Este documento discute as lições do massacre na Virginia Tech e fornece várias perspectivas sobre as causas. O autor argumenta que a facilidade de acesso a armas nos EUA permitiu que o atirador matasse tantas pessoas e que uma sociedade mais pacífica poderia ter evitado a tragédia. Ele também resume outros pontos de vista expressos na mídia, embora questione a validade de combiná-los.
3. CONCEITO E CONTEXTO DE CIRCULAÇÃO
artigo de opinião
tipos textuais
exposição
e
argumentação
intencionalidade
expressar
um
ponto
de
vista
específico
[idiossincrá8co]
sobre
questão
relevante
áreas de interesse
polí8ca,
economia,
história,
cultura,
entre
outras
caráter argumentativo
advém
mormente
das
estratégias
usadas
para
convencer
o
leitor
contexto de circulação
jornais
e
revistas
que
se
interessem
por
uma
análise
da
noBcia
4. CARACTERÍSTICAS
artigo de opinião
01.
diferentemente
do
editorial,
nos
jornais,
o
ar3go
de
opinião
deve
ser
assinado;
02.
sua
focalização
dá-‐se
preferencialmente
em
primeira
pessoa,
sem
que
se
use
o
pronome
“eu”;
03.
assemelha-‐se,
em
grande
parte,
à
dissertação
tradicional
[expõe
e
argumenta];
04.
não
necessariamente
apresenta
uma
estrutura
rígida;
05.
a
linguagem
é
mais
“livre”
[tolerância
ao
coloquialismo].
5. ESTRUTURA MÍNIMA
artigo de opinião
título
curto,
sinté8co;
normalmente
denota8vo,
visa
a
antecipar
o
assunto
para
o
leitor
introdução
noBcia
que
deu
origem
ao
texto
que
se
vai
ler;
contextualiza
o
assunto
a
ser
analisado
desenvolvimento
estratégias
argumenta8vas
que
atendem
às
intencionalidades
do
locutor/enunciador
conclusão
explicitação
da
análise
do
ar8culista
7. LIÇÕES DE VIRGINIA TECH
Nelson Ascher
Terça-‐feira
passada,
Cho
Seung-‐hui,
estudante
sul-‐coreano
de
23
anos,
cuja
família
se
estabelecera
em
1992
nos
EUA,
matou
a
8ros,
entre
colegas
e
professores,
32
pessoas
no
Ins8tuto
Politécnico
da
Virgínia
(Virginia
Tech),
onde
estudava
Letras.
Por
que
o
rapaz,
armado
com
duas
pistolas
que
adquirira,
perpetrou
esse
massacre
e
como
isso
foi
possível?
A
resposta
é
simples,
óbvia
e
só
não
a
aceitam
aqueles
que
se
deixaram
voluntariamente
cegar
por
algum
8po
de
propaganda
maliciosa.
É
fácil
adquirir
armas
de
fogo
nos
Estados
Unidos,
bem
mais
do
que
na
Europa
e
no
Brasil.
Armas,
como
se
sabe,
matam
(como,
aliás,
caminhões
cheios
de
fer8lizante,
bombas
caseiras,
facões
etc.).
Um
homicida
atacadista
sempre
vai
dispor
ali
das
ferramentas
necessárias
para
realizar
seu
trabalho.
Além
disso,
como
na
Virginia
Tech
as
armas
eram
rigorosamente
proibidas,
nenhuma
das
ví8mas
potenciais
dispunha
dos
meios
para
se
defender
de
alguém
disposto
a
transgredir
as
leis
e
as
normas
locais.
Caso
algum
estudante
es8vesse
armado,
ele
poderia
ter
parado
o
assassino.
[...]
8. LIÇÕES DE VIRGINIA TECH
Nelson Ascher
Como
a
sociedade
mais
injusta,
imperialista,
militarista
e
violenta
que
já
exis8u,
a
americana
é
o
caldo
de
cultura
da
violência
individual,
violência
esta
encorajada
pelos
meios
de
comunicação,
videogames
e
pela
ideologia
do
país.
