2. Para Kant
o homem é um ser
com uma dupla
natureza:
- uma dimensão
animal e natural,
sujeita ao
determinismo natural,
condicionada.
- e uma dimensão
racional,
independente dos
sentimentos e dos
instintos animais,
incondicionada,
verdadeiramente
livre.
3. Na sua dimensão condicionada, o ser humano é parte da Natureza
e está sujeito à irracionalidade dos sentimentos e dos interesses
egoístas
que fazem com que cada pessoa se encare a si própria como
estando separada de todas as outras, sendo levada a satisfazer os
seus desejos de forma egoísta e interessada (interesseira,
também).
A este nível, o grande objectivo da vida parece ser a felicidade.
Se só existisse esta dimensão do ser humano, as éticas
teleológicas seriam as únicas viáveis...
4. Mas na sua dimensão incondicionada, o ser humano é livre,
depende inteiramente da sua Razão para fazer as suas
escolhas morais, não estando submetido, nem ao
determinismo natural, nem ao despotismo dos desejos e dos
interesses egoístas, particulares e reféns de uma retribuição
que, mesmo quando ocorre, não satisfaz plenamente o
sujeito, pois o ser humano só se realiza plenamente se for
autónomo, ou seja, se submeter as suas decisões à sua
Razão...
5. A Razão pode escolher sem estar submetida às condições
materiais da existência humana, porque possui a possibilidade
de fundar as tomadas de decisão em princípios a priori, ou seja,
princípios que não derivam da experiência sensível (que abarca
a experiência individual e o senso comum).
Kant defende que a moral não é axiológica, ou seja, não
depende de valores (pois estes estão ligadas à cultura de cada
sociedade). A Razão é superior aos valores e permite ao homem
submeter-se a uma legislação que ele próprio cria ao guiar-se
exclusivamente pela sua Razão...
6. A Razão formula de forma totalmente incondicionada, a Lei
Moral
e o ser humano deve orientar as suas escolhas morais pela
ideia de Dever que assenta na obediência a essa Lei a priori
e essa obediência não é uma limitação da liberdade, mas,
pelo contrário, a garantia de que somos sempre livres ao
agirmos, uma vez que nos guiamos pela nossa Razão e não
estamos submetidos à irracionalidade das nossas
tendências animais e egoístas...
7. O Dever Moral apresenta-se ao ser
humano sob a forma de um
Imperativo que expressa o
conteúdo incondicionado da Lei
Moral, a que Kant chama
Imperativo Categórico, pois é um
mandamento que não depende de
condições (se...,então...):
“Age sempre de maneira
a que a máxima da tua
acção se possa tornar
numa lei universal, válida
para todos os seres
racionais.”
8. O Imperativo Categórico é independente das circunstâncias, sendo
válido de forma incondicionada em todas as sociedades e em todas
as épocas. Por isso o que é moralmente necessário hoje, sê-lo-á
daqui a cem ou mil anos, aqui, na China ou em Marte se lá existirem
seres racionais (mesmo que tenham muitas pernas ou tenham
formas inusitadas).
9. Só uma vontade que se submeta de forma incondicionada ao Dever
Moral pode ser designada, com propriedade, como uma
BOA VONTADE
10. Mas a via moral
preconizada por
Kant
não é fácil:
ela pressupõe que
abandonemos
todas as nossas
tendências
egoístas, mesmo
aquelas que nos
são ditadas por
sentimentos nobres
como o Amor ou a
Compaixão.
Se agirmos por amor, não estamos a agir por dever e, nesse caso, a
nossa acção, mesmo que esteja conforme ao dever moral, não tem
valor moral, ou seja, mesmo não sendo má, não pode ser
considerada boa...
11. Vejamos alguns
exemplos:
- No dilema de
Henrique: o
Henrique, se agir
por dever, não
pode escolher
roubar o
medicamento,
porque isso
contraria o
Imperativo
Categórico, uma
vez que roubar
- Se o Henrique decidir não roubar o
não se pode
medicamento, para não ir preso, estão a sua
acção é conforme ao dever, mas não foi tornar numa lei
executada por dever, uma vez que na sua base universal.
está o medo das consequências, que é uma
inclinação sensível...
12. - No dilema do
agulheiro a coisa
torna-se ainda mais
complicada:
Se o agulheiro
mudar o curso do
eléctrico para não
arcar com a
responsabilidade
pela morte de 5
pessoas, não está
a agir por dever...
Mas ao desviar o
Podemos sair deste impasse moral,
eléctrico essa acção
sem romper com a moral deontológica de
vai provocar a morte
de 1 pessoa, e matar Kant?
não se pode tornar
numa lei universal...
13. A ética de Kant é
viável?
Podemos orientar a
nossa vida por ela?
Mesmo que não seja
totalmente viável,
pode ajudar-nos
nalgumas
circunstâncias?
Gostaríamos de ser tratados pelos outros sempre como seres
racionais?
Conseguiríamos realizar-nos como homens e como mulheres,
seguindo, de forma rígida, a moral kantiana?