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Curso Pré-ENEM 7 Linguagens
Tema
A dissertação 1
Tópico de estudo
Estrutura básica do texto dissertativo.
Entendendo a competência
Competência 1 – Demonstrar domínio da norma da língua escrita.
A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.
A candidata demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando nenhum desvio gramatical leve e de
convenções da escrita. Assim, o mesmo desvio não ocorre em várias partes do texto, o que revela que as exigências da
norma padrão foram incorporadas aos hábitos linguísticos.
Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para
desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo.
A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.
A candidata desenvolve muito bem o tema, explorando os seus principais aspectos. A redação contém uma argumen-
tação consistente, revelando excelente domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo. Isso significa que o texto está
estruturado, por exemplo, com: uma introdução, em que a tese defendida é explicitada; argumentos que comprovam
a tese, distribuídos em diferentes parágrafos; um parágrafo final com a proposta de intervenção funcionando como
uma conclusão. Além disso, os argumentos defendidos não ficam restritos à reprodução das ideias contidas nos textos
motivadores nem a questões do senso comum.
Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa
de um ponto de vista.
A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.
A candidata seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema proposto de
forma consistente, configurando autoria, em defesa de seu ponto de vista. Explicita a tese, seleciona argumentos que
possam comprová-la e elabora conclusão ou proposta que mantenha coerência com a opinião defendida na redação.
Percebe-se também uma visível preocupação da candidata em fazer referências a aspectos da realidade, o que leva a
uma argumentação mais convincente e crítica.
Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumen-
tação.
A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.
A candidata articula as partes do texto, sem inadequações na utilização dos recursos coesivos. É nítida a sequência
de ideias, que vão sendo montadas de forma harmônica e gradual. Os conectivos são muito bem escolhidos, tanto no
aspecto inter como intraparagrafal.
Curso Pré-ENEM 8 Linguagens
Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos.
A candidata elabora proposta de intervenção clara e inovadora, relacionada à tese e bem articulada com a discussão
desenvolvida no texto. São explicitados os meios para realizá-la. Essa qualidade é bastante impactante no texto acima,
pois citam-se os serviços sociais, que precisam ser assegurados, o planejamento do Estado, assim como também as
campanhas governamentais. Isso demonstra a profundidade da visão cidadã da candidata e a relevância do tema
discutido.
Situações-problema e conceitos básicos
1. As informações sobre a redação do Enem
De acordo com o Edital, publicado em maio, o Inep garantiu, mais uma vez, a tipologia textual a ser cobrada no
próximo concurso:
A matriz de redação do Enem considera cinco competências cognitivas, que servem de referência para a
correção do texto elaborado pelos participantes do Exame. O texto referido é do tipo dissertativo-argumentativo e
deve ter de sete até o máximo de trinta linhas.
Nesse sentido, cabe-nos, neste primeiro momento, conhecer a estrutura mínima de avaliação textual:
a dissertação.
2. Tipo de Texto: Dissertação
Muitos estudantes apresentam um grande desconforto no que diz respeito ao modelo de texto cobrado pelo
vestibular. Tempo escasso, muitas ou poucas linhas, temas nem sempre tão compreensíveis, coletânea pobre são
alguns exemplos do tipo de preocupação que acomete os alunos. Entre as dificuldades, destaca-se a necessidade de
adequar-se a um modelo um tanto quanto técnico de texto: a dissertação.
Não há dúvidas de que esse tipo de texto apresenta uma série de características que mais parecem limites à
criatividade ou à liberdade do aluno. Porém, tal modelo não foi escolhido ao acaso. Com o crescimento da demanda
por um lugar no ensino superior e a relativamente pequena oferta de vagas nos cursos de qualidade, não é preciso
ser um gênio da lógica para compreender que a concorrência torna necessária uma avaliação comparativa justa. Ou
o mais perto da justiça que seja possível a um exame de que participam cerca de sessenta mil candidatos.
Dessa forma, os tais limites que assustam a todos nada mais são do que parâmetros de comparação. Afinal, como
seria possível colocar em uma ordem de qualidade textos tão distintos quanto um poema, uma descrição ou uma
carta administrativa? Não seria ainda mais injusto compará-los, hierarquizá-los com notas diferenciadas?
No entanto, persiste a crítica de que essa escolha das Bancas estaria privilegiando um aluno “mecanizado”, que
não pensa de forma independente ou que sabe apenas responder a estímulos óbvios. Tudo isso se torna exagero
adolescente quando olhamos as provas com atenção.
De fato, tanto a elaboração dos temas quanto a correção das provas pelas Universidades demonstram crescente
preocupação em medir o senso crítico, a inteligência estratégica, a concentração, a habilidade de articular idéias,
o uso diferencial dos dados da realidade, enfim, a capacidade de absorver a realidade em que vivemos e produzir
idéias sob a forma escrita.
Na realidade, portanto, as Bancas estão nos dizendo: é possível conciliar limite e liberdade. Trata-se, se
pensarmos bem, do grande desafio que nos é dado ao viver em sociedade. Em outros termos, precisamos entender
as regras do jogo, mas não devemos cair na chamada “receita de bolo”, quando copiamos um padrão, sem refletir
sobre ele.
Portanto, para cumprir com rigor nosso objetivo na Redação do vestibular, é necessário que conheçamos, em
primeiro lugar, quais são os tais limites. O primeiro deles é objeto desta ficha: o modelo dissertativo.
3. Características da Dissertação
O texto dissertativo é, por definição, aquele em que desenvolvemos um tema com o objetivo de esclarecer seus
aspectos principais e, eventualmente, apresentar nosso ponto de vista. Quando esse tipo de texto faz apenas um
panorama das idéias principais relativas ao tema, sem defender uma opinião específica, ele recebe a designação
Curso Pré-ENEM 9 Linguagens
de dissertação expositiva; quando, ao contrário, o objetivo do autor é convencer os leitores de seu ponto de vista,
trata-se de uma dissertação argumentativa.
Em geral, as provas de vestibular não costumam fazer menção a textos puramente expositivos. Espera-se que
o candidato apresente senso crítico em sua redação e, para isso, nada melhor do que redigir uma argumentação
propriamente dita. Assim, sempre que falarmos de dissertação, estaremos fazendo referência aos textos de caráter
argumentativo, mesmo que essa denominação não seja explicitada.
a) Tema
Em qualquer prova de redação, há sempre um tema a ser desenvolvido. Isso se faz necessário a fim de que os
textos de milhares de candidatos possam ser comparados segundo um critério comum. Por essa razão, qualquer
fuga à proposta feita pela Banca é vista como falha grave, podendo, em muitos casos, levar à anulação da prova.
Apesar do medo decorrente desse aspecto, é assustador o número de alunos que foge total ou parcialmente ao tema
proposto, o que pode ser explicado pelas condições de tensão a que estão submetidos naquele momento. Assim,
faz-se imprescindível ter toda concentração na interpretação da tarefa a ser executada.
b) Defesa de um ponto de vista
Considerando o caráter argumentativo de que falamos, não será difícil perceber que é necessário “tomar partido”
em qualquer redação de vestibular. Assim como convencemos nossos pais a nos deixarem chegar tarde após uma
festa, precisamos de todas as armas necessárias a levar o leitor a concordar — pelo menos em tese — com nossa
opinião. Essa é uma tarefa que faz uso constante do raciocínio lógico e da organização das idéias.
Cumpre ressaltar, a esse propósito, que as Bancas não avaliam qual é o ponto de vista do candidato, uma vez que
todos temos liberdade de pensamento. No entanto, como em sociedade não basta ter uma opinião, sendo preciso
justificá-la e fundamentá-la, os examinadores procuram avaliar essas competências na correção das provas.
c) Linguagem Impessoal
Por se tratar de texto técnico, a dissertação deve tratar do tema proposto com uma linguagem impessoal. Além
da credibilidade alcançada, obtém-se a vantagem de tornar a redação até mesmo mais consistente, ao tratar da
opinião defendida como uma verdade indiscutível. É por essa razão que evitamos a 1ª pessoa do singular (“Eu”;
“penso”; “na minha opinião” etc.), o que, além de tudo, seria redundante, uma vez que o texto é escrito por apenas
uma pessoa e contém suas idéias.
d) Objetividade
Além da linguagem, espera-se que o redator de uma dissertação seja capaz de tratar o tema com critérios
objetivos. Dito de outro modo, seria inadequado deixar-se influenciar por aspectos emocionais e religiosos, por
exemplo, ao discutir um tema como a legalização do aborto. Embora existam razões respeitáveis do ponto de vista
puramente irracional, eles não se combinam com o caráter exclusivamente racional da dissertação.
e) Modalidade Escrita / Padrão Culto
Ninguém precisa ter conhecimento profundo de gramática para saber que existem profundas diferenças entre
uso oral do idioma e sua utilização escrita. Palavras como “aí” e “coisa”, por exemplo, só fazem sentido se houver um
contexto físico que esclareça seus significados. A repetição de palavras, também, é fundamental em um diálogo, para
que o assunto permaneça despertando atenção. Na escrita, entretanto, a imprecisão do vocabulário e as repetições
lexicais, entre outros aspectos, constituem inadequações a serem evitadas.
Ao mesmo tempo, por se tratar de uma prova integrante da disciplina Língua Portuguesa, a redação deve ser
produzida dentro dos limites da norma culta, ou seja, sem erros gramaticais. Isso não significa que precisemos ser
sofisticados; um bom texto, claro e natural, pode fazer uso dessa norma e ser perfeitamente aceitável para o leitor
comum.
f) Estrutura Lógica
Assim como uma conversa, um filme e um dia têm começo, meio e fim, também uma dissertação é dividida em
etapas, denominadas respectivamente de introdução, desenvolvimento e conclusão. A cada uma corresponde
uma função específica dentro da estratégia maior de convencer o leitor. Ao mesmo tempo, o desempenho de cada
função pode ser feito de maneira original e inteligente, fugindo ao puro didatismo, conforme veremos depois.
Curso Pré-ENEM 10 Linguagens
g) Qualidades
Um texto dissertativo que se enquadre nos parâmetros descritos até aqui não necessariamente “merece”
nota dez. Isso porque, nesse caso, o aluno estaria apenas cumprindo suas obrigações. Além dos aspectos
fundamentais, portanto, a redação “perfeita” deve apresentar coesão, clareza, coerência, concisão, profundidade,
senso crítico e criatividade. Não é pouco, sem dúvida. Por isso, não há mágica que faça um aluno redigir melhor
da noite para o dia. Apenas aos poucos, com dedicação e reflexão, será possível incorporar tantas qualidades
ao próprio texto.
4. Análise de texto dissertativo
Observe a redação abaixo e seus respectivos comentários:
Variações linguisticas
Os artistas do final do século XIX estavam presos à formalidade, à cânones que moldavam suas formas de expressão
e comunicação. Por sua vez, no breve século XX, como diria Hobsbawn, os artistas entendiam as variações linguísticas
existentes como um ambiente culturalmente rico, que poderia ser explorado dentro da arte, assim como as vanguardas
europeias e o modernismo no Brasil. Assim, a língua e as transformações sociais caminham juntas.
É necessário perceber a importância da gramática normativa para a comunicação. Para isso, foi instituído um novo
acordo ortográfico que criou uma unidade em relação à escrita para todas as comunidades que usam o português.
Mas, a língua é a principal característica cultural de um povo, logo, o controle desse mecanismo é exercido por ele.
As variações da língua são necessárias para o desenvolvimento da língua, mas também da literatura como arte.
Visto que algumas regiões possuem características linguísticas específicas deve-se entender suas particularidades
para entender os costumes e cultura daquela região. No Brasil, por exemplo, Guimarães Rosa, representou o sertão
nordestino principalmente através da linguagem especifica da região. Com tal estratégia, Guimarães conseguiu
representar as relações humanas e sociais daquela região.
Dessa forma, entende-se que a transformação linguística é importância da sua comunidade. Tendo em vista que
o francês, o espanhol, o italiano e o português são originados do latim, fica claro que a troca entre línguas é essencial
para o desenvolvimento delas. O contato entre culturas também traz mudanças imediatas, como a criação de novos
vocábulos como xampu e abajur, por exemplo. Essas mudanças favorecem a comunicação dentro da sociedade, pois
a interlocução é privilegiada pelo aumento do número de palavras.
Conclui-se que se deve entender que a mudança da língua é inerente à ela como é necessária para o desenvolvimento
das artes e da comunicação. Assim, é necessário que o governo invista para que o povo conheça a variedade da língua
dentro de sua própria linguagem. É um absurdo que ainda exista preconceito linguístico em pleno século XXI, sendo
necessário mudarmos nossas atitudes antes que seja tarde demais para as variações linguísticas.
COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO
O tema A LÍNGUA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS refere-se, especificamente, à linguagem verbal e
como essa é influenciada pelas transformações sociais. No caso da análise do texto pela banca do ENEM, a proposta
deve ser problematizada e o candidato deve aderir a um posicionamento específico em relação a ela, visto que se
trata de um texto dissertativo-argumentativo.
Além disso, a banca cobra uma proposta efetiva de intervenção para a problemática, bem como não admite
infração aos direitos humanos, os quais devem ser valorizados e respeitados ao longo do texto.
Sob essa perspectiva, o redator do texto “Variações linguísticas”, em uma visão global, não foge do tema, mas
também não trabalha seu posicionamento de forma clara. Em primeiro lugar, ele deveria ter se preocupado em
construir um clímax argumentativo, o que não foi feito, uma vez que não houve a organização dos parágrafos em
relação à força argumentativa dos mesmos. Em segundo lugar, no parágrafo de introdução, o redator não expôs sua
tese de forma adequada, sem trabalhar de forma completa a sua ideia. Em terceiro lugar, não houve a preocupação
com a regularidade da paragrafação ao longo do texto, o que pode ser visto pela discrepância dos tamanhos dos
parágrafos, especialmente o primeiro de desenvolvimento. Isso acarretou uma falha argumentativa do parágrafo
em questão, visto que ficou superficial e limitado.
Quanto à argumentação, em geral, as ideias estão desorganizadas e, em alguns pontos, mal formuladas,
enfraquecendo o poder de convencimento do redator. Em alguns momentos, como no terceiro parágrafo de
desenvolvimento, a exemplificação excessiva e faltosa de explicação resultou na perda de teor argumentativo e na
Curso Pré-ENEM 11 Linguagens
caracterização de um parágrafo expositivo. Já no segundo parágrafo de desenvolvimento, a utilização de informações
incorretas (“sertão nordestino”) fez com que o redator fosse desautorizado, uma vez que não demonstrou domínio
completo sobre o assunto tratado.
Em relação à conclusão, o momento mais falho de todo texto, não houve o cumprimento das características
típicas de uma conclusão estilo ENEM, pois a proposta de intervenção foi vaga e pouco objetiva, o que não condiz
com os critérios exigidos pela banca. Além disso, não houve a retomada da tese exposta na introdução, ocasionando
a falta de um texto-circuito.
No texto “Variações linguísticas”, embora não tenham sido encontradas marcas de oralidades, o redator não
deveria ter utilizado palavras e expressões que indicam pessoalidade (“absurdo”, por exemplo). Essa característica,
por sua vez, não deve ser encontrada nesse tipo de texto, o qual deve ser escrito de forma objetiva e sem subjetividade,
mesmo que exija uma opinião concreta do candidato. Além disso, foram observados alguns erros gramaticais
referentes à colocação pronominal, utilização de vírgulas e crases.
Itens para avaliação
5. Exercício
5.1 A proposta temática abaixo foi exigida por uma famosa banca de vestibular:
O cartum abaixo usa o recurso do humor para sugerir um tipo de relação entre o homem e os meios de
comunicação.
MILLÔR FERNANDES www2.uol.com.br
Para você, os meios de comunicação devem sofrer alguma forma de
controle, ou todo controle representa uma censura indevida?
Observe o texto argumentativo abaixo produzido por um candidato:
Monstros lutando com a informação
A imprensa de Gutenberg ajudou no processo e na fundação da imprensa contemporânea. Com a facilidade da
difusão, os meios de comunicação se desenvolveram e atuaram de maneira primordial para o avanço da liberdade
inicial. Essa relação entre mídia, informação e poder sempre foi controversa, em função do poder subversivo e
controlador hipnotizante da primeira. A mídia é também veiculadora de informação e portadora de dados importantes
para a opinião pública.
Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da
realidade. A pesquisa pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito,
o recorte torna a informação parcial. A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia
comprometida.
Nesse sentido, é estranha a problemática encontrada com relação a temas tão polêmicos quanto a liberdade dos
meios. Quando se exige democracia, liberdade de informação, o que se quer é pluralidade de visões. Ela não pressupõe
Curso Pré-ENEM 12 Linguagens
que exista uma visão absoluta e a maioria chegará a ela. O sistema político vigente visa alcançar o mais próximo da
justiça a partir da ligação entre visões e de interpretações do real e os meios de comunicação possibilitam essas
diversas possibilidades de olhares. Quanto mais olhar, menos lugares enegrecidos em uma sociedade historicamente
marcada pela injustiça baseada no discurso de poder.
Portanto, a liberdade de imprensa não deve ser questionada em nenhum sentido, já que é uma conquista.
Obviamente excessos são cometidos pelos jornais. Entretanto, com a percepção de que existe uma realidade plural,
a melhor forma de combater uma visão única é apresentar a diversidade. O perigoso, nesse caso, é surgir o monstro
do autoritarismo que ronda. Política e internet, por exemplo, podem se ajudar reciprocamente em uma evolução que
é necessária e deve ser constante, tornando qualquer controle uma afronta a um quadro que queira ser um conjunto
de fragmentos libertários.
A partir da leitura crítica da redação, responda às questões:
1. Em uma dissertação argumentativa, uma das funções básicas do primeiro parágrafo, o de introdução, além de contextualizar
o tema é também o de apresentar a tese – o posicionamento a respeito do tema. Na sua opinião, o candidato executou essa
tarefa com perfeição? Justifique a sua resposta, tecendo um comentário crítico.
2. Observe o segundo parágrafo do texto, o primeiro de DESENVOLVIMENTO:
“Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da realidade. A pesquisa
pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito, o recorte torna a informação parcial.
A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia comprometida.”
É perceptível nele uma falha no que diz respeito à construção coesiva dos períodos. Não há um elo semântico bem montado.
Porém, além dessa falha, pode-se apontar também algo relacionado ao argumento em si. Qual a sua avaliação da qualidade
do argumento? É convincente? Construa sua resposta com a devida justificativa.
3. Na conclusão dissertativa, é comum ratificar a visão defendida ao longo do texto a fim de fechar seu teor argumentativo. No
entanto, essa retomada da tese tem que ser feita de maneira ampla para que todos os argumentos sejam contemplados.
O parágrafo em análise na redação acima cumpriu com eficácia tais comandos? Justifique a sua resposta.
Anotações
Solução comentada dos itens
1. Uma falha ainda aparece no parágrafo. O redator demonstra entendimento claro do tema, mas se limita a expô-lo.
A introdução deve pelo menos prenunciar a tese, sugerir uma linha de abordagem, se não quiser apresentar o
posicionamento na íntegra.
2. A ideia que sustenta a tese deve ser aprofundada. No desenvolvimento em questão, o argumento baseado na parcialidade
da imprensa é apenas repetido de maneira constante. Não há explicações sobre o tópico frasal. O redator poderia também
aprofundar as ideias trabalhadas com alguma outra estratégia como a causa e a consequência, por exemplo. O
desenvolvimento, ainda, não apresenta nenhum recurso criativo que o diferencie da média. Nenhuma estratégia de texto
circuito foi pensada previamente.
3. Não. O principal problema da conclusão em questão é afirmar a tese com uma séria restrição do tema. A UERJ em 2008
propôs uma abordagem ampla na questão da informação ao usar o termo“meios de comunicação”. O redator afirmou uma
tese que não abrange todo o tema e ainda não abarca os argumentos apresentados porque trata apenas da imprensa. A
banca examinadora poderia considerar uma restrição parcial, que seria atenuada pelo fato de a abordagem no texto todo
ter sido ampla.
4. Não houve pertinência, pois o termo “monstro do autoritarismo” não faz sentido com o restante do parágrafo e não
encontra par em nenhum momento do texto.
