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OSHO
AH, ISTO!
Respostas às perguntas de discípulos
e histórias Zen
UNIVERSALISMO
Sumário
Introdução
Capítulo 1 — O Coração do Saber é Agora
Capítulo 2 — Neti Neti
Capítulo 3 — Eu sou o Mais Alto
Capítulo 4 — Morrendo para Dentro do Mestre
Capítulo 5 — Veja de Uma só Vez
Capítulo 6 — Tente do Meu Jeito
Capítulo 7 — Não Tome Conhecimento
Capítulo 8 — Não Saber é o Mais Íntimo
Introdução
Uma nuvem de chuva cobria o vale.
Chuvas noturnas encheram o ar com sabedoria.
Passando pela minha janela, um ramo de amaranto roda rapidamente e, na
correnteza, uma garça cinzenta de pé, pronta para atacar.
O sol da manhã sobe sobre as escuras colinas.
Interminavelmente, onde quer que eu olhe, beleza, maravilha.
Eu poderia dizer: “Isto é Deus”,
Ou tentar lhe contar sobre o Zen
Ou o mestre Zen do qual fala este livro.
Minha cabeça poderia falar com sua cabeça.
Mas por quê?
O Mestre disse tudo
melhor do que eu,
e agora vive em silêncio,
ocasionalmente murmurando,
“Ah, Isto!”
Para todas as nossas perguntas:
O que é iluminação?
Quem sou eu?
Qual é o sentido da vida?
Deus existe?
O que é realidade?
Ele faz um sinal com a mão e diz: “Isto!”
O que é “isto”? Você é. Olhe, cheire, prove, ouça, toque — tudo de uma só vez.
Sinta, ria, pule, corra, grite, respire. Inspire, expire. Tudo é você. Isto, letras
pretas em papel branco se transformando em uma palavra com um significado
no seu cérebro, é você agora. Você, tentando entendê-lo, é isto. Isto é tudo que
existe.
Consequentemente, o Mestre Zen Daie diz: “Todos os ensinamentos que os
sábios expuseram não são mais que comentários sobre o seu grito súbito: “Ah,
isto!”
Swami Prem Pramod
CAPÍTULO 1
O Coração do Saber é Agora
Subindo ao assento superior, Dogen Zenji disse:
“O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji.
Uma vez Zenji lhe perguntou:
‘Josa, aonde você vai?’
Hogen disse: ‘Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo’.
Keishin disse: ‘Qual é a importância da sua peregrinação?’
Hogen disse: ‘Eu não sei’.
Keishin disse: ‘Não saber é o mais íntimo’.
Hogen subitamente atingiu grande iluminação”.
ZEN É SIMPLESMENTE ZEN. Não há nada comparável a ele. Ele é único —
único no sentido de ser o mais ordinário e ainda o mais extraordinário fenômeno
que aconteceu à consciência humana. É o mais ordinário porque ele não acredita
em conhecimento, ele não acredita em mente. Não é uma filosofia, nem uma
religião. É a aceitação da existência ordinária com um coração total, com o ser
total de alguém, não desejando algum outro mundo, supramundano,
supramental. Não tem nenhum interesse em qualquer bobagem esotérica,
nenhum interesse em metafísica. Ele não anseia pela outra margem, esta
margem é mais que suficiente. Essa aceitação é tão tremenda que através dessa
própria aceitação ele transforma essa margem — e essa própria margem
transforma-se em outra margem:
Esse próprio corpo o Buda.
Essa própria terra o Paraíso de Lótus.
Logo, ele é ordinário. Ele não quer que você crie um certo tipo de espiritualidade,
um certo tipo de santidade. Tudo que ele pede é que você viva sua vida com
espontaneidade, com imediatismo. E então o mundano se torna o sagrado.
O grande milagre do Zen está na transformação do mundano em sagrado. E ele
é tremendamente extraordinário porque antes a vida nunca foi encarada desse
jeito, a vida nunca foi respeitada desse jeito.
O Zen vai além de Buda e além de Lao Tzu. Ele é uma culminação, uma
transcendência, de ambos, o gênio indiano e o gênio chinês. O gênio indiano
alcançou seu ponto mais alto em Gautama, o Buda e o gênio chinês alcançou
seu ponto mais alto em Lao Tzu. E o encontro... a essência do ensinamento de
Buda e a essência do ensinamento de Lao Tzu uniram-se em uma corrente, tão
profundamente, que nenhuma separação é possível agora. Até mesmo fazer
uma distinção entre o que pertence a Buda e o que pertence a Lao Tzu é
impossível, a união foi total. Não é só uma síntese, é uma integração. Desse
encontro o Zen nasceu. O Zen não é nem budista, nem taoísta, entretanto é
ambos.
Chamar o Zen de “Zen Budismo” não é correto porque ele é muito mais. Buda
não é tão terreno quanto o Zen. Lao Tzu é tremendamente terreno, mas o Zen
não é só terreno, sua visão transforma a terra em céu. Lao Tzu é terreno, Buda
não é terreno, o Zen é ambos — e sendo ambos ele se tornou o mais
extraordinário fenômeno.
O futuro da humanidade se aproximará cada vez mais da abordagem Zen,
porque o encontro entre o leste e o oeste é possível somente através de alguma
coisa como o Zen, que é terreno e ainda não-terreno. O Ocidente é muito terreno,
o Oriente é muito não-terreno. Quem será a ponte? Buda não pode ser a ponte;
ele é tão essencialmente Oriental, o próprio saber do Oriente, a própria
fragrância do Oriente, sem compromisso. Lao Tzu não pode ser a ponte, ele é
terreno demais. A China sempre foi terrena. A China pertence mais à psique
ocidental do que à oriental.
Não é por acaso que a China é o primeiro país no Oriente a se tornar comunista,
a se tornar materialista, a acreditar numa filosofia atéia, a acreditar que o ser
humano é só matéria e nada mais. Isto não é simplesmente acidental. A China
tem sido terrena por quase cinco mil anos, ela é muito ocidental.
Consequentemente, Lao Tzu não pode se tornar a ponte, ele é mais como Zorba,
o Grego. Buda é tão não-terreno que você não pode nem agarrá-lo — como ele
pode se tornar a ponte?
Quando eu olho em volta, o Zen parece ser a única possibilidade, porque no Zen,
Buda e Lao Tzu se tornaram um. O encontro já aconteceu. A semente está lá, a
semente da grande ponte que pode fazer o oeste e o leste um só. O Zen será o
ponto de encontro. Ele tem um grande futuro — um grande passado e um grande
futuro.
E o milagre é que o Zen não está nem interessado no passado nem no futuro.
Seu total interesse está no presente. Talvez seja por isto que o milagre é
possível, porque o passado e o futuro estão ligados pelo presente.
O presente não é parte do tempo. Você já pensou sobre isto? Quanto tempo
dura o presente? O passado tem uma duração, o futuro tem uma duração. Qual
é a duração do presente? Quanto tempo ele dura? Entre o passado e o futuro,
você pode medir o presente? Ele não pode ser medido, ele quase não é. Ele não
é tempo de modo algum: ele é a penetração da eternidade para dentro do tempo.
E o Zen vive no presente. Todo o ensinamento é: como estar no presente, como
sair do passado que não é mais e como não se envolver no futuro que ainda não
é, e simplesmente estar enraizado, centrado, naquilo que é.
Todo o modo de encarar do Zen é de imediatismo, mas por essa razão ele pode
fazer uma ponte entre o passado e o futuro. Ele pode ligar muitas coisas: o leste
e o oeste, ele pode ligar corpo e alma. Ele pode ligar os mundos sem ligação:
este mundo e aquele, o mundano e o sagrado.
ANTES DE ENTRARMOS nesta pequena história, é bom entendermos umas
poucas coisas. A primeira: os Mestres não falam a verdade. Mesmo se eles
quiserem eles não podem, é impossível. Então, qual é a função deles? O que
eles continuam fazendo? Eles não podem dizer a verdade, mas eles podem
provocar a verdade que está profundamente adormecida em você. Eles podem
provocá-la, desejá-la.
Eles podem lhe sacudir, eles podem lhe acordar. Eles não podem lhe dar Deus,
verdade, nirvana, porque em primeiro lugar você já tem tudo com você. Você
nasce com isto. É inato, intrínseco. É a sua própria natureza. Então qualquer
pessoa que finja lhe dar a verdade está simplesmente explorando sua estupidez,
sua credulidade. Ele é esperto — esperto e completamente ignorante também.
Ele não sabe nada, nem mesmo um vislumbre da Verdade aconteceu a ele. Ele
é um pseudoMestre.
A verdade não pode ser dada; ela já está em você. Ela pode ser suscitada, ela
pode ser provocada. Um contexto pode ser criado, um certo espaço pode ser
criado no qual ela surja em você e não esteja mais adormecida, torne-se
desperta.
A função do Mestre é bem mais complexa do que você pensa. Ela teria sido bem
mais fácil, bem mais simples, se a verdade pudesse ser transmitida. Ela não
pode ser transmitida; logo, é preciso usar meios e caminhos indiretos.
No Novo Testamento há a bela história de Lázaro. Os cristãos perderam todo o
sentido dela. Cristo é tão infeliz — ele esteve na companhia de pessoas erradas.
Nem mesmo um único teólogo cristão foi capaz de descobrir o significado da
história de Lázaro, sua morte e ressurreição.
Lázaro morre. Ele é o irmão de Maria Madalena e Marta e um grande devoto de
Jesus. Jesus está longe; quando ele recebe a notícia e o convite, “Venha
imediatamente”, dois dias já haviam se passado e quando ele alcança o lugar
onde Lázaro estava, quatro dias haviam se passado. Mas Maria e Marta estão
esperando por ele — tal é a sua confiança. A vila toda está rindo delas. Elas
estão sendo estúpidas aos olhos dos outros porque elas estão guardando o
cadáver numa gruta. Elas estão em vigília, dia e noite, tomando conta do
cadáver. O cadáver já começa a cheirar mal; ele está se decompondo.
As pessoas da vila estão dizendo: “Vocês são tolas! Jesus não pode fazer nada.
Quando uma pessoa está morta, ela está morta!” Jesus chega. Ele vai à gruta,
fica do lado de fora e chama Lázaro. As pessoas se juntaram. Elas devem estar
rindo: “Este homem parece estar doido”.
Alguém fala com ele: “O que você está fazendo? Ele está morto! Ele está morto
há quatro dias. De fato, entrar dentro da gruta é difícil — seu corpo está
cheirando mal. É impossível! Quem você está chamando?”
Mas, sem se perturbar, Jesus repete: “Lázaro, venha para fora!”
E a multidão tem uma grande surpresa: Lázaro caminha para fora da gruta —
trêmulo, chocado, como se estivesse saindo de um grande sono, como se
tivesse permanecido em coma. Ele mesmo não pode acreditar no que
aconteceu, porque ele está na gruta.
Isto de fato é simplesmente uma maneira de dizer qual é a função do Mestre. Se
Lázaro estava realmente morto ou não, não é o que importa. Envolver-se nessas
questões estúpidas é absurdo. Somente eruditos podem ser tão bobos. Nenhum
homem de compreensão vai achar que isto é alguma coisa histórica. É muito
mais que isto! Isto não é um fato, isto é uma verdade! Não é alguma coisa que
acontece no tempo, é alguma coisa mais: alguma coisa que acontece em
eternidade.
Vocês estão todos mortos. Vocês estão todos na mesma situação de Lázaro.
Vocês estão todos em suas grutas escuras. Vocês estão todos fedendo e
deteriorando... porque a morte não é alguma coisa que vem um dia de repente
— vocês estão morrendo todos os dias. Desde o dia de seu nascimento você
está morrendo. É um longo processo; leva-se setenta, oitenta, noventa anos para
completá-la. A cada momento alguma coisa de você morre, alguma coisa em
você morre, mas você está absolutamente inconsciente da situação toda. Você
continua como se estivesse vivo; você continua como se soubesse o que a vida
é.
A função do Mestre é chamar: “Lázaro, saia da gruta! Saia do seu túmulo! Saia
da sua morte!”
O Mestre não pode lhe dar a verdade, mas ele pode provocá-la. Ele pode mexer
algo em você. Ele pode dar início a um processo em você, que vai inflamar um
fogo, uma chama.
A Verdade você já é — simplesmente juntou muita poeira ao seu redor. A função
do Mestre é negativa: ele tem que lhe dar um banho, uma chuveirada, então a
poeira desaparece.
Este é exatamente o significado do batismo cristão. Isto é o que João Batista
estava fazendo no rio Jordão. Mas as pessoas continuam entendendo errado.
Hoje o batismo também acontece nas igrejas; ele é sem sentido.
João Batista estava preparando as pessoas para um banho interno. Quando elas
estivessem prontas ele as levaria simbolicamente para dentro do rio Jordão.
Aquilo era somente simbólico — justamente como suas roupas laranjas são
simbólicas, aquele banho no rio Jordão era simbólico — simbolizando que o
Mestre pode lhe dar um banho. Ele pode tirar a poeira, a poeira de séculos para
fora de você. E de repente tudo está límpido, tudo é claridade. Essa claridade é
iluminação.
O grande Mestre Daie diz: “Todos os ensinamentos dos sábios, dos santos, dos
Mestres, expuseram não mais do que isto: eles são comentários sobre o seu
grito súbito: ‘Ah, isto!’”
Quando de repente você está límpido e uma grande alegria e regozijo aparece
em você e todo o seu ser, cada fibra do seu corpo, mente e alma dançam e você
diz: “Ah, isto! Aleluia!”, um grande grito de prazer brota em seu ser, isto é
iluminação. De repente estrelas descem do teto. Você se torna parte da dança
eterna da existência.
Auden diz:
Dance até que as estrelas desçam do teto!
Dance, dance, dance até que você desapareça!
Sim, isto acontece — não é alguma coisa que você tenha que fazer. É alguma
coisa que mesmo que você não queira fazer você vai achar impossível; você vai
achar impossível resistir. Você terá que dançar.
A beleza disto, a beleza do agora, a alegria que é a existência e a sua
proximidade... Sim, estrelas descem do teto. Elas estão tão perto que você pode
simplesmente tocá-las; você pode segurá-las em suas mãos. Daie está certo.
Ele diz:
Todos os ensinamentos que os sábios expuseram não são mais que
comentários sobre o seu grito súbito: “Ah, isto!”
O coração inteiro dizendo “Ah!” E o silêncio que se segue a isto, e a paz, e a
alegria, e o encontro, e a fusão, e a experiência orgástica, o êxtase...!
Os Mestres não ensinam a verdade, não há como ensiná-la. É uma transmissão
além das escrituras, além das palavras. É uma transmissão. É energia
provocando energia em você. É um tipo de sincronicidade.
O Mestre desapareceu como um ego; ele é pura alegria. E o discípulo senta ao
lado do Mestre, vagarosamente compartilhando sua alegria, seu ser, comendo e
bebendo dessa eterna, inesgotável fonte: ais dhammo sanantano. E um dia... e
a pessoa não pode predizer quando esse dia virá; é imprevisível. Um dia, de
repente, aconteceu: começou um processo em você que lhe revela a verdade do
seu ser. Você se vê face a face com você. Deus não está em algum outro lugar:
ele está aqui, agora.
Os Mestres iluminam e confirmam a realização. Eles iluminam de mil e uma
maneiras. Eles continuam apontando a verdade: dedos apontando para a lua.
Mas existem muitos bobos que começam a se prender aos dedos. Prendendo-
se aos dedos você não verá a lua, lembre-se. Existem até mesmo bobos maiores
que começam a morder os dedos. Isto não dará qualquer alimento. Esqueça o
dedo e olhe para onde ele está apontando.
Os Mestres iluminam. Eles espalham grande luz — eles são luz — eles espalham
grande luz no seu ser. Eles são como um holofote: eles focam o ser deles no seu
ser. Você tem vivido na escuridão por séculos, por milhões de vidas. De repente
a luz de um Mestre começa a revelar uns poucos territórios esquecidos em você.
Eles estão dentro de você; o Mestre não os está trazendo — ele está
simplesmente trazendo a luz, ele está se focando em você. E o Mestre pode
focar somente quando o discípulo está aberto, quando o discípulo chegou ao
ponto de não acumular conhecimento, mas de conhecer a verdade, quando o
discípulo não está só curioso, mas é um buscador e está pronto a arriscar tudo.
Mesmo se a vida tenha que ser arriscada e sacrificada, o discípulo está pronto.
De fato, quando você arrisca sua vida sonolenta, você chega a uma qualidade
de vida totalmente diferente: a vida de luz, de amor, a vida que é além da morte,
além do tempo, além da mudança.
Eles iluminam e confirmam a realização. Primeiro o Mestre ilumina o caminho, a
verdade que está dentro de você. E em segundo lugar: quando você se dá conta
disto, quando você reconhece isto... É muito difícil para você acreditar que você
conseguiu. A coisa mais inacreditável é quando a realização da verdade
acontece a você, porque lhe contaram que é muito difícil, quase impossível e
que leva milhões de vidas para chegar a ela. E lhe contaram que ela está em
algum outro lugar — talvez no céu — e quando você reconhece que ela está
dentro de você mesmo, como você pode acreditar?
O Mestre confirma. Ele diz: “Sim, é isto!” Sua confirmação é tão necessária
quanto a sua iluminação. Ele começa por iluminar e termina por confirmar. Os
Mestres são evidência da verdade, não sua prova.
Medite sobre a sutil diferença entre evidência e prova. O Mestre é uma evidência,
ele é uma testemunha. Ele viu, ele conheceu, ele se tornou. Você pode senti-la,
a evidência pode ser sentida. Você pode chegar mais e mais perto, você pode
permitir à fragrância do Mestre penetrar no mais íntimo do seu ser. O Mestre é
somente evidência; ele não é prova. Se você quiser alguma prova... não há
nenhuma prova.
Deus não pode ser provado nem refutado; ele não é um argumento. Deus não é
uma hipótese, não é uma teoria: é uma experiência. O Mestre é evidência viva.
Mas para ver isto você precisará de uma visão diferente daquela com a qual você
está acostumado.
Você sabe como aproximar-se de um professor, como aproximar-se de um
catedrático, como chegar a um padre. Eles não pedem muito, porque eles
simplesmente comunicam informação, o que pode ser feito até por um
computador, um gravador ou um livro.
EU FUI UM ESTUDANTE EM UMA UNIVERSIDADE. Eu nunca assisti às aulas
dos meus professores. Naturalmente eles se ofendiam. E um dia o chefe do
departamento me chamou e disse: “Por que você entrou para a Universidade?
Nós nunca te vemos, você nunca assiste às aulas. E lembre-se: quando a época
dos exames chegar, não peça um certificado de frequência — porque 75% de
frequência é indispensável para fazer os exames”. Eu peguei a mão daquele
velho homem e disse: “Você vem comigo — eu te mostrarei onde eu estou e
porque eu entrei para a Universidade”.
Ele estava um pouco amedrontado por tirá-lo dali e o porquê disto. E era um fato
sabido que eu era um pouco excêntrico! Ele disse: “Mas aonde você está me
levando?”
Eu disse: “Eu vou lhe mostrar que você tem que me dar 100% de frequência.
Venha comigo”.
Eu o levei à biblioteca e disse ao bibliotecário: “Diga para este velho homem —
já houve um único dia em que eu não estive na biblioteca?”
O bibliotecário disse: “Mesmo nos feriados ele esteve aqui. Se a biblioteca não
está aberta este estudante se senta no jardim da biblioteca, mas ele vem. E todo
dia nós temos que lhe dizer: ‘Agora, por favor, saia porque está na hora de
fechar’”.
Eu disse ao professor: “Eu acho os livros bem mais claros que os seus pretensos
professores. E, além disto, eles simplesmente repetem o que já está escrito nos
livros, então, qual é a razão para continuar ouvindo dizeres já gastos? Eu posso
olhar nos livros diretamente”.
Eu disse a ele: “Se você puder provar que seus professores estão ensinando
algo que não esteja nos livros, eu estou pronto a vir às aulas. Se você não puder
provar, então saiba que você tem que me dar 100% de frequência — do contrário
eu criarei problemas”.
Eu nunca fui questioná-lo; ele me deu 100% de frequência. Ele entendeu; era
tão simples. Ele disse: “Você está certo. Por que ouvir conhecimento de segunda
mão? Você pode ir diretamente aos livros. Eu conheço aqueles professores —
eu mesmo sou simplesmente uma gravação. A verdade é, ele me disse, que por
trinta anos eu não li nada. Eu simplesmente continuo usando minhas velhas
anotações”.
Por trinta anos ele tem ensinado a mesma coisa, e em trinta anos milhões de
livros foram publicados. Você sabe como se aproximar de um professor, você
sabe como se aproximar de um livro, você sabe como se aproximar de uma
informação morta, mas você não sabe como se aproximar de um Mestre. É uma
maneira totalmente diferente de comungar. Não é comunicação, é comunhão —
porque o Mestre não é uma prova, mas uma evidência. Ele não possui grande
conhecimento sobre Deus, ele sabe. Ele não é instruído, ele simplesmente sabe.
Lembre-se, saber sobre é inútil. A palavra “sobre” significa ao redor. Saber sobre
alguma coisa significa mover-se em círculos, sempre ao redor. A palavra “sobre”
é bonita. Quando você ler “sobre”, leia “ao redor”. Quando alguém disser: “Eu sei
sobre Deus,” leia ele sabe ao redor de Deus. Ele caminha em um círculo. E o
saber real nunca é sobre, nunca ao redor; ele é direto, ele é uma linha reta.
Jesus diz: “Reto é o caminho...” Ele não caminha em círculos; é um salto da
periferia para o centro. O Mestre é uma evidência desse salto, desse salto
quântico, dessa transformação.
Você tem que se aproximar de um Mestre com grande amor, com grande
confiança, com um coração aberto. Você não está consciente de quem você é.
Ele está consciente de quem ele é, ele está consciente de quem você é.
Poderia-se dizer que a lagarta não tem consciência de que ela pode se tornar
uma borboleta. Vocês são lagartas-bodhisattivas. Todas lagartas são
bodhisattivas e todos bodhisattivas são lagartas. Um bodhisattiva significa
alguém que pode se tornar uma borboleta, que pode se tornar um Buda, que é
Buda na semente, em essência. Mas como pode a lagarta ser consciente de que
ela pode se tornar uma borboleta? A única maneira é comungar com borboletas,
ver borboletas movendo-se ao vento, no sol. Vendo-as mover de uma flor a outra,
vendo sua beleza, sua cor, pode ser que um grande desejo, uma ânsia surja na
lagarta.
“Eu posso ser igual.” Naquele mesmo momento a lagarta começou a acordar,
um processo foi provocado.
O relacionamento entre um Mestre e um discípulo é o relacionamento entre uma
lagarta e uma borboleta, uma amizade entre elas. A borboleta não pode provar
que a lagarta pode se tornar uma borboleta, não tem nenhuma maneira lógica.
Mas a borboleta pode provocar uma ânsia na lagarta — isto é possível.
O Mestre ajuda você a alcançar sua própria experiência. Ele não lhe dá os
Vedas, o Corão, a Bíblia, ele joga você para você mesmo. Ele o torna consciente
das suas fontes internas. Ele o torna consciente do seu próprio suco, sua própria
divindade. Ele libera você das escrituras. Ele libera você das interpretações dos
outros. Ele libera você de todas as crenças. Ele libera você de toda especulação,
de toda suposição. Ele libera você da filosofia, da religião e da teologia. Ele libera
você, em resumo, do mundo das palavras — porque a palavra é o problema.
Você se tornou tão obcecado com a palavra “amor” que você se esqueceu que
amor é uma experiência, não uma palavra. Você se tornou tão obcecado com a
palavra “Deus” que você se esqueceu que Deus é uma experiência, não uma
palavra. A palavra “Deus” não é Deus, e a palavra “fogo” não é fogo, e a palavra
“amor” também não é amor.
O Mestre libera você das palavras. Ele libera você de todos os tipos de filosofias
imaginativas. Ele traz você a um estado de silêncio sem palavras. A falha da
religião e da filosofia é que elas se tornam substitutas para a experiência real.
Esteja alerta para isto!
Marlene e Florence, duas secretárias de Denver, estavam conversando durante
o almoço.
“Eu fui estuprada a noite passada por um erudito”, sussurrou Marlene.
“Verdade?”, disse Florence. “Como você sabia que era um erudito?”
“Eu tive que ajudá-lo.”
Eruditos são pessoas aleijadas, paralisadas, presas em suas cabeças. Eles
esqueceram tudo, exceto as palavras. Eles são grandes fabricantes de sistemas.
