2. O objeto nesse caso é, primeiramente, a
produção material.
Indivíduos produzindo em sociedade –
por isso, o ponto de partida é,
naturalmente, a produção dos
indivíduos socialmente determinados.
3. Quanto mais fundo voltamos na história, mais o
indivíduo, e por isso também o indivíduo que produz,
aparece como dependente, como membro de um
todo maior: de início, e de maneira totalmente natural,
na família e na família ampliada em tribo [Stamm]; mais
tarde, nas diversas formas de comunidade resultantes
do conflito e da fusão das tribos. Somente no século
XVIII, com a “sociedade burguesa”, as diversas formas
de conexão social confrontam o indivíduo como
simples meio para seus fins privados, como necessidade
exterior. Mas a época que produz esse ponto de vista, o
ponto de vista do indivíduo isolado, é justamente a
época das relações sociais (universais desde esse ponto
de vista) mais desenvolvidas até o presente. (p. 55)
4. Por isso, quando se fala de produção, sempre se está falando de
produção em um determinado estágio de desenvolvimento social
– da produção de indivíduos sociais. Desse modo, poderia parecer
que, para poder falar em produção em geral, deveríamos seja
seguir o processo histórico de desenvolvimento em suas distintas
fases, seja declarar por antecipação que consideramos uma
determinada época histórica, por exemplo, a moderna produção
burguesa, que é de fato o nosso verdadeiro tema. No entanto,
todas as épocas da produção têm certas características em
comum, determinações em comum. A produção em geral é uma
abstração, mas uma abstração razoável, na medida em que
efetivamente destaca e fixa o elemento comum, poupando-nos
assim da repetição. Entretanto, esse Universal, ou o comum isolado
por comparação, é ele próprio algo multiplamente articulado,
cindido em diferentes determinações. (P. 56)
5. Toda produção é apropriação da natureza pelo
indivíduo no interior de e mediada por uma
determinada forma de sociedade. (P. 60)
A saber, que toda forma de produção forja suas
próprias relações jurídicas, forma de governo etc. A
insipiência e o desentendimento consistem
precisamente em relacionar casualmente o que é
organicamente conectado, em reduzi-lo a uma mera
conexão da reflexão. Os economistas burgueses têm
em mente apenas que se produz melhor com a polícia
moderna do que, por exemplo, com o direito do mais
forte. Só esquecem que o direito do mais forte também
é um direito, e que o direito do mais forte subsiste sob
outra forma em seu “estado de direito”. (p. 60)
6. A produção, por conseguinte, produz não
somente um objeto para o sujeito, mas também
um sujeito para o objeto. Logo, a produção
produz o consumo, na medida em que 1) cria o
material para o consumo; 2) determina o modo
do consumo; 3) gera como necessidade no
consumidor os produtos por ela própria postos
primeiramente como objetos. Produz, assim, o
objeto do consumo, o modo do consumo e o
impulso do consumo. Da mesma forma, o
consumo produz a disposição do produtor, na
medida em que o solicita como necessidade
que determina a finalidade (p66)
7. ● O importante aqui é apenas destacar que, se
produção e consumo são considerados como
atividades de um sujeito ou de muitos
indivíduos, ambos aparecem em todo caso
como momentos de um processo no qual a
produção é o ponto de partida efetivo, e, por
isso, também o momento predominante
[übergreifende Moment]. (p. 68)
7
8. ● Produção, distribuição, troca e consumo ...“são
membros de uma totalidade, diferenças dentro de
uma unidade”. (p.76)
● Há uma interação entre os diferentes momentos.
Esse é o caso em qualquer outro orgânico. (p. 76)
8
9. Parece ser correto começarmos pelo real e pelo concreto, pelo
pressuposto efetivo, e, portanto, no caso da economia, por exemplo,
começarmos pela população, que é o 76/1285 fundamento e o sujeito do
ato social de produção como um todo. Considerado de maneira mais
rigorosa, entretanto, isso se mostra falso. A população é uma abstração
quando deixo de fora, por exemplo, as classes das quais é constituída.
Essas classes, por sua vez, são uma palavra vazia se desconheço os
elementos nos quais se baseiam. P. ex., trabalho assalariado, capital etc.
