SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
O Outro vem antes do eu
Jean Paul Sartreconsagra esta proposta acima comuma historinha do
“buraco da fechadura”. Segundo ele, para que melhor vocêpossa
entender o que ele reflete.
A historinha é a seguinte: tem um casalfazendo uma sacanagem gostosa
dentro de um quarto. Você está fora do quarto, ouve os gemidos e olha
pelo buraco da fechadura para ver melhor o que está acontecendo. Por
um momento, a cena que você vê galvaniza toda a sua atenção. Agora, a
sua consciência está completamente plasmada na cena. Isso quer dizer o
que? Isso quer dizer quenesse momento a sua consciência não tem
espaço para mais nada, a não ser para a cena. Para entender isso melhor,
procurelembrar-sedos melhores filmes que já assistiu.
Alguns foram tão bons que vocênão se deu conta de forma conscientede
que estava no cinema. O fato de você estar no cinema não entra na sua
consciência porquevocê esta 100% no filme. Tanto que quando o filme
acaba, acende a luz e você leva um tempo para voltar a si. Voltar a incluir
o eu na consciência. Ficou claro?
Pois você está no buraco da fechadura, mas a sua mente está plasmada na
cena, quando de repente outro se aproxima fora do quarto e você ouve
seus passos, nessemomento vocêé obrigado a considerar-sepresente
naquele episódio. A sua consciência tem que abrir mão do que está vendo
e incluir vocêno buraco da fechadura, passando agora a ter consciência de
si, percebendo agora que não é legal ser flagrado ali. Disfarçando vocêsai
do local da cena como se não estivessevendo nada, pois agora você está
incluído no processo por que o outro apareceu.
O que Sartrequis dizer com essa alegoria? Que vocêsó precisou ter
consciência de si porqueo outro apareceu. Isso, vocêpodeestender
amplamente. Se não houvesseo outro, não haveria a consciência de um
eu, se não houvesseo outro, não haveria o cogito que se contempla em
quanto ser pensante. Se não houvesseo outro, a nossa consciência seria
simplesmente plasmada no universo. E é porqueo outro existe que temos
a consciência de nós mesmos com relação a ele.
De um lado, o surgimento do paradigma da subjetividadee de outro lado,
a desconstrução do sujeito. Agora, o outro assumiu a primazia de que
precisamos. Ficou mais fácil, né? Melhor do que tentar através de um eu,
como fizeramtantos filósofos. Só quea partir de agora, a transparência
torna-seum valor de relevância evidente. O outro é tão importante agora,
que se não for ele, o eu claudica.
Agora, o cuidado com o outro se justifica, pois graças a ele poderei saber
quem sou. Portanto, é normal que em relação ao outro eu tenha cuidados
especiais, que este até hojenão precisou ter. Porque, dentro da evolução
do pensamento filosófico desdeos gregos, antes era eu e o universo,
depois era eu e Deus, depois era eu e eu, só agora é vocêe eu. Agora eu
preciso ter os cuidados que durante vinte séculos eu não precisei ter. E é
por isso que a transparência aparececomo assunto filosófico
contemporâneo, porqueé agora que ela faz sentido, é agora que vocênão
é um mero instrumento da soberania do eu, mas ao contrário, vocêé o
soberano que permite a um bastardo ter a noção de quem possa ser.
Porque, afinal de contas, se cada um de nós precisa saber quem é e
entende quem é a partir de uma ideia. Se cada um de nós tem uma ideia
de si, se cada um de nós tem uma definição de si, se cada um de nós tem
uma identidade, se cada um de nós tem um discurso queo identifica, não
foi cada um de nós que inventou, porqueo eu não é fundamento, não é
princípio. E, se eu tenho coisas a dizer sobrevocê, saiba tudo o que eu
disser sobrevocê, eu aprendi com você. Graças a você, que eu tenho uma
vaga ideia para que eu possa me definir. É em você que eu encontro a
gênese do que eu entendo por mim mesmo. Entendimento esse, que
durante muito tempo eu não tinha. Você, portanto é a origem do eu.
Vamos imaginar, que eu depois de ter sido informado sobrequem eu sou
resolva aloprar a própria identidade. Eu chego e digo: eu sou o melhor
cara dessemundo. Coisa que até eu acho. Você rirá na minha cara. E o que
significa essa risada sua? Significa que: não só, que vocêdeu origem ao
que eu penso a meu respeito, mas continuas vigilante, evitando que eu
possa me definir do jeito que eu quero. Porquevocê é quem define as
condições da minha definição, controlando-me. Logo, quando eu por
acaso ofereço de mim uma definição desautorizada, vocêreage: baixe a
sua bola, Bião! Mas eu sou esperto amigo, direi. Você dirá: seliga... Tire
esseatributo da sua identidade, você não está autorizado a definir-se. E,
pouco a pouco você vai percebendo que toda heresia tem um preço a
pagar, pois esse tal de eu é uma eterna e interminável negociação, e essa
negociação é uma parte muito mais forte que você. Portanto amigo, não
adianta continuar resistindo a ela para definir o seu eu a partir de você. A
sua identidade é um discurso quecircula em toda a parte, onde você não
controla. Circula por espaços ondevocê não tem acesso. Portanto, o que
falam de você, e a construção de uma definição sua, vão muito além da
sua interferência. E é por isso, que por mais que você se esforce, sempreo
resultado provisório dessa definição de identidade transcenderá os seus
interesses pessoais, à sua valorização máxima de si, - para tua tristeza. É
possível, que o que o outro pensa de você é o que vocênão gostaria que
pensasse. Eé por isso que é melhor tratar muito bem o outro.
Quando nos relacionamos, cabe a pergunta: quando A se relaciona com B,
o que exatamente está em relação? Quando alguém diz pra você: eu te
