Este documento discute as perspectivas clássicas de Platão e Aristóteles sobre o conhecimento (Episteme). Ele explora como Platão via o conhecimento como opinião verdadeira justificada através da razão, enquanto Aristóteles via o conhecimento científico como tendo uma estrutura demonstrativa dedutiva baseada em princípios.
2. PRIMEIROS DIÁLOGOS
PLATÔNICOS
há várias perspectivas sobre
o conhecimento, que
constituem o que se poderia
designar pela teoriateoria
epistemológica da juventudeepistemológica da juventude
de Platão.de Platão.
3. DIÁLOGOS DA JUVENTUDE
parecem transmitir um programa proto-proto-
cépticocéptico, que se propõem refutar personagens
que directa ou indirectamente apresentam
pretensões fortes em relação ao
conhecimento.
5. SOLUÇÃO PLATÓNICA
todo o ensino e investigação não é senão
reminiscênciareminiscência de algo previamente conhecido
(81d5, 86bc).
6. CONHECIMENTO
não é mera "opinião verdadeira", mas
opinião verdadeira plus razõesrazões que
fundamentam essa opinião
7. TEETETO
O diálogo divide-se em três grandes definiçõestrês grandes definições:
• a ciência é SENSAÇÃO;
• a ciência é OPINIÃO VERDADEIRA;
• a ciência é opinião verdadeira acompanhada
de RAZÃO (logos).
8. CIÊNCIA-SENSAÇÃO
origina uma crítica na qual se debatem
argumentos que antecipam, de certo modo,
toda a discussão em torno do fenomenalismofenomenalismo,
da natureza das "aparências"
9. CRÍTICA A PROTÁGORAS
Se
tudo o que "aparece" é verdade (segundo
Protágoras),
então também
é verdade que nem tudo o que "aparece"
é verdade.
10. Segunda proposta de definição, “ciência-
opinião-verdadeira”: suscita uma elucidação
sobre o problema do erro e da opinião falsa,
EPISTEME é definida como:
"opinião verdadeira acompanhada
de uma razão"
11. "RAZÃO“
requerida para que a opinião verdadeira seja
ciência, corresponde à resposta à pergunta "O
que é x?", que leva Platão a dar uma
explicação em termos de análise dos
elementos últimos e originárioselementos últimos e originários que
constituem "x".
12. Platão pensa que:
• conhecer p significa conhecer a explicação, ou
a razão de p,
• ou seja conhecer p requer conhecer q, a
razão (logos) de p.
• por sua vez, conhecer q, exigirá conhecer a
razão de q, e assim sucessivamente.
13. • Para evitar um “infinito regresso”, parece
necessário admitir algumas verdades básicas:
• se a base de todo o conhecimento forem os
ELEMENTOS ÚLTIMOS, estes são desprovidosdesprovidos
de razãode razão (logos), portanto, incognoscíveis.
14. De facto o "sonho" de alcançar os elementos
simples e últimos de qualquer complexo
prevalece como uma ilusão da análise:
• as “mónadas” de Leibniz,
• os “objectos simples” de Wittgenstein,
• os "indivíduos" de Russell,
• a “pré-compreensão do ser” de Heidegger...
15. • Esta definição revive hoje ainda como um
ponto de referência na formulação das
questões centrais da epistemologia: o
conhecimento é em geral apresentado nesta
"definição tripartida" como "crença
verdadeira justificada".
16. JUSTIFICAÇÃO
pode exigir a aceitação de crenças básicas, que
não carecem por sua vez de mais justificação
porque:
• Ou são evidentes,
• Ou se auto-justificam,
• Ou constituem os alicerces a partir dos quais se
constrói toda a estrutura do sistema de crenças.
17. ARISTÓTELES
não centra a sua filosofia do conhecimento
numa indagação sobre a própria
possibilidade de conhecer, mas parte dos
estados cognitivos do sujeitoestados cognitivos do sujeito como dados.
18. II ANALÍTICOS
apresentam uma explanação das condições
necessárias e suficientes para a EPISTEMEEPISTEME
entendida como uma ciência exacta,
dedutivadedutiva (conhecimento científico).
19. • Não existe na obra aristotélica nada que se
possa assimilar a um discurso do método,
nem uma atenção centrada no problema da
fundamentação da experiência humana
como experiência de um mundo real e
objectivo.
20. PONTO DE PARTIDA:
a do sujeito agente e cognoscentesujeito agente e cognoscente numa
relação direta com o mundo real, através da
experiência e da ação.
Como se dá esta relaçãoComo se dá esta relação será um tópico
fulcral na teoria aristotélica da percepção e
do conhecimento em geral.
21. CONHECIMENTO CIENTÍFICO (EPISTEME)
apresenta uma estrutura demonstrativaestrutura demonstrativa,
rigorosamente dedutiva.
partindo de premissas conhecidas, a dedução
(syllogismos) chega a uma conclusão.
22. CONHECIMENTO DEDUTIVO
o que é "previamente conhecido" são os
princípios da demonstraçãoprincípios da demonstração.
INDUÇÃO (epagoge),
conhece-se previamente a verdade dos casos
particulares a partir dos quais se deriva a
generalização indutivageneralização indutiva.
23. • Segundo Aristóteles, o que se conhece
previamente a qualquer demonstração são
os princípios da demonstraçãoprincípios da demonstração, que não
podem ser eles próprios objecto da episteme,
ou seja não pode haver demonstração dos
princípios (II Analíticos, I. 3).
24. • A apreensão dos princípios deve caber
ao nous.nous.
• O modo de alcançar o nous, enquanto
estado cognitivo de conhecimento dos
princípios, é a induçãoindução.
25. PRINCÍPIOS DEMONSTRATIVOS
• são conhecidos por indução através da
memóriamemória.
• as percepções sensíveis persistem em nós
depois do acto perceptivo e produzem
memória;
• e a reiteração da memória dá origem à
experiência (empeiria);
26. • A experiência, que não é senão a presença dopresença do
universal na psycheuniversal na psyche, como um todo, constitui
o ponto de partida da techne e da episteme:
techne, no domínio dos processos, episteme
no domínio dos factos (100a 5-15)
27. • Trata-se de um processo indutivo, no qual se
dá uma passagem directa da percepção àpassagem directa da percepção à
apreensão do universalapreensão do universal.
• Este é captado na ocasião de um encontro
singular, não por um processo de abstracção,
mas por uma progressiva clarificação da
noção do próprio singular.
28. • Poderia considerar-se a epistemologia
aristotélica um fundacionalismo com duas
frentes: a dos princípios da demonstração e a
da evidência da percepção sensível.
• Como reconciliar estas duas frentes, ou estas
duas formas de conhecimento imediato, que
se auto-justifica a si mesmo?
29. • O método que Aristóteles adopta é o dialéctico,
• Através de um exame e confronto das diversas
opiniões (endoxa), a investigação procede a
uma selecção das opiniões mais adequadas e a
uma rejeição daquelas que apresentam
incompatibilidades com o senso comum, ou com
o conjunto de opiniões mais prováveis:
• neste caso a argumentação releva sobretudo de
um critério de coerência.
30. • SOARES, M. L. C. A noção clássica de
Episteme. In: O que é conhecimento?
Questões de epistemologia. Lisboa, 2004,
pp.26-39.