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1
DISCURSO, PROPAGANDAE ESTRATÉGIA BÉLICA, POLÍTICA
E RELIGIOSA: aspectos do encanto e desencanto da poesia
modernista inglesa nos escritos dos poetas-soldados Rupert Brooke e
Siegfried Sassoon
SPEECH, ADVERTISEMENT AND MILITARY, POLITIC AND
RELIGIOUS STRATEGY: aspects of the enchantment and
disenchantment of British Modernist Poetry in the writings of the
poets-soldiers Rupert Brooke and Siegfried Sassoon
Francisca Raquel Queiroz Alves Rocha1
RESUMO
O intuito deste artigo é demonstrar por meio de uma breve interpretação das poesias dos
poetas-soldados modernistas britânicos Rupert Brooke (The Soldier) e Siegfried
Sassoon (Suicide in the Trenches), o encanto e o desencanto em relação a Primeira
Guerra Mundial. Ambos os poetas vivenciaram na pele os horrores da guerra,
demonstrando em suas poesias o discurso, propaganda e estratégia bélica, política e
religiosa que são visíveis em tal cenário, e são habilmente refletidas nos escritos
desenvolvidos por estes poetas-soldados. Discutimos neste artigo sobre a relação,
especialmente da Literatura e Ciências das Religiões, e posteriormente situamos o leitor
quanto as tramas que culminaram com a Primeira Guerra Mundial ou a Grande Guerra.
Em seguida, apresentamos a vida e poesias escolhidas destes poetas-soldados, com suas
devidas interpretações, lembrando que tais textos literários denominados por James
Campbell (1999) como Poesia Lírica das Trincheiras, revelam aspectos de realidade da
guerra, destacando a experiência dos escritores, confrontando seus ideais iniciais
românticos da guerra, com as mentiras e barbáries nos campos de batalha.
PALAVRAS-CHAVE: Guerra; Religião; Poesia.
ABSTRACT
The focus of this article is to demonstrate through of a brief interpretation of the poems
of the British Modernist poets-soldiers Rupert Brooke (The Soldier) and Siegfried
Sassoon (Suicide in the Trenches) the enchantment and disenchantment in relation the
First World War. Both the poets experienced in the skin the horrors of war,
demonstrating in their poems the speeches, advertisements and military, politic and
religious strategies that are visible in this military scenario, and these subjects are
cleverly reflected in the writings developed by the poets-soldiers. We discuss in this
article about the relationship, especially of Literature and the Religion Sciences, and
posteriorly we situate the reader about the plots that culminated with the First World
War or the Great War. The next step, we present the life and chosen poems of these
poets-soldiers with their due interpretations, remembering that these literary texts
denominated by James Campbell (1999) as Trench Lyric Poetry, reveal aspects of war
1
Mestra em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Bacharel em
Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará- UFC. Licenciada em Letras pela Universidade Regional
do Cariri- URCA. E-mail: franciscaraquel29@hotmail.com.
2
reality, highlighting the experience of writers, confronting their early romantic ideals of
war, with the lies and barbarities on the battlefields.
KEY-WORDS: War; Religion; Poetry.
INTRODUÇÃO
Antes de iniciar este artigo se faz necessário estabelecer um rápido diálogo entre
a Literatura e Ciências das Religiões, através de breves discussões conceituais,
metodológicas e relacionais entre os termos acima citados, para que possamos em
seguida, apresentar, dentro do contexto do Movimento Modernista Britânico (século
XX), alguns dos poetas-soldados e seus escritos, dos quais destacaremos os temas
recorrentes do título deste artigo: discursos, propagandas e estratégias bélicas, políticas
e religiosas.
Em se tratando brevemente da Literatura, esta é a arte das palavras, apoiando-se
em Antonio Cândido, literato brasileiro, que assim fala sobre a elaboração e sentido do
que é fazer literatura e dos contextos ao redor da mesma:
Depende de uma ação de fatores do meio, que se exprimem na obra
em graus diversos de sublimação-, e produz sobre os indivíduos um
efeito prático, modificando a sua conduta e concepção de mundo ou
reforçando neles os sentimentos dos valores sociais (2006, p. 30).
Júlia Kristeva, filósofa e escritora francesa, diz que “a literatura nasce de um
mosaico de textos, de referências a criações anteriores” (apud OLIVEIRA, 2012, p. 54).
Atuante nas mais variadas instâncias culturais da sociedade, desde o ontem, agora e
sempre, ela oferece todos os tipos e gêneros possíveis pelos quais foi permitido
escrever, entender e refazer os passos da história humanidade (PINTO, 2008). O mundo
interior e exterior, bem como suas problemáticas são algumas das inspirações dos
escritos literários, ancorados em narrativas ficcionais ou não.
Lembremos que a noção de literatura não deve ser levada somente em
consideração apenas pelo caráter definidor do teórico, do professor, do crítico literário,
do leitor, e ademais, visto que naquela singularidade temática-conceitual assume-se
também uma pluralidade dinâmica e mutável. Na visão de Terry Eagleton, crítico
3
literário inglês, quem define algo portar-se de uma ideologia2
, ou seja, todos esses
atores sociais usam, na verdade, de um determinado campo de ideologia que serve de
subsídio para a justificativa de sua definição (não só aplicada ao conceito de literatura,
mas em todas as atividades humanas). “Por „ideologia‟ quero dizer, aproximadamente, a
maneira pela qual aquilo que dizemos e no que acreditamos se relaciona com a estrutura
de poder e com as relações de poder da sociedade que vivemos” (EAGLETON, 2006, p.
22). Portanto, nossas definições são regidas por vivências sociais, políticas, filosóficas,
religiosas, culturais, enfim.
Já as Ciências das Religiões pode ser entendida como uma metadisciplina
heurística autônoma. O termo transita por um dual debate entre singular e plural, pois
“todas as disciplinas científicas [...] sofrem tensões entre o singular e o plural, e a
Ciência da Religião não se constituiria em uma exceção” (CRUZ, s/d, p. 75). Na
Alemanha, onde surgiu, o termo é no singular: Ciência da Religião. A abordagem das
Ciências das Religiões pode ser “científica, social, empírica, indutiva e causal” (CRUZ,
s/d, p. 73), enxergando no seu objeto, a religião3
, como “sistema formalmente idêntico”
(idem). O pesquisador Frank Usarski afirma que as Ciências das Religiões constituem-
se de um “estudo histórico e sistemático de religiões concretas em suas múltiplas
dimensões, manifestações e contextos socioculturais” (s/d, p. 139).
O que podemos abordar do vínculo Literatura e Religião é que os textos
religiosos possuem elementos narrativos, cenários, espaço-tempo, personagens que se
cruzam, apesar de inseridos em mundos, até então, diferentes (NOGUEIRA, 2015). As
religiões, “para falar sobre mundo e a realidade4
[...] discursam sobre mundos,
2
Logo, o sentido de ideologia não deve ser levado emseu tomde puro negativismo, como algo que impõe
e exclui: está mais para algo íntimo, no sentido de relações que estão à nossa volta, influências que nos
fazem permanecer crentes de que estamos corretos emnossos atos, que regemas concepções daquilo que
tomamos como morais, éticas, que direcionam os nossos pensamentos, posturas explicativas do que
intentamos representar, entender, justificar, conceituar.
3
“Religião, entidade singular, ou as religiões, pluralidade de entidades” (USARSKI, 2006, p. 65). A
religião pode atuar como “sui generis, como uma entidade ontologicamente independente e não
condicionada” (USARSKI, 2006, p. 71). Cruz assim manifesta-se: “as religiões são geradas pela
necessidade do homem, seja ele das cavernas como para o nosso homem moderno” (s/d, p. 79), de obter
explicações semrespostas, para as mais variadas dúvidas regentes de seu universo/mundo/sociedade.
4
E o que se convém chamar realidade? E seu oposto, a ficção? Usando a obra de Aleida Assmann A
legitimidade da ficção, Nogueira propõe que seja entendida a ficção, quebrando com certos sensos
comuns que apenas a definemcomo oposto da realidade, quando a realidade por si só, parece tarefa difícil
de ser explicada para funcionar como paralelo opositivo e de certa mentira fantasiosa, que estaria
ancorada na ficção. “Considerar o mundo real como equivalente ao visível, material e verificável é
resultado de uma construção histórica, que por sua vez vulgariza modelos epistemológicos datados. É
diante desse tipo de visão de mundo e do que é „real‟ que se define o que é ficção. Nesse jogo contra o
senso comum a ficção é definida como o que não existe, o que é inventada, ou como uma mentira.
Assmann insiste que o elemento ficcional está supreendentemente subjacente aos modelos de realidade e
que estes estão historicamente construídos” (apud NOGUEIRA, 2015, p. 125).
4
personagens [...] Narrativas e metáforas se unem para formar as representações
labirínticas da linguagem da religião” (NOGUEIRA, 2015, p. 116 e 118). E diante deste
cenário, qual seria o papel das Ciências das Religiões?
Poderiam exercer não apenas a função de crítica às ideologias
religiosas, mas também poderiam provocar, por meio de estudos das
estruturas ficcionais da linguagem e da consideração das relações da
religião com a literatura e com as artes em geral, a redescoberta do
potencial criativo latente da religião (NOGUEIRA, 2015, p. 141).
Dentro do universo das Ciências das Religiões, essa possibilidade de diálogo
entre literatura, ou seja, manifestações religiosas e poesia atuam como modelos de
compreensão do mundo/sujeito. Como proposta deste trabalho, pretende-se apresentar
uma interpretação das poesias The Soldier de Rupert Brooke e Suicide in the Trenches
de Siegfried Sassoon, tendo como ponto de discussão o encanto e o desencanto em
relação à guerra, bem como os discursos, propagandas e estratégias bélicas, políticas e
religiosas que mantém intimidade com os escritos dos poetas-soldados. A estratégia de
interpretação das poesias em questão é levada em consideração pela tríade obra-
escritor-leitor. Sobre a obra/texto procuramos observar de que modo essas poesias
dentro de um “contexto social, suas relações com o ambiente e suas diferenças com esse
mesmo ambiente, a maneira pela qual se comporta, as finalidades que lhe podem ser
dadas e as práticas humanas que se acumulam à sua volta” (EAGLETON, 2006, p. 14)
atuam como produções de fragmentos e realidades oferecidas pelas diferentes
perspectivas de participação, entendimento e vivência desses poetas soldados sobre o
vivenciar o momento dentro e fora da guerra, da poesia como propaganda de promoção
dos ideais de guerra e da postura de reveladora das verdades horrendas quando o papel
desempenhados por esses escritos igualam-se às realidades de guerra, das quais esses
poetas puderam atestar, e cujo os reflexos perturbatórios fizeram a diferença para a luta
contra a imoralidade desta guerra. Repleto de significados que precisam da ação de um
ato interpretativo, Schollhammer e Olinto dizem que esse texto atua como “um
reservatório de [...] decodificação de sentido” (2008, p. 42), expresso pelo escritor, obra
e leitor, sujeito para o qual se é destinado o fazer literário.
5
1 O SOAR DAS TROMBETAS: Avante jovens, aos braços da Mãe de
Todas as Guerras!
Devemos antes de situar o leitor quanto ao que foi o Movimento Modernista
Britânico (século XX), os poetas e as poesias escolhidas sobre o panorama da Primeira
Guerra Mundial ou a Grande Guerra, que “foi a mãe das guerras dos séculos XX e XXI”
(ARARIPE, 2006, p. 342). Iniciou-se em 1914 e encerrou-se em 1919, com a assinatura
do Tratado de Versalhes (Tratado de Paz). Este acontecimento “enterrou a noção de que
uma guerra se inicia e termina no campo de batalha, sem deixar sequelas para as partes
envolvidas” (SILVA, 2005, p. 262). Cogita-se que o principal motivo desta guerra teria
sido o assassinato do herdeiro do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco
Ferdinando e sua esposa Sofia, em Saravejo, no dia 28 de julho de 1914, por Gavrilo
Princip, um militante da Sérvia5
(MEDEIROS, 2014). Resumindo:
A 1ª Guerra Mundial foi um resultado do chauvinismo, de ambições
de prestígio nacional, da competição capitalista pelos mercados e por
novos campos de investimento, dos ódios seculares entre as nações e
dos tremores suscitados pelas crises e pelas corridas armamentistas
(BURNS, s/d, p. 384-385).