5. O parágrafo em questão apresenta uma ideia argumentativa e ela é aprofundada com certa competência. Entretanto, o
trecho apresenta alguns erros estruturais. Há, a princípio, um desequilíbrio de tamanho na relação entre esse
desenvolvimento e os outros parágrafos. Provavelmente isso aconteceu porque ele foi bem aprofundado. Além disso, a
coesão com o segmento anterior se dá de maneira muito explícita e com um período esvaziado de sentido. Isso torna o
texto mais burocrático. Vale a pena, nesse momento, elaborar uma frase que retome parcialmente a ideia anterior, dando o
Curso Pré-ENEM 13 Linguagens
gancho para o prosseguimento do argumento. No terceiro período, a retomada acontece de forma ambígua. O pronome
pessoa“Ela”pode se referir a mais de um termo anterior. Isso provoca uma falha coesiva. A melhor maneira de resolver isso
é usar um sinônimo ou repetir a própria palavra, correndo o risco de provocar “eco”. O verbo visar está sendo utilizado no
sentido de “ter como objetivo”. Nesse uso, ele é um verbo transitivo indireto. Então, ocorre um erro no critério de
modalidade de língua portuguesa. No penúltimo período, aparece uma repetição: “possibilitam” e “possibilidade”. Pode-se
usar um sinônimo também. É visível, ainda, a falta de um recurso diferencial.
Conceitos básicos e sua operacionalização
5.2. Depois de rever conteúdos desenvolvidos nesta ficha, analise o tema abaixo e a redação apresentada.
Proposta de redação
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema AS POLÍTICAS
PÚBLICAS E O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS, apresentando proposta de conscientização social que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa
de seu ponto de vista.
I. Coletânea
Leia com atenção os seguintes textos.
Abu Ghraib é aqui (fragmento)
SÃO PAULO - Deu na Anistia Internacional, a respeitada organização de defesa dos direitos humanos sediada
em Londres: as torturas generalizadas nas delegacias e prisões do Brasil são comparáveis às praticadas mundo
afora na chamada “guerra ao terror” dos EUA, tão criticada pelo governo brasileiro. Eu acho que as torturas aqui
são piores. São brasileiros torturando brasileiros na nossa também falida “guerra ao crime”, sem que nenhuma
autoridade mova uma pedra para efetivamente mudar a situação, sem que a sociedade civil mostre horror diante
do conhecido fato, sem que o Congresso brasileiro, como ocorre com o dos EUA, investigue a fundo o flagelo
de pardos, pretos e pobres em nossas jaulas. Mesmo o massacre de 111 detentos no Carandiru, em 1992, passou
impune. Ninguém até hoje cumpriu pena pelas mortes. E o coronel que comandou a operação elegeu-se deputado
por São Paulo.
MALBERGIER, Sérgio. Folha de São Paulo, 27/05/2004.
As teses, atos e fatos sobre as políticas públicas para as comunidades mais pobres estão dividindo ao meio a
cidade. Da mesma forma a repressão à informalidade apenas com vistas à visibilidade para a classe média. As
pesquisas de opinião mostram isso a cada tema levantado. E grave: induzindo (intencionalmente) a classe média
a criminalizar os pobres. Situações como essas podem produzir rupturas "culturais", quebrando a sensação
unitária de pertencimento à mesma cidade. Essa identidade sempre foi a do Rio, onde a desigualdade social
pouco afetou a unidade espacial nas praias, nos campos de futebol, na música, nas festas... Uma sensação de
não pertencimento à mesma cidade produz uma nova identificação ideológico-religiosa, que defina nitidamente
uma fronteira. Isso leva a busca de novos referentes e valores, incluindo os meios de comunicação. Já está sendo
assim, entre os mais pobres em relação à audiência da TV. E, isso, sem tocar no tema violência. Nesse caso, os
exemplos são os mais diversos em tantos países, da América Central à França. Há que se avaliar muito, refletir
muito, os desdobramentos de tais teses, atos e fatos.
Ex-Blog do César Maia
Motivado pela declaração do prefeito Eduardo Paes de que “a remoção das favelas não pode ser tabu”, o jornal
O Globo lembrou que isso já aconteceu nas cercanias da Lagoa Rodrigo de Freitas:
Curso Pré-ENEM 14 Linguagens
Ainda repercutindo essa declaração do atual prefeito, o site desse mesmo jornal propôs, na manhã do domingo
de Páscoa, uma enquete entre seus leitores: “Você é a favor da remoção das favelas?”. Mais de três mil pessoas
responderam à pergunta. 95% delas se disseram a favor.
Instruções
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
• O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas.
• A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada insuficiente e receberá nota zero.
• A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. A redação
que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas
copiadas desconsiderado para efeitos de correção.
Curso Pré-ENEM 15 Linguagens
REDAÇÃO
Políticas democráticas
As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se projetos
que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há investimento
no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência precisa ser
mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências.
Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, caímos no fato que nos remete a história brasileira
anterior ao processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre
priorizadas pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo
de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.
Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter
sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década
de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável e
formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades.
Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por
seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto
reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral.
COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO
Introdução
As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se
projetos que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há
investimento no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência
precisa ser mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências.
Comentário:Ottemappropoostoappreseentadooisasssuntossqqueeests ãodiriretammenterrelaccioi naddos,poorémnnacoontexttualizaação
inntroduutóriaa é prreciso aborrdá-loss de maneeira coonjuntnta evitanndod , asssim, um ddesennvolvimmentoo tanggenciial ao temaa. O
caandidato, nno preesentee paráágrafoo, inttroduzz apennas umma daas quuestõees preesentees na propoosta. NNo âmmbitoo ideológicoo há
doois prroblemmas: o primmeiroo é a rreduçção daas pololíticass públicass apennas àss minooriass e o ssegunndo é a asssociaçção deesse
mmesmoo penssameento à criaçção dee projojetos, destininadoss aa qqueuemm nãoo tem acessso “àss formmas dee cultuura eeruditta”. AAlém
diisso, aa discuussãoo restrringe--se sommentte ao BBrasil, qque não é citaddoo direttamennte naa frasee temaa.
Noo aspeecto ggrammatical,l, há ddesvioos relalacionaados à ccono cordânância verbrbal naa voz passiviva sinntéticaa: “crria-se projeetos”
emm que obserrvammos umm sujeeito noo plurral e seueu respectivo predicadado no singugular; nno treccho “aacessso as fformaas de
cultltura eeruditta ”, ppontuaamos aa ausêência dod acentntoo grave – às forormas dee cultuura eruudita --, paraa indiicar aa funçãão doo
commplemmento nomiminal. NNo últitimo peeríodoo constatammosos uumm problemama de rereferênncia disiscursiiva: “eesta ddeficiêência””
não rer tomma anaaforicacamentnte nenhnhum ppene samemento anterior, como nnaa aplicaaçção dee ““essaa deficiêiênciaa””.
Sugestão de reescritura
Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado
em busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse
âmbito auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam
investimentos em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças
sociológicas.
Desenvolvimento 1
Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, remetemo-nos à história brasileira anterior ao
processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre priorizadas
pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio
Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.
Comentário: Ininicic almentnte,e há a uttililizização inadequ dadaa dada ccononjjunção “entretanntoto”” que exprpressa, prpreedomininantemmente,
uma ded sconnsts ruçããoo de ideiaiass anteriormementnte apresentadas. Sua aplicaçãçãoo aantecipada oocasionaa uuma opoposiçãoo ddo quuee
fof i expoposto naa tese, oo qque prejujudica a credibibililidadadede do textxto.o. HáHá, ainda, a supupeerposiçãoo dde ideiaias em uum únnicico
peerír odo ee a utilizizaça ão inanaprp opriaddaa dod contexto histórico do Estado Novo ccoomo recursrso de intnteerdiscipipllinaridadade,
cujaa clarezaa se perddee em rellaçação ao texto.
ApA resesentam-ssee os desvivios gramaatiticais: a concordâdâncnciaia nnomominin lal e crase no trechoho ““ao procecesso de ddemocraattização.o...
vovoltada((o)o) as(às)) clc asses urrbab nas” em ququee o vocábulo “voltada” deve se relelacaciionar sinttatatiicamentee com “prprocessoo””; o
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emmpprego dodo pronoomme demononststrativo “istoto”,, qquando na verdade cabbereriaia em seu lugagarr o vocábubulol anafófórir co “isssos ”; o
eqequívococo no usoo ddo parônnimimo “mandadadodo”, que no contexto tem sentido de “mmanandad to”; o ppleleonasmoo ccaracteririzado ppela
utilizaçação doss vocábululoos “eleitooss em eleições” qqueue mmarca uma rededunundâdância.
Sugestão de reescritura
Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações
globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos
econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da
identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade.
Desenvolvimento 2
Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter
sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década
de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável
e formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades.
Comentário: A construção “como visto acima” é problemática, pois não estabelece textualmente uma relação
semântica clara com as ideias apresentadas anteriormente, além de se caracterizar como uma forma de pouco
engajamento do texto. Os três sintagmas “variadas formas”, “âmbito citado” e “ideologias apresentadas” apresentam-
se de modo vago e pouco esclarecedor no parágrafo. Além disso, a expressão “ciclo vicioso” é um clichê bastante
recorrente em textos argumentativos, uma vez que constitui um vício de linguagem, resolvido a partir de sua troca
pela expressão equivalente “círculo vicioso”. Ainda, a estrutura adverbial “a partir desse argumento” é vaga, pois
não há um embasamento sobre o qual podemos associar essa assertiva. Por fim, com a inserção do trecho “conter os
problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades” há uma visão reducionista que nos remete a restrição
dos problemas aos âmbitos recortados.
No que tange à estruturação, observa-se a ausência de vírgulas: anterior à oração adverbial “já que os indivíduos
caracterizam-se...”, posterior à construção adverbial “a partir desse argumento”. Também no vocábulo paroxítono
“individuos ” não há a marcação gráfica na sílaba tônica, a saber, “indivíduos”.
Sugestão de reescritura
Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas
públicas, não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes
para a resolução das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte,
uma análise acerca dos resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção
das medidas apresentadas.
Conclusão
Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por
seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto
reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral.
Comentário: Em um primeiro momento, localiza-se a expressão “conclui-se que” que revela pouco engajamento
textual e constitui um clichê recorrente em textos argumentativos. Há um tom panfletário no primeiro período do
texto, especificamente no trecho “criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus
direitos nas ruas”.
Consnstata-sse a suupep rpososição ddas estruutut ras encaabebeçaçadas pela pprerepposição dee:: “a necesessidadede da crcriaçãoo de mmeedidaas
ded cononscienntizaçãoão da poopup laçãão”o . Além ddisso, há um desvio ortográficoo eem relaçãçãoo à palalavra “rreeinvinnddicanddo”, quque
éé grg afadada “reieivindiccana do”.”
Sugestão de reescritura
É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas,
quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas,
devem-se redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de
modo a preservar um desenvolvimento aplicado.
COMENTÁRIO GERAL
Com relação à contextualização temática da redação mediana, encontram-se algumas carências ligadas à
abordagem: “Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por
buscar o segundo mandado.” A utilização do dado histórico como inclusão de interdisciplinaridade ao texto, além
de caracterizar uma falha relacionada diretamente à compreensão do texto, devido à falta de conexão das ideias
Curso Pré-ENEM 17 Linguagens
propostas, demonstra também a argumentação sem fundamentação, pois não apresenta um desenvolvimento ao
longo do parágrafo. Equívocos como esse podem ocasionar na perda de pontos nas competências 2 e 3 do ENEM,
principalmente interdisciplinaridade e argumentação, respectivamente.
Ainda sobre a abordagem argumentativa, há alguns desvios sutis relacionados à colocação de alguns termos
como, por exemplo, “como visto acima”. A seleção inadequada desses vocábulos pode comprometer sua coesão.
No entanto, não observamos problemas de coerência nesse texto, visto que as ideias estabelecem relação interna.
Há, ainda, a restrição temática focada somente às questões brasileiras, assunto não explicitado especificamente
na frase tema. Desse modo, sua abordagem pode ser considerada limitada, assim como sua interpretação e seu
entendimento sobre a proposta.
Relacionados à norma culta, há alguns desvios, não tão marcantes, mas que podem acarretar, também, perda
de poucos pontos na primeira competência – norma culta – como podemos ver em “mandado” e “ciclo vicioso”.
A última, além de ser considerada uma expressão de utilização clichê, comprometendo o estilo criativo de seu
texto, é escrita erroneamente, a saber, “círculo vicioso”. Embora as competências mais características do ENEM
sejam interdisciplinaridade e proposta de intervenção, normal culta é igualmente pontuada, visto que todas as cinco
competências tem o mesmo valor de pontuação: 200 pontos.
Sobre a conclusão da redação, há a exigência especificamente da elaboração de uma proposta de intervenção
que respeite os direitos humanos. Entretanto, não são consideradas todas as propostas que apenas apresentem um
tom interventivo. É preciso elaborar uma intervenção que seja concreta e viável, principalmente, além de objetiva
e que não restrinja as ideias a nenhum grupo social, econômico ou político. Propor medidas apenas às escolas, ou
governantes, por exemplo, além dessa restrição, apresenta a visão limitada acerca da problematização desenvolvida
ao longo do texto. Apresentar, também, uma retomada clara de sua tese, atribui à sua redação a característica de boa
compreensão textual além de uma conclusão coerente com seus argumentos.
UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR
Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado em
busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse âmbito
auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam investimentos
em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças sociológicas.
Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações
globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos
econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da
identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade.
Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas públicas,
não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes para a resolução
das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte, uma análise acerca dos
resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção das medidas apresentadas.
É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas,
quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas, devem-se
redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de modo a preservar
um desenvolvimento aplicado.
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Tema
A dissertação 2
Tópico de estudo
Planejamento de texto: leitura da coletânea, construção de teses e seleção de argumentos.
Situações-problema e conceitos básicos
1. O planejamento
Há muitas e diferentes maneiras de se montar um texto. Existem os que pensam em começar a escrever a partir
da famosa “inspiração”. Ficam horas esperando cair algo mágico no pensamento, para que aquilo se torne um bom
argumento, o que vamos considerar logo de antemão que isso poderia até funcionar, mas não para algo lógico e
convincente como se espera de uma dissertação argumentativa. Talvez fosse uma boa estratégia para as narrativas,
por exemplo.
No entanto, medidas como chuva de ideias, desdobramento da palavra-chave, escolha de um tópico frasal podem
ser úteis, mas nada disso garante uma eficácia no desenvolvimento e qualidade dos argumentos. Encontramos
muitos problemas em texto de concursos como: a fuga ao tema, a contradição, a redundância, a falta de organização
lógica dos argumentos e, muito disso, em função de muitos alunos preferirem ir escrevendo à medida que vão
pensando sobre o assunto.
Nesse sentido, pensamos que é categórico o aluno saber conduzir seu texto antes de começar a escrevê-lo,
para evitar problemas desse tipo. Para isso, após selecionar sua tese, o aluno deve listar, num rascunho, todas as
suas idéias/ argumentos sem censurar, nem descartar nada. Nessa etapa, é fundamental não ser crítico consigo
mesmo para que tenhamos um material extenso a ser trabalhado. Após isso, nossa tarefa é organizar essas ideias,
eliminando aquelas que não atendem diretamente ao tema e associando aquelas que são afins.
Nesse momento, o aluno precisa lembrar que cada tópico deverá corresponder a um parágrafo, e, com isso, o
senso crítico deve vir à tona: devemos pensar na relevância, na originalidade, na solidez das ideias selecionadas.
Por fim, temos que organizar nossos argumentos segundo um projeto de redação. Sugerem-se, inclusive, algumas
perguntas que o aluno pode fazer na hora de criar esse roteiro:
a) O que eu pretendo defender?
b) Qual a relevância de eu apresentar este tópico?
c) Qual o desdobramento desse item?
d) Estou montando uma linha de raciocínio coerente com a minha tese principal?
Deve-se pensar na fluidez do texto, na seqüência lógica de idéias, na gradação crescente dos argumentos até
chegarmos à conclusão. Com certeza, trata-se de um processo de extrema importância para quem pretende escrever
um bom texto. Veja abaixo as etapas de construção do planejamento até a produção final.
a) Interpretação e compreensão da frase-tema
• Analisar a estrutura da frase-tema;
• Identificar a palavra-chave;
• Observar elementos de restrição ou de ampliação.
Curso Pré-ENEM 19 Linguagens
b) Levantamento de ideias
• Montar uma estratégia de brainstorming – anotar tudo no papel que venha à mente naquela hora;
• Buscar os porquês daqueles pontos;
• Sugerir exemplos/situações notórias para fundamentar exposições.
c) Seleção e organização dos argumentos
• Decidir quais ideias mais relevantes para o raciocínio final;
• Criar a sequência coerente entre os pontos escolhidos;
• Proporcionar um clímax crescente – o último argumento tende a ser o mais impactante.
d) Elaboração final
• Checar todas as partes do texto;
• Verificar a relação entre os parágrafos;
• Tentar montar um “algo a mais” – uma estratégia diferenciada para a conclusão ou um texto-circuito.
2. Coletânea de textos
De fato, as mudanças estruturais na educação brasileira, sobretudo na última década, têm tido enorme influência
nos modelos de vestibular. Uma das conseqüências mais evidentes diz respeito à forma de apresentação das
propostas de redação. Antes limitados a duas ou três frases, muitas vezes enigmáticas, os temas passaram a incluir
fragmentos de textos teóricos, trechos de leis, letras de música, poemas, charges e fotografias, enfim, uma coletânea
de ideias e informações para ajudar o aluno a construir seu texto.
Dessa maneira, o ato de redigir propriamente dito é antecedido de um ato de leitura. A rigor, é com o material
fornecido pela Banca que o aluno saberá orientar sua redação sem se perder nos inúmeros caminhos que lhe
ocorrem ao ler o tema. Ao mesmo tempo, ele deverá exercer — e demonstrar — sua capacidade de absorver o
conteúdo apresentado, adaptando-o a seu projeto de texto, como que numa atividade de reciclagem criativa.
Com frequência, porém, os candidatos confundem uso com cópia ou citação literal. A esse respeito, cumpre
lembrar que os fragmentos fornecidos precisam ser interpretados para que se aproveite deles apenas o essencial.
Com essa compreensão, o aluno passa a associar as informações e ideias apresentadas, somando-as às suas. Só
assim, ele terá utilizado de forma inteligente e ativa a coletânea. Mais uma vez, portanto, não existe uso fácil; por
outro lado, para quem não tem medo de pensar, eis uma excelente oportunidade de enriquecer a redação.
Para fazer uma utilização inteligente dos textos da coletânea, é preciso ter uma postura ativa no momento da
leitura. Sublinhar palavras ou frases, reler o fragmento várias vezes, sintetizar a idéia central, estabelecer relações
com outras ideias, refletir sobre o texto são algumas das tarefas a serem cumpridas.
Em todo caso, podemos exemplificar o que seria um uso bem feito de uma coletânea. Para isso, selecionamos um
tema exemplar, proposto pelo Enem em 2004:
Leia com atenção os seguintes textos:
Texto I
Caco Galhardo. 2001.
Texto II
Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam
curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem
nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem
barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito
o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no
massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando.
BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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Texto III
Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema complexo porque remete para a questão da responsabilidade não
só das empresas de comunicação como também dos jornalistas. Alguns países, como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm
há anos tentando resolver o problema da responsabilidade do jornalismo por meio de mecanismos que incentivam
a auto-regulação da mídia.
http://www.eticanatv.org.br Acesso em 30/05/2004.
Texto IV
No Brasil, entre outras organizações, existe o Observatório da Imprensa – entidade civil, não-governamental e
não-partidária –, que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua página eletrônica , lê-se:
Os meios de comunicação de massa são majoritariamente produzidos por empresas privadas cujas decisões
atendem legitimamente aos desígnios de seus acionistas ou representantes. Mas o produto jornalístico é,
inquestionavelmente, um serviço público, com garantias e privilégios específicos previstos na Constituição Federal,
o que pressupõe contrapartidas em deveres e responsabilidades sociais.
http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br (adaptado) Acesso em 30/05/04.
Texto V
Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988:
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença;
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
• Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte tema:
Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?
2.1. Análise
Sobre a proposta trata-se da questão da imprensa e do impacto de seus conteúdos na sociedade.
Para guiar o aluno em suas reflexões sobre o papel da imprensa, o tema de redação do Enem 2004 apresentou
uma charge de Caco Galhardo na qual um aparelho de TV é representado por uma lata de lixo. A imagem trazia
para o centro da proposta a problemática dos conteúdos midiáticos no Brasil, especialmente o que o senso comum
chama de “baixaria” – a lixocultura como centro das atenções.
No segundo texto, o autor evidencia a questão da espetacularização da realidade - a mídia invade a intimidade
alheia, o grotesco do examinado. Tudo em busca de uma maior adesão e aplauso do público.
