O documento discute os conceitos de Samprajñāta Samādhi e Asamprajñāta Samādhi na tradição do Yoga. Explica que Samprajñāta Samādhi envolve a mente focada em um único objeto ou ideia, enquanto Asamprajñāta Samādhi ocorre quando a mente está vazia de qualquer objeto ou ideia. Também descreve os estágios progressivos de Samādhi, incluindo os quatro estágios de Samprajñāta Samādhi associados aos três Gunas da
3. • Samādhi é a técnica essencial do Yoga.
• Em geral samādhi pode ser definido como: um mergulho nas
camadas mais profundas da consciência de quem esteja operando
através dos diferentes graus da mente.
• A consciência é um aspecto da Realidade Última em manifestação e
sua expressão depende do grau específico da mente através da qual
ela esteja atuando.
4. • Os diferentes estágios de samādhi representam a liberação progressiva da
consciência em relação às limitações em que se encontra envolvida, sendo
que Kaivalya é o estado em que ela pode novamente funcionar em plena
liberdade.
• Como a consciência funciona em diferentes níveis, em diferentes graus da
mente, através de diferentes mecanismos, chamados veículos ou kośas, sua
liberação progressiva das limitações pode ser encarada sob outro ponto de
vista.
• Pode ser considerada, por exemplo, sua retirada de um veículo para outro
mais sutil, que tem menos limitação e funções mais abrangentes devido à
matéria mais sutil.
5. • Samprajñāta samādhi quer dizer samādhi com prajñā.
• Asamprajñāta samādhi quer dizer um estado associado com prajñā
mas diferente de samprajñāta samadhi
Prajñā significa a consciência superior atuando através da mente em todos os seus estágios. Essa
consciência superior, a qual se desenvolve em samādhi, é obtida quando a mente é completamente
isolada do mundo físico e a consciência é centralizada em um ou mais grupos de veículos, começando
pelo mental inferior e finalizando com o veículo ātmico. A consciência está, assim, livre da carga e
interferência do cérebro físico. (A Ciência do Yoga , I. K. Taimni)
Prajñā : sinônimo de Mahat, a Mente Universal, Consciência. A capacidade para a percepção que
existe em sete aspectos diversos, correspondentes às sete condições da matéria. Significa, além disso,
inteligência, entendimento, conhecimento, discernimento, razão, juízo, sabedoria, conhecimento
supremo ou espiritual. Prajñā é o sétimo escalão da sabedoria, cuja chave de ouro faz do homem um
deus, convertendo-o em Bodhisattva, filho dos Dhyânis. (Glossários Teosófico, H. P. Blavatsky, Ed.
Pensamento)
6. • Tanto samprajñāta quanto asamprajñāta samādhi estão ligados a
prajñā (samprajñā). A diferença está na presença ou na ausência de
um pratyaya (conteúdo total da mente a qualquer momento) no
campo da consciência.
Pratyaya: conhecimento, inteligência; noção, ideia; instrumento, meio de ação; causa ou agente
cooperador; causa, motivo; costume, prática, crença, convicção; evidência, certeza (Glossários Teosófico,
H. P. Blavatsky, Ed. Pensamento)
Interpretação: A Mente existe antes do conteúdo, assim como um espelho existe antes do objeto e
de sua imagem ou reflexo. Quando um objeto, concreto ou abstrato, se reflete na mente, dizemos
que ela possui um conteúdo (o espelho possui uma imagem).
8. • Em samprajñāta samādhi há um pratyaya (chamado
“semente”) no campo da consciência, e a consciência é
inteiramente dirigida para ele. A consciência é assim dirigida
do centro para o exterior.
• Em asamprajñāta samādhi não há pratyaya e, portanto,
nada há que retire a consciência para o exterior e que a
retenha ali.
9. Estágios progressivos de recolhimento da consciência para o seu centro e sua emergência no plano seguinte.
Tão logo pratyaya (P) é
abandonado ou suprimido, a
consciência começa a retroceder
automaticamente para o seu
centro (O), e, depois de passar
momentaneamente através deste
centro laya, tende a emergir no
próximo veículo mais sutil.
Completado este processo,
pratyaya (P’) do plano seguinte
mais elevado aparece, e a direção
da consciência novamente se dá
do centro para fora.
10. Estágios progressivos de recolhimento da consciência para o seu centro e sua emergência no plano seguinte.
Desde o instante em que
pratyaya (P) é suprimido até o
momento em que o pratyaya (P’)
do plano seguinte aparece, o yogi
está no estágio de asamprajñāta
samādhi, um estado plenamente
consciente e sob controle da
vontade, mas com a mente num
espaço em branco, o espaço em
branco de samādhi, e não o tipo
de vazio que normalmente
acontece no estado de sono
profundo ou coma.
11. • Asamprajñāta samādhi representa uma condição muito dinâmica da
mente e difere de samprajñāta samādhi somente quanto à ausência
de pratyaya no campo da consciência.
• O vazio de asamprajñāta samādhi é as vezes chamado de “nuvem” no
Yoga e a experiência pode ser comparada a de um piloto cujo avião
penetra numa massa de nuvens.