Os dois blocos formados, neste insano momento, foram:
Tríplice Aliança e seus aliados, formados pela Alemanha, Império
Austro-Húngaro, Itália, Turquia e Bulgária; do outro, a Tríplice
Entente e seus aliados, constituída pela França, Inglaterra, Rússia,
Bélgica, Sérvia, Japão, EUA e Grécia. O Brasil foi o único país sul-
americano a entrar nesse conflito, declarando guerra à Alemanha
(SILVA, 2005, p. 263).
É válido destacar que na Grande Guerra há um desdobramento de duas fases de
batalha: a Guerra de Movimento e a Guerra de Trincheiras ou de Posição
(FAINGOLD, s/d). A primeira (Movimento) iniciou em agosto de 1914, quando a
Alemanha invadiu Luxemburgo e a Bélgica. O término fora em novembro do mesmo
ano por meio da Batalha do Marne (ARARIPE, 2006). A segunda (Trincheiras) teve
5
“Desde o começo do século XX a [...] Sérvia sonhava estender a jurisdição sobre todos os povos [...]
Depois de 1908, quando a Áustria (re)anexou a Bósnia e a Herzegovina, o plano da [...] Sérvia dirigiu-se
exclusivamente contra o império dos Habsburgos [...] Daí adveio uma série de perigosas conspirações
contra a paz e a integridade da Monarquia Dual” (BURNS, s/d, p. 359). Contudo, causas anteriores a esse
período serviram de combustível a mais na guerra como afirmam Sípoli Cól e Boni (2005) que alertam
para os diversos conflitos na Europa, que geravam tensões constantes e ameaças de que os dias de paz
estavam sendo contados. Lembremos também do período denominado Paz Armada marcado pela
precaução europeia de juntar armas para possíveis momentos de combate que logo viriam a ser reais
(MEDEIROS, 2014).
6
como ponto de partida a Batalha de Artois, em junho de 1915 e finalizou em agosto de
1918 (ARARIPE, 2006).
A Primeira Guerra Mundial “durou tão mais do que os governos haviam
previsto, e consumiu tão mais homens e armamentos” (HOBSBAWM, 1995, p. 43). Os
britânicos perderam meio milhão de homens (HOBSBAWM, 1995). Estima-se que a
faixa etária destes homens eram em torno de 19 a 40 anos de idade (ARARIPE, 2006).
Medeiros (2014) encerra seu pensamento sobre esta guerra, dizendo que ela:
Envolveu direta e indiretamente, mais de 30 países de todos os
continentes, com maior ou menor grau de participação [...] O conflito
[...] deixou cerca de 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos,
além de resultar na queda de quatro impérios: Russo, Austro-Húngaro,
Alemão e Otomano (estado Turco) (2014, s/p).
Em 26 de junho de 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes (Tratado de Paz)
em Paris, estabelecendo as diretrizes para os vencedores e perdedores da guerra. E sobre
o momento literário denominado de Movimento Modernista Britânico? Ele teve como
cenário, sentimentos de incertezas e pessimismos oriundos das trombetas apocalípticas
de uma provável guerra eficaz, ligeira e enobrecedora: é notório um romantismo inicial
sobre uma suposta honra e beleza na guerra.
Sendo assim, o momento literário britânico denominado de Modernista trouxe
todo o poder da poesia. Alguns dos representantes dessa fase foram os poetas-soldados
ingleses, dentre eles destacamos 16 poetas: Charles Sorley (1895-1915), David Jones
(1895-1974), Edmund Blunden (1896 – 1974), Edward Thomas (1878 – 1917), Herbert
Edward Read (1893-1968), Isaac Rosenberg (1890-1918), Ivor Gurney (1890-1937),
Julian Grenfell (1888 – 1915), Richard Aldington (1892 – 1962), Robert Graves (1895 –
1985), Robert Laurence Binyon (1869-1943), Robert Malise Bowyer Nichols (1893-
1944), Rupert Brooke (1887 – 1915), Siegfried Sassoon (1886-1967), Wilfred Owen
(1893-1918) e Wilfrid Wilson Gibson (1878 – 1962) (SILVA, 2005). Silva conclui que
a principal abordagem da literatura modernista será: “a 1ª Guerra Mundial, os regimes
totalitários e a 2ª Guerra Mundial” (2005, p. 261). Discorreremos a seguir sobre a
propaganda de guerra militar, jornalística, literária, religiosa e social perceptível nesses
escritos e a memória de um passado histórico, do qual as lições deixadas por esta guerra
são percebidas nas obras até hoje destes poetas-soldados.
7
2 A ATUAÇÃO DOS POETAS-SOLDADOS E O PODER DE SEUS
ESCRITOS: De propaganda ao desencanto “romântico-bélico”
Uma das armas mais perigosas, semelhantes àquelas destinadas a matar, em
dadas ocasiões: assim a propaganda constitui-se em uma ferramenta poderosa para
desejos de guerra orquestrados pelas instâncias políticas e militares, tendo como suporte
em alguns momentos, um direcionamento a favor, e em outras horas, como
denunciador, formado também pela mídia, escritores, intelectuais e instituições
religiosas. Na Inglaterra, em 1914, foi criada a Agência de Propaganda da Guerra
(Bastos, s/d), com o objetivo de instigar os sentimentos ufanistas/patrióticos da
população na causa de defender a pátria a qualquer custo, incitando o alistamento de
jovens.
Os jovens foram amplamente recrutados através de uma forte
propaganda persuasiva, que retratou a guerra como uma oportunidade
para os jovens defenderem o seu país e levantarem a bandeira alto nos
campos de batalha, moverem sua bravura e heroísmo, apreciarem a
aventura da ação e saborearem o prazer das batalhas (SAGHER, s/d,
p. 218)6
.
Os meios comunicativos/jornalísticos/midiáticos estavam em dois lados da
história: ora silenciados pelo Lord Kitchener, ministro de Guerra na Inglaterra, que
segundo Mattos (s/d) usava de artimanhas para manter distante a imprensa de noticiar as
verdades da guerra; de outro, a imprensa do lado dos articuladores da guerra, que
recebiam ordens de silêncio e mentiras. Não podemos deixar de omitir que existiam
aqueles que propagavam as verdades da guerra: exemplo esse, é o psicólogo e editor da
Cambridge Magazine, Charles Kay Ogden, que em sua revista exibia poemas contrários
à guerra; ele teve o prédio destruído de sua empresa por pessoas que achavam que ele
não tinha amor pela pátria inglesa (ALBERGE, 2013).
Já o discurso religioso na guerra usou a fé e os princípios religiosos na
promoção ou justificativa do evento bélico. Os líderes políticos, religiosos e escritores
se valiam de uma teologia religiosa para expressar “uma conexão com Deus como um
meio para a construção da empatia e compreensão dos chamados a servir” (KARSTEN,
2012, p. 03), com o objetivo de “convencer o povo britânico da validade da guerra e da
brutalidade dos inimigos enquanto impulsionam o poder” (KARSTEN, 2012, p. 07).
6
Tradução nossa. Segue o original: Young men were widely recruited through a very strong persuasive
propaganda, which portrayed the war as an opportunity for young men to defend their country and raise
its banner high in the battle fields, prove their bravery and heroism, enjoy the adventure of action and
taste the delight of the battles.
8
Stanley Cooperman insiste em uma forte evidência da representação da luta bíblica
entre Deus e Satã: “quer sob a forma de iniciação, metamorfose, purificação, sacrifício,
morte ou renascimento, a experiência de guerra é composta de […] padrões míticos”
(apud BROSMAN, 1992, p. 95)7
. Ainda destacamos a questão da “morte, sacrifício para
alcançar a salvação, redenção, aliança divina na qual Deus defende a causa britânica e
que são algumas das conexões estabelecidas entre a relação da guerra e religião”
(ROCHA, 2014, p. 42).
A propaganda no aspecto literário, em um primeiro momento se deu por meio da
poesia. Na cabeça da maioria dos envolvidos direta ou indiretamente na guerra, veio à
crença de que tal evento poderia ser uma aventura fascinante, até pela razão de seu
ineditismo, se nos recordamos de que era anunciada como a Mãe de Todas as Guerras.
Parte destes poetas-soldados mencionados anteriormente viram com seus olhos e
sentiram em seus corpos e corações os horrores da guerra “como um resultado muito
mais impactante do que obtiveram seus predecessores, e com um pessimismo que
parecia aumentar à proporção que a Primeira Guerra Mundial prosseguia” (NETO;
MILTON, 2005, p. 223). As primeiras poesias patrióticas foram bem recebidas pelo
público. Karsten (2012) afirma que a poesia:
Auxiliava o processo de alistamento com discursos, ensaios e poesia
patriótica que ligava o serviço na guerra para servir a Deus. Os
envolvidos na “Fight For Night Movement” publicavam seu trabalho
em prol da causa da Grã-Bretanha somando-se um esforço de
propaganda significante pelo governo e mídia. O “Fight For Night
Movement” não estava sozinho em seu reconhecimento do poder da
poesia; o governo britânico também viu o potencial da poesia como
uma ferramenta de propaganda e em setembro de 1914 organizou o
“Wellington House Propaganda Departament” mobilizando poetas [...]
para trabalharem em nome das metas do governo (KARSTEN, 2012,
p. 10)8
.
Outros escritores que apoiavam as causas bélicas foram John Masefield,
Rudyard Kipling, Robert Nichols, Arthur Conan Doyle e Arnold Bennet (KARSTEN,
2012). No jornal Times, em agosto de 1914, recebia cerca de 100 poemas patrióticos
7
Tradução nossa. Segue original: Whether in the form of initiation, metamorphosis, purification,
sacrifice, or death and rebirth, the war experience is made of [...] mythic patterns.
8
Tradução nossa. Segue original: The movement aided the enlistment process with speeches, essays and
patriotic poetry which connected service in the war to service to God. Those involved in the “Fight For
Night Movement” published their work in support of Britain‟s cause, adding to a significant propaganda
effort by the Government and Media. The “Fight For Night Movement” wasn't alone in its recognition of
the power of poetry, the British government also saw the potential of poetry as a propaganda tool and in
September of 1914 organizes the “Wellington House Propaganda Department”, mobilizing poets […] to
work on behalf of government‟s goal.
9
amadores por dia, segundo Karsten (2012). O choque real com a guerra e as tramas por
trás da mesma fez com que esses poetas e a sociedade tivessem um novo ponto de vista:
de “celebração do nacional, para um campo semântico de interrogação,
responsabilidades, valores morais, sentimentos e identidades individuais” (PETROV et
al, 2012, p. 64).
A beleza da guerra deu lugar à morte, sangue e barbárie. Os escritores soldados
“viviam entre a linha tênue de dois mundos: um que abriga o campo literário em
oposição ao testemunhal, encarnando características da autobiografia e história”
(PETROV et al, 2012, p. 64). James Campbell aponta que “uma estimativa de 75% dos
poetas da guerra com formação universitária vieram de Oxford ou Cambridge” (1999, p.
