A análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin envolve três momentos: 1) pré-análise para organizar o material, 2) exploração do material através de codificação e categorização e 3) tratamento dos resultados e interpretação. O objetivo é manipular mensagens para inferir sobre realidades além do próprio conteúdo por meio de técnicas sistemáticas e objetivas.
1. Análise de Conteúdo
A Proposta de Laurence Bardin
(http://www.caleidoscopio.psc.br/i
deias/bardin.html)
NEGI – Núcleo de Estudo da Gestão e Informação
2. Conceito:
“Um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter, por procedimentos,
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo
das mensagens, indicadores (quantitativos ou não)
que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção
(variáveis inferidas) destas mensagens.”
3. Trabalha com mensagens (comunicações)
Categorial-temática (é apenas uma das
possibilidades de análise)
Objetivo: é a manipulação de mensagens
(conteúdo e expressão desse conteúdo) para
evidenciar os indicadores que permitam inferir
sobre uma outra realidade que não a da mensagem
4. Três Momentos
1- Pré-análise
Na pré-análise se organiza o material, que constitui o CORPUS da pesquisa.
Este momento é o de organizar o material, de escolher os documentos a serem
analisados, formular hipóteses ou questões norteadoras, elaborar indicadores que
fundamentem a interpretação final.
- Inicia-se o trabalho escolhendo os documentos a serem analisados. No caso de
entrevistas, elas serão transcritas e a sua reunião constituirá o CORPUS da
pesquisa. Para tanto, é preciso obedecer às regras de:
- exaustividade – deve-se esgotar a totalidade da comunicação, não omitir nada;
- representatividade – a amostra deve representar o universo;
- homogeneidade – os dados devem referir-se ao mesmo tema, serem obtidos por
técnicas iguais e colhidos por indivíduos semelhantes,
- pertinência – os documentos precisam adaptar-se ao conteúdo e objetivo da
pesquisa;
- exclusividade – um elemento não deve ser classificado em mais de uma
categoria.
5. Análise de Conteúdo
- Leitura Flutuante- surgem as primeiras hipóteses e objetivos do
trabalho. Hipótese é uma explicação antecipada do fenômeno observado,
uma afirmação provisória, que nos propomos verificar. O objetivo geral
da pesquisa é sua finalidade maior, de acordo com o quadro teórico que
embasa o conhecimento.
- Após a leitura flutuante deve-se escolher índices, que surgirão das
questões norteadoras ou das hipóteses, e organizá-los em indicadores
Os temas que se repetem com muita frequência podem ser índices – e
"se recortam do texto em unidades comparáveis de categorização para
análise temática e de modalidades de codificação para o registro dos
dados"(op.cit.).
6. A preparação do material se faz pela "edição" das entrevistas
transcritas, dos artigos recortados, das questões anotadas em
fichas. A organização do material se realiza em colunas, com
vazios à esquerda e à direita, para anotar e marcar semelhanças e
contrastes. Pode-se usar lápis colorido, para sublinhar as
semelhanças com a mesma cor. Naturalmente, estes
procedimentos dependem dos interesses do pesquisador e dos
objetivos que o levam a realizar a pesquisa.
2- Exploração do material
- Esta é a etapa mais longa e cansativa. É a realização das
decisões tomadas na préanálise. É o momento da codificação –
em que os dados brutos são transformados de forma organizada e
"agregadas em unidades, as quais permitem uma descrição das
características pertinentes do conteúdo“.
7. - A escolha de unidades de registro (recorte);
- Unidade de registro é a unidade de significação a codificar. Pode ser o
tema, palavra ou frase. Recorta-se o texto em função da unidade de registro.
Todas as palavras podem ser levadas em consideração como unidades de
registro. Serão palavras-chave; palavras-tema; plenas ou vazias;
categorias de palavras: substantivos, adjetivos, verbos, e etc.
· O personagem pode ser escolhido como unidade de registro: traços de
caráter, status social, papel, etc.
·
8. Se o acontecimento for tomado como unidade de
registro, o recorte se fará em unidades de ação, nos
casos de filmes, contos, relatos, lendas, etc.
· O documento serve como unidade de registro
quando a ideia principal de um livro, um relato, uma
entrevista é suficiente para o objetivo desejado.
· Para estabelecer as unidades de registro, é preciso,
às vezes, fazer referência ao contexto da unidade que
se quer registrar. Então, o contexto serve para
compreender a unidade de registro.
