SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 6
Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto
Regente : Valdemar Mano Sanches
Queimaduras -Tratamento
Dr.Brunno Rosique
Tratamento Ambulatorial
As queimaduras menores ou pequenas queimaduras correspondem a aproximadamente 95% de todas as
queimaduras e geralmente são tratadas ambulatorialmente, não havendo necessidade de internação hospitalar.
De acordo com a American Burn Association (1976), pequenas queimaduras são classificadas em :
Classificação das Pequenas Queimaduras
American Burn Association
Queimadura Parcial de Pele
(1°. e 2° graus)
Queimadura Total de Pele
(3°. grau)
Adultos < 15%
Até 2%, não incluindo face, olhos,
orelhas, mãos e genitais
Crianças < 10%
Até 2%, não incluindo face, olhos,
orelhas, mãos e genitais
Critérios para Tratamento Ambulatorial – A decisão de tratar uma queimadura ambulatorialmente
baseia-se na avaliação de múltiplas variáveis como profundidade, extensão e localização da queimadura,
extremos de idade, suspeita ou lesão por inalação, queimaduras elétricas, trauma associado, doenças
preexistentes, suspeita de abuso criminal em crianças e problemas sociais.
Tratamento – Várias são as maneiras de tratar ambulatorialmente as queimaduras, assim como vários são
os materiais ou curativos disponíveis. Cada serviço que trata destas queimaduras utiliza o material e o
método que julga melhor ou com os quais tem mais experiência, aliado a um baixo custo.
Queimadura de 1. grau – Orientações para limpeza diária com sabão neutro. Até que a epiderme
descame, o uso de óleo mineral 2 vezes ao dia apressará a descamação e auxiliará no prurido. Após a
descamação creme hidratante neutro e filtro solar FPS 20 ou 30 para evitar a hiperpigmentação.
Queimadura de 2°. grau superficial – São tratadas inicialmente com a realização de tricotomia da área
afetada, quando necessário. A seguir, são lavadas com sabonete de glicerina. Bolhas pequenas são drenadas
com pequenas incisões e a pele é mantida como curativo biológico.
Bolhas grandes ou já rompidas são desbridadas. Após a limpeza é realizado curativo oclusivo com
gaze de rayon vaselinada, chumaço de algodão e atadura de crepe. A cada 2 ou 3 dias o curativo é trocado e
a queimadura, reavaliada. Naquelas que foram desbridadas, se não apresentarem secreção, a gaze de rayon é
mantida, para evitar o traumatismo do epitélio que está se regenerando. Troca-se apenas o chumaço de
algodão e a atadura de crepe. Pacientes com esse tipo de queimadura são acompanhados mensalmente por
um período de três a quatro meses. Raramente apresentam cicatrizes hipertróficas ou queloideanas.
Queimadura de 2°. grau profunda e de 3. grau – Após tricotomia lava-se a área atingida com PVPI
degermante ou clorexedina. Nestas queimaduras utiliza-se curativo oclusivo com sulfadiazina de prata 1%.
Se a área queimada não for muito extensa e paciente tiver condições, este é orientado a trocar o curativo na
própria residência, duas vezes ao dia. Caso contrário, retorna ao ambulatório diariamente. Geralmente, há
formação de cicatriz hipertrófica ou quelóide, quando a cicatrização demora mais que duas semanas em
negros ou crianças ou mais de três semanas nos demais pacientes. Por isso em torno do 14°. dia, é avaliada a
possibilidade de levar o paciente para o centro cirúrgico para desbridamento e enxertia de pele precoce.
Assim que a cicatrização ocorre nestes tipos de queimaduras, quer seja espontaneamente ou após
enxerto de pele, inicia-se o uso de malha elástica compressiva.
Todos os pacientes com queimadura de 2°. e 3°. graus são encaminhados para a profilaxia do tétano.
Controle da Dor – É seguido o esquema proposto pela Organização Mundial da Saúde conhecido
como escala analgésica:
Intensidade da Dor Medicação (Via Oral)
Leve
Dipirona 500 a 1000mg de 6/6h
ou Paracetamol 500 a 1000mg 6/6h
Moderada
Paracetamol 500mg + Codeína 30mg de 6/6h ou 4/4h
Intensa
Tramadol 50 ou 100mg de 6/6h ou de 4/4h
Critérios para Internação em UTQ
A prioridade deve ser dada a grandes queimados, com área superior a 20% de SC, independente da
idade.
A internação está indicada nos seguintes tipos de queimaduras:
A) Lesão de 3°. grau atingindo mais de 10% da SC;
B) Lesão de 2°. grau atingindo área superior a 20% no adulto e 10% na criança;
C) Queimaduras importantes da face, mãos e pés;
D) Queimaduras de região perineal ou genitália;
E) Queimadura circunferencial de extremidades;
F) Queimaduras elétricas ou químicas;
G) Queimaduras de vias aéreas;
H) Crianças menores de dois anos;
I)Doenças sistêmicas associadas;
J)Traumas associados;
Classificação de Gravidade segundo Benaim
Grupo I
Leves
Grupo II
Moderados
Grupo III
Graves
Grupo IV
Críticos
Grupo V
Letais
Superficiais A < 15% 15 – 30% 30 – 60% > 60% X
Intermediárias AB < 15% 5 – 20% 20 – 40% 40 – 90% > 90%
Profundas B < 1% 1 – 10% 10 – 25% 25 – 80% > 80%
Hidratação Após as 24h Iniciais – Após a fase de ressucitação, na qual se utiliza um grande volume de
cristalóides, as substâncias causadoras do aumento da permeabilidade capilar são metabolizados e os poros
vasculares retornam ao tamanho original. Nesta fase observamos um intenso edema dos tecidos queimados e
não queimados. Neste momento, o excesso de cristalóides só contribui para o aumento do edema. O
objetivo da fluidoterapia nesse momento é resgatar todo este edema e, ao mesmo tempo, restaurar a pressão
coloidosmótica original.