• Quando a consciência do yogi sai de um plano e o pratyaya desse
plano desaparece, ele se encontra num vazio e ali deve permanecer
até que sua consciência automaticamente emirja no plano seguinte
com seu novo e característico pratyaya.
12. • No caso do yogi avançado, essa experiência pode ser repetida muitas
vezes e ele passa de um plano a outro até que do mais sutil deles, o
ātmico, ele dá o mergulho final na Realidade – a consciência do
purusa. A “nuvem” na qual ele agora entra é chamada de dharma
megha. Quando ele sai dessa “nuvem”, já deixou para trás o domínio
de prakrti e encontra-se em seu próprio svarūpa.
• Pode-se ver, portanto, que, no recolhimento progressivo da
consciência do plano mental inferior para sua origem, samprajñāta
samādhi com seu característico pratyaya e asamprajñāta samādhi
com seu vazio seguem um ao outro, alternando-se sucessivamente,
até que a última barreira tenha sido transposta e o yogi esteja
estabelecido em seu svarūpa e sua consciência tenha se unificado
com a consciência do purusa.
13. • O recolhimento da consciência em direção ao seu centro não é assim, um
mergulho firme e ininterrupto em profundidades cada vez maiores, mas
consiste em alternados movimentos da consciência, para fora e para
dentro, em cada barreira que separa dois planos.
• O tempo empregado na passagem pelos diferentes planos e vazios
intermediários depende do progresso alcançado pelo yogi. Em geral,
quando o yogi está ainda aprendendo a técnica do samādhi, precisa
empregar considerável tempo num determinado plano antes de tentar
passar ao plano imediatamente superior. Seu progresso depende:
De seu esforço atual
Do impulso do passado
Dos samskāras que traz de suas vidas anteriores
14. • Após Dhyana (contemplação) as características da consciência se
desdobram nos quatro estágios de samprajñāta samādhi,
correspondentes aos quatro estágios dos guna (II-19).
• As quatro fases ou estágios sucessivos de samprajñāta samādhi são
acompanhados pelas atividades ou estados da mente denominados,
respectivamente:
Vitarka
Vicāra
Ānanda
asmitā.
Esses estágios indicam representações funcionais dos
estágios de samādhi, diferentes da representação estrutural
de classificação dos planos, e indicam as funções essenciais
e dominantes da mente e não os nomes dos veículos
através dos quais essas funções são exercidas.
15. Os Estágios
de Samādhi
No diagrama estão
representados os diversos
estágios de samprajñāta e
asamprajñāta samādhi
bem como a
correspondência com os
diversos veículos.
Samprajñāta samādhi
começa quando a
consciência está
completamente desligada
do mundo externo, após
passar pelos estágios
preliminares de dhāranā
e dhyāna.
16. • No primeiro estágio de samprajñāta samādhi, a consciência está
centrada no mundo mental inferior e atua através do manomaya
kośa. A função essencial da mente nesse estágio é designada pela
palavra vitarka (do sânscrito: curiosidade, raciocínio – Glossário Teosófico de
Helena P. Blavatsky)
• Observe que quando uma pessoa puder deixar seu corpo físico e
atuar nos veículos mais sutis chamados corpo astral e corpo mental
ela não estará, necessariamente em estado de samādhi por não estar
presente a condição peculiar descrita em III-3. A mente está dirigida
para diferentes objetos em sucessão e não concentrada em um único
objeto.
III-3 – A mesma (contemplação) quando há consciência somente dos objetos de meditação e não de si mesma (a mente) é samâdhi
17. • Savitarka Samādhi: meditação argumentativa, raciocinadora ou
deliberativa, Quando a mente aprende uma palavra e medita sobre
seu significado e forma, assim como sobre o conhecimento da relação
de ambas e, deste modo, absorve no objeto de seu pensamento.
(Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky)
• Nirvitarka Samādhi: aquele estado de meditação ou concentração
mental em que se encontra presente apenas a ideia do objeto
meditado, independente de seu nome, forma etc. por terem
desaparecido da memoria as relações existentes entre estes e aquela.
(Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky)
18. • Depois de dominar a técnica das fases savitarka e nirvitarka no
primeiro estágio, o yogi pratica asamprajñāta samādhi e retira sua
consciência para o plano imediatamente superior atravessando a
“nuvem” que acompanha asamprajñāta samādhi. A consciência do
yogi emerge então no mundo mental superior e atua através do
corpo causal.
• A função essencial da mente ao atuar através desse veículo é
chamada vicāra. O yogi começa agora a praticar samādhi nesse plano
dominando lentamente as técnicas de savicara e nirvicara e mais uma
vez pratica asamprajñāta samādhi até emergir com sua consciência
no veículo ānandamaya kośa e depois em ātmā, cujas funções
essenciais são denominadas ānanda e asmitā.
19. A matéria (Prakriti ou Pradhâna) é constituída por três gunas (modos,
modalidades, qualidades ou atributos), chamados de sattva, rajas e tamas que
são da própria natureza da matéria. Podemos traduzir os três gunas assim:
Sattva: bondade, pureza, harmonia, lucidez, verdade, realidade, equilíbrio etc.
Rajas: paixão, desejo, atividade, luta, inquietude, afã, dor etc.
Tamas: inércia, apatia, tenebrosidade, confusão, ignorância, erro etc.