amo. O que é que ele ama? Será que o objeto das nossas relações teve
que ser exatamente o outro? Não. Porqueo outro é um objeto difícil de
acessar. Por mais que ele tenha primazia, por mais que eu exista em
relação a ele, por mais que eu exista graças a ele, ele continua difícil para
mim. E, é exatamente por isso que nos vamos dando conta que quando
nós dizemos: eu te amo, o objeto do nosso amor não é o outro, mas o que
achamos o que o outro seja, o que representa pra nós, a ideia do outro, a
imagem do outro, pois essa é mais fácil de ser amada. Ela é sua e está em
você. O outro é apenas o objeto dessa projeção pessoal. Um espelho que
reflete você e os seus valores, nunca quem ele é. Por isso, acho muita
graça quando alguém necessita que um partido politico acabe com a sua
ideologia que o atinge, dizendo por causa disso que segue agora um
determinado candidato da extrema direita que o representa. Talvez ele
nem seja para ele isso que diz, mas precisa ser para abocanhar uma legião
carente de uma referência como essa, para justificar aquilo que esse
alguém é. Atrás de uma sigla existem bons e maus, porém atrás de uma
única pessoa não sepode colocar a sua projeção de sagrado, daquilo que
você considera o certo, o melhor, o que deve servir de referência para
todos, pois se ele se mostrar fora dessa sua expectativa, ou se ela mudar
por que hojeas suas preferências mudaram devido ao seu
amadurecimento, tudo virá a baixo para seu desespero.
Vamos viajar num exemplo: vamos imaginar que João ame Maria e por
isso, João pense que Maria lhe seja sexualmente fiel. João descobrecom o
passar dos dias que Maria entretém alguns rapazes sexualmente. João que
ama Maria deveria amar mais a partir de agora, por que agora ele sabe
mais sobreela, sobresua sexualidade, passando a ser mais amplo, mais
profundo e mais rico de conhecimento este relacionamento. Você acabou
de rir, pois sabe que “não é assim que a banda toca”, porque João não
ama Maria. Porque, João ama quem ele acha que Maria é. E Maria
desmente o amor de João, desmente a ideia, faz sangrar o objeto do
amor. Por isso, João mata Maria para proteger o objeto do seu amor, a
ideia que ele sempreteve dela.
Outro dia, um amigo que é divulgador do meu livro, um cara de uma
gentileza e amabilidade espetacular chegou pra mim e disse: sabe que eu
gosto muito de você? Com uma sinceridade vinda do âmago. Caberia
perguntar a ele: qual é o objeto desseapreço? A impressão que tenho é
que se ele ficassemais de dez minutos próximo de mim, quando eu
estivesseescrevendo algo para colocar no blog, esse apreço iria diminuir
rapidamente. E em dez minutos apenas eu teria corroído o apreço do
amigo para sempre. É óbvio que nossas perspectivas são opostas, queos
argumentos não coincidem que as perspectivas de vida são diferentes.
Tudo isso, porqueaprofundando nossos conhecimentos descobriríamos
que vivemos expectativas de vida diametralmente opostas. Essa ideia
amável de mim, foi ele quem fez, é uma produção dele. E eu, fico feliz com
o que ele pensa de mim, mas procuro esclarecer que eu não correspondo.
Essa é a correspondência. Do mesmo jeito que você acha quem eu sou, eu
acho quem vocêé. E de onde você tira esse seu parecer sobremim?
Diante de tantas fontes, você tira do meu comportamento. Esse
comportamento é a matéria prima privilegiada da ideia que você tem de
mim. E, conformea forma como ajo e manifesto-me é que você se
relaciona comigo. Logo, a transparência éo valor fundamental que
preside o sucesso das nossas relações. Pelo menos, assim deveria ser. E
por quê? Porque, toda vez que eu manifesto-mediferente da minha
verdadepessoal, isso deixa de ser transparência pessoalpara ser cinismo.
Por isso não faço parte de nenhuma turma do compulsório “amém”. A
minha transparência éo material que posso oferecer para que você tenha
a ideia mais aproximada de mim. A mais próxima! Ou seja, eu te abasteço
de informações e você atualiza a ideia que tem de mim. Isso éum
exercício de transparência, um relacionamento verdadeiro. Qualquer
coisa podeser questionada para que as dúvidas possam ser dirimidas e ser
mantida a transparência. Só nele eu acredito, pois, correspondência
absoluta é impossível!Essa aproximação sempre será tendencial, nunca
absoluta entre o que pretendo e acho e o que você imagina que eu sou.
Quando dessa forma procedo, eu te dou a chance de me ver da forma
mais real e aproximada possível, a mais transparentepossível. Agora, se
eu pelo contrário, me manifesto na contra mão, de forma opaca, você não
terá alternativa senão se submeter a minha falsidade e cinismo. Dessa
forma, talvez vocêtenha uma ideia auspiciosa de mim, mais generosa do
que a minha vida é, condenando você a se relacionar comalguém que não
existe. Por que essa condição é inferior diante de uma mais real? Por quê?
A resposta é irrefutável. Por que quando você tem uma ideia clara de
quem eu sou, tem melhores condições de descontinuar o relacionamento.
De optar em não dar prosseguimento. E essa escolha que optou você deve
a minha transparência. Graças a ela, pois tudo contribuipara o cinismo.
Muitos preferemmentir e manter uma amizade baseada nas falsas
informações.
Se algum dia, solitário de verdadeiros amigos vocêse abrir e perguntar:
que achas quem sou? Já estará em Júpiter! Eu estou aqui e direi: deixa eu
te buscar... Por isso, pequenas tristezas depercurso evitam grandes
dramas. O verdadeiro tem dessas coisas... Continuareijogando luz nas
coisas exuberantes e jogando luz nas miseráveis e existenciais, em nome
da transparênciae da independênciainterior.
O outro.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a O Outro vem antes do eu