No terceiro texto, o enfoque gira em torno da regulação da imprensa. Como poderíamos estabelecer os limites
na abordagem das notícias e no nível das reportagens.
No penúltimo, cita-se a existência de um blog que faz uma espécie de vistoria sobre as coberturas jornalísticas.
Evidencia-se uma crítica em função das coberturas interesseiras e parciais dos principais órgãos midiáticos.
Por fim, apresentam-se fragmentos da Constituição para fundamentar o aspecto da liberdade na cobertura das
informações, assim como a garantia ao respeito das imagens das pessoas.
3. Elaboração da tese
Com frequência, observam-se redações muito bem escritas, bem apresentadas e de acordo com o tema proposto
que, no entanto, parecem desinteressantes, como se não tivessem algo a dizer. Esse problema é típico de redatores
que querem enquadrar seus textos em “fórmulas” e que não refletem sobre o problema a ser discutido. Em geral,
leitores desatentos considerariam razoáveis essas redações “certinhas”, mas os examinadores das bancas procuram
mais do que organização: eles preferem textos que transmitam uma mensagem, por mais simples que seja.
Um bom indício de uma redação vazia está em sua introdução. Com dois ou três períodos, distribuídos em cinco
ou seis linhas, em que se apresenta o tema e se enumeram os argumentos, esse parágrafo poderia ser utilizado por
virtualmente todos os candidatos. Qual é, nesses casos, o problema central? A resposta não é difícil: trata-se da
ausência de uma tese que sustente o projeto do texto.
Em uma concepção simples, tese seria a ideia ou eixo fundamental que existe sob toda a argumentação
desenvolvida ao longo do texto. Normalmente, constitui uma resposta sintética para a pergunta que foi feita
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— se esse for o caso — ou uma maneira pessoal de recombinar as palavras do tema. Funciona, portanto, como a
essência que sobraria se tivéssemos que reduzir o texto a um único período.
Dito de outro modo, a tese caracteriza-se por ser uma expressão de um ponto de vista pensado pelo autor
acerca da questão proposta. Isso significa, em primeiro lugar, que a elaboração dessa idéia central não costuma ser
imediata ou automática, demandando certo tempo para meditação. Entretanto, uma vez elaborada, a tese permite
um fácil desenrolar das ideias, contribuindo até mesmo com outros aspectos importantes, de que trataremos ainda
hoje
É preciso estarmos cientes, porém, de que não existe uma técnica ou método geral a ser aplicado por todos a
fim de se elaborarem suas teses. Isso seria até contraditório em relação ao que dissemos. Por isso, procuraremos
demonstrar essa teoria com alguns bons exemplos, que não são — nem poderiam ser — modelos.
3.1. Reconhecimento do problema
• Leia o parágrafo a seguir, que serviu de introdução a um texto sobre a situação dos negros no Brasil hoje:
Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade
da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas
de preconceito. Para compreender — e superar — esse panorama, faz-se necessário analisar os fatores sociais,
econômicos e políticos que sustentam a vergonhosa distribuição racial brasileira.
Com certeza, essa introdução é bem redigida, clara e objetiva. Falta-lhe, entretanto, uma idéia central. Compare-a
com os parágrafos que se seguem:
Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da
distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de
preconceito. Esse panorama constitui mais uma faceta de um grave vício brasileiro — elaborar soluções verbais para
problemas concretos. Entretanto, enquanto se proferem belos discursos, as vítimas continuam a sofrer.
Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da
distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de
preconceito. Ao mesmo tempo, exaltamos a miscigenação étnica como uma marca brasileira diante da intolerância
global. Entretanto, este é o problema — sob o mito da mistura racial, ocultamos um racismo ainda mais perverso, que
não tem sequer uma face visível.
• O parágrafo a seguir é a introdução de uma redação para o tema “Democracia e desigualdade social no Brasil.”
Observe que a capacidade de síntese de seu autor produziu um bom exemplo de texto:
Sabe-se que o Brasil é, historicamente, marcado por absurdas desigualdades sociais e por nenhuma medida política
eficaz para, pelo menos, amenizá-las. Nesse contexto de displicência governamental, o abismo entre as classes apenas
aumentou, chegando, nos dias atuais, a uma assustadora realidade de divisão e segregação. O paradoxal, no entanto,
é que mesmo em um país de gritantes diferenças, há quem acredite viver em uma plena democracia.
Em geral, quando a frase-tema possui forma interrogativa, construímos nossas teses respondendo à pergunta
proposta. Quando ela possui estrutura afirmativa, a tese surge quando problematizamos a questão, combinando
as palavras da frase-tema de uma maneira pessoal. Uma vez elaborada, a tese se torna o eixo central de toda a
argumentação do candidato: em todos os parágrafos, necessariamente, deve-se buscar fazer uma referência
implícita ou explícita a ela. Se a tese é pessoal, não é possível encontrar um método universal para estabelecê-la. Só
a prática será capaz de fazer com que o aluno a construa de maneiras cada vez mais interessantes para tornar seu
texto mais atraente.
Itens para avaliação
4. Exercício
4.1 Interprete de forma completa o tema abaixo:
A partir dos trechos abaixo, elabore um texto dissertativo-argumentativo em que você apresente suas
reflexões sobre o brasileiro e a questão da moral.
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Texto I
“Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os
brasileiros são moralmente frouxos mesmo. Isso ninguém discute.”
Diogo Mainardi
Texto II
Cena 9 - Canção do exílio
Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem uma
pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, claro, que tinta é
a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15,
M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada.
Elas não são mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade
e aflição.
Fernando Bonassi
Texto III
Ser brasileiro
Somos um povo sui generis em vários aspectos. Alguns ditados populares têm lá a sua razão de ser. Aqui há
“leis que pegam” e “leis que não pegam”, depende de a quem se aplica. A rigidez da letra fria da lei esbarra no
“jeitinho brasileiro”, no “favor”, no quebra-galho. Sérgio Buarque de Hollanda aponta algumas características
de nossa formação social no clássico “Raízes do Brasil”. Somos um povo cordial e intimista. Em que outra nação
conhecem-se as pessoas pelo apelido diminutivo, inclusive após o honorífico, como por exemplo: “Seu Luizinho”, “Dona
Candinha”... Até alguns santos merecem tratamento informal, como Santa Terezinha e o Menino Jesus por exemplo.
Lázaro Curvelo Chaves
1. Analise a proposta, determinando especificamente o que deve ser abordado.
2. Elabore uma tese que servirá de base para a defesa do ponto de vista sobre o tema.
3. Levante três argumentos que serão usados como base para a sua tese.
4. Agora, confeccione um parágrafo argumentativo com cerca de seis linhas baseado em um de seus argumentos citados.
Anotações
Solução comentada dos itens
1. Considerando que análise de palavra-chave é uma etapa fundamental da interpretação temática, é importante que o aluno
saiba conceituar moral. Seria impossível, por isso, fugir da questão da ética. Portanto, é importante perceber basicamente:
a questão da assimilação social dos valores – que fundam e fundamentam regras de convívio – e a idéia de “fazer a coisa
certa sem que isso seja uma regra/ordem”. Um bom recorte para a relação entre a questão moral e o brasileiro é partir das
noções de moral individual e moral coletiva.
2. A falta de seriedade do brasileiro é fruto de uma alienação forçada que, por sua vez, é fruto da influência, na moral
individual, da falta de moral social.
3.
A1) O excesso de comportamentos desviantes cria uma nova noção de certo e errado. Assim, há uma banalização do erro,
que é repetido sem medição de conseqüências.
A2) A compreensão plena da questão moral só se dá na fusão entre o individual e o coletivo. O“mas todo mundo faz/faria
isso”cria uma aceitação social de condutas imorais.
A3) Por mais que a moral individual crie, para o brasileiro, determinadas regulações – sanções, impedimentos e até mesmo
culpa – a freqüente corrupção da moral coletiva, observada por ele em seu cotidiano, pode motivá-lo a ferir a sua também.
4. Mais um fator interfere na relação entre o brasileiro e a moralidade: a falta de moral social. Por isso, mesmo quando ele
possui valores sociais e costuma obedecer a regras de convívio, pode perceber condutas imorais de outras pessoas de seu
convívio. Condutas, inclusive, muitas vezes bem recompensadas ou, de alguma forma, vantajosas. Assim, ele se sente
incitado a desrespeitar a moral também.
Curso Pré-ENEM 23 Linguagens
Conceitos básicos e sua operacionalização
4.2. Sua tarefa, agora, é interpretar o tema, elaborar uma tese e planejar a organização dos argumentos para cada uma
das propostas apresentadas.
Leia o texto a seguir:
Texto I
Em uma passagem por São Paulo, o escritor Mia Couto brindou sua platéia com pérolas moçambicanas. O
autor de O Outro Pé da Sereia observou que seus conterrâneos têm dificuldade para dizer não, como se a negação
representasse uma forte desavença. Certa vez perguntou a um pescador se a maré estava a subir e colheu a seguinte
evasiva: “Sim, está a subir, mas já começou a descer”. D’outra ocasião, exercia atividades de biólogo em uma
praia e avistou um pássaro. Interessado, perguntou a um nativo próximo: “Qual o nome daquele pássaro?”, ao
que o interlocutor respondeu: “A esse pássaro nós aqui chamamos de sapo”. Em um terceiro evento, perguntou
a um produtor, beneficiado por uma determinada política pública, se sua vida havia melhorado, ao que o dito
produtor retornou: “Está a melhorar a vida, mas está a melhorar muito mal”. Moçambique não tem apenas a língua
e a colonização portuguesa em comum com Pindorama. Os habitantes daqui e d’acolá parecem intimidados pela
possibilidade de terem de dizer não. Nos trópicos sul-americanos, como na África Austral, dizer não parece ser um
convite ao constrangimento. Se não for acompanhada de mesuras e compensações, a temerária conduta poderá
colocar em risco Mia Couto amizades e relações profissionais, ou despertar sentimentos de vingança. Qual é a raiz?
A primeira hipótese, obviamente, é o passado colonial. Sociedades coloniais são assimétricas. Moçambique livrou-
se do jugo há três décadas; Pindorama, há quase dois séculos, mas ainda não se emendou.
“O projeto estará pronto até o fim do mês?” “Certamente.” “O carro estará reparado até o fim da semana?”
“Sim, sem sombra de dúvida.” Naturalmente, não se pode tomar tais respostas por seu valor de face. Tais respostas
significam que, findo o prazo, os assuntos apenas começarão a ser considerados. A chance de os trabalhos serem
terminados no momento prometido é, como se sabe, remota ou nula.
WOOD, Thomas Jr. A Terra do Não. Em Carta Capital, junho de 2006.
Texto II
Conte quantas vezes você fala “sim” e “não”. O sim é pouco usado. Pois as línguas já são naturalmente afirmativas.
Mas a negação precisa ser explícita. O francês nega usando duas palavras — “ne pas”. O inglês pede ajuda a um
verbo — “do not”. Quem fala, afirma. Se quiser soar democrático, usa os cansativos “na minha opinião” ou “eu acho
que” para disfarçar o autoritarismo do discurso.
Jornalistas escondem a assertividade* implícita nas perguntas usando o “aí”. “O que o senhor tem a dizer aí
sobre o mercado na semana passada?”. Como se a indicação de lugar-aí-abrisse várias possibilidades de resposta.
Há quem use o “pô” mal educado como vírgula ou pedido de desculpas, da mesma forma que alguns americanos
usam o “you know”.
Não adianta — a língua revela despudoramente a pretensão de saber ou poder de quem fala Por outro lado,
discursamos apenas sobre o que é discutível ou falso. “Eu sou honesto”. Na turbulência, a aeromoça afirma: “A
situação é normal”. O evidente e o óbvio passam em silêncio.
SAYAD, João. Pas du tout, Folha de S. Paulo, 29/05/2006.
*assertividade = capacidade de dizer aquilo que se pensa, que se julga correto.
• Com base na leitura dos textos apresentados, escreva um texto dissertativo que deverá ter como tema:
Como conciliar, na vida profissional, assertividade e bom relacionamento?
Sua redação deverá ser escrita em prosa e obedecer aos padrões da norma culta do português do Brasil.
Para apoiar a discussão, a proposta apresentou dois textos em cujas idéias o candidato poderia se basear.
O texto I, de Thomas Wood, foi publicado pela revista Carta Capital e relatava uma observação feita pelo
escritor moçambicano Mia Couto: o fato de habitantes dos trópicos sul-americanos e da África Austral sentirem-se
intimidados pela possibilidade de terem de dizer não. Parece que o ato de dizer não, para essas pessoas, representa
um convite ao constrangimento, que poderia colocar em risco amizades e relações profissionais, ou até mesmo,
despertar sentimentos de vingança.
O texto II, de João Sayad, publicado pelo jornal Folha de São Paulo, tratava do fato de as línguas serem
naturalmente afirmativas e, sendo assim, revelarem “despudoradamente” a pretensão de saber ou poder de quem
fala.
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Considerando essas reflexões, o candidato poderia questionar o fato de como a comunicação, no ambiente de
trabalho, pode impactar no desempenho da empresa.
Em geral, na relação entre as diferentes hierarquias organizacionais é possível observar, entre outros,
comportamentos de submissão e passividade, sem questionamento por parte do falante, quando se trata do
funcionário, e agressividade ou inflexibilidade, quando se trata da chefia ou de superiores hierárquicos. As atitudes
agressivas da chefia acabam sendo reforçados pelo comportamento passivo dos subordinados, que o fazem para
evitar confronto direto com os superiores e possível perda de privilégios. O subordinado não questiona o chefe nem
expõe suas idéias porque ele é avaliado por esse chefe. Ao não questionar, o funcionário pode estar favorecendo os
comportamentos agressivos do chefe. O chefe, por sua vez, ao manter um bom relacionamento com o funcionário
que não questiona e uma relação não tão boa com aquele que questiona, acaba expondo um modelo de interação
social que prega a “passividade” ou o não questionamento. Assim, por uma questão cultural, comportamentos
ditos assertivos não ocorrem no ambiente de trabalho devido a esse tipo de interação chefe-subordinado. Como
consequência, os problemas dificilmente são superados.
Uma alternativa seria as pessoas aprenderem que expressar suas próprias opiniões e sentimentos de maneira
direta, e em um tom moderado, olho no olho, pode representar uma resposta verbal sobre sentimentos ou opiniões
de maneira respeitosa ao ouvinte.
Esse comportamento se opõe àquele classificado como agressivo, em que o funcionário se expressa de forma
hostil, inflexível e em voz alta. Comportamentos assertivos, ao contrário, incluiriam a expressão dos sentimentos do
falante de forma direta e clara, sem infringir os direitos dos outros.
Uma das atividades mais comuns em organizações de todos os portes é o trabalho em equipe. Durante esse
tipo de atividade, funcionários precisam expor idéias, observações e apontar problemas para que tarefas sejam
realizadas da melhor maneira possível, contribuindo para o bem estar da empresa. Os comportamentos assertivos
mais diretamente relacionados à efetividade do trabalho em equipe incluem apontar erros/problemas, verbalizar
soluções, e expressar e defender as próprias opiniões. Assim, faz-se necessário propor uma mudança cultural, em
que deve estar clara a ligação entre essas mudanças propostas e as conseqüências que as mesmas trarão para a
empresa. Ao treinar funcionários a serem mais assertivos quando se comunicam uns com os outros, por exemplo, é
preciso garantir que os resultados obtidos com esse tipo de treinamento sejam relevantes para a organização, caso
contrário tal treinamento acarretará perda de tempo e dinheiro.
Assim, no ambiente de trabalho são comuns as situações nas quais indivíduos precisam dar suas opiniões, fazer
pedidos, e expressar seus pontos de vista. Parte do sucesso da empresa depende da forma como os funcionários se
comunicam.
Para que o candidato entenda o tema de maneira plena, ele deve considerar que as palavras-chave são
“assertividade” e “bom relacionamento”. Do mesmo modo, há que se perceber a limitação discursiva empreeendida
pela expressão “vida profissional”, que impõe uma discussão centralizada somente nesse campo social.
Entretanto, uma das estratégias a ser adotada pode ser o debate generalizado em torno de todos os relacionamentos
interpessoais, comparadas ao convívio profissional. Além do mais, não se deve esquecer o fato de o tema ser
construído a partir de uma pergunta. Respondê-la, então, é imprescindível para uma abordagem específica e correta
da temática.
Todavia, para não tangenciar o tema, é importante que o aluno não se limite a responder apenas uma parte
do questionamento proposto inicialmente. Assim, as respostas não devem se restringir a apenas um aspecto do
tema, tal qual como falar de assertividade sem relacionar ao bom relacionamento interpessoal. Pelo contrário, ainda
que seja necessária a restrição ao âmbito profissional, trabalhar com todas as possibilidades é fundamental para
cumprir as expectativas da banca. Ademais, o importante no texto não é somente definir as palavras-chave, mas
mostrar a conciliação proposta entre as mesmas.
Teses:
• Nem todo relacionamento é mantido por concessões, uma vez que é necessário reafirmar-se a partir de algumas
negativas. Tratando-se de profissionalismo, essa premissa faz-se essencial para a manutenção da noção hierárquica
pré-estabelecida.
• A assertividade, vista de uma maneira respeitosa, ajuda na construção de um bom relacionamento profissional na
medida em que estabelece uma predisposição para aceitar as diferenças.
• O conceito de assertividade - capacidade de julgar-se correto - não pode ser visto como uma imposição, e sim um
conciliação interpessoal para um bom convívio profissional.
Argumentos:
• Valores profissionais desenvolvidos à base de concessões têm como resultado direto um bom relacionamento
interpessoal, na medida em que as prerrogativas de negação estabeleceram-se como um aspecto construtivo e
não conflitante.
Curso Pré-ENEM 25 Linguagens
• No universo profissional, aceitar as diferenças é positivo, já que elas contribuem para a construção de um trabalho
diversificado e pautado na união de valores e no bom convívio social.
• Julgar-se correto pode gerar conflitos interpessoais, já que, muita vezes, é uma forma de impor-se sobre a opinião
alheia.
REDAÇÃO
Por um mundo mais justo
Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade
de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano
age desse jeito? O que leva o indivíduo a agir de forma preconceituosa?
Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando
em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso?
O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele. Por
exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de maneira
preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente.
Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas
ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim
poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas.
COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO
Introdução
Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade
de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano
age desse jeito? O que leva a o indivíduo a agir de forma preconceituosa?
Comentário:Noparágrafointrodutório,resolve-secomeçarcomumadjuntoadverbialtemporalpoucoesclarecedor
e consistente, não sendo capaz de contextualizar de forma plena o assunto a ser abordado. A seleção lexical de “É aí”
e “entra” está inapropriada, sendo marca do registro formal/oral da língua. Outro problema presente na introdução
reside no excesso de questionamentos ao final do parágrafo. Além de haver muitas perguntas, todas elas significam
a mesma coisa, tornando o parágrafo redundante.
Sugestão de reescritura
“Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos desafios
que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado, analogamente,
à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas vezes, em teste,
assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito estão associadas
ao paralelo entre o micro e o macrocosmo?
Desenvolvimento 1
Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando
em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso?
Comentário: O tópico frasal do primeiro parágrafo de desenvolvimento mostra-se precário e pouco desenvolvido
ao longo do mesmo. A repetição da palavra “instinto” também prejudica o desenvolvimento textual. O uso da
expressão “levando em consideração” não é recomendado em textos dissertativo-argumentativos, já que referências
metalinguísticas (ao próprio texto) não são adequadas a essa tipologia textual. Além disso, o uso da conjunção
adversativa “mas” no início da frase é proibido de acordo com a norma culta, servindo apenas para associar duas
frases. O uso de perguntas retóricas também não é recomendado quando se está desenvolvendo um argumento. De
maneira geral, o parágrafo não cumpriu sua função de convencer os leitores da opinião do autor.
Sugestão de reescritura
É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo
homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio
a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito.
Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim
como o Ateneu a mesma.
Curso Pré-ENEM 26 Linguagens
Desenvolvimento 2
O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele.
Por exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de
maneira preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente.
Comentário: O segundo parágrafo de desenvolvimento já se inicia com uma falha de paralelismo, devendo ter
começado por “Segundamente” ou “Em segundo lugar”. Perceba que o tópico frasal é muito limitado e quase não
é explicado, sendo seguido por um exemplo que aumenta o caráter expositivo do parágrafo. O exemplo utilizado é
muito previsível e pouco consistente no que tange ao poder de convencimento. O uso de “Ele é” generaliza e o uso
de “infelizmente” marca uma opinião pessoal do autor, o que não é permitido em textos dissertativo-argumentativos.