13)9
. Eles produziram a First Literary War (Primeira Literatura de Guerra), no que
podemos denominar de transição do momento de encanto para o desencanto, pois a
narração estava atrelada a vivência do escritor (PETROV et al, 2012), sendo o texto
produzido um autêntico testemunho do acontecimento. Essa Literary War também pode
“exprimir um excesso de memória individual contra uma falha de memória coletiva”
(PETROV et al, 2012, p. 65). James Campbell (1999) vai definir essa nova poesia
literária como a Poesia Lírica das Trincheiras, poesia que:
Apresenta traços conservadores e realísticos que giram em torno da
experiência oriunda do combate direto na guerra. O elemento mais
importante e definidor desse tipo de poesia, portanto, é a ênfase na
experiência pessoal construída por meio da observação direta do fato.
Todos aqueles ideais românticos são postos de lado. Na verdade, são
renegados. A beleza de outrora se revela como a mais deformante
feiura que destrói na mente de um público ingênuo, qualquer glamour
ou ideais patrióticos exacerbados na guerra, que cegam os olhos
daqueles que nunca acharão a luz no fim do túnel para sair das trevas
ao qual estão imersos (ROCHA, 2014, p. 50).
3 AS PERCEPÇÕES REAIS DA GUERRA E O
DIRECIONAMENTO POÉTICO FRENTE AO CAMPO DE
BATALHA
Escolhemos uma poesia do poeta que representa esse momento de encanto,
patriotismo e romantismo da guerra para uma rápida análise: The Soldier (1914) do
9
Tradução nossa. Segue original: One estimate is that 75 percent of the university-educated war poets
went to either Oxford or Cambridge.
10
autor Rupert Chawner Brooke10
(1887 – 1915). O poeta inglês nasceu em 3 de agosto de
1887 em Rugby. Ganhou seu primeiro prêmio de poesia em 1905, aos nove anos de
idade. Em 1909 tem a oportunidade de publicar seus poemas. Escrevia sobre o
companheirismo e o amor, demonstrando grande sentimentalismo (_____. Site Poets
Org, s/d) 11
. Mas nem tudo são flores na vida do escritor, que era conhecido por sua
incrível beleza: o relacionamento conturbado com sua mãe refletiu em amores não
resolvidos em sua vida sexual, com seus parceiros homens e mulheres. Também em
1912, Rupert parece desenvolver algum transtorno mental, no qual explica-se muitas de
suas viagens à América do Norte e ao Pacífico (_____. Site Poets Org, s/d).
Alistou-se em 1914 na Divisão Naval Real durante o início da Primeira Guerra
Mundial. Continuou a escrever suas poesias (_____. Site Poets Org, s/d). O louvor
patriótico de Rupert Brooke, um poeta-soldado de importância no movimento
modernista inglês, se estendeu para suas obras como afirma Daily (2009). Em 23 de
abril de 1915, esteve à frente da Expedição de Antuérpia. Morreu aos 28 anos de idade,
vitimado por um quadro septicemia12
gerado pela mordida de um mosquito; ele estava
na companhia de seus colegas da Força Expedicionária Britânica do Mediterrâneo
(WILSON, s/d). A ilha de Skyros, no Mar Egeu, serviu de lugar de repouso para o
jovem poeta-soldado. Mesmo tido como um poeta fanático e cego, em relação à guerra,
apesar de ter visto os horrores iniciais do evento, talvez o pouco de tempo que conviveu
e as experiências impactantes que poderiam ser exploradas ao término de sua missão,
que ocasionou sua morte, tenham impossibilitado o público de perceber este despertar
de Rupert, lembrando que ele foi apenas mais um dos tantos iludidos com as causas e
promessas da guerra, que hoje, depois de tanto tempo, são do conhecimento do público
10
Lista de obras completas: Poesia: Poems (1911)/ Georgian Poetry, 1911-1912 (1912) 1914/ Other
Poems (1915)/ The Collected Poems of Rupert Brooke (1915)/ The Collected Poems of Rupert Brooke
(1918)/ The Poetical Works of Rupert Brooke (1946)
Prosa: Lithuania: A Drama in One Act (1915)/ John Webster and the Elizabethan Drama (1916)/ Letters
From America (1916)/ Democracy and the Arts (1946)/ The Prose of Rupert Brooke (1956) / The Letters
of Rupert Brooke (1968)/ Rupert Brooke: A Reappraisal and Selection From His Writings, Some Hitherto
Unpublished (1971)/ Letters From Rupert Brooke to His Publisher, 1911-1914 (1975).
Fonte: Site Poets Org. Disponível em: https://www.poets.org/poetsorg/poet/rupert-brooke. Acessado em
17 de junho de 2017.
11
Fonte: Site War Poets. Disponível em: http://www.warpoets.org/poets/rupert-brooke-1887-1915/.
Acessado em17 de junho de 2017.
12
Conhecida como choque séptico, é uma “infecção generalizada por todo o corpo causada por bactérias
que infectam o sangue. É uma condição potencialmente fatal que afeta diretamente os pulmões, os rins e o
coração”. Fonte: Site Tua Saúde. Disponível em: http://www.tuasaude.com/septicemia/. Acessado em17
de junho de 2017.
11
e ainda sim, novas descobertas históricas reescrevem a trajetória deste fato nas linhas do
tempo.
Contudo, o poema escolhido é The Soldier (1914), no qual exprime esse
sentimento de amor e luta sem limites para defender a Mãe-Inglaterra. Vejamos a
seguir:
O soldado13
Se eu morrer, pense somente isto de mim:
Que existe algum canto de um campo estrangeiro
Que é para sempre Inglaterra.
Haverá nessa terra rica uma poeira mais rica escondida;
Uma poeira que a Inglaterra, perfurou, moldou, fez consciente, Deu
uma vez, suas flores para amar, seus caminhos para percorrer,
A Inglaterra de um corpo, respirando ar inglês,
Lavou pelos rios, abençoada pelos sóis de casa.
E imagina, este coração, todo o mal derramado fora,
Nada a menos que um impulso na mente eterna
Devolve a algum lugar os pensamentos dados pela Inglaterra; Suas
visões e sons, sonha feliz como o seu dia (da Inglaterra);
E a risada, apreendida pelos amigos; e a gentileza,
Em corações de paz, abaixo de um céu inglês.
Percebemos que a pátria é exaltada como refúgio seguro e como lembrança
nostálgica, um paraíso perdido na Terra, e sendo o Paraíso espiritual almejado pelo
soldado, onde a alma deste, morto, poderá descansar em paz e aliviar seu sofrimento.
Era claro o desejo de morrer, mas sabendo que aquela terra sagrada aguardava o corpo
imundo de um homem, de um soldado infeliz e de seu destino. Há certa alegria em
morrer pela defesa desta terra inglesa. Foi quando os poetas-soldados convivendo por
mais período com as atrocidades da guerra e vendo-se como marionetes ou joguetes de
poderosos, que em casa, arquitetavam as tramas da guerra, que o resultado produzido
por este desencanto fez com que fossem difundidos os acontecimentos reais
pertencentes às batalhas e a vida dos soldados.
13
Tradução nossa. Segue o original: The Soldier
If I should die, think only this of me:/ That there‟s some corner of a foreign field/ That is for ever
England. There shall be/ In that rich earth a richer dust concealed;/ A dust whomEngland bore, shaped,
made aware,/ Gave, once, her flowers to love, her ways to roam,/ A body of England‟s, breathing English
air,/ Washed by the rivers, blest by suns of home.// And think, this heart, all evil shed away,/ A pulse in
the eternal mind, no less/ Gives somewhere back the thoughts by England given;/ Her sights and sounds;
dreams happy as her day;/ And laughter, learnt of friends; and gentleness,/ In hearts at peace, under an
English heaven.
Fonte: ____. Poema The Soldier. Disponível em: http://www.englishverse.com/poems/the_soldier.
Acessado em17 de junho de 2017.
12
O choque social, religioso, jornalístico e literário com a verdade nas trincheiras,
a fome, as doenças, as imoralidades, a tecnologia usada para matar, o sangue, a
demência, as doenças de guerra (febre de trincheiras, shell-shock14
, etc) com certeza
produziram um olhar mais crítico e protestativo sobre a guerra (PETROV et al, 2012).
A escolha da poesia e do poeta para esta fase é Suicide in the Trenches (1918) do autor
Siegfried Loraine Sassoon15
. O mesmo nasceu em Matfield, em 08 de setembro de
1886, Kent. No Clare College em Cambridge, Sassoon estudou Direito e História em
1905, mas abandonou tudo para seguir uma vida literária, publicando em revistas
literárias da Universidade (MARTIN, 2013). Alistou-se no Exército Britânico em 03 de
agosto de 1914, movido a princípio por um patriotismo. Entre 1914 e 1915, Sassoon
lança 13 poemas de guerra patrióticos: Discoveries é o nome do livro que os reúnem
(ROCHA, 2014).
Sassoon pertenceu ao Royal Welch Fusiliers, ao 3º Batalhão Especial, foi
promovido a 2º Tenente, apelidado de Mad Jack e Kangar por suas façanhas quase
suicidas (PATRICK CAMPBELL, 1999); serviu no 1º Batalhão na França, onde se
14
O termo shell shock foi designado pelo médico Charles Myers, do Royal Army Medical Corps, no
período de setembro de 1914, data esta que marca o surgimento dos primeiros casos da doença. Com a
guerra, o número de casos de histeria aumentaram drasticamente e uma população de homens jovens que
estavam supostamente físico e psicologicamente aptos para defender a nação britânica nas batalhas,
também foram acometidos por tal enfermidade (HIPP, 2005). Dentre os estudos sobre essa doença, dois
tipos de histeria poderiam ser observados: a primeira convertida em distúrbios e a segunda, ligada a
histeria por ansiedade. “A guerra renderia casos genuínos de psicose, além de neuroses, para alguns
soldados pré-dispostos a doenças que hoje chamamos de esquizofrenia” (HIPP, 2005, p. 20). Os sintomas
mais comuns desta enfermidade, citados por Hipp (2005) que atingiam os soldados eramque eles ficavam
mudos, surdos, com amnésia, tremores, alucinações (visões alucinógenas e pesadelos que refletiam as
experiências individuais da guerra), fadiga, irritabilidade, nervosismo, dentre outros. Esses distúrbios
cerebrais, físicos e psicológicos que tinham relação com a guerra, “no final do século XX, seriam
agrupadas como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)” (SONDHAUS, 2011, p. 404). No final,
o shell shock é só mais um ferimento tão quanto mortal para o soldado.
15
Lista de obras completas: Poesias publicadas anonimamente: Poems (1906)/ Orpheus in Diloeryium
(1908)/ Sonnets (1909)/ Sonnets and Verses (1909)/ Melodies (1912)/ Morning Glory (1916)
Poesias: Twelve Sonnets (1911)/ Poems (1911)/ An Ode for Music (1912)/ Hyacinth: An Idyll (1912)/
Amyntas (1913)/ The Daffodil Murderer (1913)/ Discoveries (1915)/ The Redeemer (1916)/ To Any
Dead Officer (1917)/ The Old Huntsman (1917)/ The General (1917)/ Does it Matter? (1917)/ Counter-
Attack and Other Poems (1918)/ The Hero [1918]/ Picture-Show (1919)/ War Poems (1919)/ Aftermath
(1920)/ Recreations (1923)/ Selected Poems (1925)/ Satirical Poems (1926)/ The Heart's Journey (1928)/
To My Mother (1928)/ On Chatterton: A Sonnet (1930)/ In Sicily (1930)/ To the Red Rose (1931)/ Poems
by Pinchbeck Lyre (1931)/ Prehistoric Burials (1932)/ The Road to Ruin (1933)/ Vigils (1935)/ Rhymed
Ruminations (1940)/ Poems Newly Selected (1940)~/ Early Morning Long Ago (1941)/ Collected Poems
(1947)/ Common Chords (1950/1951)/ Emblems of Experience (1951)/ Faith Unfaithful (1954)/
Renewals (1954)/ The Tasking (1954)/ Sequences (1956)/ Lenten Illuminations (1959)/ The Path to Peace
(1960)/ Arbor Vitae and Unfoldment (1960)/ Awaitment (1960)/ A Prayer at Pentecost (1960)/ Collected
Poems (1961)/ Something about Myself (1966)/ An Octave: 8 September 1966 (1966)
Prosa: Memoirs of a Fox-Hunting Man (1928)/ Memoirs of an Infantry Officer (1930)/ Sherston's
Progress (1936)/ Complete Memoirs of George Sherston (1937)/ The Old Century and seven more years
(1938)/ On Poetry (1939)/ The Flower Show Match and Other Pieces (1941)/ The Weald of Youth
(1942)/ Siegfried's Journey (1946)/ Meredith (1948) (ROCHA, 2014).