Os três gunas estão universalmente difundidos na natureza material e em
todas as criaturas, determinando o caráter ou condição individual através da
proporção em que se encontram reunidos em cada um dos seres.
Sattva predomina sobre as outras no mundo dos deuses.
Rajas predomina na espécie humana.
Tamas predomina nos brutos e nos reinos mineral e vegetal.
Fonte: Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky)
20. Exceto o Espírito Puro, nada há que esteja livre dos gunas.
Na matéria caótica ou não manifestada, os gunas se encontram em
perfeito equilíbrio e, então, todas as potências e energias que aparecem
no universo manifestado repousam numa inatividade comparável a de
uma semente.
Quando se rompe tal equilíbrio, produz-se uma forma ou manifestação, e
toda manifestação ou forma é produto de Prakriti em que há predomínio
de um dos gunas sobre os dois restantes
Sattva e Tamas não podem por si sós entra em atividade; requerem o
impulso do motor e da ação (Rajas) para se colocar em movimento e
desenvolver suas próprias características
Fonte: Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky)
21. Como são quatro os estados de consciência que o yogi
tem de atravessar em samādhi, antes de ele ser
liberado do domínio dos gunas, é natural que haja
quatro estágios de gunas. As características dos quatro
estados de consciência, os estágios dos gunas e os
veículos através dos quais estes estados de consciência
expressam-se são:
22. Característica do
Estado de
Consciência
Estágio dos
Gunas
Veículo de
Expressão
Explicação do Estágio dos
Gunas
Exemplo
Vitarka
(atividade da mente
inferior através da
qual ela diferencia
determinado objeto
de todos os outros)
Viśesa
(particular)
Mental
Concreto
Viśesa significa “particular” e
refere-se ao estágio da mente
inferior que vê todos os objetos
apenas como coisas particulares,
como nomes e formas, com
existência separada e
independente, além de uma
identidade separada. O objeto
está separado de seu arquétipo e
da Divina consciência da qual faz
parte.
Conceito de um cão
em particular, com o
conceito de sua
espécie, raça, nome e
demais atributos
específicos daquele
animal
Vicāra
(processo mental no
qual as qualidades
são isoladas de
objetos particulares
e combinadas em um
único conceito
abstrato)
Aviśesa
(universal)
Mental
Abstrato
Aviśesa significa “universal” ou
“não-específico”. Corresponde à
atividade da mente superior, cuja
função é lidar com universais,
arquétipos e princípios
subjacentes ao mundo dos
nomes e das formas.
Conceito de “cão” a
partir da observação
de um representante
particular. Conceito da
espécie “canina” a
partir da observação
de um grande número
de representantes
com a formação de
um conceito abstrato
referente a tal animal
23. Característica do
Estado de
Consciência
Estágio dos
Gunas
Veículo de
Expressão
Explicação do Estágio dos
Gunas
Exemplo
Ānanda
(neste estado de
consciência todos os
objetos e princípios
universais tornam-se
parte de uma
consciência
universal, como
partes de um todo
indivisível. Mas cada
parte ainda tem sua
identidade
distingüível
Lioga
(marca)
Búdico Lioga-mātra significa um estado
de consciência em que objetos
particulares, e até mesmo
princípios, são meros marcos ou
sinais que servem para distingüí-
los de outros objetos. É o estágio
de gunas correspondente ao
estado supramental de buddhi
ou intuição. O estágio
correspondente, em samādhi, é
acompanhado por ānanda.
Condição de unidade
na diversidade.
Os objetos são
percebidos lado a
lado com o
percebimento da
consciência.
Asmitā Alioga
(Sem marca)
Ãtmico Neste estágio, objetos e
princípios perdem sua
identidade separada. A
consciência torna-se tão
predominante que ela fica “fora
de foco”. Percebe-se que tudo no
universo consiste apenas de
modificações na consciência –
Brahma-vrtti.
Os objetos saem de
foco e somente
permanece o
percebimento da
consciência Divina, da
qual eles são
modificações.
24. • Os estágios mentais de vitarka e vicāra não correspondem
aos processos mentais que ocorrem no estado de samādhi.
No estado de samādhi a mente está completamente isolada
do mundo exterior, fundida por assim dizer com o objeto,
num estado de abstração. O pensamento concreto e abstrato
são apenas tímidos reflexos, representações qualitativas dos
processos mentais extremamente sutis que tem lugar em
samādhi.
25. • Deve-se notar que, do começo ao fim do recolhimento da
consciência, nos quatro estágios, há sempre algo no campo
da consciência. Durante o período de asamprajñāta samādhi
não há pratyaya, mas somente uma “nuvem” ou vazio que é
uma cobertura sobre a consciência pura, uma impressão não
nítida produzida na consciência quando esta passa através
da fase crítica entre o pratyaya de dois planos sucessivos.
26. • Em samprajñāta-samādhi a consciência pode conhecer somente a
natureza de algo que esteja colocado em seu campo de iluminação. Ela
não pode conhecer sua própria natureza.
• Sobre o pratyaya de planos superiores, quanto mais elevado o plano
maior o fracasso em tentar descrevê-los. Cada mundo só pode ser
conhecido através do veículo que a consciência utiliza nele.