A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...9876vf
 
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDF
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDFSeu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDF
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDFRosiMedeiros1
 
Sedução rápida de ross jeffries
Sedução rápida de ross jeffriesSedução rápida de ross jeffries
Sedução rápida de ross jeffriesChristian Santana
 
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdf
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdfSeth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdf
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdfPatricia76089
 
Nessahan alita aprofundamento
Nessahan alita   aprofundamentoNessahan alita   aprofundamento
Nessahan alita aprofundamentoAlex Amoedo
 
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfHubertoRohden2
 
Comunicação Não Violenta: Roda de Conversa
Comunicação Não Violenta: Roda de ConversaComunicação Não Violenta: Roda de Conversa
Comunicação Não Violenta: Roda de ConversaAlessandro Almeida
 
Livro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimLivro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimboinadalvi
 
Edson Marques - 50 questoes
Edson Marques - 50 questoesEdson Marques - 50 questoes
Edson Marques - 50 questoesEdson Marques
 
O que não se pode explicar aos normais
O que não se pode explicar aos normaisO que não se pode explicar aos normais
O que não se pode explicar aos normaisFelipe Rabelo
 
Hey, você não é fraco!
Hey, você não é fraco!Hey, você não é fraco!
Hey, você não é fraco!Emanuel Hallef
 
mensagensdereflexoes.pdf
mensagensdereflexoes.pdfmensagensdereflexoes.pdf
mensagensdereflexoes.pdfalinejmj
 
7 passos para o autoconhecimento
7 passos para o autoconhecimento7 passos para o autoconhecimento
7 passos para o autoconhecimentoCelia Niza
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem soudanibateras
 

Semelhante a O Outro vem antes do eu (20)

A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
A pressão intensa do sofrimento daquela noite forçou minha consciência a pôr ...
 