Sugestão de reescritura
Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada
pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias,
culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada
por preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar
laços de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente.
Conclusão
Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas
ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim
poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas.
Comentário: Ao concluir um texto, o autor deve retomar a tese e elencar uma proposta prática de conscientização
que promova a mudança da problemática apresentada – o que não acontece. Esqueceu-se que fazer referências
metalinguísticas, como em “Conclui-se”, não é recomendado, além do uso de palavras abstratas, como “coisas”.
Deve-se tomar cuidado também com a praticidade e objetividade da proposta de intervenção. No caso, apenas a
conscientização não seria suficiente para mudar a situação-problema. Além disso, a última frase da conclusão é
clichê e pouco convincente, concluindo o texto de forma precária.
Sugestão de reescritura
Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os
Ateneus criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial,
étnico, social, religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o
governo poderia incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural
e o externo é vantajoso e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a
representação mimética de que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento.
COMENTÁRIO GERAL
O tema “Preconceito e intolerância no mundo de hoje” pode parecer fácil devido à enorme veiculação desse
assunto em diversos meios midiáticos. Portanto, uma boa redação a respeito desse tema seria a que conseguisse
problematizar tal questão, pensando em causas, consequências e conjunturas diversas. O primeiro passo, então,
seria tornar a frase tema mais explorável criticamente, não apenas exposta de forma objetiva.
A proposta exige que o candidato construa um texto dissertativo-argumentativo que se estruture em introdução,
desenvolvimento e conclusão. Os segundo e terceiro parágrafos do texto “Por um mundo mais justo”, embora
tenha tópicos frasais iminentemente discutíveis, não foram desenvolvidos de maneira consistente e completa. Pelo
contrário, limitaram-se a generalizar e a dar exemplos pouco esclarecedores. Analisando o título do texto, embora
não seja uma exigência da banca, percebe-se uma construção muito clichê.
Quanto aos recursos utilizados para enriquecer a argumentação, estão a pergunta retórica e a exemplificação.
Essas estratégias são, de fato, bem valorizadas pela banca do ENEM, já que demonstram a capacidade do aluno de
criar mecanismos linguísticos válidos para a construção argumentativa, um dos critérios utilizados pela banca. O
redator, porém, ao usar cada uma dessas estratégias, apresentou alguns problemas, como o excesso e a redundância
de questionamentos na introdução, o uso de uma pergunta retórica no desenvolvimento, área do texto inapropriada
para esse tipo de recurso e a utilização de um exemplo específico, pouco esclarecedor argumentativamente.
Levando em consideração a coesão e a coerência textuais, o redator do texto não soube organizar de forma clara
e estruturada as ideias para a defesa do seu ponto de vista, tendo como marca frases muito soltas, pouco articuladas
sintática e semanticamente.
Outros critérios cobrados pela banca do ENEM são a interdisciplinaridade – aplicar conceitos de outras áreas
do desenvolvimento para desenvolver o tema – e a proposta de conscientização social – elaborar uma intervenção
Curso Pré-ENEM 27 Linguagens
plausível para o problema abordado. O primeiro critério não foi utilizado no texto “Por um mundo melhor”, o
que acarretaria a retirada de 200 pontos da nota final (valor do critério). A respeito da proposta de intervenção,
percebe-se uma precariedade e ineficácia da mesma, mostrando-se abstrata, pouco clara e objetiva, quando deve
ser exatamente o oposto. Em uma visão geral, o texto não possui falhas ortográficas e não traz grandes equívocos
gramaticais.
UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR
Ateneus em chamas
“Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos
desafios que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado,
analogamente, à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas
vezes, em teste, assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito
estão associadas ao paralelo entre o micro e o macrocosmo?
É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo
homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio
a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito.
Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim
como o Ateneu a mesma.
Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada
pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias,
culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada por
preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar laços
de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente.
Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os Ateneus
criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial, étnico, social,
religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o governo poderia
incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural e o externo é vantajoso
e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a representação mimética de
que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento.
Curso Pré-ENEM 28 Linguagens
Tema
Dissertação 3
Tópico de estudo
Estratégias gerais de aprofundamento argumentativo (dedução e indução).
Situações-problema e conceitos básicos
Saber trabalhar a argumentação é pré-requisito fundamental em um texto dissertativo argumentativo, já que a
banca irá avaliar a capacidade do candidato de ser convincente na defesa de um ponto de vista. Há, evidentemente,
diversas formas de se fazer isso.
Porém, para além das técnicas tradicionais (causa e consequência, analogia, exemplificação...), temos também
o uso de ferramentas que, inicialmente, estão ligadas à filosofia. Dentre as principais, destacam-se a dedução e a
indução – formas de organização do raciocínio lógico que ajudam os argumentos a serem melhor construídos.
Por isso, ainda que não seja uma exigência argumentativa do ENEM, dominar tais estratégias pode funcionar
como um elemento diferencial na avaliação do texto. Vejamos como:
1. Conceito de raciocínio lógico
Entende-se por raciocínio lógico a forma de organização das ideias em, ao menos, três partes, de modo que a
ligação da primeira com a segunda produza um resultado explicitado na terceira. A forma mais tradicional tem
origem no pensamento de Aristóteles, no chamado silogismo:
Todos os homens são mortais. (I)
Ora, Sócrates é homem. (II)
Logo, Sócrates é mortal. (III)
Perceba que a conclusão (III) só pôde ser obtida a partir da relação feita entre a primeira afirmação (I) e a segunda
(II), produzindo, portanto, um resultado lógico. Conceitualmente, se essa forma de raciocínio é baseada em duas
verdades, inevitavelmente a sua conclusão também o será. Daí viria a sua força argumentativa.
2. Formas de raciocínio
a) Dedução
É a forma que parte de uma afirmação geral para uma conclusão particular. Baseia-se, portanto, em um princípio
maior – uma lei, uma regra, um teorema – que, quando aplicado a um caso específico, produz um resultado ligado
a este. Observe o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2005, “O trabalho infantil na
realidade brasileira”:
Pode-se dizer que, dos direitos trazidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, aquele que afirma que toda
criança tem direito à infância é o mais fundamental. Ao mesmo tempo, sabemos que, das atividades relacionadas a
essa faixa etária, não faz parte o trabalho. Apesar disso, no Brasil, temos menores que, diariamente, estão envolvidos
em atividades laborais, como em minas de carvão e plantações de cana-de-açúcar, em vez de aproveitarem seu tempo
com brincadeiras e estudos. Logo, é cabível dizer que o fato de essa prática existir no país constitui um desrespeito a
uma regra básica e, por isso, deve ser combatido o mais rápido possível.
Curso Pré-ENEM 29 Linguagens
Perceba que, nesse caso, o candidato baseou-se na seguinte estrutura:
Toda criança deve ter direito à infância.
O trabalho é uma atividade de adultos.
Muitas crianças, no Brasil, trabalham.
Logo, muitas crianças, no Brasil, não tem sua infância respeitada e isso precisa acabar.
Ao fazer isso, garantiu que seu argumento tivesse um embasamento maior, em vez de o deixar com a aparência
de uma mera opinião. É claro que, para tal, ajudou muito o fato de suas informações serem verdadeiras e coerentes
– caso contrário, o questionamento seria fácil e o resultado, insatisfatório. Note como o mesmo não ocorre em outro
parágrafo, também sobre o mesmo tema:
Sabemos que trabalhar é uma atividade que desenvolve a todos, pois cria senso coletivo e responsabilidade. No
Brasil, cada vez mais percebemos crianças que, em vez de estarem brincando nas ruas, exercem práticas remuneradas.
Como, na infância, elas são imaturas e individualistas, o fato de começarem a trabalhar cedo fará elas serem adultos
muito melhores. Logo, podemos afirmar que o trabalho infantil não deve ser recriminado, pois pode fazer a diferença
para todos no futuro.
Consegue perceber onde está a falha aqui? A primeira afirmação não é uma regra, podendo facilmente ser
questionada. Basta pensar, por exemplo, que trabalhar de forma forçada não traz nenhuma das duas características
afirmadas. Além disso, dizer que todas as crianças são imaturas e individualistas é muito taxativo, bem como garantir
que o trabalho fará delas adultos melhores. Apesar de aparentar um bom raciocínio por conta de sua forma correta,
o conteúdo é impreciso, o que tira toda a força da argumentação.
b) A indução
É a forma que parte de uma série de afirmativas particulares para chegar a uma conclusão geral. Baseia-se,
portanto, em casos específicos – fatos, hipóteses – que, quando associados, produzem uma espécie de regra. Observe
o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2004, “Violência na sociedade brasileira: como
mudar as regras desse jogo?”:
É fácil notar que os grandes centros urbanos do país apresentam diversos casos de violência. Isso se deve à
desigualdade muito acentuada coexistente dentro de um mesmo espaço. No entanto, nas cidades menores também
observamos a existência de práticas criminosas, às vezes até em maior escala, oriundas da falta de segurança e de
controle. Ainda que por razões distintas, o fato é que a violência, hoje, é uma realidade distribuída por todo o nosso
território, o que torna urgente a tomada de decisões que visem a reduzir, de forma drástica, seu percentual.
Atente para a estrutura:
Os grandes centros urbanos brasileiros apresentam muita violência.
As cidades periféricas também lidam com essa realidade.
Logo, não importa o motivo; o Brasil enfrenta esse mal em caráter nacional e precisar combater.
Repare como a conclusão gerada ao final do raciocínio parece muito mais forte a partir das evidências dadas
anteriormente. Como os casos escolhidos são de conhecimento público, fica difícil questionar a afirmação final.
O maior risco em um raciocínio deste tipo seria o de se encontrar uma exceção à regra proposta. Porém, ao se
cercar de exemplos amplos, o candidato conseguiu minimizar essa possibilidade, fazendo uma argumentação bem
consolidada. Note, agora, como o mesmo não ocorreu no caso abaixo, desenvolvido para o mesmo tema:
No Rio de Janeiro, a violência tem atingido um nível assustador. Em São Paulo, não tem sido muito diferente. Se
levarmos em conta que essas cidades são um exemplo do que acontece em todo o território nacional, é possível dizer
que, hoje, o maior problema do Brasil é a violência. Enquanto não a resolvermos, estaremos fadados a viver em um
país atrasado, com uma população que não se orgulha das cores da sua bandeira e teme o amanhã por não saber a
que tipo de crime pode estar sujeita quando sai de casa.
Aqui, como o candidato escolheu apenas dois casos para fundamentar sua teoria, a argumentação tende a ser
fraca. Imagine, por exemplo, que alguém questione o fato de ele ter se baseado exatamente nas duas evidências
maiores de centros urbanos, ignorando que a realidade do interior é bem distinta. A partir daí, sua “regra” sobre
a violência no Brasil passa a não ser mais comprovável. A estrutura foi utilizada corretamente, mas o conteúdo
impreciso, definitivamente, prejudicou o desenvolvimento da ideia.
Curso Pré-ENEM 30 Linguagens
Itens para avaliação
1. Observe o parágrafo argumentativo abaixo e responda ao que se segue:
Jean Jacques Rousseau afirmou, certa vez, que "o homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. Se
aplicarmos tal pressuposto ao povo brasileiro, a conclusão não será diferente. Apesar de vivermos propalando a evolução de
nossa organização social, a verdade é que, década após década, percebemos que as gerações vindouras trazem em si as
mesmas falhas das anteriores: querem acreditar no “jeitinho”, ganhar sem esforço e se orgulhar da sua malandragem. Diante
disso, fica difícil acreditar em um futuro melhor, pois sabemos que qualquer novo filho do Brasil que surgir nessa esfera,
dificilmente fugirá ao padrão nocivo instituído pela própria sociedade nacional.
a) Sabendo que o autor do texto optou por um método de raciocínio lógico em sua argumentação, diga qual foi e ilustre as
etapas do seu pensamento.
b) Qual raciocínio Rousseau parece ter utilizado para chegar à sua frase? Por quê?
c) Esse parágrafo pode ser considerado eficiente quanto ao seu poder argumentativo? Justifique.
2. A partir das informações abaixo, construa um parágrafo argumentativo sobre o tema “Desemprego: o mal do mundo atual”.
Neste exercício, você deve utilizar o método indutivo.
Depois de dois anos consecutivos em queda, o desemprego no mundo aumentou em 2012. No ano passado, cerca de 197,3
milhões de pessoas estavam sem trabalho, quase 5 milhões a mais do que em 2011, segundo o relatório Tendências Mundiais de
Emprego 2013, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que será divulgado nesta terça-feira (22). A expectativa da OIT para
este ano é a de que o desemprego cresça ainda mais, chegando a atingir 202 milhões de pessoas até o final de 2013, 204,9 milhões
até 2014 e 210 milhões até 2018. Segundo a OIT, a recuperação da economia mundial não será forte o suficiente para reduzir as taxas
de desemprego rapidamente.
O pico de desemprego na última década foi em 2009, ano da crise financeira internacional, com mais de 198 milhões de
desempregados. Em 2010 e 2011, houve recuperação, com a queda do número de pessoas sem emprego – 194,6 milhões, em 2010; e
193,1 milhões, em 2011.
A incerteza em torno das perspectivas econômicas e as políticas inadequadas que foram implementadas para lidar com isso
debilitaram a demanda agregada, freando os investimentos e as contratações. Isso prolongou a crise do mercado laboral em vários
países, reduzindo a criação de empregos e aumentando a duração do desemprego” explicou, em nota, o diretor-geral da OIT, Guy
Ryder.
As regiões onde foram registradas as taxas mais altas de desemprego foram o Norte da África (10,3%), o Oriente Médio (10%) e o
grupo das chamadas “economias desenvolvidas” (8,6%) – que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão, a Espanha e Portugal.
Em contraponto, as três regiões com os índices mais baixos de desemprego estão na Ásia: no Sul da Ásia (3,8%), na Ásia Oriental
(4,4%) e no Sudeste Asiático (4,5%). A região da América Latina e do Caribe, grupo em que está o Brasil, ficou com taxa de 6,6%.
http://sobralagora.com.br/v1/2013/01/aumenta-o-desemprego-no-mundo-confira-os-numeros
Anotações
Solução comentada dos itens
1.
a) Método dedutivo. Primeiro, apresentou uma premissa geral (“O homem é bom por natureza. É a sociedade que o
corrompe.”), depois aplicou a um caso particular (o povo brasileiro), chegando a uma conclusão também particular
(povo brasileiro).
b) Indutivo. Analisando vários casos de pessoas que foram modificados pelo convívio em sociedade, ele teria chegado à
conclusão de que o meio determina o que o ser humano será.
c) Sim, pois se baseia em uma afirmação de valor reconhecido e associa seu pressuposto com correção ao caso analisado,
gerando uma conclusão válida.
2. Resposta pessoal. Exemplo: Nos últimos anos, o Norte da África tem apresentado um aumento no nível de desemprego
bastante preocupante. O mesmo tem acontecido com o Oriente Médio, os Estados Unidos, a Espanha, o Reino Unido,
Portugal e Japão. Assim sendo, não seria absurdo afirmar que o panorama econômico global hoje é de extrema
preocupação, pois parte da população do mundo enfrenta dificuldades para obter um emprego e, consequentemente, ter
uma vida decente em meio ao modelo capitalista e neoliberal contemporâneo.
Curso Pré-ENEM 31 Linguagens
Conceitos básicos e sua operacionalização
ANÁLISE DA REDAÇÃO
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija um texto dissertativo argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema O
PAPEL DA MEMÓRIA PARA A FORMAÇÃO DA CULTURA NOS DIAS DE HOJE, apresentando proposta
de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e
coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Texto I
“Memória não é algo do passado, é um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e de coerência,
seja ele processado individualmente ou em grupo em reconstrução em si, torna-se o fator preponderante para o
entendimento de sentimento de identidade.”
Maria Rossel Souza Santos
www.rosellsusa.com.br/private/sabores culturais memorias.pdf
Texto II
“Os contos de fadas são um exemplo privilegiado ao falar de identidade cultural. Os contos dor irmãos Grimm
foram coletados entre as histórias transmitidas oralmente como a Alemanha – mas que, no início do século 19, se
organizava em territórios que, embora compartilhassem a língua, apresentavam fragmentação política. Esse livro
de contos infantis, cuja publicação foi iniciada em 1818, era um esforço que visava à formação de uma identidade
alemã, em meio a um processo de unificação que se estenderia pelo resto do século.
Identidades culturais se relacionam com o sentimento de pertencimento a um grupo que compartilha uma
memória coletiva, um conjunto comum de conhecimentos. Nas intenções dos irmãos Grimm, a repetição de contos
parecidos por todos aqueles estados autônomos representaria uma unidade manifestada no saber comum do povo
alemão – como uma base cultural unindo os fragmentos políticos.”
Luciana Silveira(Lhys)
http://www.materiaobscura.com.br/02-07/memorias-midiatizadas-a-identidade-cultural-sem-lugar
Texto III
Texto IV
“O resgate da memória é de suma importância devido à construção de uma identidade consciente de um
determinado povo. Para isso é necessário que não deixe de rememorar, ir em busca de raízes, das origens, do âmago
da sua história, etc.
A memória tem um caráter primordial para elevação de uma nação de um grupo étnico, pois aporta elementos
para sua transformação.
A ideia de nação é uma realidade que se impõe por si mesmo, pois é uma construção contínua que repousa no
erro histórico. Ao falar de raça vem em nossas mentes altura, índice cefálico, uma aparência hereditária, enquanto
etnicidade os aspectos culturais são primordiais, pois é uma comunidade biológica de cultura e de língua.
A nação, raça e etnia se distinguem pela pertença racial, originada na comunidade de origem, a pertença étnica
é dada pela crença subjetiva na comunidade de origem e a nação pelo poder político. Expresso nas instituições
democráticas nas instâncias competentes. Apesar de que hoje não se fala mais em raça que é um conceito em
desuso.
Stuart Hall afirma que: ‘as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas,
transformadas no interior da representação’ (HALL, 1999,48). Sendo a nação construída, é uma comunidade
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  • 1. Curso Pré-ENEM 7 Linguagens Tema A dissertação 1 Tópico de estudo Estrutura básica do texto dissertativo. Entendendo a competência Competência 1 – Demonstrar domínio da norma da língua escrita. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata demonstra excelente domínio da norma padrão, não apresentando nenhum desvio gramatical leve e de convenções da escrita. Assim, o mesmo desvio não ocorre em várias partes do texto, o que revela que as exigências da norma padrão foram incorporadas aos hábitos linguísticos. Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata desenvolve muito bem o tema, explorando os seus principais aspectos. A redação contém uma argumen- tação consistente, revelando excelente domínio do tipo textual dissertativo-argumentativo. Isso significa que o texto está estruturado, por exemplo, com: uma introdução, em que a tese defendida é explicitada; argumentos que comprovam a tese, distribuídos em diferentes parágrafos; um parágrafo final com a proposta de intervenção funcionando como uma conclusão. Além disso, os argumentos defendidos não ficam restritos à reprodução das ideias contidas nos textos motivadores nem a questões do senso comum. Competência 3 – Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata seleciona, organiza e relaciona informações, fatos, opiniões e argumentos pertinentes ao tema proposto de forma consistente, configurando autoria, em defesa de seu ponto de vista. Explicita a tese, seleciona argumentos que possam comprová-la e elabora conclusão ou proposta que mantenha coerência com a opinião defendida na redação. Percebe-se também uma visível preocupação da candidata em fazer referências a aspectos da realidade, o que leva a uma argumentação mais convincente e crítica. Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumen- tação. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata articula as partes do texto, sem inadequações na utilização dos recursos coesivos. É nítida a sequência de ideias, que vão sendo montadas de forma harmônica e gradual. Os conectivos são muito bem escolhidos, tanto no aspecto inter como intraparagrafal.