Reposição de Colóide – A albumina possui maior poder oncótico e praticamente não apresenta nenhum
risco. Porém seu custo é muito alto e nem sempre disponível nos hospitais públicos. O plasma está indicado
quando não se dispõe de albumina.
Utiliza-se albumina após as 24h iniciais, calculando a velocidade de infusão de acordo com o débito
urinário (30 a 50ml/h). Podendo se utilizar até 10 frascos de 50ml a 20% em um dia.
Os colóides são administrados praticamente durante toda a internação.
O controle da infusão é realizado por meio de indicadores: nível sérico de albumina (deve ser
mantido acima de 3g/dl) e a presença do edema. Um correto suporte nutricional irá determinar uma menor
necessidade de infusão de colóides por toda internação.
Curativos
Introdução
A queimadura determina uma lesão cutânea caracterizada por apresentar pobre microcirculação,
tecidos necrosados e uma expressiva flora bacteriana transitória e residente. Estes fatores associados à
liberação de toxinas, mediadores inflamatórios e a alterações metabólicas locais induzirão uma resposta
sistêmica dando origem a sepse, resultante deste desequilíbrio quantitativo e qualitativo entre o hospedeiro e
suas bactérias.
A prevenção da infecção na ferida da queimadura envolve manutenção do equilíbrio entre a
contaminação bacteriana e a resistência do hospedeiro a partir de rotinas e procedimentos que promovam a
redução numérica e a proliferação dos microorganismos nos tecidos lesados. A limpeza sistemática diária da
área queimada acompanhada do desbridamento de tecidos desvitalizados e curativos com antimicrobianos
tópicos ainda parece ser a melhor forma de prevenção da infecção nestes pacientes
A balneoterapia (terapêutica por meio de banhos) é uma da formas mais antigas de tratamento das
queimaduras, sendo atribuída sua invenção ao cirurgião francês Guillaume Dupuytren no início do século
XIX. Em 1861, em Viena, o médico austríaco Herbra aconselhava a balneoterapia para melhor cicatrização
de feridas de qualquer natureza, seguido por Prague (1906), e Ormsby (1911). Zawacki (1974) demonstrou
que a dessecação da ferida converte a zona de estase e aprofunda a queimadura.
Heggers e cols. (1980) relataram a presença de tromboxanos e outros mediadores inflamatórios nos
fluidos das bolhas, indicando a remoção e limpeza de todos os tecidos desvitalizados e bolhas para melhoria
da microcirculação
Método de Oclusão, Compressão e Repouso (Allen & Koch – 1942)
É indicado em lesões do tronco, membros e lesões de terceiro grau no pescoço.
1 – Colocação de camada única de gaze vaselinada (Furacin no 2°. dia);
2 – Duas a três camadas de gazes para absorver as secreções.
3 – Camada de algodão hidrófilo para absorver excesso de secreção, acolchoar e favorecer uma
compressão uniforme da lesão;
4 – Enfaixamento compressivo com atadura de crepe;
5 – Fixação com esparadrapo em espiral.
OBS.: o curativo deve ser trocado a cada 48h, a compressão dos membros deve ser uniforme e
decrescente da extremidade para a raiz. Evitar o enfaixamento circular do tórax e, e tratar isoladamente os
dedos lesados.
Método de Exposição (Wallace – 1948)
Indicado na face, pescoço (2°. grau), períneo e genitais. Consiste em deixar a área afetada exposta ao
ar atmosférico.
O método baseia-se na formação de crostas (curativo biológico). Nas queimaduras parciais forma-se
em 48 a 72h.
Balneoterapia sob Analgesia
Utiliza-se Nalbufina, endovenosa, na dose de 10mg diluída em água destilada 20 a 30 minutos antes
do banho. Pode ser associada ao uso do Cetoprofeno, EV, na dose de 100 mg diluído em 100ml de SF 0,9%
após o procedimento. A Nalbufina é um opióide semi-sintético, e não deve ser associada a outro tipo de
opióide. Na criança a dose é de 1mg/5kg de peso diluída em água destilada.
Inicia-se o procedimento com a abertura e retirada do curativo com o auxílio de jatos de água,
evitando-se a mobilização de materiais aderidos na ferida. A lavagem em jatos promove, também, uma
limpeza mecânica dos detritos e das secreções, bem como uma diminuição na população bacteriana.
Em seguida procede-se à degermação com solução de polivinil-pirrolidona a 10%, por tempo mínimo
de contato, com a pele, de 5 minutos. Existe a alternativa do uso de solução de clorexedine a 2%, com
espectro de ação bastante semelhante além de ser atóxico e indolor.
Realiza-se a remoção mecânica cuidadosa de tecidos necrosados, crostas e secreções, respeitando-se
o limite de tolerância da dor ou surgimento de sangramento.
Como rotina, aplica-se um creme de sulfadiazina de prata a 1% sobre as gazes, seguido de fixação
com faixas de crepe. Outra opção de antimicrobiano é a associação de Nitrato de Cério com sulfadiazina de
prata a 1%. As sulfas agem sobre as bactérias Gram positivo e negativo, fungos e protozoários. A
sulfadiazina de prata 1% é efetiva contra Pseudomonas pelo efeito bactericida da prata, que é liberada
localmente.
Tratamento Tópico de Queimaduras
Agente Tópico Vantagens Desvantagens
Sulfadiazina de Prata
Pode aplicar diretamente sobre a
ferida,
Indolor.
Amplo espectro e efetiva contra
alguns fungos
Não penetra no tecido queimado
(escara necrótica)
Leucopenia Transitória
Nitrato de Prata
Amplo espectro.
Não alergênico.
Aplicação indolor
Pobre penetração,
Descoloração da ferida
Desequilíbrio hidroeletrolítico.
A remoção dos resíduos é dolorosa
Iodopovidona Ungüento
Amplo espectro,
Antimicótico
Facilmente solúvel em água
Não efetivo para Pseudomonas;