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDF
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDFSeu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDF
Seu primeiro amor - Andre Ferreira.pdf.PDF
 
Sedução rápida de ross jeffries
Sedução rápida de ross jeffriesSedução rápida de ross jeffries
Sedução rápida de ross jeffries
 
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdf
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdfSeth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdf
Seth Fala .1pdfpfpdfpdfpdfpdfpdfpdfpsfpdf
 
O FENOMENO DA PROJEÇÃO
O FENOMENO DA PROJEÇÃOO FENOMENO DA PROJEÇÃO
O FENOMENO DA PROJEÇÃO
 
Lição 10 adeus a culpa
Lição 10   adeus a culpaLição 10   adeus a culpa
Lição 10 adeus a culpa
 
Lição 10 adeus a culpa
Lição 10   adeus a culpaLição 10   adeus a culpa
Lição 10 adeus a culpa
 
Nessahan alita aprofundamento
Nessahan alita   aprofundamentoNessahan alita   aprofundamento
Nessahan alita aprofundamento
 
Recebo o que atraio
Recebo o que atraioRecebo o que atraio
Recebo o que atraio
 
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdfOsho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
Osho - Vá Com Calma Volume 2.pdf
 
Comunicação Não Violenta: Roda de Conversa
Comunicação Não Violenta: Roda de ConversaComunicação Não Violenta: Roda de Conversa
Comunicação Não Violenta: Roda de Conversa
 
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXOSANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
SANNYAS: ENTRANDO NO FLUXO
 
Livro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmimLivro 1 - Olhos nus, carmim
Livro 1 - Olhos nus, carmim
 
Edson Marques - 50 questoes
Edson Marques - 50 questoesEdson Marques - 50 questoes
Edson Marques - 50 questoes
 
O que não se pode explicar aos normais
O que não se pode explicar aos normaisO que não se pode explicar aos normais
O que não se pode explicar aos normais
 
The blueprint tyler durden
The blueprint tyler durdenThe blueprint tyler durden
The blueprint tyler durden
 
Hey, você não é fraco!
Hey, você não é fraco!Hey, você não é fraco!
Hey, você não é fraco!
 
mensagensdereflexoes.pdf
mensagensdereflexoes.pdfmensagensdereflexoes.pdf
mensagensdereflexoes.pdf
 
7 passos para o autoconhecimento
7 passos para o autoconhecimento7 passos para o autoconhecimento
7 passos para o autoconhecimento
 
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell   porque tenho medo de lhe dizer quem souJohn powell   porque tenho medo de lhe dizer quem sou
John powell porque tenho medo de lhe dizer quem sou
 

Mais de J. Alfredo Bião (20)

Obàtálà & Odùdúwà na gênese yorubá
Obàtálà & Odùdúwà na gênese yorubáObàtálà & Odùdúwà na gênese yorubá
Obàtálà & Odùdúwà na gênese yorubá
 
3. étà ògúndá
3. étà ògúndá3. étà ògúndá
3. étà ògúndá
 
3º caminho de òkànràn
3º caminho de òkànràn3º caminho de òkànràn
3º caminho de òkànràn
 
4º caminho de òkànrà1
4º caminho de òkànrà14º caminho de òkànrà1
4º caminho de òkànrà1
 
5º caminho de òkànràn
5º caminho de òkànràn5º caminho de òkànràn
5º caminho de òkànràn
 
Caminhos de odu
Caminhos de oduCaminhos de odu
Caminhos de odu
 
Candomblé
CandombléCandomblé
Candomblé
 
Cosmogonia yorubá
Cosmogonia yorubáCosmogonia yorubá
Cosmogonia yorubá
 
Iorubás e o culto aos éguns
Iorubás e o culto aos égunsIorubás e o culto aos éguns
Iorubás e o culto aos éguns
 
Iorubás
IorubásIorubás
Iorubás
 
Odús e as divindades
Odús e as divindadesOdús e as divindades
Odús e as divindades
 
Owarin caminhos de odu
Owarin   caminhos de oduOwarin   caminhos de odu
Owarin caminhos de odu
 