• A descida sucessiva da consciência implica não só limitação por certo
número de envoltórios, mas também a perda de certo número de
dimensões de espaço e tempo, com limitações adicionais na consciência.
27. • A “cessação” do pratyaya refere-se à “semente” de samprajñāta-
samādhi que é abandonada e desaparece no campo da
consciência na prática de asamprajñāta-samādhi.
• Asamprajñāta-samādhi somente pode ser praticada após a
prática prolongada de samprajñāta–samādhi. De fato, o
recolhimento da consciência em asamprajñāta-samādhi e sua
passagem através do centro laya dependem da manutenção de
uma pressão constante da vontade que está implícita no esforço
de manter a mente em samprajñāta-samādhi. Não há mudança
na condição da mente, exceto o desaparecimento do pratyaya.
28. • A pressão deve ser exercida em samprajñāta-samādhi antes
que possa ser utilizada em asamprajñāta-samādhi.
• A impressão que perdura na mente, depois que pratyaya de
um plano tenha sido suspenso e antes que pratyaya do
próximo plano apareça, em condições normais, só pode ser o
vazio. Mas este vazio não é um estado estático (embora
possa ser essa a sensação do yogi quando o atravessa). É
uma condição dinâmica, porque a consciência está sendo
lenta ou rapidamente transferida de um plano para outro
29. • A consciência não pode ficar suspensa indefinidamente no vazio.
Ela precisa emergir em um dos dois lados do centro laya.
• Se a técnica de nirodha parināma não tiver sido suficientemente
dominada, ela pode ser impelida a voltar ao plano que acaba de
deixar, e, então, as “sementes” que tenham sido suspensas
reaparecerão. Mas se a mente pode permanecer no estado de
niruddha por um tempo suficientemente longo, como indicado
em III-10, a consciência cedo ou tarde emergirá no plano
superior seguinte.
30. • Asamprajñāta-samādhi não é senão o recolhimento da
consciência para o seu centro laya, antes que possa começar
a atuar em outro plano. Esse centro da Realidade é cercado
por certo número de veículos concêntricos os quais são
iluminados pela consciência a partir desse centro quando a
consciência é focada num determinado veículo. É nesse
sentido que a transferência da consciência de um veículo
para outro em samādhi deve ser compreendida.
31. • Outro ponto importante é o de que por ser o centro comum
a todos os veículos o ponto de encontro de todos os planos,
é para ele que a consciência deve se recolher, antes que
possa ser transferida para outro veículo.
• Se a consciência estabelecer-se permanentemente no centro
da realidade, como ocorre com Adeptos altamente
avançados, a questão do recolhimento para o centro deixa
de existir.
32. • Mas se esse centro comum a todos os veículos é também o centro da
Realidade no interior de cada yogi, por que não tem ele um vislumbre da
realidade ao atravessar de um plano para outro? O que impede o yogi de
atingir a Realidade sempre que pratica asamprajñāta-samādhi?
• A resposta são os samskāras, ainda perturbando a mente do yogi,
obscurecendo sua visão e impedindo-o de ter um vislumbre da Realidade.
Urge que os samskāras sejam inteiramente destruídos, antes que o yogi esteja
livre para entrar no campo da Realidade, a partir de qualquer ponto que
desejar. Mas, embora o yogi, ainda sobrecarregado com samskāras, não possa
ter um claro vislumbre da Realidade, ele pode sentir, por assim dizer, a
Realidade cada vez mais, à medida que progride na direção de seu objetivo e
o fardo de seus samskāras torna-se mais leve. Visto dessa maneira, cada
asamprajñāta-samādhi sucessivo é um precursor do nirbīja samādhi, único
que pode oferecer uma visão límpida da Realidade.
34. • O universo manifesto é uma emanação da Realidade Última
e seus diversos planos são uma espécie de condensação ou
involução da consciência. Em cada estágio de condensação é
estabelecida uma relação sujeito-objeto entre os aspectos
mais condensados (objetivos) e menos condensados
(subjetivos) da consciência.
• A Realidade Última é o único princípio puramente subjetivo e
todas as demais expressões da Realidade no domínio da
Manifestação possuem uma dupla função subjetiva-objetiva.
35. • Em cada ponto da manifestação há a possibilidade do
encontro do subjetivo com o objetivo e de tal encontro
estabelece-se uma relação definida entre os dois. Assim, o
universo manifesto não é uma dualidade, mas sim uma
triplicidade; daí toda manifestação da Realidade, em
qualquer nível ou em qualquer esfera, ter três aspectos.
Esses três aspectos são referidos como conhecedor,
conhecimento e conhecido ou como cognoscente, cognição,
cognitivo ou percebedor, percepção e percebido.
36. • O fato do Um ter-se tornado três é a base da misteriosa
identidade existente entre esses três componentes e explica
a possibilidade de produzir a fusão do Três em Um. Esse tipo
de fusão é a técnica essencial e o segredo do samādhi,
podendo ocorrer em quatro diferentes níveis de consciência,
correspondendo aos estágios de samprajñāta samādhi:
vitarka, vicāra, ānanda e asmitā. O princípio essencial à
fusão do Três em Um é o mesmo em todos os níveis, e o
resultado é o mesmo, a conquista, pelo conhecedor, do
conhecimento perfeito e completo do conhecido.