  • 2. Curso Pré-ENEM 8 Linguagens Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. A nota obtida nessa competência foi de 200 pontos. A candidata elabora proposta de intervenção clara e inovadora, relacionada à tese e bem articulada com a discussão desenvolvida no texto. São explicitados os meios para realizá-la. Essa qualidade é bastante impactante no texto acima, pois citam-se os serviços sociais, que precisam ser assegurados, o planejamento do Estado, assim como também as campanhas governamentais. Isso demonstra a profundidade da visão cidadã da candidata e a relevância do tema discutido. Situações-problema e conceitos básicos 1. As informações sobre a redação do Enem De acordo com o Edital, publicado em maio, o Inep garantiu, mais uma vez, a tipologia textual a ser cobrada no próximo concurso: A matriz de redação do Enem considera cinco competências cognitivas, que servem de referência para a correção do texto elaborado pelos participantes do Exame. O texto referido é do tipo dissertativo-argumentativo e deve ter de sete até o máximo de trinta linhas. Nesse sentido, cabe-nos, neste primeiro momento, conhecer a estrutura mínima de avaliação textual: a dissertação. 2. Tipo de Texto: Dissertação Muitos estudantes apresentam um grande desconforto no que diz respeito ao modelo de texto cobrado pelo vestibular. Tempo escasso, muitas ou poucas linhas, temas nem sempre tão compreensíveis, coletânea pobre são alguns exemplos do tipo de preocupação que acomete os alunos. Entre as dificuldades, destaca-se a necessidade de adequar-se a um modelo um tanto quanto técnico de texto: a dissertação. Não há dúvidas de que esse tipo de texto apresenta uma série de características que mais parecem limites à criatividade ou à liberdade do aluno. Porém, tal modelo não foi escolhido ao acaso. Com o crescimento da demanda por um lugar no ensino superior e a relativamente pequena oferta de vagas nos cursos de qualidade, não é preciso ser um gênio da lógica para compreender que a concorrência torna necessária uma avaliação comparativa justa. Ou o mais perto da justiça que seja possível a um exame de que participam cerca de sessenta mil candidatos. Dessa forma, os tais limites que assustam a todos nada mais são do que parâmetros de comparação. Afinal, como seria possível colocar em uma ordem de qualidade textos tão distintos quanto um poema, uma descrição ou uma carta administrativa? Não seria ainda mais injusto compará-los, hierarquizá-los com notas diferenciadas? No entanto, persiste a crítica de que essa escolha das Bancas estaria privilegiando um aluno “mecanizado”, que não pensa de forma independente ou que sabe apenas responder a estímulos óbvios. Tudo isso se torna exagero adolescente quando olhamos as provas com atenção. De fato, tanto a elaboração dos temas quanto a correção das provas pelas Universidades demonstram crescente preocupação em medir o senso crítico, a inteligência estratégica, a concentração, a habilidade de articular idéias, o uso diferencial dos dados da realidade, enfim, a capacidade de absorver a realidade em que vivemos e produzir idéias sob a forma escrita. Na realidade, portanto, as Bancas estão nos dizendo: é possível conciliar limite e liberdade. Trata-se, se pensarmos bem, do grande desafio que nos é dado ao viver em sociedade. Em outros termos, precisamos entender as regras do jogo, mas não devemos cair na chamada “receita de bolo”, quando copiamos um padrão, sem refletir sobre ele. Portanto, para cumprir com rigor nosso objetivo na Redação do vestibular, é necessário que conheçamos, em primeiro lugar, quais são os tais limites. O primeiro deles é objeto desta ficha: o modelo dissertativo. 3. Características da Dissertação O texto dissertativo é, por definição, aquele em que desenvolvemos um tema com o objetivo de esclarecer seus aspectos principais e, eventualmente, apresentar nosso ponto de vista. Quando esse tipo de texto faz apenas um panorama das idéias principais relativas ao tema, sem defender uma opinião específica, ele recebe a designação
  • 3. Curso Pré-ENEM 9 Linguagens de dissertação expositiva; quando, ao contrário, o objetivo do autor é convencer os leitores de seu ponto de vista, trata-se de uma dissertação argumentativa. Em geral, as provas de vestibular não costumam fazer menção a textos puramente expositivos. Espera-se que o candidato apresente senso crítico em sua redação e, para isso, nada melhor do que redigir uma argumentação propriamente dita. Assim, sempre que falarmos de dissertação, estaremos fazendo referência aos textos de caráter argumentativo, mesmo que essa denominação não seja explicitada. a) Tema Em qualquer prova de redação, há sempre um tema a ser desenvolvido. Isso se faz necessário a fim de que os textos de milhares de candidatos possam ser comparados segundo um critério comum. Por essa razão, qualquer fuga à proposta feita pela Banca é vista como falha grave, podendo, em muitos casos, levar à anulação da prova. Apesar do medo decorrente desse aspecto, é assustador o número de alunos que foge total ou parcialmente ao tema proposto, o que pode ser explicado pelas condições de tensão a que estão submetidos naquele momento. Assim, faz-se imprescindível ter toda concentração na interpretação da tarefa a ser executada. b) Defesa de um ponto de vista Considerando o caráter argumentativo de que falamos, não será difícil perceber que é necessário “tomar partido” em qualquer redação de vestibular. Assim como convencemos nossos pais a nos deixarem chegar tarde após uma festa, precisamos de todas as armas necessárias a levar o leitor a concordar — pelo menos em tese — com nossa opinião. Essa é uma tarefa que faz uso constante do raciocínio lógico e da organização das idéias. Cumpre ressaltar, a esse propósito, que as Bancas não avaliam qual é o ponto de vista do candidato, uma vez que todos temos liberdade de pensamento. No entanto, como em sociedade não basta ter uma opinião, sendo preciso justificá-la e fundamentá-la, os examinadores procuram avaliar essas competências na correção das provas. c) Linguagem Impessoal Por se tratar de texto técnico, a dissertação deve tratar do tema proposto com uma linguagem impessoal. Além da credibilidade alcançada, obtém-se a vantagem de tornar a redação até mesmo mais consistente, ao tratar da opinião defendida como uma verdade indiscutível. É por essa razão que evitamos a 1ª pessoa do singular (“Eu”; “penso”; “na minha opinião” etc.), o que, além de tudo, seria redundante, uma vez que o texto é escrito por apenas uma pessoa e contém suas idéias. d) Objetividade Além da linguagem, espera-se que o redator de uma dissertação seja capaz de tratar o tema com critérios objetivos. Dito de outro modo, seria inadequado deixar-se influenciar por aspectos emocionais e religiosos, por exemplo, ao discutir um tema como a legalização do aborto. Embora existam razões respeitáveis do ponto de vista puramente irracional, eles não se combinam com o caráter exclusivamente racional da dissertação. e) Modalidade Escrita / Padrão Culto Ninguém precisa ter conhecimento profundo de gramática para saber que existem profundas diferenças entre uso oral do idioma e sua utilização escrita. Palavras como “aí” e “coisa”, por exemplo, só fazem sentido se houver um contexto físico que esclareça seus significados. A repetição de palavras, também, é fundamental em um diálogo, para que o assunto permaneça despertando atenção. Na escrita, entretanto, a imprecisão do vocabulário e as repetições lexicais, entre outros aspectos, constituem inadequações a serem evitadas. Ao mesmo tempo, por se tratar de uma prova integrante da disciplina Língua Portuguesa, a redação deve ser produzida dentro dos limites da norma culta, ou seja, sem erros gramaticais. Isso não significa que precisemos ser sofisticados; um bom texto, claro e natural, pode fazer uso dessa norma e ser perfeitamente aceitável para o leitor comum. f) Estrutura Lógica Assim como uma conversa, um filme e um dia têm começo, meio e fim, também uma dissertação é dividida em etapas, denominadas respectivamente de introdução, desenvolvimento e conclusão. A cada uma corresponde uma função específica dentro da estratégia maior de convencer o leitor. Ao mesmo tempo, o desempenho de cada função pode ser feito de maneira original e inteligente, fugindo ao puro didatismo, conforme veremos depois.
  • 4. Curso Pré-ENEM 10 Linguagens g) Qualidades Um texto dissertativo que se enquadre nos parâmetros descritos até aqui não necessariamente “merece” nota dez. Isso porque, nesse caso, o aluno estaria apenas cumprindo suas obrigações. Além dos aspectos fundamentais, portanto, a redação “perfeita” deve apresentar coesão, clareza, coerência, concisão, profundidade, senso crítico e criatividade. Não é pouco, sem dúvida. Por isso, não há mágica que faça um aluno redigir melhor da noite para o dia. Apenas aos poucos, com dedicação e reflexão, será possível incorporar tantas qualidades ao próprio texto. 4. Análise de texto dissertativo Observe a redação abaixo e seus respectivos comentários: Variações linguisticas Os artistas do final do século XIX estavam presos à formalidade, à cânones que moldavam suas formas de expressão e comunicação. Por sua vez, no breve século XX, como diria Hobsbawn, os artistas entendiam as variações linguísticas existentes como um ambiente culturalmente rico, que poderia ser explorado dentro da arte, assim como as vanguardas europeias e o modernismo no Brasil. Assim, a língua e as transformações sociais caminham juntas. É necessário perceber a importância da gramática normativa para a comunicação. Para isso, foi instituído um novo acordo ortográfico que criou uma unidade em relação à escrita para todas as comunidades que usam o português. Mas, a língua é a principal característica cultural de um povo, logo, o controle desse mecanismo é exercido por ele. As variações da língua são necessárias para o desenvolvimento da língua, mas também da literatura como arte. Visto que algumas regiões possuem características linguísticas específicas deve-se entender suas particularidades para entender os costumes e cultura daquela região. No Brasil, por exemplo, Guimarães Rosa, representou o sertão nordestino principalmente através da linguagem especifica da região. Com tal estratégia, Guimarães conseguiu representar as relações humanas e sociais daquela região. Dessa forma, entende-se que a transformação linguística é importância da sua comunidade. Tendo em vista que o francês, o espanhol, o italiano e o português são originados do latim, fica claro que a troca entre línguas é essencial para o desenvolvimento delas. O contato entre culturas também traz mudanças imediatas, como a criação de novos vocábulos como xampu e abajur, por exemplo. Essas mudanças favorecem a comunicação dentro da sociedade, pois a interlocução é privilegiada pelo aumento do número de palavras. Conclui-se que se deve entender que a mudança da língua é inerente à ela como é necessária para o desenvolvimento das artes e da comunicação. Assim, é necessário que o governo invista para que o povo conheça a variedade da língua dentro de sua própria linguagem. É um absurdo que ainda exista preconceito linguístico em pleno século XXI, sendo necessário mudarmos nossas atitudes antes que seja tarde demais para as variações linguísticas. COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO O tema A LÍNGUA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS refere-se, especificamente, à linguagem verbal e como essa é influenciada pelas transformações sociais. No caso da análise do texto pela banca do ENEM, a proposta deve ser problematizada e o candidato deve aderir a um posicionamento específico em relação a ela, visto que se trata de um texto dissertativo-argumentativo. Além disso, a banca cobra uma proposta efetiva de intervenção para a problemática, bem como não admite infração aos direitos humanos, os quais devem ser valorizados e respeitados ao longo do texto. Sob essa perspectiva, o redator do texto “Variações linguísticas”, em uma visão global, não foge do tema, mas também não trabalha seu posicionamento de forma clara. Em primeiro lugar, ele deveria ter se preocupado em construir um clímax argumentativo, o que não foi feito, uma vez que não houve a organização dos parágrafos em relação à força argumentativa dos mesmos. Em segundo lugar, no parágrafo de introdução, o redator não expôs sua tese de forma adequada, sem trabalhar de forma completa a sua ideia. Em terceiro lugar, não houve a preocupação com a regularidade da paragrafação ao longo do texto, o que pode ser visto pela discrepância dos tamanhos dos parágrafos, especialmente o primeiro de desenvolvimento. Isso acarretou uma falha argumentativa do parágrafo em questão, visto que ficou superficial e limitado. Quanto à argumentação, em geral, as ideias estão desorganizadas e, em alguns pontos, mal formuladas, enfraquecendo o poder de convencimento do redator. Em alguns momentos, como no terceiro parágrafo de desenvolvimento, a exemplificação excessiva e faltosa de explicação resultou na perda de teor argumentativo e na
  • 5. Curso Pré-ENEM 11 Linguagens caracterização de um parágrafo expositivo. Já no segundo parágrafo de desenvolvimento, a utilização de informações incorretas (“sertão nordestino”) fez com que o redator fosse desautorizado, uma vez que não demonstrou domínio completo sobre o assunto tratado. Em relação à conclusão, o momento mais falho de todo texto, não houve o cumprimento das características típicas de uma conclusão estilo ENEM, pois a proposta de intervenção foi vaga e pouco objetiva, o que não condiz com os critérios exigidos pela banca. Além disso, não houve a retomada da tese exposta na introdução, ocasionando a falta de um texto-circuito. No texto “Variações linguísticas”, embora não tenham sido encontradas marcas de oralidades, o redator não deveria ter utilizado palavras e expressões que indicam pessoalidade (“absurdo”, por exemplo). Essa característica, por sua vez, não deve ser encontrada nesse tipo de texto, o qual deve ser escrito de forma objetiva e sem subjetividade, mesmo que exija uma opinião concreta do candidato. Além disso, foram observados alguns erros gramaticais referentes à colocação pronominal, utilização de vírgulas e crases. Itens para avaliação 5. Exercício 5.1 A proposta temática abaixo foi exigida por uma famosa banca de vestibular: O cartum abaixo usa o recurso do humor para sugerir um tipo de relação entre o homem e os meios de comunicação. MILLÔR FERNANDES www2.uol.com.br Para você, os meios de comunicação devem sofrer alguma forma de controle, ou todo controle representa uma censura indevida? Observe o texto argumentativo abaixo produzido por um candidato: Monstros lutando com a informação A imprensa de Gutenberg ajudou no processo e na fundação da imprensa contemporânea. Com a facilidade da difusão, os meios de comunicação se desenvolveram e atuaram de maneira primordial para o avanço da liberdade inicial. Essa relação entre mídia, informação e poder sempre foi controversa, em função do poder subversivo e controlador hipnotizante da primeira. A mídia é também veiculadora de informação e portadora de dados importantes para a opinião pública. Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da realidade. A pesquisa pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito, o recorte torna a informação parcial. A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia comprometida. Nesse sentido, é estranha a problemática encontrada com relação a temas tão polêmicos quanto a liberdade dos meios. Quando se exige democracia, liberdade de informação, o que se quer é pluralidade de visões. Ela não pressupõe
  • 6. Curso Pré-ENEM 12 Linguagens que exista uma visão absoluta e a maioria chegará a ela. O sistema político vigente visa alcançar o mais próximo da justiça a partir da ligação entre visões e de interpretações do real e os meios de comunicação possibilitam essas diversas possibilidades de olhares. Quanto mais olhar, menos lugares enegrecidos em uma sociedade historicamente marcada pela injustiça baseada no discurso de poder. Portanto, a liberdade de imprensa não deve ser questionada em nenhum sentido, já que é uma conquista. Obviamente excessos são cometidos pelos jornais. Entretanto, com a percepção de que existe uma realidade plural, a melhor forma de combater uma visão única é apresentar a diversidade. O perigoso, nesse caso, é surgir o monstro do autoritarismo que ronda. Política e internet, por exemplo, podem se ajudar reciprocamente em uma evolução que é necessária e deve ser constante, tornando qualquer controle uma afronta a um quadro que queira ser um conjunto de fragmentos libertários. A partir da leitura crítica da redação, responda às questões: 1. Em uma dissertação argumentativa, uma das funções básicas do primeiro parágrafo, o de introdução, além de contextualizar o tema é também o de apresentar a tese – o posicionamento a respeito do tema. Na sua opinião, o candidato executou essa tarefa com perfeição? Justifique a sua resposta, tecendo um comentário crítico. 2. Observe o segundo parágrafo do texto, o primeiro de DESENVOLVIMENTO: “Os meios de comunicação escondem a percepção fundamental de que toda visão da realidade é uma visão da realidade. A pesquisa pode ser radical, o dado é verdadeiro e o jornalista é sério, mas, mesmo nesse mundo perfeito, o recorte torna a informação parcial. A informação pode ser tomada apenas, então, como um recorte, uma ideia comprometida.” É perceptível nele uma falha no que diz respeito à construção coesiva dos períodos. Não há um elo semântico bem montado. Porém, além dessa falha, pode-se apontar também algo relacionado ao argumento em si. Qual a sua avaliação da qualidade do argumento? É convincente? Construa sua resposta com a devida justificativa. 3. Na conclusão dissertativa, é comum ratificar a visão defendida ao longo do texto a fim de fechar seu teor argumentativo. No entanto, essa retomada da tese tem que ser feita de maneira ampla para que todos os argumentos sejam contemplados. O parágrafo em análise na redação acima cumpriu com eficácia tais comandos? Justifique a sua resposta. Anotações Solução comentada dos itens 1. Uma falha ainda aparece no parágrafo. O redator demonstra entendimento claro do tema, mas se limita a expô-lo. A introdução deve pelo menos prenunciar a tese, sugerir uma linha de abordagem, se não quiser apresentar o posicionamento na íntegra. 2. A ideia que sustenta a tese deve ser aprofundada. No desenvolvimento em questão, o argumento baseado na parcialidade da imprensa é apenas repetido de maneira constante. Não há explicações sobre o tópico frasal. O redator poderia também aprofundar as ideias trabalhadas com alguma outra estratégia como a causa e a consequência, por exemplo. O desenvolvimento, ainda, não apresenta nenhum recurso criativo que o diferencie da média. Nenhuma estratégia de texto circuito foi pensada previamente. 3. Não. O principal problema da conclusão em questão é afirmar a tese com uma séria restrição do tema. A UERJ em 2008 propôs uma abordagem ampla na questão da informação ao usar o termo“meios de comunicação”. O redator afirmou uma tese que não abrange todo o tema e ainda não abarca os argumentos apresentados porque trata apenas da imprensa. A banca examinadora poderia considerar uma restrição parcial, que seria atenuada pelo fato de a abordagem no texto todo ter sido ampla. 4. Não houve pertinência, pois o termo “monstro do autoritarismo” não faz sentido com o restante do parágrafo e não encontra par em nenhum momento do texto. 5. O parágrafo em questão apresenta uma ideia argumentativa e ela é aprofundada com certa competência. Entretanto, o trecho apresenta alguns erros estruturais. Há, a princípio, um desequilíbrio de tamanho na relação entre esse desenvolvimento e os outros parágrafos. Provavelmente isso aconteceu porque ele foi bem aprofundado. Além disso, a coesão com o segmento anterior se dá de maneira muito explícita e com um período esvaziado de sentido. Isso torna o texto mais burocrático. Vale a pena, nesse momento, elaborar uma frase que retome parcialmente a ideia anterior, dando o
  • 7. Curso Pré-ENEM 13 Linguagens gancho para o prosseguimento do argumento. No terceiro período, a retomada acontece de forma ambígua. O pronome pessoa“Ela”pode se referir a mais de um termo anterior. Isso provoca uma falha coesiva. A melhor maneira de resolver isso é usar um sinônimo ou repetir a própria palavra, correndo o risco de provocar “eco”. O verbo visar está sendo utilizado no sentido de “ter como objetivo”. Nesse uso, ele é um verbo transitivo indireto. Então, ocorre um erro no critério de modalidade de língua portuguesa. No penúltimo período, aparece uma repetição: “possibilitam” e “possibilidade”. Pode-se usar um sinônimo também. É visível, ainda, a falta de um recurso diferencial. Conceitos básicos e sua operacionalização 5.2. Depois de rever conteúdos desenvolvidos nesta ficha, analise o tema abaixo e a redação apresentada. Proposta de redação Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema AS POLÍTICAS PÚBLICAS E O RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. I. Coletânea Leia com atenção os seguintes textos. Abu Ghraib é aqui (fragmento) SÃO PAULO - Deu na Anistia Internacional, a respeitada organização de defesa dos direitos humanos sediada em Londres: as torturas generalizadas nas delegacias e prisões do Brasil são comparáveis às praticadas mundo afora na chamada “guerra ao terror” dos EUA, tão criticada pelo governo brasileiro. Eu acho que as torturas aqui são piores. São brasileiros torturando brasileiros na nossa também falida “guerra ao crime”, sem que nenhuma autoridade mova uma pedra para efetivamente mudar a situação, sem que a sociedade civil mostre horror diante do conhecido fato, sem que o Congresso brasileiro, como ocorre com o dos EUA, investigue a fundo o flagelo de pardos, pretos e pobres em nossas jaulas. Mesmo o massacre de 111 detentos no Carandiru, em 1992, passou impune. Ninguém até hoje cumpriu pena pelas mortes. E o coronel que comandou a operação elegeu-se deputado por São Paulo. MALBERGIER, Sérgio. Folha de São Paulo, 27/05/2004. As teses, atos e fatos sobre as políticas públicas para as comunidades mais pobres estão dividindo ao meio a cidade. Da mesma forma a repressão à informalidade apenas com vistas à visibilidade para a classe média. As pesquisas de opinião mostram isso a cada tema levantado. E grave: induzindo (intencionalmente) a classe média a criminalizar os pobres. Situações como essas podem produzir rupturas "culturais", quebrando a sensação unitária de pertencimento à mesma cidade. Essa identidade sempre foi a do Rio, onde a desigualdade social pouco afetou a unidade espacial nas praias, nos campos de futebol, na música, nas festas... Uma sensação de não pertencimento à mesma cidade produz uma nova identificação ideológico-religiosa, que defina nitidamente uma fronteira. Isso leva a busca de novos referentes e valores, incluindo os meios de comunicação. Já está sendo assim, entre os mais pobres em relação à audiência da TV. E, isso, sem tocar no tema violência. Nesse caso, os exemplos são os mais diversos em tantos países, da América Central à França. Há que se avaliar muito, refletir muito, os desdobramentos de tais teses, atos e fatos. Ex-Blog do César Maia Motivado pela declaração do prefeito Eduardo Paes de que “a remoção das favelas não pode ser tabu”, o jornal O Globo lembrou que isso já aconteceu nas cercanias da Lagoa Rodrigo de Freitas:
  • 8. Curso Pré-ENEM 14 Linguagens Ainda repercutindo essa declaração do atual prefeito, o site desse mesmo jornal propôs, na manhã do domingo de Páscoa, uma enquete entre seus leitores: “Você é a favor da remoção das favelas?”. Mais de três mil pessoas responderam à pergunta. 95% delas se disseram a favor. Instruções • O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. • O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas. • A redação com até 7 (sete) linhas escritas será considerada insuficiente e receberá nota zero. • A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeitos de correção.