Eles acumulam belas teorias, eles se colocam em belos moldes, mas isto é tudo
que eles fazem. Eles não sabem nada — embora eles enganem a outros, e
também a si mesmos, que eles sabem.
Um homem entrou num restaurante para almoçar e quando o garçom chegou
ele disse: “Eu quero um prato de Kiddlies, por favor”.
“O quê?” disse o garçom.
“Kiddlies”, disse o homem.
“O quê?” disse o garçom novamente.
Então o homem pegou o menu e apontou para o que ele queria.
“Kiddlies”, ele repetiu firmemente.
“Ah”, disse o garçom. “Eu compreendo. Kidneys (em inglês: rim). Por que você
não disse assim?”
“Mas”, disse o homem, “eu disse Kiddlies, não disse?”
É muito difícil puxá-los para fora. Eles vivem nas suas próprias palavras. Eles
esqueceram que a realidade tem algo a mais além de palavras. Eles são
completamente surdos, completamente cegos. Eles não podem ver, eles não
podem ouvir, eles não podem sentir. Palavras são palavras. Você não pode vê-
las, você não pode senti-las, mas elas podem te dar um grande ego.
Um canibal correu para dentro da vila para espalhar a notícia que um grupo de
caça tinha capturado um teólogo cristão.
“Bom”, disse um dos canibais entusiasticamente, “eu sempre quis experimentar
um sanduíche de conversa fiada.”
Esteja alerta para não se perder em filosofia e religião se você realmente quiser
saber o que é a verdade. Esteja alerta para o fato de ser cristão, hindu,
muçulmano, porque essas são maneiras de ser surdo, cego, insensível.
Três surdos estavam viajando num trem com destino a Londres.
O primeiro disse:
“Desculpe-me, condutor, que estação é essa?”
“Wembley, senhor”, respondeu o condutor.
“Meu Deus!”, exclamou o segundo. “Eu tenho certeza de que hoje é quinta-feira.”
“Eu também”, concordou o terceiro. “Vamos todos entrar no vagão-restaurante e
tomar um drinque.”
É isto o que ocorre entre catedráticos, filósofos, teólogos. Eles não podem ouvir
o que está sendo dito. Eles têm suas próprias idéias e estão tão cheios delas,
tantas camadas grossas de palavras, que a realidade não pode alcançá-los.
O ZEN DIZ: SE VOCÊ CONSEGUIR PARAR DE FILOSOFAR, há uma
esperança para você. No momento que você pára de filosofar, você se torna
inocente como uma criança. Mas lembre-se: a ênfase do Zen em não saber não
significa que ele enfatize a ignorância. Não saber não é ignorância. Não há nem
conhecimento nem ignorância; ambos foram transcendidos.
Um homem ignorante é alguém que ignora, é assim que a palavra surgiu. A raiz
é “ignor”. A pessoa ignorante é alguém que vai ignorando alguma coisa
essencial. Desse jeito a pessoa instruída é a pessoa mais ignorante, porque ela
sabe sobre céu e inferno e não sabe nada sobre ela mesma. Ela sabe sobre
Deus, mas ela não sabe nada sobre quem ela é, o que é essa consciência
interior. Ela é ignorante porque ela está ignorando a coisa mais fundamental na
vida: ela está ignorando a si mesma. Ela está se mantendo ocupada com o não-
essencial. Ela é ignorante — cheia de conhecimento, mas completamente
ignorante.
Não saber significa simplesmente um estado de não-mente. A mente pode ser
instruída, a mente pode ser ignorante. Se você tem pouca informação você vai
ser considerado ignorante; se você tem mais informação, você vai ser
considerado instruído. Entre ignorância e conhecimento a diferença é de
quantidade, de graus. A pessoa ignorante é menos instruída, isto é tudo; a
própria pessoa instruída pode aparecer ao mundo como menos ignorante, mas
elas não são diferentes, suas qualidades não são diferentes.
O Zen enfatiza o estado do não-saber. Não saber significa que alguém não é
nem ignorante nem instruído. Ele não é instruído porque ele não está interessado
em mera informação e ele não é ignorante porque ele não está ignorando — ele
não está ignorando a questão mais essencial. Ele não está ignorando seu próprio
ser, sua própria consciência.
Não saber tem uma beleza própria, uma pureza. É justamente como um espelho
puro, um Iago completamente silencioso refletindo as estrelas e as árvores na
margem. O estado de não-saber é o ponto mais alto na evolução humana.
O conhecimento é apresentado à mente depois do nascimento físico. A
sabedoria está sempre presente, assim como o coração sabe como bater ou
uma semente sabe como germinar ou uma flor sabe como crescer, ou um peixe
sabe como nadar. E é muito difícil saber sobre coisas. Então por favor faça uma
distinção entre conhecimento e sabedoria.
O estado de não-saber é realmente o estado de saber, porque quando todo
conhecimento e toda ignorância desaparecem você pode refletir a existência
como ela é. O conhecimento é adquirido depois do seu nascimento, mas o saber
vem com você. E quanto mais conhecimento você adquire, mais e mais o saber
começa desaparecer porque ele vem coberto com conhecimento. Conhecimento
é exatamente como poeira e sabedoria é como um espelho.
O coração do saber é agora. Conhecimento é sempre do passado.
Conhecimento significa memória. Conhecimento significa que você conheceu
alguma coisa, você experimentou alguma coisa, e você acumulou sua
experiência. Sabedoria é do presente. E como você pode estar no presente se
você está se apegando demais ao conhecimento? É impossível, você terá que
parar de se apegar ao conhecimento. E conhecimento é adquirido, sabedoria é
a sua natureza. Sabedoria é sempre agora — o centro do saber é agora. E o
centro do agora?
A palavra “agora” é bonita. O centro dela é a letra “o”, que é também um símbolo
para zero. O centro do agora é zero, nada. Quando a mente não é mais, quando
você é somente um nada, simplesmente um zero — Buda chama isto
exatamente assim, shunya, o zero — então tudo que o rodeia, tudo que está
dentro e fora, é conhecido, mas conhecido não como conhecimento, conhecido
de uma maneira totalmente diferente. Assim como uma flor sabe como abrir, e o
peixe sabe como nadar e a criança sabe como crescer no útero da mãe, e você
sabe como respirar — mesmo quando adormecido, mesmo em coma, você
continua respirando — e o coração sabe como bater. Essa é uma maneira
totalmente diferente de saber, tão intrínseca, tão interna. Não é adquirida, é
natural.
O conhecimento é conseguido na troca pelo saber. E quando você tem
conhecimento, o que acontece com a sabedoria? Você se esquece da sabedoria.
Você tem conhecimento e você esqueceu a sabedoria. E a sabedoria é a porta
para o divino; o conhecimento é uma barreira para o divino. O conhecimento tem
utilidade no mundo. Sim, ele o tornará mais eficiente, habilidoso, um bom
mecânico, isto e aquilo; você pode conseguir uma profissão melhor. Tudo isto
está aí e eu não estou negando. E você pode usar o conhecimento desse jeito;
mas não deixe o conhecimento se tornar uma barreira para o divino. Quando o
conhecimento não for necessário, coloque-o de lado e mergulhe num estado de
não-saber — que é também um estado de saber, real saber. O conhecimento é
conseguido na troca pela sabedoria e a sabedoria é esquecida. Ela só tem que
ser re-lembrada — você a esqueceu.
A função do Mestre é ajudar você a re-lembrá-la. A mente tem que ser re-
lembrada, pois a sabedoria não é nada a não ser re-conhecimento, re-cordação,
re-lembrança. Quando você se depara com alguma verdade, quando você vê um
Mestre, e você vê a verdade do seu ser, alguma coisa dentro de você
imediatamente a reconhece. Nem mesmo um único momento é perdido. Você
não pensa sobre isto, se é verdade ou não — para pensar precisa-se de tempo.
Quando você ouve a verdade, quando você sente a presença da verdade,
quando você chega a uma comunhão com a verdade, alguma coisa dentro de
você imediatamente a reconhece, sem nenhum argumento. Não que você aceite,
não que você acredite: você reconhece. E isto não poderia ser reconhecido se
já não fosse de alguma maneira conhecido, em algum lugar, profundamente
dentro de você.
Essa é a visão fundamental do Zen.
“O seu irmãozinho já aprendeu a falar?”
“Oh, claro”, respondeu Joãozinho. “Agora mamãe e papai estão ensinando-o a
ficar quieto.”
A sociedade lhe ensina conhecimento. Tantas escolas, colégios, universidades...
todos com o objetivo de criar conhecimento, mais conhecimento, implantar
conhecimento nas pessoas. E a função do Mestre é justamente o oposto: o que
a sociedade fez a você o Mestre tem que desfazer. Sua função é basicamente
anti-social, e nada pode ser feito a respeito disto. O Mestre está destinado a ser
anti-social.
Jesus, Pitágoras, Buda, Lao Tzu, todos eles são anti-sociais, mas no momento
que eles reconhecem a beleza de não saber, a vastidão de não saber, a
inocência de não saber, no momento que o sabor do não saber acontece a eles,
eles querem compartilhar isto com outros, eles querem dividir isto com outros. E
esse próprio processo é anti-social.
As pessoas me perguntam por que a sociedade é contra mim. A sociedade não
é contra mim — eu sou anti-social. Mas eu não posso evitar isto. Eu tenho que
fazer meu trabalho. Eu tenho que compartilhar o que aconteceu a mim, e nesse
próprio compartilhar eu vou contra a sociedade. Sua própria estrutura está
enraizada em conhecimento, e a função do Mestre é destruir conhecimento, a
função do Mestre é destruir conhecimento e ignorância e trazer de volta à sua
infância.
Jesus diz: A menos que vocês sejam como pequenas crianças, não entrarão no
reino de Deus.
A sociedade, de fato, torna você desenraizado da sua natureza. Ela leva você
para fora de seu centro. Ela o torna neurótico.
Um estudante perguntou a um famoso psiquiatra que estava conduzindo um
curso universitário:
“Senhor, você nos falou sobre a pessoa anormal e seu comportamento, mas e
sobre a pessoa normal?”
“Quando nós a encontrarmos”, respondeu o psiquiatra, “nós a curaremos.”
A sociedade vai curando as pessoas normais. Toda criança nasce normal,
lembre-se, então a sociedade a cura. Ela se torna hindu, muçulmana, cristã,
comunista, católica... existem tantos tipos de neuroses no mundo... Você pode
escolher, você pode optar por qualquer tipo de neurose que você queira. A
sociedade cria todos os tipos; todos os tamanhos e formas de neurose são
viáveis, para todos os gostos.
O Zen cura você de sua anormalidade. Ele o torna normal outra vez, ele o torna
ordinário de novo. Lembre-se, ele não o torna um santo. Ele não o torna uma
pessoa sagrada, lembre-se. Ele simplesmente torna você uma pessoa ordinária
— leva-o de volta à sua natureza, de volta à sua fonte.
Esta bela história:
Subindo ao assento superior, Dogen Zenji disse:
“O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji.
Uma vez Zenji lhe perguntou:
‘Josa, aonde você vai?’
Hogen disse: ‘Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo’.
Keishin disse: ‘Qual é a importância da sua peregrinação?’
Hogen disse: ‘Eu não sei’.
Keishin disse: ‘Não saber é o mais íntimo’.
Hogen subitamente atingiu grande iluminação”.
AGORA MEDITE SOBRE CADA PALAVRA dessa pequena história, ela contém
mais que todas as grandes escrituras — porque ela também contém não saber.
Subindo ao assento superior...
Isto é somente um modo simbólico, metafórico de dizer alguma coisa muito
significativa. O Zen diz que o homem é uma escada. O degrau mais baixo é a
mente e o degrau mais alto é a não-mente. O Zen diz que somente pessoas que
chegaram à não-mente é que são suficientemente dignas para ascender ao
assento superior — não todo o mundo. Não é questão de um padre ou um
pregador.
Cristãos treinam pregadores, eles têm colégios teológicos onde os pregadores
são treinados. Que tipo de tolice é essa? Sim, você pode ensiná-los a arte da
eloquência, você pode ensiná-los como começar um discurso, como terminar um
discurso. E isto é exatamente o que está sendo ensinado nos colégios teológicos
cristãos. Até mesmo que gestos fazer, quando fazer uma pausa, quando falar
devagarinho e quando se tornar eloquente — tudo isto é cultivado. E essas
pessoas estúpidas pregam sobre Jesus, e eles não fizeram uma única pergunta!
Uma vez eu visitei um colégio teológico. O diretor era meu amigo; ele me
convidou. Eu lhe perguntei: “Você pode me dizer em qual colégio Jesus
aprendeu? — porque o Sermão da Montanha é tão bonito, ele deve ter aprendido
em algum colégio teológico. E em qual colégio teológico Buda aprendeu?”
Maomé não teve nenhuma educação, mas o modo como ele fala, a maneira
como ele canta no Corão é soberba. Vem de algum outro lugar. Não é educação,
não é conhecimento. Vem de um estado de não-mente.
Joãozinho era filho do ministro local. Um dia sua professora estava perguntando
à classe o que eles gostariam de ser quando crescessem.
Quando chegou a sua vez, ele respondeu: “Eu quero ser um pregador,
exatamente como meu pai”.
A professora, impressionada com a sua determinação, perguntou por que ele
queria ser um pregador.
“Bem”, ele disse pensativamente, “já que eu tenho que ir à igreja aos domingos
de qualquer maneira, eu acho que seria mais interessante ser a pessoa que fica
de pé e berra do que aqueles que têm que sentar e ouvir.”
Você pode criar pregadores, mas você não pode criar Mestres.
Na Índia, a cadeira de onde um Mestre fala é chamada de vyaspeetha. Vyasa foi
um dos maiores Mestres que a Índia já produziu, um dos Budas mais antigos.
Ele era tão influente, seu impacto foi tão tremendo, que milhares de livros foram
publicados em seu nome, mas não foram escritos por ele. Mas o nome dele se
tornou tão importante que se alguém quisesse vender seu livro colocaria o nome
de Vyasa nele, em vez de colocar o seu próprio. Seu nome bastava para garantir
que o livro era valioso. Agora os eruditos ficam loucos para decidir qual livro
realmente foi escrito por Vyasa.
O assento de onde um Buda fala é chamado vyaspeetha — o assento do Buda.
A ninguém mais é permitido ascender ao assento, a menos que tenha atingido a
não-mente. “Subindo ao assento superior” é uma metáfora, ela diz que o homem
atingiu o estado de não-mente, ele atingiu o estado de não-saber, que é o
verdadeiro saber.
...Dogen Zenji disse:
“O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji.
Uma vez Zenji lhe perguntou:
‘Josa, aonde você vai?’”
Este é um modo Zen de dizer “qual é o seu objetivo de vida? Aonde você está
indo?” Isto também implica outra pergunta: “De onde você está vindo? Qual é a
fonte da tua vida?” Também “quem é você?” — porque se você responde de
onde você está vindo e para onde você está indo, isto significa que você sabe
quem você é.
As três perguntas mais importantes são: “Quem sou eu? De onde eu venho? E
para onde estou indo?”
...Keishin Zenji perguntou:
“Josa, aonde você vai?”
Hogen disse: “Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”.
Veja a beleza da resposta. É assim que coisas tremendamente belas transpiram
entre um Mestre e um discípulo. Ele disse:
“Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”.
Se você estiver indo a Meca, então não é uma peregrinação, porque nisto há
uma meta; se você estiver indo a Jerusalém ou a Kashi, não é uma peregrinação.
Onde existe um objetivo, existe ambição, e onde existe ambição existe mente,
desejo. E com desejo não há possibilidade de nenhuma peregrinação.
Uma peregrinação só pode ser sem objetivo. Veja a beleza disto! Somente um
mestre Zen pode aprová-la e somente um discípulo Zen pode dizer algo tão
tremendamente revolucionário.
“Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”.
O Mestre pergunta: “Aonde você está indo?” E o discípulo diz: “A nenhum lugar
em particular”. Sem objetivo, exatamente como uma folha seca ao vento, para
onde o vento a leva: para o norte, então o norte é bonito; para o sul, então o sul
é bonito — porque tudo é divino. Aonde quer que você vá você o encontra. Não
há necessidade alguma de ter qualquer objetivo.
A partir do momento que você tem um objetivo você se torna tenso; você se torna
concentrado no objetivo. A partir do momento que você tem qualquer objetivo,
você está separado do todo. Ter um objetivo particular é a raiz de todo ego. Não
ter um objetivo particular é ser um com o todo e ser um com o todo somente é
possível se você estiver vagando sem objetivo.
Uma pessoa Zen é um andarilho, sem meta, sem objetivo, sem nenhum futuro.
Ele vive momento a momento sem nenhuma mente; exatamente como a folha
seca, ele se torna disponível aos ventos. Ele diz aos ventos: “Levem-me aonde
vocês quiserem”. Se ele sobe com os ventos, alto no céu, ele não se sente
superior a outros que estão deitados no chão. Se ele cai no chão, ele não se
sente inferior aos outros que estão subindo com o vento ao alto do céu. Ele não
pode falhar. Ele jamais pode ser frustrado. Quando não há nenhum objetivo,
como você pode falhar? E quando você não está indo a nenhum lugar em
particular, como você pode ficar frustrado? Expectativa traz frustração. Ambições
trazem fracassos.
A pessoa Zen é sempre vitoriosa, mesmo em seu fracasso.
Keishin disse: “Qual é a importância da sua peregrinação?”
Ele perguntou novamente para se certificar, porque ele pode estar simplesmente
repetindo. Ele pode ter lido em alguma escritura Zen que “a pessoa deveria ser
sem objetivo. Quando alguém é sem objetivo, a vida é uma peregrinação”.
Consequentemente o Mestre pergunta novamente:
“Qual é a importância da sua peregrinação?”
Hogen disse: “Eu não sei”.
Agora, se Hogen estivesse somente repetindo algum conhecimento reunido de
escrituras ou de outros, ele teria novamente respondido a mesma coisa, talvez
colocado de uma maneira diferente. Ele poderia ter sido como um papagaio. O
Mestre está perguntando a mesma pergunta, mas a resposta mudou totalmente.
Ele simplesmente diz: “Eu não sei”.
Como você pode saber se você é sem objetivo? Como você pode saber se você
não tem nenhuma meta? Como você pode ser quando não há nenhuma meta?
O ego só pode existir com metas, ambições, desejos.
Hogen disse: “Eu não sei”.
Sua resposta não é como a de um papagaio. Ele não repetiu a mesma coisa
novamente. A pergunta foi a mesma, lembre-se, mas a resposta mudou. Essa é
a diferença entre um homem de conhecimento e um homem de sabedoria, o
sábio, que age de um estado de não-saber.
“Eu não sei”.
Keishin deve ter ficado tremendamente feliz. Ele disse:
“Não saber é o mais íntimo”.
O conhecimento cria uma distância entre você e a realidade. Quanto mais você
sabe, maior é a distância — tantos livros entre você e a realidade. Se você
decorar toda a Enciclopédia Britânica, então esta é a distância entre você e a
realidade. A menos que a realidade tente lhe achar através da selva da
Enciclopédia Britânica ou você tente achar a realidade através da selva da
Enciclopédia Britânica, não haverá nenhum encontro. Quanto mais você sabe,
maior é a distância; quanto menos você sabe, menor é a distância. Se você não
sabe nada não tem nenhuma distância. Então você está face a face com a
realidade; nem mesmo face a face — você é ela. Este é o porquê de o Mestre
dizer:
“Não saber é o mais íntimo”.
Lembre-se, um sutra tão bonito, tão delicado, tão tremendamente significativo:
“Não saber é o mais íntimo”.
No momento que você não sabe, surge intimidade entre você e a realidade,
surge uma grande amizade. Torna-se um caso de amor. Você está abraçando a
realidade; ela penetra em você, como os amantes penetram um no outro. Você
derrete nela como a neve derretendo ao sol. Você se torna um com ela. Não tem
nada para dividir. É o conhecimento que divide; é o não-saber que une.
Ouvindo esse sutra tremendamente significativo:
“Não saber é o mais íntimo”,
Hogen subitamente atingiu grande iluminação.
ELE DEVIA ESTAR BEM PERTO, OBVIAMENTE. Quando ele disse “eu não
sei”, ele devia estar exatamente na fronteira. Quando ele disse “eu estou fazendo
peregrinação sem objetivo”, ele estava exatamente a um passo da fronteira.
Quando ele disse “eu não sei”, até mesmo esse único passo desapareceu. Ele
estava em pé na linha da fronteira.
E quando o Mestre disse, quando o Mestre confirmou, iluminou, e disse “não
saber é o mais íntimo”... quando o Mestre bateu nas suas costas: “não saber é
o mais íntimo”...
Hogen de repente atingiu grande iluminação.
Imediatamente, naquele mesmo momento, ele cruzou a fronteira. Imediatamente
seu último apego desapareceu. Agora ele não pode nem mesmo dizer “eu não
sei”.
A pessoa estúpida diz: “Eu sei”, a pessoa inteligente vem a saber que não sabe.
Mas há uma transcendência de ambos quando somente o silêncio prevalece.
Nada pode ser dito, nada pode ser pronunciado. Hogen entrou naquele silêncio,
naquela grande iluminação e, de repente, imediatamente, sem nenhum lapso de
tempo.
A iluminação é sempre súbita porque não é uma realização, já é o caso. É
somente uma lembrança, é somente um reconhecimento. Você já é iluminado,
simplesmente você não está consciente disto. É consciência daquilo que já é o
caso.
Medite sobre essa bela história. Deixe esse sutra ressoar em seu ser:
“Não saber é o mais íntimo”.
E a pessoa nunca sabe: iluminação súbita pode acontecer a você como ela
aconteceu a Hogen. Ela acontecerá a muitas pessoas aqui, porque diariamente
eu estou destruindo seu conhecimento, destruindo e destruindo todos seus
apegos e estratégias da mente. Qualquer dia, quando sua mente sofrer um
colapso, quando você não puder segurá-la mais, fatalmente acontecerá
repentina iluminação. Não é algo a ser conseguido, consequentemente ela pode
acontecer num único momento, instantaneamente. A sociedade lhe forçou a
esquecê-la, meu trabalho aqui é ajudar-lhe a lembrá-la.
Todos os ensinamentos que os sábios expuseram não são mais que comentários
do seu grito súbito: “Ah, isto!”
CAPÍTULO 2
Neti Neti
A primeira pergunta
Osho,
Por favor; na pergunta “quem sou eu?”, o que “eu” significa?
Significa a essência da vida?
Hermann Sander,
“QUEM SOU EU?” NÃO É REALMENTE UMA PERGUNTA porque não há
resposta para ela, ela é irrespondível. É um estratagema, não uma pergunta. Ela
é usada como um mantra. Quando você pergunta constantemente dentro de
você “quem sou eu? Quem sou eu?” você não está esperando por uma resposta.
Sua mente lhe dará muitas respostas, todas essas respostas devem ser
rejeitadas. Sua mente dirá: “Você é a essência da vida. Você é a alma eterna.
Você é divino”, e assim por diante. Todas essas respostas têm que ser
rejeitadas: neti neti — a pessoa tem que continuar dizendo: “Nem isto nem
aquilo”.
Quando você tiver negado todas as possíveis respostas que a mente pode dar
e arquitetar, quando a pergunta permanecer absolutamente irrespondível, um
milagre acontece: de repente a pergunta também desaparece. Quando todas as
respostas tiverem sido rejeitadas, a pergunta não tem nenhum apoio, nenhum
suporte interno para continuar a existir. Ela simplesmente cai, sofre um colapso,
ela desaparece.
Quando a pergunta também desaparece, então você sabe. Mas aquele saber
não é uma resposta; é uma experiência existencial. Nada pode ser dito sobre
ela, ou o que quer que seja dito será errado. Dizer algo sobre ela é falsificá-la. É
o mistério definitivo, inexprimível, indefinível. Nenhuma palavra é
suficientemente adequada para descrevê-la. Até mesmo a frase “essência da
vida” não é adequada. Nada é adequado para expressá-la, sua própria natureza
é inexprimível.
Mas você sabe. Você sabe exatamente do mesmo modo que a semente sabe
como crescer — não como o professor que sabe sobre Química ou Física ou
Geografia ou História, mas como o botão que sabe como abrir numa manhã
ensolarada. Não como o padre que sabe sobre Deus, sobre e sobre ele vai, em
torno e em torno, ele vai.
O conhecimento divaga, a sabedoria é uma penetração direta. Mas no momento
que você penetra diretamente no interior da Existência, você desaparece como
uma entidade separada. Você não é mais. Quando aquele que sabe não é mais,
o saber é. E o saber não é sobre alguma coisa — você é o próprio saber.
