coisa, nem mesmo gratidão. Você está dando porque está tão repleto... você precisa dar. Assim, se alguém está grato, é você quem está grato à pessoa que aceitou seu amor, que aceitou seu presente. Ela o aliviou, permitiu a você que a banhasse. E, quanto mais você compartilha e mais dá, mais você tem. Então isso não o torna um avarento, não cria um novo medo, o de que “eu posso perder isso”. Na realidade, quanto mais você o perde, mais águas frescas fluem, vindas de nascentes sobre as quais você não estava consciente anteriormente. Se a existência toda é una e se a existência toma conta das árvores, dos animais, das montanhas, dos oceanos — desde a menor folhinha de grama até a maior estrela —, então ela também tomará conta de você.
  • 66. Por que ser possessivo? A possessividade mostra simplesmente uma coisa — que você não consegue confiar na existência. Você tem de conseguir uma segurança pessoal separada. Você não pode confiar na existência. A não-possessividade é basicamente confiança na existência. Não há necessidade de possuir, porque o todo já é nosso. Abandone a idéia de que o apego e o amor são uma coisa só. Eles são inimigos. É o apego que destrói todo o amor. Se você alimenta e nutre o apego, o amor será destruído; se você alimenta e nutre o amor, o apego desaparecerá por si mesmo. O amor e o apego não são um; são duas entidades separadas e antagônicas entre si. E lembre-se sempre da regra básica da vida: se você idolatra alguém, um dia você se vingará. Você tem de estar alerta para não ser manipulado por ninguém, não importa quão boas sejam as intenções da pessoa. Você tem de salvar a si mesmo de tantas pessoas bem-intencionadas, benfeitoras, que constantemente o aconselham a ser isso, a ser aquilo. Ouça-as e agradeça-lhes. Elas não querem fazer nenhum mal — mas mal é o que acontece. Simplesmente ouça seu coração. Esse é o seu único professor.