Verdade absoluta parábola taoista
Verdade absoluta   parábola taoistaVerdade absoluta   parábola taoista
Verdade absoluta parábola taoista
 
Os trabalhadores na vinha
Os trabalhadores na vinhaOs trabalhadores na vinha
Os trabalhadores na vinha
 
O filho pródigo
O filho pródigo O filho pródigo
O filho pródigo
 
Causa e efeito e livre arbítrio
Causa e efeito e livre arbítrioCausa e efeito e livre arbítrio
Causa e efeito e livre arbítrio
 
Amor em eros
Amor em erosAmor em eros
Amor em eros
 
A figueira seca
A figueira secaA figueira seca
A figueira seca
 
A parábola do mordomo infiel
A parábola do mordomo infielA parábola do mordomo infiel
A parábola do mordomo infiel
 
A crise de sentido...
A crise de sentido...A crise de sentido...
A crise de sentido...
 

Último

Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteVanessaCavalcante37
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfHELENO FAVACHO
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médiorosenilrucks
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Ilda Bicacro
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdfLeloIurk1
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESEduardaReis50
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFtimaMoreira35
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéisines09cachapa
 

Último (20)

Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcanteCOMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
COMPETÊNCIA 2 da redação do enem prodção textual professora vanessa cavalcante
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdfPROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO - EDUCAÇÃO FÍSICA BACHARELADO.pdf
 
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médioapostila projeto de vida 2 ano ensino médio
apostila projeto de vida 2 ano ensino médio
 
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
Nós Propomos! " Pinhais limpos, mundo saudável"
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
421243121-Apostila-Ensino-Religioso-Do-1-ao-5-ano.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕESCOMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
COMPETÊNCIA 4 NO ENEM: O TEXTO E SUAS AMARRACÕES
 
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdfFicha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
Ficha de trabalho com palavras- simples e complexas.pdf
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de HotéisAbout Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
About Vila Galé- Cadeia Empresarial de Hotéis
 