Estes supõem troca, divisão do trabalho, preço etc. O capital, p. ex., não é
nada sem o trabalho assalariado, sem o valor, sem o dinheiro, sem o preço
etc. Por isso, se eu começasse pela população, esta seria uma
representação caótica do todo e, por meio de uma determinação mais
precisa, chegaria analiticamente a conceitos cada vez mais simples; do
concreto representado [chegaria] a conceitos abstratos [Abstrakta] cada
vez mais finos, até que tivesse chegado às determinações mais simples.
Daí teria de dar início à viagem de retorno até que finalmente chegasse
de novo à população, mas desta vez não como a representação caótica
de um todo, mas como uma rica totalidade de muitas determinações e
relações. (p. 77)
10. Tão logo esses momentos singulares
foram mais ou menos fixados e
abstraídos, começaram os sistemas
econômicos, que se elevaram do
simples, como trabalho, divisão do
trabalho, necessidade, valor de troca,
até o Estado, a troca entre as nações e
o mercado mundial. O último é
manifestamente o método
cientificamente correto. (p. 77)
11. (..,)as determinações abstratas levam à reprodução do
concreto por meio do pensamento. (p. 78)
(...)enquanto o método de ascender do abstrato ao concreto
é somente o modo do pensamento de apropriar-se do
concreto, de reproduzi-lo como um concreto mental. Mas
de forma alguma é o processo de gênese do próprio
concreto. P. ex., a categoria econômica mais simples,
digamos, o valor de troca, supõe a população, população
produzindo em relações determinadas; [supõe] também
um certo tipo de família – ou comunidade – ou de Estado
etc. (p. 78)
12. A partir desse ponto de vista, portanto, pode ser dito que a
categoria mais simples pode expressar relações
dominantes de um todo ainda não desenvolvido, ou
relações subordinadas de um todo desenvolvido que já
tinham existência histórica antes que o todo se
desenvolvesse no sentido que é expresso em uma
categoria mais concreta. Nesse caso, o curso do
pensamento abstrato, que se eleva do mais simples ao
combinado, corresponderia ao processo histórico
efetivo.(p. 80) Ex. dinheiro, trabalho.
13. ● O concreto é concreto porque é síntese de
múltiplas determinações, portanto, unidade na
diversidade. Por essa razão, o concreto
aparece no pensamento como processo da
síntese, como resultado, não como ponto de
partida efetivo, e em consequência, também o
ponto de partida da intuição e da
representação. (p. 80)
●
13
14. ● ...permanece sempre o fato de que as
categorias simples são expressões das relações
nas quais o concreto ainda não desenvolvido
pode ter se realizado sem ainda ter posto, a
conexão ou a relação mais multilateral que é
mentalmente expressa nas categorias mais
concretas, enquanto o concreto mais
desenvolvido conserva esta mesma categoria
como uma relação subordinada. (p. 80)
14
15. ● O dinheiro pode existir historicamente, antes que exista o
capital, antes que exista os bancos, antes que exista o trabalho
assalariado. A partir desse ponto de vista, portanto, pode ser
dito que a categoria mais simples pode expressar relações
dominantes de um todo ainda não desenvolvido, ou relações
subordinadas de um todo desenvolvido que já tinham
existência histórica antes que o todo se desenvolvesse no
sentido que é expresso em uma categoria mais concreta. (p.
80)
15
16. Seria impraticável e falso, portanto, deixar as categorias econômicas
sucederem-se umas às outras na sequência em que foram
determinantes historicamente. A sua ordem é determinada, ao
contrário, pela relação que têm entre si na moderna sociedade
burguesa, e que é exatamente o inverso do que aparece como sua
ordem natural ou da ordem que corresponde ao desenvolvimento
histórico. Não se trata da relação que as relações econômicas
assumem historicamente na sucessão de diferentes formas de
sociedade. Muito menos de sua ordem “na ideia” ([como em]
Proudhon (uma representação obscura do movimento histórico).
Trata-se, ao contrário, de sua estruturação no interior da moderna
sociedade burguesa. (p. 87)
17. ● Nesse caso, o curso do pensamento abstrato,
que se eleva do mais simples ao combinado,
corresponderia ao processo histórico efetivo.
(p. 80)
● A anatomia do ser humano é uma chave para
a anatomia do macaco. (p.84)
● Do mesmo modo, a economia burguesa
fornece a chave da economia antiga. (p. 84)
17
18. Marx. MARX, Karl. Grundrisse, São
Paulo, Boitempo, 2011