Este documento discute a importância e responsabilidade da difusão da fé cristã. Ele argumenta que (1) a missão de Cristo é evangelizar todas as pessoas, (2) o apostolado nasce da convicção de possuir a verdade salvadora, e (3) os cristãos devem transmitir fielmente a doutrina completa de Cristo, mesmo que isso seja difícil.
METODOLOGIA ELANA* – ENSINO LEVA AUTONOMIA NO APRENDIZADO. UMA PROPOSTA COMP...
Meditação diária de francisco carvajal 35. difundir a verdade
1. Meditação diária de Falar com Deus
Francisco Fernández Carvajal
TEMPO COMUM. QUINTO DOMINGO. CICLO B
35. DIFUNDIR A VERDADE
– Urgência e responsabilidade de levar a doutrina do Senhor a todos os ambientes.
– O apostolado e o proselitismo nascem da convicção de se possuir a verdade, a
única verdade salvadora. Quando se perde essa convicção, não se encontra sentido
na difusão da fé.
– Fidelidade à doutrina que se deve transmitir.
I. JESUS LEVANTOU-SE DE MADRUGADA, como em muitas outras
ocasiões, e retirou-se para um lugar fora da cidade, para orar. Os Apóstolos
encontraram-no ali e disseram-lhe: Todos Te procuram. E o Senhor respondeu-
lhes: Vamos para outra parte, para as aldeias vizinhas, a fim de que Eu
também lá pregue, pois para isso é que Eu vim1.
A missão de Cristo é evangelizar, levar a Boa Nova até o último recanto da
terra, através dos Apóstolos2 e dos cristãos de todos os tempos. Esta é a
missão da Igreja, que, assim, cumpre o que o mandato do Senhor: Ide, pois,
ensinai todas as gentes..., ensinando-as a cumprir todas as coisas que vos
mandei3. Os Actos dos Apóstolos narram muitos pormenores daquela primeira
evangelização; no próprio dia de Pentecostes, São Pedro prega a divindade de
Jesus Cristo, a sua Morte redentora e a sua Ressurreição gloriosa4. São Paulo,
citando o profeta Isaías, exclama, com entusiasmo: Como são formosos os pés
dos que anunciam a Boa Nova!5 E a segunda Leitura da Missa fala-nos da
responsabilidade deste anúncio alegre da verdade salvadora: Porque, se eu
evangelizar, não tenho de que me gloriar, pois é antes uma necessidade que
se me impõe. Ai de mim se eu não evangelizar! 6
2. Com essas mesmas palavras de São Paulo, a Igreja tem recordado, com
frequência, aos fiéis a chamada que o Senhor lhes dirige para levarem a
doutrina de Cristo a todos os cantos do mundo, aproveitando qualquer
ocasião7.
São João Crisóstomo vai ao encontro das possíveis desculpas perante esta
gratíssima obrigação: “Não há nada mais frio do que um cristão que não se
preocupa pela salvação dos outros [...]. Não digas: não posso ajudá-los,
porque, se és cristão de verdade, é impossível que não o possas fazer. Não há
maneira de negar as propriedades das coisas naturais; o mesmo acontece com
isto que agora afirmamos, pois está na natureza do cristão agir dessa forma
[...]. É mais fácil o sol deixar de iluminar ou de aquecer do que um cristão
deixar de dar luz; mais fácil do que isso seria que a luz fosse trevas. Não digas
que é impossível; impossível é o contrário [...]. Se orientarmos bem a nossa
conduta, o resto sairá como consequência natural. Não se pode ocultar a luz
dos cristãos, não se pode ocultar uma lâmpada que brilha tanto”8.
Perguntemo-nos se no nosso ambiente, no lugar onde vivemos e onde
trabalhamos, somos verdadeiros transmissores da fé, se levamos os nossos
amigos a uma maior frequência de sacramentos. Examinemos se encaramos o
apostolado como algo urgente, como exigência da nossa vocação, se sentimos
a mesma responsabilidade daqueles primeiros, pois a necessidade hoje não é
menor..., é um dever que me preocupa. Ai de mim se não evangelizar!
II. O APOSTOLADO E O PROSELITISMO QUE ATRAEM à fé ou a uma
maior entrega a Deus nascem da convicção de possuir a Verdade e o Amor, a
verdade salvadora, o único amor que preenche os desejos do coração, sempre
insatisfeito, a verdade salvífica
Quando se perde essa certeza, não se encontra sentido na difusão da fé.
Chega-se a pensar, por exemplo, mesmo em ambientes cristãos, que não se
pode fazer nada para que os não-cristãos apoiem uma lei recta, de acordo com
o querer divino. Deixa também de ter sentido levar a doutrina de Cristo a
regiões onde ela ainda não chegou, ou, onde a fé não está profundamente
arraigada; quando muito, a missão apostólica converte-se numa mera acção
3. social em favor da promoção desses povos, esquecendo o maior tesouro que
se lhes pode dar: a fé em Jesus Cristo, a vida da graça... A fé debilitou-se
nesses cristãos e eles esqueceram que a verdade é única, que a verdade torna
mais humanos os homens e os povos, que abre o caminho do Céu.
É importante que a fé leve a empreender acções sociais, mas “o mundo não
pode conformar-se apenas com reformadores sociais. Precisa de santos. A
santidade não é um privilégio de poucos; é um dom oferecido a todos... Duvidar
disso significa não entender completamente as intenções de Cristo”9, omitir a
essência da sua mensagem.
A fé é a verdade, e ilumina a nossa inteligência, preserva-a de erros, cura as
feridas e a facilidade que nos deixou o pecado original para nos desviarmos do
caminho. Provém daí a segurança do cristão, não só no que se refere
estritamente à fé, mas a todas as questões que lhe são conexas: a origem do
mundo e da vida, a dignidade intocável da pessoa humana, a importância da
família...