37. • Para familiarizar o estudante com a natureza essencial de
samādhi, Patañjali utiliza a analogia da jóia transparente.
• Uma pedra comum colocada sobre uma folha de papel não é
afetada pela luz proveniente do mesmo. Ela é impenetrável à
luz ou informação proveniente do papel. Já um cristal
absorve parte da luminosidade e se torna, em parte,
semelhante ao papel. Quanto mais perfeito o cristal mais ele
se parecerá com o papel colorido. Um cristal perfeito se
tornará tão semelhante ao papel que poderá quase
desaparecer em meio à luz que o papel emite.
38. • É a ausência de defeito, características, marcas ou qualidades
próprias que possibilita sua completa assimilação com o papel.
• O comportamento de uma mente em relação ao objeto de
contemplação é notavelmente semelhante ao do cristal em
relação ao papel colorido. Qualquer atividade, impressão ou
propensão que a mente tenha, fora do objeto de
contemplação, impedirá que ela venha a fundir-se
completamente com ele. Só quando a mente tiver aniquilado
completamente a si mesma e destruído sua identidade
independente é que ela poderá tornar-se assimilada ao objeto
de contemplação.
39. • Mas quais os fatores que impedem esse processo de
assimilação?
• Primeiro há as tendências, algumas de caráter quase
instintivo, que transmitem fortes preconceitos à mente e
fazem com ela flua natural e poderosamente por certas
linhas predeterminadas (p. ex. tendências de acumular
posses, de se permitir prazeres de toda espécie, atrações e
repulsões etc). Com a prática de yama, niyama e vairāgya,
procura-se eliminar da mente do iniciante todas essas
tendências.
40. • Depois vêm as impressões sensoriais do mundo exterior.
• Pelos órgãos dos sentidos flui uma corrente contínua de
impressões para dentro da mente, modificando-a
constantemente. Essas impressões são eliminadas assim
que samādhi for praticado por meio de āsana, prānāyāma
e pratyāhāra.
41. • O yogi tem agora de lidar apenas com a atividade inerente à
própria mente, atividade que pode ser levada adiante com o
auxílio das imagens armazenadas na memória. Procura-se
controlar e canalizar esse tipo de atividade em dhāranā e
dhyāna e direcionar essa atividade da mente para um único
canal. Nada resta na mente, nada pode surgir nela senão a
“semente” de samyama ou objeto de contemplação. Mas a
mente está ainda separada do objeto e, enquanto mantém seu
papel subjetivo, não pode se tornar una com o objeto. Este
auto-percebimento da mente, que impede sua fusão completa
com o objeto de contemplação, e não a permite “brilhar”
somente com a verdade oculta no objeto, é eliminada em
samādhi.
42. • Devemos analisar agora o modo como este auto-
percebimento é dissolvido para acarretar a fusão completa
do conhecedor, do conhecido e do conhecimento.
• No exemplo do cristal colocado sobre um papel colorido,
ainda que a fusão seja completa, algo o colore. Logo o cristal
não está totalmente livre de defeitos. Há ainda uma
influência externa. Somente quando o cristal é colocado
sobre um papel branco é que ele brilhará com a luz branca,
símbolo da Realidade ou verdade Total.
43. • Analogamente, em sabīja samādhi, embora todos os outros
defeitos da mente tenham sido eliminados, um defeito ainda
está lá. Trata-se de sua permeabilidade com a verdade parcial da
“semente” da contemplação. Comparada com a verdade Total, a
verdade parcial da semente atua como um obstáculo que impede
a mente de brilhar com a verdade Total.
• Para que ocorra a realização da verdade Total que somente pode
ser encontrada na consciência de purusa é necessário remover
até mesmo a impressão de qualquer verdade parcial realizada
em sabīja samādhi. Isso é conseguido com a prática de nirbīja
samādhi ou samādhi sem “semente”.
44. • Em sabīja samādhi os vrttis da mente são substituídos por
um puro, mas parcial, aspecto da Realidade.
• Porém, em nirbīja samādhi este conhecimento puro, todavia
parcial, é substituído pela Realidade ou pela consciência do
próprio purusa. A mente fundiu-se na Realidade Una e existe
despercebida somente para irradiar seu inimaginável fulgor.
45. • Do que foi dito acima precisa estar claro que a técnica do Yoga
para fusão do conhecedor, conhecido e conhecimento precisa ser
adotada como um todo e não parcialmente. Se os desejos
comuns não tiverem sido eliminados, mas apenas moderados,
será impossível praticar samādhi. Os desejos continuarão a
exercer pressões inconscientes e a projetar imagens na mente.
Tais desejos não podem ser vencidos apenas com a força de
vontade a qual, uma vez exercida, tende a gerar tensão na mente
o que a torna despreparada para o samādhi. A tranqüilidade é
pré-requisito para o samādhi.
46. • Assim não adianta se lançar na prática da meditação sem o
necessário preparo, completo e constante e por longos
períodos de tempo.