13
tornou amigo íntimo de Robert Graves, além de outros relacionamentos afetivos com
rapazes. Nas Trincheiras presenciou o horror da guerra (ROCHA, 2014). Em 1917 fora
vitimado pela febre da trincheira e escapou da morte quando um atirador alemão quase
o matou (MARTIN, 2013). No mês de junho de 1917, escreveu o protesto Declaration
of Defiance: Finished with the War, a Soldier’s Declaration16
, escancarando o
sofrimento dos soldados (especialmente aqueles que viviam nas trincheiras, visto que
Sassoon também foi um deles) e a omissão do sistema político, que parecia desejar
prolongar a guerra, implicando no sofrimento de toda a sociedade (HIPP, 2005).
Robert Graves e Robert Ross conseguiram persuadir as autoridades militares e
uma junta médica de que o amigo Sassoon estava sofrendo de shell shock, enviando ao
Craiglockhart Hospital em Edinburgh. Após recuperar-se, é enviado em de março de
1918 a março de 1919 para a trincheira na Palestina e depois para a França, sempre
acompanhando o seu antigo regimento, o 25º Batalhão do Royal Welch Fusilers
(PATRICK CAMPBELL, 1999). Atingido por fogo amigo e suspeito de se encontrar
em “um estado de sleepless exausperuicide” (PATRICK CAMPBELL, 1999, p. 13).
Sassoon foi hospitalizado numa unidade médica em Lancaster Gate, Londres. Em 1957,
ele se converteu à Igreja Católica Apostólica Romana. A nova fase da vida literária de
Sassoon, agora, gira em torno de poemas de cunho espiritual ou odisseia religiosa em
que o autor chamou de “enunciação direta da emoção dramatizada” (MARTIN, 2013, p.
13)17
. Morreu em 1º de setembro de 1967, em Heytesbury, Wiltshire.
O poema Suicide in the Trenches é o último desta análise. Abaixo segue o texto:
Suicídio nas Trincheiras18
Eu conheci um soldado, um simples garoto
Que sorriu para uma vida de alegria vazia
Dormiu profundamente através da solitária escuridão
E assobiou cedo com a cotovia.
Em trincheiras, no inverno, intimado e triste
Com um som alto e piolhos, e ausência de rum
Ele colocou uma bala em seu cérebro
16
Referência: http://www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit/collections/sassoon. Acessado em17 de junho de 2017.
17
Tradução nossa. Segue o original: Direct utterance of dramatized emotion.
18
Tradução nossa. Segue o original:
Suicide in the Trenches
I knew a simple soldier boy/ Who grinned at life in empty joy,/ Slept soundly through the lonesome
dark,/ And whistled early with the lark.// In winter trenches, cowed and glum,/ With crumps and lice and
lack of rum,/ He put a bullet through his brain./ No one spoke of him again.// You smug-faced crowds
with kindling eye/ Who cheer when soldier lads march by,/ Sneak home and pray you'll never know/ The
hell where youth and laughter go.
14
Ninguém falou dele novamente.
Você, vê multidões de faces convencidas e olhos em brasa
Que alegria quando os garotos soldados marcham
Espreito em casa e rezo para que você nunca saiba
O inferno onde vão jovens e risos!
O soldado de Siegfried é semelhante aos soldados dos campos de batalhas:
Amedrontados, aterrorizados, impotentes, perturbados, iludidos,
envergonhados, com uma fragilidade emocional lactante [...] com seus
traumas de guerra, as famílias iludidas, governo e militares
inescrupulosos, conflitos entre as autoridades militares e seus
subordinados, com sátiras sociais e religiosas (ROCHA, 2014, p. 75).
O horror da guerra, bem como o choque com a barbárie, produz efeitos
perturbatórios na alma e na mente deste soldado. A descrição da imundice e da
precariedade alimentar e higiênica das trincheiras é eminente. A sociedade parece ainda
omissa da realidade, insensível quanto aos sofrimentos dos soldados, pois era preferível
morrer em batalha, do que voltar à sua cidade natal como um covarde, fugindo da
guerra. Para Sagher “Sassoon está sempre zangado com os civis em casa que não sabem
o que é a guerra, assim eles estão tão entusiasmados a respeito dela, empurrando e
encorajando os jovens soldados para juntar-se a ela” (s/d, p. 221)19
.
Em Suicide in the trenches há veias de críticas ferozes aos apoiadores
da guerra, que em virtude de sua ignorância das atrocidades que nela
regem, insistem em permanecer de olhos fechados, mesmo quando a
verdade anseia em penetrar em sua vida, como uma luz no fim do
túnel [...] Vale acrescentar que a crítica não se estende aos civis
insensíveis ou ao governo,mas também a toda instituição militar, pois
o soldado é apenas visto como um artefato ou objeto de guerra
descartável. Sua importância se dá somente enquanto ainda em seu
derradeiro suspiro, há forças de lutar. A última linha do poema
assinala esta insignificância humana. O soldado é logo substituído por
outro que seja capaz de lutar (ROCHA, 2014, p. 76).
A natureza mórbida de impotência e culpa funciona como um flerte com a morte
(HIPP, 2005). Banerjee explica que as “metáforas de inverno, neve e gelo são
frequentemente usadas para representar a morte e sugerir a miséria do inverno nas
trincheiras. Essas metáforas reforçam o impacto da morte” (s/d, p. 23). Finalmente, o
inferno para qual os jovens e risos vão, assim são entendidas por Karsten: “essas
19
Tradução nossa. Segue texto original: Sassoon is always angry with the civilians at home who do not
know what was is, yet they are so enthusiastic about it pushing and encouraging the young soldiers to join
it.
15
referências para o purgatório e o inferno pairam na face das mensagens do serviço e
salvação em muito dos primeiros poemas de guerra apresentados” (2012, p. 30)20
, o que
muito tem vínculo com traços de um discurso religioso propagado na guerra, como já
discutimos anteriormente. O destino final do soldado de Sassoon, não é diferente dos
soldados reais que conviveram com o escritor: é uma metáfora para os terrores da guerra
e para o abominável término da vida destes muitos combatentes, que se convertem nas
diversas manifestações da morte.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por entre as linhas deste artigo, discutimos a relação da Literatura e Ciências das
Religiões, como ponto de partida para a compreensão de duas poesias de poetas-
soldados que relatam seu posicionamento sobre a guerra. Entendemos como a poesia
serviu como um dos instrumentos propagandísticos de ideias de guerra e em outro
momento, como denunciadora da verdade por trás da guerra, nos campos e trincheiras
onde ocorriam as batalhas, no cenário britânico do Movimento Modernista em que os
primeiros indícios da Mãe de Todas as Guerras estavam sendo moldados: amor a Deus;
defesa da pátria Inglaterra; a luta contra Satã; ser herói para a família; o romantismo
iludido; as fantasias de quem em casa escreve sobre o evento bélico; os desfiles na
cidade; os selos de guerra; o patriotismo ufanista/utópico; jovens que se aventuram sem
saber que a morte é o mestre de todas aquelas vidas; que não há verdade, o lado certo
ou vencedor a não ser rostos encobertos nas sombras comandando vidas, pessoas, rumo
a maior carnificina histórica registrada.
Todos os setores que antes eram encantados com a guerra ou se venderam para
os orquestradores e os que ganhavam com a guerra, pouco a pouco se esbarram com a
loucura dos jovens soldados, a fome, miséria, doenças nas trincheiras, o sangue, a
morte, as mentiras e perguntam-se o porquê de ainda acreditar nesta guerra: foi nesse
momento de realidade revelada através das vivências da guerra, que uma nova poesia
surgiu, com o “compromisso de fazer com que a sociedade fosse capaz de conhecer os
20
Tradução nossa. Segue o texto original: These references to purgatory and hell fly in the face of the
messages of service and salvation many of early war poems presented.
16
horrores do evento bélico e as mentiras utilizadas para sustentar as artimanhas das
batalhas” (ROCHA, 2014, p. 56).
REFERÊNCIAS
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12 maio 2017.
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19
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1915/>. Acesso em: 17 junho 2017.

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  • 1. 1 DISCURSO, PROPAGANDAE ESTRATÉGIA BÉLICA, POLÍTICA E RELIGIOSA: aspectos do encanto e desencanto da poesia modernista inglesa nos escritos dos poetas-soldados Rupert Brooke e Siegfried Sassoon SPEECH, ADVERTISEMENT AND MILITARY, POLITIC AND RELIGIOUS STRATEGY: aspects of the enchantment and disenchantment of British Modernist Poetry in the writings of the poets-soldiers Rupert Brooke and Siegfried Sassoon Francisca Raquel Queiroz Alves Rocha1 RESUMO O intuito deste artigo é demonstrar por meio de uma breve interpretação das poesias dos poetas-soldados modernistas britânicos Rupert Brooke (The Soldier) e Siegfried Sassoon (Suicide in the Trenches), o encanto e o desencanto em relação a Primeira Guerra Mundial. Ambos os poetas vivenciaram na pele os horrores da guerra, demonstrando em suas poesias o discurso, propaganda e estratégia bélica, política e religiosa que são visíveis em tal cenário, e são habilmente refletidas nos escritos desenvolvidos por estes poetas-soldados. Discutimos neste artigo sobre a relação, especialmente da Literatura e Ciências das Religiões, e posteriormente situamos o leitor quanto as tramas que culminaram com a Primeira Guerra Mundial ou a Grande Guerra. Em seguida, apresentamos a vida e poesias escolhidas destes poetas-soldados, com suas devidas interpretações, lembrando que tais textos literários denominados por James Campbell (1999) como Poesia Lírica das Trincheiras, revelam aspectos de realidade da guerra, destacando a experiência dos escritores, confrontando seus ideais iniciais românticos da guerra, com as mentiras e barbáries nos campos de batalha. PALAVRAS-CHAVE: Guerra; Religião; Poesia. ABSTRACT The focus of this article is to demonstrate through of a brief interpretation of the poems of the British Modernist poets-soldiers Rupert Brooke (The Soldier) and Siegfried Sassoon (Suicide in the Trenches) the enchantment and disenchantment in relation the First World War. Both the poets experienced in the skin the horrors of war, demonstrating in their poems the speeches, advertisements and military, politic and religious strategies that are visible in this military scenario, and these subjects are cleverly reflected in the writings developed by the poets-soldiers. We discuss in this article about the relationship, especially of Literature and the Religion Sciences, and posteriorly we situate the reader about the plots that culminated with the First World War or the Great War. The next step, we present the life and chosen poems of these poets-soldiers with their due interpretations, remembering that these literary texts denominated by James Campbell (1999) as Trench Lyric Poetry, reveal aspects of war 1 Mestra em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba- UFPB. Bacharel em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará- UFC. Licenciada em Letras pela Universidade Regional do Cariri- URCA. E-mail: franciscaraquel29@hotmail.com.
