1. O Homem, Deus e o Universo
7 – A MÔNADA E O LOGOS
(Âtmâ e Paramâtmâ)
2. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A relação entre Jīvātmā e Paramâtmâ não pode
ser explicada, mas é possível percebê-la dentro
das profundezas da consciência individual. Tal
relação é o último segredo comunicado a um ser
humano, liberando-o dos laços das limitações e
ilusões humanas e fazendo dele um Jivanmukta.
A relação do Logos com as Mônadas é comparada
à do sol com seus raios. A falha dessa analogia
reside no fato de que os raios, embora parte do
sol do qual provêm, não tem potencialidade para
se desenvolver num sol, tal como as Mônadas
que têm a potencialidade de se desenvolver num
Logos.
3. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Outra analogia é a do fogo e suas fagulhas. Ela
mostra a identidade da natureza do Logos e da
Mônada. E até certo ponto é possível converter
uma fagulha num fogo crepitante. O defeito
dessa analogia é que não mostra uma relação
constante e contínua entre o Logos e a Mônada.
Uma vez separada do fogo, a fagulha não
mantém com ele uma relação que a faça crescer
sem cessar. A Mônada, porém, é uma parte do
Logos, inseparável Dele durante todo o curso de
seu desenvolvimento no sistema solar, aparece
com Ele no começo da manifestação e torna-se
laya com ele na época do Pralaya.
4. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A mais sugestiva analogia para a relação entre o
Logos e a Mônada talvez seja a de uma árvore e
suas sementes. As sementes crescem à semelhança
da árvore que lhe deu origem, quando for semeada
na terra. O mesmo acontece com a Mônada
quando é semeada no solo de Prakriti ou matéria.
A semente necessita da luz do sol físico para seu
crescimento e a Mônada necessita de pressão
interna da Vida Divina para desenvolver as suas
Divinas possibilidades nos planos inferiores. Mas
essa analogia também é falha no sentido de que a
semente, como a fagulha, não mantém relação
constante e contínua com a árvore da qual veio.
Torna-se independente da árvore.
5. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
As várias analogias, vistas em conjunto, podem
nos habilitar a estabelecer um conceito mais
próximo da verdade da relação entre a Mônada e
o Logos.
A relação da Mônada com o Logos, importante do
ponto de vista teórico, importa muito mais no
campo do sâdhanâ, para a compreensão e
organização eficiente da técnica de
Autodescoberta, uma vez que a Realidade objeto
dessa Autodescoberta está oculta no coração de
cada aspirante e, antes que possa empreender a
viagem de Autodescoberta, ele deve ter, pelo
menos intelectualmente, um mapa do território
que vai explorar.
6. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
O conjunto da Realidade com suas profundezas
infinitas está oculto em sua plenitude e completo
esplendor no interior de cada alma individual,
razão pelo qual não há limite para o
conhecimento que podemos adquirir, para o grau
de desenvolvimento que podemos atingir. Se
vamos entrar nesse reino de infinitas
profundezas, cumpre-nos ter uma ideia clara e
geral dos diversos níveis e das realidades que lhes
correspondem. Uma perspectiva correta nos
evitará conclusões apressadas e imaturas quando
tivermos certas experiências e atingirmos certos
níveis de consciência.
7. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
É verdade que as realidades que procuramos
explorar estão além do alcance do intelecto; mas
isso não significa que não possamos ter uma clara
concepção intelectual de sua natureza, relações
mútuas e estágios do progresso que
correspondem a isso.
Há almas maduras, que vêm com tremendo
impulso trazido de vidas passadas, que começam
sua procura e conseguem atingir seu objetivo de
Autodescoberta sem fazer esforço para o
lançamento da fundação do conhecimento
intelectual, fazendo o mesmo parecer
dispensável.
8. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Mas para o Sādhaka comum, e mesmo para o
razoavelmente avançado, parece ser necessária a
fundação do conhecimento intelectual. De outra
maneira, todo o problema da Autodescoberta
permanece obscurecido por uma névoa de ideias
vagas que, além de não dar ao aspirante qualquer
inspiração ou encorajamento, impede-o de
organizar eficientemente seus esforços.
9. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Ainda que todos os estados de consciência até a
Realidade Suprema estejam ocultos, camada
após camada, por trás do Centro de nossa
consciência e possam ser atingidos teoricamente,
o problema não é tão fácil e natural como parece
superficialmente, porque nele está envolvido
todo o processo de desenvolvimento da
consciência e evolução dos veículos. Tais estados
de consciência não estão distantes no sentido
físico da palavra, mas em virtude de suas
sutilezas.
10. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Um estado de consciência ou realidade pode estar
muito próximo da acepção de que reside no próprio
âmago ou Centro de nosso ser e, entretanto, estar
infinitamente distante por sua extrema sutileza, além
do alcance de nossa consciência mais elevada. Há
muitos tipos de distâncias, a física, a emocional (falta
de simpatia, por exemplo), a mental (falta de
correspondência ou dificuldade de responder a um
pensamento ou ideia) e a do reino da consciência, a
mais sutil das distâncias, porque para ser vencida,
depende da supressão de todos os níveis
intermediários de ação mental e fusão de nossa
consciência com a realidade que desejamos
conhecer pela percepção direta.
11. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Para um Adepto, o nível de consciência Átmico
pode ser acessado instantaneamente, após cessar
as atividades de todos os níveis intermediários.
Nesse caso, o nível Átmico pode ser considerado
muito próximo de sua consciência física. O
arranjo e a relação dos diversos corpos e seus
níveis correspondentes de consciência são
exatamente os mesmos no caso de um homem
comum que tenta meditar. Mas os níveis
interferentes da mente desse último são barreiras
insuperáveis em seu caso e, portanto, a
Consciência Átmica está muito distante de sua
personalidade.
12. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Esse tipo de distância é o que nos separa das
Expressões da Realidade Una que chamamos
Logos Solar, Logos Cósmico, Shiva-Shakti etc. que
ainda que estando no mais profundo da
consciência de todas as almas, mas por sua
extrema sutileza, encontram-se muito distantes
quando comparadas com outras expressões da
Realidade com as quais estamos familiarizados.
Quão próximo está o aspirante de sua meta, a
Realidade? Somente a poucos é dada conhecer a
potencialidade oculta em si mesmo, frutos de
vidas passadas.
13. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Patañjali dá no sūtra I.21 o critério para
determinar quão próximo alguém está da meta
que tem ante si no reino do seu ser interior:
“Está mais próximo para aquele cujo desejo é
intensamente forte”
Pela intensidade do desejo podemos medir, em
certo grau, a distância que nos separa do nosso
objetivo e, muito provavelmente, nossa
capacidade para atingi-lo.
14. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Desejo nesse caso é equivalente a potencial
interno, do qual depende nosso progresso, e
quando o potencial atinge um certo nível de
intensidade, todas as barreiras são demolidas.
A descoberta da Realidade dentro de nós é o
aspecto mais importante da relação entre a
Mônada e o Logos.
15. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Apesar da multiplicidade de planos e estados de
consciência e mente, há, na verdade, somente
três mundos existindo lado a lado e
interpenetrando-se. Há (1) o mundo da matéria,
(2) o mundo da mente e (3) o mundo da
consciência pura.
Os mundos da matéria e da mente existem em
vários estados de densidade ou sutileza, como as
cores das luzes diferenciadas a partir da luz
branca, enquanto o mundo da consciência pura é
uma Realidade homogênea e não-diferenciada,
como a luz branca.
16. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
O mundo da matéria fornece estimulo e
mecanismo para a mente operar e é, por
conseguinte, a base real do universo objetivo. O
mundo da consciência fornece o próprio
substrato de todo o universo manifesto e é
também a base suprema do lado subjetivo da
manifestação. O mundo da mente brota da
interação de dois mundos: o da consciência e o
da matéria. Sendo derivado desses dois mundos,
ele partilha da natureza de ambos, sendo assim,
de caráter dual e agindo ora como sujeito, ora
como objeto.
17. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
À medida que o centro da consciência se recolhe
para o interior, o limite entre o subjetivo e o
objetivo faz o mesmo em direção ao Centro, e o
que era subjetivo por sua vez torna-se objetivo, até
que somente o Subjetivo permanece.