• Na prática de sabīja samādhi, em vitarka, vicāra, ānanda e
asmitā, a mente não está sem vrtti ou modificação ainda que
no final de cada um desses estágios esteja com a verdade
parcial que resplandece através da mente. Mas a mente
ainda não está numa condição inalterada, pois a luz da
verdade parcial ainda colore a mente.
47. • A técnica de samādhi envolve:
a investigação e o domínio dos planos de consciência, de
um lado, e
a total compreensão da Realidade que está além deles, de
outro.
• Samādhi com o primeiro objetivo é chamado sabīja samādhi
e com o segundo objetivo é chamado nirbīja samādhi.
48. • Vimos que samprajñāta samādhi tem quatro estágios
(vitarka, vicāra, ānanda e asmitā) associados aos quatro
níveis distintos nos quais a consciência funciona através dos
quatro veículos superiores e correspondentes aos quatro
estágios dos gunas (o particular, o universal, o diferenciado e
o indiferenciado).
• Vimos que a consciência mais elevada, funcionando nesses
níveis em um estado de samādhi, é completamente
diferente da consciência mental comum, com a qual estamos
familiarizados e que se chama prajñā.
49. • Eis porque samādhi desse tipo é chamado samprajñāta. Todos os
quatro estágios de samprajñāta samādhi estão incluídos em
sabīja samādhi.
• Por que sabīja samādhi? A chave está no significado da palavra
bīja ou semente. Uma semente é um aglomerado de diferentes
materiais dispostos em diferentes camadas – a camada mais
externa formando a parte protetora e menos essencial, e a mais
interna, ou núcleo, formando a parte real ou essencial. Portanto,
a fim de atingirmos a parte essencial ou a verdadeira substância
da semente temos de romper as várias camadas, uma após
outra, até chegar ao núcleo.
50. • Samyama, em samprajñāta samādhi, é sempre executado em
relação a algum “objeto”, chamado “semente” por apresentar
diversas camadas em termos de significado etc. encobrindo um
núcleo essencial que é a Realidade do objeto. Pode-se entrar em
contato com as diferentes camadas do objeto ou “semente”,
desdobrando-o, por assim dizer, mentalmente, por meio da
técnica de samādhi.
• Cada estágio sucessivo de samādhi revela à nossa consciência
uma camada diferente e mais profunda da realidade do objeto e,
continuando o processo de samyama através dos estágios
sucessivos, terminamos por chegar à mais interna realidade do
objeto.
51. • Mas nem todos os objetos são complexos o suficiente para
requerer que a técnica de samyama seja aplicada em todos
os quatro estágios de sabīja-samādhi. Um estudo dos sūtras,
na última parte da seção III, dará ao estudante uma boa idéia
da grande variedade de objetos que podem ser utilizados
para samyama, na prática do Yoga.
• Um estudo cuidadoso desses sutrās dará ao estudante uma
idéia a respeito das diversas finalidades de sabīja e nirbīja
samādhi e também esclarecimentos sobre a técnica de
samādhi.
52. • Antes de prosseguirmos, na análise desse sūtra,
consideremos algumas conclusões que podem ser extraídas
de um estudo geral dos objetos (visayā) em relação aos quais
samyama é aplicado e os resultados obtidos de tal prática:
1. Se duas coisas estão relacionadas como causa e efeito,
aplicando-se samyama sobre o efeito, é possível, então,
obter conhecimento sobre a causa nele subjacente ou vice
versa (como p. ex. em III-16).
53. 2. Se certos fenômenos deixam uma impressão em qualquer
meio, é possível entrar em contato com os fenômenos pela
revivescência das impressões através de samyama (como, p.
ex. em III-18).
3. Se determinado princípio da natureza encontra expressão em
certo fenômeno, então, pela aplicação de samyama no
fenômeno, é possível conhecer diretamente o princípio nele
subjacente (como p. ex. em III-28 e em III-29).
4. Se determinado objeto é a expressão de um Arquétipo,
então, pela aplicação de samyama sobre o objeto, é possível
obter conhecimento direto do arquétipo (como p. ex. em III-
30).
54. 5. Se determinado centro no corpo é um órgão de um veículo
ou faculdade superior etc., então pela aplicação de
samyama sobre o centro, estabelece-se contato direto com
o veículo, faculdade etc. (como p. ex, em III-33 e III-35).
6. Se algo existe em diversos graus de sutileza, uma derivada
da outra, em uma série, então, pela aplicação de samyama
sobre a mais afastada delas ou sobre a menos sutil, pode-
se chegar ao conhecimento de todas as formas, passo a
passo (como referido em III-45).
55. • Samyama é realmente um meio de passar de uma expressão
externa para a realidade interna, qualquer que seja a natureza do
relacionamento entre a expressão externa e a realidade interna.
• Como a realidade subjacente em todos os objetos está contida na
Mente Divina, e o objetivo de samyama em sabīja-samādhi é
conhecer tal realidade, conclui-se que o que o yogi faz em
samyama é mergulhar em sua própria consciência, até atingir o
nível da Mente Divina, em que se encontra a realidade do objeto.
• A “semente” sobre a qual se aplica samyama apenas determina a
direção ao longo da qual se dará o mergulho da consciência, como
ilustra a figura 5.