Aplicação dolorosa.
Acetato de Mafenide
Amplo espectro.
Penetra na escara
Útil em curativos abertos ou
fechados.
Pode causar acidose metabólica.
Pode inibir a epitelização. Aplicação
dolorosa
Gentamicina
Amplo espectro.
Pode ser usada em curativos abertos
ou fechados.
Seleciona cepas resistentes; ototóxico
e nefrotóxico.
Solução de DAKIN
Efetivo por mais de 24h. Baixo custo Obrigatório uso de curativo fechado;
Doloroso na aplicação.
Nitrofurazona
Efetivo contra estafilococos.
Amplo espectro
Não macera a ferida.
Pode levar a sobrecrescimento de
fungos e Pseudomonas.
Doloroso na aplicação
Tratamento Cirúrgico
Escarotomia – (do latim eschara = casca) Indicada nas queimaduras circulares e de espessura total
no tórax, membros inferiores e superiores. Alguns sinais e sintomas como cianose, dor profunda,nos tecidos
e parestesia progressiva, diminuição ou ausência de pulso e sensação de frio nas extremidades são
mandatários para intervenção cirúrgica.
O procedimento deve ser realizado sob condições de assepsia rigorosa, campos estéreis e, apesar de
pouco empregado, é importante que se tenha um eletrocautério à disposição. A incisão deve estender-se
através de toda a cinta constrictiva, inclusive através das articulações envolvidas quando necessário.
Tórax – As incisões nas queimaduras circulares do tórax são realizadas na linha axilar anterior
bilateralmente.
Extremidades – A incisão deve ser no lado meio medial ou meio lateral, evitando-se os pedículos
vasculonervosos. A escarotomia nos dedos não é freqüente, quando necessária, deve ser realizada na linha
medial posterior.
Enxerto de Pele Homólogo
Pollock (1870) e Tiersch (1874) realizaram os primeiros homoenxertos que constam na literatura.
Reverdin (1869) utilizou pequenos enxertos de seu próprio braço para cobrir um grande queimado. Brown
observou (1937) a persistência de enxertos trocados entre gêmeos univitelinos colocados na região anterior
do braço.
Os homoenxertos são utilizados como curativos biológicos temporários. Aderem bem à área
receptora mas o processo de eliminação ocorre entre três e oito semanas.
Um paciente com mais de 50% da SCQ com profundidade de 2°. e 3°. graus não terá área doadora
suficiente para realizar cobertura cutânea desta mesma área, uma opção de tratamento é o homoenxerto.
Trata-se da utilização da pele de doador em morte encefálica ou de cadáver fresco com até 6 horas
após a morte, conservada em refrigeração normal, a 4°C ou refrigerada no glicerol a menos 156°C para
utilização em tempo oportuno.
Enxerto de Pele Heterólogo ou Xenoenxerto
São tecidos transplantados entre indivíduos de espécies diferentes. Em 1917, Kiyomo e Sueyasu
foram os primeiros a relatar o transplante de pele humana sobre a membrana corioalantóica de um embrião
de galinha. Goodpasture, Douglas e Anderson, em 1938, descreveram a revascularização e o crescimento do
enxerto de pele parcial de pele humana transplantada para a membrana corioalantóica de um embrião de
galinha. Rogers e Converse (1958) utilizaram experimentalmente pele fetal de bezerro como curativo
biológico em humanos. Em 1965, Bromberg, Song e Mohn popularizaram o uso da pele de porco como
curativo biológico. Burleson e Eiseman (1973) descreveram a habilidade do xenoenxerto em aderir ao tecido
do leito receptor, devido à formação de uma cola biológica de elastina-fibrina. Os mesmos autores
demonstraram que esta característica de aderência da pele de porco era responsável por seu efeito
antibacteriano. Artz, Rittenbury e Yarbrough (1972) demonstraram que o curativo biológico de pele
heteróloga possuía várias funções, como o preparo das áreas de granulação antes de receberem o auto-
enxerto, a redução da perda de água e de proteínas, a diminuição da colonização bacteriana e da dor nas áreas
de exposição tecidual, a cobertura de órgãos vitais e a facilidade precoce de mobilização da área afetada.
Membrana Amniótica
É constituída por duas membranas acoladas: a porção lisa do córion e o córion membranoso. A face
interna lisa e brilhante, voltada para a cavidade amniótica, constitui o âmnio. A face externa, despolida e
irregular constitui o córion, com fragmentos de decídua. O âmnio derivado do epiblasto, encontra-se em
continuidade com o ectoderma do embrião e é constituído em sua superfície interna por células epiteliais
cubóides ou planas e em sua superfície externa por tecido conectivo mesenquimal. O córion tem tecido
conectivo mesenquimal em contato com o âmnio e uma face externa de epitélio de transição.
Credita-se a Davies (1910) a tentativa de enxerto de âmnio em tecido de granulação, mas foi Sabella
(1912) que utilizou membrana amniótica em um paciente queimado.
Sabella acreditava, que por ser o âmnio de origem ectodérmica, esta seria a parte apropriada da
membrana a ser colocada em aposição à pele. Em 1978 Gruss e Jirsch, optaram por posicionar a superfície
coriônica contra todas as lesões de espessura total, onde esperavam a ocorrência de neovascularização. Por
outro lado, nas lesões de espessura parcial, em que a neovascularização não era desejada, a face amniótica
era colocada em contato com a ferida..
A membrana amniótica fresca permanece aderida ao leito, até a epitelização total das lesões de 2°.
grau, com diminuição significativa da dor e das perdas hídricas.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Tratamento ambulatorial de queimaduras na Santa Casa de Misericórdia