O Outro vem antes do eu

  • 1. O Outro vem antes do eu Jean Paul Sartreconsagra esta proposta acima comuma historinha do “buraco da fechadura”. Segundo ele, para que melhor vocêpossa entender o que ele reflete. A historinha é a seguinte: tem um casalfazendo uma sacanagem gostosa dentro de um quarto. Você está fora do quarto, ouve os gemidos e olha pelo buraco da fechadura para ver melhor o que está acontecendo. Por um momento, a cena que você vê galvaniza toda a sua atenção. Agora, a sua consciência está completamente plasmada na cena. Isso quer dizer o que? Isso quer dizer quenesse momento a sua consciência não tem espaço para mais nada, a não ser para a cena. Para entender isso melhor, procurelembrar-sedos melhores filmes que já assistiu. Alguns foram tão bons que vocênão se deu conta de forma conscientede que estava no cinema. O fato de você estar no cinema não entra na sua consciência porquevocê esta 100% no filme. Tanto que quando o filme acaba, acende a luz e você leva um tempo para voltar a si. Voltar a incluir o eu na consciência. Ficou claro? Pois você está no buraco da fechadura, mas a sua mente está plasmada na cena, quando de repente outro se aproxima fora do quarto e você ouve seus passos, nessemomento vocêé obrigado a considerar-sepresente naquele episódio. A sua consciência tem que abrir mão do que está vendo e incluir vocêno buraco da fechadura, passando agora a ter consciência de si, percebendo agora que não é legal ser flagrado ali. Disfarçando vocêsai do local da cena como se não estivessevendo nada, pois agora você está incluído no processo por que o outro apareceu. O que Sartrequis dizer com essa alegoria? Que vocêsó precisou ter consciência de si porqueo outro apareceu. Isso, vocêpodeestender amplamente. Se não houvesseo outro, não haveria a consciência de um eu, se não houvesseo outro, não haveria o cogito que se contempla em quanto ser pensante. Se não houvesseo outro, a nossa consciência seria simplesmente plasmada no universo. E é porqueo outro existe que temos a consciência de nós mesmos com relação a ele.
  • 2. De um lado, o surgimento do paradigma da subjetividadee de outro lado, a desconstrução do sujeito. Agora, o outro assumiu a primazia de que precisamos. Ficou mais fácil, né? Melhor do que tentar através de um eu, como fizeramtantos filósofos. Só quea partir de agora, a transparência torna-seum valor de relevância evidente. O outro é tão importante agora, que se não for ele, o eu claudica. Agora, o cuidado com o outro se justifica, pois graças a ele poderei saber quem sou. Portanto, é normal que em relação ao outro eu tenha cuidados especiais, que este até hojenão precisou ter. Porque, dentro da evolução do pensamento filosófico desdeos gregos, antes era eu e o universo, depois era eu e Deus, depois era eu e eu, só agora é vocêe eu. Agora eu preciso ter os cuidados que durante vinte séculos eu não precisei ter. E é por isso que a transparência aparececomo assunto filosófico contemporâneo, porqueé agora que ela faz sentido, é agora que vocênão é um mero instrumento da soberania do eu, mas ao contrário, vocêé o soberano que permite a um bastardo ter a noção de quem possa ser. Porque, afinal de contas, se cada um de nós precisa saber quem é e entende quem é a partir de uma ideia. Se cada um de nós tem uma ideia de si, se cada um de nós tem uma definição de si, se cada um de nós tem uma identidade, se cada um de nós tem um discurso queo identifica, não foi cada um de nós que inventou, porqueo eu não é fundamento, não é princípio. E, se eu tenho coisas a dizer sobrevocê, saiba tudo o que eu disser sobrevocê, eu aprendi com você. Graças a você, que eu tenho uma vaga ideia para que eu possa me definir. É em você que eu encontro a gênese do que eu entendo por mim mesmo. Entendimento esse, que durante muito tempo eu não tinha. Você, portanto é a origem do eu. Vamos imaginar, que eu depois de ter sido informado sobrequem eu sou resolva aloprar a própria identidade. Eu chego e digo: eu sou o melhor cara dessemundo. Coisa que até eu acho. Você rirá na minha cara. E o que significa essa risada sua? Significa que: não só, que vocêdeu origem ao que eu penso a meu respeito, mas continuas vigilante, evitando que eu possa me definir do jeito que eu quero. Porquevocê é quem define as condições da minha definição, controlando-me. Logo, quando eu por acaso ofereço de mim uma definição desautorizada, vocêreage: baixe a
  • 3. sua bola, Bião! Mas eu sou esperto amigo, direi. Você dirá: seliga... Tire esseatributo da sua identidade, você não está autorizado a definir-se. E, pouco a pouco você vai percebendo que toda heresia tem um preço a pagar, pois esse tal de eu é uma eterna e interminável negociação, e essa negociação é uma parte muito mais forte que você. Portanto amigo, não adianta continuar resistindo a ela para definir o seu eu a partir de você. A sua identidade é um discurso quecircula em toda a parte, onde você não controla. Circula por espaços ondevocê não tem acesso. Portanto, o que falam de você, e a construção de uma definição sua, vão muito além da sua interferência. E é por isso, que por mais que você se esforce, sempreo resultado provisório dessa definição de identidade transcenderá os seus interesses pessoais, à sua valorização máxima de si, - para tua tristeza. É possível, que o que o outro pensa de você é o que vocênão gostaria que pensasse. Eé por isso que é melhor tratar muito bem o outro. Quando nos relacionamos, cabe a pergunta: quando A se relaciona com B, o que exatamente está em relação? Quando alguém diz pra você: eu te