  • 9. Curso Pré-ENEM 15 Linguagens REDAÇÃO Políticas democráticas As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se projetos que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há investimento no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência precisa ser mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências. Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, caímos no fato que nos remete a história brasileira anterior ao processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre priorizadas pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado. Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável e formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades. Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral. COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO Introdução As políticas públicas são, essencialmente, formas de governar os países considerando as minorias. Cria-se projetos que promovem a inserção dos indivíduos que não tem acesso as formas de cultura erudita, pois não há investimento no setor educacional brasileiro, que comparado ao sistema privado, é deficiente. Logo, esta deficiência precisa ser mudada, uma vez que o Brasil é um país de todos e há muito tempo sofre com estas deficiências. Comentário:Ottemappropoostoappreseentadooisasssuntossqqueeests ãodiriretammenterrelaccioi naddos,poorémnnacoontexttualizaação inntroduutóriaa é prreciso aborrdá-loss de maneeira coonjuntnta evitanndod , asssim, um ddesennvolvimmentoo tanggenciial ao temaa. O caandidato, nno preesentee paráágrafoo, inttroduzz apennas umma daas quuestõees preesentees na propoosta. NNo âmmbitoo ideológicoo há doois prroblemmas: o primmeiroo é a rreduçção daas pololíticass públicass apennas àss minooriass e o ssegunndo é a asssociaçção deesse mmesmoo penssameento à criaçção dee projojetos, destininadoss aa qqueuemm nãoo tem acessso “àss formmas dee cultuura eeruditta”. AAlém diisso, aa discuussãoo restrringe--se sommentte ao BBrasil, qque não é citaddoo direttamennte naa frasee temaa. Noo aspeecto ggrammatical,l, há ddesvioos relalacionaados à ccono cordânância verbrbal naa voz passiviva sinntéticaa: “crria-se projeetos” emm que obserrvammos umm sujeeito noo plurral e seueu respectivo predicadado no singugular; nno treccho “aacessso as fformaas de cultltura eeruditta ”, ppontuaamos aa ausêência dod acentntoo grave – às forormas dee cultuura eruudita --, paraa indiicar aa funçãão doo commplemmento nomiminal. NNo últitimo peeríodoo constatammosos uumm problemama de rereferênncia disiscursiiva: “eesta ddeficiêência”” não rer tomma anaaforicacamentnte nenhnhum ppene samemento anterior, como nnaa aplicaaçção dee ““essaa deficiêiênciaa””. Sugestão de reescritura Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado em busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse âmbito auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam investimentos em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças sociológicas. Desenvolvimento 1 Entretanto, quando pensamos as práticas políticas nacionais, remetemo-nos à história brasileira anterior ao processo de democratização que se fez de modo excludente e elitista, voltada as classes urbanas sempre priorizadas pelos governantes brasileiros eleitos em eleições diretas. Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado. Comentário: Ininicic almentnte,e há a uttililizização inadequ dadaa dada ccononjjunção “entretanntoto”” que exprpressa, prpreedomininantemmente, uma ded sconnsts ruçããoo de ideiaiass anteriormementnte apresentadas. Sua aplicaçãçãoo aantecipada oocasionaa uuma opoposiçãoo ddo quuee fof i expoposto naa tese, oo qque prejujudica a credibibililidadadede do textxto.o. HáHá, ainda, a supupeerposiçãoo dde ideiaias em uum únnicico peerír odo ee a utilizizaça ão inanaprp opriaddaa dod contexto histórico do Estado Novo ccoomo recursrso de intnteerdiscipipllinaridadade, cujaa clarezaa se perddee em rellaçação ao texto. ApA resesentam-ssee os desvivios gramaatiticais: a concordâdâncnciaia nnomominin lal e crase no trechoho ““ao procecesso de ddemocraattização.o... vovoltada((o)o) as(às)) clc asses urrbab nas” em ququee o vocábulo “voltada” deve se relelacaciionar sinttatatiicamentee com “prprocessoo””; o
  • 10. Curso Pré-ENEM 16 Linguagens emmpprego dodo pronoomme demononststrativo “istoto”,, qquando na verdade cabbereriaia em seu lugagarr o vocábubulol anafófórir co “isssos ”; o eqequívococo no usoo ddo parônnimimo “mandadadodo”, que no contexto tem sentido de “mmanandad to”; o ppleleonasmoo ccaracteririzado ppela utilizaçação doss vocábululoos “eleitooss em eleições” qqueue mmarca uma rededunundâdância. Sugestão de reescritura Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade. Desenvolvimento 2 Como visto acima, os mecanismos apresentados pelo poder público muitas vezes são variadas formas de obter sucesso no âmbito citado já que os individuos caracterizam-se de acordo com as ideologias apresentadas na década de 1930. A partir desse argumento percebemos o ciclo vicioso criado entre a busca do desenvolvimento sustentável e formas de conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades. Comentário: A construção “como visto acima” é problemática, pois não estabelece textualmente uma relação semântica clara com as ideias apresentadas anteriormente, além de se caracterizar como uma forma de pouco engajamento do texto. Os três sintagmas “variadas formas”, “âmbito citado” e “ideologias apresentadas” apresentam- se de modo vago e pouco esclarecedor no parágrafo. Além disso, a expressão “ciclo vicioso” é um clichê bastante recorrente em textos argumentativos, uma vez que constitui um vício de linguagem, resolvido a partir de sua troca pela expressão equivalente “círculo vicioso”. Ainda, a estrutura adverbial “a partir desse argumento” é vaga, pois não há um embasamento sobre o qual podemos associar essa assertiva. Por fim, com a inserção do trecho “conter os problemas sociais recorrentes nas favelas das grandes cidades” há uma visão reducionista que nos remete a restrição dos problemas aos âmbitos recortados. No que tange à estruturação, observa-se a ausência de vírgulas: anterior à oração adverbial “já que os indivíduos caracterizam-se...”, posterior à construção adverbial “a partir desse argumento”. Também no vocábulo paroxítono “individuos ” não há a marcação gráfica na sílaba tônica, a saber, “indivíduos”. Sugestão de reescritura Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas públicas, não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes para a resolução das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte, uma análise acerca dos resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção das medidas apresentadas. Conclusão Conclui-se que há a necessidade da criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas, reinvindicando suas vontades diante do governo que não intercede pela sociedade. Portanto reivindicar significa ter uma visão crítica em relação ao governo, pois vivemos numa sociedade desigual e sem moral. Comentário: Em um primeiro momento, localiza-se a expressão “conclui-se que” que revela pouco engajamento textual e constitui um clichê recorrente em textos argumentativos. Há um tom panfletário no primeiro período do texto, especificamente no trecho “criação de medidas de conscientização da população que deve lutar por seus direitos nas ruas”. Consnstata-sse a suupep rpososição ddas estruutut ras encaabebeçaçadas pela pprerepposição dee:: “a necesessidadede da crcriaçãoo de mmeedidaas ded cononscienntizaçãoão da poopup laçãão”o . Além ddisso, há um desvio ortográficoo eem relaçãçãoo à palalavra “rreeinvinnddicanddo”, quque éé grg afadada “reieivindiccana do”.” Sugestão de reescritura É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas, quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas, devem-se redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de modo a preservar um desenvolvimento aplicado. COMENTÁRIO GERAL Com relação à contextualização temática da redação mediana, encontram-se algumas carências ligadas à abordagem: “Isto é comprovado, por exemplo, com o governo de Getúlio Vargas presidente que se suicidou por buscar o segundo mandado.” A utilização do dado histórico como inclusão de interdisciplinaridade ao texto, além de caracterizar uma falha relacionada diretamente à compreensão do texto, devido à falta de conexão das ideias
  • 11. Curso Pré-ENEM 17 Linguagens propostas, demonstra também a argumentação sem fundamentação, pois não apresenta um desenvolvimento ao longo do parágrafo. Equívocos como esse podem ocasionar na perda de pontos nas competências 2 e 3 do ENEM, principalmente interdisciplinaridade e argumentação, respectivamente. Ainda sobre a abordagem argumentativa, há alguns desvios sutis relacionados à colocação de alguns termos como, por exemplo, “como visto acima”. A seleção inadequada desses vocábulos pode comprometer sua coesão. No entanto, não observamos problemas de coerência nesse texto, visto que as ideias estabelecem relação interna. Há, ainda, a restrição temática focada somente às questões brasileiras, assunto não explicitado especificamente na frase tema. Desse modo, sua abordagem pode ser considerada limitada, assim como sua interpretação e seu entendimento sobre a proposta. Relacionados à norma culta, há alguns desvios, não tão marcantes, mas que podem acarretar, também, perda de poucos pontos na primeira competência – norma culta – como podemos ver em “mandado” e “ciclo vicioso”. A última, além de ser considerada uma expressão de utilização clichê, comprometendo o estilo criativo de seu texto, é escrita erroneamente, a saber, “círculo vicioso”. Embora as competências mais características do ENEM sejam interdisciplinaridade e proposta de intervenção, normal culta é igualmente pontuada, visto que todas as cinco competências tem o mesmo valor de pontuação: 200 pontos. Sobre a conclusão da redação, há a exigência especificamente da elaboração de uma proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Entretanto, não são consideradas todas as propostas que apenas apresentem um tom interventivo. É preciso elaborar uma intervenção que seja concreta e viável, principalmente, além de objetiva e que não restrinja as ideias a nenhum grupo social, econômico ou político. Propor medidas apenas às escolas, ou governantes, por exemplo, além dessa restrição, apresenta a visão limitada acerca da problematização desenvolvida ao longo do texto. Apresentar, também, uma retomada clara de sua tese, atribui à sua redação a característica de boa compreensão textual além de uma conclusão coerente com seus argumentos. UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR Destinada à coletividade, as políticas públicas são o conjunto de diretrizes, normas e ações efetuadas pelo Estado em busca de mudanças que favorecem o desenvolvimento social. Dessa forma, a melhoria na qualidade de vida nesse âmbito auxilia na manutenção dos direitos básicos dos seres humanos. No entanto, em países emergentes, faltam investimentos em políticas sociais, o que privilegia o setor econômico fazendo com que não ocorram mudanças sociológicas. Pensar o desenvolvimento econômico implica direcionar esforços que incidem, sobretudo, nas relações globais entre as nações. De acordo com Stuart Hall, sociólogo contemporâneo, há uma linha tênue entre aspectos econômicos em relação às transformações sociais. Segundo o autor, essas caracterizam-se pela rediscussão da identidade cultural e aqueles a partir de uma delineação capitalista, indissociáveis na contemporaneidade. Pontua-se, por outro lado, o caráter problemático da implementação e do acompanhamento das políticas públicas, não pensadas a longo prazo. Nessa medida, as propostas paliativas tornam-se mecanismos atenuantes para a resolução das dificuldades de concentração de renda entre outras adversidades sociais. Por conseguinte, uma análise acerca dos resultados obtidos por meio desses planejamentos revela-nos a ausência na manutenção das medidas apresentadas. É pertinente que se fale na mescla das necessidades econômicas e sociais, pois ambas ainda são dicotômicas, quando postas em questão nas discussões internacionais. A fim de que essas demandas sejam interpoladas, devem-se redirecionar as propostas de cunho global, com o intuito de promover o acompanhamento social, de modo a preservar um desenvolvimento aplicado.
  • 12. Curso Pré-ENEM 18 Linguagens Tema A dissertação 2 Tópico de estudo Planejamento de texto: leitura da coletânea, construção de teses e seleção de argumentos. Situações-problema e conceitos básicos 1. O planejamento Há muitas e diferentes maneiras de se montar um texto. Existem os que pensam em começar a escrever a partir da famosa “inspiração”. Ficam horas esperando cair algo mágico no pensamento, para que aquilo se torne um bom argumento, o que vamos considerar logo de antemão que isso poderia até funcionar, mas não para algo lógico e convincente como se espera de uma dissertação argumentativa. Talvez fosse uma boa estratégia para as narrativas, por exemplo. No entanto, medidas como chuva de ideias, desdobramento da palavra-chave, escolha de um tópico frasal podem ser úteis, mas nada disso garante uma eficácia no desenvolvimento e qualidade dos argumentos. Encontramos muitos problemas em texto de concursos como: a fuga ao tema, a contradição, a redundância, a falta de organização lógica dos argumentos e, muito disso, em função de muitos alunos preferirem ir escrevendo à medida que vão pensando sobre o assunto. Nesse sentido, pensamos que é categórico o aluno saber conduzir seu texto antes de começar a escrevê-lo, para evitar problemas desse tipo. Para isso, após selecionar sua tese, o aluno deve listar, num rascunho, todas as suas idéias/ argumentos sem censurar, nem descartar nada. Nessa etapa, é fundamental não ser crítico consigo mesmo para que tenhamos um material extenso a ser trabalhado. Após isso, nossa tarefa é organizar essas ideias, eliminando aquelas que não atendem diretamente ao tema e associando aquelas que são afins. Nesse momento, o aluno precisa lembrar que cada tópico deverá corresponder a um parágrafo, e, com isso, o senso crítico deve vir à tona: devemos pensar na relevância, na originalidade, na solidez das ideias selecionadas. Por fim, temos que organizar nossos argumentos segundo um projeto de redação. Sugerem-se, inclusive, algumas perguntas que o aluno pode fazer na hora de criar esse roteiro: a) O que eu pretendo defender? b) Qual a relevância de eu apresentar este tópico? c) Qual o desdobramento desse item? d) Estou montando uma linha de raciocínio coerente com a minha tese principal? Deve-se pensar na fluidez do texto, na seqüência lógica de idéias, na gradação crescente dos argumentos até chegarmos à conclusão. Com certeza, trata-se de um processo de extrema importância para quem pretende escrever um bom texto. Veja abaixo as etapas de construção do planejamento até a produção final. a) Interpretação e compreensão da frase-tema • Analisar a estrutura da frase-tema; • Identificar a palavra-chave; • Observar elementos de restrição ou de ampliação.
  • 13. Curso Pré-ENEM 19 Linguagens b) Levantamento de ideias • Montar uma estratégia de brainstorming – anotar tudo no papel que venha à mente naquela hora; • Buscar os porquês daqueles pontos; • Sugerir exemplos/situações notórias para fundamentar exposições. c) Seleção e organização dos argumentos • Decidir quais ideias mais relevantes para o raciocínio final; • Criar a sequência coerente entre os pontos escolhidos; • Proporcionar um clímax crescente – o último argumento tende a ser o mais impactante. d) Elaboração final • Checar todas as partes do texto; • Verificar a relação entre os parágrafos; • Tentar montar um “algo a mais” – uma estratégia diferenciada para a conclusão ou um texto-circuito. 2. Coletânea de textos De fato, as mudanças estruturais na educação brasileira, sobretudo na última década, têm tido enorme influência nos modelos de vestibular. Uma das conseqüências mais evidentes diz respeito à forma de apresentação das propostas de redação. Antes limitados a duas ou três frases, muitas vezes enigmáticas, os temas passaram a incluir fragmentos de textos teóricos, trechos de leis, letras de música, poemas, charges e fotografias, enfim, uma coletânea de ideias e informações para ajudar o aluno a construir seu texto. Dessa maneira, o ato de redigir propriamente dito é antecedido de um ato de leitura. A rigor, é com o material fornecido pela Banca que o aluno saberá orientar sua redação sem se perder nos inúmeros caminhos que lhe ocorrem ao ler o tema. Ao mesmo tempo, ele deverá exercer — e demonstrar — sua capacidade de absorver o conteúdo apresentado, adaptando-o a seu projeto de texto, como que numa atividade de reciclagem criativa. Com frequência, porém, os candidatos confundem uso com cópia ou citação literal. A esse respeito, cumpre lembrar que os fragmentos fornecidos precisam ser interpretados para que se aproveite deles apenas o essencial. Com essa compreensão, o aluno passa a associar as informações e ideias apresentadas, somando-as às suas. Só assim, ele terá utilizado de forma inteligente e ativa a coletânea. Mais uma vez, portanto, não existe uso fácil; por outro lado, para quem não tem medo de pensar, eis uma excelente oportunidade de enriquecer a redação. Para fazer uma utilização inteligente dos textos da coletânea, é preciso ter uma postura ativa no momento da leitura. Sublinhar palavras ou frases, reler o fragmento várias vezes, sintetizar a idéia central, estabelecer relações com outras ideias, refletir sobre o texto são algumas das tarefas a serem cumpridas. Em todo caso, podemos exemplificar o que seria um uso bem feito de uma coletânea. Para isso, selecionamos um tema exemplar, proposto pelo Enem em 2004: Leia com atenção os seguintes textos: Texto I Caco Galhardo. 2001. Texto II Os programas sensacionalistas do rádio e os programas policiais de final da tarde em televisão saciam curiosidades perversas e até mórbidas tirando sua matéria-prima do drama de cidadãos humildes que aparecem nas delegacias como suspeitos de pequenos crimes. Ali, são entrevistados por intimidação. As câmeras invadem barracos e cortiços, e gravam sem pedir licença a estupefação de famílias de baixíssima renda que não sabem direito o que se passa: um parente é suspeito de estupro, ou o vizinho acaba de ser preso por tráfico, ou o primo morreu no massacre de fim de semana no bar da esquina. A polícia chega atirando; a mídia chega filmando. BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
  • 14. Curso Pré-ENEM 20 Linguagens Texto III Quem fiscaliza [a imprensa]? Trata-se de tema complexo porque remete para a questão da responsabilidade não só das empresas de comunicação como também dos jornalistas. Alguns países, como a Suécia e a Grã-Bretanha, vêm há anos tentando resolver o problema da responsabilidade do jornalismo por meio de mecanismos que incentivam a auto-regulação da mídia. http://www.eticanatv.org.br Acesso em 30/05/2004. Texto IV No Brasil, entre outras organizações, existe o Observatório da Imprensa – entidade civil, não-governamental e não-partidária –, que pretende acompanhar o desempenho da mídia brasileira. Em sua página eletrônica , lê-se: Os meios de comunicação de massa são majoritariamente produzidos por empresas privadas cujas decisões atendem legitimamente aos desígnios de seus acionistas ou representantes. Mas o produto jornalístico é, inquestionavelmente, um serviço público, com garantias e privilégios específicos previstos na Constituição Federal, o que pressupõe contrapartidas em deveres e responsabilidades sociais. http://www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br (adaptado) Acesso em 30/05/04. Texto V Incisos do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988: IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. • Com base nas ideias presentes nos textos acima, redija uma dissertação em prosa sobre o seguinte tema: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação? 2.1. Análise Sobre a proposta trata-se da questão da imprensa e do impacto de seus conteúdos na sociedade. Para guiar o aluno em suas reflexões sobre o papel da imprensa, o tema de redação do Enem 2004 apresentou uma charge de Caco Galhardo na qual um aparelho de TV é representado por uma lata de lixo. A imagem trazia para o centro da proposta a problemática dos conteúdos midiáticos no Brasil, especialmente o que o senso comum chama de “baixaria” – a lixocultura como centro das atenções. No segundo texto, o autor evidencia a questão da espetacularização da realidade - a mídia invade a intimidade alheia, o grotesco do examinado. Tudo em busca de uma maior adesão e aplauso do público. No terceiro texto, o enfoque gira em torno da regulação da imprensa. Como poderíamos estabelecer os limites na abordagem das notícias e no nível das reportagens. No penúltimo, cita-se a existência de um blog que faz uma espécie de vistoria sobre as coberturas jornalísticas. Evidencia-se uma crítica em função das coberturas interesseiras e parciais dos principais órgãos midiáticos. Por fim, apresentam-se fragmentos da Constituição para fundamentar o aspecto da liberdade na cobertura das informações, assim como a garantia ao respeito das imagens das pessoas. 3. Elaboração da tese Com frequência, observam-se redações muito bem escritas, bem apresentadas e de acordo com o tema proposto que, no entanto, parecem desinteressantes, como se não tivessem algo a dizer. Esse problema é típico de redatores que querem enquadrar seus textos em “fórmulas” e que não refletem sobre o problema a ser discutido. Em geral, leitores desatentos considerariam razoáveis essas redações “certinhas”, mas os examinadores das bancas procuram mais do que organização: eles preferem textos que transmitam uma mensagem, por mais simples que seja. Um bom indício de uma redação vazia está em sua introdução. Com dois ou três períodos, distribuídos em cinco ou seis linhas, em que se apresenta o tema e se enumeram os argumentos, esse parágrafo poderia ser utilizado por virtualmente todos os candidatos. Qual é, nesses casos, o problema central? A resposta não é difícil: trata-se da ausência de uma tese que sustente o projeto do texto. Em uma concepção simples, tese seria a ideia ou eixo fundamental que existe sob toda a argumentação desenvolvida ao longo do texto. Normalmente, constitui uma resposta sintética para a pergunta que foi feita
  • 15. Curso Pré-ENEM 21 Linguagens — se esse for o caso — ou uma maneira pessoal de recombinar as palavras do tema. Funciona, portanto, como a essência que sobraria se tivéssemos que reduzir o texto a um único período. Dito de outro modo, a tese caracteriza-se por ser uma expressão de um ponto de vista pensado pelo autor acerca da questão proposta. Isso significa, em primeiro lugar, que a elaboração dessa idéia central não costuma ser imediata ou automática, demandando certo tempo para meditação. Entretanto, uma vez elaborada, a tese permite um fácil desenrolar das ideias, contribuindo até mesmo com outros aspectos importantes, de que trataremos ainda hoje É preciso estarmos cientes, porém, de que não existe uma técnica ou método geral a ser aplicado por todos a fim de se elaborarem suas teses. Isso seria até contraditório em relação ao que dissemos. Por isso, procuraremos demonstrar essa teoria com alguns bons exemplos, que não são — nem poderiam ser — modelos. 3.1. Reconhecimento do problema • Leia o parágrafo a seguir, que serviu de introdução a um texto sobre a situação dos negros no Brasil hoje: Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Para compreender — e superar — esse panorama, faz-se necessário analisar os fatores sociais, econômicos e políticos que sustentam a vergonhosa distribuição racial brasileira. Com certeza, essa introdução é bem redigida, clara e objetiva. Falta-lhe, entretanto, uma idéia central. Compare-a com os parágrafos que se seguem: Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Esse panorama constitui mais uma faceta de um grave vício brasileiro — elaborar soluções verbais para problemas concretos. Entretanto, enquanto se proferem belos discursos, as vítimas continuam a sofrer. Há mais de cem anos, uma lei foi assinada para libertar os negros escravos no Brasil. Desde então, a realidade da distribuição racial parece manter-se a mesma no país: poucas oportunidades de ascensão social e muitas formas de preconceito. Ao mesmo tempo, exaltamos a miscigenação étnica como uma marca brasileira diante da intolerância global. Entretanto, este é o problema — sob o mito da mistura racial, ocultamos um racismo ainda mais perverso, que não tem sequer uma face visível. • O parágrafo a seguir é a introdução de uma redação para o tema “Democracia e desigualdade social no Brasil.” Observe que a capacidade de síntese de seu autor produziu um bom exemplo de texto: Sabe-se que o Brasil é, historicamente, marcado por absurdas desigualdades sociais e por nenhuma medida política eficaz para, pelo menos, amenizá-las. Nesse contexto de displicência governamental, o abismo entre as classes apenas aumentou, chegando, nos dias atuais, a uma assustadora realidade de divisão e segregação. O paradoxal, no entanto, é que mesmo em um país de gritantes diferenças, há quem acredite viver em uma plena democracia. Em geral, quando a frase-tema possui forma interrogativa, construímos nossas teses respondendo à pergunta proposta. Quando ela possui estrutura afirmativa, a tese surge quando problematizamos a questão, combinando as palavras da frase-tema de uma maneira pessoal. Uma vez elaborada, a tese se torna o eixo central de toda a argumentação do candidato: em todos os parágrafos, necessariamente, deve-se buscar fazer uma referência implícita ou explícita a ela. Se a tese é pessoal, não é possível encontrar um método universal para estabelecê-la. Só a prática será capaz de fazer com que o aluno a construa de maneiras cada vez mais interessantes para tornar seu texto mais atraente. Itens para avaliação 4. Exercício 4.1 Interprete de forma completa o tema abaixo: A partir dos trechos abaixo, elabore um texto dissertativo-argumentativo em que você apresente suas reflexões sobre o brasileiro e a questão da moral.