Fatores que afetam a cicatrização
Fatores que afetam a cicatrizaçãoFatores que afetam a cicatrização
Fatores que afetam a cicatrizaçãoRogério Oliveira
 
Tratamento de feridas - Aula 03
Tratamento de feridas - Aula 03Tratamento de feridas - Aula 03
Tratamento de feridas - Aula 03SMS - Petrópolis
 
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptx
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptxPEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptx
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptxPriscilaMarin6
 
QUEIMADURAS EDITADO.pptx
QUEIMADURAS EDITADO.pptxQUEIMADURAS EDITADO.pptx
QUEIMADURAS EDITADO.pptxJessicaAngelo5
 
Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc
 Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc
Termo de Consentimento de Abdominoplastia.docBrunno Rosique
 
Primeiros socorros - basico
Primeiros socorros - basicoPrimeiros socorros - basico
Primeiros socorros - basicoMarco Faria
 
Unidade 14 primeiros socorros powerpoint
Unidade 14 primeiros socorros powerpointUnidade 14 primeiros socorros powerpoint
Unidade 14 primeiros socorros powerpointSusana Cardoso
 
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdf
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdfQUEIMADURAS EDITADO-1.pdf
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdfJessicaAngelo5
 
Primeiros Socorros
Primeiros SocorrosPrimeiros Socorros
Primeiros Socorrosfonsecahugo
 
Assistência ao Paciente Grande Queimado
Assistência ao Paciente Grande QueimadoAssistência ao Paciente Grande Queimado
Assistência ao Paciente Grande QueimadoJanaína Lassala
 
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdf
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdfAPLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdf
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdfinstitutolavitte
 
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. Abdallah
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. AbdallahFratura Exposta Dr Omar Mohamad M. Abdallah
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. AbdallahOmar Mohamad Abdallah
 

Semelhante a Tratamento ambulatorial de queimaduras na Santa Casa de Misericórdia (20)

Fatores que afetam a cicatrização
Fatores que afetam a cicatrizaçãoFatores que afetam a cicatrização
Fatores que afetam a cicatrização
 
Procedimentos em atenção primária a saúde
Procedimentos em atenção primária a saúdeProcedimentos em atenção primária a saúde
Procedimentos em atenção primária a saúde
 
PRIMEIROS SOCORROS.ppt
PRIMEIROS SOCORROS.pptPRIMEIROS SOCORROS.ppt
PRIMEIROS SOCORROS.ppt
 
Tratamento de feridas - Aula 03
Tratamento de feridas - Aula 03Tratamento de feridas - Aula 03
Tratamento de feridas - Aula 03
 
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptx
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptxPEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptx
PEIM - ESTÉTICA PWP-1.pptx
 
QUEIMADURAS EDITADO.pptx
QUEIMADURAS EDITADO.pptxQUEIMADURAS EDITADO.pptx
QUEIMADURAS EDITADO.pptx
 
QUEIMADURAS .pptx
QUEIMADURAS .pptxQUEIMADURAS .pptx
QUEIMADURAS .pptx
 
Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc
 Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc
Termo de Consentimento de Abdominoplastia.doc
 
Feridas
FeridasFeridas
Feridas
 
Assepsia
AssepsiaAssepsia
Assepsia
 
Primeiros socorros - basico
Primeiros socorros - basicoPrimeiros socorros - basico
Primeiros socorros - basico
 
Unidade 14 primeiros socorros powerpoint
Unidade 14 primeiros socorros powerpointUnidade 14 primeiros socorros powerpoint
Unidade 14 primeiros socorros powerpoint
 
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdf
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdfQUEIMADURAS EDITADO-1.pdf
QUEIMADURAS EDITADO-1.pdf
 
Primeiros Socorros
Primeiros SocorrosPrimeiros Socorros
Primeiros Socorros
 
tipos de feridas.pdf
tipos de feridas.pdftipos de feridas.pdf
tipos de feridas.pdf
 
Assistência ao Paciente Grande Queimado
Assistência ao Paciente Grande QueimadoAssistência ao Paciente Grande Queimado
Assistência ao Paciente Grande Queimado
 
