O documento discute a relação entre o manifesto (o universo) e o não-manifesto (Deus ou a Realidade última). Explica que o universo manifesto deriva do não-manifesto sem afetar a perfeição deste. Também afirma que embora o manifesto pareça imperfeito, à medida que nos aproximamos dos níveis mais profundos, a perfeição se torna aparente, pois o manifesto é essencialmente da mesma natureza do não-manifesto.
1. O Homem, Deus e o Universo
11 – A RELAÇÃO ENTRE O MANIFESTO
E O NÃO-MANIFESTO (I)
2. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
O Ocultismo nos apresenta a doutrina da existência
de uma Realidade oculta por trás do universo
manifesto. Essa ideia está implícita nas várias
concepções de Deus nas Grandes religiões. Vimos
alguns aspectos da Realidade Não-Manifesta ao
tratarmos do conceito de Absoluto, do Shiva-Shakti
Tattva, do Logos Cósmico Não-Manifesto e das
Mônadas.
Os dois mundos, o manifesto e o não-manifesto, são
geralmente considerados como duas realidades
independentes de existência, ignorando-se qualquer
relação entre elas. Mas a relação entre o não-
manifesto e o manifesto, ou entre Deus e o Universo,
é um dos problemas perenes da filosofia.
3. O Homem, Deus e o Universo
IntroduçãoPosto que procuramos a relação entre o manifesto e
o não-manifesto, vamos considerar as concepções da
relação entre o manifesto e o não-manifesto
baseadas nas doutrinas ocultistas, as quais podem
ter uma aparência de sistema filosófico, mas
baseiam-se realmente na experiência direta daqueles
que penetraram nas realidades da existência e
encontraram a Verdade.
Não são assim meras teorias, mas tentativas de
quem conhece a Verdade de transmiti-las a quem
não a conhece.
4. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A relação entre o manifesto e o não-manifesto
pode ser considerada em seus dois aspectos
gerais:
a. a natureza essencial do manifesto
b. o mecanismo supremo que liga o manifesto ao
não-manifesto
Com relação à natureza essencial do manifesto,
podemos dizer que o universo manifesto é total e
perfeito, à semelhança do não-manifesto, por ser
aquele proveniente deste, e que o aparecimento
do manifesto proveniente do não-manifesto não
afeta a totalidade e perfeição do não-manifesto.
5. O Homem, Deus e o Universo
IntroduçãoAs palavras “Isto” e “Aquilo” são frequentemente
usadas na filosofia hindu para denotar
respectivamente o manifesto e o não-manifesto. Tais
pronomes são usados porque não transmitem a mais
leve qualificação das realidades que tencionam
representar. Mesmo o universo manifesto que possui
atributos, os possui em tantos níveis e em tantas
facetas que a palavra “Isto” é a mais adequada para
designá-lo, pois deixa a liberdade de o
considerarmos sob qualquer aspecto que
desejarmos.
6. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A perfeição e totalidade do não-manifesto estão
certamente além da compreensão do intelecto, mas
tais descrições e concepções representam a mais
elevada das tentativas da mente humana de
formular em linguagem o que sempre será objeto de
cogitação e eterna procura da humanidade.
Não somente o não-manifesto é pûrna (cheio,
completo, infinito) , mas também o manifesto. E
ainda que este, em seus níveis inferiores, pareça não
ser pûrna, à medida que penetramos nos níveis
interiores da existência, verificamos que a
desarmonia e a imperfeição decrescem
progressivamente e nos sentimos aproximar de uma
Realidade perfeita.
7. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
De fato, o universo manifesto é considerado total
e perfeito como a Realidade não-manifesta da
qual ele deriva no sentido de que é apenas uma
modificação da Consciência, que é a Realidade
básica do universo manifesto.
O emprego da palavra “modificação” em relação
à Realidade ou Brahman, considerada acima de
qualquer mudança é incongruente e
filosoficamente insustentável, mas temos que
usar alguma palavra para indicar a mudança sutil
e incompreensível no imutável que acarreta o
aparecimento do universo nessa Realidade.
8. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Samkarâchâria adotou a concepção de Mâyâ
para explicar a mudança, sendo assim o universo
manifesto mera forma ilusória em Brahman.
9. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Conforme a filosofia Sâmkya, o Purusha, ou
unidade de consciência, vê-se envolvido em
Prakriti, ou matéria, devido aos padrões mentais
formados pelas três gunas. Assim, o Purusha não
pode ver sua própria forma real por estar a luz de
sua consciência aprisionada nos padrões mentais.
Quando a mente se torna tranquila e harmonizada
e cessa a agitação causada pelo desejo, mesmo em
sua forma mais sutil, Prakriti retoma sua condição
harmonizada e, embora a mente esteja ainda
presente, perde seu poder de obscurecer e
deformar e o Purusha se vê em sua verdadeira
forma, Svarûpa, como um centro de luz de pura
consciência independente de Prakriti.
10. O Homem, Deus e o Universo
IntroduçãoEle se libertou das ilusões e limitações de Prakriti
e se tornou um indivíduo liberto e autorealizado.
Pode permanecer consciente de sua natureza
Real mesmo ao operar nas regiões do irreal.
Galguemos mais um degrau e examinemos outro
símile para ilustrar a doutrina de que o universo
manifesto é apenas uma modificação da
Consciência, esta em seu mais elevado sentido de
Realidade.
11. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Vamos supor que temos uma esfera sólida de
ouro perfeita em forma e composição.
Suponhamos que dessa esfera façamos diversos
artefatos, alguns úteis e belos, outros que podem
ser usados para fazer o mal, como um estilete ou
uma faca. Todos os objetos são feitos de ouro e
conservam em si a perfeição do ouro puro,
mesmo tendo formas completamente diferentes.
12. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Da mesma forma, a Consciência pura ou Brahma
Chaitanya quando idealiza e projeta o universo
manifesto em todos os seus graus e infinita
variedade de formas, está presente em toda
parte e em todas as formas como substância
básica. O universo mental formado na
Consciência Divina pela Ideação Divina é da
mesma natureza de Brahman ou a Realidade da
qual é projetada. As imagens idealizadas não
podem ser separadas do idealizador.
13. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Nos planos inferiores, em que a mente parece ser
a substância básica, a mente, sendo da mesma
natureza da consciência, faz com que os mundos
mentais, em todos os níveis, sejam
essencialmente da natureza da consciência da
qual derivam.
Outro símile sugestivo é o do oceano e dos
icebergs. O oceano não tem forma, mas a
mudança de temperatura condensa certo volume
de água em gelo. As formas nascem daquilo que
não tem forma, sem mudança da natureza
essencial.
14. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A condensação progressiva da consciência em
diversos níveis de mente ou densidade de
matéria pode ser considerada como
desaceleração do dinamismo da Realidade que
constitui verdadeiramente a manifestação. O Real
difere do irreal, ou realtivo, não em qualquer
aspecto essencial, mas somente na condensação
progressiva em estados menos reais ou mais
relativos.
15. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Esta é a concepção fundamental da relação entre
o não-manifesto e o manifesto que permite ao
intelecto compreender como o manifesto deriva
do não-manifesto bem como a perfeição
essencial e a totalidade do universo manifesto.
A perfeição e a totalidade relacionam-se à
substância básica e não ao número infinito de
formas imperfeitas que derivam da substância
básica: a consciência. A substância básica é Sat, a
Realidade. As formas são imagens temporárias
criadas por Cit, ou poder de ideação, que é
também inerente à Sat.