1. O Estado de S.Paulo 15/11/2011 Editorial
O Consórcio Intermunicipal do ABC, formado pelas sete prefeituras da região, e
a capital ampliaram a proibição à circulação de caminhões nos principais eixos
de ligação, para forçar os caminhoneiros a utilizar o Rodoanel Mario Covas, o
que obriga as empresas de transporte a transferir as atividades de carga e
descarga para a madrugada. No ABC, onde as vias internas das cidades se
transformaram em rotas de fuga para os motoristas dispostos a driblar o
pedágio do Trecho Sul do Rodoanel, caminhões estarão proibidos de circular
por 23 vias, num total de quase 40 quilômetros.
Na cidade de São Paulo, onde há um ano já é proibido o tráfego pesado na
Avenida Bandeirantes, na Marginal do Pinheiros e no centro expandido durante
os horários de pico, as autoridades decidiram impedir a circulação de carretas
entre 4 e 10 horas e entre 16 e 22 horas. Isso passará a valer também, a partir de
11 de dezembro, para a Marginal do Tietê e os principais corredores da zona
norte e da zona leste, que poderiam servir de rotas alternativas aos
caminhoneiros.
Os benefícios da medida não devem durar muito, e mesmo isso depende de
fiscalização rigorosa e constante, porque a tendência é de busca por novas rotas
alternativas pelo tráfego pesado, o que leva para bairros relativamente
preservados o aumento dos congestionamentos, dos acidentes de trânsito e da
poluição ambiental. Solução verdadeira virá quando as prefeituras da região
metropolitana de São Paulo e o governo estadual conseguirem executar os
projetos de transporte público - ampliação do metrô e das linhas da Companhia
Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) - e de carga, capazes de, efetivamente,
reduzir o trânsito de todo tipo de veículos.
Nos últimos dez anos, a frota da região do ABC cresceu 75%, enquanto o
aumento da população beirou os 8%, conforme o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), chegando a 1.413.085 veículos. Destes, 71.951
são caminhões e carretas. Em março, a cidade de São Paulo ultrapassou a marca
dos 7 milhões de veículos. O mais impressionante foi a rapidez com que nos
últimos três anos a cidade incorporou 1 milhão de veículos à sua frota. O milhão
anterior, quando a frota passou de 5 para 6 milhões, foi alcançado ao longo de 8
anos.
Diariamente, o ABC é destino de um imenso comboio de carretas que abastecem
as indústrias e o comércio locais ou fazem a ligação da região com o Porto de
Santos. Em São Paulo, só pelas dez vias em que o tráfego pesado será restrito
circulam diariamente 158 mil veículos pesados.
Segundo especialistas em transporte, a proibição da circulação de caminhões
nos horários de pico tem seu efeito reduzido por causa da grande quantidade de
veículos de passeio na região. Para eles, a conclusão do Rodoanel, a construção
do Ferroanel e a ampliação da malha do metrô e dos corredores exclusivos de
ônibus é o que efetivamente aliviará o trânsito na região.
Os fatos comprovam essa avaliação pouco otimista dos especialistas. Em São
Paulo, a primeira etapa da restrição à circulação dos caminhões melhorou o
trânsito apenas durante um curto período. Para aliviar os congestionamentos na
2. capital, os governos estadual e municipal conjugaram iniciativas como a
instituição da zona de máxima restrição ao tráfego pesado, o rodízio da
circulação de caminhões e obras de melhorias viárias, como a ampliação da
Marginal do Tietê e a construção do Trecho Sul do Rodoanel.
Com tudo isso, os congestionamentos diminuíram 32%, de acordo com dados da
Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de abril de 2010. Mas esse alívio
durou pouco. Conforme dados de setembro, o índice de engarrafamentos às 19
horas foi 10% superior ao mesmo mês do ano passado, atingindo 129,7
quilômetros de filas no horário - 11,8 quilômetros a mais do que um ano antes.
Nada disso diminui a importância daquelas medidas e daquelas obras. Sem elas,
a situação estaria certamente muito pior. Afinal, se todo o comboio pesado, que
já superlota e paralisa os dois trechos em operação do Rodoanel, estivesse nas
vias internas da capital, o caos seria total.