  • 2. 2 reality, highlighting the experience of writers, confronting their early romantic ideals of war, with the lies and barbarities on the battlefields. KEY-WORDS: War; Religion; Poetry. INTRODUÇÃO Antes de iniciar este artigo se faz necessário estabelecer um rápido diálogo entre a Literatura e Ciências das Religiões, através de breves discussões conceituais, metodológicas e relacionais entre os termos acima citados, para que possamos em seguida, apresentar, dentro do contexto do Movimento Modernista Britânico (século XX), alguns dos poetas-soldados e seus escritos, dos quais destacaremos os temas recorrentes do título deste artigo: discursos, propagandas e estratégias bélicas, políticas e religiosas. Em se tratando brevemente da Literatura, esta é a arte das palavras, apoiando-se em Antonio Cândido, literato brasileiro, que assim fala sobre a elaboração e sentido do que é fazer literatura e dos contextos ao redor da mesma: Depende de uma ação de fatores do meio, que se exprimem na obra em graus diversos de sublimação-, e produz sobre os indivíduos um efeito prático, modificando a sua conduta e concepção de mundo ou reforçando neles os sentimentos dos valores sociais (2006, p. 30). Júlia Kristeva, filósofa e escritora francesa, diz que “a literatura nasce de um mosaico de textos, de referências a criações anteriores” (apud OLIVEIRA, 2012, p. 54). Atuante nas mais variadas instâncias culturais da sociedade, desde o ontem, agora e sempre, ela oferece todos os tipos e gêneros possíveis pelos quais foi permitido escrever, entender e refazer os passos da história humanidade (PINTO, 2008). O mundo interior e exterior, bem como suas problemáticas são algumas das inspirações dos escritos literários, ancorados em narrativas ficcionais ou não. Lembremos que a noção de literatura não deve ser levada somente em consideração apenas pelo caráter definidor do teórico, do professor, do crítico literário, do leitor, e ademais, visto que naquela singularidade temática-conceitual assume-se também uma pluralidade dinâmica e mutável. Na visão de Terry Eagleton, crítico
  • 3. 3 literário inglês, quem define algo portar-se de uma ideologia2 , ou seja, todos esses atores sociais usam, na verdade, de um determinado campo de ideologia que serve de subsídio para a justificativa de sua definição (não só aplicada ao conceito de literatura, mas em todas as atividades humanas). “Por „ideologia‟ quero dizer, aproximadamente, a maneira pela qual aquilo que dizemos e no que acreditamos se relaciona com a estrutura de poder e com as relações de poder da sociedade que vivemos” (EAGLETON, 2006, p. 22). Portanto, nossas definições são regidas por vivências sociais, políticas, filosóficas, religiosas, culturais, enfim. Já as Ciências das Religiões pode ser entendida como uma metadisciplina heurística autônoma. O termo transita por um dual debate entre singular e plural, pois “todas as disciplinas científicas [...] sofrem tensões entre o singular e o plural, e a Ciência da Religião não se constituiria em uma exceção” (CRUZ, s/d, p. 75). Na Alemanha, onde surgiu, o termo é no singular: Ciência da Religião. A abordagem das Ciências das Religiões pode ser “científica, social, empírica, indutiva e causal” (CRUZ, s/d, p. 73), enxergando no seu objeto, a religião3 , como “sistema formalmente idêntico” (idem). O pesquisador Frank Usarski afirma que as Ciências das Religiões constituem- se de um “estudo histórico e sistemático de religiões concretas em suas múltiplas dimensões, manifestações e contextos socioculturais” (s/d, p. 139). O que podemos abordar do vínculo Literatura e Religião é que os textos religiosos possuem elementos narrativos, cenários, espaço-tempo, personagens que se cruzam, apesar de inseridos em mundos, até então, diferentes (NOGUEIRA, 2015). As religiões, “para falar sobre mundo e a realidade4 [...] discursam sobre mundos, 2 Logo, o sentido de ideologia não deve ser levado emseu tomde puro negativismo, como algo que impõe e exclui: está mais para algo íntimo, no sentido de relações que estão à nossa volta, influências que nos fazem permanecer crentes de que estamos corretos emnossos atos, que regemas concepções daquilo que tomamos como morais, éticas, que direcionam os nossos pensamentos, posturas explicativas do que intentamos representar, entender, justificar, conceituar. 3 “Religião, entidade singular, ou as religiões, pluralidade de entidades” (USARSKI, 2006, p. 65). A religião pode atuar como “sui generis, como uma entidade ontologicamente independente e não condicionada” (USARSKI, 2006, p. 71). Cruz assim manifesta-se: “as religiões são geradas pela necessidade do homem, seja ele das cavernas como para o nosso homem moderno” (s/d, p. 79), de obter explicações semrespostas, para as mais variadas dúvidas regentes de seu universo/mundo/sociedade. 4 E o que se convém chamar realidade? E seu oposto, a ficção? Usando a obra de Aleida Assmann A legitimidade da ficção, Nogueira propõe que seja entendida a ficção, quebrando com certos sensos comuns que apenas a definemcomo oposto da realidade, quando a realidade por si só, parece tarefa difícil de ser explicada para funcionar como paralelo opositivo e de certa mentira fantasiosa, que estaria ancorada na ficção. “Considerar o mundo real como equivalente ao visível, material e verificável é resultado de uma construção histórica, que por sua vez vulgariza modelos epistemológicos datados. É diante desse tipo de visão de mundo e do que é „real‟ que se define o que é ficção. Nesse jogo contra o senso comum a ficção é definida como o que não existe, o que é inventada, ou como uma mentira. Assmann insiste que o elemento ficcional está supreendentemente subjacente aos modelos de realidade e que estes estão historicamente construídos” (apud NOGUEIRA, 2015, p. 125).
  • 4. 4 personagens [...] Narrativas e metáforas se unem para formar as representações labirínticas da linguagem da religião” (NOGUEIRA, 2015, p. 116 e 118). E diante deste cenário, qual seria o papel das Ciências das Religiões? Poderiam exercer não apenas a função de crítica às ideologias religiosas, mas também poderiam provocar, por meio de estudos das estruturas ficcionais da linguagem e da consideração das relações da religião com a literatura e com as artes em geral, a redescoberta do potencial criativo latente da religião (NOGUEIRA, 2015, p. 141). Dentro do universo das Ciências das Religiões, essa possibilidade de diálogo entre literatura, ou seja, manifestações religiosas e poesia atuam como modelos de compreensão do mundo/sujeito. Como proposta deste trabalho, pretende-se apresentar uma interpretação das poesias The Soldier de Rupert Brooke e Suicide in the Trenches de Siegfried Sassoon, tendo como ponto de discussão o encanto e o desencanto em relação à guerra, bem como os discursos, propagandas e estratégias bélicas, políticas e religiosas que mantém intimidade com os escritos dos poetas-soldados. A estratégia de interpretação das poesias em questão é levada em consideração pela tríade obra- escritor-leitor. Sobre a obra/texto procuramos observar de que modo essas poesias dentro de um “contexto social, suas relações com o ambiente e suas diferenças com esse mesmo ambiente, a maneira pela qual se comporta, as finalidades que lhe podem ser dadas e as práticas humanas que se acumulam à sua volta” (EAGLETON, 2006, p. 14) atuam como produções de fragmentos e realidades oferecidas pelas diferentes perspectivas de participação, entendimento e vivência desses poetas soldados sobre o vivenciar o momento dentro e fora da guerra, da poesia como propaganda de promoção dos ideais de guerra e da postura de reveladora das verdades horrendas quando o papel desempenhados por esses escritos igualam-se às realidades de guerra, das quais esses poetas puderam atestar, e cujo os reflexos perturbatórios fizeram a diferença para a luta contra a imoralidade desta guerra. Repleto de significados que precisam da ação de um ato interpretativo, Schollhammer e Olinto dizem que esse texto atua como “um reservatório de [...] decodificação de sentido” (2008, p. 42), expresso pelo escritor, obra e leitor, sujeito para o qual se é destinado o fazer literário.
  • 5. 5 1 O SOAR DAS TROMBETAS: Avante jovens, aos braços da Mãe de Todas as Guerras! Devemos antes de situar o leitor quanto ao que foi o Movimento Modernista Britânico (século XX), os poetas e as poesias escolhidas sobre o panorama da Primeira Guerra Mundial ou a Grande Guerra, que “foi a mãe das guerras dos séculos XX e XXI” (ARARIPE, 2006, p. 342). Iniciou-se em 1914 e encerrou-se em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes (Tratado de Paz). Este acontecimento “enterrou a noção de que uma guerra se inicia e termina no campo de batalha, sem deixar sequelas para as partes envolvidas” (SILVA, 2005, p. 262). Cogita-se que o principal motivo desta guerra teria sido o assassinato do herdeiro do Império Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco Ferdinando e sua esposa Sofia, em Saravejo, no dia 28 de julho de 1914, por Gavrilo Princip, um militante da Sérvia5 (MEDEIROS, 2014). Resumindo: A 1ª Guerra Mundial foi um resultado do chauvinismo, de ambições de prestígio nacional, da competição capitalista pelos mercados e por novos campos de investimento, dos ódios seculares entre as nações e dos tremores suscitados pelas crises e pelas corridas armamentistas (BURNS, s/d, p. 384-385). Os dois blocos formados, neste insano momento, foram: Tríplice Aliança e seus aliados, formados pela Alemanha, Império Austro-Húngaro, Itália, Turquia e Bulgária; do outro, a Tríplice Entente e seus aliados, constituída pela França, Inglaterra, Rússia, Bélgica, Sérvia, Japão, EUA e Grécia. O Brasil foi o único país sul- americano a entrar nesse conflito, declarando guerra à Alemanha (SILVA, 2005, p. 263). É válido destacar que na Grande Guerra há um desdobramento de duas fases de batalha: a Guerra de Movimento e a Guerra de Trincheiras ou de Posição (FAINGOLD, s/d). A primeira (Movimento) iniciou em agosto de 1914, quando a Alemanha invadiu Luxemburgo e a Bélgica. O término fora em novembro do mesmo ano por meio da Batalha do Marne (ARARIPE, 2006). A segunda (Trincheiras) teve 5 “Desde o começo do século XX a [...] Sérvia sonhava estender a jurisdição sobre todos os povos [...] Depois de 1908, quando a Áustria (re)anexou a Bósnia e a Herzegovina, o plano da [...] Sérvia dirigiu-se exclusivamente contra o império dos Habsburgos [...] Daí adveio uma série de perigosas conspirações contra a paz e a integridade da Monarquia Dual” (BURNS, s/d, p. 359). Contudo, causas anteriores a esse período serviram de combustível a mais na guerra como afirmam Sípoli Cól e Boni (2005) que alertam para os diversos conflitos na Europa, que geravam tensões constantes e ameaças de que os dias de paz estavam sendo contados. Lembremos também do período denominado Paz Armada marcado pela precaução europeia de juntar armas para possíveis momentos de combate que logo viriam a ser reais (MEDEIROS, 2014).