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdf
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdfAPLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdf
APLICAÇÃO DE INJETÁVEIS.pdf.pdf
 
Seminário de dermato
Seminário de dermatoSeminário de dermato
Seminário de dermato
 
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. Abdallah
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. AbdallahFratura Exposta Dr Omar Mohamad M. Abdallah
Fratura Exposta Dr Omar Mohamad M. Abdallah
 
+LCERAS DE PRESS+O (1) (01).pdf
+LCERAS DE PRESS+O (1) (01).pdf+LCERAS DE PRESS+O (1) (01).pdf
+LCERAS DE PRESS+O (1) (01).pdf
 

Mais de Brunno Rosique

Mais de Brunno Rosique (20)

Anestesia Ambulatorial
Anestesia Ambulatorial Anestesia Ambulatorial
Anestesia Ambulatorial
 
Onfaloplastia.pdf
Onfaloplastia.pdfOnfaloplastia.pdf
Onfaloplastia.pdf
 
Tumores cutâneos.ppt
Tumores cutâneos.pptTumores cutâneos.ppt
Tumores cutâneos.ppt
 
Lipoabdominoplastia
Lipoabdominoplastia Lipoabdominoplastia
Lipoabdominoplastia
 
Abdominoplastia.doc
Abdominoplastia.docAbdominoplastia.doc
Abdominoplastia.doc
 
ABDOMINOPLASTY.ppt
ABDOMINOPLASTY.pptABDOMINOPLASTY.ppt
ABDOMINOPLASTY.ppt
 
Abdominoplastia
 Abdominoplastia  Abdominoplastia
Abdominoplastia
 
Lipoabdominoplastia - Técnica Saldanha
Lipoabdominoplastia - Técnica SaldanhaLipoabdominoplastia - Técnica Saldanha
Lipoabdominoplastia - Técnica Saldanha
 
Excisão Fusiforme.PDF
Excisão Fusiforme.PDFExcisão Fusiforme.PDF
Excisão Fusiforme.PDF
 
CBC com Margem.pdf
CBC com Margem.pdfCBC com Margem.pdf
CBC com Margem.pdf
 
Guia de Neoplasia de Pele
Guia de Neoplasia de Pele Guia de Neoplasia de Pele
Guia de Neoplasia de Pele
 
CARCINOMA BASOCELULAR .ppt
CARCINOMA BASOCELULAR .pptCARCINOMA BASOCELULAR .ppt
CARCINOMA BASOCELULAR .ppt
 
Queimaduras - atendimento.doc
Queimaduras - atendimento.docQueimaduras - atendimento.doc
Queimaduras - atendimento.doc
 
Queimaduras.doc
Queimaduras.docQueimaduras.doc
Queimaduras.doc
 
Queimadura Química.ppt
Queimadura Química.pptQueimadura Química.ppt
Queimadura Química.ppt
 
Lesões elétricas.doc
Lesões elétricas.docLesões elétricas.doc
Lesões elétricas.doc
 
Prova 2004 Cirurgia Plástica
Prova 2004 Cirurgia Plástica Prova 2004 Cirurgia Plástica
Prova 2004 Cirurgia Plástica
 
Prova 2005 Cirurgia Plástica
Prova 2005 Cirurgia Plástica Prova 2005 Cirurgia Plástica
Prova 2005 Cirurgia Plástica
 
Prova Cirurgia Plástica
Prova Cirurgia Plástica Prova Cirurgia Plástica
Prova Cirurgia Plástica
 
Prova 2002 Cirurgia Plástica
Prova 2002 Cirurgia Plástica Prova 2002 Cirurgia Plástica
Prova 2002 Cirurgia Plástica
 

Último

Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesFrente da Saúde
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointwylliamthe
 
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombro
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombroDistócias em Obstetrícia, distócias de ombro
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombroJoyceDamasio2
 
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdf
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdfPlantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdf
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdfDaianaBittencourt
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfFidelManuel1
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaFrente da Saúde
 

Último (7)

Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
 
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãosAplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
Aplicativo aleitamento: apoio na palma das mãos
 
Modelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power pointModelo de apresentação de TCC em power point
Modelo de apresentação de TCC em power point
 
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombro
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombroDistócias em Obstetrícia, distócias de ombro
Distócias em Obstetrícia, distócias de ombro
 
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdf
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdfPlantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdf
Plantas-medicinais-nativas-do-Bioma-Pampa.pdf
 
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdfManual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
Manual-de-protocolos-de-tomografia-computadorizada (1).pdf
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
 