Então eu não posso dizer, Sander, o que “eu” significa na pergunta “quem sou
eu”. Não significa nada! É simplesmente um estratagema para lhe levar para
dentro do inexplorado, para lhe levar para dentro daquilo que não é viável à
mente. É uma espada para cortar as próprias raízes da mente, então somente o
silêncio da não-mente é deixado. Naquele silêncio não há nenhuma pergunta,
nenhuma resposta, nenhum sabedor, nenhum sabedor, mas somente sabedoria,
somente experiência.
É por isto que os místicos parecem estar com tanta dificuldade para expressá-
la. Muitos deles permaneceram silenciosos por estarem conscientes que o que
quer que você diga sai errado. No momento que você diz, dá errado. Aqueles
que falaram, eles falaram com essa condição: não se apegue às nossas
palavras.
Lao Tzu diz: “O Tao, uma vez descrito, não é mais realmente Tao. No momento
que você diz alguma coisa sobre ele você já o falsificou, você já o traiu. É uma
sensação muito íntima, incomunicável”.
“Quem sou eu?” funciona como uma espada para cortar todas as respostas que
a mente possa dar. As pessoas Zen dirão que é um koan, exatamente como
outros koans. Existem muitos koans, famosos koans. Um é: “Descubra sua face
original”. E o discípulo pergunta ao Mestre: “Qual é a face original?” E o Mestre
diz: “A face que você tinha antes que seus pais tivessem nascido”.
E você começa a meditar nisto. “Qual é a sua face original?” Naturalmente, você
tem que negar todas as suas faces. Muitas faces vão aparecer na superfície:
faces da infância, quando você era jovem, quando você estava na meia-idade,
quando você ficou velho, quando você era saudável, quando você ficou doente...
Todos os tipos de faces vão aparecer como numa fila. Elas passarão diante de
seus olhos reclamando: “Eu sou a face original”. E você terá que continuar
rejeitando.
Quando todas as faces forem rejeitadas e ficar o vazio, você terá encontrado a
face original. O vazio é a face original. Zero é a suprema experiência. Nada é
sua face original.
Um outro famoso koan é: “O som de uma mão batendo palma”. O Mestre diz ao
discípulo: “Vá e ouça o som de uma mão batendo”. Agora isto é claramente um
absurdo: uma mão não pode bater palma e sem bater palma não pode haver
nenhum som. O Mestre sabe disto, o discípulo sabe disto. Mas quando o Mestre
diz: “Vá e medite nisto”, o discípulo tem que atender.
Ele começa a fazer esforços para ouvir o som de uma mão batendo palmas.
Muitos sons vêm à sua mente: os pássaros cantando, o som de água correndo...
Ele corre imediatamente para o Mestre; ele diz: “Eu ouvi! O som de água
correndo — não é esse o som de uma mão batendo palma?”
E o Mestre bate fortemente na cabeça dele e diz: “Bobo! Volte, medite mais!”
E ele continua meditando, e a mente continua dando novas respostas: “O som
do vento passando através dos pinheiros — certamente essa é a resposta”. Ele
está com tanta pressa. Todo o mundo está com pressa. Imediatamente ele corre
para a porta do Mestre, um pouco apreensivo, temeroso também, mas pode ser
que seja essa a resposta...
E mesmo antes dele dizer uma única coisa o Mestre bate nele. Ele está muito
confuso e diz: “Isto é demais! Eu nem mesmo disse uma única palavra, então
como posso estar errado? E por que você está me batendo?”
O Mestre diz: “Não é uma questão de ter dito alguma coisa ou não. Você veio
com uma resposta, isto é o bastante para provar que você deve estar errado.
Quando você tiver realmente descoberto você não virá, não haverá necessidade.
Eu irei a você”.
Algumas vezes se passam anos, e um dia acontece, não há nenhuma resposta.
Antes o discípulo sabia que não havia nenhuma resposta, mas era apenas um
saber intelectual. Agora ele sabe do seu próprio ser: “Não há nenhuma resposta!”
Todas as respostas evaporaram.
E o sinal correto de que todas as respostas evaporaram é somente um: quando
a pergunta também evapora. Agora ele está sentado silenciosamente, não
fazendo nada, nem mesmo meditando. Ele se esqueceu da pergunta: “Qual é o
som de uma mão batendo palma?” Não está mais ali. É puro silêncio.
E existem maneiras... existem caminhos internos entre um Mestre e um
discípulo. E agora o Mestre corre em direção ao discípulo. Ele bate na porta. Ele
abraça o discípulo e diz: “Então aconteceu? É isto! Nenhuma resposta, nenhuma
pergunta: É isto. Ah, isto!”
A segunda pergunta
Osho,
Eu sinto que a vida é muito chata. O que eu deveria fazer?
Brij Mohan,
DESSE JEITO VOCÊ JÁ FEZ O BASTANTE: Você tornou a vida chata — uma
grande façanha! A vida é uma tal dança de êxtase e você a reduziu à chatice.
Você fez um milagre! O que mais você quer fazer? Você não pode fazer nada
maior que isto. Vida, e chata? Você deve ter uma tremenda capacidade para
ignorar a vida.
Outro dia eu estava dizendo a vocês que ignorância significa a capacidade para
ignorar. Você deve estar ignorando os pássaros, as árvores, as flores, as
pessoas. De outra maneira, a vida é tão tremendamente bela, tão absurdamente
bela, que se você puder vê-la como ela é, você nunca parará de rir. Você dará
risadas — pelo menos internamente.
A vida não é chata, mas a mente é chata. E nós criamos uma tal mente, tão forte,
como uma Muralha da China ao nosso redor, que a vida não entra dentro de nós.
A mente nos desconecta da vida. Nós nos tornamos isolados, encapsulados,
sem janelas. Vivendo atrás de uma parede de prisão você não vê o sol da manhã,
você não vê os passarinhos voando, você não vê o céu à noite cheio de estrelas.
E, certamente, você começa a achar que a vida é chata. Sua conclusão é errada.
Você está num espaço errado, você está vivendo num contexto errado.
Você deve ser uma pessoa religiosa, Brij Mohan, porque para tornar a vida chata
a pessoa tem que ser religiosa; tem que ser muito erudita. A pessoa tem que
conhecer o Cristianismo, o Hinduísmo, o Islamismo. A pessoa tem que aprender
muito dos Vedas, do Corão e da Bíblia. Você dever ser muito bem informado.
Um homem que é bem-informado demais, culto demais, cria uma parede de
palavras tão grande — palavras fúteis, vazias — em volta dele que se torna
incapaz de ver a vida.
O conhecimento é uma barreira para a vida.
Ponha de lado seu conhecimento! E então olhe com olhos vazios... e a vida é
uma constante surpresa. Eu não estou falando sobre alguma vida divina — a
vida ordinária é tão extraordinária. Em pequenos incidentes você vai achar a
presença de Deus — uma criança rindo, um cachorro latindo, um pavão
dançando. Mas você não pode ver se seus olhos estiverem cobertos com
conhecimento. O homem mais pobre do mundo é o homem que vive atrás de
uma cortina de conhecimento.
Os mais pobres são aqueles que vivem através da mente. Os mais ricos são
aqueles que abriram as janelas da não-mente e se aproximaram da vida com
ela.
Brij Mohan, essa não é somente sua experiência, você não está sozinho nela.
De fato, a maioria das pessoas concordará com você. Eles não encontraram
nenhuma surpresa em lugar algum. E em cada momento existem surpresas e
surpresas porque a vida nunca é a mesma; ela está constantemente mudando,
ela toma rumos bastante imprevisíveis. Como você pode não se afetar pela sua
própria maravilha? A única maneira de permanecer não afetado é se ligar ao seu
passado, às suas memórias, à sua mente. Então você não pode ver o que é,
você vai perdendo o presente.
Perca o presente e você viverá em tédio. Esteja no presente e você ficará
surpreso por não haver nenhum tédio. Comece olhando ao redor um pouco mais
como uma criança. Seja uma criança novamente! É nisto que se baseia a
meditação: ser uma criança de novo — um renascimento, ser inocente
novamente, não saber. É isto que estávamos falando outro dia. O Mestre disse:
não saber é o mais íntimo.
Sim, você deve ter se tornado muito alienado da vida; consequentemente, o
tédio. Você esqueceu a intimidade, o imediatismo. Você não está mais
enraizado. O conhecimento funciona como uma parede: a inocência funciona
como uma ponte.
Comece olhando como uma criança novamente. Vá à praia e novamente comece
a apanhar conchinhas. Veja uma criança apanhando conchinhas — é como se
ela tivesse achado uma mina de diamantes. Ela está tão emocionada! Veja uma
criança fazendo castelos de areia e como ela está absorvida, completamente
perdida, como se não houvesse nada mais importante do que fazer castelos de
areia. Veja uma criança correndo atrás de uma borboleta... e seja uma criança
novamente. Comece a correr atrás de borboletas novamente. Faça castelos de
areia, apanhe conchinhas.
Não viva como se você soubesse. Você não sabe nada! Tudo o que você sabe
é sobre e sobre. No momento que você souber alguma coisa, o tédio
desaparecerá. Saber é uma aventura tal que o tédio não pode existir. Com
conhecimento é claro que ele pode existir; com sabedoria ele não pode existir.
E deixe-me lembrá-lo: eu não estou falando sobre algum conhecimento divino,
algum conhecimento esotérico; eu estou simplesmente falando sobre esta vida.
Simplesmente olhe ao redor com um pouco mais de clareza, com um pouco mais
de transparência... e a vida é hilariante!
Uma loja do centro da cidade tinha uma placa na sua vitrina escrito: Compre,
Americano. Em pequenas letras estava impresso embaixo: MADE IN JAPAN.
Simplesmente comece a olhar ao redor com mais cuidado.
Um alemão na Zona Soviética comunicou à polícia que o seu papagaio tinha
sumido. Perguntaram-lhe se o papagaio falava.
“Sim”, ele respondeu, “mas quaisquer opiniões políticas que ele expresse são
estritamente dele mesmo."
Molly, de setenta e nove anos, reclamou ao médico de inchaço e dor abdominal.
Ele a examinou completamente, submeteu-a a uma série de testes de
laboratório, e então anunciou os resultados.
“O fato principal, madame”, disse o médico, “é que você está grávida.”
“Isto é impossível!”, disse Molly. “Ora, eu tenho setenta e nove anos e meu
marido, embora ele ainda funcione, tem sessenta e oito!”
O médico insistiu, e então a futura mamãe pegou o telefone e ligou para o
escritório do marido. Quando ele estava na linha ela gritou: “Ô cabra velho, você
me deixou grávida!”
“Por favor”, disse o velho homem com voz trêmula, “quem você disse que era?”
A terceira pergunta
Osho,
Eu sei que você quer que nós todos nos livremos de nossos egos e
mentes, e no meu caso? Eu sei que isto é muito necessário, mas para
aqueles que estarão retornando ao Ocidente, a ausência de mente ou ego
não iria tornar a vida mais difícil?
Prem Joyce,
QUANDO EU DIGO, “ABANDONE O EGO, ABANDONE A MENTE”, eu não
quero dizer que você não pode mais usar a mente. De fato, quando você não se
apega à mente você pode usá-la de um modo bem melhor, bem mais eficiente,
porque a energia que estava envolvida no apego se torna acessível. E quando
você não está o tempo todo na mente, vinte e quatro horas por dia, ela também
tem um pouco de tempo para descansar.
Sabe, até mesmo metais precisam de repouso, até mesmo metais ficam
cansados. Então o que dizer sobre esse sutil mecanismo da mente? E o
mecanismo mais sutil do mundo. Em um crânio tão pequeno você está
carregando um biocomputador tão complicado que nenhum computador
produzido pelo homem é ainda capaz de competir com ele. Os cientistas dizem
que o cérebro de um único homem pode conter todas as bibliotecas do mundo e
ainda haverá espaço para conter mais.
E você a está usando continuamente — sem necessidade, sem utilidade! Você
esqueceu como desligá-la. Por setenta, oitenta anos ela continua ligada,
trabalhando, trabalhando, cansada. É por isto que as pessoas perdem
inteligência: pela simples razão que elas estão muito cansadas. Se a mente
puder ter um pouco de descanso, se você puder deixá-la sozinha por umas
poucas horas todos os dias, se de vez em quando você puder lhe dar um feriado,
ela ficará rejuvenescida; ela ficará mais inteligente, mais eficiente, mais
habilidosa.
Então eu não estou dizendo para você não usar a sua mente, mas para você
não ser usado por ela. Neste exato momento a mente é o mestre e você somente
um escravo.
A meditação faz de você um mestre e a mente se torna um escravo. E lembre-
se: a mente como um mestre é perigosa, porque, afinal, ela é uma máquina; mas
a mente como um escravo é tremendamente significativa, útil. Uma máquina
deveria funcionar como uma máquina, não como um mestre. Nossas prioridades
estão todas de cabeça para baixo — sua consciência deveria ser o mestre.
Então toda vez que você quiser usá-la, no Oriente ou no Ocidente — claro que
você precisará dela no mercado — use-a. Mas quando você não precisar dela,
quando você estiver descansando em casa ao lado da sua piscina ou no seu
jardim, não há nenhuma necessidade. Ponha-a de lado. Esqueça tudo sobre ela.
Então simplesmente seja.
O mesmo ocorre com o ego. Não esteja identificado com ele, isto é tudo. Lembre-
se que você é parte do todo; você não está separado dele.
Isto não significa que se alguém está roubando sua casa você tem que
simplesmente observar — porque você é simplesmente parte do todo e ele, o
ladrão, também é parte do todo, então o que está errado? E alguém está tirando
dinheiro do seu bolso, então não há problema algum — a mão do outro é tão sua
quanto dele! Eu não estou dizendo isto.
Lembre-se que você é parte do todo para que você possa relaxar, fundir-se; uma
vez ou outra você pode estar completamente afogado no todo. E isto lhe dará
uma nova vida. As fontes inesgotáveis do todo se tornarão viáveis para você.
Você sairá disto refrescado; você sairá disto renascido, novamente como uma
criança, cheio de alegria, aventura, êxtase, inquirição.
Não fique identificado com o ego — isto é somente utilitário. Você tem que usar
a palavra “eu”, use a palavra “eu”, mas lembre-se que ela é somente uma
palavra. Ela tem uma certa utilidade e sem ela a vida se tornará impossível. Se
você parar de usar a palavra “eu” completamente a vida se tornará impossível.
Nós sabemos que os nomes são somente utilitários, ninguém nasce com um
nome. Mas eu não estou dizendo para abandonar o nome e jogar seu passaporte
dentro do rio. Você ficará em apuros! Você precisa de um nome; isto é uma
necessidade porque você vive com muitas pessoas.
Se você estiver sozinho no mundo, então é claro que não há necessidade
alguma de carregar um passaporte. Se você estiver sozinho... por exemplo, se
a Terceira Guerra Mundial acontecer e Joyce for deixada sozinha no mundo,
então não haverá necessidade de carregar um passaporte; você pode jogá-lo
em qualquer lugar. Não haverá necessidade de ter qualquer nome. Mesmo se
você tiver um nome ele será inútil — ninguém irá jamais chamá-lo. Então não
haverá necessidade alguma de até mesmo usar a palavra “eu” porque “eu”
precisa de um “tu”; sem um “tu” o “eu” é sem sentido. Ele só tem sentido no
contexto de outros.
Então não me entenda mal. Use seu ego, mas use-o exatamente como você usa
seus sapatos e seu guarda-chuva e suas roupas. Quando estiver chovendo, use
o guarda-chuva, mas não carregue-o sem necessidade. E não vá para a cama
com o guarda-chuva, e não fique com medo que em algum sonho possa chover...
O guarda-chuva tem uma utilidade, então use-o quando for preciso; mas não se
torne tão identificado com ele que você não o possa pôr de lado. Use os sapatos,
use as roupas, use o nome — eles são todos utilidades, não realidades.
No mundo, havendo tantas pessoas, nós precisamos de alguns poucos rótulos,
alguns poucos símbolos, simplesmente para demarcar, simplesmente para
saber quem é quem.
Você me pergunta: Eu sei que você quer que nós todos nos livremos de
nossos egos e mentes...
Eu não estou dizendo para livrar-se; eu estou simplesmente dizendo para serem
mestres das suas mentes. Eu não estou dizendo para ser sem mente; eu só
estou dizendo: não sejam só mentes — vocês são muito mais. Sejam
consciência! Então a mente se torna uma coisa pequena. Vocês podem usá-las
quando for necessário e quando não for necessário vocês podem desligá-las.
Eu estou usando minha mente quando eu falo com vocês. A mente tem que ser
usada; não há outro jeito. Mas no momento que eu entro no meu quarto, eu não
continuo a usá-la, não há nenhum motivo. Eu sou simplesmente silencioso. Com
vocês eu estou usando a língua, as palavras, mas quando eu estou comigo
mesmo não há necessidade de língua alguma, de nenhuma palavra. Quando eu
estou acomodado dentro de mim mesmo e não há necessidade de comunicação
a linguagem desaparece. Então há um tipo totalmente diferente de consciência.
Neste exato momento minha consciência está fluindo através da mente, usando
o mecanismo da mente para se aproximar de vocês. Eu posso lhe alcançar com
minha mão, mas eu não sou a mão. E quando eu lhe toco com minha mão é
somente um meio, algo mais está tocando através da mão.
O corpo tem que ser usado, a mente tem que ser usada, o ego, a linguagem, e
todos os tipos de coisas têm que ser usadas. E você tem permissão de usá-las
somente com uma condição: permaneça o mestre.
A quarta pergunta
Osho,
Outro dia você respondeu minha pergunta sobre amar três mulheres.
Desde então umas poucas coisas aconteceram. Em primeiro lugar eu lhe
perdi porque eu não estava no discurso, mas sim nos braços da escolhida,
e que se revelou uma má escolha porque ela saiu correndo de mim para
os braços de outro tão logo ela viu que tinha sido escolhida. Apesar disto,
a pequena comuna cresceu para cinco mulheres agora. Uma mulher é um
inferno, mas o que dizer de cinco? Mas eu consegui um pouco de ajuda
dos meus amigos. Por exemplo, Hamid sugeriu que eu virasse
homossexual e me propôs um encontro com ele. Vivek sugeriu que eu
esperasse até existirem sete. Mas por favor, Osho, antes que eu
desapareça no sétimo inferno, eu já perdi três quilos. Você se ofereceu
para me comprar: Não podemos fazer negócio agora? Eu estou falando
sério.
Prem Aditya,
UM PADRE ESTAVA OUVINDO um jovem confessar seus pecados. No meio da
confissão ele interrompeu o jovem. “Espera um minuto, jovem”, ele disse, “você
não está confessando — você está vangloriando-se.”
Agora você começou a vangloriar-se! Eu sei perfeitamente bem... porque eu
também estou em contato com suas três mulheres. Eu também estou disposto a
fazer negócio! Você não tem cinco — você até mesmo perdeu as três. E hoje
você está aqui porque não tem ninguém com quem ficar.
Hamid é generoso... mas, lembre-se, ele é um iraniano.
Um dia, quando ainda era época de recrutamento, Glascox recebeu uma
notificação para se apresentar. Ele se apresentou na junta de recrutamento e
confessou que era um homossexual.
“Bicha, hem?”, resmungou um membro. “Você acha que poderia matar um
homem?”
“Oh, sim”, riu Glascox, “mas isto me tomaria um bom tempo”.
E deixe-me conscientizá-lo de que antes que você possa matar um iraniano, o
iraniano te matará! Então evite Hamid — ele é generoso, mas evite-o! Ele
também está cansado de mulheres. Ele acabou de se separar da Divya, então
ele deve estar se sentindo sozinho.
E a sugestão de Vivek é muito esotérica. Ela está se tornando um pouco
esotérica, aos poucos. Sendo a médium-chefe, ela tem muitos médiuns
esotéricos abaixo dela, então ela está aprendendo uns poucos números
esotéricos. Sete é realmente perigoso!
E sua suposição está certa: sete mulheres vão te levar ao sétimo inferno. E este
é o último, a pedra final; você não pode cair abaixo disto. Vivek deve ter sugerido
isto para que, uma vez que você tenha caído à pedra final, você comece a subir
porque não há nenhum outro lugar para ir.
E você diz que perdeu três quilos. Sua balança não está funcionando bem —
você deve ter perdido mais! É realmente estranho as mulheres serem chamadas
de sexo frágil — elas não são. O homem é o sexo mais fraco.
Danny descobriu que sua mulher estava envolvida com outro homem. Então ele
foi à mulher desse homem e lhe contou sobre isto.
“Eu sei o que faremos”, ela respondeu, “vamos nos vingar deles.”
Então eles foram para um motel e se vingaram deles.
Ela disse: “Vamos nos vingar mais”, e eles permaneceram se vingando,
vingando...
Finalmente Danny disse: “Chega de vingança — eu não tenho mais sentimentos
de raiva”.
Seja um pouco cuidadoso — isto é simplesmente o começo!
Um casal acorda depois da primeira noite de sua lua-de-mel. Ela se senta na
cama, olha para seu marido que está deitado nu perto dela e diz, com uma voz
de surpresa: “Querido, nós usamos ele todo em uma noite?”
Aditya, isto acontece a quase todo novo sannyasin masculino no começo:
encontrando tantas mulheres aqui ele fica louco. Mas em poucas semanas ele
volta aos seus sentidos e aí um processo totalmente inverso começa. Primeiro
ele caça as mulheres; depois de poucas semanas as mulheres começam a caçar
homens e eles começam a fugir.
Muitas mulheres me disseram: “O que aconteceu aqui aos sannyasins
masculinos? Eles não parecem estar muito interessados em mulheres. Eles não
se aproximam de mulheres, eles as evitam. Ao invés de tomar a iniciativa, eles
escapam — no momento que eles vêem uma mulher os perseguindo, eles
escapam”.
O que acontece no mundo ordinário é que o homem tem muito para imaginar,
fantasiar, porque a sociedade não te permite muitos relacionamentos com
mulheres — somente uma mulher. E você fica cansado, você fica chateado, e
sua mente começa a divagar. E todas as mulheres que não pertencem a você
parecem tremendamente bonitas, simplesmente estonteantes porque elas não
estão disponíveis. Sua mente começa a fantasiar, sua mente começa a viajar.
Aqui é totalmente diferente. Esta comuna vive no futuro agora. É como será no
mundo mais cedo ou mais tarde. Essa comuna introduz uma nova consciência,
uma consciência enraizada em liberdade. Até agora você viveu numa profunda
escravidão, escravidão psicológica.
Quando você consegue a liberdade, no começo você corre para ela loucamente.
Você começa a fazer todos os tipos de coisas que você sempre quis fazer, mas
não era permitido. Então brevemente as coisas se ajeitam. Você se torna
consciente de que todas as mulheres são iguais, assim como todos os homens
são iguais. Pode ser que existam diferenças, mas elas são periféricas. Alguém
tem cabelo preto e alguém tem cabelo louro e alguém tem olhos azuis e alguém
tem olhos pretos — somente diferenças periféricas.
Mas quando você se torna mais e mais consciente de muitas pessoas, quando
você se relaciona com muitas pessoas, uma coisa se torna absolutamente clara
para você: que todos os homens são idênticos — quase idênticos — assim como
as mulheres. Então as coisas começam a se assentar, a se encaixar,
harmonizar. Então você começa a se encaixar com uma mulher, com um
homem, num relacionamento mais íntimo.
Essa intimidade não é possível no mundo externo porque sua mente sempre irá
pensar que sua mulher, seu homem, não tem como de descobrir a verdade. E
uma vez que a verdade é conhecida, você começa a se acomodar com uma
pessoa. E essa acomodação não é forçada; não é um acordo legal. Você não
será punido se você se separar; ninguém está lhe impedindo de se separar.
Mas, entretanto, agora você começa um tipo de viagem totalmente diferente,
uma nova peregrinação de intimidade, não-imposta. E agora você vê que quanto
mais profundo você quer entrar, dentro da outra pessoa, mais tempo é
necessário, muitos tipos de situações são necessárias.
E a penetração física é sexo, que é uma coisa muito superficial. Penetração
psicológica é amor, que é bem mais profunda, bem mais significativa, bem mais
bonita, bem mais humana. A primeira é animal, a segunda é humana. E aí tem
um terceiro tipo de penetração: quando duas consciências se encontram,
fundem-se, derretem uma na outra. Eu chamo isto de oração.
