2. Forma, normas e expectativas;
Como contar uma história? O que motiva a ordem e seleção de
elementos numa narrativa audiovisual?;
Bordwell e Thompson chamam de forma a estrutura que
organiza os elementos plásticos (estilo) e as informações de um
filme;
Regularidade das histórias escritas, desenhadas, orais e
audiovisuais: por que tão pouca mudança desde as primeiras
histórias registradas na história da humanidade?
Num mundo caótico, aleatório e sem sentido, a mente humana
procura ordem, padrões, regularidade, explicações e
causalidade: as estruturas narrativas são demandas da atividade
mental de compreender, explicar e interpretar o mundo. 2
3. Forma e significados
• Significado referencial: informações concretas e contextuais a
respeito do que se passou na fábula do filme;
• Significado explícito: um sentido declarado que resuma o filme
como um todo;
• Significado implícito: sentido sugerido ou inferido, o qual
podemos atribuir à intenção dos autores;
• Significado sintomático: sentido inferido, porém atribuído não
a uma intenção autoral consciente, mas a um contexto mais
amplo e naturalizado (psicanalítico, sociológico, etc.).
3
4. Normas e expectativas
A forma narrativa é dinâmica: a obra oferece pistas que induzem
atividades cognitivas no público (que não é um recipiente vazio),
dirigindo sua atenção e suas expectativas, que vêm de sua
experiência prévia.
Não se trata de fórmulas prontas: cada filme é um sistema, cujos
elementos internos são selecionados e organizados prevendo-se
as possíveis reações que provoca:
• Suspense (expectativa) em relação ao que virá depois;
• Surpresa, causada por elementos inesperados;
• Curiosidade, em relação a elementos prévios;
• Satisfação das expectativas, em geral no fim;
• Inversão e frustração, muitas vezes deliberadamente, das
expectativas criadas.
4
5. Princípios formais básicos
Relação parte-todo: a forma não é um conjunto de elementos
isolados, mas um sistema de interrelações.
Motivação: que função cumprem os elementos narrativos?
• Composicional: da economia narrativa (tropos);
• Realista: das expectativas de verossimilhança por gênero;
• Estética: dos efeitos estéticos extra-narrativos;
Similaridades e repetições de elementos do filme
• Falas/diálogos: o verbo “acreditar”, “o que é real?” em Matrix;
• Cenários: idem Hotel Coração da Cidade, cabines telefônicas, óculos
escuros;
• Personagens: habitantes do Kansas e de Oz (mesmos atores);
Diferença e variação: os motivos normalmente têm alguma
diferença
• cenários: o mundo real X o mundo simulado em Matrix;
• personagens: diferença clara entre Neo, Smith e Cypher; 5
6. Princípios formais básicos
Progressão: o desenvolvimento dos personagens e da história
• Transformação no mesmo personagem: Neo assume sua
identidade, Smith torna-se emotivo;
• Etapas narrativas: exposição, nó (ação complicadora), intriga,
desfecho;
Unidade ou desunidade
• A maioria dos filmes de narrativa clássica se preocupa em
proporcionar um fechamento claro de todos os assuntos tratados,
mas nem sempre (ex: Tank consegue sobreviver?);
• já outros filmes não procuram dar uma unidade tão fechada,
como em A Aventura, de Antonioni (a busca pela personagem
perdida é desdramatizada e eventualmente deixa de ter
importância); 6
8. Sistema narrativo
Narrativa: encadeamento de eventos, em relações de causa-e-
efeito, no tempo e no espaço.
Fábula, ou história: os acontecimentos narrativos em sua ordem
cronológica (construção mental posterior pelo espectador,
incluindo suposições e acontecimentos implícitos);
Trama, ou enredo, ou discurso (syuzhet): os acontecimentos
exclusivamente da maneira e na ordem em que foram contados
pelo filme;
Exposição: o(s) momento(s) da trama em que se explicam a
situação inicial, os principais acontecimentos e o caráter dos
personagens.
Estilo: os aspectos plásticos da narrativa audiovisual (montagem,
enquadramentos, som, etc.).
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9. Tempo e narrativa
Ordem: direta ou linear (ABC), flashback ou analepse (BACD),
flashforward ou prolepse (ABDC).
Alguns filmes têm ordem invertida (Amnésia, Palíndromo),
reencadeada (Pulp Fiction; Cidadão Kane; 21 gramas; Amores
brutos) ou contraditória (Um cão andaluz; Corra, Lola, corra; Os
suspeitos).
Duração: raramente a duração dos eventos narrados é idêntica à
duração do filme (ex: 12 homens e uma sentença).
A duração é manipulada com cortes (elipses), montagem (ex:
Outubro; montagens paralelas e alternadas), câmera-lenta, câmera
acelerada (ex: 300 de Esparta; time-lapse), etc.
Frequência: alguns filmes mostram o mesmo evento
repetidamente, com variações (Cidadão Kane; Ponto de Vista;
Olhos de Serpente; Os doze macacos...) 9
10. O processo narrativo
Alcance:
Narração onisciente: narrativa com grande alcance, que salta entre
vários personagens e núcleos (ex: Intolerância; O encouraçado
Potemkin; A noite americana; Babel; Star Wars; telenovelas);
Narração restrita: se restringe (total ou quase totalmente) a um
personagem (Ladrões de bicicletas; O falcão maltês; Amnésia; o
início do filme Matrix).
Profundidade:
Narração objetiva: resume-se aos acontecimentos físicos e
comportamentos externos dos personagens (ex: Matrix, Ladrões de
Bicicletas),
Narração subjetiva: apresenta seus pensamentos, sonhos,
percepções e sentimentos internos (ex: Arca russa; Blade Runner;
Brazil; Alucinações do passado; O iluminado...)
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