56. A, B e C são diferentes objetos que
podem servir como “sementes” de sabīja-
samādhi. A’, B’ e C’ são, respectivamente,
as realidades desses objetos que podem
ser encontradas na Mente Divina através
de samyama. “O” é o Centro da
Consciência Divina que é a meta do yogi
em nirbīja-samādhi.
57. •I-42 - Savitarka samādhi é aquele (samadhi) em que o
conhecimento baseado somente em palavras, o
conhecimento real e o conhecimento comum baseado
na percepção sensorial ou no raciocínio, estão
presentes em um estado de mistura e a mente passa,
alternadamente, de um para outro.
58. • Nosso verdadeiro conhecimento sobre um objeto real está
misturado ou confundido com todo tipo de imagens mentais
(aquelas provenientes de nossos sentidos mais aquelas
provenientes de nosso conhecimento intelectual do objeto)
não nos sendo possível separar o conhecimento puro, em
meio a essas imagens mentais, pelos processos comuns de
análise mental ou raciocínio.
• A única maneira de fazer isso é aplicando samyama ao
objeto e fundindo a mente com ele.
59. • Há de haver dois estágios no processo de “conhecimento por fusão”.
• No primeiro estágio, o conhecimento heterogêneo concernente ao
objeto tem que ser separado em seus dois diferentes constituintes,
externo e interno, que estão presentes num estado não-diferenciado
e confuso. Assim, progressivamente eles vão se separando e
chegando a uma condição onde estão claramente diferenciados e
definidos.
60. • No segundo estágio a mente está fundida com o
conhecimento puro, que foi isolado no primeiro. Nesse
processo de fusão seletiva, naturalmente todos os demais
constituintes que dependem da memória desprendem-se,
automaticamente, e a mente brilha apenas com o
conhecimento puro do objeto – nada mais. I-42 trata do
primeiro estágio e I-43 do segundo.
61. • I-42 - Savitarka samādhi é aquele (samadhi) em que o conhecimento
baseado somente em palavras, o conhecimento real e o
conhecimento comum baseado na percepção sensorial ou no
raciocínio, estão presentes em um estado de mistura e a mente
passa, alternadamente, de um para outro.
• I-43) Na clarificação da memória, quando a mente perde sua
natureza essencial (subjetividade), por assim dizer, e somente o
conhecimento real do objeto brilha (através da mente) nirvitarka
samādhi é atingido
62. • O processo de separação ocorre em samādhi e não pode ser
realizado por um processo comum de análise mental. Só
quando a mente tiver sido inteiramente isolada das
influências externas e atingido o estado concentrado de
dhyāna é que ela pode, com sucesso, lidar com este
problema de separação.
• Śabdārtha-jñāna definem as três categorias de
conhecimento que estão inextrincavelmente misturadas na
mente do homem comum e somente podem ser separadas
em savitarka-samādhi.
63. • Śabdā refere-se ao conhecimento baseado apenas em palavras, não
estando de modo algum ligado ao objeto em questão. Em grande
parte, nosso pensamento tem essa natureza superficial, baseando-se
meramente em palavras sem, de modo algum, tocar o objeto.
• Artha refere-se ao conhecimento verdadeiro sobre o objeto, ou seu
significado real, que o yogi quer.
• Jñāna refere-se ao conhecimento comum, baseado na percepção dos
órgãos dos sentidos e no raciocínio mental.
64. Normalmente há uma
incapacidade da mente de
distinguir claramente esses três
tipos de conhecimento, o que faz
a mente pairar alternadamente
sobre eles, numa “confusão”.
Em savitarka-samādhi, a
completa tranquilização da
mente produz a separação
completa dos diferentes tipos de
conhecimento o que possibilita
que não haja mais alternância
entre um e outro. Por eles serem
confundidos um com o outro, e o
próprio campo de cada um não
estar definido, é que há confusão
e, consequentemente, vitarka.
Quando o quadro mental é
clarificado e cada componente
visto na sua verdadeira
perspectiva, vitarka tem que
chegar ao fim.
conhecimento
baseado apenas em
palavras
conhecimento
verdadeiro sobre o
objeto, seu
significado real
conhecimento comum,
baseado na percepção dos
órgãos dos sentidos e no
raciocínio mental.
65. • I-43 - Na clarificação da memória, quando a mente perde sua
natureza essencial (subjetividade), por assim dizer, e somente o
conhecimento real do objeto brilha (através da mente) nirvitarka
samādhi é atingido
• O estágio savitarka de samādhi prepara para o estágio nirvitarka.
• Após a separação completa dos três tipos de conhecimento, todos
são vistos separadamente e são completamente distinguíveis. Há
assim a clarificação da memória (smrti).
66. • Uma vez que a mente do yogi desliga-se por completo do mundo
exterior, a modificação (vrtti) não pode ser classificada como
“conhecimento correto” ou “conhecimento errôneo”.
• Como ele não está dormindo, mas completamente consciente,
também não pode ser classificada como “sono”.
• Como não está aplicando samyama a nenhuma coisa imaginária, mas
a uma coisa definida e cuja realidade está para ser conhecida, a
modificação não pode-se classificar como “imaginação”.
• A modificação é realmente da natureza da memória porque é uma
reprodução na mente de algo que foi experienciado antes.