  • 6. 6 como ponto de partida a Batalha de Artois, em junho de 1915 e finalizou em agosto de 1918 (ARARIPE, 2006). A Primeira Guerra Mundial “durou tão mais do que os governos haviam previsto, e consumiu tão mais homens e armamentos” (HOBSBAWM, 1995, p. 43). Os britânicos perderam meio milhão de homens (HOBSBAWM, 1995). Estima-se que a faixa etária destes homens eram em torno de 19 a 40 anos de idade (ARARIPE, 2006). Medeiros (2014) encerra seu pensamento sobre esta guerra, dizendo que ela: Envolveu direta e indiretamente, mais de 30 países de todos os continentes, com maior ou menor grau de participação [...] O conflito [...] deixou cerca de 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos, além de resultar na queda de quatro impérios: Russo, Austro-Húngaro, Alemão e Otomano (estado Turco) (2014, s/p). Em 26 de junho de 1919 foi assinado o Tratado de Versalhes (Tratado de Paz) em Paris, estabelecendo as diretrizes para os vencedores e perdedores da guerra. E sobre o momento literário denominado de Movimento Modernista Britânico? Ele teve como cenário, sentimentos de incertezas e pessimismos oriundos das trombetas apocalípticas de uma provável guerra eficaz, ligeira e enobrecedora: é notório um romantismo inicial sobre uma suposta honra e beleza na guerra. Sendo assim, o momento literário britânico denominado de Modernista trouxe todo o poder da poesia. Alguns dos representantes dessa fase foram os poetas-soldados ingleses, dentre eles destacamos 16 poetas: Charles Sorley (1895-1915), David Jones (1895-1974), Edmund Blunden (1896 – 1974), Edward Thomas (1878 – 1917), Herbert Edward Read (1893-1968), Isaac Rosenberg (1890-1918), Ivor Gurney (1890-1937), Julian Grenfell (1888 – 1915), Richard Aldington (1892 – 1962), Robert Graves (1895 – 1985), Robert Laurence Binyon (1869-1943), Robert Malise Bowyer Nichols (1893- 1944), Rupert Brooke (1887 – 1915), Siegfried Sassoon (1886-1967), Wilfred Owen (1893-1918) e Wilfrid Wilson Gibson (1878 – 1962) (SILVA, 2005). Silva conclui que a principal abordagem da literatura modernista será: “a 1ª Guerra Mundial, os regimes totalitários e a 2ª Guerra Mundial” (2005, p. 261). Discorreremos a seguir sobre a propaganda de guerra militar, jornalística, literária, religiosa e social perceptível nesses escritos e a memória de um passado histórico, do qual as lições deixadas por esta guerra são percebidas nas obras até hoje destes poetas-soldados.
  • 7. 7 2 A ATUAÇÃO DOS POETAS-SOLDADOS E O PODER DE SEUS ESCRITOS: De propaganda ao desencanto “romântico-bélico” Uma das armas mais perigosas, semelhantes àquelas destinadas a matar, em dadas ocasiões: assim a propaganda constitui-se em uma ferramenta poderosa para desejos de guerra orquestrados pelas instâncias políticas e militares, tendo como suporte em alguns momentos, um direcionamento a favor, e em outras horas, como denunciador, formado também pela mídia, escritores, intelectuais e instituições religiosas. Na Inglaterra, em 1914, foi criada a Agência de Propaganda da Guerra (Bastos, s/d), com o objetivo de instigar os sentimentos ufanistas/patrióticos da população na causa de defender a pátria a qualquer custo, incitando o alistamento de jovens. Os jovens foram amplamente recrutados através de uma forte propaganda persuasiva, que retratou a guerra como uma oportunidade para os jovens defenderem o seu país e levantarem a bandeira alto nos campos de batalha, moverem sua bravura e heroísmo, apreciarem a aventura da ação e saborearem o prazer das batalhas (SAGHER, s/d, p. 218)6 . Os meios comunicativos/jornalísticos/midiáticos estavam em dois lados da história: ora silenciados pelo Lord Kitchener, ministro de Guerra na Inglaterra, que segundo Mattos (s/d) usava de artimanhas para manter distante a imprensa de noticiar as verdades da guerra; de outro, a imprensa do lado dos articuladores da guerra, que recebiam ordens de silêncio e mentiras. Não podemos deixar de omitir que existiam aqueles que propagavam as verdades da guerra: exemplo esse, é o psicólogo e editor da Cambridge Magazine, Charles Kay Ogden, que em sua revista exibia poemas contrários à guerra; ele teve o prédio destruído de sua empresa por pessoas que achavam que ele não tinha amor pela pátria inglesa (ALBERGE, 2013). Já o discurso religioso na guerra usou a fé e os princípios religiosos na promoção ou justificativa do evento bélico. Os líderes políticos, religiosos e escritores se valiam de uma teologia religiosa para expressar “uma conexão com Deus como um meio para a construção da empatia e compreensão dos chamados a servir” (KARSTEN, 2012, p. 03), com o objetivo de “convencer o povo britânico da validade da guerra e da brutalidade dos inimigos enquanto impulsionam o poder” (KARSTEN, 2012, p. 07). 6 Tradução nossa. Segue o original: Young men were widely recruited through a very strong persuasive propaganda, which portrayed the war as an opportunity for young men to defend their country and raise its banner high in the battle fields, prove their bravery and heroism, enjoy the adventure of action and taste the delight of the battles.
  • 8. 8 Stanley Cooperman insiste em uma forte evidência da representação da luta bíblica entre Deus e Satã: “quer sob a forma de iniciação, metamorfose, purificação, sacrifício, morte ou renascimento, a experiência de guerra é composta de […] padrões míticos” (apud BROSMAN, 1992, p. 95)7 . Ainda destacamos a questão da “morte, sacrifício para alcançar a salvação, redenção, aliança divina na qual Deus defende a causa britânica e que são algumas das conexões estabelecidas entre a relação da guerra e religião” (ROCHA, 2014, p. 42). A propaganda no aspecto literário, em um primeiro momento se deu por meio da poesia. Na cabeça da maioria dos envolvidos direta ou indiretamente na guerra, veio à crença de que tal evento poderia ser uma aventura fascinante, até pela razão de seu ineditismo, se nos recordamos de que era anunciada como a Mãe de Todas as Guerras. Parte destes poetas-soldados mencionados anteriormente viram com seus olhos e sentiram em seus corpos e corações os horrores da guerra “como um resultado muito mais impactante do que obtiveram seus predecessores, e com um pessimismo que parecia aumentar à proporção que a Primeira Guerra Mundial prosseguia” (NETO; MILTON, 2005, p. 223). As primeiras poesias patrióticas foram bem recebidas pelo público. Karsten (2012) afirma que a poesia: Auxiliava o processo de alistamento com discursos, ensaios e poesia patriótica que ligava o serviço na guerra para servir a Deus. Os envolvidos na “Fight For Night Movement” publicavam seu trabalho em prol da causa da Grã-Bretanha somando-se um esforço de propaganda significante pelo governo e mídia. O “Fight For Night Movement” não estava sozinho em seu reconhecimento do poder da poesia; o governo britânico também viu o potencial da poesia como uma ferramenta de propaganda e em setembro de 1914 organizou o “Wellington House Propaganda Departament” mobilizando poetas [...] para trabalharem em nome das metas do governo (KARSTEN, 2012, p. 10)8 . Outros escritores que apoiavam as causas bélicas foram John Masefield, Rudyard Kipling, Robert Nichols, Arthur Conan Doyle e Arnold Bennet (KARSTEN, 2012). No jornal Times, em agosto de 1914, recebia cerca de 100 poemas patrióticos 7 Tradução nossa. Segue original: Whether in the form of initiation, metamorphosis, purification, sacrifice, or death and rebirth, the war experience is made of [...] mythic patterns. 8 Tradução nossa. Segue original: The movement aided the enlistment process with speeches, essays and patriotic poetry which connected service in the war to service to God. Those involved in the “Fight For Night Movement” published their work in support of Britain‟s cause, adding to a significant propaganda effort by the Government and Media. The “Fight For Night Movement” wasn't alone in its recognition of the power of poetry, the British government also saw the potential of poetry as a propaganda tool and in September of 1914 organizes the “Wellington House Propaganda Department”, mobilizing poets […] to work on behalf of government‟s goal.
  • 9. 9 amadores por dia, segundo Karsten (2012). O choque real com a guerra e as tramas por trás da mesma fez com que esses poetas e a sociedade tivessem um novo ponto de vista: de “celebração do nacional, para um campo semântico de interrogação, responsabilidades, valores morais, sentimentos e identidades individuais” (PETROV et al, 2012, p. 64). A beleza da guerra deu lugar à morte, sangue e barbárie. Os escritores soldados “viviam entre a linha tênue de dois mundos: um que abriga o campo literário em oposição ao testemunhal, encarnando características da autobiografia e história” (PETROV et al, 2012, p. 64). James Campbell aponta que “uma estimativa de 75% dos poetas da guerra com formação universitária vieram de Oxford ou Cambridge” (1999, p. 13)9 . Eles produziram a First Literary War (Primeira Literatura de Guerra), no que podemos denominar de transição do momento de encanto para o desencanto, pois a narração estava atrelada a vivência do escritor (PETROV et al, 2012), sendo o texto produzido um autêntico testemunho do acontecimento. Essa Literary War também pode “exprimir um excesso de memória individual contra uma falha de memória coletiva” (PETROV et al, 2012, p. 65). James Campbell (1999) vai definir essa nova poesia literária como a Poesia Lírica das Trincheiras, poesia que: Apresenta traços conservadores e realísticos que giram em torno da experiência oriunda do combate direto na guerra. O elemento mais importante e definidor desse tipo de poesia, portanto, é a ênfase na experiência pessoal construída por meio da observação direta do fato. Todos aqueles ideais românticos são postos de lado. Na verdade, são renegados. A beleza de outrora se revela como a mais deformante feiura que destrói na mente de um público ingênuo, qualquer glamour ou ideais patrióticos exacerbados na guerra, que cegam os olhos daqueles que nunca acharão a luz no fim do túnel para sair das trevas ao qual estão imersos (ROCHA, 2014, p. 50). 3 AS PERCEPÇÕES REAIS DA GUERRA E O DIRECIONAMENTO POÉTICO FRENTE AO CAMPO DE BATALHA Escolhemos uma poesia do poeta que representa esse momento de encanto, patriotismo e romantismo da guerra para uma rápida análise: The Soldier (1914) do 9 Tradução nossa. Segue original: One estimate is that 75 percent of the university-educated war poets went to either Oxford or Cambridge.
  • 10. 10 autor Rupert Chawner Brooke10 (1887 – 1915). O poeta inglês nasceu em 3 de agosto de 1887 em Rugby. Ganhou seu primeiro prêmio de poesia em 1905, aos nove anos de idade. Em 1909 tem a oportunidade de publicar seus poemas. Escrevia sobre o companheirismo e o amor, demonstrando grande sentimentalismo (_____. Site Poets Org, s/d) 11 . Mas nem tudo são flores na vida do escritor, que era conhecido por sua incrível beleza: o relacionamento conturbado com sua mãe refletiu em amores não resolvidos em sua vida sexual, com seus parceiros homens e mulheres. Também em 1912, Rupert parece desenvolver algum transtorno mental, no qual explica-se muitas de suas viagens à América do Norte e ao Pacífico (_____. Site Poets Org, s/d). Alistou-se em 1914 na Divisão Naval Real durante o início da Primeira Guerra Mundial. Continuou a escrever suas poesias (_____. Site Poets Org, s/d). O louvor patriótico de Rupert Brooke, um poeta-soldado de importância no movimento modernista inglês, se estendeu para suas obras como afirma Daily (2009). Em 23 de abril de 1915, esteve à frente da Expedição de Antuérpia. Morreu aos 28 anos de idade, vitimado por um quadro septicemia12 gerado pela mordida de um mosquito; ele estava na companhia de seus colegas da Força Expedicionária Britânica do Mediterrâneo (WILSON, s/d). A ilha de Skyros, no Mar Egeu, serviu de lugar de repouso para o jovem poeta-soldado. Mesmo tido como um poeta fanático e cego, em relação à guerra, apesar de ter visto os horrores iniciais do evento, talvez o pouco de tempo que conviveu e as experiências impactantes que poderiam ser exploradas ao término de sua missão, que ocasionou sua morte, tenham impossibilitado o público de perceber este despertar de Rupert, lembrando que ele foi apenas mais um dos tantos iludidos com as causas e promessas da guerra, que hoje, depois de tanto tempo, são do conhecimento do público 10 Lista de obras completas: Poesia: Poems (1911)/ Georgian Poetry, 1911-1912 (1912) 1914/ Other Poems (1915)/ The Collected Poems of Rupert Brooke (1915)/ The Collected Poems of Rupert Brooke (1918)/ The Poetical Works of Rupert Brooke (1946) Prosa: Lithuania: A Drama in One Act (1915)/ John Webster and the Elizabethan Drama (1916)/ Letters From America (1916)/ Democracy and the Arts (1946)/ The Prose of Rupert Brooke (1956) / The Letters of Rupert Brooke (1968)/ Rupert Brooke: A Reappraisal and Selection From His Writings, Some Hitherto Unpublished (1971)/ Letters From Rupert Brooke to His Publisher, 1911-1914 (1975). Fonte: Site Poets Org. Disponível em: https://www.poets.org/poetsorg/poet/rupert-brooke. Acessado em 17 de junho de 2017. 11 Fonte: Site War Poets. Disponível em: http://www.warpoets.org/poets/rupert-brooke-1887-1915/. Acessado em17 de junho de 2017. 12 Conhecida como choque séptico, é uma “infecção generalizada por todo o corpo causada por bactérias que infectam o sangue. É uma condição potencialmente fatal que afeta diretamente os pulmões, os rins e o coração”. Fonte: Site Tua Saúde. Disponível em: http://www.tuasaude.com/septicemia/. Acessado em17 de junho de 2017.