  • 16. Curso Pré-ENEM 22 Linguagens Texto I “Nas últimas semanas, a imprensa tem se dedicado a analisar a frouxidão moral dos brasileiros. Está certo. Os brasileiros são moralmente frouxos mesmo. Isso ninguém discute.” Diogo Mainardi Texto II Cena 9 - Canção do exílio Minha terra tem campos de futebol onde cadáveres amanhecem emborcados pra atrapalhar os jogos. Tem uma pedrinha cor-de-bile que faz “tuim” na cabeça da gente. Tem também muros de bloco (sem pintura, claro, que tinta é a maior frescura quando falta mistura), onde pousam cacos de vidro pra espantar malaco. Minha terra tem HK, AR15, M21, 45 e 38 (na minha terra, 32 é uma piada). As sirenes que aqui apitam, apitam de repente e sem hora marcada. Elas não são mais das fábricas, que fecharam. São mesmo é camburões, que vêm fazer aleijados, trazer tranquilidade e aflição. Fernando Bonassi Texto III Ser brasileiro Somos um povo sui generis em vários aspectos. Alguns ditados populares têm lá a sua razão de ser. Aqui há “leis que pegam” e “leis que não pegam”, depende de a quem se aplica. A rigidez da letra fria da lei esbarra no “jeitinho brasileiro”, no “favor”, no quebra-galho. Sérgio Buarque de Hollanda aponta algumas características de nossa formação social no clássico “Raízes do Brasil”. Somos um povo cordial e intimista. Em que outra nação conhecem-se as pessoas pelo apelido diminutivo, inclusive após o honorífico, como por exemplo: “Seu Luizinho”, “Dona Candinha”... Até alguns santos merecem tratamento informal, como Santa Terezinha e o Menino Jesus por exemplo. Lázaro Curvelo Chaves 1. Analise a proposta, determinando especificamente o que deve ser abordado. 2. Elabore uma tese que servirá de base para a defesa do ponto de vista sobre o tema. 3. Levante três argumentos que serão usados como base para a sua tese. 4. Agora, confeccione um parágrafo argumentativo com cerca de seis linhas baseado em um de seus argumentos citados. Anotações Solução comentada dos itens 1. Considerando que análise de palavra-chave é uma etapa fundamental da interpretação temática, é importante que o aluno saiba conceituar moral. Seria impossível, por isso, fugir da questão da ética. Portanto, é importante perceber basicamente: a questão da assimilação social dos valores – que fundam e fundamentam regras de convívio – e a idéia de “fazer a coisa certa sem que isso seja uma regra/ordem”. Um bom recorte para a relação entre a questão moral e o brasileiro é partir das noções de moral individual e moral coletiva. 2. A falta de seriedade do brasileiro é fruto de uma alienação forçada que, por sua vez, é fruto da influência, na moral individual, da falta de moral social. 3. A1) O excesso de comportamentos desviantes cria uma nova noção de certo e errado. Assim, há uma banalização do erro, que é repetido sem medição de conseqüências. A2) A compreensão plena da questão moral só se dá na fusão entre o individual e o coletivo. O“mas todo mundo faz/faria isso”cria uma aceitação social de condutas imorais. A3) Por mais que a moral individual crie, para o brasileiro, determinadas regulações – sanções, impedimentos e até mesmo culpa – a freqüente corrupção da moral coletiva, observada por ele em seu cotidiano, pode motivá-lo a ferir a sua também. 4. Mais um fator interfere na relação entre o brasileiro e a moralidade: a falta de moral social. Por isso, mesmo quando ele possui valores sociais e costuma obedecer a regras de convívio, pode perceber condutas imorais de outras pessoas de seu convívio. Condutas, inclusive, muitas vezes bem recompensadas ou, de alguma forma, vantajosas. Assim, ele se sente incitado a desrespeitar a moral também.
  • 17. Curso Pré-ENEM 23 Linguagens Conceitos básicos e sua operacionalização 4.2. Sua tarefa, agora, é interpretar o tema, elaborar uma tese e planejar a organização dos argumentos para cada uma das propostas apresentadas. Leia o texto a seguir: Texto I Em uma passagem por São Paulo, o escritor Mia Couto brindou sua platéia com pérolas moçambicanas. O autor de O Outro Pé da Sereia observou que seus conterrâneos têm dificuldade para dizer não, como se a negação representasse uma forte desavença. Certa vez perguntou a um pescador se a maré estava a subir e colheu a seguinte evasiva: “Sim, está a subir, mas já começou a descer”. D’outra ocasião, exercia atividades de biólogo em uma praia e avistou um pássaro. Interessado, perguntou a um nativo próximo: “Qual o nome daquele pássaro?”, ao que o interlocutor respondeu: “A esse pássaro nós aqui chamamos de sapo”. Em um terceiro evento, perguntou a um produtor, beneficiado por uma determinada política pública, se sua vida havia melhorado, ao que o dito produtor retornou: “Está a melhorar a vida, mas está a melhorar muito mal”. Moçambique não tem apenas a língua e a colonização portuguesa em comum com Pindorama. Os habitantes daqui e d’acolá parecem intimidados pela possibilidade de terem de dizer não. Nos trópicos sul-americanos, como na África Austral, dizer não parece ser um convite ao constrangimento. Se não for acompanhada de mesuras e compensações, a temerária conduta poderá colocar em risco Mia Couto amizades e relações profissionais, ou despertar sentimentos de vingança. Qual é a raiz? A primeira hipótese, obviamente, é o passado colonial. Sociedades coloniais são assimétricas. Moçambique livrou- se do jugo há três décadas; Pindorama, há quase dois séculos, mas ainda não se emendou. “O projeto estará pronto até o fim do mês?” “Certamente.” “O carro estará reparado até o fim da semana?” “Sim, sem sombra de dúvida.” Naturalmente, não se pode tomar tais respostas por seu valor de face. Tais respostas significam que, findo o prazo, os assuntos apenas começarão a ser considerados. A chance de os trabalhos serem terminados no momento prometido é, como se sabe, remota ou nula. WOOD, Thomas Jr. A Terra do Não. Em Carta Capital, junho de 2006. Texto II Conte quantas vezes você fala “sim” e “não”. O sim é pouco usado. Pois as línguas já são naturalmente afirmativas. Mas a negação precisa ser explícita. O francês nega usando duas palavras — “ne pas”. O inglês pede ajuda a um verbo — “do not”. Quem fala, afirma. Se quiser soar democrático, usa os cansativos “na minha opinião” ou “eu acho que” para disfarçar o autoritarismo do discurso. Jornalistas escondem a assertividade* implícita nas perguntas usando o “aí”. “O que o senhor tem a dizer aí sobre o mercado na semana passada?”. Como se a indicação de lugar-aí-abrisse várias possibilidades de resposta. Há quem use o “pô” mal educado como vírgula ou pedido de desculpas, da mesma forma que alguns americanos usam o “you know”. Não adianta — a língua revela despudoramente a pretensão de saber ou poder de quem fala Por outro lado, discursamos apenas sobre o que é discutível ou falso. “Eu sou honesto”. Na turbulência, a aeromoça afirma: “A situação é normal”. O evidente e o óbvio passam em silêncio. SAYAD, João. Pas du tout, Folha de S. Paulo, 29/05/2006. *assertividade = capacidade de dizer aquilo que se pensa, que se julga correto. • Com base na leitura dos textos apresentados, escreva um texto dissertativo que deverá ter como tema: Como conciliar, na vida profissional, assertividade e bom relacionamento? Sua redação deverá ser escrita em prosa e obedecer aos padrões da norma culta do português do Brasil. Para apoiar a discussão, a proposta apresentou dois textos em cujas idéias o candidato poderia se basear. O texto I, de Thomas Wood, foi publicado pela revista Carta Capital e relatava uma observação feita pelo escritor moçambicano Mia Couto: o fato de habitantes dos trópicos sul-americanos e da África Austral sentirem-se intimidados pela possibilidade de terem de dizer não. Parece que o ato de dizer não, para essas pessoas, representa um convite ao constrangimento, que poderia colocar em risco amizades e relações profissionais, ou até mesmo, despertar sentimentos de vingança. O texto II, de João Sayad, publicado pelo jornal Folha de São Paulo, tratava do fato de as línguas serem naturalmente afirmativas e, sendo assim, revelarem “despudoradamente” a pretensão de saber ou poder de quem fala.
  • 18. Curso Pré-ENEM 24 Linguagens Considerando essas reflexões, o candidato poderia questionar o fato de como a comunicação, no ambiente de trabalho, pode impactar no desempenho da empresa. Em geral, na relação entre as diferentes hierarquias organizacionais é possível observar, entre outros, comportamentos de submissão e passividade, sem questionamento por parte do falante, quando se trata do funcionário, e agressividade ou inflexibilidade, quando se trata da chefia ou de superiores hierárquicos. As atitudes agressivas da chefia acabam sendo reforçados pelo comportamento passivo dos subordinados, que o fazem para evitar confronto direto com os superiores e possível perda de privilégios. O subordinado não questiona o chefe nem expõe suas idéias porque ele é avaliado por esse chefe. Ao não questionar, o funcionário pode estar favorecendo os comportamentos agressivos do chefe. O chefe, por sua vez, ao manter um bom relacionamento com o funcionário que não questiona e uma relação não tão boa com aquele que questiona, acaba expondo um modelo de interação social que prega a “passividade” ou o não questionamento. Assim, por uma questão cultural, comportamentos ditos assertivos não ocorrem no ambiente de trabalho devido a esse tipo de interação chefe-subordinado. Como consequência, os problemas dificilmente são superados. Uma alternativa seria as pessoas aprenderem que expressar suas próprias opiniões e sentimentos de maneira direta, e em um tom moderado, olho no olho, pode representar uma resposta verbal sobre sentimentos ou opiniões de maneira respeitosa ao ouvinte. Esse comportamento se opõe àquele classificado como agressivo, em que o funcionário se expressa de forma hostil, inflexível e em voz alta. Comportamentos assertivos, ao contrário, incluiriam a expressão dos sentimentos do falante de forma direta e clara, sem infringir os direitos dos outros. Uma das atividades mais comuns em organizações de todos os portes é o trabalho em equipe. Durante esse tipo de atividade, funcionários precisam expor idéias, observações e apontar problemas para que tarefas sejam realizadas da melhor maneira possível, contribuindo para o bem estar da empresa. Os comportamentos assertivos mais diretamente relacionados à efetividade do trabalho em equipe incluem apontar erros/problemas, verbalizar soluções, e expressar e defender as próprias opiniões. Assim, faz-se necessário propor uma mudança cultural, em que deve estar clara a ligação entre essas mudanças propostas e as conseqüências que as mesmas trarão para a empresa. Ao treinar funcionários a serem mais assertivos quando se comunicam uns com os outros, por exemplo, é preciso garantir que os resultados obtidos com esse tipo de treinamento sejam relevantes para a organização, caso contrário tal treinamento acarretará perda de tempo e dinheiro. Assim, no ambiente de trabalho são comuns as situações nas quais indivíduos precisam dar suas opiniões, fazer pedidos, e expressar seus pontos de vista. Parte do sucesso da empresa depende da forma como os funcionários se comunicam. Para que o candidato entenda o tema de maneira plena, ele deve considerar que as palavras-chave são “assertividade” e “bom relacionamento”. Do mesmo modo, há que se perceber a limitação discursiva empreeendida pela expressão “vida profissional”, que impõe uma discussão centralizada somente nesse campo social. Entretanto, uma das estratégias a ser adotada pode ser o debate generalizado em torno de todos os relacionamentos interpessoais, comparadas ao convívio profissional. Além do mais, não se deve esquecer o fato de o tema ser construído a partir de uma pergunta. Respondê-la, então, é imprescindível para uma abordagem específica e correta da temática. Todavia, para não tangenciar o tema, é importante que o aluno não se limite a responder apenas uma parte do questionamento proposto inicialmente. Assim, as respostas não devem se restringir a apenas um aspecto do tema, tal qual como falar de assertividade sem relacionar ao bom relacionamento interpessoal. Pelo contrário, ainda que seja necessária a restrição ao âmbito profissional, trabalhar com todas as possibilidades é fundamental para cumprir as expectativas da banca. Ademais, o importante no texto não é somente definir as palavras-chave, mas mostrar a conciliação proposta entre as mesmas. Teses: • Nem todo relacionamento é mantido por concessões, uma vez que é necessário reafirmar-se a partir de algumas negativas. Tratando-se de profissionalismo, essa premissa faz-se essencial para a manutenção da noção hierárquica pré-estabelecida. • A assertividade, vista de uma maneira respeitosa, ajuda na construção de um bom relacionamento profissional na medida em que estabelece uma predisposição para aceitar as diferenças. • O conceito de assertividade - capacidade de julgar-se correto - não pode ser visto como uma imposição, e sim um conciliação interpessoal para um bom convívio profissional. Argumentos: • Valores profissionais desenvolvidos à base de concessões têm como resultado direto um bom relacionamento interpessoal, na medida em que as prerrogativas de negação estabeleceram-se como um aspecto construtivo e não conflitante.
  • 19. Curso Pré-ENEM 25 Linguagens • No universo profissional, aceitar as diferenças é positivo, já que elas contribuem para a construção de um trabalho diversificado e pautado na união de valores e no bom convívio social. • Julgar-se correto pode gerar conflitos interpessoais, já que, muita vezes, é uma forma de impor-se sobre a opinião alheia. REDAÇÃO Por um mundo mais justo Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano age desse jeito? O que leva o indivíduo a agir de forma preconceituosa? Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso? O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele. Por exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de maneira preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente. Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas. COMENTÁRIOS SOBRE A REDAÇÃO Introdução Diante do mundo conturbado que vivemos hoje em dia, podemos perceber que o ser humano tem a necessidade de julgar tudo a sua volta. É aí que entra o preconceito. Quais seriam as causas dessa postura? Por que o ser humano age desse jeito? O que leva a o indivíduo a agir de forma preconceituosa? Comentário:Noparágrafointrodutório,resolve-secomeçarcomumadjuntoadverbialtemporalpoucoesclarecedor e consistente, não sendo capaz de contextualizar de forma plena o assunto a ser abordado. A seleção lexical de “É aí” e “entra” está inapropriada, sendo marca do registro formal/oral da língua. Outro problema presente na introdução reside no excesso de questionamentos ao final do parágrafo. Além de haver muitas perguntas, todas elas significam a mesma coisa, tornando o parágrafo redundante. Sugestão de reescritura “Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos desafios que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado, analogamente, à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas vezes, em teste, assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito estão associadas ao paralelo entre o micro e o macrocosmo? Desenvolvimento 1 Primeiramente, é uma questão de instinto humano. Um instinto de querer se agrupar e excluir o outro. Levando em consideração esse instinto, chegamos à conclusão de que todo homem é preconceituoso. Mas será que é só isso? Comentário: O tópico frasal do primeiro parágrafo de desenvolvimento mostra-se precário e pouco desenvolvido ao longo do mesmo. A repetição da palavra “instinto” também prejudica o desenvolvimento textual. O uso da expressão “levando em consideração” não é recomendado em textos dissertativo-argumentativos, já que referências metalinguísticas (ao próprio texto) não são adequadas a essa tipologia textual. Além disso, o uso da conjunção adversativa “mas” no início da frase é proibido de acordo com a norma culta, servindo apenas para associar duas frases. O uso de perguntas retóricas também não é recomendado quando se está desenvolvendo um argumento. De maneira geral, o parágrafo não cumpriu sua função de convencer os leitores da opinião do autor. Sugestão de reescritura É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito. Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim como o Ateneu a mesma.