Tratamento ambulatorial de queimaduras na Santa Casa de Misericórdia

  • 1. Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto Regente : Valdemar Mano Sanches Queimaduras -Tratamento Dr.Brunno Rosique Tratamento Ambulatorial As queimaduras menores ou pequenas queimaduras correspondem a aproximadamente 95% de todas as queimaduras e geralmente são tratadas ambulatorialmente, não havendo necessidade de internação hospitalar. De acordo com a American Burn Association (1976), pequenas queimaduras são classificadas em : Classificação das Pequenas Queimaduras American Burn Association Queimadura Parcial de Pele (1°. e 2° graus) Queimadura Total de Pele (3°. grau) Adultos < 15% Até 2%, não incluindo face, olhos, orelhas, mãos e genitais Crianças < 10% Até 2%, não incluindo face, olhos, orelhas, mãos e genitais Critérios para Tratamento Ambulatorial – A decisão de tratar uma queimadura ambulatorialmente baseia-se na avaliação de múltiplas variáveis como profundidade, extensão e localização da queimadura, extremos de idade, suspeita ou lesão por inalação, queimaduras elétricas, trauma associado, doenças preexistentes, suspeita de abuso criminal em crianças e problemas sociais. Tratamento – Várias são as maneiras de tratar ambulatorialmente as queimaduras, assim como vários são os materiais ou curativos disponíveis. Cada serviço que trata destas queimaduras utiliza o material e o método que julga melhor ou com os quais tem mais experiência, aliado a um baixo custo. Queimadura de 1. grau – Orientações para limpeza diária com sabão neutro. Até que a epiderme descame, o uso de óleo mineral 2 vezes ao dia apressará a descamação e auxiliará no prurido. Após a descamação creme hidratante neutro e filtro solar FPS 20 ou 30 para evitar a hiperpigmentação. Queimadura de 2°. grau superficial – São tratadas inicialmente com a realização de tricotomia da área afetada, quando necessário. A seguir, são lavadas com sabonete de glicerina. Bolhas pequenas são drenadas com pequenas incisões e a pele é mantida como curativo biológico. Bolhas grandes ou já rompidas são desbridadas. Após a limpeza é realizado curativo oclusivo com gaze de rayon vaselinada, chumaço de algodão e atadura de crepe. A cada 2 ou 3 dias o curativo é trocado e a queimadura, reavaliada. Naquelas que foram desbridadas, se não apresentarem secreção, a gaze de rayon é mantida, para evitar o traumatismo do epitélio que está se regenerando. Troca-se apenas o chumaço de algodão e a atadura de crepe. Pacientes com esse tipo de queimadura são acompanhados mensalmente por um período de três a quatro meses. Raramente apresentam cicatrizes hipertróficas ou queloideanas. Queimadura de 2°. grau profunda e de 3. grau – Após tricotomia lava-se a área atingida com PVPI degermante ou clorexedina. Nestas queimaduras utiliza-se curativo oclusivo com sulfadiazina de prata 1%. Se a área queimada não for muito extensa e paciente tiver condições, este é orientado a trocar o curativo na
  • 2. própria residência, duas vezes ao dia. Caso contrário, retorna ao ambulatório diariamente. Geralmente, há formação de cicatriz hipertrófica ou quelóide, quando a cicatrização demora mais que duas semanas em negros ou crianças ou mais de três semanas nos demais pacientes. Por isso em torno do 14°. dia, é avaliada a possibilidade de levar o paciente para o centro cirúrgico para desbridamento e enxertia de pele precoce. Assim que a cicatrização ocorre nestes tipos de queimaduras, quer seja espontaneamente ou após enxerto de pele, inicia-se o uso de malha elástica compressiva. Todos os pacientes com queimadura de 2°. e 3°. graus são encaminhados para a profilaxia do tétano. Controle da Dor – É seguido o esquema proposto pela Organização Mundial da Saúde conhecido como escala analgésica: Intensidade da Dor Medicação (Via Oral) Leve Dipirona 500 a 1000mg de 6/6h ou Paracetamol 500 a 1000mg 6/6h Moderada Paracetamol 500mg + Codeína 30mg de 6/6h ou 4/4h Intensa Tramadol 50 ou 100mg de 6/6h ou de 4/4h Critérios para Internação em UTQ A prioridade deve ser dada a grandes queimados, com área superior a 20% de SC, independente da idade. A internação está indicada nos seguintes tipos de queimaduras: A) Lesão de 3°. grau atingindo mais de 10% da SC; B) Lesão de 2°. grau atingindo área superior a 20% no adulto e 10% na criança; C) Queimaduras importantes da face, mãos e pés; D) Queimaduras de região perineal ou genitália; E) Queimadura circunferencial de extremidades; F) Queimaduras elétricas ou químicas; G) Queimaduras de vias aéreas; H) Crianças menores de dois anos; I)Doenças sistêmicas associadas; J)Traumas associados; Classificação de Gravidade segundo Benaim Grupo I Leves Grupo II Moderados Grupo III Graves Grupo IV Críticos Grupo V Letais Superficiais A < 15% 15 – 30% 30 – 60% > 60% X Intermediárias AB < 15% 5 – 20% 20 – 40% 40 – 90% > 90% Profundas B < 1% 1 – 10% 10 – 25% 25 – 80% > 80% Hidratação Após as 24h Iniciais – Após a fase de ressucitação, na qual se utiliza um grande volume de cristalóides, as substâncias causadoras do aumento da permeabilidade capilar são metabolizados e os poros vasculares retornam ao tamanho original. Nesta fase observamos um intenso edema dos tecidos queimados e não queimados. Neste momento, o excesso de cristalóides só contribui para o aumento do edema. O objetivo da fluidoterapia nesse momento é resgatar todo este edema e, ao mesmo tempo, restaurar a pressão coloidosmótica original.