  • 11. 11 e ainda sim, novas descobertas históricas reescrevem a trajetória deste fato nas linhas do tempo. Contudo, o poema escolhido é The Soldier (1914), no qual exprime esse sentimento de amor e luta sem limites para defender a Mãe-Inglaterra. Vejamos a seguir: O soldado13 Se eu morrer, pense somente isto de mim: Que existe algum canto de um campo estrangeiro Que é para sempre Inglaterra. Haverá nessa terra rica uma poeira mais rica escondida; Uma poeira que a Inglaterra, perfurou, moldou, fez consciente, Deu uma vez, suas flores para amar, seus caminhos para percorrer, A Inglaterra de um corpo, respirando ar inglês, Lavou pelos rios, abençoada pelos sóis de casa. E imagina, este coração, todo o mal derramado fora, Nada a menos que um impulso na mente eterna Devolve a algum lugar os pensamentos dados pela Inglaterra; Suas visões e sons, sonha feliz como o seu dia (da Inglaterra); E a risada, apreendida pelos amigos; e a gentileza, Em corações de paz, abaixo de um céu inglês. Percebemos que a pátria é exaltada como refúgio seguro e como lembrança nostálgica, um paraíso perdido na Terra, e sendo o Paraíso espiritual almejado pelo soldado, onde a alma deste, morto, poderá descansar em paz e aliviar seu sofrimento. Era claro o desejo de morrer, mas sabendo que aquela terra sagrada aguardava o corpo imundo de um homem, de um soldado infeliz e de seu destino. Há certa alegria em morrer pela defesa desta terra inglesa. Foi quando os poetas-soldados convivendo por mais período com as atrocidades da guerra e vendo-se como marionetes ou joguetes de poderosos, que em casa, arquitetavam as tramas da guerra, que o resultado produzido por este desencanto fez com que fossem difundidos os acontecimentos reais pertencentes às batalhas e a vida dos soldados. 13 Tradução nossa. Segue o original: The Soldier If I should die, think only this of me:/ That there‟s some corner of a foreign field/ That is for ever England. There shall be/ In that rich earth a richer dust concealed;/ A dust whomEngland bore, shaped, made aware,/ Gave, once, her flowers to love, her ways to roam,/ A body of England‟s, breathing English air,/ Washed by the rivers, blest by suns of home.// And think, this heart, all evil shed away,/ A pulse in the eternal mind, no less/ Gives somewhere back the thoughts by England given;/ Her sights and sounds; dreams happy as her day;/ And laughter, learnt of friends; and gentleness,/ In hearts at peace, under an English heaven. Fonte: ____. Poema The Soldier. Disponível em: http://www.englishverse.com/poems/the_soldier. Acessado em17 de junho de 2017.
  • 12. 12 O choque social, religioso, jornalístico e literário com a verdade nas trincheiras, a fome, as doenças, as imoralidades, a tecnologia usada para matar, o sangue, a demência, as doenças de guerra (febre de trincheiras, shell-shock14 , etc) com certeza produziram um olhar mais crítico e protestativo sobre a guerra (PETROV et al, 2012). A escolha da poesia e do poeta para esta fase é Suicide in the Trenches (1918) do autor Siegfried Loraine Sassoon15 . O mesmo nasceu em Matfield, em 08 de setembro de 1886, Kent. No Clare College em Cambridge, Sassoon estudou Direito e História em 1905, mas abandonou tudo para seguir uma vida literária, publicando em revistas literárias da Universidade (MARTIN, 2013). Alistou-se no Exército Britânico em 03 de agosto de 1914, movido a princípio por um patriotismo. Entre 1914 e 1915, Sassoon lança 13 poemas de guerra patrióticos: Discoveries é o nome do livro que os reúnem (ROCHA, 2014). Sassoon pertenceu ao Royal Welch Fusiliers, ao 3º Batalhão Especial, foi promovido a 2º Tenente, apelidado de Mad Jack e Kangar por suas façanhas quase suicidas (PATRICK CAMPBELL, 1999); serviu no 1º Batalhão na França, onde se 14 O termo shell shock foi designado pelo médico Charles Myers, do Royal Army Medical Corps, no período de setembro de 1914, data esta que marca o surgimento dos primeiros casos da doença. Com a guerra, o número de casos de histeria aumentaram drasticamente e uma população de homens jovens que estavam supostamente físico e psicologicamente aptos para defender a nação britânica nas batalhas, também foram acometidos por tal enfermidade (HIPP, 2005). Dentre os estudos sobre essa doença, dois tipos de histeria poderiam ser observados: a primeira convertida em distúrbios e a segunda, ligada a histeria por ansiedade. “A guerra renderia casos genuínos de psicose, além de neuroses, para alguns soldados pré-dispostos a doenças que hoje chamamos de esquizofrenia” (HIPP, 2005, p. 20). Os sintomas mais comuns desta enfermidade, citados por Hipp (2005) que atingiam os soldados eramque eles ficavam mudos, surdos, com amnésia, tremores, alucinações (visões alucinógenas e pesadelos que refletiam as experiências individuais da guerra), fadiga, irritabilidade, nervosismo, dentre outros. Esses distúrbios cerebrais, físicos e psicológicos que tinham relação com a guerra, “no final do século XX, seriam agrupadas como Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT)” (SONDHAUS, 2011, p. 404). No final, o shell shock é só mais um ferimento tão quanto mortal para o soldado. 15 Lista de obras completas: Poesias publicadas anonimamente: Poems (1906)/ Orpheus in Diloeryium (1908)/ Sonnets (1909)/ Sonnets and Verses (1909)/ Melodies (1912)/ Morning Glory (1916) Poesias: Twelve Sonnets (1911)/ Poems (1911)/ An Ode for Music (1912)/ Hyacinth: An Idyll (1912)/ Amyntas (1913)/ The Daffodil Murderer (1913)/ Discoveries (1915)/ The Redeemer (1916)/ To Any Dead Officer (1917)/ The Old Huntsman (1917)/ The General (1917)/ Does it Matter? (1917)/ Counter- Attack and Other Poems (1918)/ The Hero [1918]/ Picture-Show (1919)/ War Poems (1919)/ Aftermath (1920)/ Recreations (1923)/ Selected Poems (1925)/ Satirical Poems (1926)/ The Heart's Journey (1928)/ To My Mother (1928)/ On Chatterton: A Sonnet (1930)/ In Sicily (1930)/ To the Red Rose (1931)/ Poems by Pinchbeck Lyre (1931)/ Prehistoric Burials (1932)/ The Road to Ruin (1933)/ Vigils (1935)/ Rhymed Ruminations (1940)/ Poems Newly Selected (1940)~/ Early Morning Long Ago (1941)/ Collected Poems (1947)/ Common Chords (1950/1951)/ Emblems of Experience (1951)/ Faith Unfaithful (1954)/ Renewals (1954)/ The Tasking (1954)/ Sequences (1956)/ Lenten Illuminations (1959)/ The Path to Peace (1960)/ Arbor Vitae and Unfoldment (1960)/ Awaitment (1960)/ A Prayer at Pentecost (1960)/ Collected Poems (1961)/ Something about Myself (1966)/ An Octave: 8 September 1966 (1966) Prosa: Memoirs of a Fox-Hunting Man (1928)/ Memoirs of an Infantry Officer (1930)/ Sherston's Progress (1936)/ Complete Memoirs of George Sherston (1937)/ The Old Century and seven more years (1938)/ On Poetry (1939)/ The Flower Show Match and Other Pieces (1941)/ The Weald of Youth (1942)/ Siegfried's Journey (1946)/ Meredith (1948) (ROCHA, 2014).
  • 13. 13 tornou amigo íntimo de Robert Graves, além de outros relacionamentos afetivos com rapazes. Nas Trincheiras presenciou o horror da guerra (ROCHA, 2014). Em 1917 fora vitimado pela febre da trincheira e escapou da morte quando um atirador alemão quase o matou (MARTIN, 2013). No mês de junho de 1917, escreveu o protesto Declaration of Defiance: Finished with the War, a Soldier’s Declaration16 , escancarando o sofrimento dos soldados (especialmente aqueles que viviam nas trincheiras, visto que Sassoon também foi um deles) e a omissão do sistema político, que parecia desejar prolongar a guerra, implicando no sofrimento de toda a sociedade (HIPP, 2005). Robert Graves e Robert Ross conseguiram persuadir as autoridades militares e uma junta médica de que o amigo Sassoon estava sofrendo de shell shock, enviando ao Craiglockhart Hospital em Edinburgh. Após recuperar-se, é enviado em de março de 1918 a março de 1919 para a trincheira na Palestina e depois para a França, sempre acompanhando o seu antigo regimento, o 25º Batalhão do Royal Welch Fusilers (PATRICK CAMPBELL, 1999). Atingido por fogo amigo e suspeito de se encontrar em “um estado de sleepless exausperuicide” (PATRICK CAMPBELL, 1999, p. 13). Sassoon foi hospitalizado numa unidade médica em Lancaster Gate, Londres. Em 1957, ele se converteu à Igreja Católica Apostólica Romana. A nova fase da vida literária de Sassoon, agora, gira em torno de poemas de cunho espiritual ou odisseia religiosa em que o autor chamou de “enunciação direta da emoção dramatizada” (MARTIN, 2013, p. 13)17 . Morreu em 1º de setembro de 1967, em Heytesbury, Wiltshire. O poema Suicide in the Trenches é o último desta análise. Abaixo segue o texto: Suicídio nas Trincheiras18 Eu conheci um soldado, um simples garoto Que sorriu para uma vida de alegria vazia Dormiu profundamente através da solitária escuridão E assobiou cedo com a cotovia. Em trincheiras, no inverno, intimado e triste Com um som alto e piolhos, e ausência de rum Ele colocou uma bala em seu cérebro 16 Referência: http://www.oucs.ox.ac.uk/ww1lit/collections/sassoon. Acessado em17 de junho de 2017. 17 Tradução nossa. Segue o original: Direct utterance of dramatized emotion. 18 Tradução nossa. Segue o original: Suicide in the Trenches I knew a simple soldier boy/ Who grinned at life in empty joy,/ Slept soundly through the lonesome dark,/ And whistled early with the lark.// In winter trenches, cowed and glum,/ With crumps and lice and lack of rum,/ He put a bullet through his brain./ No one spoke of him again.// You smug-faced crowds with kindling eye/ Who cheer when soldier lads march by,/ Sneak home and pray you'll never know/ The hell where youth and laughter go.