amo. O que é que ele ama? Será que o objeto das nossas relações teve que ser exatamente o outro? Não. Porqueo outro é um objeto difícil de acessar. Por mais que ele tenha primazia, por mais que eu exista em relação a ele, por mais que eu exista graças a ele, ele continua difícil para mim. E, é exatamente por isso que nos vamos dando conta que quando nós dizemos: eu te amo, o objeto do nosso amor não é o outro, mas o que achamos o que o outro seja, o que representa pra nós, a ideia do outro, a imagem do outro, pois essa é mais fácil de ser amada. Ela é sua e está em você. O outro é apenas o objeto dessa projeção pessoal. Um espelho que reflete você e os seus valores, nunca quem ele é. Por isso, acho muita graça quando alguém necessita que um partido politico acabe com a sua ideologia que o atinge, dizendo por causa disso que segue agora um determinado candidato da extrema direita que o representa. Talvez ele nem seja para ele isso que diz, mas precisa ser para abocanhar uma legião carente de uma referência como essa, para justificar aquilo que esse alguém é. Atrás de uma sigla existem bons e maus, porém atrás de uma única pessoa não sepode colocar a sua projeção de sagrado, daquilo que você considera o certo, o melhor, o que deve servir de referência para todos, pois se ele se mostrar fora dessa sua expectativa, ou se ela mudar
  • 4. por que hojeas suas preferências mudaram devido ao seu amadurecimento, tudo virá a baixo para seu desespero. Vamos viajar num exemplo: vamos imaginar que João ame Maria e por isso, João pense que Maria lhe seja sexualmente fiel. João descobrecom o passar dos dias que Maria entretém alguns rapazes sexualmente. João que ama Maria deveria amar mais a partir de agora, por que agora ele sabe mais sobreela, sobresua sexualidade, passando a ser mais amplo, mais profundo e mais rico de conhecimento este relacionamento. Você acabou de rir, pois sabe que “não é assim que a banda toca”, porque João não ama Maria. Porque, João ama quem ele acha que Maria é. E Maria desmente o amor de João, desmente a ideia, faz sangrar o objeto do amor. Por isso, João mata Maria para proteger o objeto do seu amor, a ideia que ele sempreteve dela. Outro dia, um amigo que é divulgador do meu livro, um cara de uma gentileza e amabilidade espetacular chegou pra mim e disse: sabe que eu gosto muito de você? Com uma sinceridade vinda do âmago. Caberia perguntar a ele: qual é o objeto desseapreço? A impressão que tenho é que se ele ficassemais de dez minutos próximo de mim, quando eu estivesseescrevendo algo para colocar no blog, esse apreço iria diminuir rapidamente. E em dez minutos apenas eu teria corroído o apreço do amigo para sempre. É óbvio que nossas perspectivas são opostas, queos argumentos não coincidem que as perspectivas de vida são diferentes. Tudo isso, porqueaprofundando nossos conhecimentos descobriríamos que vivemos expectativas de vida diametralmente opostas. Essa ideia amável de mim, foi ele quem fez, é uma produção dele. E eu, fico feliz com o que ele pensa de mim, mas procuro esclarecer que eu não correspondo. Essa é a correspondência. Do mesmo jeito que você acha quem eu sou, eu acho quem vocêé. E de onde você tira esse seu parecer sobremim? Diante de tantas fontes, você tira do meu comportamento. Esse comportamento é a matéria prima privilegiada da ideia que você tem de mim. E, conformea forma como ajo e manifesto-me é que você se relaciona comigo. Logo, a transparência éo valor fundamental que preside o sucesso das nossas relações. Pelo menos, assim deveria ser. E
  • 5. por quê? Porque, toda vez que eu manifesto-mediferente da minha verdadepessoal, isso deixa de ser transparência pessoalpara ser cinismo. Por isso não faço parte de nenhuma turma do compulsório “amém”. A minha transparência éo material que posso oferecer para que você tenha a ideia mais aproximada de mim. A mais próxima! Ou seja, eu te abasteço de informações e você atualiza a ideia que tem de mim. Isso éum exercício de transparência, um relacionamento verdadeiro. Qualquer coisa podeser questionada para que as dúvidas possam ser dirimidas e ser mantida a transparência. Só nele eu acredito, pois, correspondência absoluta é impossível!Essa aproximação sempre será tendencial, nunca absoluta entre o que pretendo e acho e o que você imagina que eu sou. Quando dessa forma procedo, eu te dou a chance de me ver da forma mais real e aproximada possível, a mais transparentepossível. Agora, se eu pelo contrário, me manifesto na contra mão, de forma opaca, você não terá alternativa senão se submeter a minha falsidade e cinismo. Dessa forma, talvez vocêtenha uma ideia auspiciosa de mim, mais generosa do que a minha vida é, condenando você a se relacionar comalguém que não existe. Por que essa condição é inferior diante de uma mais real? Por quê? A resposta é irrefutável. Por que quando você tem uma ideia clara de quem eu sou, tem melhores condições de descontinuar o relacionamento. De optar em não dar prosseguimento. E essa escolha que optou você deve a minha transparência. Graças a ela, pois tudo contribuipara o cinismo. Muitos preferemmentir e manter uma amizade baseada nas falsas informações. Se algum dia, solitário de verdadeiros amigos vocêse abrir e perguntar: que achas quem sou? Já estará em Júpiter! Eu estou aqui e direi: deixa eu te buscar... Por isso, pequenas tristezas depercurso evitam grandes dramas. O verdadeiro tem dessas coisas... Continuareijogando luz nas coisas exuberantes e jogando luz nas miseráveis e existenciais, em nome da transparênciae da independênciainterior. O outro.