Aditya, mova-se em direção à oração, porque somente a oração lhe dará real
contentamento. Somente a oração lhe tornará consciente da divindade da outra
pessoa. E vendo a divindade da outra pessoa, do seu amado, você ficará
consciente da sua própria divindade.
O amor é um espelho. Um relacionamento real é um espelho no qual dois
amantes vêem as faces um do outro e reconhecem Deus. É um caminho em
direção a Deus.
A quinta pergunta
Osho,
Eu nasci britânica e meu amigo também. Alguma esperança?
Vivek,
NINGUÉM NASCE BRITÂNICO. É uma doença que acontece mais tarde. Nós a
aprendemos. Não é inata. Exatamente como ninguém nasce germânico ou
indiano. Essas são estruturas que são impostas a nós mais tarde, depois do
nascimento. Esses são meios sociais de escravizar sua psique, seu ser. Toda
sociedade impõe certas formas, regras, regulamentos. Toda sociedade lhe dá
uma forma, uma face, uma faceta.
Ninguém é britânico e ninguém é germânico e ninguém é indiano.
Consequentemente essas estruturas podem ser abandonadas, a pessoa pode
sair delas.
A única coisa necessária é consciência. Nós somos tão inconscientes que nos
tornamos um com a estrutura, identificados com ela. Nós começamos a achar
que nós somos ela. E é aí que a doença se torna um fenômeno permanente, ela
se torna crônica. De outro modo, a pessoa pode escapar de ser britânico ou
hindu ou muçulmano ou comunista, tão facilmente quanto a cobra sai para fora
de sua velha pele e nunca olha para trás.
Em segundo lugar: nem todos os britânicos são britânicos, nem todos os
germânicos são germânicos, nem todos os indianos são indianos. Você pode
encontrar uns poucos indianos aqui — meus sannyasins ou meus futuros
sannyasins; eles não são indianos. Eles escaparam da prisão indiana. Agora,
existem tantos alemães aqui, e quando eu conto piadas contra os alemães eles
riem tão relaxadamente quanto você ri. Eles não se sentem ofendidos.
Quando eu dizia algo contra os britânicos, eles eram os que ficavam mais felizes.
Eles ficavam felizes porque eles deviam estar sentindo ciúmes dos alemães! Eu
bato tanto nos alemães! Eu tenho uma certa queda por Haridas, Govinddas etc.
Eu vou dando-lhes pancadas! E os britânicos devem estar se sentindo um pouco
perdidos, ficando para trás!
Meus sannyasins não pertencem a nenhuma raça, a nenhum país, a nenhuma
religião. É isto que é o sânias: sair de todos os tipos de prisão, tornar-se
simplesmente humano, declarar a sua universalidade, declarar que “toda a Terra
nos pertence”.
Como sannyasins crescem pouco a pouco, nós vamos criar problemas. Quando
eu tiver muitos sannyasins eu direi a vocês: “Agora vocês podem queimar seus
passaportes e se locomover livremente de um país para outro — porque a
liberdade de movimento é um direito de nascimento”.
É tão feio você não poder se mover de um país para outro facilmente; eles criam
tantas barreiras. Quando você atravessa a fronteira de um país imediatamente
percebe que esteve em uma prisão e que está entrando em uma outra prisão. A
prisão é grande, quando você está dentro você não percebe isto.
A pessoa que nunca saiu da Índia não saberá que está vivendo numa prisão,
mas quando você deixa o país você sabe como é difícil: como você é torturado
por horas, quantos papéis você tem que preencher, quantas coisas você tem
que fazer antes de atravessar a fronteira. Aí você sabe que isto é uma prisão. E
você tem que fazer a mesma coisa no outro país. Esses países são grandes
prisões.
A esperança é que quando existirem milhões de sannyasins e nós tivermos
criado bastante energia laranja no mundo, nós quebraremos todas essas
barreiras.
Mas lembre-se sempre: nem todos os alemães são alemães, nem todos os
britânicos são britânicos, nem todos os indianos são indianos. Essa é a única
esperança. Existem uns poucos que estão na prisão, mas não são parte dela —
é somente um acidente que eles tenham nascido na Índia, um acidente que eles
tenham nascido na Inglaterra; de outro modo eles são almas livres. Eles são a
esperança real para a humanidade, a esperança real para o futuro.
Um esportista inglês estava no exterior e voltou a sua casa sem avisar. Enquanto
andava no corredor com seu mordomo ele olhou para dentro do seu quarto e
descobriu sua mulher fazendo amor com um estranho.
“Pegue meu rifle, imediatamente!”, ele disse ao mordomo.
Em questão de minutos seu rifle foi trazido. Levantando-o e fazendo pontaria,
ele foi tocado no ombro pelo mordomo, que sussurrou: “Se me permite dizer,
senhor, lembre-se que você é um verdadeiro esportista. Acerte-o na subida!”
Agora o mordomo não é inglês, de jeito nenhum! — ele tem mais senso de
humor.
Dois ingleses estavam voltando tarde da noite para casa depois de um jogo de
pôquer. Um deles disse: “Eu estou sempre com medo quando eu volto para casa
depois de um jogo como esse. Eu desligo o motor do carro meia quadra antes
de casa e desço deslizando para dentro da garagem. Eu tiro os sapatos e entro
sorrateiramente dentro de casa. Eu sou tão quieto quanto possível, mas
invariavelmente, na hora que eu me acomodo na cama, minha mulher senta e
começa a me repreender”.
O outro homem disse: “Você simplesmente usa a técnica errada. Eu nunca tive
problema algum. Eu entro na garagem, bato a porta, entro em casa e faço o
maior barulho. Aí eu subo para o quarto, dou um tapinha na minha mulher e digo:
‘E aí, garota?, que tal fazermos aquilo? Ela sempre finge estar dormindo’.
A sexta pergunta
Osho,
Nenhuma paixão, nenhum ciúme, e tanto amor. Pode ser verdade que
esse sofrimento acabou?
Prem Turiya,
ESSA É UMA DAS COISAS MAIS FUNDAMENTAIS a ser lembrada, e você terá
que estar constantemente alerta: você não pode ter nenhuma garantia que o
sofrimento acabou. Se não, o sofrimento voltará pela porta dos fundos. Você tem
que estar constantemente alerta e consciente.
Sim, no momento não há nenhum ciúme, nenhuma paixão e ainda tanto amor —
naturalmente. Quando não há nenhuma paixão e nenhum ciúme, todas as
energias se movem em direção ao amor. É a mesma energia que se torna
paixão, que se torna ciúme. Quando não há nenhum ciúme, nenhuma paixão,
toda a energia é viável para as flores do amor desabrochar. Mas não tenha isto
como uma coisa garantida. Não pense que o sofrimento acabou para sempre. A
vida é uma contínua evolução e você tem que estar constantemente alerta, de
outro modo você pode voltar aos velhos padrões muito facilmente. E os velhos
padrões têm persistido por tanto tempo, eles se tornaram tão entranhado em seu
sangue, em seus ossos, em sua própria medula que um momento de
inconsciência e você está de volta. Você tem que estar sempre alerta.
Algo bonito está acontecendo... muito mais vai acontecer. A pessoa nunca sabe
o quanto é possível conseguir. Nós nunca estamos conscientes do nosso
potencial, a menos que ele se torne real.
Você viu um bonito espaço de amor sem ciúme. Paixão é um tipo de febre e ela
consome muita energia. Febre naturalmente consome energia — e paixão é
febre. Quando a paixão desaparece, surge compaixão. E a compaixão é fresca.
A paixão é quente, ela lhe queima. A compaixão é fresca — não fria, lembre-se.
O ódio é quente, a luxúria é quente. Exatamente entre os dois está o meio termo
dourado, nem frio nem quente. Aí você está num estado de calor fresco. Parece
muito paradoxal — calor fresco. Não é quente, mas é morno, não é frio, mas é
fresco.
E a flor real do amor só se abre naquele clima de calor-frescor. Um frescor morno
é o clima certo para o lótus do amor desabrochar.
Mas não tome isto como algo garantido. Nunca tome nada como certo. Cada
momento você tem que conquistá-lo novamente. A vida é uma contínua
conquista. Não é que uma vez e para sempre ela está conquistada e você pode
cair no sono e permanecer inconsciente e então não há mais nenhum problema.
Novamente você estará de volta na mesma rotina.
Turiya, eu estou feliz — eu tenho estado lhe observando. Você está parecendo
morna e fresca. É um processo sem fim. Não destrua essa flor bonita que está
crescendo em você.
Quando você tem alguma coisa preciosa você tem que estar mais alerta. Quando
você não tem nada a perder você pode estar inconsciente, você pode cair no
sono, não há problema algum. Mas quando você tem algo a perder — e isto é
algo precioso — esteja mais alerta, esteja mais consciente.
Você descobriu um tesouro.
A sétima pergunta
Osho,
O que é inteligência?
Govindo,
PRIMEIRO, SAIBA BEM QUE INTELECTUALIDADE não é inteligência. Ser
intelectual é ser falso; é uma inteligência falsa. Ela não é real porque não é sua;
é emprestada. Inteligência é o crescimento da consciência interna. Não tem nada
a ver com conhecimento; tem a ver com meditação.
Uma pessoa inteligente não funciona através da sua experiência passada; ela
funciona no presente. Ela não reage, ela responde. Consequentemente, ela é
sempre imprevisível; ninguém pode estar certo do que ela vai fazer.
Um católico, um protestante e um judeu estavam conversando com um amigo
que disse que tinham acabado de dar a ele seis meses de vida.
“O que você faria”, ele perguntou ao católico, “se seu médico lhe desse seis
meses de vida?”
“Ah!” disse o católico. “Eu daria todos os meus pertences à Igreja, tomaria
comunhão todo domingo e rezaria minha Ave Maria regularmente”.
“E você?”, perguntou ao protestante.
“Eu venderia tudo e iria numa viagem pelo mundo e me divertiria muito!”
“E você?” perguntou ao judeu.
“Eu? Eu iria consultar um outro médico.”
Isto é inteligência!
Janet, uma secretária atrevida, entrou requebrando no escritório do patrão.
“Eu tenho boas notícias e algumas más notícias”, ela anunciou.
“Sem gracinhas por favor”, pediu seu patrão. “Não no dia de relatório trimestral.
Dê-me somente as boas notícias.”
“Ok”, declarou a garota. “A boa notícia é que você não é estéril.”
Isto é inteligência!
O marido ultrajado descobriu sua mulher na cama com um outro homem. “O que
significa isto?”, ele perguntou. “Quem é esse rapaz?”
“Essa parece ser uma pergunta justa”, disse a mulher, virando para cima. “Qual
é o seu nome?”
Isto é inteligência!
CAPÍTULO 3
Eu sou o Mais Alto
Um dia o Rei de Yen visitou o Mestre Chao Chou, que nem mesmo
levantou-se quando o viu chegando.
O rei perguntou: “O que é superior; um rei terreno ou o ‘Rei de Dharma’?”
Chao Chou respondeu: “Entre reis humanos eu sou superior; entre os Reis
de Dharma eu também sou superior”.
Ouvindo esta resposta surpreendente, o reificou bastante satisfeito.
No dia seguinte um general veio visitar Chao Chou, o qual não só se
levantou da sua cadeira quando viu o general chegando como também
mostrou-lhe mais hospitalidade do que tinha mostrado ao rei.
Depois que o general tinha saído, os monges assistentes de Chao Chou
lhe perguntaram: “Por que você levanta do seu assento quando uma
pessoa de posto mais baixo vem lhe ver e não faz o mesmo para uma
pessoa de mais alto posto?”
Chao Chou respondeu: “Vocês não entendem. Quando pessoas da mais
alta qualidade vêm me ver; eu não levanto do meu assento; quando elas
são de média qualidade eu o faço; mas quando são da mais baixa
qualidade, eu vou para o lado de fora do portão para recebê-las”.
O HOMEM VIVE NUM ESTADO DE CABEÇA PARA BAIXO.
Consequentemente, toda vez que há um Mestre iluminado, suas ações, suas
palavras, seu comportamento, tudo parece ao homem ordinário absurdo. Jesus
é mal entendido pela simples razão que um homem de visão está falando a
homens que são cegos. Sócrates não é entendido pela mesma razão, porque
ele está falando a pessoas que são completamente surdas. E o mesmo tem sido
o caso com todos os budas de todos os países, de todas as raças. E,
infelizmente, assim será sempre. É algo na própria natureza das coisas.
O homem é inconsciente; ele entende a linguagem da inconsciência. E quando
alguém fala dos picos da consciência, ele se torna completamente
incompreensível. Ele está tão longe! Quando suas palavras alcançam os vales
escuros do nosso inconsciente, nós já as distorcemos de tal modo que elas não
têm mais nenhuma referência com a origem.
O Mestre parece louco algumas vezes, algumas vezes irracional, algumas vezes
cabeça-dura. Mas a única razão porquê ele não pode se comportar como você,
que ele não pode ser parte da mente coletiva, é que ele se tornou acordado, e a
multidão está profundamente adormecida.
Para entender um Mestre você tem que aprender grande simpatia; somente isto
criará uma ponte. Assim é que é um relacionamento de um discípulo para com
um Mestre. Você pode ouvir um Mestre sem ser um discípulo. Você ouvirá as
palavras, mas perderá o significado. Você ouvirá a canção, mas perderá a
música. Você ouvirá o argumento, mas perderá a conclusão. Você saberá o que
ele está dizendo, mas será incapaz de ver aonde ele está indicando.
Para entender o significado — que é sem palavras —, para entender o sentido,
um tipo totalmente diferente de relacionamento é necessário. Não é aquele entre
um orador e a audiência, é aquele de dois amantes. Tem que ser um caso de
amor, só então há bastante simpatia para haver uma ponte, para haver
comunicação.
E uma vez que a simpatia está lá, não está muito longe da empatia. Simpatia
pode ser transformada em empatia muito facilmente; de fato, ela muda para
empatia por si mesma. Exatamente como você semeia sementes e no tempo
certo elas brotam e a primavera vem e com ela muitas flores, semeie as
sementes da simpatia — isto é, iniciação no discipulado — então brevemente
haverá flores da empatia.
Na simpatia ainda há uma pequena distância. Você pode ouvir um pouco melhor
que antes, você pode entender mais claramente que antes — mas as coisas
ainda estão num estado de crepúsculo. Já não é noite, mas o sol ainda não subiu
e está muito enevoado. Você pode ver, mas não pode decifrar as coisas
precisamente.
Empatia significa que agora não há mais distância. Agora o discípulo está
afogado no Mestre — ele se tornou um devoto. Agora o Mestre está afogado no
discípulo; eles não são mais entidades separadas. Eles alcançaram o mesmo
ritmo de ser; eles pulsam em sincronicidade.
Aí há compreensão e essa compreensão libera, essa compreensão é imediata.
Você vê o Mestre, você olha para dentro de seus olhos, você ouve suas palavras,
você o vê se movendo, seus gestos... e eles são imediatamente entendidos sem
nenhuma tradução pela mente. A mente não funciona mais como um mediador.
É comunhão direta — nem mesmo comunicação, mas comunhão.
O primeiro passo é aquele de um estudante, curioso, mas ainda um espectador,
longe, colecionando informação, conhecimento. O segundo passo é aquele de
um discípulo, não mais um espectador, mas um participante, não mais
interessado em conhecimento, mas tremendamente interessado em sabedoria.
E o terceiro passo é aquele de um devoto, totalmente um com o Mestre,
compartilhando do seu ser, bebendo da sua fonte inesgotável, bêbado — bêbado
com o divino.
Somente o devoto compreende absolutamente, o discípulo entende um pouco,
o estudante somente ouve meras palavras.
Lembre-se, você tem que passar através desses estágios também. E tudo
depende de você: você pode permanecer um estudante para sempre. Se você
se mantiver a distância, se você tiver medo de chegar perto, você estará aqui e
ainda não aqui.
Chegue mais perto — espiritualmente mais perto. Tragam seus seres, sem
medo, mais perto do Mestre, mais perto da sua luz. Sim, aquela luz não é
somente luz, é fogo também; ele vai lhe consumir. Seja consumido, porque
naquele fogo há uma grande esperança de renascimento.
Essas pequenas histórias Zen, na superfície, parecem simplesmente histórias
ordinárias — mas não são. Elas carregam um grande significado. Antes de
entrarmos na história, umas poucas coisas têm que ser entendidas.
Outro dia havia uma pergunta de Satsanga. Ele disse: “Osho, por que você não
é um pouco mais diplomático com os políticos, com os padres? — isto nos livraria
de muitos problemas”.
Eu posso entender o que ele quer dizer; eu posso entender sua preocupação.
Ele gostaria que eu fosse um pouco mais diplomático — mas um Mestre não
pode ser diplomático. Nunca foi assim, é impossível. Diplomacia é a maneira de
persuadir outros sem lhes dizer a verdade. Diplomacia é um jogo. Políticos jogam
o jogo, místicos não podem jogá-lo.
Um místico é alguém que chama uma espada de espada. Ele é direto, custe o
que custar. Ele não pode enganar, ele não pode mentir, ele não pode ficar quieto.
Se ele vê alguma coisa, ele diz; e ele diz exatamente como ela é.
Gurdjieff costumava dizer, algumas vezes a pessoas muito importantes —
grandes autores, pintores, poetas, políticos, as pessoas que dominaram esse
mundo, os grandes egoístas... Ele costumava dizer a essas pessoas uma coisa
muito significativa — lembre-se. De repente ele diria a elas: “Você tem uma
fachada muito boa”.
Agora, dizer a um político, a um presidente de um país ou a um primeiro-ministro
ou a um rei: “Você tem uma fachada muito boa”, é criar problemas. E Gurdjieff
viveu sua vida toda em apuros. Mas não há outro jeito. Ele também costumava
dizer, mais de uma vez... Quando algum egoísta perguntava a ele: “Você me
ama? Você gosta de mim?”, essa era sua resposta: “Pelo que você podia ser eu
não sinto nada senão benevolência, mas pelo que você é eu lhe odeio — volte
para tua avó!”
Isto não é diplomacia: isto é criar inimigos.
Jesus deve ter sido realmente um grande artista em criar inimigos porque ele
tinha somente trinta e três anos quando ele foi crucificado e apenas três anos de
trabalho. Até os 30 anos ele esteve com as escolas esotéricas, viajando pelo
mundo, ao Egito, à Índia e há uma possibilidade de ele ter ido ao Tibet e ao
Japão.
Consequentemente a Bíblia não tem nenhum registro dos seus anos de
preparação; o registro é muito abrupto. Algo é dito sobre sua infância, muito
fragmentário. E só uma vez ele é mencionado: quando ele tinha doze anos de
idade e ele começou a argumentar com os sacerdotes no templo — isto é tudo.
Então há um intervalo de dezoito anos... nada é mencionado.
Agora um homem como Jesus não pode viver uma vida ordinária por dezoito
anos e então se transformar num Cristo; isto não é possível. Esses dezoito anos
ele esteve se movendo com diferentes mestres, com diferentes sistemas,
tornando-se iniciado em diferentes escolas esotéricas, aprendendo o que quer
que fosse acessível, sintonizando com muitos mestres quando possível.
Ele surgiu quando tinha trinta anos e com trinta e três ele foi crucificado. Em três
anos ele realmente fez um bom trabalho! Ele foi rápido! Você não pode achar
que ele era diplomático; ele foi o homem mais sem diplomacia que já existiu.
De fato, é dessa maneira que as pessoas acordadas se comportam.
O que exatamente é diplomacia, Satsanga?
“Papai, o que é diplomacia?” perguntou Joãozinho, recém-chegado da escola.
“Bem, filho, é assim”, respondeu seu pai. “Se eu dissesse à sua mãe: ‘Seu rosto
pararia um relógio, isto seria estupidez. Mas se eu dissesse: ‘Quando eu olho
para você, o tempo pára’, isto é diplomacia!”
Sim, você gostaria que eu fosse um pouco mais diplomático; isto evitaria muitos
problemas. Mas isto também livraria você da verdade, lembre-se. A verdade traz
muitos problemas. E está fadado a ser assim porque as pessoas vivem em
mentiras, e quando você traz verdade ao mundo, suas mentiras, suas vidas
enraizadas em mentiras, reagem. Um grande antagonismo está fadado a
acontecer. E as pessoas, como elas são, na sua inconsciência, não podem viver
sem mentiras.
Friedrich Nietzsche está certo. Ele diz: “Por favor, não destruam as mentiras das
pessoas, suas ilusões, porque se você destruir a ilusão delas elas não serão
capazes de viver; elas sofrerão um colapso. Elas não encontrarão nada que
valha a pena viver. Elas vivem por causa das ilusões, as ilusões permanecem
dando-lhes esperança. Elas vivem no amanhã que nunca chega. Elas vivem nas
suas ambições que nunca são realizadas; mas realizadas ou não, através
dessas ambições, desejos, expectativas e esperanças elas podem ir arrastando
suas vidas até a morte. Se você destruir as suas ilusões, elas podem
simplesmente cair mortas aqui e agora porque não haveria nenhum motivo para
viver.
E toda vez que você pensa em suicídio, lembre-se, por que você está pensando
em suicídio? Alguma esperança se tornou amarga, alguma expectativa se
transformou em uma frustração, algum desejo se mostrou fútil. Você se tornou
consciente, mesmo na tua inconsciência, um pequeno raio de consciência
penetrou em você. Você viu, talvez somente por um momento, um vislumbre,
exatamente como um raio na noite escura. Por um momento tudo era claro e
você viu que a maneira que você está vivendo é falsa e não há nenhuma
realização se você vive de uma maneira falsa. Imediatamente a idéia de suicídio
surge em você. Mais e mais pessoas estão cometendo suicídio hoje. Mais
pessoas cometem suicídio no Ocidente que no Oriente. Parece muito estranho,
muito ilógico. Não deveria ser assim, porque no Oriente as pessoas estão
morrendo de fome, mas elas não cometem suicídio. No Ocidente elas têm tudo
que o homem sempre desejou. As pessoas têm duas casas — uma na cidade,
uma na montanha ou no litoral ou no campo. Elas têm duas garagens e todos os
tipos de artifícios que a tecnologia proporciona.
Pela primeira vez o Ocidente foi bem sucedido em ser afluente, mas mais
pessoas estão cometendo suicídio do que no Oriente. Por quê? Pela simples
razão que o Oriente ainda pode esperar e o Ocidente está se tornando
consciente de que não há esperança alguma. Quando você não tem alguma
coisa pela qual você possa esperar ardentemente; quando você já a tem, como
pode você esperar? A coisa está lá e nada acontece através dela. Você tem o
dinheiro, você tem uma boa esposa, filhos, marido, prestígio, respeito — e de
repente você se torna consciente de que bem no fundo você é oco, pobre, um
mendigo e nada mais. Todo o esforço de alcançar todas essas coisas foi em vão.
As coisas estão lá, mas nenhuma realização aconteceu através delas. Essa é a
causa do maior número de suicídios no Ocidente.
No Ocidente, também, mais americanos cometem suicídio que qualquer outro
povo porque eles são os mais afluentes, eles são os que mais estão em estado
de choque: “Todas as esperanças pelas quais nós vivemos por séculos estão
realizadas e ainda assim nada está realizado”. E vai ser assim cada vez mais:
mais e mais pessoas irão cometer suicídio.
Friedrich Nietzsche está certo: o homem ordinário não pode viver sem ilusões.
Não tire as ilusões dele!
E o Mestre faz exatamente isto: ele tenta tirar suas ilusões. Ele cria uma situação
na qual, ordinariamente, você cometeria suicídio. Mas se você for afortunado o
bastante para comungar com um Mestre, a mesma situação cria sânias. É a
mesma situação, a mesma crise!
Essa é a minha observação: que o verdadeiro sânias acontece somente quando
você chegou à beira do suicídio. Quando você vê que o mundo exterior está
acabado, então só há duas alternativas: ou cometer suicídio e estar acabado
porque não há mais motivo para viver, ou se ligar. “O mundo exterior falhou,
agora deixe-nos tentar o interior”. Isto é sânias. Sânias e suicídio são dois
aspectos da mesma moeda. Se você está focado e obcecado com o exterior,
então, suicídio; se você estiver um pouco solto, flexível, então sânias.
Mas um Mestre não pode ser diplomático. Ele tem que criar essa crise na qual o
suicídio é possível — e também sânias, também transformação, também um
novo nascimento. Mas um novo nascimento é possível somente quando você
morre para o velho, quando você morre para o passado.
O elegante manequim de Cintia tinha sido colocado dentro de um bonito e
colante vestido e durante toda a noite ela fez questão de chamar a atenção do
seu namorado para ele.