67. • Uma vez clarificada a memória, a mente está pronta para o
passo seguinte, isto é, a redução do autopercebimento ao
limite máximo.
• A dissolução do autopercebimento mental só pode ocorrer
após a separação do conhecimento composto e complexo,
em relação ao objeto, em seus três constituintes claramente
definidos.
68. • Mas embora a mente pareça desaparecer, ela ainda está ali. O
próprio fato de o objeto estar “brilhando” na mente indica a
presença dela. Somente sua natureza subjetiva, digamos,
desapareceu no objeto, acarretando assim a fusão do subjetivo
com o objetivo, necessária para alcançar o estado de samādhi.
É esta fusão que ocasiona o desaparecimento dos outros dois
constituintes, śabda e jñāna, deixando somente o
conhecimento puro ou svarūpa do objeto a preencher a
mente. O objeto é então visto em sua realidade nua.
• A mente, embora ela própria imperceptível, como uma jóia
transparente, ainda brilha, sob a luz do verdadeiro
conhecimento do objeto
69. • Devemos lembrar que a mente é, em si, inerte e a constante
presença de purusa é que lhe dá a capacidade de perceber. A
mente é sempre um instrumento. Assim quando a mente
funde-se com o objeto em nirvitarka-samādhi, é o purusa, a
partir de seus princípios superiores, que realmente está
atuando. O purusa sempre dirige todo o processo de
transformação ao longo de todos os estágios de samādhi. E
esse ponto de vista não está de acordo com a filosofia
Sāmkhya, em que o purusa é considerado um simples drastā
ou expectador.
70. • Patañjali não tratou em detalhes dos estágios mais elevados
de samādhi
• Há dificuldade de compreender samādhi, mesmo no estágio
menos elevado de savitarka-samādhi.
• Patañjali apenas menciona que os estados mais elevados são
análogos ao de savitarka-nirvitarka-samādhi. Isto é, o
samādhi, em relação aos sūksma-visayās, ou objetos sutis,
começa em samyama, no aspecto mais externo do objeto –
o mais complexo – e termina com o isolamento do objeto em
seu estado real – o mais simples
71. • O processo de percepção do mundo exterior requer a atuação dos
órgãos dos sentidos no plano físico, havendo um órgão sensorial
específico para contatar cada bhūta. Mas nos planos espirituais
superiores, a percepção origina-se de uma única faculdade, prātibha,
que exerce a função dos cinco órgãos sensoriais de maneira
integrada.
• Assim, samādhi nada mais faz que reverter o processo de involução
da consciência o que revela os aspectos mais sutis dos objetos. O que
o yogi faz é mergulhar cada vez mais profundamente em sua própria
consciência. Isso põe em ação as mais abrangentes faculdades dos
planos cada vez mais sutis, os únicos capazes de revelar os aspectos
mais sutis dos objetos.
72. • Patañjali adotou uma base funcional e não estrutural para
classificar os fenômenos. Assim, os graus de sutileza dos
objetos foram classificados de acordo com os estágios dos
gunas (o particular, o universal, o diferenciado e o
indiferenciado relacionados respectivamente com vitarka,
vicāra, ānanda e asmitā).
• De acordo com Sāmkhya, todos os objetos são o resultado de
diferentes combinações dos gunas. Assim, a classificação dos
objetos em quatro categorias, conforme os quatro estágios dos
gunas é perfeitamente lógica.
73. • O samādhi que trata de qualquer um dos objetos no reino de
prakriti é chamado sabīja-samādhi.
• Um objeto sobre o qual samyama é aplicado é chamado,
técnicamente, “semente”, seja ele denso ou sutil. Assim,
sabīja-samādhi pode ser chamado também de samādhi
objetivo, em contraposição a nirbīja-samādhi ou samādhi
subjetivo, no qual não há objeto nem “semente” de meditação.
• O próprio buscador é o objeto de sua busca. O vidente que
adquiriu a capacidade de ver verdadeiramente todos os
objetos no reino de prakrti, agora quer ver a si mesmo, como
ele realmente é.
74. • Sabīja-samādhi presença de um objeto associado à
prakrti, cuja realidade relativa tem de ser compreendida.
• Nirbīja-samādhi purusa é o objetivo. Ele é o buscador e o
objeto da busca.
• Também em sabīja-samādhi, o buscador é o objetivo, porém
o véu de prakrti, por mais tênue que seja, obscurece sua
visão.
75. • Sabīja-samādhi começa no plano da mente inferior e
estende-se até atmã. Em que ponto a luz espiritual começa a
despertar na consciência?
• O intelecto é o princípio separativo e constritivo do homem,
o qual distorce sua visão e é responsável pelas ilusões da
vida inferior. Assim, samādhi, no campo do intelecto,
enquanto revela os aspectos inferiores da realidade que está
por trás dos objetos nos quais samyama é aplicado, não trás
consigo, necessariamente, uma percepção das mais elevadas
verdades de uma natureza espiritual.
76. • A iluminação espiritual começa a inundar a mente quando o
yogi atinge o último estágio de nirvicāra-samādhi e atinge a
fronteira que separa o intelecto de Buddhi. Com isso o
intelecto progressivamente deixa de ser escravo do eu
inferior e passa a ser um valioso instrumento do Eu Superior.