Jovens
facilmente
influenciáveis
absorvem
os
valores
oficiais
e
cometem
barbaridades.
Além
disso,
as
ins8tuições
de
ensino
superior
são
verdadeiros
centros
de
doutrinação
an8capitalista
e
an8americana,
nos
quais
a
democracia
local
é
retratada
como
uma
8rania.
Professores,
inclusive
os
de
Letras,
falam
de
culpa
cole8va
e
pregam
a
destruição
revolucionária
do
sistema.
Alunos
facilmente
influenciáveis
ouvem
esse
blábláblá
e
tomam
a
jus8ça
nas
próprias
mãos.
Vale
a
pena
acrescentar
razões
suplementares
para
o
massacre.
A
guerra
do
Iraque,
que
legi8mou
a
violência.
Os
protestos
contra
a
guerra
do
Iraque,
que
indispuseram
os
americanos
entre
si.
A
repressão
sexual,
que
canaliza
a
testosterona
rumo
a
opções
perigosas.
A
licença
sexual,
que
leva
aqueles
que
não
se
dão
muito
bem
neste
jogo
a
se
tornarem
rancorosos
e
vinga8vos.
A
discriminação
de
que
são
ví8mas
os
imigrantes.
O
excesso
de
imigração,
que
não
dá
tempo
aos
recém-‐chegados
de
se
adaptarem
à
cultura
local.
A
miséria
e
a
fome.
A
opulência
e
a
obesidade.
O
aquecimento
global.
E
quanto
a
Cho
Seung-‐hui?
Ele,
afinal,
era
o
verdadeiro
culpado.
Ele
era,
afinal,
a
ví8ma
principal.
Cho
era
um
narcisista
que
queria
aparecer.
Cho
era
um
introver8do
que
queria
desaparecer.
Ele
era
um
maluco
an8-‐social
cujos
próprios
colegas
previam
que
certo
dia
faria
uma
dessas.
Era
um
rapaz
normal,
enlouquecido
por
um
ambiente
cruel
e
predatório.
Era
um
herói,
um
már8r
corajoso
que,
com
seu
sacribcio,
ajudou
a
punir
uma
sociedade
injusta.
9. LIÇÕES DE VIRGINIA TECH
Nelson Ascher
Todas
as
explicações
acima
e
muitas
outras,
às
vezes
em
combinações
complexas,
podem
ser
achadas
na
imprensa,
na
internet,
na
mídia
em
geral.
Alguma
faz
sen8do?
Talvez.
Todas
juntas?
Só
numa
mul8plicidade
de
universos
paralelos.
Se
há
pouco
de
sério
a
dizer
sobre
Cho
e
o
massacre,
a
variedade
quase
infinita
de
enfoques
e
interpretações
aponta,
porém,
para
algo
interessante.
Poucas
coisas
despertam
tanto
a
curiosidade
humana
como
o
crime,
principalmente
os
assassinatos
em
massa,
os
hediondos
e
os
inexplicáveis.
Cada
indivíduo
ou
grupo
os
interpreta
de
maneira
a
que
façam
sen8do
na
sua
visão
mais
ampla
de
mundo,
mas
de
modo
também
a
que
não
a
refutem
nem
contradigam.
Como
o
mistério
mais
fascinante
neste
vale
de
lágrimas,
nada
revela
tão
bem
as
crenças
e
a
ideologia
de
uma
pessoa
quanto
o
modo
segundo
o
qual
ele
ou
ela
busca
explicar
a
criminalidade
em
geral
e,
em
par8cular,
o
homicídio.
ASCHER,
Nelson.
Lições
de
Virginia
Tech.
Disponível
em:
hhp://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/inde23042007.htm
11. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Lições
de
Virginia
Tech
comentário
Título
curto,
sinté8co,
que
remete
o
leitor
ao
local
onde
ocorreram
os
eventos
que
serão
analisados.
12. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Terça-‐feira
passada,
Cho
Seung-‐hui,
estudante
sul-‐coreano
de
23
anos,
cuja
família
se
estabelecera
em
1992
nos
EUA,
matou
a
8ros,
entre
colegas
e
professores,
32
pessoas
no
Ins8tuto
Politécnico
da
Virgínia
(Virginia
Tech),
onde
estudava
Letras.
Por
que
o
rapaz,
armado
com
duas
pistolas
que
adquirira,
perpetrou
esse
massacre
e
como
isso
foi
possível?
comentário
Na
primeira
frase,
o
locutor
apresenta
a
noBcia
que
se
vai
analisar;
na
segunda,
por
intermédio
de
pergunta
retórica,
dá-‐se
início
à
reflexão
acerca
do
evento
mencionado
no
Btulo
e
na
frase
anterior.
13. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
A
resposta
é
simples,
óbvia
e
só
não
a
aceitam
aqueles
que
se
deixaram
voluntariamente
cegar
por
algum
8po
de
propaganda
maliciosa.
comentário
Metalinguis8camente
o
locutor
indica
que
as
respostas
à
pergunta
retórica
feita
anteriormente
serão
indicadas
a
par8r
de
então.
14. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
É
fácil
adquirir
armas
de
fogo
nos
Estados
Unidos,
bem
mais
do
que
na
Europa
e
no
Brasil.
Armas,
como
se
sabe,
matam
(como,
aliás,
caminhões
cheios
de
fer3lizante,
bombas
caseiras,
facões
etc.).
Um
homicida
atacadista
sempre
vai
dispor
ali
das
ferramentas
necessárias
para
realizar
seu
trabalho.
Além
disso,
como
na
Virginia
Tech
as
armas
eram
rigorosamente
proibidas,
nenhuma
das
ví8mas
potenciais
dispunha
dos
meios
para
se
defender
de
alguém
disposto
a
transgredir
as
leis
e
as
normas
locais.
Caso
algum
estudante
es3vesse
armado,
ele
poderia
ter
parado
o
assassino.
[...]
comentário
As
frases
01
e
03
[em
itálico]
apresentam
as
respostas
[exposição
dos
argumentos
a
serem
deba8dos]
do
locutor
à
questão
proposta.
A
frase
02
é
uma
ampliação
[explicação]
cujo
obje8vo
é
consolidar
a
análise
que
se
faz
do
massacre.
15. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Como
a
sociedade
mais
injusta,
imperialista,
militarista
e
violenta
que
já
exis3u,
a
americana
é
o
caldo
de
cultura
da
violência
individual,
violência
esta
encorajada
pelos
meios
de
comunicação,
videogames
e
pela
ideologia
do
país.
Jovens
facilmente
influenciáveis
absorvem
os
valores
oficiais
e
cometem
barbaridades.
Além
disso,
as
ins3tuições
de
ensino
superior
são
verdadeiros
centros
de
doutrinação
an3capitalista
e
an3americana,
nos
quais
a
democracia
local
é
retratada
como
uma
3rania.
Professores,
inclusive
os
de
Letras,
falam
de
culpa
cole8va
e
pregam
a
destruição
revolucionária
do
sistema.
Alunos
facilmente
influenciáveis
ouvem
esse
blábláblá
e
tomam
a
jus8ça
nas
próprias
mãos.
comentário
Novamente
nas
frases
01
e
03
[em
itálico]
apresentam
as
respostas
[exposição
dos
argumentos
a
serem
deba8dos]
do
locutor
à
questão
proposta.
As
frases
02,
04
e
05
funcionam
como
ampliações
[por
exemplificação]
que
consolidam
os
argumentos
baseados
em
prova
concreta
que
visam
a,
por
intermédio
de
uma
análise
“obje8va”
do
fato,
atestar
que
o
autor
“tem
razão”.
16. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Vale
a
pena
acrescentar
razões
suplementares
para
o
massacre.
A
guerra
do
Iraque,
que
legi8mou
a
violência.
Os
protestos
contra
a
guerra
do
Iraque,
que
indispuseram
os
americanos
entre
si.
A
repressão
sexual,
que
canaliza
a
testosterona
rumo
a
opções
perigosas.
A
licença
sexual,
que
leva
aqueles
que
não
se
dão
muito
bem
neste
jogo
a
se
tornarem
rancorosos
e
vinga8vos.
A
discriminação
de
que
são
ví8mas
os
imigrantes.
O
excesso
de
imigração,
que
não
dá
tempo
aos
recém-‐chegados
de
se
adaptarem
à
cultura
local.
A
miséria
e
a
fome.
A
opulência
e
a
obesidade.
O
aquecimento
global.
comentário
Na
primeira
frase,
o
locutor,
por
intermédio
da
metalinguagem,
indica
que
fará
a
exposição
de
mais
argumentos.
Enumeram-‐se
explicações
[seguidas
de
análises]
para
a
ação
de
Seung-‐Hui.
O
obje8vo
é
levar
o
autor
a
perceber
que
encontrar
uma
única
explicação
para
um
acontecimento
chocante
é
complicado.
17. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
E
quanto
a
Cho
Seung-‐hui?
Ele,
afinal,
era
o
verdadeiro
culpado.
Ele
era,
afinal,
a
ví8ma
principal.
Cho
era
um
narcisista
que
queria
aparecer.
Cho
era
um
introver8do
que
queria
desaparecer.
Ele
era
um
maluco
an8-‐social
cujos
próprios
colegas
previam
que
certo
dia
faria
uma
dessas.
Era
um
rapaz
normal,
enlouquecido
por
um
ambiente
cruel
e
predatório.
Era
um
herói,
um
már8r
corajoso
que,
com
seu
sacribcio,
ajudou
a
punir
uma
sociedade
injusta.
comentário
São
enumeradas
mais
explicações
[seguidas
de
análises]
para
a
ação
de
Seung-‐Hui.
18. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Todas
as
explicações
acima
e
muitas
outras,
às
vezes
em
combinações
complexas,
podem
ser
achadas
na
imprensa,
na
internet,
na
mídia
em
geral.
Alguma
faz
sen8do?
Talvez.
Todas
juntas?
Só
numa
mul8plicidade
de
universos
paralelos.
Se
há
pouco
de
sério
a
dizer
sobre
Cho
e
o
massacre,
a
variedade
quase
infinita
de
enfoques
e
interpretações
aponta,
porém,
para
algo
interessante.
comentário
Início
das
considerações
finais
do
ar8culista.
19. ANÁLISE DO TEXTO
artigo de opinião
Poucas
coisas
despertam
tanto
a
curiosidade
humana
como
o
crime,
principalmente
os
assassinatos
em
massa,
os
hediondos
e
os
inexplicáveis.
Cada
indivíduo
ou
grupo
os
interpreta
de
maneira
a
que
façam
sen8do
na
sua
visão
mais
ampla
de
mundo,
mas
de
modo
também
a
que
não
a
refutem
nem
contradigam.
Como
o
mistério
mais
fascinante
neste
vale
de
lágrimas,
nada
revela
tão
bem
as
crenças
e
a
ideologia
de
uma
pessoa
quanto
o
modo
segundo
o
qual
ele
ou
ela
busca
explicar
a
criminalidade
em
geral
e,
em
par8cular,
o
homicídio.
comentário
Explicitação
da
análise
final
do
ar8culista.
Para
ele,
só
por
intermédio
da
aceitação
do
fato
de
que
as
explicações
para
o
fato
são
projeções
de
diferentes
visões
de
mundo
é
que
se
começa
a
entender
por
que
elas
são
tão
numerosas
e
contraditórias.