Finalmente, durante um drinque no seu apartamento, ele disse: “Você falou
sobre esse vestido a noite toda. Você chamou a minha atenção para ele primeiro
quando nos encontramos para os coquetéis, mencionou-o novamente no jantar,
e ainda de novo no teatro. Agora que nós estamos sozinhos no meu
apartamento, o que você diz de deixar cair o assunto?”
Isto é diplomacia! Mas mestres simplesmente chamam uma espada de espada.
A verdade deles é completamente nua; quer você goste ou não, não importa.
Eles não podem se comprometer com seus gostos. Se eles começam a se
comprometer com seus gostos, eles não são de nenhuma valia para vocês.
Comprometer-se com você significa comprometer-se com seu sono, sua
inconsciência, sua mecanização. Comprometer-se com você significa parar de
lhe acordar. Isto não é possível.
Consequentemente, Satsanga, eu não posso ser diplomático. Além do mais, eu
não sou britânico.
Outro dia eu estava falando sobre a pobre mãe de Anurag — uma perfeita dama
inglesa! —, mas ela não estava aqui, como era de esperar. Ela esteve aqui
somente uma vez em muitas semanas. Ela simplesmente fica sentada no hotel,
completamente entediada — como toda pessoa britânica é entediada! Pobre
Anurag — eu me refiro a ela assim porque ela está passando por algo realmente
horrível. Agora eu tenho que chamá-lo horrível, eu não posso ser diplomático!
Ela conseguiu fazer com que sua mãe escutasse a fita, e depois que ela a
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  • 1. OSHO AH, ISTO! Respostas às perguntas de discípulos e histórias Zen UNIVERSALISMO
  • 2. Sumário Introdução Capítulo 1 — O Coração do Saber é Agora Capítulo 2 — Neti Neti Capítulo 3 — Eu sou o Mais Alto Capítulo 4 — Morrendo para Dentro do Mestre Capítulo 5 — Veja de Uma só Vez Capítulo 6 — Tente do Meu Jeito Capítulo 7 — Não Tome Conhecimento Capítulo 8 — Não Saber é o Mais Íntimo
  • 3. Introdução Uma nuvem de chuva cobria o vale. Chuvas noturnas encheram o ar com sabedoria. Passando pela minha janela, um ramo de amaranto roda rapidamente e, na correnteza, uma garça cinzenta de pé, pronta para atacar. O sol da manhã sobe sobre as escuras colinas. Interminavelmente, onde quer que eu olhe, beleza, maravilha. Eu poderia dizer: “Isto é Deus”, Ou tentar lhe contar sobre o Zen Ou o mestre Zen do qual fala este livro. Minha cabeça poderia falar com sua cabeça. Mas por quê? O Mestre disse tudo melhor do que eu, e agora vive em silêncio, ocasionalmente murmurando, “Ah, Isto!” Para todas as nossas perguntas: O que é iluminação? Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Deus existe? O que é realidade? Ele faz um sinal com a mão e diz: “Isto!” O que é “isto”? Você é. Olhe, cheire, prove, ouça, toque — tudo de uma só vez. Sinta, ria, pule, corra, grite, respire. Inspire, expire. Tudo é você. Isto, letras pretas em papel branco se transformando em uma palavra com um significado no seu cérebro, é você agora. Você, tentando entendê-lo, é isto. Isto é tudo que existe. Consequentemente, o Mestre Zen Daie diz: “Todos os ensinamentos que os sábios expuseram não são mais que comentários sobre o seu grito súbito: “Ah, isto!” Swami Prem Pramod
  • 4. CAPÍTULO 1 O Coração do Saber é Agora Subindo ao assento superior, Dogen Zenji disse: “O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji. Uma vez Zenji lhe perguntou: ‘Josa, aonde você vai?’ Hogen disse: ‘Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo’. Keishin disse: ‘Qual é a importância da sua peregrinação?’ Hogen disse: ‘Eu não sei’. Keishin disse: ‘Não saber é o mais íntimo’. Hogen subitamente atingiu grande iluminação”. ZEN É SIMPLESMENTE ZEN. Não há nada comparável a ele. Ele é único — único no sentido de ser o mais ordinário e ainda o mais extraordinário fenômeno que aconteceu à consciência humana. É o mais ordinário porque ele não acredita em conhecimento, ele não acredita em mente. Não é uma filosofia, nem uma religião. É a aceitação da existência ordinária com um coração total, com o ser total de alguém, não desejando algum outro mundo, supramundano, supramental. Não tem nenhum interesse em qualquer bobagem esotérica, nenhum interesse em metafísica. Ele não anseia pela outra margem, esta margem é mais que suficiente. Essa aceitação é tão tremenda que através dessa própria aceitação ele transforma essa margem — e essa própria margem transforma-se em outra margem: Esse próprio corpo o Buda. Essa própria terra o Paraíso de Lótus. Logo, ele é ordinário. Ele não quer que você crie um certo tipo de espiritualidade, um certo tipo de santidade. Tudo que ele pede é que você viva sua vida com espontaneidade, com imediatismo. E então o mundano se torna o sagrado. O grande milagre do Zen está na transformação do mundano em sagrado. E ele é tremendamente extraordinário porque antes a vida nunca foi encarada desse jeito, a vida nunca foi respeitada desse jeito. O Zen vai além de Buda e além de Lao Tzu. Ele é uma culminação, uma transcendência, de ambos, o gênio indiano e o gênio chinês. O gênio indiano
  • 5. alcançou seu ponto mais alto em Gautama, o Buda e o gênio chinês alcançou seu ponto mais alto em Lao Tzu. E o encontro... a essência do ensinamento de Buda e a essência do ensinamento de Lao Tzu uniram-se em uma corrente, tão profundamente, que nenhuma separação é possível agora. Até mesmo fazer uma distinção entre o que pertence a Buda e o que pertence a Lao Tzu é impossível, a união foi total. Não é só uma síntese, é uma integração. Desse encontro o Zen nasceu. O Zen não é nem budista, nem taoísta, entretanto é ambos. Chamar o Zen de “Zen Budismo” não é correto porque ele é muito mais. Buda não é tão terreno quanto o Zen. Lao Tzu é tremendamente terreno, mas o Zen não é só terreno, sua visão transforma a terra em céu. Lao Tzu é terreno, Buda não é terreno, o Zen é ambos — e sendo ambos ele se tornou o mais extraordinário fenômeno. O futuro da humanidade se aproximará cada vez mais da abordagem Zen, porque o encontro entre o leste e o oeste é possível somente através de alguma coisa como o Zen, que é terreno e ainda não-terreno. O Ocidente é muito terreno, o Oriente é muito não-terreno. Quem será a ponte? Buda não pode ser a ponte; ele é tão essencialmente Oriental, o próprio saber do Oriente, a própria fragrância do Oriente, sem compromisso. Lao Tzu não pode ser a ponte, ele é terreno demais. A China sempre foi terrena. A China pertence mais à psique ocidental do que à oriental. Não é por acaso que a China é o primeiro país no Oriente a se tornar comunista, a se tornar materialista, a acreditar numa filosofia atéia, a acreditar que o ser humano é só matéria e nada mais. Isto não é simplesmente acidental. A China tem sido terrena por quase cinco mil anos, ela é muito ocidental. Consequentemente, Lao Tzu não pode se tornar a ponte, ele é mais como Zorba, o Grego. Buda é tão não-terreno que você não pode nem agarrá-lo — como ele pode se tornar a ponte? Quando eu olho em volta, o Zen parece ser a única possibilidade, porque no Zen, Buda e Lao Tzu se tornaram um. O encontro já aconteceu. A semente está lá, a semente da grande ponte que pode fazer o oeste e o leste um só. O Zen será o ponto de encontro. Ele tem um grande futuro — um grande passado e um grande futuro. E o milagre é que o Zen não está nem interessado no passado nem no futuro. Seu total interesse está no presente. Talvez seja por isto que o milagre é possível, porque o passado e o futuro estão ligados pelo presente. O presente não é parte do tempo. Você já pensou sobre isto? Quanto tempo dura o presente? O passado tem uma duração, o futuro tem uma duração. Qual é a duração do presente? Quanto tempo ele dura? Entre o passado e o futuro,
  • 6. você pode medir o presente? Ele não pode ser medido, ele quase não é. Ele não é tempo de modo algum: ele é a penetração da eternidade para dentro do tempo. E o Zen vive no presente. Todo o ensinamento é: como estar no presente, como sair do passado que não é mais e como não se envolver no futuro que ainda não é, e simplesmente estar enraizado, centrado, naquilo que é. Todo o modo de encarar do Zen é de imediatismo, mas por essa razão ele pode fazer uma ponte entre o passado e o futuro. Ele pode ligar muitas coisas: o leste e o oeste, ele pode ligar corpo e alma. Ele pode ligar os mundos sem ligação: este mundo e aquele, o mundano e o sagrado. ANTES DE ENTRARMOS nesta pequena história, é bom entendermos umas poucas coisas. A primeira: os Mestres não falam a verdade. Mesmo se eles quiserem eles não podem, é impossível. Então, qual é a função deles? O que eles continuam fazendo? Eles não podem dizer a verdade, mas eles podem provocar a verdade que está profundamente adormecida em você. Eles podem provocá-la, desejá-la. Eles podem lhe sacudir, eles podem lhe acordar. Eles não podem lhe dar Deus, verdade, nirvana, porque em primeiro lugar você já tem tudo com você. Você nasce com isto. É inato, intrínseco. É a sua própria natureza. Então qualquer pessoa que finja lhe dar a verdade está simplesmente explorando sua estupidez, sua credulidade. Ele é esperto — esperto e completamente ignorante também. Ele não sabe nada, nem mesmo um vislumbre da Verdade aconteceu a ele. Ele é um pseudoMestre. A verdade não pode ser dada; ela já está em você. Ela pode ser suscitada, ela pode ser provocada. Um contexto pode ser criado, um certo espaço pode ser criado no qual ela surja em você e não esteja mais adormecida, torne-se desperta. A função do Mestre é bem mais complexa do que você pensa. Ela teria sido bem mais fácil, bem mais simples, se a verdade pudesse ser transmitida. Ela não pode ser transmitida; logo, é preciso usar meios e caminhos indiretos. No Novo Testamento há a bela história de Lázaro. Os cristãos perderam todo o sentido dela. Cristo é tão infeliz — ele esteve na companhia de pessoas erradas. Nem mesmo um único teólogo cristão foi capaz de descobrir o significado da história de Lázaro, sua morte e ressurreição. Lázaro morre. Ele é o irmão de Maria Madalena e Marta e um grande devoto de Jesus. Jesus está longe; quando ele recebe a notícia e o convite, “Venha imediatamente”, dois dias já haviam se passado e quando ele alcança o lugar onde Lázaro estava, quatro dias haviam se passado. Mas Maria e Marta estão esperando por ele — tal é a sua confiança. A vila toda está rindo delas. Elas estão sendo estúpidas aos olhos dos outros porque elas estão guardando o
  • 7. cadáver numa gruta. Elas estão em vigília, dia e noite, tomando conta do cadáver. O cadáver já começa a cheirar mal; ele está se decompondo. As pessoas da vila estão dizendo: “Vocês são tolas! Jesus não pode fazer nada. Quando uma pessoa está morta, ela está morta!” Jesus chega. Ele vai à gruta, fica do lado de fora e chama Lázaro. As pessoas se juntaram. Elas devem estar rindo: “Este homem parece estar doido”. Alguém fala com ele: “O que você está fazendo? Ele está morto! Ele está morto há quatro dias. De fato, entrar dentro da gruta é difícil — seu corpo está cheirando mal. É impossível! Quem você está chamando?” Mas, sem se perturbar, Jesus repete: “Lázaro, venha para fora!” E a multidão tem uma grande surpresa: Lázaro caminha para fora da gruta — trêmulo, chocado, como se estivesse saindo de um grande sono, como se tivesse permanecido em coma. Ele mesmo não pode acreditar no que aconteceu, porque ele está na gruta. Isto de fato é simplesmente uma maneira de dizer qual é a função do Mestre. Se Lázaro estava realmente morto ou não, não é o que importa. Envolver-se nessas questões estúpidas é absurdo. Somente eruditos podem ser tão bobos. Nenhum homem de compreensão vai achar que isto é alguma coisa histórica. É muito mais que isto! Isto não é um fato, isto é uma verdade! Não é alguma coisa que acontece no tempo, é alguma coisa mais: alguma coisa que acontece em eternidade. Vocês estão todos mortos. Vocês estão todos na mesma situação de Lázaro. Vocês estão todos em suas grutas escuras. Vocês estão todos fedendo e deteriorando... porque a morte não é alguma coisa que vem um dia de repente — vocês estão morrendo todos os dias. Desde o dia de seu nascimento você está morrendo. É um longo processo; leva-se setenta, oitenta, noventa anos para completá-la. A cada momento alguma coisa de você morre, alguma coisa em você morre, mas você está absolutamente inconsciente da situação toda. Você continua como se estivesse vivo; você continua como se soubesse o que a vida é. A função do Mestre é chamar: “Lázaro, saia da gruta! Saia do seu túmulo! Saia da sua morte!” O Mestre não pode lhe dar a verdade, mas ele pode provocá-la. Ele pode mexer algo em você. Ele pode dar início a um processo em você, que vai inflamar um fogo, uma chama. A Verdade você já é — simplesmente juntou muita poeira ao seu redor. A função do Mestre é negativa: ele tem que lhe dar um banho, uma chuveirada, então a poeira desaparece.
  • 8. Este é exatamente o significado do batismo cristão. Isto é o que João Batista estava fazendo no rio Jordão. Mas as pessoas continuam entendendo errado. Hoje o batismo também acontece nas igrejas; ele é sem sentido. João Batista estava preparando as pessoas para um banho interno. Quando elas estivessem prontas ele as levaria simbolicamente para dentro do rio Jordão. Aquilo era somente simbólico — justamente como suas roupas laranjas são simbólicas, aquele banho no rio Jordão era simbólico — simbolizando que o Mestre pode lhe dar um banho. Ele pode tirar a poeira, a poeira de séculos para fora de você. E de repente tudo está límpido, tudo é claridade. Essa claridade é iluminação. O grande Mestre Daie diz: “Todos os ensinamentos dos sábios, dos santos, dos Mestres, expuseram não mais do que isto: eles são comentários sobre o seu grito súbito: ‘Ah, isto!’” Quando de repente você está límpido e uma grande alegria e regozijo aparece em você e todo o seu ser, cada fibra do seu corpo, mente e alma dançam e você diz: “Ah, isto! Aleluia!”, um grande grito de prazer brota em seu ser, isto é iluminação. De repente estrelas descem do teto. Você se torna parte da dança eterna da existência. Auden diz: Dance até que as estrelas desçam do teto! Dance, dance, dance até que você desapareça! Sim, isto acontece — não é alguma coisa que você tenha que fazer. É alguma coisa que mesmo que você não queira fazer você vai achar impossível; você vai achar impossível resistir. Você terá que dançar. A beleza disto, a beleza do agora, a alegria que é a existência e a sua proximidade... Sim, estrelas descem do teto. Elas estão tão perto que você pode simplesmente tocá-las; você pode segurá-las em suas mãos. Daie está certo. Ele diz: Todos os ensinamentos que os sábios expuseram não são mais que comentários sobre o seu grito súbito: “Ah, isto!” O coração inteiro dizendo “Ah!” E o silêncio que se segue a isto, e a paz, e a alegria, e o encontro, e a fusão, e a experiência orgástica, o êxtase...! Os Mestres não ensinam a verdade, não há como ensiná-la. É uma transmissão além das escrituras, além das palavras. É uma transmissão. É energia provocando energia em você. É um tipo de sincronicidade.
  • 9. O Mestre desapareceu como um ego; ele é pura alegria. E o discípulo senta ao lado do Mestre, vagarosamente compartilhando sua alegria, seu ser, comendo e bebendo dessa eterna, inesgotável fonte: ais dhammo sanantano. E um dia... e a pessoa não pode predizer quando esse dia virá; é imprevisível. Um dia, de repente, aconteceu: começou um processo em você que lhe revela a verdade do seu ser. Você se vê face a face com você. Deus não está em algum outro lugar: ele está aqui, agora. Os Mestres iluminam e confirmam a realização. Eles iluminam de mil e uma maneiras. Eles continuam apontando a verdade: dedos apontando para a lua. Mas existem muitos bobos que começam a se prender aos dedos. Prendendo- se aos dedos você não verá a lua, lembre-se. Existem até mesmo bobos maiores que começam a morder os dedos. Isto não dará qualquer alimento. Esqueça o dedo e olhe para onde ele está apontando. Os Mestres iluminam. Eles espalham grande luz — eles são luz — eles espalham grande luz no seu ser. Eles são como um holofote: eles focam o ser deles no seu ser. Você tem vivido na escuridão por séculos, por milhões de vidas. De repente a luz de um Mestre começa a revelar uns poucos territórios esquecidos em você. Eles estão dentro de você; o Mestre não os está trazendo — ele está simplesmente trazendo a luz, ele está se focando em você. E o Mestre pode focar somente quando o discípulo está aberto, quando o discípulo chegou ao ponto de não acumular conhecimento, mas de conhecer a verdade, quando o discípulo não está só curioso, mas é um buscador e está pronto a arriscar tudo. Mesmo se a vida tenha que ser arriscada e sacrificada, o discípulo está pronto. De fato, quando você arrisca sua vida sonolenta, você chega a uma qualidade de vida totalmente diferente: a vida de luz, de amor, a vida que é além da morte, além do tempo, além da mudança. Eles iluminam e confirmam a realização. Primeiro o Mestre ilumina o caminho, a verdade que está dentro de você. E em segundo lugar: quando você se dá conta disto, quando você reconhece isto... É muito difícil para você acreditar que você conseguiu. A coisa mais inacreditável é quando a realização da verdade acontece a você, porque lhe contaram que é muito difícil, quase impossível e que leva milhões de vidas para chegar a ela. E lhe contaram que ela está em algum outro lugar — talvez no céu — e quando você reconhece que ela está dentro de você mesmo, como você pode acreditar? O Mestre confirma. Ele diz: “Sim, é isto!” Sua confirmação é tão necessária quanto a sua iluminação. Ele começa por iluminar e termina por confirmar. Os Mestres são evidência da verdade, não sua prova. Medite sobre a sutil diferença entre evidência e prova. O Mestre é uma evidência, ele é uma testemunha. Ele viu, ele conheceu, ele se tornou. Você pode senti-la, a evidência pode ser sentida. Você pode chegar mais e mais perto, você pode permitir à fragrância do Mestre penetrar no mais íntimo do seu ser. O Mestre é
  • 10. somente evidência; ele não é prova. Se você quiser alguma prova... não há nenhuma prova. Deus não pode ser provado nem refutado; ele não é um argumento. Deus não é uma hipótese, não é uma teoria: é uma experiência. O Mestre é evidência viva. Mas para ver isto você precisará de uma visão diferente daquela com a qual você está acostumado. Você sabe como aproximar-se de um professor, como aproximar-se de um catedrático, como chegar a um padre. Eles não pedem muito, porque eles simplesmente comunicam informação, o que pode ser feito até por um computador, um gravador ou um livro. EU FUI UM ESTUDANTE EM UMA UNIVERSIDADE. Eu nunca assisti às aulas dos meus professores. Naturalmente eles se ofendiam. E um dia o chefe do departamento me chamou e disse: “Por que você entrou para a Universidade? Nós nunca te vemos, você nunca assiste às aulas. E lembre-se: quando a época dos exames chegar, não peça um certificado de frequência — porque 75% de frequência é indispensável para fazer os exames”. Eu peguei a mão daquele velho homem e disse: “Você vem comigo — eu te mostrarei onde eu estou e porque eu entrei para a Universidade”. Ele estava um pouco amedrontado por tirá-lo dali e o porquê disto. E era um fato sabido que eu era um pouco excêntrico! Ele disse: “Mas aonde você está me levando?” Eu disse: “Eu vou lhe mostrar que você tem que me dar 100% de frequência. Venha comigo”. Eu o levei à biblioteca e disse ao bibliotecário: “Diga para este velho homem — já houve um único dia em que eu não estive na biblioteca?” O bibliotecário disse: “Mesmo nos feriados ele esteve aqui. Se a biblioteca não está aberta este estudante se senta no jardim da biblioteca, mas ele vem. E todo dia nós temos que lhe dizer: ‘Agora, por favor, saia porque está na hora de fechar’”. Eu disse ao professor: “Eu acho os livros bem mais claros que os seus pretensos professores. E, além disto, eles simplesmente repetem o que já está escrito nos livros, então, qual é a razão para continuar ouvindo dizeres já gastos? Eu posso olhar nos livros diretamente”. Eu disse a ele: “Se você puder provar que seus professores estão ensinando algo que não esteja nos livros, eu estou pronto a vir às aulas. Se você não puder provar, então saiba que você tem que me dar 100% de frequência — do contrário eu criarei problemas”.
  • 11. Eu nunca fui questioná-lo; ele me deu 100% de frequência. Ele entendeu; era tão simples. Ele disse: “Você está certo. Por que ouvir conhecimento de segunda mão? Você pode ir diretamente aos livros. Eu conheço aqueles professores — eu mesmo sou simplesmente uma gravação. A verdade é, ele me disse, que por trinta anos eu não li nada. Eu simplesmente continuo usando minhas velhas anotações”. Por trinta anos ele tem ensinado a mesma coisa, e em trinta anos milhões de livros foram publicados. Você sabe como se aproximar de um professor, você sabe como se aproximar de um livro, você sabe como se aproximar de uma informação morta, mas você não sabe como se aproximar de um Mestre. É uma maneira totalmente diferente de comungar. Não é comunicação, é comunhão — porque o Mestre não é uma prova, mas uma evidência. Ele não possui grande conhecimento sobre Deus, ele sabe. Ele não é instruído, ele simplesmente sabe. Lembre-se, saber sobre é inútil. A palavra “sobre” significa ao redor. Saber sobre alguma coisa significa mover-se em círculos, sempre ao redor. A palavra “sobre” é bonita. Quando você ler “sobre”, leia “ao redor”. Quando alguém disser: “Eu sei sobre Deus,” leia ele sabe ao redor de Deus. Ele caminha em um círculo. E o saber real nunca é sobre, nunca ao redor; ele é direto, ele é uma linha reta. Jesus diz: “Reto é o caminho...” Ele não caminha em círculos; é um salto da periferia para o centro. O Mestre é uma evidência desse salto, desse salto quântico, dessa transformação. Você tem que se aproximar de um Mestre com grande amor, com grande confiança, com um coração aberto. Você não está consciente de quem você é. Ele está consciente de quem ele é, ele está consciente de quem você é. Poderia-se dizer que a lagarta não tem consciência de que ela pode se tornar uma borboleta. Vocês são lagartas-bodhisattivas. Todas lagartas são bodhisattivas e todos bodhisattivas são lagartas. Um bodhisattiva significa alguém que pode se tornar uma borboleta, que pode se tornar um Buda, que é Buda na semente, em essência. Mas como pode a lagarta ser consciente de que ela pode se tornar uma borboleta? A única maneira é comungar com borboletas, ver borboletas movendo-se ao vento, no sol. Vendo-as mover de uma flor a outra, vendo sua beleza, sua cor, pode ser que um grande desejo, uma ânsia surja na lagarta. “Eu posso ser igual.” Naquele mesmo momento a lagarta começou a acordar, um processo foi provocado. O relacionamento entre um Mestre e um discípulo é o relacionamento entre uma lagarta e uma borboleta, uma amizade entre elas. A borboleta não pode provar que a lagarta pode se tornar uma borboleta, não tem nenhuma maneira lógica. Mas a borboleta pode provocar uma ânsia na lagarta — isto é possível.