Isto nos leva – como ensina Paulo VI – a ter “uma atitude dogmática, sim,
que significa que não está fundamentada numa ciência própria, mas na Palavra
de Deus [...]. Atitude que não nos ensoberbece, como possuidores afortunados
e exclusivos da verdade, mas nos torna fortes e corajosos para a defender,
amorosos para difundi-la. Santo Agostinho no-lo recorda: Sine superbia, de
veritate praesumite, sem soberba, estai orgulhosos da verdade”10.
É um dom imenso termos recebido a fé verdadeira, mas é, ao mesmo
tempo, uma grande responsabilidade. A vibração apostólica de todo o cristão
consciente do tesouro que recebeu, não é fanatismo: é amor à verdade,
manifestação de fé viva, coerência entre o pensamento e a vida. Proselitismo,
no sentido nobre e verdadeiro do termo, não é de forma alguma atrair as almas
com enganos ou violências, mas o esforço apostólico por dar a conhecer Cristo
e a sua chamada a todos os homens, querer que as almas conheçam a riqueza
que Deus revelou e se salvem, que recebam a vocação para uma entrega
plena a Deus, se for essa a vontade divina. É uma tarefa das mais nobres que
o Senhor nos confiou.
4. III. NESTE EMPENHO POR DIFUNDIR A FÉ, sempre com respeito e apreço
pelas pessoas, não podemos transmitir meias verdades por receio de que a
plenitude da verdade e as exigências de uma autêntica vida cristã possam
entrar em choque com o pensamento em voga e com o aburguesamento de
muitos. A verdade não conhece meios termos e o amor sacrificado não admite
descontos, nem pode ser objecto de compromissos. Uma das condições de
toda a acção apostólica é a fidelidade à doutrina, ainda que, em alguns casos,
esta se mostre difícil de cumprir e chegue até, a exigir um comportamento
heróico ou, pelo menos, cheio de fortaleza.
Não se podem omitir temas, tais como o da generosidade em ter uma família
numerosa, o das exigências da justiça social, o da entrega plena a Deus,
quando Ele chama... Não se pode querer agradar a todos, reduzindo de acordo
com as conveniências humanas, as exigências do Evangelho: Falamos –
escrevia São Paulo –, não como quem procura agradar aos homens, mas
somente a Deus11
Não é bom caminho pretender tornar fácil o Evangelho, silenciando ou
rebaixando os mistérios que se devem acreditar e as normas de conduta que
devem ser vividas. Ninguém pregou nem pregará o Evangelho com maior
credibilidade, energia e atractivo que Jesus Cristo, e houve quem não o
seguisse fielmente. Não podemos esquecer-nos de que pregamos Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas poder de
Deus para os escolhidos, quer judeus, quer gregos12. O que não quer dizer, no
entanto, que não devamos esforçar-nos por nos adaptarmos sempre à
capacidade e às circunstâncias daqueles que pretendemos levar ao Senhor, tal
como Ele próprio fez ao longo do Evangelho, tornando-o acessível a todos.
A fidelidade a Cristo leva-nos a transmitir fiel e efectivamente o que temos
recebido. Agora, como no tempo dos primeiros cristãos, quando começava a
primeira evangelização da Europa e do mundo, devemos anunciar aos nossos
amigos e conhecidos, aos colegas... a Boa Nova da misericórdia divina, a
alegria de seguir muito de perto a Cristo no meio dos nossos afazeres. E esse
anúncio implica a necessidade de mudarem de vida, de fazerem penitência, de
renunciarem a si próprios, de estarem desprendidos dos bens materiais, de
5. serem castos, de buscarem, com humildade o perdão divino, de
corresponderem ao que Ele quer que cada um de nós, desde a eternidade.
A ânsia de que muitos sigam a Cristo deve empurrar-nos para viver melhor
caridade com todos, colocando mais meios para os aproximar do Senhor, que
os espera: A caridade de Cristo urge-nos!13 Este foi o motor da incansável
actividade apostólica de São Paulo, e este há-de ser também o que nos incite.
O amor a Deus há-de levar-nos a sentir a urgência da tarefa apostólica e a não
desperdiçar nenhuma oportunidade de exercê-la; mais ainda, em muitas
ocasiões, há-de levar-nos a provocar essas oportunidades, que de outra forma
nunca nos chegariam.
Todos andam à tua procura... O mundo tem fome e sede de Deus. Por isso,
além da caridade, devemos cultivar a esperança; os nossos amigos e
conhecidos, mesmo os mais afastados de Deus, também têm necessidade e
desejos d’Ele, ainda que muitas vezes não o manifestem. E, sobretudo, o
Senhor procura-os.
Peçamos à Santíssima Virgem o ímpeto apostólico e proselitista que
caracterizou a vida dos Apóstolos e dos primeiros cristãos.
(1) Mc 1, 29-39; (2) Mc 3, 14; (3) cfr. Mt 28, 19-20; (4) cfr. Act 2, 38; (5) Rom 10, 15; Is 52, 7; (6)
1 Cor 9, 16; (7) cfr. Conc. Vat. II, Decr.Apostolicam actuositatem, 6; (8) São João
Crisóstomo, Homilias sobre os Actos dos Apóstolos, 20; (9) João Paulo II, Discurso aos
educadores apostólicos, 12-IX-1987; (10) Paulo VI, Alocução, 4-VIII-1965; (11) 1 Tess 2, 3-4;
(12) 1 Cor 1, 23-24; (13) 2 Cor 5, 14.