  • 3. Reposição de Colóide – A albumina possui maior poder oncótico e praticamente não apresenta nenhum risco. Porém seu custo é muito alto e nem sempre disponível nos hospitais públicos. O plasma está indicado quando não se dispõe de albumina. Utiliza-se albumina após as 24h iniciais, calculando a velocidade de infusão de acordo com o débito urinário (30 a 50ml/h). Podendo se utilizar até 10 frascos de 50ml a 20% em um dia. Os colóides são administrados praticamente durante toda a internação. O controle da infusão é realizado por meio de indicadores: nível sérico de albumina (deve ser mantido acima de 3g/dl) e a presença do edema. Um correto suporte nutricional irá determinar uma menor necessidade de infusão de colóides por toda internação. Curativos Introdução A queimadura determina uma lesão cutânea caracterizada por apresentar pobre microcirculação, tecidos necrosados e uma expressiva flora bacteriana transitória e residente. Estes fatores associados à liberação de toxinas, mediadores inflamatórios e a alterações metabólicas locais induzirão uma resposta sistêmica dando origem a sepse, resultante deste desequilíbrio quantitativo e qualitativo entre o hospedeiro e suas bactérias. A prevenção da infecção na ferida da queimadura envolve manutenção do equilíbrio entre a contaminação bacteriana e a resistência do hospedeiro a partir de rotinas e procedimentos que promovam a redução numérica e a proliferação dos microorganismos nos tecidos lesados. A limpeza sistemática diária da área queimada acompanhada do desbridamento de tecidos desvitalizados e curativos com antimicrobianos tópicos ainda parece ser a melhor forma de prevenção da infecção nestes pacientes A balneoterapia (terapêutica por meio de banhos) é uma da formas mais antigas de tratamento das queimaduras, sendo atribuída sua invenção ao cirurgião francês Guillaume Dupuytren no início do século XIX. Em 1861, em Viena, o médico austríaco Herbra aconselhava a balneoterapia para melhor cicatrização de feridas de qualquer natureza, seguido por Prague (1906), e Ormsby (1911). Zawacki (1974) demonstrou que a dessecação da ferida converte a zona de estase e aprofunda a queimadura. Heggers e cols. (1980) relataram a presença de tromboxanos e outros mediadores inflamatórios nos fluidos das bolhas, indicando a remoção e limpeza de todos os tecidos desvitalizados e bolhas para melhoria da microcirculação Método de Oclusão, Compressão e Repouso (Allen & Koch – 1942) É indicado em lesões do tronco, membros e lesões de terceiro grau no pescoço. 1 – Colocação de camada única de gaze vaselinada (Furacin no 2°. dia); 2 – Duas a três camadas de gazes para absorver as secreções. 3 – Camada de algodão hidrófilo para absorver excesso de secreção, acolchoar e favorecer uma compressão uniforme da lesão; 4 – Enfaixamento compressivo com atadura de crepe; 5 – Fixação com esparadrapo em espiral. OBS.: o curativo deve ser trocado a cada 48h, a compressão dos membros deve ser uniforme e decrescente da extremidade para a raiz. Evitar o enfaixamento circular do tórax e, e tratar isoladamente os dedos lesados. Método de Exposição (Wallace – 1948) Indicado na face, pescoço (2°. grau), períneo e genitais. Consiste em deixar a área afetada exposta ao ar atmosférico. O método baseia-se na formação de crostas (curativo biológico). Nas queimaduras parciais forma-se em 48 a 72h. Balneoterapia sob Analgesia
  • 4. Utiliza-se Nalbufina, endovenosa, na dose de 10mg diluída em água destilada 20 a 30 minutos antes do banho. Pode ser associada ao uso do Cetoprofeno, EV, na dose de 100 mg diluído em 100ml de SF 0,9% após o procedimento. A Nalbufina é um opióide semi-sintético, e não deve ser associada a outro tipo de opióide. Na criança a dose é de 1mg/5kg de peso diluída em água destilada. Inicia-se o procedimento com a abertura e retirada do curativo com o auxílio de jatos de água, evitando-se a mobilização de materiais aderidos na ferida. A lavagem em jatos promove, também, uma limpeza mecânica dos detritos e das secreções, bem como uma diminuição na população bacteriana. Em seguida procede-se à degermação com solução de polivinil-pirrolidona a 10%, por tempo mínimo de contato, com a pele, de 5 minutos. Existe a alternativa do uso de solução de clorexedine a 2%, com espectro de ação bastante semelhante além de ser atóxico e indolor. Realiza-se a remoção mecânica cuidadosa de tecidos necrosados, crostas e secreções, respeitando-se o limite de tolerância da dor ou surgimento de sangramento. Como rotina, aplica-se um creme de sulfadiazina de prata a 1% sobre as gazes, seguido de fixação com faixas de crepe. Outra opção de antimicrobiano é a associação de Nitrato de Cério com sulfadiazina de prata a 1%. As sulfas agem sobre as bactérias Gram positivo e negativo, fungos e protozoários. A sulfadiazina de prata 1% é efetiva contra Pseudomonas pelo efeito bactericida da prata, que é liberada localmente. Tratamento Tópico de Queimaduras Agente Tópico Vantagens Desvantagens Sulfadiazina de Prata Pode aplicar diretamente sobre a ferida, Indolor. Amplo espectro e efetiva contra alguns fungos Não penetra no tecido queimado (escara necrótica) Leucopenia Transitória Nitrato de Prata Amplo espectro. Não alergênico. Aplicação indolor Pobre penetração, Descoloração da ferida Desequilíbrio hidroeletrolítico. A remoção dos resíduos é dolorosa Iodopovidona Ungüento Amplo espectro, Antimicótico Facilmente solúvel em água Não efetivo para Pseudomonas; Aplicação dolorosa. Acetato de Mafenide Amplo espectro. Penetra na escara Útil em curativos abertos ou fechados. Pode causar acidose metabólica. Pode inibir a epitelização. Aplicação dolorosa Gentamicina Amplo espectro. Pode ser usada em curativos abertos ou fechados. Seleciona cepas resistentes; ototóxico e nefrotóxico. Solução de DAKIN Efetivo por mais de 24h. Baixo custo Obrigatório uso de curativo fechado; Doloroso na aplicação. Nitrofurazona Efetivo contra estafilococos. Amplo espectro Não macera a ferida. Pode levar a sobrecrescimento de fungos e Pseudomonas. Doloroso na aplicação