  • 12. O Mestre ajuda você a alcançar sua própria experiência. Ele não lhe dá os Vedas, o Corão, a Bíblia, ele joga você para você mesmo. Ele o torna consciente das suas fontes internas. Ele o torna consciente do seu próprio suco, sua própria divindade. Ele libera você das escrituras. Ele libera você das interpretações dos outros. Ele libera você de todas as crenças. Ele libera você de toda especulação, de toda suposição. Ele libera você da filosofia, da religião e da teologia. Ele libera você, em resumo, do mundo das palavras — porque a palavra é o problema. Você se tornou tão obcecado com a palavra “amor” que você se esqueceu que amor é uma experiência, não uma palavra. Você se tornou tão obcecado com a palavra “Deus” que você se esqueceu que Deus é uma experiência, não uma palavra. A palavra “Deus” não é Deus, e a palavra “fogo” não é fogo, e a palavra “amor” também não é amor. O Mestre libera você das palavras. Ele libera você de todos os tipos de filosofias imaginativas. Ele traz você a um estado de silêncio sem palavras. A falha da religião e da filosofia é que elas se tornam substitutas para a experiência real. Esteja alerta para isto! Marlene e Florence, duas secretárias de Denver, estavam conversando durante o almoço. “Eu fui estuprada a noite passada por um erudito”, sussurrou Marlene. “Verdade?”, disse Florence. “Como você sabia que era um erudito?” “Eu tive que ajudá-lo.” Eruditos são pessoas aleijadas, paralisadas, presas em suas cabeças. Eles esqueceram tudo, exceto as palavras. Eles são grandes fabricantes de sistemas. Eles acumulam belas teorias, eles se colocam em belos moldes, mas isto é tudo que eles fazem. Eles não sabem nada — embora eles enganem a outros, e também a si mesmos, que eles sabem. Um homem entrou num restaurante para almoçar e quando o garçom chegou ele disse: “Eu quero um prato de Kiddlies, por favor”. “O quê?” disse o garçom. “Kiddlies”, disse o homem. “O quê?” disse o garçom novamente. Então o homem pegou o menu e apontou para o que ele queria. “Kiddlies”, ele repetiu firmemente. “Ah”, disse o garçom. “Eu compreendo. Kidneys (em inglês: rim). Por que você não disse assim?”
  • 13. “Mas”, disse o homem, “eu disse Kiddlies, não disse?” É muito difícil puxá-los para fora. Eles vivem nas suas próprias palavras. Eles esqueceram que a realidade tem algo a mais além de palavras. Eles são completamente surdos, completamente cegos. Eles não podem ver, eles não podem ouvir, eles não podem sentir. Palavras são palavras. Você não pode vê- las, você não pode senti-las, mas elas podem te dar um grande ego. Um canibal correu para dentro da vila para espalhar a notícia que um grupo de caça tinha capturado um teólogo cristão. “Bom”, disse um dos canibais entusiasticamente, “eu sempre quis experimentar um sanduíche de conversa fiada.” Esteja alerta para não se perder em filosofia e religião se você realmente quiser saber o que é a verdade. Esteja alerta para o fato de ser cristão, hindu, muçulmano, porque essas são maneiras de ser surdo, cego, insensível. Três surdos estavam viajando num trem com destino a Londres. O primeiro disse: “Desculpe-me, condutor, que estação é essa?” “Wembley, senhor”, respondeu o condutor. “Meu Deus!”, exclamou o segundo. “Eu tenho certeza de que hoje é quinta-feira.” “Eu também”, concordou o terceiro. “Vamos todos entrar no vagão-restaurante e tomar um drinque.” É isto o que ocorre entre catedráticos, filósofos, teólogos. Eles não podem ouvir o que está sendo dito. Eles têm suas próprias idéias e estão tão cheios delas, tantas camadas grossas de palavras, que a realidade não pode alcançá-los. O ZEN DIZ: SE VOCÊ CONSEGUIR PARAR DE FILOSOFAR, há uma esperança para você. No momento que você pára de filosofar, você se torna inocente como uma criança. Mas lembre-se: a ênfase do Zen em não saber não significa que ele enfatize a ignorância. Não saber não é ignorância. Não há nem conhecimento nem ignorância; ambos foram transcendidos. Um homem ignorante é alguém que ignora, é assim que a palavra surgiu. A raiz é “ignor”. A pessoa ignorante é alguém que vai ignorando alguma coisa essencial. Desse jeito a pessoa instruída é a pessoa mais ignorante, porque ela sabe sobre céu e inferno e não sabe nada sobre ela mesma. Ela sabe sobre Deus, mas ela não sabe nada sobre quem ela é, o que é essa consciência interior. Ela é ignorante porque ela está ignorando a coisa mais fundamental na vida: ela está ignorando a si mesma. Ela está se mantendo ocupada com o não-
  • 14. essencial. Ela é ignorante — cheia de conhecimento, mas completamente ignorante. Não saber significa simplesmente um estado de não-mente. A mente pode ser instruída, a mente pode ser ignorante. Se você tem pouca informação você vai ser considerado ignorante; se você tem mais informação, você vai ser considerado instruído. Entre ignorância e conhecimento a diferença é de quantidade, de graus. A pessoa ignorante é menos instruída, isto é tudo; a própria pessoa instruída pode aparecer ao mundo como menos ignorante, mas elas não são diferentes, suas qualidades não são diferentes. O Zen enfatiza o estado do não-saber. Não saber significa que alguém não é nem ignorante nem instruído. Ele não é instruído porque ele não está interessado em mera informação e ele não é ignorante porque ele não está ignorando — ele não está ignorando a questão mais essencial. Ele não está ignorando seu próprio ser, sua própria consciência. Não saber tem uma beleza própria, uma pureza. É justamente como um espelho puro, um Iago completamente silencioso refletindo as estrelas e as árvores na margem. O estado de não-saber é o ponto mais alto na evolução humana. O conhecimento é apresentado à mente depois do nascimento físico. A sabedoria está sempre presente, assim como o coração sabe como bater ou uma semente sabe como germinar ou uma flor sabe como crescer, ou um peixe sabe como nadar. E é muito difícil saber sobre coisas. Então por favor faça uma distinção entre conhecimento e sabedoria. O estado de não-saber é realmente o estado de saber, porque quando todo conhecimento e toda ignorância desaparecem você pode refletir a existência como ela é. O conhecimento é adquirido depois do seu nascimento, mas o saber vem com você. E quanto mais conhecimento você adquire, mais e mais o saber começa desaparecer porque ele vem coberto com conhecimento. Conhecimento é exatamente como poeira e sabedoria é como um espelho. O coração do saber é agora. Conhecimento é sempre do passado. Conhecimento significa memória. Conhecimento significa que você conheceu alguma coisa, você experimentou alguma coisa, e você acumulou sua experiência. Sabedoria é do presente. E como você pode estar no presente se você está se apegando demais ao conhecimento? É impossível, você terá que parar de se apegar ao conhecimento. E conhecimento é adquirido, sabedoria é a sua natureza. Sabedoria é sempre agora — o centro do saber é agora. E o centro do agora? A palavra “agora” é bonita. O centro dela é a letra “o”, que é também um símbolo para zero. O centro do agora é zero, nada. Quando a mente não é mais, quando você é somente um nada, simplesmente um zero — Buda chama isto
  • 15. exatamente assim, shunya, o zero — então tudo que o rodeia, tudo que está dentro e fora, é conhecido, mas conhecido não como conhecimento, conhecido de uma maneira totalmente diferente. Assim como uma flor sabe como abrir, e o peixe sabe como nadar e a criança sabe como crescer no útero da mãe, e você sabe como respirar — mesmo quando adormecido, mesmo em coma, você continua respirando — e o coração sabe como bater. Essa é uma maneira totalmente diferente de saber, tão intrínseca, tão interna. Não é adquirida, é natural. O conhecimento é conseguido na troca pelo saber. E quando você tem conhecimento, o que acontece com a sabedoria? Você se esquece da sabedoria. Você tem conhecimento e você esqueceu a sabedoria. E a sabedoria é a porta para o divino; o conhecimento é uma barreira para o divino. O conhecimento tem utilidade no mundo. Sim, ele o tornará mais eficiente, habilidoso, um bom mecânico, isto e aquilo; você pode conseguir uma profissão melhor. Tudo isto está aí e eu não estou negando. E você pode usar o conhecimento desse jeito; mas não deixe o conhecimento se tornar uma barreira para o divino. Quando o conhecimento não for necessário, coloque-o de lado e mergulhe num estado de não-saber — que é também um estado de saber, real saber. O conhecimento é conseguido na troca pela sabedoria e a sabedoria é esquecida. Ela só tem que ser re-lembrada — você a esqueceu. A função do Mestre é ajudar você a re-lembrá-la. A mente tem que ser re- lembrada, pois a sabedoria não é nada a não ser re-conhecimento, re-cordação, re-lembrança. Quando você se depara com alguma verdade, quando você vê um Mestre, e você vê a verdade do seu ser, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece. Nem mesmo um único momento é perdido. Você não pensa sobre isto, se é verdade ou não — para pensar precisa-se de tempo. Quando você ouve a verdade, quando você sente a presença da verdade, quando você chega a uma comunhão com a verdade, alguma coisa dentro de você imediatamente a reconhece, sem nenhum argumento. Não que você aceite, não que você acredite: você reconhece. E isto não poderia ser reconhecido se já não fosse de alguma maneira conhecido, em algum lugar, profundamente dentro de você. Essa é a visão fundamental do Zen. “O seu irmãozinho já aprendeu a falar?” “Oh, claro”, respondeu Joãozinho. “Agora mamãe e papai estão ensinando-o a ficar quieto.” A sociedade lhe ensina conhecimento. Tantas escolas, colégios, universidades... todos com o objetivo de criar conhecimento, mais conhecimento, implantar conhecimento nas pessoas. E a função do Mestre é justamente o oposto: o que a sociedade fez a você o Mestre tem que desfazer. Sua função é basicamente
  • 16. anti-social, e nada pode ser feito a respeito disto. O Mestre está destinado a ser anti-social. Jesus, Pitágoras, Buda, Lao Tzu, todos eles são anti-sociais, mas no momento que eles reconhecem a beleza de não saber, a vastidão de não saber, a inocência de não saber, no momento que o sabor do não saber acontece a eles, eles querem compartilhar isto com outros, eles querem dividir isto com outros. E esse próprio processo é anti-social. As pessoas me perguntam por que a sociedade é contra mim. A sociedade não é contra mim — eu sou anti-social. Mas eu não posso evitar isto. Eu tenho que fazer meu trabalho. Eu tenho que compartilhar o que aconteceu a mim, e nesse próprio compartilhar eu vou contra a sociedade. Sua própria estrutura está enraizada em conhecimento, e a função do Mestre é destruir conhecimento, a função do Mestre é destruir conhecimento e ignorância e trazer de volta à sua infância. Jesus diz: A menos que vocês sejam como pequenas crianças, não entrarão no reino de Deus. A sociedade, de fato, torna você desenraizado da sua natureza. Ela leva você para fora de seu centro. Ela o torna neurótico. Um estudante perguntou a um famoso psiquiatra que estava conduzindo um curso universitário: “Senhor, você nos falou sobre a pessoa anormal e seu comportamento, mas e sobre a pessoa normal?” “Quando nós a encontrarmos”, respondeu o psiquiatra, “nós a curaremos.” A sociedade vai curando as pessoas normais. Toda criança nasce normal, lembre-se, então a sociedade a cura. Ela se torna hindu, muçulmana, cristã, comunista, católica... existem tantos tipos de neuroses no mundo... Você pode escolher, você pode optar por qualquer tipo de neurose que você queira. A sociedade cria todos os tipos; todos os tamanhos e formas de neurose são viáveis, para todos os gostos. O Zen cura você de sua anormalidade. Ele o torna normal outra vez, ele o torna ordinário de novo. Lembre-se, ele não o torna um santo. Ele não o torna uma pessoa sagrada, lembre-se. Ele simplesmente torna você uma pessoa ordinária — leva-o de volta à sua natureza, de volta à sua fonte. Esta bela história: Subindo ao assento superior, Dogen Zenji disse: “O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji.
  • 17. Uma vez Zenji lhe perguntou: ‘Josa, aonde você vai?’ Hogen disse: ‘Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo’. Keishin disse: ‘Qual é a importância da sua peregrinação?’ Hogen disse: ‘Eu não sei’. Keishin disse: ‘Não saber é o mais íntimo’. Hogen subitamente atingiu grande iluminação”. AGORA MEDITE SOBRE CADA PALAVRA dessa pequena história, ela contém mais que todas as grandes escrituras — porque ela também contém não saber. Subindo ao assento superior... Isto é somente um modo simbólico, metafórico de dizer alguma coisa muito significativa. O Zen diz que o homem é uma escada. O degrau mais baixo é a mente e o degrau mais alto é a não-mente. O Zen diz que somente pessoas que chegaram à não-mente é que são suficientemente dignas para ascender ao assento superior — não todo o mundo. Não é questão de um padre ou um pregador. Cristãos treinam pregadores, eles têm colégios teológicos onde os pregadores são treinados. Que tipo de tolice é essa? Sim, você pode ensiná-los a arte da eloquência, você pode ensiná-los como começar um discurso, como terminar um discurso. E isto é exatamente o que está sendo ensinado nos colégios teológicos cristãos. Até mesmo que gestos fazer, quando fazer uma pausa, quando falar devagarinho e quando se tornar eloquente — tudo isto é cultivado. E essas pessoas estúpidas pregam sobre Jesus, e eles não fizeram uma única pergunta! Uma vez eu visitei um colégio teológico. O diretor era meu amigo; ele me convidou. Eu lhe perguntei: “Você pode me dizer em qual colégio Jesus aprendeu? — porque o Sermão da Montanha é tão bonito, ele deve ter aprendido em algum colégio teológico. E em qual colégio teológico Buda aprendeu?” Maomé não teve nenhuma educação, mas o modo como ele fala, a maneira como ele canta no Corão é soberba. Vem de algum outro lugar. Não é educação, não é conhecimento. Vem de um estado de não-mente. Joãozinho era filho do ministro local. Um dia sua professora estava perguntando à classe o que eles gostariam de ser quando crescessem. Quando chegou a sua vez, ele respondeu: “Eu quero ser um pregador, exatamente como meu pai”. A professora, impressionada com a sua determinação, perguntou por que ele queria ser um pregador.
  • 18. “Bem”, ele disse pensativamente, “já que eu tenho que ir à igreja aos domingos de qualquer maneira, eu acho que seria mais interessante ser a pessoa que fica de pé e berra do que aqueles que têm que sentar e ouvir.” Você pode criar pregadores, mas você não pode criar Mestres. Na Índia, a cadeira de onde um Mestre fala é chamada de vyaspeetha. Vyasa foi um dos maiores Mestres que a Índia já produziu, um dos Budas mais antigos. Ele era tão influente, seu impacto foi tão tremendo, que milhares de livros foram publicados em seu nome, mas não foram escritos por ele. Mas o nome dele se tornou tão importante que se alguém quisesse vender seu livro colocaria o nome de Vyasa nele, em vez de colocar o seu próprio. Seu nome bastava para garantir que o livro era valioso. Agora os eruditos ficam loucos para decidir qual livro realmente foi escrito por Vyasa. O assento de onde um Buda fala é chamado vyaspeetha — o assento do Buda. A ninguém mais é permitido ascender ao assento, a menos que tenha atingido a não-mente. “Subindo ao assento superior” é uma metáfora, ela diz que o homem atingiu o estado de não-mente, ele atingiu o estado de não-saber, que é o verdadeiro saber. ...Dogen Zenji disse: “O Mestre Zen Hogen estudou com Keishin Zenji. Uma vez Zenji lhe perguntou: ‘Josa, aonde você vai?’” Este é um modo Zen de dizer “qual é o seu objetivo de vida? Aonde você está indo?” Isto também implica outra pergunta: “De onde você está vindo? Qual é a fonte da tua vida?” Também “quem é você?” — porque se você responde de onde você está vindo e para onde você está indo, isto significa que você sabe quem você é. As três perguntas mais importantes são: “Quem sou eu? De onde eu venho? E para onde estou indo?” ...Keishin Zenji perguntou: “Josa, aonde você vai?” Hogen disse: “Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”. Veja a beleza da resposta. É assim que coisas tremendamente belas transpiram entre um Mestre e um discípulo. Ele disse: “Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”. Se você estiver indo a Meca, então não é uma peregrinação, porque nisto há uma meta; se você estiver indo a Jerusalém ou a Kashi, não é uma peregrinação.
  • 19. Onde existe um objetivo, existe ambição, e onde existe ambição existe mente, desejo. E com desejo não há possibilidade de nenhuma peregrinação. Uma peregrinação só pode ser sem objetivo. Veja a beleza disto! Somente um mestre Zen pode aprová-la e somente um discípulo Zen pode dizer algo tão tremendamente revolucionário. “Eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”. O Mestre pergunta: “Aonde você está indo?” E o discípulo diz: “A nenhum lugar em particular”. Sem objetivo, exatamente como uma folha seca ao vento, para onde o vento a leva: para o norte, então o norte é bonito; para o sul, então o sul é bonito — porque tudo é divino. Aonde quer que você vá você o encontra. Não há necessidade alguma de ter qualquer objetivo. A partir do momento que você tem um objetivo você se torna tenso; você se torna concentrado no objetivo. A partir do momento que você tem qualquer objetivo, você está separado do todo. Ter um objetivo particular é a raiz de todo ego. Não ter um objetivo particular é ser um com o todo e ser um com o todo somente é possível se você estiver vagando sem objetivo. Uma pessoa Zen é um andarilho, sem meta, sem objetivo, sem nenhum futuro. Ele vive momento a momento sem nenhuma mente; exatamente como a folha seca, ele se torna disponível aos ventos. Ele diz aos ventos: “Levem-me aonde vocês quiserem”. Se ele sobe com os ventos, alto no céu, ele não se sente superior a outros que estão deitados no chão. Se ele cai no chão, ele não se sente inferior aos outros que estão subindo com o vento ao alto do céu. Ele não pode falhar. Ele jamais pode ser frustrado. Quando não há nenhum objetivo, como você pode falhar? E quando você não está indo a nenhum lugar em particular, como você pode ficar frustrado? Expectativa traz frustração. Ambições trazem fracassos. A pessoa Zen é sempre vitoriosa, mesmo em seu fracasso. Keishin disse: “Qual é a importância da sua peregrinação?” Ele perguntou novamente para se certificar, porque ele pode estar simplesmente repetindo. Ele pode ter lido em alguma escritura Zen que “a pessoa deveria ser sem objetivo. Quando alguém é sem objetivo, a vida é uma peregrinação”. Consequentemente o Mestre pergunta novamente: “Qual é a importância da sua peregrinação?” Hogen disse: “Eu não sei”. Agora, se Hogen estivesse somente repetindo algum conhecimento reunido de escrituras ou de outros, ele teria novamente respondido a mesma coisa, talvez colocado de uma maneira diferente. Ele poderia ter sido como um papagaio. O
  • 20. Mestre está perguntando a mesma pergunta, mas a resposta mudou totalmente. Ele simplesmente diz: “Eu não sei”. Como você pode saber se você é sem objetivo? Como você pode saber se você não tem nenhuma meta? Como você pode ser quando não há nenhuma meta? O ego só pode existir com metas, ambições, desejos. Hogen disse: “Eu não sei”. Sua resposta não é como a de um papagaio. Ele não repetiu a mesma coisa novamente. A pergunta foi a mesma, lembre-se, mas a resposta mudou. Essa é a diferença entre um homem de conhecimento e um homem de sabedoria, o sábio, que age de um estado de não-saber. “Eu não sei”. Keishin deve ter ficado tremendamente feliz. Ele disse: “Não saber é o mais íntimo”. O conhecimento cria uma distância entre você e a realidade. Quanto mais você sabe, maior é a distância — tantos livros entre você e a realidade. Se você decorar toda a Enciclopédia Britânica, então esta é a distância entre você e a realidade. A menos que a realidade tente lhe achar através da selva da Enciclopédia Britânica ou você tente achar a realidade através da selva da Enciclopédia Britânica, não haverá nenhum encontro. Quanto mais você sabe, maior é a distância; quanto menos você sabe, menor é a distância. Se você não sabe nada não tem nenhuma distância. Então você está face a face com a realidade; nem mesmo face a face — você é ela. Este é o porquê de o Mestre dizer: “Não saber é o mais íntimo”. Lembre-se, um sutra tão bonito, tão delicado, tão tremendamente significativo: “Não saber é o mais íntimo”. No momento que você não sabe, surge intimidade entre você e a realidade, surge uma grande amizade. Torna-se um caso de amor. Você está abraçando a realidade; ela penetra em você, como os amantes penetram um no outro. Você derrete nela como a neve derretendo ao sol. Você se torna um com ela. Não tem nada para dividir. É o conhecimento que divide; é o não-saber que une. Ouvindo esse sutra tremendamente significativo: “Não saber é o mais íntimo”, Hogen subitamente atingiu grande iluminação.
  • 21. ELE DEVIA ESTAR BEM PERTO, OBVIAMENTE. Quando ele disse “eu não sei”, ele devia estar exatamente na fronteira. Quando ele disse “eu estou fazendo peregrinação sem objetivo”, ele estava exatamente a um passo da fronteira. Quando ele disse “eu não sei”, até mesmo esse único passo desapareceu. Ele estava em pé na linha da fronteira. E quando o Mestre disse, quando o Mestre confirmou, iluminou, e disse “não saber é o mais íntimo”... quando o Mestre bateu nas suas costas: “não saber é o mais íntimo”... Hogen de repente atingiu grande iluminação. Imediatamente, naquele mesmo momento, ele cruzou a fronteira. Imediatamente seu último apego desapareceu. Agora ele não pode nem mesmo dizer “eu não sei”. A pessoa estúpida diz: “Eu sei”, a pessoa inteligente vem a saber que não sabe. Mas há uma transcendência de ambos quando somente o silêncio prevalece. Nada pode ser dito, nada pode ser pronunciado. Hogen entrou naquele silêncio, naquela grande iluminação e, de repente, imediatamente, sem nenhum lapso de tempo. A iluminação é sempre súbita porque não é uma realização, já é o caso. É somente uma lembrança, é somente um reconhecimento. Você já é iluminado, simplesmente você não está consciente disto. É consciência daquilo que já é o caso. Medite sobre essa bela história. Deixe esse sutra ressoar em seu ser: “Não saber é o mais íntimo”. E a pessoa nunca sabe: iluminação súbita pode acontecer a você como ela aconteceu a Hogen. Ela acontecerá a muitas pessoas aqui, porque diariamente eu estou destruindo seu conhecimento, destruindo e destruindo todos seus apegos e estratégias da mente. Qualquer dia, quando sua mente sofrer um colapso, quando você não puder segurá-la mais, fatalmente acontecerá repentina iluminação. Não é algo a ser conseguido, consequentemente ela pode acontecer num único momento, instantaneamente. A sociedade lhe forçou a esquecê-la, meu trabalho aqui é ajudar-lhe a lembrá-la. Todos os ensinamentos que os sábios expuseram não são mais que comentários do seu grito súbito: “Ah, isto!”