  • 20. Curso Pré-ENEM 26 Linguagens Desenvolvimento 2 O homem também é preconceituoso porque, para se proteger, foge e discrimina aquilo que é diferente dele. Por exemplo, o sentimento de xenofobia. Quando um estrangeiro viaja para um território alheio, ele é tratado de maneira preconceituosa e intolerante. Isso, infelizmente, é uma realidade que acontece de forma frequente. Comentário: O segundo parágrafo de desenvolvimento já se inicia com uma falha de paralelismo, devendo ter começado por “Segundamente” ou “Em segundo lugar”. Perceba que o tópico frasal é muito limitado e quase não é explicado, sendo seguido por um exemplo que aumenta o caráter expositivo do parágrafo. O exemplo utilizado é muito previsível e pouco consistente no que tange ao poder de convencimento. O uso de “Ele é” generaliza e o uso de “infelizmente” marca uma opinião pessoal do autor, o que não é permitido em textos dissertativo-argumentativos. Sugestão de reescritura Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias, culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada por preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar laços de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente. Conclusão Conclui-se, então, que o preconceito existe por diversos motivos e deve ser combatido por trazer coisas negativas ao homem. Uma forma de amenizar esse problema seria conscientizando as crianças do ensino infantil. Só assim poderíamos viver em um mundo mais justo, sem ideias preconceituosas. Comentário: Ao concluir um texto, o autor deve retomar a tese e elencar uma proposta prática de conscientização que promova a mudança da problemática apresentada – o que não acontece. Esqueceu-se que fazer referências metalinguísticas, como em “Conclui-se”, não é recomendado, além do uso de palavras abstratas, como “coisas”. Deve-se tomar cuidado também com a praticidade e objetividade da proposta de intervenção. No caso, apenas a conscientização não seria suficiente para mudar a situação-problema. Além disso, a última frase da conclusão é clichê e pouco convincente, concluindo o texto de forma precária. Sugestão de reescritura Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os Ateneus criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial, étnico, social, religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o governo poderia incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural e o externo é vantajoso e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a representação mimética de que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento. COMENTÁRIO GERAL O tema “Preconceito e intolerância no mundo de hoje” pode parecer fácil devido à enorme veiculação desse assunto em diversos meios midiáticos. Portanto, uma boa redação a respeito desse tema seria a que conseguisse problematizar tal questão, pensando em causas, consequências e conjunturas diversas. O primeiro passo, então, seria tornar a frase tema mais explorável criticamente, não apenas exposta de forma objetiva. A proposta exige que o candidato construa um texto dissertativo-argumentativo que se estruture em introdução, desenvolvimento e conclusão. Os segundo e terceiro parágrafos do texto “Por um mundo mais justo”, embora tenha tópicos frasais iminentemente discutíveis, não foram desenvolvidos de maneira consistente e completa. Pelo contrário, limitaram-se a generalizar e a dar exemplos pouco esclarecedores. Analisando o título do texto, embora não seja uma exigência da banca, percebe-se uma construção muito clichê. Quanto aos recursos utilizados para enriquecer a argumentação, estão a pergunta retórica e a exemplificação. Essas estratégias são, de fato, bem valorizadas pela banca do ENEM, já que demonstram a capacidade do aluno de criar mecanismos linguísticos válidos para a construção argumentativa, um dos critérios utilizados pela banca. O redator, porém, ao usar cada uma dessas estratégias, apresentou alguns problemas, como o excesso e a redundância de questionamentos na introdução, o uso de uma pergunta retórica no desenvolvimento, área do texto inapropriada para esse tipo de recurso e a utilização de um exemplo específico, pouco esclarecedor argumentativamente. Levando em consideração a coesão e a coerência textuais, o redator do texto não soube organizar de forma clara e estruturada as ideias para a defesa do seu ponto de vista, tendo como marca frases muito soltas, pouco articuladas sintática e semanticamente. Outros critérios cobrados pela banca do ENEM são a interdisciplinaridade – aplicar conceitos de outras áreas do desenvolvimento para desenvolver o tema – e a proposta de conscientização social – elaborar uma intervenção
  • 21. Curso Pré-ENEM 27 Linguagens plausível para o problema abordado. O primeiro critério não foi utilizado no texto “Por um mundo melhor”, o que acarretaria a retirada de 200 pontos da nota final (valor do critério). A respeito da proposta de intervenção, percebe-se uma precariedade e ineficácia da mesma, mostrando-se abstrata, pouco clara e objetiva, quando deve ser exatamente o oposto. Em uma visão geral, o texto não possui falhas ortográficas e não traz grandes equívocos gramaticais. UMA POSSÍVEL REDAÇÃO EXEMPLAR Ateneus em chamas “Vais encontrar o mundo [...] coragem para a luta”. A declaração do pai de Sérgio parecia preparar o filho aos desafios que estariam por vir. O Ateneu, colégio interno comandado pelo diretor Aristarco, pode estar associado, analogamente, à sociedade em que vivemos atualmente. A condição humana do menino Sérgio foi posta, por diversas vezes, em teste, assim como também nos ocorre. Até que ponto, portanto, a construção e a proliferação do preconceito estão associadas ao paralelo entre o micro e o macrocosmo? É inerente ao ser humano, em níveis distintos, ser preconceituoso. Deve-se tal pensamento à ocorrência de que todo homem, vivendo em sociedade, tem a necessidade de criar seus próprios padrões e regras sociais. O externo e o alheio a esse sistema interno são vistos de forma diferente. É a partir desse momento que surge o princípio do preconceito. Percebe-se, portanto, que o indivíduo cria um microcosmo próprio na tentativa de corresponder à sociedade, assim como o Ateneu a mesma. Entretanto, a correspondência do micro ao macrocosmo não ocorre de forma integral. A realidade minimizada pelo sistema interno próprio do indivíduo mostra-se limitada diante da vasta sociedade atual. As diferentes etnias, culturas e os diferentes gostos convivem no macrocosmo da atualidade. A instituição Ateneu, portanto, marcada por preconceito e intolerância é uma tentativa de autoproteção do homem diante da pluralidade existente. Estreitar laços de identificação social é uma forma de prevalecer socioculturalmente. Percebe-se, por conseguinte, que, assim como na produção literária de Raul Pompeia devemos falir com os Ateneus criados pelo nosso imaginário, demolir e pôr em chamas qualquer tipo de preconceito – seja ele racial, étnico, social, religioso ou sexual. Para que o processo de formação do microcosmo humano seja amenizado, o governo poderia incentivar projetos na educação infantil que mostrem, na teoria e na prática, que aceitar o plural e o externo é vantajoso e saudável à integridade humana. O Ateneu, portanto, em chamas ao final da história, é a representação mimética de que qualquer tipo de intolerância está fadado ao desaparecimento.
  • 22. Curso Pré-ENEM 28 Linguagens Tema Dissertação 3 Tópico de estudo Estratégias gerais de aprofundamento argumentativo (dedução e indução). Situações-problema e conceitos básicos Saber trabalhar a argumentação é pré-requisito fundamental em um texto dissertativo argumentativo, já que a banca irá avaliar a capacidade do candidato de ser convincente na defesa de um ponto de vista. Há, evidentemente, diversas formas de se fazer isso. Porém, para além das técnicas tradicionais (causa e consequência, analogia, exemplificação...), temos também o uso de ferramentas que, inicialmente, estão ligadas à filosofia. Dentre as principais, destacam-se a dedução e a indução – formas de organização do raciocínio lógico que ajudam os argumentos a serem melhor construídos. Por isso, ainda que não seja uma exigência argumentativa do ENEM, dominar tais estratégias pode funcionar como um elemento diferencial na avaliação do texto. Vejamos como: 1. Conceito de raciocínio lógico Entende-se por raciocínio lógico a forma de organização das ideias em, ao menos, três partes, de modo que a ligação da primeira com a segunda produza um resultado explicitado na terceira. A forma mais tradicional tem origem no pensamento de Aristóteles, no chamado silogismo: Todos os homens são mortais. (I) Ora, Sócrates é homem. (II) Logo, Sócrates é mortal. (III) Perceba que a conclusão (III) só pôde ser obtida a partir da relação feita entre a primeira afirmação (I) e a segunda (II), produzindo, portanto, um resultado lógico. Conceitualmente, se essa forma de raciocínio é baseada em duas verdades, inevitavelmente a sua conclusão também o será. Daí viria a sua força argumentativa. 2. Formas de raciocínio a) Dedução É a forma que parte de uma afirmação geral para uma conclusão particular. Baseia-se, portanto, em um princípio maior – uma lei, uma regra, um teorema – que, quando aplicado a um caso específico, produz um resultado ligado a este. Observe o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2005, “O trabalho infantil na realidade brasileira”: Pode-se dizer que, dos direitos trazidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, aquele que afirma que toda criança tem direito à infância é o mais fundamental. Ao mesmo tempo, sabemos que, das atividades relacionadas a essa faixa etária, não faz parte o trabalho. Apesar disso, no Brasil, temos menores que, diariamente, estão envolvidos em atividades laborais, como em minas de carvão e plantações de cana-de-açúcar, em vez de aproveitarem seu tempo com brincadeiras e estudos. Logo, é cabível dizer que o fato de essa prática existir no país constitui um desrespeito a uma regra básica e, por isso, deve ser combatido o mais rápido possível.
  • 23. Curso Pré-ENEM 29 Linguagens Perceba que, nesse caso, o candidato baseou-se na seguinte estrutura: Toda criança deve ter direito à infância. O trabalho é uma atividade de adultos. Muitas crianças, no Brasil, trabalham. Logo, muitas crianças, no Brasil, não tem sua infância respeitada e isso precisa acabar. Ao fazer isso, garantiu que seu argumento tivesse um embasamento maior, em vez de o deixar com a aparência de uma mera opinião. É claro que, para tal, ajudou muito o fato de suas informações serem verdadeiras e coerentes – caso contrário, o questionamento seria fácil e o resultado, insatisfatório. Note como o mesmo não ocorre em outro parágrafo, também sobre o mesmo tema: Sabemos que trabalhar é uma atividade que desenvolve a todos, pois cria senso coletivo e responsabilidade. No Brasil, cada vez mais percebemos crianças que, em vez de estarem brincando nas ruas, exercem práticas remuneradas. Como, na infância, elas são imaturas e individualistas, o fato de começarem a trabalhar cedo fará elas serem adultos muito melhores. Logo, podemos afirmar que o trabalho infantil não deve ser recriminado, pois pode fazer a diferença para todos no futuro. Consegue perceber onde está a falha aqui? A primeira afirmação não é uma regra, podendo facilmente ser questionada. Basta pensar, por exemplo, que trabalhar de forma forçada não traz nenhuma das duas características afirmadas. Além disso, dizer que todas as crianças são imaturas e individualistas é muito taxativo, bem como garantir que o trabalho fará delas adultos melhores. Apesar de aparentar um bom raciocínio por conta de sua forma correta, o conteúdo é impreciso, o que tira toda a força da argumentação. b) A indução É a forma que parte de uma série de afirmativas particulares para chegar a uma conclusão geral. Baseia-se, portanto, em casos específicos – fatos, hipóteses – que, quando associados, produzem uma espécie de regra. Observe o exemplo abaixo, retirado de um texto cujo tema era o do ENEM de 2004, “Violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?”: É fácil notar que os grandes centros urbanos do país apresentam diversos casos de violência. Isso se deve à desigualdade muito acentuada coexistente dentro de um mesmo espaço. No entanto, nas cidades menores também observamos a existência de práticas criminosas, às vezes até em maior escala, oriundas da falta de segurança e de controle. Ainda que por razões distintas, o fato é que a violência, hoje, é uma realidade distribuída por todo o nosso território, o que torna urgente a tomada de decisões que visem a reduzir, de forma drástica, seu percentual. Atente para a estrutura: Os grandes centros urbanos brasileiros apresentam muita violência. As cidades periféricas também lidam com essa realidade. Logo, não importa o motivo; o Brasil enfrenta esse mal em caráter nacional e precisar combater. Repare como a conclusão gerada ao final do raciocínio parece muito mais forte a partir das evidências dadas anteriormente. Como os casos escolhidos são de conhecimento público, fica difícil questionar a afirmação final. O maior risco em um raciocínio deste tipo seria o de se encontrar uma exceção à regra proposta. Porém, ao se cercar de exemplos amplos, o candidato conseguiu minimizar essa possibilidade, fazendo uma argumentação bem consolidada. Note, agora, como o mesmo não ocorreu no caso abaixo, desenvolvido para o mesmo tema: No Rio de Janeiro, a violência tem atingido um nível assustador. Em São Paulo, não tem sido muito diferente. Se levarmos em conta que essas cidades são um exemplo do que acontece em todo o território nacional, é possível dizer que, hoje, o maior problema do Brasil é a violência. Enquanto não a resolvermos, estaremos fadados a viver em um país atrasado, com uma população que não se orgulha das cores da sua bandeira e teme o amanhã por não saber a que tipo de crime pode estar sujeita quando sai de casa. Aqui, como o candidato escolheu apenas dois casos para fundamentar sua teoria, a argumentação tende a ser fraca. Imagine, por exemplo, que alguém questione o fato de ele ter se baseado exatamente nas duas evidências maiores de centros urbanos, ignorando que a realidade do interior é bem distinta. A partir daí, sua “regra” sobre a violência no Brasil passa a não ser mais comprovável. A estrutura foi utilizada corretamente, mas o conteúdo impreciso, definitivamente, prejudicou o desenvolvimento da ideia.
  • 24. Curso Pré-ENEM 30 Linguagens Itens para avaliação 1. Observe o parágrafo argumentativo abaixo e responda ao que se segue: Jean Jacques Rousseau afirmou, certa vez, que "o homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe”. Se aplicarmos tal pressuposto ao povo brasileiro, a conclusão não será diferente. Apesar de vivermos propalando a evolução de nossa organização social, a verdade é que, década após década, percebemos que as gerações vindouras trazem em si as mesmas falhas das anteriores: querem acreditar no “jeitinho”, ganhar sem esforço e se orgulhar da sua malandragem. Diante disso, fica difícil acreditar em um futuro melhor, pois sabemos que qualquer novo filho do Brasil que surgir nessa esfera, dificilmente fugirá ao padrão nocivo instituído pela própria sociedade nacional. a) Sabendo que o autor do texto optou por um método de raciocínio lógico em sua argumentação, diga qual foi e ilustre as etapas do seu pensamento. b) Qual raciocínio Rousseau parece ter utilizado para chegar à sua frase? Por quê? c) Esse parágrafo pode ser considerado eficiente quanto ao seu poder argumentativo? Justifique. 2. A partir das informações abaixo, construa um parágrafo argumentativo sobre o tema “Desemprego: o mal do mundo atual”. Neste exercício, você deve utilizar o método indutivo. Depois de dois anos consecutivos em queda, o desemprego no mundo aumentou em 2012. No ano passado, cerca de 197,3 milhões de pessoas estavam sem trabalho, quase 5 milhões a mais do que em 2011, segundo o relatório Tendências Mundiais de Emprego 2013, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que será divulgado nesta terça-feira (22). A expectativa da OIT para este ano é a de que o desemprego cresça ainda mais, chegando a atingir 202 milhões de pessoas até o final de 2013, 204,9 milhões até 2014 e 210 milhões até 2018. Segundo a OIT, a recuperação da economia mundial não será forte o suficiente para reduzir as taxas de desemprego rapidamente. O pico de desemprego na última década foi em 2009, ano da crise financeira internacional, com mais de 198 milhões de desempregados. Em 2010 e 2011, houve recuperação, com a queda do número de pessoas sem emprego – 194,6 milhões, em 2010; e 193,1 milhões, em 2011. A incerteza em torno das perspectivas econômicas e as políticas inadequadas que foram implementadas para lidar com isso debilitaram a demanda agregada, freando os investimentos e as contratações. Isso prolongou a crise do mercado laboral em vários países, reduzindo a criação de empregos e aumentando a duração do desemprego” explicou, em nota, o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. As regiões onde foram registradas as taxas mais altas de desemprego foram o Norte da África (10,3%), o Oriente Médio (10%) e o grupo das chamadas “economias desenvolvidas” (8,6%) – que inclui os Estados Unidos, o Reino Unido, o Japão, a Espanha e Portugal. Em contraponto, as três regiões com os índices mais baixos de desemprego estão na Ásia: no Sul da Ásia (3,8%), na Ásia Oriental (4,4%) e no Sudeste Asiático (4,5%). A região da América Latina e do Caribe, grupo em que está o Brasil, ficou com taxa de 6,6%. http://sobralagora.com.br/v1/2013/01/aumenta-o-desemprego-no-mundo-confira-os-numeros Anotações Solução comentada dos itens 1. a) Método dedutivo. Primeiro, apresentou uma premissa geral (“O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe.”), depois aplicou a um caso particular (o povo brasileiro), chegando a uma conclusão também particular (povo brasileiro). b) Indutivo. Analisando vários casos de pessoas que foram modificados pelo convívio em sociedade, ele teria chegado à conclusão de que o meio determina o que o ser humano será. c) Sim, pois se baseia em uma afirmação de valor reconhecido e associa seu pressuposto com correção ao caso analisado, gerando uma conclusão válida. 2. Resposta pessoal. Exemplo: Nos últimos anos, o Norte da África tem apresentado um aumento no nível de desemprego bastante preocupante. O mesmo tem acontecido com o Oriente Médio, os Estados Unidos, a Espanha, o Reino Unido, Portugal e Japão. Assim sendo, não seria absurdo afirmar que o panorama econômico global hoje é de extrema preocupação, pois parte da população do mundo enfrenta dificuldades para obter um emprego e, consequentemente, ter uma vida decente em meio ao modelo capitalista e neoliberal contemporâneo.
  • 25. Curso Pré-ENEM 31 Linguagens Conceitos básicos e sua operacionalização ANÁLISE DA REDAÇÃO Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema O PAPEL DA MEMÓRIA PARA A FORMAÇÃO DA CULTURA NOS DIAS DE HOJE, apresentando proposta de conscientização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Texto I “Memória não é algo do passado, é um fenômeno que traz em si um sentimento de continuidade e de coerência, seja ele processado individualmente ou em grupo em reconstrução em si, torna-se o fator preponderante para o entendimento de sentimento de identidade.” Maria Rossel Souza Santos www.rosellsusa.com.br/private/sabores culturais memorias.pdf Texto II “Os contos de fadas são um exemplo privilegiado ao falar de identidade cultural. Os contos dor irmãos Grimm foram coletados entre as histórias transmitidas oralmente como a Alemanha – mas que, no início do século 19, se organizava em territórios que, embora compartilhassem a língua, apresentavam fragmentação política. Esse livro de contos infantis, cuja publicação foi iniciada em 1818, era um esforço que visava à formação de uma identidade alemã, em meio a um processo de unificação que se estenderia pelo resto do século. Identidades culturais se relacionam com o sentimento de pertencimento a um grupo que compartilha uma memória coletiva, um conjunto comum de conhecimentos. Nas intenções dos irmãos Grimm, a repetição de contos parecidos por todos aqueles estados autônomos representaria uma unidade manifestada no saber comum do povo alemão – como uma base cultural unindo os fragmentos políticos.” Luciana Silveira(Lhys) http://www.materiaobscura.com.br/02-07/memorias-midiatizadas-a-identidade-cultural-sem-lugar Texto III Texto IV “O resgate da memória é de suma importância devido à construção de uma identidade consciente de um determinado povo. Para isso é necessário que não deixe de rememorar, ir em busca de raízes, das origens, do âmago da sua história, etc. A memória tem um caráter primordial para elevação de uma nação de um grupo étnico, pois aporta elementos para sua transformação. A ideia de nação é uma realidade que se impõe por si mesmo, pois é uma construção contínua que repousa no erro histórico. Ao falar de raça vem em nossas mentes altura, índice cefálico, uma aparência hereditária, enquanto etnicidade os aspectos culturais são primordiais, pois é uma comunidade biológica de cultura e de língua. A nação, raça e etnia se distinguem pela pertença racial, originada na comunidade de origem, a pertença étnica é dada pela crença subjetiva na comunidade de origem e a nação pelo poder político. Expresso nas instituições democráticas nas instâncias competentes. Apesar de que hoje não se fala mais em raça que é um conceito em desuso. Stuart Hall afirma que: ‘as identidades nacionais não são coisas com as quais nós nascemos, mas são formadas, transformadas no interior da representação’ (HALL, 1999,48). Sendo a nação construída, é uma comunidade