  • 14. 14 Ninguém falou dele novamente. Você, vê multidões de faces convencidas e olhos em brasa Que alegria quando os garotos soldados marcham Espreito em casa e rezo para que você nunca saiba O inferno onde vão jovens e risos! O soldado de Siegfried é semelhante aos soldados dos campos de batalhas: Amedrontados, aterrorizados, impotentes, perturbados, iludidos, envergonhados, com uma fragilidade emocional lactante [...] com seus traumas de guerra, as famílias iludidas, governo e militares inescrupulosos, conflitos entre as autoridades militares e seus subordinados, com sátiras sociais e religiosas (ROCHA, 2014, p. 75). O horror da guerra, bem como o choque com a barbárie, produz efeitos perturbatórios na alma e na mente deste soldado. A descrição da imundice e da precariedade alimentar e higiênica das trincheiras é eminente. A sociedade parece ainda omissa da realidade, insensível quanto aos sofrimentos dos soldados, pois era preferível morrer em batalha, do que voltar à sua cidade natal como um covarde, fugindo da guerra. Para Sagher “Sassoon está sempre zangado com os civis em casa que não sabem o que é a guerra, assim eles estão tão entusiasmados a respeito dela, empurrando e encorajando os jovens soldados para juntar-se a ela” (s/d, p. 221)19 . Em Suicide in the trenches há veias de críticas ferozes aos apoiadores da guerra, que em virtude de sua ignorância das atrocidades que nela regem, insistem em permanecer de olhos fechados, mesmo quando a verdade anseia em penetrar em sua vida, como uma luz no fim do túnel [...] Vale acrescentar que a crítica não se estende aos civis insensíveis ou ao governo,mas também a toda instituição militar, pois o soldado é apenas visto como um artefato ou objeto de guerra descartável. Sua importância se dá somente enquanto ainda em seu derradeiro suspiro, há forças de lutar. A última linha do poema assinala esta insignificância humana. O soldado é logo substituído por outro que seja capaz de lutar (ROCHA, 2014, p. 76). A natureza mórbida de impotência e culpa funciona como um flerte com a morte (HIPP, 2005). Banerjee explica que as “metáforas de inverno, neve e gelo são frequentemente usadas para representar a morte e sugerir a miséria do inverno nas trincheiras. Essas metáforas reforçam o impacto da morte” (s/d, p. 23). Finalmente, o inferno para qual os jovens e risos vão, assim são entendidas por Karsten: “essas 19 Tradução nossa. Segue texto original: Sassoon is always angry with the civilians at home who do not know what was is, yet they are so enthusiastic about it pushing and encouraging the young soldiers to join it.
  • 15. 15 referências para o purgatório e o inferno pairam na face das mensagens do serviço e salvação em muito dos primeiros poemas de guerra apresentados” (2012, p. 30)20 , o que muito tem vínculo com traços de um discurso religioso propagado na guerra, como já discutimos anteriormente. O destino final do soldado de Sassoon, não é diferente dos soldados reais que conviveram com o escritor: é uma metáfora para os terrores da guerra e para o abominável término da vida destes muitos combatentes, que se convertem nas diversas manifestações da morte. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Por entre as linhas deste artigo, discutimos a relação da Literatura e Ciências das Religiões, como ponto de partida para a compreensão de duas poesias de poetas- soldados que relatam seu posicionamento sobre a guerra. Entendemos como a poesia serviu como um dos instrumentos propagandísticos de ideias de guerra e em outro momento, como denunciadora da verdade por trás da guerra, nos campos e trincheiras onde ocorriam as batalhas, no cenário britânico do Movimento Modernista em que os primeiros indícios da Mãe de Todas as Guerras estavam sendo moldados: amor a Deus; defesa da pátria Inglaterra; a luta contra Satã; ser herói para a família; o romantismo iludido; as fantasias de quem em casa escreve sobre o evento bélico; os desfiles na cidade; os selos de guerra; o patriotismo ufanista/utópico; jovens que se aventuram sem saber que a morte é o mestre de todas aquelas vidas; que não há verdade, o lado certo ou vencedor a não ser rostos encobertos nas sombras comandando vidas, pessoas, rumo a maior carnificina histórica registrada. Todos os setores que antes eram encantados com a guerra ou se venderam para os orquestradores e os que ganhavam com a guerra, pouco a pouco se esbarram com a loucura dos jovens soldados, a fome, miséria, doenças nas trincheiras, o sangue, a morte, as mentiras e perguntam-se o porquê de ainda acreditar nesta guerra: foi nesse momento de realidade revelada através das vivências da guerra, que uma nova poesia surgiu, com o “compromisso de fazer com que a sociedade fosse capaz de conhecer os 20 Tradução nossa. Segue o texto original: These references to purgatory and hell fly in the face of the messages of service and salvation many of early war poems presented.
  • 16. 16 horrores do evento bélico e as mentiras utilizadas para sustentar as artimanhas das batalhas” (ROCHA, 2014, p. 56). REFERÊNCIAS ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (Org). História das Guerras. 3ª edição. São Paulo, 2006. ALBERGE, Dayla. Rascunho de Poeta da 1ª Guerra revela corte de versos polêmicos de poema. In: Caderno Ilustríssima. Folha de São Paulo, 08 de fevereiro de 2013. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2013/02/1227464-rascunho- de-poeta-da-1-guerra-revela-corte-de-versos-polemicos-de-poema.shtml>. Acesso em: 12 maio 2017. BANERJEE, Dr. Bidisha. War Poetry. Disponível em: <http://warpoets.org.uk/wp- content/uploads/2014/04/War-Poetry-21.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017. BASTOS, Expedito Carlos Stephani. Ganhar a Guerra: a propaganda inglesa, francesa e americana na Primeira Guerra Mundial 1914-1918. Disponível em: <http://www.ecsbdefesa.com.br/fts/abcDesign18.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017. BROSMAN, Catherine Savage. The function of war literature. Journal of the South Central. Modern Language Association. Vol. 9, Nº 1, p. 85-98, 1992. Disponível em: <http://www.jstor.org/discover/10.2307/3189388?uid=2&uid=4&sid=21105038248263 >. Acesso em: 12 maio 2017. BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental: do homem das cavernas até a bomba atômica. Tradução: Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro. Volume II. 2ª edição. Editora Globo, 1957. CAMPBELL, James. Combat Gnosticism: The ideology of First World War Poetry Criticism. In: New Literary History, Vol. 30, Nº 01. Poetry & Poetics (Winter, 1999). P. 203-215. Publisher by The John Hopkins Univesity Press. Disponível em: <http://www.jstor.org/discover/10.2307/20057530?uid=2&uid=4&sid=2110351369192 3>. Acesso em: 18 maio 2017. CAMPBELL, Patrick. Siegfried Sassoon: A study of the war poetry. North Carolina, USA: McFarland and Company Incorporated, 1999. CÂNDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9ª edição. Rio de Janeiro: Editora Ouro sobre Azul, 2006. CASTRO, Gustavo de e GALEANO, Alex (Organizadores). Jornalismo e Literatura: a sedução das palavras. São Paulo: Escrituras Editora e Distribuidora de Livros LTDA, 2002.
  • 17. 17 CRUZ, Eduardo R. Estatuto Epistemológico da Ciência da Religião. Revista de CiberTeologia, Ano X, nº 47. São Paulo. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org.br/ciberteologia/wp- content/uploads/downloads/2014/09/notacinco.pdf>. Acesso em: 18 maio 2017. DAILY, Rubi. The war poet and his shell shock: The journey that spoke for the Great War. In: The Wittenberg History Journal. New Perspective on War and Women. Wittenberg University. Volume XXXVIII. Springfield, Ohio, 2009. Disponível em: <http://www4.wittenberg.edu/academics/hist/historyjournals/2009.pdf>. Acesso em: 18 maio 2017. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: Uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra. 6ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2006. FAINGOLD, Prof. Dr. Reuven. Slide Primeira Guerra Mundial – 1914/1918. Universidade Hebraica de Jerusalém. Disponível em: <http://dc180.4shared.com/doc/1swZ5orB/preview.html>. Acesso em: 18 maio 2017. HIPP, Daniel. The Poetry of Shell Shock: Wartime Trauma and Healing in Wilfred Owen, Ivor Gurney and Siegfried Sassoon. EUA: McFarland and Company Incorporated, 2005. HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. Tradução de Marcos Santarrita. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. KARSTEN, Brian. The Church of Craiglockhart: Wilfred Owen and Siegfried Sassoon„s Critique and Use of Religion in their World War I Poetry. Grand Valley State University. Masters Theses. Paper 38. 2012. Disponível em: <http://scholarworks.gvsu.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1037&context=theses>. Acesso em: 23 maio 2017. MARTIN, Eden. Collection Sassoon. In: Journal of the Caxton Club. Volume XXI, Nº 01. January 2013. Disponível em: <http://www.caxtonclub.org/reading/2013/jan13.pdf>. Acesso em: 23 maio 2017. MATTOS, Sérgio. Censura de Guerra: Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Disponível em: <http://www.sergiomattos.com.br/liv_crimeia04.html>. Acesso em: 23 maio 2017. MEDEIROS, Padre Inácio. Diário de Guerra: A participação de um redentorista na Primeira Guerra Mundial- Memórias. 2014. Disponível em: <http://www.a12.com/redentoristas/noticias/detalhes/diario-de-guerra-a-participacao- de-um-redentorista-na-primeira-guerra-mundial-memorias>. Acesso em: 23 maio 2017. NETO, Alípio Correia de Franca e MILTON, John. Literatura Inglesa. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2009. NOGUEIRA, Paulo Augusto de Souza. Religião e Linguagem: abordagens teóricas interdisciplinares. Coleção Sociologia e Religião. São Paulo: Editora Paulus, 2015.
  • 18. 18 OLIVEIRA, Solange Ribeiro de. Perdida entre signos: Literatura, Artes e Mídias hoje. Faculdade de Letras da UFMG. Belo Horizonte, 2012. PETROV, Petar; SOUSA, Pedro Quintino de; SAMARTIM, Roberto López-Iglésias e FEIJÓ, Elias J (Eds). Avanços em Literatura e Culturas Portuguesas: Século XX. Vol. 02. Através Editora, 2012. PINTO, Márcia de Oliveira. O jornalismo como gênero literário. Departamento de Comunicação Social/ UERN Contexto. V. 3, Nº 3, Jan-Jul/ 2008, p. 59-72. Disponível em: <http://periodicos.uern.br/index.php/contexto/article/viewFile/45/43>. Acesso em: 23 maio 2017. ROCHA, Francisca Raquel Queiroz Alves. Jornalismo e Literatura: A análise da poesia de guerra de Siegfried Sassoon. Universidade Federal do Cariri- UFCA. Juazeiro do Norte, 2014. SAGHER, Prof. Saad Kassim. Siegfried Sassoon, Wilfred Owen & World War I. P. 218- 229. Disponível em: <http://www.iasj.net/iasj?func=fulltext&aId=61898>. Acesso em: 23 maio 2017. SCHOLLHAMMER, Karl Erik e OLINTO, Heidrun Krieger (Organizadores). Literatura e Cultura. Rio de Janeiro: Editora PUC Rio, 2008. SILVA, Alexander Meireles da. Literatura Inglesa para Brasileiros– Curso Completo de Literatura Inglesa para estudantes brasileiros. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2005. SÍPOLI CÓL, Ana Flávia e BONI, Paulo César. A insustentável leveza do clique fotográfico. Discursos Fotográficos. Volume 1, p. 23-56. Londrina, 2005. Disponível em:<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/discursosfotograficos/article/viewFile/146 5/1211>. Acesso em: 26 maio 2017. TESTA, Fernando Gregianin. Resenha do Livro As Ciências das Religiões de Giovanni Filoramo e Carlo Prandi. São Paulo: PAULUS, 1999. Disponível em: <http://cienrelfi.org/resumo-de-cprandi-g-filoramo-as-ciencias-das-religioes/>. Acesso em: 17 junho 2017. USARSKI, Frank. Constituintes da Ciência da Religião: cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006. WILSON, Thomas H. My Humanities- The War Poets. Disponível em: <http://www.azhumanities.org/wp-content/uploads/2014/02/My-Humanities-The-War- Poets.pdf>. Acesso em: 17 junho 2017.
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