  • 22. CAPÍTULO 2 Neti Neti A primeira pergunta Osho, Por favor; na pergunta “quem sou eu?”, o que “eu” significa? Significa a essência da vida? Hermann Sander, “QUEM SOU EU?” NÃO É REALMENTE UMA PERGUNTA porque não há resposta para ela, ela é irrespondível. É um estratagema, não uma pergunta. Ela é usada como um mantra. Quando você pergunta constantemente dentro de você “quem sou eu? Quem sou eu?” você não está esperando por uma resposta. Sua mente lhe dará muitas respostas, todas essas respostas devem ser rejeitadas. Sua mente dirá: “Você é a essência da vida. Você é a alma eterna. Você é divino”, e assim por diante. Todas essas respostas têm que ser rejeitadas: neti neti — a pessoa tem que continuar dizendo: “Nem isto nem aquilo”. Quando você tiver negado todas as possíveis respostas que a mente pode dar e arquitetar, quando a pergunta permanecer absolutamente irrespondível, um milagre acontece: de repente a pergunta também desaparece. Quando todas as respostas tiverem sido rejeitadas, a pergunta não tem nenhum apoio, nenhum suporte interno para continuar a existir. Ela simplesmente cai, sofre um colapso, ela desaparece. Quando a pergunta também desaparece, então você sabe. Mas aquele saber não é uma resposta; é uma experiência existencial. Nada pode ser dito sobre ela, ou o que quer que seja dito será errado. Dizer algo sobre ela é falsificá-la. É o mistério definitivo, inexprimível, indefinível. Nenhuma palavra é suficientemente adequada para descrevê-la. Até mesmo a frase “essência da vida” não é adequada. Nada é adequado para expressá-la, sua própria natureza é inexprimível. Mas você sabe. Você sabe exatamente do mesmo modo que a semente sabe como crescer — não como o professor que sabe sobre Química ou Física ou Geografia ou História, mas como o botão que sabe como abrir numa manhã
  • 23. ensolarada. Não como o padre que sabe sobre Deus, sobre e sobre ele vai, em torno e em torno, ele vai. O conhecimento divaga, a sabedoria é uma penetração direta. Mas no momento que você penetra diretamente no interior da Existência, você desaparece como uma entidade separada. Você não é mais. Quando aquele que sabe não é mais, o saber é. E o saber não é sobre alguma coisa — você é o próprio saber. Então eu não posso dizer, Sander, o que “eu” significa na pergunta “quem sou eu”. Não significa nada! É simplesmente um estratagema para lhe levar para dentro do inexplorado, para lhe levar para dentro daquilo que não é viável à mente. É uma espada para cortar as próprias raízes da mente, então somente o silêncio da não-mente é deixado. Naquele silêncio não há nenhuma pergunta, nenhuma resposta, nenhum sabedor, nenhum sabedor, mas somente sabedoria, somente experiência. É por isto que os místicos parecem estar com tanta dificuldade para expressá- la. Muitos deles permaneceram silenciosos por estarem conscientes que o que quer que você diga sai errado. No momento que você diz, dá errado. Aqueles que falaram, eles falaram com essa condição: não se apegue às nossas palavras. Lao Tzu diz: “O Tao, uma vez descrito, não é mais realmente Tao. No momento que você diz alguma coisa sobre ele você já o falsificou, você já o traiu. É uma sensação muito íntima, incomunicável”. “Quem sou eu?” funciona como uma espada para cortar todas as respostas que a mente possa dar. As pessoas Zen dirão que é um koan, exatamente como outros koans. Existem muitos koans, famosos koans. Um é: “Descubra sua face original”. E o discípulo pergunta ao Mestre: “Qual é a face original?” E o Mestre diz: “A face que você tinha antes que seus pais tivessem nascido”. E você começa a meditar nisto. “Qual é a sua face original?” Naturalmente, você tem que negar todas as suas faces. Muitas faces vão aparecer na superfície: faces da infância, quando você era jovem, quando você estava na meia-idade, quando você ficou velho, quando você era saudável, quando você ficou doente... Todos os tipos de faces vão aparecer como numa fila. Elas passarão diante de seus olhos reclamando: “Eu sou a face original”. E você terá que continuar rejeitando. Quando todas as faces forem rejeitadas e ficar o vazio, você terá encontrado a face original. O vazio é a face original. Zero é a suprema experiência. Nada é sua face original. Um outro famoso koan é: “O som de uma mão batendo palma”. O Mestre diz ao discípulo: “Vá e ouça o som de uma mão batendo”. Agora isto é claramente um absurdo: uma mão não pode bater palma e sem bater palma não pode haver
  • 24. nenhum som. O Mestre sabe disto, o discípulo sabe disto. Mas quando o Mestre diz: “Vá e medite nisto”, o discípulo tem que atender. Ele começa a fazer esforços para ouvir o som de uma mão batendo palmas. Muitos sons vêm à sua mente: os pássaros cantando, o som de água correndo... Ele corre imediatamente para o Mestre; ele diz: “Eu ouvi! O som de água correndo — não é esse o som de uma mão batendo palma?” E o Mestre bate fortemente na cabeça dele e diz: “Bobo! Volte, medite mais!” E ele continua meditando, e a mente continua dando novas respostas: “O som do vento passando através dos pinheiros — certamente essa é a resposta”. Ele está com tanta pressa. Todo o mundo está com pressa. Imediatamente ele corre para a porta do Mestre, um pouco apreensivo, temeroso também, mas pode ser que seja essa a resposta... E mesmo antes dele dizer uma única coisa o Mestre bate nele. Ele está muito confuso e diz: “Isto é demais! Eu nem mesmo disse uma única palavra, então como posso estar errado? E por que você está me batendo?” O Mestre diz: “Não é uma questão de ter dito alguma coisa ou não. Você veio com uma resposta, isto é o bastante para provar que você deve estar errado. Quando você tiver realmente descoberto você não virá, não haverá necessidade. Eu irei a você”. Algumas vezes se passam anos, e um dia acontece, não há nenhuma resposta. Antes o discípulo sabia que não havia nenhuma resposta, mas era apenas um saber intelectual. Agora ele sabe do seu próprio ser: “Não há nenhuma resposta!” Todas as respostas evaporaram. E o sinal correto de que todas as respostas evaporaram é somente um: quando a pergunta também evapora. Agora ele está sentado silenciosamente, não fazendo nada, nem mesmo meditando. Ele se esqueceu da pergunta: “Qual é o som de uma mão batendo palma?” Não está mais ali. É puro silêncio. E existem maneiras... existem caminhos internos entre um Mestre e um discípulo. E agora o Mestre corre em direção ao discípulo. Ele bate na porta. Ele abraça o discípulo e diz: “Então aconteceu? É isto! Nenhuma resposta, nenhuma pergunta: É isto. Ah, isto!” A segunda pergunta Osho, Eu sinto que a vida é muito chata. O que eu deveria fazer? Brij Mohan,
  • 25. DESSE JEITO VOCÊ JÁ FEZ O BASTANTE: Você tornou a vida chata — uma grande façanha! A vida é uma tal dança de êxtase e você a reduziu à chatice. Você fez um milagre! O que mais você quer fazer? Você não pode fazer nada maior que isto. Vida, e chata? Você deve ter uma tremenda capacidade para ignorar a vida. Outro dia eu estava dizendo a vocês que ignorância significa a capacidade para ignorar. Você deve estar ignorando os pássaros, as árvores, as flores, as pessoas. De outra maneira, a vida é tão tremendamente bela, tão absurdamente bela, que se você puder vê-la como ela é, você nunca parará de rir. Você dará risadas — pelo menos internamente. A vida não é chata, mas a mente é chata. E nós criamos uma tal mente, tão forte, como uma Muralha da China ao nosso redor, que a vida não entra dentro de nós. A mente nos desconecta da vida. Nós nos tornamos isolados, encapsulados, sem janelas. Vivendo atrás de uma parede de prisão você não vê o sol da manhã, você não vê os passarinhos voando, você não vê o céu à noite cheio de estrelas. E, certamente, você começa a achar que a vida é chata. Sua conclusão é errada. Você está num espaço errado, você está vivendo num contexto errado. Você deve ser uma pessoa religiosa, Brij Mohan, porque para tornar a vida chata a pessoa tem que ser religiosa; tem que ser muito erudita. A pessoa tem que conhecer o Cristianismo, o Hinduísmo, o Islamismo. A pessoa tem que aprender muito dos Vedas, do Corão e da Bíblia. Você dever ser muito bem informado. Um homem que é bem-informado demais, culto demais, cria uma parede de palavras tão grande — palavras fúteis, vazias — em volta dele que se torna incapaz de ver a vida. O conhecimento é uma barreira para a vida. Ponha de lado seu conhecimento! E então olhe com olhos vazios... e a vida é uma constante surpresa. Eu não estou falando sobre alguma vida divina — a vida ordinária é tão extraordinária. Em pequenos incidentes você vai achar a presença de Deus — uma criança rindo, um cachorro latindo, um pavão dançando. Mas você não pode ver se seus olhos estiverem cobertos com conhecimento. O homem mais pobre do mundo é o homem que vive atrás de uma cortina de conhecimento. Os mais pobres são aqueles que vivem através da mente. Os mais ricos são aqueles que abriram as janelas da não-mente e se aproximaram da vida com ela. Brij Mohan, essa não é somente sua experiência, você não está sozinho nela. De fato, a maioria das pessoas concordará com você. Eles não encontraram nenhuma surpresa em lugar algum. E em cada momento existem surpresas e surpresas porque a vida nunca é a mesma; ela está constantemente mudando,
  • 26. ela toma rumos bastante imprevisíveis. Como você pode não se afetar pela sua própria maravilha? A única maneira de permanecer não afetado é se ligar ao seu passado, às suas memórias, à sua mente. Então você não pode ver o que é, você vai perdendo o presente. Perca o presente e você viverá em tédio. Esteja no presente e você ficará surpreso por não haver nenhum tédio. Comece olhando ao redor um pouco mais como uma criança. Seja uma criança novamente! É nisto que se baseia a meditação: ser uma criança de novo — um renascimento, ser inocente novamente, não saber. É isto que estávamos falando outro dia. O Mestre disse: não saber é o mais íntimo. Sim, você deve ter se tornado muito alienado da vida; consequentemente, o tédio. Você esqueceu a intimidade, o imediatismo. Você não está mais enraizado. O conhecimento funciona como uma parede: a inocência funciona como uma ponte. Comece olhando como uma criança novamente. Vá à praia e novamente comece a apanhar conchinhas. Veja uma criança apanhando conchinhas — é como se ela tivesse achado uma mina de diamantes. Ela está tão emocionada! Veja uma criança fazendo castelos de areia e como ela está absorvida, completamente perdida, como se não houvesse nada mais importante do que fazer castelos de areia. Veja uma criança correndo atrás de uma borboleta... e seja uma criança novamente. Comece a correr atrás de borboletas novamente. Faça castelos de areia, apanhe conchinhas. Não viva como se você soubesse. Você não sabe nada! Tudo o que você sabe é sobre e sobre. No momento que você souber alguma coisa, o tédio desaparecerá. Saber é uma aventura tal que o tédio não pode existir. Com conhecimento é claro que ele pode existir; com sabedoria ele não pode existir. E deixe-me lembrá-lo: eu não estou falando sobre algum conhecimento divino, algum conhecimento esotérico; eu estou simplesmente falando sobre esta vida. Simplesmente olhe ao redor com um pouco mais de clareza, com um pouco mais de transparência... e a vida é hilariante! Uma loja do centro da cidade tinha uma placa na sua vitrina escrito: Compre, Americano. Em pequenas letras estava impresso embaixo: MADE IN JAPAN. Simplesmente comece a olhar ao redor com mais cuidado. Um alemão na Zona Soviética comunicou à polícia que o seu papagaio tinha sumido. Perguntaram-lhe se o papagaio falava. “Sim”, ele respondeu, “mas quaisquer opiniões políticas que ele expresse são estritamente dele mesmo."
  • 27. Molly, de setenta e nove anos, reclamou ao médico de inchaço e dor abdominal. Ele a examinou completamente, submeteu-a a uma série de testes de laboratório, e então anunciou os resultados. “O fato principal, madame”, disse o médico, “é que você está grávida.” “Isto é impossível!”, disse Molly. “Ora, eu tenho setenta e nove anos e meu marido, embora ele ainda funcione, tem sessenta e oito!” O médico insistiu, e então a futura mamãe pegou o telefone e ligou para o escritório do marido. Quando ele estava na linha ela gritou: “Ô cabra velho, você me deixou grávida!” “Por favor”, disse o velho homem com voz trêmula, “quem você disse que era?” A terceira pergunta Osho, Eu sei que você quer que nós todos nos livremos de nossos egos e mentes, e no meu caso? Eu sei que isto é muito necessário, mas para aqueles que estarão retornando ao Ocidente, a ausência de mente ou ego não iria tornar a vida mais difícil? Prem Joyce, QUANDO EU DIGO, “ABANDONE O EGO, ABANDONE A MENTE”, eu não quero dizer que você não pode mais usar a mente. De fato, quando você não se apega à mente você pode usá-la de um modo bem melhor, bem mais eficiente, porque a energia que estava envolvida no apego se torna acessível. E quando você não está o tempo todo na mente, vinte e quatro horas por dia, ela também tem um pouco de tempo para descansar. Sabe, até mesmo metais precisam de repouso, até mesmo metais ficam cansados. Então o que dizer sobre esse sutil mecanismo da mente? E o mecanismo mais sutil do mundo. Em um crânio tão pequeno você está carregando um biocomputador tão complicado que nenhum computador produzido pelo homem é ainda capaz de competir com ele. Os cientistas dizem que o cérebro de um único homem pode conter todas as bibliotecas do mundo e ainda haverá espaço para conter mais. E você a está usando continuamente — sem necessidade, sem utilidade! Você esqueceu como desligá-la. Por setenta, oitenta anos ela continua ligada, trabalhando, trabalhando, cansada. É por isto que as pessoas perdem inteligência: pela simples razão que elas estão muito cansadas. Se a mente puder ter um pouco de descanso, se você puder deixá-la sozinha por umas poucas horas todos os dias, se de vez em quando você puder lhe dar um feriado,
  • 28. ela ficará rejuvenescida; ela ficará mais inteligente, mais eficiente, mais habilidosa. Então eu não estou dizendo para você não usar a sua mente, mas para você não ser usado por ela. Neste exato momento a mente é o mestre e você somente um escravo. A meditação faz de você um mestre e a mente se torna um escravo. E lembre- se: a mente como um mestre é perigosa, porque, afinal, ela é uma máquina; mas a mente como um escravo é tremendamente significativa, útil. Uma máquina deveria funcionar como uma máquina, não como um mestre. Nossas prioridades estão todas de cabeça para baixo — sua consciência deveria ser o mestre. Então toda vez que você quiser usá-la, no Oriente ou no Ocidente — claro que você precisará dela no mercado — use-a. Mas quando você não precisar dela, quando você estiver descansando em casa ao lado da sua piscina ou no seu jardim, não há nenhuma necessidade. Ponha-a de lado. Esqueça tudo sobre ela. Então simplesmente seja. O mesmo ocorre com o ego. Não esteja identificado com ele, isto é tudo. Lembre- se que você é parte do todo; você não está separado dele. Isto não significa que se alguém está roubando sua casa você tem que simplesmente observar — porque você é simplesmente parte do todo e ele, o ladrão, também é parte do todo, então o que está errado? E alguém está tirando dinheiro do seu bolso, então não há problema algum — a mão do outro é tão sua quanto dele! Eu não estou dizendo isto. Lembre-se que você é parte do todo para que você possa relaxar, fundir-se; uma vez ou outra você pode estar completamente afogado no todo. E isto lhe dará uma nova vida. As fontes inesgotáveis do todo se tornarão viáveis para você. Você sairá disto refrescado; você sairá disto renascido, novamente como uma criança, cheio de alegria, aventura, êxtase, inquirição. Não fique identificado com o ego — isto é somente utilitário. Você tem que usar a palavra “eu”, use a palavra “eu”, mas lembre-se que ela é somente uma palavra. Ela tem uma certa utilidade e sem ela a vida se tornará impossível. Se você parar de usar a palavra “eu” completamente a vida se tornará impossível. Nós sabemos que os nomes são somente utilitários, ninguém nasce com um nome. Mas eu não estou dizendo para abandonar o nome e jogar seu passaporte dentro do rio. Você ficará em apuros! Você precisa de um nome; isto é uma necessidade porque você vive com muitas pessoas. Se você estiver sozinho no mundo, então é claro que não há necessidade alguma de carregar um passaporte. Se você estiver sozinho... por exemplo, se a Terceira Guerra Mundial acontecer e Joyce for deixada sozinha no mundo, então não haverá necessidade de carregar um passaporte; você pode jogá-lo
  • 29. em qualquer lugar. Não haverá necessidade de ter qualquer nome. Mesmo se você tiver um nome ele será inútil — ninguém irá jamais chamá-lo. Então não haverá necessidade alguma de até mesmo usar a palavra “eu” porque “eu” precisa de um “tu”; sem um “tu” o “eu” é sem sentido. Ele só tem sentido no contexto de outros. Então não me entenda mal. Use seu ego, mas use-o exatamente como você usa seus sapatos e seu guarda-chuva e suas roupas. Quando estiver chovendo, use o guarda-chuva, mas não carregue-o sem necessidade. E não vá para a cama com o guarda-chuva, e não fique com medo que em algum sonho possa chover... O guarda-chuva tem uma utilidade, então use-o quando for preciso; mas não se torne tão identificado com ele que você não o possa pôr de lado. Use os sapatos, use as roupas, use o nome — eles são todos utilidades, não realidades. No mundo, havendo tantas pessoas, nós precisamos de alguns poucos rótulos, alguns poucos símbolos, simplesmente para demarcar, simplesmente para saber quem é quem. Você me pergunta: Eu sei que você quer que nós todos nos livremos de nossos egos e mentes... Eu não estou dizendo para livrar-se; eu estou simplesmente dizendo para serem mestres das suas mentes. Eu não estou dizendo para ser sem mente; eu só estou dizendo: não sejam só mentes — vocês são muito mais. Sejam consciência! Então a mente se torna uma coisa pequena. Vocês podem usá-las quando for necessário e quando não for necessário vocês podem desligá-las. Eu estou usando minha mente quando eu falo com vocês. A mente tem que ser usada; não há outro jeito. Mas no momento que eu entro no meu quarto, eu não continuo a usá-la, não há nenhum motivo. Eu sou simplesmente silencioso. Com vocês eu estou usando a língua, as palavras, mas quando eu estou comigo mesmo não há necessidade de língua alguma, de nenhuma palavra. Quando eu estou acomodado dentro de mim mesmo e não há necessidade de comunicação a linguagem desaparece. Então há um tipo totalmente diferente de consciência. Neste exato momento minha consciência está fluindo através da mente, usando o mecanismo da mente para se aproximar de vocês. Eu posso lhe alcançar com minha mão, mas eu não sou a mão. E quando eu lhe toco com minha mão é somente um meio, algo mais está tocando através da mão. O corpo tem que ser usado, a mente tem que ser usada, o ego, a linguagem, e todos os tipos de coisas têm que ser usadas. E você tem permissão de usá-las somente com uma condição: permaneça o mestre. A quarta pergunta Osho,
  • 30. Outro dia você respondeu minha pergunta sobre amar três mulheres. Desde então umas poucas coisas aconteceram. Em primeiro lugar eu lhe perdi porque eu não estava no discurso, mas sim nos braços da escolhida, e que se revelou uma má escolha porque ela saiu correndo de mim para os braços de outro tão logo ela viu que tinha sido escolhida. Apesar disto, a pequena comuna cresceu para cinco mulheres agora. Uma mulher é um inferno, mas o que dizer de cinco? Mas eu consegui um pouco de ajuda dos meus amigos. Por exemplo, Hamid sugeriu que eu virasse homossexual e me propôs um encontro com ele. Vivek sugeriu que eu esperasse até existirem sete. Mas por favor, Osho, antes que eu desapareça no sétimo inferno, eu já perdi três quilos. Você se ofereceu para me comprar: Não podemos fazer negócio agora? Eu estou falando sério. Prem Aditya, UM PADRE ESTAVA OUVINDO um jovem confessar seus pecados. No meio da confissão ele interrompeu o jovem. “Espera um minuto, jovem”, ele disse, “você não está confessando — você está vangloriando-se.” Agora você começou a vangloriar-se! Eu sei perfeitamente bem... porque eu também estou em contato com suas três mulheres. Eu também estou disposto a fazer negócio! Você não tem cinco — você até mesmo perdeu as três. E hoje você está aqui porque não tem ninguém com quem ficar. Hamid é generoso... mas, lembre-se, ele é um iraniano. Um dia, quando ainda era época de recrutamento, Glascox recebeu uma notificação para se apresentar. Ele se apresentou na junta de recrutamento e confessou que era um homossexual. “Bicha, hem?”, resmungou um membro. “Você acha que poderia matar um homem?” “Oh, sim”, riu Glascox, “mas isto me tomaria um bom tempo”. E deixe-me conscientizá-lo de que antes que você possa matar um iraniano, o iraniano te matará! Então evite Hamid — ele é generoso, mas evite-o! Ele também está cansado de mulheres. Ele acabou de se separar da Divya, então ele deve estar se sentindo sozinho. E a sugestão de Vivek é muito esotérica. Ela está se tornando um pouco esotérica, aos poucos. Sendo a médium-chefe, ela tem muitos médiuns esotéricos abaixo dela, então ela está aprendendo uns poucos números esotéricos. Sete é realmente perigoso!
  • 31. E sua suposição está certa: sete mulheres vão te levar ao sétimo inferno. E este é o último, a pedra final; você não pode cair abaixo disto. Vivek deve ter sugerido isto para que, uma vez que você tenha caído à pedra final, você comece a subir porque não há nenhum outro lugar para ir. E você diz que perdeu três quilos. Sua balança não está funcionando bem — você deve ter perdido mais! É realmente estranho as mulheres serem chamadas de sexo frágil — elas não são. O homem é o sexo mais fraco. Danny descobriu que sua mulher estava envolvida com outro homem. Então ele foi à mulher desse homem e lhe contou sobre isto. “Eu sei o que faremos”, ela respondeu, “vamos nos vingar deles.” Então eles foram para um motel e se vingaram deles. Ela disse: “Vamos nos vingar mais”, e eles permaneceram se vingando, vingando... Finalmente Danny disse: “Chega de vingança — eu não tenho mais sentimentos de raiva”. Seja um pouco cuidadoso — isto é simplesmente o começo! Um casal acorda depois da primeira noite de sua lua-de-mel. Ela se senta na cama, olha para seu marido que está deitado nu perto dela e diz, com uma voz de surpresa: “Querido, nós usamos ele todo em uma noite?” Aditya, isto acontece a quase todo novo sannyasin masculino no começo: encontrando tantas mulheres aqui ele fica louco. Mas em poucas semanas ele volta aos seus sentidos e aí um processo totalmente inverso começa. Primeiro ele caça as mulheres; depois de poucas semanas as mulheres começam a caçar homens e eles começam a fugir. Muitas mulheres me disseram: “O que aconteceu aqui aos sannyasins masculinos? Eles não parecem estar muito interessados em mulheres. Eles não se aproximam de mulheres, eles as evitam. Ao invés de tomar a iniciativa, eles escapam — no momento que eles vêem uma mulher os perseguindo, eles escapam”. O que acontece no mundo ordinário é que o homem tem muito para imaginar, fantasiar, porque a sociedade não te permite muitos relacionamentos com mulheres — somente uma mulher. E você fica cansado, você fica chateado, e sua mente começa a divagar. E todas as mulheres que não pertencem a você parecem tremendamente bonitas, simplesmente estonteantes porque elas não estão disponíveis. Sua mente começa a fantasiar, sua mente começa a viajar.
  • 32. Aqui é totalmente diferente. Esta comuna vive no futuro agora. É como será no mundo mais cedo ou mais tarde. Essa comuna introduz uma nova consciência, uma consciência enraizada em liberdade. Até agora você viveu numa profunda escravidão, escravidão psicológica. Quando você consegue a liberdade, no começo você corre para ela loucamente. Você começa a fazer todos os tipos de coisas que você sempre quis fazer, mas não era permitido. Então brevemente as coisas se ajeitam. Você se torna consciente de que todas as mulheres são iguais, assim como todos os homens são iguais. Pode ser que existam diferenças, mas elas são periféricas. Alguém tem cabelo preto e alguém tem cabelo louro e alguém tem olhos azuis e alguém tem olhos pretos — somente diferenças periféricas. Mas quando você se torna mais e mais consciente de muitas pessoas, quando você se relaciona com muitas pessoas, uma coisa se torna absolutamente clara para você: que todos os homens são idênticos — quase idênticos — assim como as mulheres. Então as coisas começam a se assentar, a se encaixar, harmonizar. Então você começa a se encaixar com uma mulher, com um homem, num relacionamento mais íntimo. Essa intimidade não é possível no mundo externo porque sua mente sempre irá pensar que sua mulher, seu homem, não tem como de descobrir a verdade. E uma vez que a verdade é conhecida, você começa a se acomodar com uma pessoa. E essa acomodação não é forçada; não é um acordo legal. Você não será punido se você se separar; ninguém está lhe impedindo de se separar. Mas, entretanto, agora você começa um tipo de viagem totalmente diferente, uma nova peregrinação de intimidade, não-imposta. E agora você vê que quanto mais profundo você quer entrar, dentro da outra pessoa, mais tempo é necessário, muitos tipos de situações são necessárias. E a penetração física é sexo, que é uma coisa muito superficial. Penetração psicológica é amor, que é bem mais profunda, bem mais significativa, bem mais bonita, bem mais humana. A primeira é animal, a segunda é humana. E aí tem um terceiro tipo de penetração: quando duas consciências se encontram, fundem-se, derretem uma na outra. Eu chamo isto de oração. Aditya, mova-se em direção à oração, porque somente a oração lhe dará real contentamento. Somente a oração lhe tornará consciente da divindade da outra pessoa. E vendo a divindade da outra pessoa, do seu amado, você ficará consciente da sua própria divindade. O amor é um espelho. Um relacionamento real é um espelho no qual dois amantes vêem as faces um do outro e reconhecem Deus. É um caminho em direção a Deus. A quinta pergunta
  • 33. Osho, Eu nasci britânica e meu amigo também. Alguma esperança? Vivek, NINGUÉM NASCE BRITÂNICO. É uma doença que acontece mais tarde. Nós a aprendemos. Não é inata. Exatamente como ninguém nasce germânico ou indiano. Essas são estruturas que são impostas a nós mais tarde, depois do nascimento. Esses são meios sociais de escravizar sua psique, seu ser. Toda sociedade impõe certas formas, regras, regulamentos. Toda sociedade lhe dá uma forma, uma face, uma faceta. Ninguém é britânico e ninguém é germânico e ninguém é indiano. Consequentemente essas estruturas podem ser abandonadas, a pessoa pode sair delas. A única coisa necessária é consciência. Nós somos tão inconscientes que nos tornamos um com a estrutura, identificados com ela. Nós começamos a achar que nós somos ela. E é aí que a doença se torna um fenômeno permanente, ela se torna crônica. De outro modo, a pessoa pode escapar de ser britânico ou hindu ou muçulmano ou comunista, tão facilmente quanto a cobra sai para fora de sua velha pele e nunca olha para trás. Em segundo lugar: nem todos os britânicos são britânicos, nem todos os germânicos são germânicos, nem todos os indianos são indianos. Você pode encontrar uns poucos indianos aqui — meus sannyasins ou meus futuros sannyasins; eles não são indianos. Eles escaparam da prisão indiana. Agora, existem tantos alemães aqui, e quando eu conto piadas contra os alemães eles riem tão relaxadamente quanto você ri. Eles não se sentem ofendidos. Quando eu dizia algo contra os britânicos, eles eram os que ficavam mais felizes. Eles ficavam felizes porque eles deviam estar sentindo ciúmes dos alemães! Eu bato tanto nos alemães! Eu tenho uma certa queda por Haridas, Govinddas etc. Eu vou dando-lhes pancadas! E os britânicos devem estar se sentindo um pouco perdidos, ficando para trás! Meus sannyasins não pertencem a nenhuma raça, a nenhum país, a nenhuma religião. É isto que é o sânias: sair de todos os tipos de prisão, tornar-se simplesmente humano, declarar a sua universalidade, declarar que “toda a Terra nos pertence”. Como sannyasins crescem pouco a pouco, nós vamos criar problemas. Quando eu tiver muitos sannyasins eu direi a vocês: “Agora vocês podem queimar seus passaportes e se locomover livremente de um país para outro — porque a liberdade de movimento é um direito de nascimento”.