Nesse tríplice mundo de matéria, mente e
consciência estão espalhadas todas as Mônadas,
enraizadas no mundo da consciência e funcionando
no mundo da matéria, equipadas com veículos
apropriados para cada plano. O mundo mental de
cada Mônada é assim produzido pela interação
entre sua consciência básica e o mundo da matéria
que o rodeia, com o auxílio dos corpos nos diversos
planos.
18. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Assim, a relação do Logos coma Mônada pode ser
estudada do ponto de vista dos veículos, do
ponto de vista da consciência e do ponto de vista
da mente.
Vamos nos limitar aqui à relação entre o Logos e
a Mônada no que diz respeito ao fenômeno
mental, com “mente” em seu mais amplo
sentido, incluindo todos os graus de sutileza em
que a mente pode existir, abaixo do reino da
Consciência pura.
19. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
O mundo da mente é o único mundo que o
homem comum realmente conhece e é o único
mundo em que nossa relação com o Logos é
diretamente vivenciada. Conhecemos os outros
dois mundos apenas por inferência e intuição, até
que estejamos no reino da Luz branca da
Realidade e possamos vê-la como a fonte da
mente e da matéria.
O ponto importante a ser notado é que o mundo
da mente, o único que podemos perceber
diretamente, resulta da combinação de dois
grupos de fenômenos entrelaçados.
20. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Um grupo é produzido em nossa mente pelo
impacto do mundo em torno de nós e o outro
pela atividade da própria mente. Os fenômenos
do mundo material produzem uma série de
imagens mentais independentes da atividade de
nossa mente. Mas essas imagens estão
misturadas com imagens produzidas por nossa
própria mente, independentemente do mundo
externo. Os dois grupos de imagens, cada um
com sua fonte diferente, combinam-se para
formar o total de nosso mundo mental sem que,
geralmente , percebamos tal fato.
21. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A fonte do primeiro grupo, o das imagens mentais
formadas a partir do mundo exterior, é a
consciência do próprio Logos que, através da
mente universal, produziu o mundo manifesto,
causador de um constante impacto em todas as
mentes individuais. A fonte do segundo grupo é a
consciência da Mônada que tem um grupo de
veículos funcionando em todos os planos. Essas
duas correntes de luz branca passando pelo
prisma da manifestação produzem no outro lado
seus respectivos raios de luz colorida, ou seja,
nosso complexo mundo mental.
22. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Imaginemos dois raios de luz branca de diferentes
fontes e intensidades atravessando
simultaneamente um prisma e emergindo do
outro lado como uma mistura de dois raios de luz
coloridos. O raio de luz colorida derivado da fonte
infinitamente maior é a Mente Universal; o raio
de luz colorida derivado da fonte mais fraca é a
mente individual da Mônada operando nos
diferentes planos.
23. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Suponhamos que o raio de luz colorida originário da
fonte mais fraca, representando a Mônada, é
suprimido em qualquer reino da manifestação. O que
acontecerá nesse caso? Somente o raio de luz
colorida derivado da fonte mais forte, representando
a Mente Universal, permanecerá em sua pureza, não
maculado pelo outro raio de luz. Isto é Sabîja
Samâdhi, por meio do qual compreendemos a
realidade de qualquer objeto no mundo da
Relatividade. Apenas permanece a Mente Universal,
que contém todas essas realidades relativas e o
iogue, cujas modificações individuais da mente ou
Citta-Vrittis foram suprimidos, conhece diretamente
a realidade de um determinado objeto tal como
existe na Mente Universal.
24. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
Dando um passo mais adiante, imaginemos o centro
da consciência passando pelo prisma e emergindo do
outro lado, onde só há luz branca não-diferenciada.
O que acontecerá então? Nesse caso só há luz
branca. E a luz branca da fonte fraca pode misturar-
se com a luz branca da fonte forte sem produzir
poluição ou degradação. Não é possível haver duas
variedades de luz branca, embora possa haver duas
intensidades. Assim, a concepção da Mônada em seu
próprio plano de pura consciência, que está acima do
plano da mente, é direta, não obscurecida e pura,
mesmo havendo duas fontes de luz branca existindo
lado a lado.
25. O Homem, Deus e o Universo
Introdução
A consciência da Mônada mistura-se com a do
Logos e, entretanto, está separada e temos
dualidade na unidade. Isto é o Nirbîja Samâdhi
que leva à Kaivalya ou Libertação.