  • 5. Tratamento Cirúrgico Escarotomia – (do latim eschara = casca) Indicada nas queimaduras circulares e de espessura total no tórax, membros inferiores e superiores. Alguns sinais e sintomas como cianose, dor profunda,nos tecidos e parestesia progressiva, diminuição ou ausência de pulso e sensação de frio nas extremidades são mandatários para intervenção cirúrgica. O procedimento deve ser realizado sob condições de assepsia rigorosa, campos estéreis e, apesar de pouco empregado, é importante que se tenha um eletrocautério à disposição. A incisão deve estender-se através de toda a cinta constrictiva, inclusive através das articulações envolvidas quando necessário. Tórax – As incisões nas queimaduras circulares do tórax são realizadas na linha axilar anterior bilateralmente. Extremidades – A incisão deve ser no lado meio medial ou meio lateral, evitando-se os pedículos vasculonervosos. A escarotomia nos dedos não é freqüente, quando necessária, deve ser realizada na linha medial posterior. Enxerto de Pele Homólogo Pollock (1870) e Tiersch (1874) realizaram os primeiros homoenxertos que constam na literatura. Reverdin (1869) utilizou pequenos enxertos de seu próprio braço para cobrir um grande queimado. Brown
  • 6. observou (1937) a persistência de enxertos trocados entre gêmeos univitelinos colocados na região anterior do braço. Os homoenxertos são utilizados como curativos biológicos temporários. Aderem bem à área receptora mas o processo de eliminação ocorre entre três e oito semanas. Um paciente com mais de 50% da SCQ com profundidade de 2°. e 3°. graus não terá área doadora suficiente para realizar cobertura cutânea desta mesma área, uma opção de tratamento é o homoenxerto. Trata-se da utilização da pele de doador em morte encefálica ou de cadáver fresco com até 6 horas após a morte, conservada em refrigeração normal, a 4°C ou refrigerada no glicerol a menos 156°C para utilização em tempo oportuno. Enxerto de Pele Heterólogo ou Xenoenxerto São tecidos transplantados entre indivíduos de espécies diferentes. Em 1917, Kiyomo e Sueyasu foram os primeiros a relatar o transplante de pele humana sobre a membrana corioalantóica de um embrião de galinha. Goodpasture, Douglas e Anderson, em 1938, descreveram a revascularização e o crescimento do enxerto de pele parcial de pele humana transplantada para a membrana corioalantóica de um embrião de galinha. Rogers e Converse (1958) utilizaram experimentalmente pele fetal de bezerro como curativo biológico em humanos. Em 1965, Bromberg, Song e Mohn popularizaram o uso da pele de porco como curativo biológico. Burleson e Eiseman (1973) descreveram a habilidade do xenoenxerto em aderir ao tecido do leito receptor, devido à formação de uma cola biológica de elastina-fibrina. Os mesmos autores demonstraram que esta característica de aderência da pele de porco era responsável por seu efeito antibacteriano. Artz, Rittenbury e Yarbrough (1972) demonstraram que o curativo biológico de pele heteróloga possuía várias funções, como o preparo das áreas de granulação antes de receberem o auto- enxerto, a redução da perda de água e de proteínas, a diminuição da colonização bacteriana e da dor nas áreas de exposição tecidual, a cobertura de órgãos vitais e a facilidade precoce de mobilização da área afetada. Membrana Amniótica É constituída por duas membranas acoladas: a porção lisa do córion e o córion membranoso. A face interna lisa e brilhante, voltada para a cavidade amniótica, constitui o âmnio. A face externa, despolida e irregular constitui o córion, com fragmentos de decídua. O âmnio derivado do epiblasto, encontra-se em continuidade com o ectoderma do embrião e é constituído em sua superfície interna por células epiteliais cubóides ou planas e em sua superfície externa por tecido conectivo mesenquimal. O córion tem tecido conectivo mesenquimal em contato com o âmnio e uma face externa de epitélio de transição. Credita-se a Davies (1910) a tentativa de enxerto de âmnio em tecido de granulação, mas foi Sabella (1912) que utilizou membrana amniótica em um paciente queimado. Sabella acreditava, que por ser o âmnio de origem ectodérmica, esta seria a parte apropriada da membrana a ser colocada em aposição à pele. Em 1978 Gruss e Jirsch, optaram por posicionar a superfície coriônica contra todas as lesões de espessura total, onde esperavam a ocorrência de neovascularização. Por outro lado, nas lesões de espessura parcial, em que a neovascularização não era desejada, a face amniótica era colocada em contato com a ferida.. A membrana amniótica fresca permanece aderida ao leito, até a epitelização total das lesões de 2°. grau, com diminuição significativa da dor e das perdas hídricas.