9. A seleção de regras de contagem (enumeração);
· a presença de elementos pode ser significativa.
· a ausência pode significar bloqueios ou traduzir vontade escondida,
como acontece, frequentemente, nos discursos dos políticos;
· a frequência com que aparece uma unidade de registro denota-lhe
importância. Se consideramos todos os itens de mesmo valor, a
regularidade com que aparece será o que se considera mais significativo.
· a intensidade será medida através dos tempos do verbo (condicional,
futuro, imperativo), dos advérbios de modo, adjetivos e atributos
qualificativos;
· a direção será favorável, desfavorável ou neutra. Os polos direcionais
podem ser: positivo ou negativo, bonito ou feio (critério estético),
pequeno ou grande (critério de tamanho).
· a ordem de aparição das unidades de registro é possível ser decisiva.
Por exemplo, se o sujeito A está em primeiro lugar e o sujeito D em
último, pode ter significado importante.
· A coocorrência é a presença simultânea de duas ou mais unidades de
registro. Este fato nos mostra a distribuição dos elementos e sua
associação.
10. A escolha de categorias (classificação e agregação)
· A maioria dos procedimentos de análise qualitativa organiza-se em torno de
categorias.
· A categoria é uma forma geral de conceito, uma forma de pensamento. As
categorias são reflexo da realidade, sendo sínteses, em determinado
momento, do saber. Por isso, se modificam constantemente, assim como a
realidade.
· Na análise de conteúdo, as categorias são rubricas ou classes que reúnem um
grupo de elementos (unidades de registro) em razão de características
comuns.
· Para escolher categorias pode haver vários critérios: semântico (temas),
sintático (verbos, adjetivos, pronomes), léxico (juntar pelo sentido das
palavras, agrupar os sinônimos, os antônimos), expressivo (agrupar as
perturbações da linguagem, da escrita).
· A categorização permite reunir maior número de informações à custa de uma
esquematização e assim correlacionar classes de acontecimentos para ordená-
los. A categorização representa a passagem dos dados brutos a dados
organizados.
11. Para serem consideradas boas, as categorias devem
possuir certas qualidades: exclusão mútua – cada
elemento só pode existir em uma categoria;
homogeneidade – para definir uma categoria, é preciso
haver só uma dimensão na análise; pertinência – as
categorias devem dizer respeito às intenções do
investigador, aos objetivos da pesquisa às questões
norteadoras, às características da mensagem, etc.;
objetividade e fidelidade – se as categorias forem bem
definidas, se os índices e indicadores que determinam a
entrada de um elemento numa categoria forem bem
claros, não haverá distorções devido à subjetividade dos
analistas; produtividade – as categorias serão produtivas
se os resultados forem férteis em inferências, em
hipóteses novas, em dados exatos.
12. Tratamento dos resultados
Ao se descobrir um tema nos dados, é preciso
comparar enunciados e ações entre si, para ver se
existe um conceito que os unifique.
- Quando se encontram temas diferentes, é
necessário achar semelhanças que possa haver
entre eles.
- A proposição é um enunciado geral baseado nos
dados. Enquanto os conceitos podem ou não se
ajustar, as proposições são verdadeiras ou erradas,
mesmo que o pesquisador possa ou não ter
condições de demonstrá-lo. O certo é que as
proposições derivam do estudo cuidadoso dos
dados.
-
13. - Durante a interpretação dos dados, é preciso voltar
atentamente aos marcos teóricos, pertinentes à
investigação, pois eles dão o embasamento e as
perspectivas significativas para o estudo. A relação
entre os dados obtidos e a fundamentação teórica é
que dará sentido à interpretação.
- As interpretações a que levam as inferências serão
sempre no sentido de buscar o que se esconde sob a
aparente realidade, o que significa verdadeiramente o
discurso enunciado, o que querem dizer, em
profundidade, certas afirmações, aparentemente
superficiais.
14. Filme: Mente Brilhante
Referências:
Bardin, L. (1977). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70
Ferreira, B. Análise de Conteúdo. http://www.ulbra.br/psicologia/psi-dicas-
art.htm em 18/01/03
Moreira, E. Análise de Conteúdo: duas perspectivas metodológicas para
interpretação de variáveis qualitativas e quantitativas.
http://www.funesc.com.br/engenho2/textos/ecul_x02.htm em 18/01/03
Vigotski, L. S. (2000). Pensamento e linguagem. - 2a. ed. – São Paulo:
Martins Fontes