  • 34. É tão feio você não poder se mover de um país para outro facilmente; eles criam tantas barreiras. Quando você atravessa a fronteira de um país imediatamente percebe que esteve em uma prisão e que está entrando em uma outra prisão. A prisão é grande, quando você está dentro você não percebe isto. A pessoa que nunca saiu da Índia não saberá que está vivendo numa prisão, mas quando você deixa o país você sabe como é difícil: como você é torturado por horas, quantos papéis você tem que preencher, quantas coisas você tem que fazer antes de atravessar a fronteira. Aí você sabe que isto é uma prisão. E você tem que fazer a mesma coisa no outro país. Esses países são grandes prisões. A esperança é que quando existirem milhões de sannyasins e nós tivermos criado bastante energia laranja no mundo, nós quebraremos todas essas barreiras. Mas lembre-se sempre: nem todos os alemães são alemães, nem todos os britânicos são britânicos, nem todos os indianos são indianos. Essa é a única esperança. Existem uns poucos que estão na prisão, mas não são parte dela — é somente um acidente que eles tenham nascido na Índia, um acidente que eles tenham nascido na Inglaterra; de outro modo eles são almas livres. Eles são a esperança real para a humanidade, a esperança real para o futuro. Um esportista inglês estava no exterior e voltou a sua casa sem avisar. Enquanto andava no corredor com seu mordomo ele olhou para dentro do seu quarto e descobriu sua mulher fazendo amor com um estranho. “Pegue meu rifle, imediatamente!”, ele disse ao mordomo. Em questão de minutos seu rifle foi trazido. Levantando-o e fazendo pontaria, ele foi tocado no ombro pelo mordomo, que sussurrou: “Se me permite dizer, senhor, lembre-se que você é um verdadeiro esportista. Acerte-o na subida!” Agora o mordomo não é inglês, de jeito nenhum! — ele tem mais senso de humor. Dois ingleses estavam voltando tarde da noite para casa depois de um jogo de pôquer. Um deles disse: “Eu estou sempre com medo quando eu volto para casa depois de um jogo como esse. Eu desligo o motor do carro meia quadra antes de casa e desço deslizando para dentro da garagem. Eu tiro os sapatos e entro sorrateiramente dentro de casa. Eu sou tão quieto quanto possível, mas invariavelmente, na hora que eu me acomodo na cama, minha mulher senta e começa a me repreender”. O outro homem disse: “Você simplesmente usa a técnica errada. Eu nunca tive problema algum. Eu entro na garagem, bato a porta, entro em casa e faço o
  • 35. maior barulho. Aí eu subo para o quarto, dou um tapinha na minha mulher e digo: ‘E aí, garota?, que tal fazermos aquilo? Ela sempre finge estar dormindo’. A sexta pergunta Osho, Nenhuma paixão, nenhum ciúme, e tanto amor. Pode ser verdade que esse sofrimento acabou? Prem Turiya, ESSA É UMA DAS COISAS MAIS FUNDAMENTAIS a ser lembrada, e você terá que estar constantemente alerta: você não pode ter nenhuma garantia que o sofrimento acabou. Se não, o sofrimento voltará pela porta dos fundos. Você tem que estar constantemente alerta e consciente. Sim, no momento não há nenhum ciúme, nenhuma paixão e ainda tanto amor — naturalmente. Quando não há nenhuma paixão e nenhum ciúme, todas as energias se movem em direção ao amor. É a mesma energia que se torna paixão, que se torna ciúme. Quando não há nenhum ciúme, nenhuma paixão, toda a energia é viável para as flores do amor desabrochar. Mas não tenha isto como uma coisa garantida. Não pense que o sofrimento acabou para sempre. A vida é uma contínua evolução e você tem que estar constantemente alerta, de outro modo você pode voltar aos velhos padrões muito facilmente. E os velhos padrões têm persistido por tanto tempo, eles se tornaram tão entranhado em seu sangue, em seus ossos, em sua própria medula que um momento de inconsciência e você está de volta. Você tem que estar sempre alerta. Algo bonito está acontecendo... muito mais vai acontecer. A pessoa nunca sabe o quanto é possível conseguir. Nós nunca estamos conscientes do nosso potencial, a menos que ele se torne real. Você viu um bonito espaço de amor sem ciúme. Paixão é um tipo de febre e ela consome muita energia. Febre naturalmente consome energia — e paixão é febre. Quando a paixão desaparece, surge compaixão. E a compaixão é fresca. A paixão é quente, ela lhe queima. A compaixão é fresca — não fria, lembre-se. O ódio é quente, a luxúria é quente. Exatamente entre os dois está o meio termo dourado, nem frio nem quente. Aí você está num estado de calor fresco. Parece muito paradoxal — calor fresco. Não é quente, mas é morno, não é frio, mas é fresco. E a flor real do amor só se abre naquele clima de calor-frescor. Um frescor morno é o clima certo para o lótus do amor desabrochar. Mas não tome isto como algo garantido. Nunca tome nada como certo. Cada momento você tem que conquistá-lo novamente. A vida é uma contínua conquista. Não é que uma vez e para sempre ela está conquistada e você pode
  • 36. cair no sono e permanecer inconsciente e então não há mais nenhum problema. Novamente você estará de volta na mesma rotina. Turiya, eu estou feliz — eu tenho estado lhe observando. Você está parecendo morna e fresca. É um processo sem fim. Não destrua essa flor bonita que está crescendo em você. Quando você tem alguma coisa preciosa você tem que estar mais alerta. Quando você não tem nada a perder você pode estar inconsciente, você pode cair no sono, não há problema algum. Mas quando você tem algo a perder — e isto é algo precioso — esteja mais alerta, esteja mais consciente. Você descobriu um tesouro. A sétima pergunta Osho, O que é inteligência? Govindo, PRIMEIRO, SAIBA BEM QUE INTELECTUALIDADE não é inteligência. Ser intelectual é ser falso; é uma inteligência falsa. Ela não é real porque não é sua; é emprestada. Inteligência é o crescimento da consciência interna. Não tem nada a ver com conhecimento; tem a ver com meditação. Uma pessoa inteligente não funciona através da sua experiência passada; ela funciona no presente. Ela não reage, ela responde. Consequentemente, ela é sempre imprevisível; ninguém pode estar certo do que ela vai fazer. Um católico, um protestante e um judeu estavam conversando com um amigo que disse que tinham acabado de dar a ele seis meses de vida. “O que você faria”, ele perguntou ao católico, “se seu médico lhe desse seis meses de vida?” “Ah!” disse o católico. “Eu daria todos os meus pertences à Igreja, tomaria comunhão todo domingo e rezaria minha Ave Maria regularmente”. “E você?”, perguntou ao protestante. “Eu venderia tudo e iria numa viagem pelo mundo e me divertiria muito!” “E você?” perguntou ao judeu. “Eu? Eu iria consultar um outro médico.” Isto é inteligência!
  • 37. Janet, uma secretária atrevida, entrou requebrando no escritório do patrão. “Eu tenho boas notícias e algumas más notícias”, ela anunciou. “Sem gracinhas por favor”, pediu seu patrão. “Não no dia de relatório trimestral. Dê-me somente as boas notícias.” “Ok”, declarou a garota. “A boa notícia é que você não é estéril.” Isto é inteligência! O marido ultrajado descobriu sua mulher na cama com um outro homem. “O que significa isto?”, ele perguntou. “Quem é esse rapaz?” “Essa parece ser uma pergunta justa”, disse a mulher, virando para cima. “Qual é o seu nome?” Isto é inteligência!
  • 38. CAPÍTULO 3 Eu sou o Mais Alto Um dia o Rei de Yen visitou o Mestre Chao Chou, que nem mesmo levantou-se quando o viu chegando. O rei perguntou: “O que é superior; um rei terreno ou o ‘Rei de Dharma’?” Chao Chou respondeu: “Entre reis humanos eu sou superior; entre os Reis de Dharma eu também sou superior”. Ouvindo esta resposta surpreendente, o reificou bastante satisfeito. No dia seguinte um general veio visitar Chao Chou, o qual não só se levantou da sua cadeira quando viu o general chegando como também mostrou-lhe mais hospitalidade do que tinha mostrado ao rei. Depois que o general tinha saído, os monges assistentes de Chao Chou lhe perguntaram: “Por que você levanta do seu assento quando uma pessoa de posto mais baixo vem lhe ver e não faz o mesmo para uma pessoa de mais alto posto?” Chao Chou respondeu: “Vocês não entendem. Quando pessoas da mais alta qualidade vêm me ver; eu não levanto do meu assento; quando elas são de média qualidade eu o faço; mas quando são da mais baixa qualidade, eu vou para o lado de fora do portão para recebê-las”. O HOMEM VIVE NUM ESTADO DE CABEÇA PARA BAIXO. Consequentemente, toda vez que há um Mestre iluminado, suas ações, suas palavras, seu comportamento, tudo parece ao homem ordinário absurdo. Jesus é mal entendido pela simples razão que um homem de visão está falando a homens que são cegos. Sócrates não é entendido pela mesma razão, porque ele está falando a pessoas que são completamente surdas. E o mesmo tem sido o caso com todos os budas de todos os países, de todas as raças. E, infelizmente, assim será sempre. É algo na própria natureza das coisas. O homem é inconsciente; ele entende a linguagem da inconsciência. E quando alguém fala dos picos da consciência, ele se torna completamente incompreensível. Ele está tão longe! Quando suas palavras alcançam os vales escuros do nosso inconsciente, nós já as distorcemos de tal modo que elas não têm mais nenhuma referência com a origem.
  • 39. O Mestre parece louco algumas vezes, algumas vezes irracional, algumas vezes cabeça-dura. Mas a única razão porquê ele não pode se comportar como você, que ele não pode ser parte da mente coletiva, é que ele se tornou acordado, e a multidão está profundamente adormecida. Para entender um Mestre você tem que aprender grande simpatia; somente isto criará uma ponte. Assim é que é um relacionamento de um discípulo para com um Mestre. Você pode ouvir um Mestre sem ser um discípulo. Você ouvirá as palavras, mas perderá o significado. Você ouvirá a canção, mas perderá a música. Você ouvirá o argumento, mas perderá a conclusão. Você saberá o que ele está dizendo, mas será incapaz de ver aonde ele está indicando. Para entender o significado — que é sem palavras —, para entender o sentido, um tipo totalmente diferente de relacionamento é necessário. Não é aquele entre um orador e a audiência, é aquele de dois amantes. Tem que ser um caso de amor, só então há bastante simpatia para haver uma ponte, para haver comunicação. E uma vez que a simpatia está lá, não está muito longe da empatia. Simpatia pode ser transformada em empatia muito facilmente; de fato, ela muda para empatia por si mesma. Exatamente como você semeia sementes e no tempo certo elas brotam e a primavera vem e com ela muitas flores, semeie as sementes da simpatia — isto é, iniciação no discipulado — então brevemente haverá flores da empatia. Na simpatia ainda há uma pequena distância. Você pode ouvir um pouco melhor que antes, você pode entender mais claramente que antes — mas as coisas ainda estão num estado de crepúsculo. Já não é noite, mas o sol ainda não subiu e está muito enevoado. Você pode ver, mas não pode decifrar as coisas precisamente. Empatia significa que agora não há mais distância. Agora o discípulo está afogado no Mestre — ele se tornou um devoto. Agora o Mestre está afogado no discípulo; eles não são mais entidades separadas. Eles alcançaram o mesmo ritmo de ser; eles pulsam em sincronicidade. Aí há compreensão e essa compreensão libera, essa compreensão é imediata. Você vê o Mestre, você olha para dentro de seus olhos, você ouve suas palavras, você o vê se movendo, seus gestos... e eles são imediatamente entendidos sem nenhuma tradução pela mente. A mente não funciona mais como um mediador. É comunhão direta — nem mesmo comunicação, mas comunhão. O primeiro passo é aquele de um estudante, curioso, mas ainda um espectador, longe, colecionando informação, conhecimento. O segundo passo é aquele de um discípulo, não mais um espectador, mas um participante, não mais interessado em conhecimento, mas tremendamente interessado em sabedoria.
  • 40. E o terceiro passo é aquele de um devoto, totalmente um com o Mestre, compartilhando do seu ser, bebendo da sua fonte inesgotável, bêbado — bêbado com o divino. Somente o devoto compreende absolutamente, o discípulo entende um pouco, o estudante somente ouve meras palavras. Lembre-se, você tem que passar através desses estágios também. E tudo depende de você: você pode permanecer um estudante para sempre. Se você se mantiver a distância, se você tiver medo de chegar perto, você estará aqui e ainda não aqui. Chegue mais perto — espiritualmente mais perto. Tragam seus seres, sem medo, mais perto do Mestre, mais perto da sua luz. Sim, aquela luz não é somente luz, é fogo também; ele vai lhe consumir. Seja consumido, porque naquele fogo há uma grande esperança de renascimento. Essas pequenas histórias Zen, na superfície, parecem simplesmente histórias ordinárias — mas não são. Elas carregam um grande significado. Antes de entrarmos na história, umas poucas coisas têm que ser entendidas. Outro dia havia uma pergunta de Satsanga. Ele disse: “Osho, por que você não é um pouco mais diplomático com os políticos, com os padres? — isto nos livraria de muitos problemas”. Eu posso entender o que ele quer dizer; eu posso entender sua preocupação. Ele gostaria que eu fosse um pouco mais diplomático — mas um Mestre não pode ser diplomático. Nunca foi assim, é impossível. Diplomacia é a maneira de persuadir outros sem lhes dizer a verdade. Diplomacia é um jogo. Políticos jogam o jogo, místicos não podem jogá-lo. Um místico é alguém que chama uma espada de espada. Ele é direto, custe o que custar. Ele não pode enganar, ele não pode mentir, ele não pode ficar quieto. Se ele vê alguma coisa, ele diz; e ele diz exatamente como ela é. Gurdjieff costumava dizer, algumas vezes a pessoas muito importantes — grandes autores, pintores, poetas, políticos, as pessoas que dominaram esse mundo, os grandes egoístas... Ele costumava dizer a essas pessoas uma coisa muito significativa — lembre-se. De repente ele diria a elas: “Você tem uma fachada muito boa”. Agora, dizer a um político, a um presidente de um país ou a um primeiro-ministro ou a um rei: “Você tem uma fachada muito boa”, é criar problemas. E Gurdjieff viveu sua vida toda em apuros. Mas não há outro jeito. Ele também costumava dizer, mais de uma vez... Quando algum egoísta perguntava a ele: “Você me ama? Você gosta de mim?”, essa era sua resposta: “Pelo que você podia ser eu
  • 41. não sinto nada senão benevolência, mas pelo que você é eu lhe odeio — volte para tua avó!” Isto não é diplomacia: isto é criar inimigos. Jesus deve ter sido realmente um grande artista em criar inimigos porque ele tinha somente trinta e três anos quando ele foi crucificado e apenas três anos de trabalho. Até os 30 anos ele esteve com as escolas esotéricas, viajando pelo mundo, ao Egito, à Índia e há uma possibilidade de ele ter ido ao Tibet e ao Japão. Consequentemente a Bíblia não tem nenhum registro dos seus anos de preparação; o registro é muito abrupto. Algo é dito sobre sua infância, muito fragmentário. E só uma vez ele é mencionado: quando ele tinha doze anos de idade e ele começou a argumentar com os sacerdotes no templo — isto é tudo. Então há um intervalo de dezoito anos... nada é mencionado. Agora um homem como Jesus não pode viver uma vida ordinária por dezoito anos e então se transformar num Cristo; isto não é possível. Esses dezoito anos ele esteve se movendo com diferentes mestres, com diferentes sistemas, tornando-se iniciado em diferentes escolas esotéricas, aprendendo o que quer que fosse acessível, sintonizando com muitos mestres quando possível. Ele surgiu quando tinha trinta anos e com trinta e três ele foi crucificado. Em três anos ele realmente fez um bom trabalho! Ele foi rápido! Você não pode achar que ele era diplomático; ele foi o homem mais sem diplomacia que já existiu. De fato, é dessa maneira que as pessoas acordadas se comportam. O que exatamente é diplomacia, Satsanga? “Papai, o que é diplomacia?” perguntou Joãozinho, recém-chegado da escola. “Bem, filho, é assim”, respondeu seu pai. “Se eu dissesse à sua mãe: ‘Seu rosto pararia um relógio, isto seria estupidez. Mas se eu dissesse: ‘Quando eu olho para você, o tempo pára’, isto é diplomacia!” Sim, você gostaria que eu fosse um pouco mais diplomático; isto evitaria muitos problemas. Mas isto também livraria você da verdade, lembre-se. A verdade traz muitos problemas. E está fadado a ser assim porque as pessoas vivem em mentiras, e quando você traz verdade ao mundo, suas mentiras, suas vidas enraizadas em mentiras, reagem. Um grande antagonismo está fadado a acontecer. E as pessoas, como elas são, na sua inconsciência, não podem viver sem mentiras. Friedrich Nietzsche está certo. Ele diz: “Por favor, não destruam as mentiras das pessoas, suas ilusões, porque se você destruir a ilusão delas elas não serão capazes de viver; elas sofrerão um colapso. Elas não encontrarão nada que
  • 42. valha a pena viver. Elas vivem por causa das ilusões, as ilusões permanecem dando-lhes esperança. Elas vivem no amanhã que nunca chega. Elas vivem nas suas ambições que nunca são realizadas; mas realizadas ou não, através dessas ambições, desejos, expectativas e esperanças elas podem ir arrastando suas vidas até a morte. Se você destruir as suas ilusões, elas podem simplesmente cair mortas aqui e agora porque não haveria nenhum motivo para viver. E toda vez que você pensa em suicídio, lembre-se, por que você está pensando em suicídio? Alguma esperança se tornou amarga, alguma expectativa se transformou em uma frustração, algum desejo se mostrou fútil. Você se tornou consciente, mesmo na tua inconsciência, um pequeno raio de consciência penetrou em você. Você viu, talvez somente por um momento, um vislumbre, exatamente como um raio na noite escura. Por um momento tudo era claro e você viu que a maneira que você está vivendo é falsa e não há nenhuma realização se você vive de uma maneira falsa. Imediatamente a idéia de suicídio surge em você. Mais e mais pessoas estão cometendo suicídio hoje. Mais pessoas cometem suicídio no Ocidente que no Oriente. Parece muito estranho, muito ilógico. Não deveria ser assim, porque no Oriente as pessoas estão morrendo de fome, mas elas não cometem suicídio. No Ocidente elas têm tudo que o homem sempre desejou. As pessoas têm duas casas — uma na cidade, uma na montanha ou no litoral ou no campo. Elas têm duas garagens e todos os tipos de artifícios que a tecnologia proporciona. Pela primeira vez o Ocidente foi bem sucedido em ser afluente, mas mais pessoas estão cometendo suicídio do que no Oriente. Por quê? Pela simples razão que o Oriente ainda pode esperar e o Ocidente está se tornando consciente de que não há esperança alguma. Quando você não tem alguma coisa pela qual você possa esperar ardentemente; quando você já a tem, como pode você esperar? A coisa está lá e nada acontece através dela. Você tem o dinheiro, você tem uma boa esposa, filhos, marido, prestígio, respeito — e de repente você se torna consciente de que bem no fundo você é oco, pobre, um mendigo e nada mais. Todo o esforço de alcançar todas essas coisas foi em vão. As coisas estão lá, mas nenhuma realização aconteceu através delas. Essa é a causa do maior número de suicídios no Ocidente. No Ocidente, também, mais americanos cometem suicídio que qualquer outro povo porque eles são os mais afluentes, eles são os que mais estão em estado de choque: “Todas as esperanças pelas quais nós vivemos por séculos estão realizadas e ainda assim nada está realizado”. E vai ser assim cada vez mais: mais e mais pessoas irão cometer suicídio. Friedrich Nietzsche está certo: o homem ordinário não pode viver sem ilusões. Não tire as ilusões dele!
  • 43. E o Mestre faz exatamente isto: ele tenta tirar suas ilusões. Ele cria uma situação na qual, ordinariamente, você cometeria suicídio. Mas se você for afortunado o bastante para comungar com um Mestre, a mesma situação cria sânias. É a mesma situação, a mesma crise! Essa é a minha observação: que o verdadeiro sânias acontece somente quando você chegou à beira do suicídio. Quando você vê que o mundo exterior está acabado, então só há duas alternativas: ou cometer suicídio e estar acabado porque não há mais motivo para viver, ou se ligar. “O mundo exterior falhou, agora deixe-nos tentar o interior”. Isto é sânias. Sânias e suicídio são dois aspectos da mesma moeda. Se você está focado e obcecado com o exterior, então, suicídio; se você estiver um pouco solto, flexível, então sânias. Mas um Mestre não pode ser diplomático. Ele tem que criar essa crise na qual o suicídio é possível — e também sânias, também transformação, também um novo nascimento. Mas um novo nascimento é possível somente quando você morre para o velho, quando você morre para o passado. O elegante manequim de Cintia tinha sido colocado dentro de um bonito e colante vestido e durante toda a noite ela fez questão de chamar a atenção do seu namorado para ele. Finalmente, durante um drinque no seu apartamento, ele disse: “Você falou sobre esse vestido a noite toda. Você chamou a minha atenção para ele primeiro quando nos encontramos para os coquetéis, mencionou-o novamente no jantar, e ainda de novo no teatro. Agora que nós estamos sozinhos no meu apartamento, o que você diz de deixar cair o assunto?” Isto é diplomacia! Mas mestres simplesmente chamam uma espada de espada. A verdade deles é completamente nua; quer você goste ou não, não importa. Eles não podem se comprometer com seus gostos. Se eles começam a se comprometer com seus gostos, eles não são de nenhuma valia para vocês. Comprometer-se com você significa comprometer-se com seu sono, sua inconsciência, sua mecanização. Comprometer-se com você significa parar de lhe acordar. Isto não é possível. Consequentemente, Satsanga, eu não posso ser diplomático. Além do mais, eu não sou britânico. Outro dia eu estava falando sobre a pobre mãe de Anurag — uma perfeita dama inglesa! —, mas ela não estava aqui, como era de esperar. Ela esteve aqui somente uma vez em muitas semanas. Ela simplesmente fica sentada no hotel, completamente entediada — como toda pessoa britânica é entediada! Pobre Anurag — eu me refiro a ela assim porque ela está passando por algo realmente horrível. Agora eu tenho que chamá-lo horrível, eu não posso ser diplomático! Ela conseguiu fazer com que sua mãe escutasse a fita, e depois que ela a